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Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Centro de Ciências e Tecnologia – CCT Laboratório de Materiais Avançados - LAMAV Setor de Metalurgia Física – SMF MAV 01352 - Fundição Prof. Luis Augusto H. Terrones – LAMAV/CCT/UENF Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 1 CAPÍTULO 1: NUCLEAÇÃO E CRESCIMENTO DE CRISTAIS. 1. Solidificação A solidificação dos metais e ligas é um processo de transformação de fase e como todas estas transformações ocorre em duas etapas: a) Nucleação de uma nova fase (sólida); b) Crescimento desta nova fase na original (líquida). 2. Nucleação Quando a nucleação da fase sólida no meio de líquido ocorre sem a participação de agentes externos, esta é chamada de nucleação homogênea. Caso a nucleação ocorra com a participação de agentes externos (substratos) que contribuem energeticamente para a formação do núcleo, esta será chamada de nucleação heterogênea. 2.1. Nucleação Homogênea Na fase líquida os átomos se encontram desordenados, no meio desta fase surgem de maneira estatística e aleatória, pequenas regiões com ordenamento atômico de curto alcance, chamados de embriões, os quais poderão se transformar em núcleos sólidos. (Fig. 1) Figura 1 - Ilustração Esquemática dos Embriões da Fase Sólida em Meio a Fase Líquida. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 2 Para que os embriões se transformem em núcleos sólidos estáveis é necessário que atinjam um tamanho crítico em determinadas condições térmicas na fase líquida. A fase sólida tem a energia interna (U) e a entropia (S) mais baixas, e estas variáveis aumentam na fase líquida e mais ainda no gás. Na temperatura de fusão (Tf) as duas fases co-existem em equilíbrio termodinâmico. Isto significa que a energia livre (F) das duas fases são iguais (FL=FS). Por definição: Energia livre: F = E – TS + PV [1] E: Energia Interna; T: Temperatura absoluta; S: Entropia; P: Pressão; V: Volume. Entalpia H = E + PV [2] Logo, F= H – TS. Portanto, HL – Tf SL = Hs - Tf Ss [3] Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 3 Termodinamicamente, para que um embrião vire núcleo sólido é necessário que a fase líquida esteja abaixo da Tf, o que significa que o líquido deve estar super-resfriado (δT), como mostra a figura 2. Figura 2 - Configuração típica de uma curva de esfriamento, ou registro térmico da solidificação, revelando a existência do super-resfriamento térmico do líquido, que surge antes do início da solidificação. Na temperatura (Tf) as duas fases coexistem em equilíbrio (FL = FS), seguindo a equação 3, a qual mostra que nesta temperatura (Tf) não existe força motriz em nenhuma das direções. No ponto a da figura 2, os embriões da fase líquida crescem atingindo um tamanho crítico e maior estabilidade termodinamicamente formando um núcleo sólido estável. Neste ponto a, a fase sólida tem menor energia livre (Fs) do que a fase líquida (FL). (FS < FL) A estabilidade das fases líquidas e sólida em torno do ponto de fusão (Tf) e o super-resfriamento são mostrados na figura 3. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 4 Figura 3 - Curvas de energia livre das fases líquida e sólida de um metal versus temperatura, mostrando a estabilidade relativa de um metal, mostrando a estabilidade relativa de ambas em torno do ponto de fusão (Tf). A estabilidade de um embrião na forma de núcleo pode ser analisada pela variação de energia livre (F) em função do raio médio (r) do embrião. Durante a passagem de Embrião Núcleo, a variação de Energia livre é: δF = δFV + δFS δF = Energia Livre da Nucleação δFV = Energia Livre de Volume δFS = Energia Livre de Superfície Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 5 Considerando que o embrião ou núcleo possui forma esférica: �� = − � �� � �� �� �� � �� + (4�� �)γ�� [4] Lv = calor latente de fusão (energia por unidade de volume); γSL = tensão superficial entre as fases sólida e líquida (energia por unidade de superfície). O gráfico desta equação 4 é mostrado na figura 4. Figura 4 - Curva de variação da energia livre em função do tamanho do embrião ou núcleo da fase sólida. r > rc: embriões (diluem no líquido) r < rc: núcleos (crescem) O valor do raio crítico pode ser determinado derivando-se a equação 5 em função do raio e igualando-se a zero o resultado, isto é: �(δ�) �� = ������ �� �� � + 8������ = 0 [5] Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 6 o que resulta em: �� = ������ �� �� [6] O valor da energia livre crítica pode ser obtido combinando-se as equações 4 e 6, resultando em: ��� = ������ ��� � ��� ���� = ����� � �� � [7] Pode-se observar a partir da equação 7 que a Energia Livre Crítica (δFc) e o raio crítico (rc) diminuem a medida que aumenta o super-resfriamento térmico. As curvas da figura 5 (Energia Livre x Raio) mostram que o aumento do super-resfriamento é um fator estimulante da nucleação homogênea. Isso também está de acordo ao apresentado na figura 3 onde se pode observar que quanto maior o δT, maior é a Energia Livre disponível para transformação. Figura 5 - Influência do super-resfriamento térmico sobre a variação da energia livre na nucleação homogênea. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 7 Também em ligas monofásicas pode ocorrer nucleação homogênea nas mesmas condições observadas para os metais puros. É o caso do sistema de ligas cobre-níquel, mostrado na Fig. 6, onde se pode verificar que os super-resfriamentos térmicos são da ordem de 20% da temperatura liquidus das ligas, similarmente ao que acontece com o cobre ou com o níquel isoladamente. A quantidade de núcleos sólidos que surgem em meio à fase líquida é uma consequênciaimportante do fenômeno da nucleação homogênea. Essa informação pode ser dada pela frequência ou intensidade de nucleação (I), parâmetro que traduz a quantidade de núcleos que aparece por unidade de volume do metal líquido e na unidade de tempo (núcleos/cm3/s). A intensidade de nucleação é determinada assimilando-se o fenômeno da nucleação a uma reação química, podendo-se, então, aplicar a Equação de Arhenius que descreve a cinética de reações: � = � ��� ℎ � ��� �− � �� � N = número de átomos por núcleo; k = constante de Boltzman = 3,3x10-24 cal/oK; h= constante de plank (1,6x10-34 cal s), T= temperatura de nucleação (Tf – δT); Q = energia de ativação do processo (cal). Figura 6 - Diagrama de fases do sistema níquel-cobre indicando os super-resfriamentos térmicos para nucleação homogênea das ligas do sistema. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 8 Elemento Tf (*) (°C) δT máx. (°C ou °K) γSL (10-7 cal/cm2) Lv (cal/cm3) Gálio 30 76 13,3 113 Estanho 233 105 14,0 106 Bismuto 271 90 13,0 123 Chumbo 328 80 7,9 71 Antimônio 630 135 24,0 254 Alumínio 660 195 28,8 257 Germânio 959 227 43,1 547 Prata 961 227 30,0 262 Ouro 1063 230 31,4 311 Cobre 1080 236 42,1 459 Manganês 1220 308 49,0 474 Níquel 1452 319 60,7 657 Cobalto 1490 330 55,7 509 Ferro 1530 295 48,6 475 Platina 1770 370 57,1 577 (*) T (°K) = T(°C) – 273 Exercício 1: a) Quantos átomos (aproximadamente) formará um núcleo de alumínio (Raio atômico= Ra = 0,1431nm) durante a nucleação homogênea? b) Determine também a energia livre crítica (δFc) para a formação deste núcleo. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 9 2.2 Nucleação Heterogênea Este tipo de nucleação ocorre com a participação de agentes externos chamados substratos. Estes substratos participam contribuindo com uma energia de superfície (tensão superficial) para a sobrevivência dos embriões na forma de núcleo, diminuindo, desta maneira, a energia necessária para a nucleação. Figura 7 - Formação de um núcleo heterogêneo sobre o substrato, mostrando o ângulo de molhamento e as tensões superficiais envolvidas. Como mostrado na figura 7, a participação do substrato é traduzida pelo ângulo de molhamento (θ). Quanto menor o θ, maior será a contribuição da energia superficial do substrato na nucleação da fase sólida. (Figura 8) A presença do embrião sobre o substrato implica no aparecimento de três tipos de tensões superficiais, quais sejam: γSL = tensão sólido/líquido; γST= tensão sólido/substrato; γLT= tensão líquido/substrato. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 10 Figura 8 - Casos-limite de molhamento entre o embrião e o substrato na nucleação heterogênea. Admitindo-se condições de equilíbrio, a relação entre essas tensões superficiais, segundo o esquema da Fig. 7, será dada por: ��� − ��� = ��� cos � Ou seja: cos � = ���� ��� ��� Calculando-se a variação da energia livre (δF) do sistema em questão, de forma idêntica ao feito para a nucleação homogênea, resulta: �� = ��� + ��� [9] ou seja, considerando a geometria da calota esférica: ��� = [2�� �(1 − cosθ)]��� + [�� �(1 − cos�θ)] (��� − ��) [10] ��� = � � � ���(2 − 3 cosθ + cos�θ) �� �� � �� [11] Derivando-se a equação 9 em função do raio: �(��) �� = 0 [12] resulta o valor do raio crítico da nucleação heterogênea (rc), similar ao da nucleação homogênea: �� = ������ ���� [13] O valor da correspondente energia crítica (δFc) é obtido combinando-se as equações 8, 9, 10 e 12, isto é: Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 11 ��� = � ������ �� � ��� ���� � (2 − 3 cosθ + cos�θ) [14] Pode-se estabelecer uma relação entre as energias críticas da nucleação heterogênea e da nucleação homogênea: ������ ������ = � �� ��� �� ��� � � �(�) [15] onde: �(�) = � � (2 − 3 cosθ + cos�θ) [16] A Eq. 15 deixa claro que a nucleação heterogênea é energeticamente mais favorável que a nucleação homogênea, isto é, a energia crítica é tanto menor quanto maior for o ângulo de molhamento. Assim sendo: ������ ≤ ������ [17] Dessa forma, conclui-se que a nucleação homogênea pode ser encarada como o caso-limite da nucleação heterogênea para um ângulo de molhamento máximo de 180°, condição essa em que o substrato não apresenta afinidade ou interação energética com o metal líquido, já que: 0 = 180� → �(�) = 1 [18] 2.3 Inoculantes para Refino de Grão Substratos com alto índice de molhamento (baixo ângulo θ) ou alta molhabilidade, entre o substrato e o metal, podem ser utilizados para refino de grão de peças fundidas. Estes substratos são chamados inoculantes e são adicionados ao metal ainda no estado líquido como partículas finas divididas. Nos casos de alta molhabilidade entre o substrato e o metal, um fator de caráter cristalográfico irá intervir positivamente no aumento da eficiência, ou potência, da nucleação heterogênea. Trata-se do índice de epitaxia: Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 12 � = ��� �� �� [19] onde: as = espaçamento da rede cristalina do substrato; am = espaçamento da rede cristalina do metal (núcleo). Toda vez que o índice de epitaxia for menor que 0,15 (15%), o substrato apresentará uma potência de nucleação excepcionalmente alta e poderá ser utilizado com sucesso como inoculante para refino de grão de uma peça fundida. A Tab. 2 enumera alguns dos mais conhecidos inoculantes para refino de grão dos metais e ligas mais importantes e a figura 9 mostra a macroestrutura de alumínio fundido sem e com inoculante. Tabela 2 – Exemplos de Inoculantes para Refino de Grão e sua Eficiência Relativa de Atuação. Metais E Ligas Inoculantes Eficiência Relativa Ligas De Magnésio Cloreto De Ferro Carbono Zircônio Alta Alta Moderada Alumínio E Suas Ligas Titânio Boro Nióbio Alta Alta Moderada Titânio E Suas Ligas Terras Raras Níquel Cobalto Moderada Baixa Baixa Zinco Alumínio Moderada Estanho Germânio Índio Moderada Baixa Chumbo Telúrio Moderada Ligas De Cobre Ferro Nióbio Vanádio Moderada Baixa Baixa Ligas De Níquel Cobalto Óxido De Cobalto ModeradaBaixa Ferro Fundido Terras Raras Moderada Aço comum Nióbio Titânio Moderada Moderada Aço Hadfield (13% Mn) Cianeto de cálcio Moderada Aço Inoxidável (18-8) Óxido de níquel Moderada Aço-ferramenta (18-4-1) Óxido de ferro Baixa Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 13 (a) (b) Figura 9 - Macroestrutura (x1) da seção longitudinal de lingotes de alumínio solidificados em molde coquilha de aço: (a) estrutura de solidificação no normal, sem nenhum tipo de inoculação; (b) com inoculação prévia de boro titânio para refino de grão. Figura 10 - Apresenta a variação do tamanho médio de grão, com a temperatura de vazamento para diversos níveis de inoculação com titânio de uma liga de Al-5%Cu. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 14 Na Figura 10, pode-se observar que sem adição de inoculante ou com adição de até 0,10% de titânio, o diâmetro médio do grão (D) aumenta com o aumento da temperatura de vazamento (TV). Para uma TV fixa, o Ddiminui com a adição do inoculante. Existe uma % de inoculante (0,4% Ti) com a qual D é menor e constante para qualquer Tv. 2. 4. Mecanismo de Crescimento Para o movimento da interface sólido/líquido (figura 11). Para o interior do líquido, esta interface deve estar abaixo de Tf. Desta maneira o fluxo de átomos para o sólido � �� �� � � deve ser maior que o fluxo de átomos para o líquido � �� �� � � como mostra a figura 12. Como consequência desta, a interface deve ser sub-resfriada um ���, chamada também sub- resfriamento de crescimento ou cinético. Figura 11 – Interface sólido/líquido. Figura 12 – Gráfico indicando a dependência das velocidades de fusão e solidificação com a temperatura. A maneira pela qual o núcleo sólido cresce durante a solidificação depende da estrutura atômica da interface S/L. Esta interface deve ser de dois tipos (Figura 13): a) Difusa ou rugosa; b) Facetada. Figura 13 - Ilustração esquemática da estrutura atômica dos dois tipos de interface de crescimento. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 15 Do ponto de vista termodinâmico, os dois tipos de interface de crescimento podem ser explicados pela equação que relaciona a variação de sua energia livre com a proporção de átomos ordenados que a constituem, qual seja: ��� ���� = �� (1 − �) + � ����� + (1 − �)����(1 − �) [20] ��� = variação da energia livre da interface; N = n.° de átomos da interface; p = proporção de átomos ordenados na interface; Tf = temperatura de fusão; k = constante de Boltzmann = 3,3 X IO-24 cal/°K. A constante � é um parâmetro que define o tipo de material, sendo seu valor dado por: � = ��� � [21] Onde: δSi = variação de entropia da interface; R = constante universal dos gases = 1,98 cal/mol/°K. Sendo: — para os metais: α < 2 — pata os semicondutores: 2 < α < 4; — para os cerâmicos: α > 4. A Fig. 14 mostra a variação gráfica da Equação 20, onde se pode verificar que: a) para α < 2 (metais) a interface sólido/líquido se estabiliza com cerca de 50% de ordenação atômica, o que permite a existência de uma interface difusa; b) para α > 3 (cerâmicos) a interface sólido/líquido se estabiliza ou com >90% de ordenação ou com ≈ < 10% de ordenação atômica, o que leva a uma interface do tipo facetada. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 16 Figura 14 - Variação da energia livre da interface sólido/líquido em função de sua fração de ordenação atômica. Como consequência, os metais (α < 2) crescem com interface difusa, segundo um regime de crescimento denominado normal, descrito pela relação: �� = ����� [22] VS = velocidade de crescimento; δTi = subesfriamento térmico da interface = Tf - Ti; Ti = temperatura da interface; μi = constante ≅ 1 cm/s/°K. Considerando-se as velocidades de crescimento observadas na prática (~ 10-2cm/s), conclui-se que os metais apresentam um subesfriamento de crescimento da ordem de 10-2K, ou seja, extremamente pequeno e de difícil medida. Pode-se, portanto, admitir que os metais solidificam praticamente à sua temperatura de fusão (durante o crescimento que se verifica após a nucleação). Também se pode concluir Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 17 que os semicondutores e os cerâmicos (α ≥ 3 ) crescem tendenciosamente com interface facetada como descrito na seguinte relação: �� = ����� � [23] Considerando-se que �2≅10-3cm/s/K, conclui-se que os subesfriamentos de crescimentos ou cinético serão da ordem de 1 a 5°K, portanto bem maiores que para os metais. Exercício 2: De quanto é o sub-resfriamento térmico de crescimento da interface (δTi) para o carbeto de silício (α≡7) e para o chumbo (α≡1), ambos solidificados com uma velocidade de 0,01 cm/seg. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 18 CAPÍTULO 2: REDISTRIBUIÇÃO DE SOLUTO DURANTE A SOLIDIFICAÇÃO. Consideremos particularmente o caso de ligas monofásicas, nas quais torna-se mais importante saber como o soluto é redistribuído durante sua solidificação. Nessas ligas, devido ao fato de as temperaturas solidus e liquidus não coincidirem, o sólido em crescimento apresenta composição química diferente da fase líquida. As variações das condições de crescimento acarretam variações na forma pela qual o soluto é distribuído entre as fases líquida e sólida, resultando em variações de composição química no metal solidificado. No caso de peças fundidas, essa redistribuição do soluto, combinada com as correntes de convecção do líquido durante a solidificação, dão lugar ao problema da segregação. Cabe mencionar que muitas dificuldades de ordem prática relacionadas à qualidade das peças fundidas devem-se ao problema da segregação. Por outro lado, cabe lembrar que a redistribuição de soluto pode ser controlada em determinadas condições de solidificação. Isso permite seu uso vantajoso nos processos de refino por fusão zonal, processos esses empregados na obtenção de materiais de elevada pureza química denominados materiais de grau eletrônico. Também pode ser usada vantajosamente nos processos de nivelamento por zona, empregados na dopagem de cristais ultrapuros utilizados na tecnologia da microeletrônica. Os aspectos da redistribuição de soluto são agora examinados e, para tanto, damos atenção aos eventos que ocorrem junto à interface sólido/líquido de crescimento, onde se verifica a origem do fenômeno. Antes, porém, torna-se necessário definir uma terminologia adequada ao tratamento do problema. 1. Terminologia (a) Velocidade de Solidificação ou de Crescimento,R. É definida como a medida da taxa de avanço da interface sólido/líquido durante a solidificação. Essa velocidade pode referir-se tanto à média dos pontos da interface como a um ponto específico da mesma. A velocidade de solidificação é normalmente medida em cm/s. (b) Gradiente de Temperatura, G. É definido como o gradiente de temperatura no líquido, a partir da interface e na direção de crescimento. Se a temperatura aumentar, da interface para o interior do líquido, o gradiente será positivo e Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 19 vice-versa. Normalmente, os gradientes de temperatura são da ordem de alguns graus centígrados por centímetro (°C/cm) durante o crescimento de monocristais; de dezenas de graus centígrados por centímetro na solidificação de peças fundidas e lingotes; e de centenas de graus centígrados por centímetro durante a solidificação num cordão de solda. (c | Difusividade, D. Determina a taxa com a qual os átomos podem mover-se no líquido. Para praticamente todos os metais líquidos, D é da ordem de 5 x 10-5cm2/s. A difusividade em sólidos é muito menor, sendo da ordem de 10-8cm2/s para metais e ligas a temperaturas próximas aos seus pontos de fusão. Assim, na maioria dos casos, as mudanças na composição resultantes da difusão no sólido são pequenas e podem ser desprezadas. (d) Coeficiente de Distribuição no Equilíbrio, k0. É definido pelo diagrama de fases, considerando-se que as linhas liquidus e solidus são aproximadamente retas. A Fig. 1 mostra as duas diferentes disposições das linhas solidus e liquidus na extremidade do diagrama de fase e bem próximo ao metal puro. Figura 1 - (a) Parte do diagrama de fases em que o coeficiente é k0 <1; (b) Parte do diagrama de fases em que o coeficiente de distribuição é kO > 1. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 20 O coeficiente de distribuição no equilíbrio é dado pela seguinte relação: �� = Concentração do soluto no sólido na temperatura � Concentração do soluto no líquido na mesma � = �� �� Se o efeito do soluto é o de baixar a temperatura liquidus, então k0 < 1 e vice-versa. Algumas vezes é conveniente definir um coeficiente de distribuição "efetivo", kE, como sendo: �� = Composição instantânea do sólido formado Composição média do líquido no mesmo instante (e) Inclinação da linha liquidus Define a inclinação da linha liquidus (m), mostrada na Fig. 1(a), como positiva, e a mostrada na Fig. 3.1 (b), como negativa. Deve-se notar que, embora esta convenção seja contrária à usada normalmente na Matemática, ela tem sido utilizada extensivamente na literatura sobre solidificação e é a adotada. (f) Os primeiros estudos de Chalmers e seus colaboradores envolveram a solidificação unidimensional de metais e ligas, sob condições controladas, em cadinhos de fundição construídos de grafite ou materiais similares. O processo de solidificação no cadinho foi tratado essencialmente como se fosse uma secção de um grande lingote ou peça fundida ao solidificar, como é mostrado na Fig. 2. Esta aproximação permitiu a obtenção de dados fundamentais para o controle dos processos de solidificação e tem sido amplamente adotada até hoje. Figura 2 - Vista esquemática da seção transversal de um lingote parcialmente solidificado, mostrando como um cadinho de fundição pode ser considerado como a seção do lingote. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 21 2. Solidificação em Equilíbrio Na solidificação em equilíbrio, a quantidade relativa de sólido e líquido é determinada pela conhecida regra da alavanca. Este processo ocorre lentamente de maneira que devido à difusão líquido e sólido têm composições uniformes. Assim, na temperatura T3 da Fig. 3, a composição do sólido é CA e a composição do líquido é CB, sendo que: Quantidade de sólido Quantidade de líquido = �� − �� �� − �� No processo de solidificação em equilíbrio, a composição do sólido varia progressivamente desde a composição inicial C0k0 até a final C0, enquanto, ao mesmo tempo, a composição do líquido varia desde C0 até C0/k0. O fundamental no processo de solidificação em equilíbrio é que o líquido de composição inicial uniforme, C0, torna-se um sólido de composição uniforme, também C0. Figura 3 - Variações de composições que ocorrem durante solidificação em equilíbrio. (a) Parte do diagrama de fases de equilíbrio para uma liga de composição C0, sendo esfriada, do líquido para o sólido (k0 < 1); (b) Variações progressivas nas proporções e composições do sólido e do líquido, com o decréscimo da temperatura. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 22 3. Solidificação em Não-Equilíbrio Na maior parte das situações práticas, as difusividades relativas de soluto nas fases líquida e sólida são tais que as variações de composição no sólido podem ser desprezadas. Por exemplo, tomando-se a difusividade no sólido como sendo 10-8 cm2/s, pode-se estimar que, no tempo necessário (~ 100s) para a interface sólido/líquido mover-se de 1 cm na solidificação de um lingote, o soluto, difundindo-se no sólido, mover-se a apenas cerca de 10-3cm. No exame da solidificação em condições de não-equilíbrio, dois casos extremos devem ser considerados: o aumento de soluto no líquido pode ser dispersado somente por difusão; alternativamente, devem existir no líquido condições de mistura total que espalham o excesso de soluto rapidamente através do volume de líquido. Examinaremos estes dois casos extremos e também o caso intermediário de redistribuição por difusão e mistura parcial no líquido. Em todos os casos, admitimos a hipótese de que as variações de concentração só ocorrerão no sólido após a solidificação. 1.1 Redistribuição de Soluto no Líquido Somente por Difusão Considerando-se o esfriamento da liga de composição C0 (para k0 < 1), conforme a Fig. 4, é evidente que, após a formação do primeiro sólido de composição C0k0, haverá um enriquecimento local do líquido, desde que C0k0 < C0. Assim sendo, sob condições de não-equilíbrio, o próximo elemento de sólido ali depositado terá a composição (C0 + δC0) • k0, onde δC0 representa o enriquecimento local e assim por diante. Ao mesmo tempo, uma camada de soluto evoluirá na interface sólido/líquido e haverá uma difusão de soluto que se deve ao gradiente de concentração. Disso decorrerá um estado transiente inicial na concentração do sólido, mas a seguir ocorrerá um regime permanente em que a velocidade da rejeição de soluto é justamente igual à velocidade de difusão a partir da interface. A composição do líquido nas regiões distantes da interface será significativamente diferente de C0 somente nos últimos estágios de solidificação. Em consequência, isso origina um estado de transiente final. (Figura 4) Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 23 Figura 4 - Perfis "distância x concentração", de uma barra solidificada sob condições tais que o transporte de soluto no líquido é efetuado somente por difusão: (a) k0 < 1; (b) k0 > 1.1.2. Redistribuição do Soluto por Mistura Completa no Líquido Existindo condições de mistura total, por convecção ou agitação mecânica no líquido, então, com k0 < 1, o soluto rejeitado na interface será distribuído uniformemente por todo o líquido. Assim, nos estágios iniciais quando existe grande quantidade de líquido, a variação total na composição será pequena. À medida que vai ocorrendo a solidificação, entretanto, a variação da composição no líquido vai-se tornando apreciável. (Fig. 5) Figura 5 - Perfil "distância x concentração" de uma barra solidificada sob condições de mistura total no líquido. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 24 1.3 Redistribuição de Soluto por Mistura Parcial no Líquido É o caso intermediário, em que é produzida mistura parcial no líquido pelo efeito combinado de difusão e convecção. Considera-se que a camada de soluto, na interface sólido/líquido, é gradualmente diminuída por efeitos de agitação. A Fig. 6 mostra as diferenças entre os perfis de soluto obtidos em diferentes condições de solidificação. O perfil obtido por resfriamento em equilíbrio está incluído nessa figura. Figura 6 - Distribuição de soluto numa barra solidificada a partir de um líquido de concentração inicial C0 com k0 < 1, para: (a) resfriamento em equilíbrio; (b) mistura do soluto no líquido somente por difusão; (c) mistura total do soluto no líquido; (d) mistura parcial do soluto no líquido. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 25 CAPÍTULO 3: ESTRUTURAS DE SOLIDIFICAÇÃO Além das variações que ocorrem na composição química durante a solidificação, existem aspectos que determinam o desenvolvimento das estruturas de solidificação de metais e ligas. Variáveis térmicas e de composição influenciam na natureza morfológica da interface S/L, resultando na formação de diversas estruturas de crescimento. 1.1 Metais Puros O perfil ou gradiente de temperatura (G) na interface S/L é um fator importante no controle da forma da interface. (Figura 1) Figura 1 - (a) Área de sólido e líquido adjacente à interface, mostrando os gradientes de temperatura positivos no líquido e no sólido, juntamente com a sequência esquemática que apresenta a formação de uma protuberância instável, que se funde devido à temperatura local da extremidade ser maior que a temperatura de fusão. (b) Área de sólido e líquido adjacente à interface, mostrando o gradiente de temperatura negativo no líquido e gradiente positivo no sólido, juntamente com uma sequência esquemática mostrando a formação e a estabilização de uma protuberância na interface, quando ela se projeta para uma região em que a temperatura local da extremidade está abaixo da temperatura de fusão. Tf Ti Tf Ti δT δT Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 26 Quando G é positivo o crescimento de metais puros é normalmente controlado pela extração de calor através da interface S/L e do sólido formado. Normalmente, a interface, que também se apresenta atomicamente rugosa (difusa), é isotérmica e está em uma temperatura ligeiramente abaixo da Tf; tão baixo quanto o necessário para manter a força motriz da cinética de crescimento chamada sub-resfriamento cinético. Se G é positivo, a interface em crescimento apresenta uma forma macroscopicamente estável, de maneira que qualquer instabilidade de forma localizada na interface que poderia projetar-se para o líquido (com maior Tf que a interface) será novamente fundida e a interface continua isotérmica. (Figura 1a) Caso G seja negativo e se forme uma instabilidade na interface em crescimento estas instabilidades crescem e formam ramificações laterais formando estruturas dendríticas (Figura 1b). As ramificações primárias e secundárias das dendritas possuem seus eixos paralelos a direções cristalográficas especificas. A curva típica de resfriamento para a formação de dendritas é apresentada na Figura 2. Figura 2 - Forma típica da curva de resfriamento de metais puros, mostrando as regiões em que ocorrem diferentes fenômenos de crescimento. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 27 1.2 Ligas Monofásicas Com gradiente positivo de temperatura (G), a solidificação ocasiona uma redistribuição de soluto no líquido e ocorre o chamado super-resfriamento constitucional (SRC). Variações locais que ocorrem na composição química no líquido são associadas com uma redistribuição de soluto, como resultado parte do líquido pode ser super-resfriado constitucionalmente devido a estas variações. Condições que favorecerão o super-resfriamento constitucional a) Baixo gradiente de temperatura no líquido; b) Altas velocidades de crescimento; c) Linhas líquidus abruptas; d) Altas porcentagens de liga; e) Baixa difusividade no líquido; f) KO bem pequeno, para KO < 1 ou KO bem grande, para kO > 1. Variações estruturais resultantes da redistribuição de soluto em liga. As características estruturais da interface são influenciadas pelo grau de super-resfriamento. Sem SRC Neste caso o comportamento da interface durante o crescimento é essencialmente o mesmo que para metais puros, com a exceção de que ocorrem efeitos da segregação de longo alcance. Com SRC Ocorre com um gradiente negativo, com o qual a interface é morfologicamente instável com pertubações na sua forma (protuberâncias morfológicas). Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 28 a) Para baixos graus de SRC desenvolve-se uma interface celular a partir de uma interface planar (surgindo cavidades e a seguir, células alongadas). (Figura 3) Figura 3 - Estrutura celular da interface: vista da interface de crescimento em tetrabrometo de carbono puro. b) Aumentando o grau de SRC, as superfícies das células vão se estendendo e eventualmente ramificam-se para formar dendritas celulares (Figura 4). (a) (b) Figura 4 – Interface dentrítica celular: (a) superfície de topo de uma liga impura de chumbo, mostrando o desenvolvimento de ramificações em células alongadas; (b) crescimento dentrítico em ciclo-hexagonal. Não existe um critério definido para a transição de células a dendritas celulares. A sequência geral de transição pode ser esquematizada da seguinte maneira: I) Sem super-resfriamento interface planar Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 29 II) Com super-resfriamento Protuberância na interface - células alongadas - células interrompidas - dendritas celulares ESTRUTURA DENDRÍTICA O crescimento dendrítico é fortemente cristalográfico. As ramificações primárias e laterais possuem direções cristalográficas específicas de acordo com o sistema cristalino do metal sólido. (Tabela 1) Tabela 1 – Cristalografia de Dentritas Estrutura Metal Direção Normal das Dendrítas Cúbica de face centrada Chumbo <001> Cúbica de corpo centrado Latão <001> Hexagonalcompacta Zinco <1010> Tetragonal Estanho <110> Nas estruturas dendríticas o espaçamento dos braços primários, dos braços secundários e terciários depende das condições de solidificação. Em velocidades de crescimento elevadas podem formar-se somente ramificações primárias. À medida que a velocidade decresce, desenvolvem-se também ramificações laterais. No final da solidificação, o espaçamento dos braços dendríticos (λ) difere do espaçamento durante o crescimento devido ao efeito de engrossamento das ramificações. (Figura 5) Figura 5 – Diagrama esquemático do crescimento de uma dentrita de uma liga. De (a) até (c) mostra-se uma posição fixa, em vários estágios de solidificação. Note-se que muitas ramificações pequenas desaparecem, enquanto que grandes ramificações crescem. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 30 A Figura 6 apresenta valores de λ durante a solidificação de uma liga de alumínio e em dois aços comuns. Figura 6 - Variação no espaçamento entre as ramificações dendríticas, em função do tempo de solidificação local: (a) em alumínio-4,5% cobre; (b) em aços. Durante o engrossamento dos braços dendríticos também ocorre uma redistribuição de soluto à frente da interface, como resultado a ramificação dentrítica apresentará uma variação na composição química do centro para a superfície, conhecido como coring. Este fato é mostrado na Figura 7. (a) (b) Figura 7 – Coring em cupro-níquel fundido com resfriamento rápido (k0 < 1): (a) estrutura fundida; (b) varredura de microssonda eletrônica entre duas ramificações dendríticas. A natureza qualitativa da segregação é mostrata como um máximo e um mínimo, respectivamente para cobre e níquel. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 31 A segregação nos braços dendríticos são macroscópicos e microscópicos, podendo ser eliminada pelo tratamento térmico de homogeneização. (Figura 8) (a) (b) Figura 1 - Estrutura do coring em cupro-níquel fundido com resfriamento rápido (k0 < 1) após homogeneização: (a) estrutura granular. (As pequenas partículas escuras são impurezas intermetálicas); (b) varredura de microssonda eletrônica, através do contorno de grão. (o contorno é uma linha escura na imagem eletrônica e a varredura corresponde a uma linha branca na imagem eletrônica. 1.3 Ligas Polifásicas a) Eutéticos Binários O grupo polifásico de ligas tem sido bastante estudado. A reação eutética pode ser descrita como: Líquido Sólido α + Sólido β A Figura 9 mostra um diagrama de fase da liga eutética Pb-Sn. No ponto (E) da liga de composição eutética (CE), a partir do líquido as duas fases componentes (α e β) solidificam- se simultaneamente resultando numa estrutura que é uma mistura de α +β. Figura 9 – Sistema Cu-Sn. CE Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 32 A classificação das diferentes estruturas eutéticas são dividas em três grupos, dependendo da combinação de fator � (interface rugosa ou difusa) e/ou alto fator � (interface polida ou facetada). Assim, temos: (i) Rugosa-rugosa; (ii) Rugosa-facetada; (iii) Facetada-facetada. As morfologias normais são lamelar ou lamelar cilíndrica, conforme ilustra a figura 10. Na presença de impurezas, ocorre crescimento celular e resultam as colônias eutéticas mostradas na figura 11. Figura 10 - (a) Eutética lamelar no sistema chumbo estanho. (b) Eutético lamelar cilíndrico no sistema alumínio – Al3Ni: (i) seção transversal, (ii) seção longitudinal. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 33 (a) (b) Figura 11 – (a) Representação esquemática da fronteira de um eutético lamelar crescendo com uma interface celular curva. Formam-se lamelas cilíndricas nos contornos das células. (b) Seção transversal de uma liga chumbo-cilíndrico impura, mostrando a estrutura eutética da colônia. No caso de ligas com composições não eutéticas, a reação eutética é precedida de um crescimento dendrítico da fase primária. A estrutura final consiste em dendritas primárias numa matriz eutética. A figura 12 apresenta como exemplo uma liga hipoeutética do sistema Cu-Ag. Figura 12 – Liga hipoeutética no sistema cobre-prata, mostrando dendritas ricas em cobre numa matriz de colônias eutéticas. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 34 2. Modificação dos Eutéticos A adição de sódio e magnésio produz modificações estruturais nos sistemas alumínio-silício e ferro- carbono, respectivamente. 2.1) Alumínio-Silício. Nesse sistema, o silício (α >2) cresce normalmente como placas interconetadas numa matriz de alumínio (α <2). Nessas condições, a liga apresenta propriedades mecânicas pobres. Quando o líquido eutético é resfriado muito rapidamente, ou é adicionada uma pequena quantidade de sódio (~ 0,015%), o sólido cresce com um sub-resfriamento aumentado e o Si desenvolve-se em forma fibrosa e irregular. Após a modificação, a estrutura da Fig. 13 aparece como é mostrado na Fig. 14. Figura 13 – Estrutura eutética normal no sistema alumínio-silício. Figura 14 – Liga eutética alumínio-silício, modificada com sódio. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 35 2.2) Ferro-grafita. A modificação que ocorre no sistema ferro-carbono é ainda mais surpreendente. A forma de crescimento normal consiste no crescimento da grafita (α > 2) em flocos interconectados com uma matriz de ferro austenítica (α < 2). No resfriamento, a austenita transforma-se em perlita, resultando numa estrutura característica de ferro-cinzento frágil, consistindo em flocos de grafita em matriz perlítica, como se vê na Figura 15. Se forem adicionadas pequenas quantidades de Ce ou Mg ao banho líquido pouco antes da solidificação, a grafita cresce com uma forma esferoidal, resultando em grafita esferoidal ou nodular, como ilustra a Figura 16. Nessa forma, o ferro é dúctil e tenaz possuindo uma importante aplicação como um material de Engenharia. Figura 15 – Ferro fundido cinzento mostrando grafita em flocos. Figura 16 – Ferro fundido com grafita esferoidal modificada. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 36 CAPÍTULO 4: TRANSFERÊNCIA DE CALOR NA SOLIDIFICAÇÃO A solidificação de um metal é fundamentalmente um processo de transferência de calor. O calor latente de fusão, anteriormente despendido para fundir o metal, é liberado na interface sólido/líquido durante a solidificação e dali deve ser transferido para que o processo tenha continuidade. A velocidade com que o calor é extraído e transferido através do metal tem relação direta com a velocidade de solidificação e com os gradientes térmicos do sistema, os quais interferem na qualidade metalúrgica final do metal solidificado. Assim sendo, a análise do processo de transferência de calor que ocorre durante a solidificaçãosurge como uma poderosa ferramenta de controle e dimensionamento de sistemas metal/molde. Para viabilizar a transferência de calor na solidificação torna-se necessária a seleção estratégica de um elemento de referência do sistema a ser analisado, conforme ilustra o exemplo esquemático apresentado na Fig.1. Esse elemento deve ser definido de tal forma que seu comportamento térmico seja típico do sistema como um todo. A viabilidade da análise também dependerá de algumas simplificações que atenuem sua complexidade matemática mas que não comprometem a confiabilidade dos resultados obtidos. Figura 1 – Elemento de referência do sistema metal/molde para análise da transferência de calor na solidificação. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 37 A realização de análise de transferência de calor na solidificação de um metal visa a dois objetivos fundamentais, que são: (a) determinar a distribuição de temperatura, ou perfil térmico, do sistema analisado, isto é, determinar a interdependência da temperatura com o espaço e o tempo, segundo a função T = f(x,t) [1] onde T = temperatura em um ponto qualquer do sistema; x = posição relativa ou coordenada do ponto; t = tempo a partir do início do processo; (b) determinar a cinética de solidificação do metal, isto é, determinar o tempo necessário para solidificar uma determinada porção do metal, segundo a função t = f ( S ) [2] onde S = espessura do metal solidificado. Da Eq. 2 pode ser deduzida a velocidade de solidificação do metal, ou seja, a velocidade com a qual a interface sólido/líquido avança no seio do metal líquido, segundo a função � = �� �� = �(�) 1. Modos Essenciais de Transferência de Calor O elemento de referência da Fig. 2 mostra que, de um modo geral, todas as maneiras de transferir calor podem estar presentes na solidificação de um metal: condução térmica no metal e no molde, transferência newtoniana na interface metal/molde, convecção térmica no metal líquido e no meio ambiente e radiação térmica do molde para o meio ambiente. Entretanto, alguns desses modos de transferência de calor são apenas transitórios e outros permanentes durante a solidificação. Como veremos mais adiante, a condução e a convecção térmicas do metal líquido verificam-se apenas no início do processo, ao passo que a convecção e a radiação térmicas do molde ao meio ambiente verificam-se apenas no final do processo, ou simplesmente não se verificam nunca, dependendo de como está dimensionado o molde. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 38 Figura 2 - Ilustração esquemática dos modos de transferência de calor que podem atuar no elemento de referência do sistema metal/molde. Em termos práticos, o metal líquido é sempre vertido ou vazado no molde a uma temperatura um pouco superior à sua temperatura de fusão, a fim de que possa acomodar- se ao molde antes que se inicie sua solidificação. A diferença entre a temperatura do metal líquido e sua temperatura de fusão é denominada superaquecimento, cujo valor inicial é dado por: ∆� = �� − �� 0 superaquecimento do metal líquido, que na prática nunca ultrapassa os 10% da temperatura de fusão, é rapidamente dissipado no início da solidificação pela ação das correntes de convecção forçada ou natural mostradas na Fig. 3. Figura 3 - Correntes de convecção que dissipam o superaquecimento do metal liquido no inicio da solidificação. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 39 Com a dissipação do superaquecimento, desaparece a força motriz que faz com que a convecção e a condução térmicas do metal líquido, atuem. Nessas condições, o metal líquido permanece uniformemente submetido à sua temperatura de fusão até que a solidificação termine. Essa dissipação se verifica geralmente em tempos muito inferiores ao tempo total de solidificação do metal, o que pode ser verificado experimentalmente por meio do registro de curvas de esfriamento tomadas com termopares durante o processo de solidificação do metal, como é mostrado no exemplo prático da Fig. 4. Figura 4 – Curva de esfriamento registrada durante a solidificação de um lingote de aço de 12 toneladas. Por outro lado, a convecção e a radiação térmicas do molde para o meio ambiente, somente se verificam se a espessura do molde não for suficiente para absorver todo o calor transferido pelo metal durante sua solidificação. Em outras palavras, se o volume do molde for dimensionado para absorver todo o calor transferido durante o processo, a temperatura externa do molde permanece constante e não estabelece com o meio ambiente o diferencial térmico que atua como força motriz da convecção e da radiação externas. Caso o volume do molde não seja suficiente, chega um momento durante o processo de solidificação em que o molde começa a se saturar de calor elevando, sua temperatura externa e ativando a Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 40 convecção e a radiação externas. Na prática, entretanto, o molde pode ser dimensionado de forma a absorver todo o calor transferido ou a apenas elevar sua temperatura externa nos instantes finais do processo, tornando a transferência de calor ao meio ambiente inexpressiva no balanço térmico global. Cabe lembrar que, no caso de moldes refrigerados a água, pela própria natureza do sistema, não há condições para que esses modos de transferência de calor possam atuar. Uma vez verificada a passividade relativa do metal líquido e do meio ambiente no processo de transferência de calor da solidificação, pode-se concluir que existem apenas dois modos essenciais ou permanentes de transferir o calor gerado pelo metal durante sua solidificação: ( a ) condução térmica, atuando tanto no metal que solidifica como no material de molde; ( b ) transferência newtoniana, atuando na interface de contato entre o molde e o metal. 2. Fluxos de Calor e Balanço Térmico Para formalizar a análise do processo de transferência de calor na solidificação, torna-se necessário associar ao elemento de referência da Fig. 2 um sistema de coordenadas "temperatura x distância" centrado na interface metal/molde. Esse sistema, mostrado na Figura 5. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 41 Figura 5 – Perfil Térmico do sistema metal/molde durante a solidificação do metal. Onde: x = distância de um ponto qualquer à interface metal/molde; S = espessura do metal solidificado num instante qualquer; v = velocidade de solidificação do metal; T f = temperatura de fusão do metal, uniforme em todo o líquido; To = temperatura externa do molde, constante durante o processo; TS = temperatura em um ponto qualquer do metal sólido; TM = temperatura em um ponto qualquer do molde; Tis = temperatura do metal junto à interface metal/molde; Tim = temperatura do molde junto à interface metal/molde; Ti = temperatura de equilíbrio da interfacemetal/molde. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 42 O processo de solidificação perfilado, no sistema da figura 5 pode ser definido como um processo de transferência de calor em regime não estacionário. Isso significa que seu perfil térmico varia em função do espaço e do tempo devido à mudança de posição ou ao avanço da interface sólido/líquido. Este fato coloca a análise do processo como um problema de elevada complexidade matemática, cuja atenuação torna necessário que sejam admitidas as hipóteses simplificadoras apresentadas a seguir: a ) A solidificação se inicia com o metal sem superaquecimento, isto é, submetido à sua temperatura de fusão. Como foi visto anteriormente, essa hipótese não é comprometedora devido à dissipação inicial do superaquecimento. b ) A interface sólido/líquido consiste em uma superfície macroscopicamente plana, ou apresenta curvatura bastante pequena. Interfaces com grande curvatura só podem ser consideradas na análise de sistemas com moldes de baixa capacidade de extração de calor (areia, por exemplo). c ) A temperatura externa do molde permanece constante e igual à sua temperatura inicial, isto é, o volume do molde é suficiente para absorver todo o calor transferido pelo metal durante a solidificação. Mais adiante serão analisados empiricamente os casos práticos em que essa hipótese não pode ser considerada. d ) 0 perfil térmico do metal sólido é considerado linear, isto é, a variação da temperatura ao longo do metal que solidifica é representada por uma reta que liga suas temperaturas extremas (na interface metal/molde e na interface sólido/líquido). e ) As propriedades físicas do metal e do material de molde independem da temperatura. Para efeito de cálculo, as propriedades do metal são tomadas próximo à sua temperatura de fusão e as propriedades do material de molde são tomadas à temperatura ambiente. O perfil térmico da Figura 6 está de acordo com balanço térmico global (total) realizado igualando o calor nas interfaces sólida/líquida e metal/molde do elemento de referência da Figura 7. Figura 7 – Elemento de referência mostrando o balanço térmico. Fluxo de calor entre (1) e(2) deve ser igual ao fluxo de calor entre 3 e 4. K Lv K N Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 43 A natureza dos fluxos de calor neste elemento: No ponto 1: Na interface sólido/líquido o fluxo de calor é contínuo e o calor latente liberado nesta interface: qh = H dsV onde: H= calor latente, qh= fluxo de calor, ds= densidade sólido e V=velocidade de solidificação. No ponto 2: O fluxo de calor por condução em qualquer ponto do sólido: qsx = ks Gsx onde: qsx = fluxo num ponto do sólido, ks=condutividade no sólido e Gsx= gradiente térmico. No ponto 3: O fluxo de calor por transferência newtoniana na interface metal/molde. qi = hi ∆Ti onde: qi= fluxo de calor, hi= condutância da interface metal/molde e ∆Ti= diferencial térmico localizado na interface metal/molde. Portanto, qi = hi (Tis - Tim). Para o balanço térmico global deve-se considerar que: a) O fluxo de calor na forma de calor latente (LV) sendo liberado na interface S/L (ponto 1) deve ser igual ao fluxo de calor por condução (K) no sólido (ponto 2). b) O fluxo de calor na interface metal/molde (N) (ponto 3) deve ser igual ao fluxo de calor no molde (ponto 4). Portanto, devem ser iguais os resultados dos fluxos de calor entre os pontos 1 e 2 e dos pontos 3 e 4. O diferencial térmico ∆Ti tende assintoticamente a zero durante a solidificação, isto é, Tis e Tim. Tendem a um valor comum Ti. (Figura 8 e 9) Figura 8 – Ilustração esquemática da variação das temperaturas da interface metal/molde durante a solidificação. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 44 Figura 9 – Variação das temperaturas interfaciais durante a solidificação de um lingote de aço em lingoteiras de ferro-fundido. O valor da temperatura de equilíbrio da interface metal/molde (Ti) depende do material do molde e do metal que solidifica. Entretanto, a tendência assintótica é mais rápida quanto maior o valor da condutância da interface metal/molde (hi). O valor de hi vai depender da eficiência do contato térmico entre o metal e o molde. Para um dado metal, hi vai depender das condições da superfície interna do molde, como acabamento, oxidação, presença de recobrimento, etc. Moldes refrigerados a água são recomendados na solidificação de peças fundidas com geometria simples e simétricas. Este tipo de molde é utilizado inevitavelmente nos processos de lingoteamento contínuo. A figura 10 mostra esquematicamente este tipo de molde. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 45 Figura 10 – Representação esquemática de um molde refrigerado a água, com respectivo elemento de referência. A vazão de água é um fator importante e a velocidade de circulação média de água deve ser suficientemente altas para manter o coeficiente de transmissão de calor molde/água bem maior que a condutância da interface metal/molde, a fim de praticamente anular a resistência térmica do molde em si. Esse coeficiente de transmissão de calor molde/água (há) está relacionado empiricamente com a velocidade de circulação da água (va) segundo a equação: ℎ� = 0,003 �� �,� (unidades no sistema cgs) Nessas condições, em um molde eficientemente refrigerado a água tem-se que: �� = 1 ℎ� ≪ �� = 1 ℎ� Em consequência, a resistência térmica do molde refrigerado pode ser desprezada, ficando o sistema essencialmente submetido à condução térmica no metal sólido e a transferência newtoniana na interface metal/molde. O fato do molde refrigerado não oferecer resistência ao calor transferido pelo metal faz com que o gradiente térmico do molde seja desprezível se comparado aos gradientes térmicos do metal sólido ou da Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 46 interface metal/molde. Portanto, o sistema refrigerado pode ser representado pelo perfil térmico da Fig. 11, onde: T�� ≅ T� A temperatura da interface metal/molde (Tis) decresce continuamente a partir de um valor máximo (Tf), à medida que a espessura solidificada (S) aumenta. Mostra também que esse decréscimo é tanto mais intenso quanto maior for a condutância da interface metal/molde (hi). Em outras palavras, se o molde refrigerado tiver sua superfície interna recoberta (hi menor) o decaimento da temperatura será menor do que no caso em que o molde tiver sua superfície interna apenas polida (hi maior), como ilustra a Fig. 12. Figura 11 – Perfil térmico da solidificação em molde refrigerado. Figura 12 – Influência do recobrimento de molde na variação da temperatura da interface metal/molde durante a solidificação. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 47 A velocidade de solidificação (v) decresce continuamente a partir de um valor máximo (vO) à medida que a espessura solidificada(S) aumenta. Esse decaimento é tanto mais intenso quanto maior for a condutância da interface metal/molde (hi). Cabe observar que o valor da velocidade inicial de solidificação (V0) é diretamente proporcional ao valor da condutância da interface. Isso significa que o molde com recobrimento interno acarreta menores velocidades de solidificação do metal em comparação com molde simplesmente polido, como ilustra a Fig. 13. Figura 13 – Influência do recobrimento de molde na variação da velocidade de solidificação. O tempo de solidificação (t) aumenta rapidamente com o aumento da espessura solidificada (S). Esse aumento é tanto mais pronunciado quanto menor a condutância da interface metal/molde (hi). Isso significa que a aplicação de recobrimento na superfície interna do molde retarda apreciavelmente a cinética de solidificação do metal, como mostra a Fig. 14. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 48 Figura 14 – Influência do recobrimento de molde na cinética de solidificação do metal. A cinética de solidificação do metal pode ser convenientemente colocada na forma: � = ��� + �� [3] Onde: t = tempo de solidificação; S = espessura solidificada; α = constante que depende exclusivamente da transferência de calor por condução térmica; β = constante que depende exclusivamente da transferência newtoniana na interface de contato térmico entre molde e metal. A equação [3] revela que o tempo de solidificação pode ser determinado pela soma de duas parcelas indepententes, ou seja: � = �� + �� [4] Onde: �� = parcela do tempo de solidificação devida à ação independente da condução térmica; �� = parcela do tempo de solidificação devida à ação independente da transferência newtoniana na interface metal/molde. A equação [4] permite que os tempos de solidificação devido à ação isolada de cada componente do sistema metal/molde sejam cumulativos, da mesma forma que suas respectivas resistências térmicas. Esse comportamento cumulativo está representado na Fig. 15, onde se observa que a parcela do tempo que Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 49 depende da condução térmica varia parabolicamente com a espessura solidificada, ao passo que a parcela que depende da transferência newtoniana varia linearmente com a espessura solidificada. Nessas condições, cada parcela é dada por: �� = �� � �� = �� Figura 15 – Decomposição do tempo de solidificação em duas parcelas cumulativas: uma devida à condução térmica (variação parabólica) e outra devida à transferência newtoniana (variação linear). Tendo em vista a ausência de uma resistência térmica significativa no molde refrigerado, o contato térmico da interface metal/molde evidencia-se como um fator de importância determinante no controle da solidificação do metal, particularmente no que se refere à estrutura que se forma nos instantes iniciais do processo. Assim sendo, a condutância da interface metal/molde terá grande influência na determinação do super-resfriamento térmico de nucleação do metal junto à interface metal/molde, controlando diretamente o tamanho de grão da estrutura que solidifica inicialmente. A intensidade desse efeito pode ser observada no exemplo do alumínio, mostrado na Fig. 16. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 50 Figura 16 – Tamanho de grão da estrutura inicial resultante da solidificação do Alumínio com diferentes contatos térmicos na interface metal/molde: (a) molde polido; (b) molde com revestimento condutor; (c) molde com revestimento isolante. Os moldes de areia ou de outros materiais refratários são muito utilizados em fundição devido a sua capacidade de moldagem permitindo uma ilimitada liberdade de formas e geometrias nas peças fundidas. Este tipo de molde tem uma baixa capacidade de extração do calor, mas, por outro lado, são de baixo custo pelo qual são indicados para peças fundidas de grandes dimensões. O molde de areia é mostrado esquematicamente na Figura 17. Neste caso, a resistência térmica do material do molde é muito alta e superior as outras resistências térmicas do sistema metal/molde. �� ≫ �� + �� Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 51 Figura 17 – Representação esquemática de um molde de areia mostrando o respectivo elemento de referência. O fato da resistência térmica estar essencialmente concentrada na areia do molde faz com que os gradientes térmicos no metal sólido e na interface metal/molde sejam desprezíveis se comparados com os gradientes térmicos presentes no molde. Portanto, o sistema com molde de areia pode ser representado pelo perfil térmico mostrado na Fig. 18, em que: ��� ≅ ��� ≅ �� Na Figura 18 observa-se que o perfil térmico do sistema encontra-se essencialmente concentrado no molde de areia. Isso significa que, em molde de areia, o fluxo de calor se dá essencialmente por condução térmica no material do molde, onde o perfil térmico não admite linearização. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 52 Figura 18 – Perfil térmico da solidificação em molde de areia. Cabe lembrar que, no caso do molde de areia, deve-se levar conta que a resistência térmica do molde de areia cresce muito rapidamente logo após esses instantes iniciais, tendo em vista a sua baixa condutividade térmica. Em outras palavras, logo após os instantes iniciais da solidificação em molde de areia, tem-se: �� ≫ �� �� �� � ≫ �� Como ilustra esquematicamente a Figura 19. Figura 19 – Representação esquemática da pequena influência relativa da transferência newtoniana na cinética de solidificação em molde de areia. Universidade Estadual do Norte Fluminense Fundição – MAV 01352 53 Referências: Apostila baseada no livro: CAMPOS FILHO, Maurício. “Solidificação e Fundição de metais e suas Ligas”. Rio de Janeiro: LTC, 1978. Livros Complementares: ASM Handbook, Vol. 15 "Castings”, ASM, 1988. FERREIRA, José M. G. de Carvalho. “Tecnologia de Fundição”, Lisboa, 1999.
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