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Direito Ambiental

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INTRODUÇÃO
1. Evolução histórica do direito ambiental internacional
1.1. Primeira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente Humano
A Primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em 1972, em Estocolmo, na Suécia, foi um marco internacional, pois refletiu a preocupação da ONU com o direito ambiental. À época eram consideradas apenas questões demográficas, ou seja, o aumento da população mundial.
A Declaração de Estocolmo, documento editado ao final dos trabalhos, contém vinte e seis princípios de direito ambiental. 
O primeiro princípio da Declaração de Estocolmo estabelece que o homem tem direito à igualdade, à liberdade e o dever de proteger o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. 
A partir dessa conferência, as questões ambientais entraram na agenda política, econômica e social global.
1.2. Relatório “Nosso futuro comum”
O segundo marco internacional da preocupação com o desenvolvimento do direito ambiental se deu com o relatório “Nosso futuro comum”, de 1987. Em provas, pode aparecer também com o nome de Relatório “Blundtland”. Em 1983, a ONU criou uma comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento. Esta comissão era presidida pela senhora Gro Harlem Bluntland, primeira Ministra da Noruega. O relatório “Nosso futuro comum” nada mais é do que as conclusões da ONU editadas em decorrência dessa segunda conferência.
Esse relatório traz o conceito clássico de desenvolvimento sustentável: “desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades das presentes gerações sem comprometer as necessidades das gerações futuras”. 
Em 1998, com o advento da atual CR, o art. 225 (que estabelece o conceito de meio ambiente equilibrado) passa a ser considerado o coração da proteção ambiental. Meio ambiente equilibrado significa que, no ordenamento jurídico brasileiro, o meio ambiente é um direito fundamental e deve ser protegido. Cuidado, pois a expressão “presentes e futuras gerações” pode estar relacionada ao princípio da solidariedade inter-geracional ou ao princípio do desenvolvimento sustentável. 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
A expressão “presentes e futuras gerações”, na esfera internacional, está vinculada ao princípio do desenvolvimento sustentável. Se o legislador, todavia, traz a expressão vinculada ao caput do art. 225 da CR, pode se tratar do princípio da solidariedade inter-geracional. Ainda existe confusão conceitual entre os princípios. 
1.3. Conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento (Rio 92 ou Eco 92)
Essa conferência ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1992. Foram editados alguns documentos:
a) Declaração do Rio
b) Agenda 21
A Agenda 21 é um programa de ação com diretrizes para a implementação do desenvolvimento sustentável. Foi uma tentativa de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. É um documento programático que contém quarenta diretrizes. 
Em 1992, pensou-se nas medidas necessárias para a implantação do desenvolvimento sustentável. Trata-se, como visto, de um documento programático, ou seja, não vinculativo. 
As diretrizes englobam ações tanto do Estado quanto das empresas privadas e da sociedade. Abrangem desde o âmbito regional até o âmbito global.
Uma característica importante é que a Agenda 21 e a Declaração do Rio são exemplos de soft law, isto é, direito flexível, não impositivo. São normas não obrigatórias (não cogentes). 
c) Convenção-Quadro sobre mudanças do clima
A Convenção-Quadro sobre mudanças do clima teve sua assinatura aberta em 9 de maio de 1992, ou seja, um mês antes da Rio 92. 
O aquecimento global é um fenômeno natural potencializado pela ação humana. O homem tem potencializado os efeitos negativos do aquecimento global. A Convenção preocupa-se com a redução dos gases antropogênicos, que são gerados pelas atividades humanas, como por exemplo, indústria, desmatamento da Amazônia legal, emissão de gases dos rebanhos brasileiros etc. 
Em 1997, é editado o Protocolo de Kyoto, na Cop 3 (Conferência das partes 3). Depois de assinada a Convenção, as partes se reúnem periodicamente em encontros e são editados alguns documentos. O Protocolo de Kyoto é um desses documentos, que foi assinado durante a realização da Cop 3. Seu objetivo é reduzir a emissão de GEE (gases de efeito estufa). Já sua meta era reduzir na média de 5% das emissões do ano de 1990, no período compreendido entre 2008 e 2012. 
As metas percentuais do Protocolo de Kyoto aplicam-se apenas aos países desenvolvidos, por isso não são aplicáveis ao Brasil, que à época era considerado país em desenvolvimento. Grande parte dos países participantes do Protocolo de Kyoto não cumpriram as metas estabelecidas. 
Embora o Brasil não tenha metas percentuais, possui uma política nacional de mudanças do clima consubstanciada na Lei 12.187/09. As discussões das conferências das partes foram permeadas por grande tensão, pois os países não desejavam reduzir suas emissões. O Brasil, à época do governo Lula, comprometeu-se voluntariamente a cumprir metas bem maiores (foi considerada uma atitude audaciosa). É o que dispõe o art. 12 da Lei 12.187/09. A meta do Brasil é reduzir sua emissão até 2020, no percentual de 36,1% a 38,9%. É uma meta ousada, na medida em que as metas dos países desenvolvidos giram em torno de 1% a 2% por cento. 
Art. 12.  Para alcançar os objetivos da PNMC [Política Nacional das Mudanças do Clima], o País adotará, como compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vistas em reduzir entre 36,1% (trinta e seis inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove décimos por cento) suas emissões projetadas até 2020.
Parágrafo único.  A projeção das emissões para 2020 assim como o detalhamento das ações para alcançar o objetivo expresso no caput serão dispostos por decreto, tendo por base o segundo Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal, a ser concluído em 2010.
O Protocolo de Kyoto, ao contrário da Declaração do Rio e da Agenda 21, trata-se de hard law, ou seja, é direito cogente. 
d) Convenção sobre diversidade biológica
É o mais importante instrumento internacional de proteção à diversidade biológica. O Brasil foi o primeiro país signatário. 
Vale lembrar que diversidade biológica é composta pela fauna, flora, microrganismos etc. 
Objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica:
i) conservação da diversidade biológica;
ii) uso sustentável dos recursos biológicos;
iii) a distribuição justa e equitativa dos benefícios do uso dos recursos genéticos. O homem não conhece nem 10% de toda a biodiversidade do planeta e quando são realizados desmatamentos a biodiversidade é muito prejudicada. 
A Política Nacional da Biodiversidade é o Decreto 4.339/02. Questão envolvendo esse instrumento foi cobrada na prova da AGU de 2012. 
Art. 1o  Ficam instituídos, conforme o disposto no Anexo a este Decreto, princípios e diretrizes para a implementação, na forma da lei, da Política Nacional da Biodiversidade, com a participação dos governos federal, distrital, estaduais e municipais, e da sociedade civil.
1. Os princípios estabelecidos neste Anexo derivam, basicamente, daqueles estabelecidos na Convenção sobre Diversidade Biológica e na Declaração do Rio, ambas de 1992, na Constituição e na legislação nacional vigente sobre a matéria. 
e) Declaração ou Carta de florestas
Não teve grande importância, pois não houve consenso na elaboração desse documento. Trata-se de meras recomendações, ou seja, não é norma cogente.
A mais importante das convenções internacionais foi a Rio 92. Em junho de 2012, ocorreu a Rio + 20, porém, foi reputada um fracassoem termos de evolução em relação à Rio 92. Foi editado apenas um documento programático de cunho eminentemente genérico, sem ações efetivas. 
1.4. Cúpula mundial sobre desenvolvimento sustentável (Rio + 10)
A Cúpula mundial sobre desenvolvimento sustentável ficou conhecida como “Rio + 10”, e ocorreu em Joanesburgo, na África do Sul, no ano de 2002. Houve a edição de dois documentos:
i) Declaração política
A Declaração política reafirma os princípios das declarações anteriores (Estocolmo e Rio 92).
ii) Plano de implementação
O Plano de implementação foi uma inovação, pois previa meios de implantar o desenvolvimento sustentável. Ou seja, ao menos houve uma tentativa de passar as diretrizes teóricas traçadas para a atuação prática. São objetivos:
i) erradicação da pobreza;
Há uma íntima relação entre pobreza e poluição, o que atravanca o desenvolvimento sustentável.
ii) eliminação de padrões insustentáveis de produção e consumo;
iii) proteção aos recursos naturais. 
Essa é a mais importante das conferências da ONU, que ocorreu dez anos após a Rio 92.
1.5. Rio + 20
A Rio + 20 foi um grande fracasso. Foi editado o documento “O futuro que queremos”, que nem mesmo foi traduzido para o português.
Havia uma expectativa muito grande em torno desse encontro. Muitos chefes de Estado sequer vieram ao Brasil e houve muita dificuldade para redigir esse documento que é apenas programático. Há quase duzentos apontamentos que não trazem qualquer evolução em matéria ambiental, tampouco comprometimento dos países com metas efetivas de proteção ao meio ambiente. 
PRINCÍPIOS 
1. Princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental
Esse é um princípio argumentativo, que deve sempre ser utilizado em provas de segunda fase. Trata-se do princípio matriz da proteção ambiental. É a partir dele que a proteção irradia nas esferas infraconstitucional e constitucional. 
Esse princípio está previsto no caput do art. 225 da CR (“todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado”). 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
O princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado vincula o legislador, o administrador e o julgador. Todos têm o dever de observar esse princípio, considerado um vetor interpretativo. O meio ambiente é associado com a sadia qualidade de vida. É um dos principais direitos fundamentais, pois os direitos civis e políticos e os econômicos, sociais e culturais só podem ser efetivados se houver meio ambiente ecologicamente equilibrado. Sem ele não há saúde, educação ou condições de salubridade no trabalho. Ou seja, as demais dimensões dos direitos humanos dependem de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
Nessa linha de raciocínio, esse princípio se aproxima do fundamento axiológico do sistema jurídico brasileiro que é a dignidade da pessoa humana. Quanto mais um direito fundamental se aproxima da dignidade da pessoa humana, mais essencial ele se torna. 
Meio ambiente ecologicamente equilibrado é aquele não poluído, com higidez e salubridade. Ver MS 22.164/SP, julgado em 30.05.1995.
A questão ambiental afeta diretamente o direito econômico, pois as questões ambientais comumente se tornam questões econômicas. Há, também, íntima relação do direito ambiental com os direitos humanos. Portanto, a questão ambiental insere-se nas discussões de direito econômico e de direitos humanos.
2. Princípio do desenvolvimento sustentável
O estudo do princípio do desenvolvimento sustentável será relacionado ao sistema jurídico pátrio e não à esfera internacional.
Desenvolvimento sustentável é compatibilizar as atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente. É preciso conjugar o art. 170 (ordem econômica) com o art. 225, ambos da CR. De um lado, está a atividade econômica e de outro a questão ambiental, de forma que esse princípio tenta interligar e harmonizar esses dois ramos.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
A defesa do meio ambiente é inclusive princípio da ordem econômica. Segundo o STF, no julgamento da ADI 3.540, é necessário compatibilizar atividade econômica com o meio ambiente. Não sendo possível a compatibilização, prevalecerá a proteção ao meio ambiente, mas é preciso cuidado com essa questão, pois primeiramente deve-se tentar a conciliação. O STF entende que a atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios de direito ambiental. 
O desenvolvimento sustentável consta do princípio 4 da Rio 92. 
PRINCÍPIO 4 - Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente deste.
Obs.: no direito francês, o princípio é chamado de desenvolvimento “durável”. Essa questão pode aparecer em provas de concurso e deve ser entendida como sinônimo de desenvolvimento sustentável. 
3. Princípio da solidariedade inter-geracional
O princípio está previsto no caput do art. 225 da CR.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Os recursos naturais devem ser utilizados de forma que as futuras gerações possam deles também usufruir. É um princípio muito recorrente nos julgados do STF. 
Um exemplo desse princípio é a imprescritibilidade da ação civil de reparação de danos ambientais, pois as futuras gerações também devem usufruir dos recursos naturais. A questão da prescrição relaciona-se ao bem protegido e a ação é imprescritível pela relevância que representa o bem ambiental.
As mudanças do clima também estão muito relacionadas com as futuras gerações.
É um princípio de ética inter-geracional. 
É importante diferenciar a solidariedade sincrônica e diacrônica:
i) solidariedade sincrônica: são as presentes gerações;
ii) solidariedade diacrônica: são as futuras gerações;
4. Princípio da função socioambiental da propriedade
O princípio da função socioambiental da propriedade abrange tanto a propriedade rural (art. 186 da CR) quanto a propriedade urbana (art. 182, §2º, da CR).
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
No nosso sistema jurídico, a propriedade só se legitima quando atende a sua função social. Na verdade, a CR de 1988 publicizou o conceito de propriedade.
A palavra “função” significa o contrário de autonomia da vontade. Os particulares têm autonomia de vontade cujo limite é o ilícito. Se existe função, não há autonomia de vontade, mas sim deveres a serem cumpridos. Função social da propriedade são os deveres do proprietário para com a sua propriedade. Para que o proprietário possa exercer a sua propriedade, ele deve primeiramente cumprir os seus deveres. 
Observações importantes:
i) a função social não limitao direito de propriedade;
ii) a função social é elemento essencial interno da propriedade, um conteúdo do direito de propriedade. Não há que se falar em limitação, mas sim no uso da propriedade conforme o direito;
iii) função social não é externa (como a limitação administrativa), é elemento interno, integrante do conceito de propriedade; 
iv) onde há função, não há autonomia de vontade ou a busca de interesses próprios;
v) função é o poder a agir que se traduz em verdadeiro dever jurídico, que só se legitima quando dirigido ao atendimento da finalidade específica, que gerou a atribuição ao agente (Celso Antônio Bandeira de Melo).
4.1. Função social da propriedade rural
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado [aspecto econômico da propriedade];
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente [aspecto ambiental da propriedade];
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho [aspectos sociais da propriedade];
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores [aspectos sociais da propriedade].
A propriedade rural possui três aspectos: i) econômico (inciso I); ii) ambiental (inciso II); iii) sociais (inciso III e IV).
O proprietário rural deve manter uma reserva legal, com percentuais definidos em lei. Na Amazônia legal, cuja vegetação é de florestas, deve ser mantido um percentual de 80% de reserva legal. Na maior parte do território nacional esse percentual é de 20%. Este tema será tratado adiante de forma aprofundada.
4.2. Função social da propriedade urbana
A função social da propriedade urbana é cumprida quando atende a todas as exigências do plano diretor. Toda cidade com mais de 20 mil habitantes deve ter plano diretor, conforme previsão da CR. 
O Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01), todavia, traz previsão diferente. Em seu art. 41 há um rol maior de cidades que devem possuir plano diretor (além das cidades com mais de 20 mil habitantes, as cidades turísticas, que sofram com catástrofes naturais etc., também devem possuir plano diretor). O art. 1228, §1º, do CC também trata do tema.
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:
I – com mais de vinte mil habitantes;
II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4o do art. 182 da Constituição Federal;
IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;
V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.
VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
Art. 1.228. § 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
A função se traduz em obrigações negativas (não-fazer) e positivas (fazer). Ou seja, a função social traz funções de fazer e não-fazer ao proprietário. Exemplos de funções negativas: não poluir, não degradar, não desmatar; exemplos de funções positivas: recompor.
Aquele que adquire imóvel degradado ou desmatado é o responsável pela recomposição desse imóvel. Ainda que o responsável pela degradação tenha efetivamente sido o proprietário anterior, o adquirente de imóvel desmatado ou degradado tem o dever de recuperá-lo. Trata-se de obrigação “propter rem” (o proprietário “ganha” o passivo ambiental, mas nada impede que ele ajuíze ação de regresso contra o proprietário anterior). Essa questão é pacífica nos tribunais superiores.
5. Princípio da prevenção
Prevenção deriva do verbo prevenir, que significa agir antecipadamente. Trata-se de um risco conhecido, ou seja, somente é possível agir antecipadamente quando há dados, pesquisas e informações ambientais. A essência do direito ambiental é preventiva.
Justificações do princípio:
i) impossibilidade de retorno ao “status quo ante”;
Em um acidente nuclear como o de Fukushima, por exemplo, não é possível voltar ao estado anterior. Em regra, os danos ambientais são irreversíveis.
ii) eliminação de uma espécie da flora ou fauna;
Obs.: prevenção e precaução são termos sinônimos na língua portuguesa, mas para o direito ambiental possuem sentidos próprios e singulares.
O princípio da prevenção diz respeito ao risco conhecido. Ex.: é de conhecimento geral que a mineração causa degradação ambiental. É um risco conhecido, pois já causou danos anteriores e há pesquisas, dados e informações ambientais sobre o tema.
Instrumentos que materializam o princípio da prevenção:
i) licenciamento ambiental;
ii) poder de polícia ambiental;
No Brasil, a prevenção aos danos ocorre através do poder de polícia ambiental ou do licenciamento ambiental. Se já se sabe que uma obra irá causar possíveis impactos ambientais, o proprietário deve dirigir-se ao órgão ambiental e requerer a licença ambiental para sua realização. 
Poder de polícia ambiental é sinônimo de poder de polícia administrativo (art. 78 do CTN). A fiscalização é uma manifestação da prevenção.
6. Princípio da precaução
O princípio da precaução refere-se ao dano incerto, ao perigo “in abstrato”, ao dano desconhecido. 
Trabalha-se com a incerteza científica, pois há ausência de pesquisas científicas sobre o assunto. Deve ser adotado o princípio do “in dubio pro ambiente” ou “in dubio pro natura”.
É o princípio irmão da prevenção, com a diferença de que na precaução há ausência de dados, de informações. Não se sabe o que poderá acontecer. Ex.: questão dos organismos geneticamente modificados. A Lei 11.105 (Lei de Biossegurança), não traz pesquisas conclusivas sobre o impacto dos OGM’s sobre o corpo humano e sobre o meio ambiente. Outro exemplo são as mudanças climáticas. 
A ausência de dados ou informações não é justificativa para que o homem não aja, deixando para o futuro as consequências que podem ser causadas ao meio ambiente e à sociedade. Na dúvida sobre o impacto que será causado, deve sempre ser utilizada a máxima “in dubio pro ambiente”. 
O princípio 15 da Rio 92 traz na sua redação o princípio da precaução. Foi a primeira vez que constou esse princípio de um documento de âmbito internacional. 
Princípio 15: De modo a proteger o meio-ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
Veja que é possível a inversão do ônus da prova em matéria ambiental. A referência é o art. 6º, VIII, do CDC e o princípio ambiental da precaução. Portanto, o princípio que se vincula à inversão do ônus da prova em matéria ambiental é o princípio da precaução.
Procedimento: o MP, por exemplo, ajuíza ACP e pede a inversão do ônus da prova, para que o empresário ou empreendedor demonstre que a sua atividade econômica não colocará em risco a saúde humana e o meio ambiente. 
Questão da prognose negativa: “gnose” significa conhecimentoe “pro” antecipado. Portanto, trata-se do conhecimento antecipado. É um exercício de probabilidade. Ex.: ajuizada uma ação que versa sobre questões climáticas, o magistrado deve decidir. Não há, contudo, elementos conclusivos sobre as mudanças climáticas. O juiz pode, nesse caso, invocar o princípio da precaução e se utilizar da prognose negativa para fazer um juízo de antecipação e, havendo dúvida, decidir a favor do meio ambiente, ou seja, decidir pela não intervenção. 
7. Princípio do poluidor-pagador
Esse princípio possui dois aspectos: i) preventivo e ii) repressivo (reparação). 
Tem previsão na legislação infraconstitucional, no art. 4º, VII, da Lei 6.938/81. É um princípio econômico, cautelar e preventivo de proteção ambiental.
Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. 
A internalização das externalidades negativas é uma questão que sempre aparece vinculada ao princípio do poluidor-pagador. A palavra internalização no direito ambiental significa processo produtivo. 
Externalidade é tudo o que está fora do processo produtivo. O empresário deve internalizar os custos dos danos ambientais que podem ser causados por sua atividade econômica. Ex.: a poluição está fora do processo produtivo e é um dano ambiental que deve ser internalizado pelo empresário.
O princípio não significa poder pagar e poluir. Ao contrário, é um princípio de natureza econômica e preventiva. Todo processo produtivo pressupõe externalidades, muitas delas negativas. Ex.: fábrica próxima a uma área residencial não coloca filtros para a emissão de fumaça. Assim agindo, a empresa está internalizando lucros e externalizando prejuízos para a sociedade. Os prejuízos devem ser internalizados pelo proprietário da fábrica. A externalidade deve ser tratada pelo proprietário-emissor, para depois ser colocada no meio ambiente. 
Dessa forma, o empreendedor deve internalizar os custos de prevenção, monitoramento e reparação dos impactos causados ao meio ambiente. O princípio do poluidor-pagador procura internalizar, nos custos da produção, as externalidades negativas. Não é justo que toda a poluição que provém de sua atividade seja compartilhada com a sociedade.
Parte da doutrina admite também um aspecto reparador do princípio. Ou seja, se ocorrer um dano ambiental, o empresário é responsável por sua reparação. A responsabilidade civil, ainda que adotadas as medidas preventivas, é objetiva (ainda que o poluidor tenha tomado precauções para evitar, ocorrendo o dano ambiental ele deverá reparar). É o estabelece a Lei 6.938/81 (obrigação de reparar os danos ambientais causados). 
Cuidado, pois a responsabilidade civil objetiva existe no sistema jurídico desde 1981 e não desde a CR de 1988, que apenas a recepcionou.
8. Princípio do usuário-pagador
Possui a mesma base legal: art. 4º, VII, da Lei 6.938/81. 
Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.
Os recursos naturais devem ser quantificados, a fim de que se evite o custo zero. Esse custo zero leva à hiper exploração e, em consequência, à escassez. Ex.: a água é um bem dotado de valor econômico, conforme art. 19, I, da Lei 9.433/97 (Política Nacional de Recursos Hídricos).
Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:
I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor; 
Caso os recursos naturais não sejam quantificados, o custo zero fatalmente conduzirá à exploração desmedida e, consequentemente, à escassez desses recursos. O princípio busca atribuir um preço aos recursos naturais, para que o uso seja realizado de forma mais racional. 
O princípio do usuário-pagador foi tratado pelo STF na ADI 3378, julgada em 2008. 
9. Princípio da informação ambiental
O princípio da informação determina que seja facultado acesso às informações ambientais disponíveis. Pode-se traçar um paralelo com o direito do consumidor, com o art. 40, da Lei 11.105/05 (acesso à informação quando se tratar de alimentos transgênicos), com o art. 3º, da Lei 10.650/03 e com o SISNIMA.
Art. 40. Os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados deverão conter informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento.
Art. 3o Para o atendimento do disposto nesta Lei, as autoridades públicas poderão exigir a prestação periódica de qualquer tipo de informação por parte das entidades privadas, mediante sistema específico a ser implementado por todos os órgãos do Sisnama, sobre os impactos ambientais potenciais e efetivos de suas atividades, independentemente da existência ou necessidade de instauração de qualquer processo administrativo.
Só há Estado democrático quando o cidadão tem acesso à informação. A pessoa deve ter a informação se o alimento que ela pretende ingerir contém ou não OGM’s (a informação sobre OGM’s se dá pelo símbolo de um triângulo com um “T” no meio). 
A Lei 10.650/03 garante aos cidadãos o acesso aos bancos públicos ambientais integrantes do SISNAMA. 
O SISNIMA é o sistema nacional de informações ambientais. Trata-se de uma rede de computadores que conjuga informações de todos os órgãos ambientais. 
10. Princípio da participação comunitária
Há três aspectos importantes:
i) aspecto administrativo: a população deve participar da formulação de políticas públicas ambientais. Ex.: a população pode participar por meio das audiências públicas (a população é ouvida sobre um determinado projeto que poderá afetá-la ambientalmente), consultas públicas (a população é consultada sobre determinado tema pela internet, por exemplo), participação em conselhos de meio ambiente (estaduais, federais ou municipais), exercício do direito de petição. 
Para exercer (conceder) o licenciamento ambiental no Brasil, o ente federativo deve possuir Conselho de Meio Ambiente. Os entes (União, Estados e Municípios) só realizam o licenciamento se tiverem o conselho.
ii) aspecto legislativo: são os instrumentos do art. 14 da CR (plebiscito, referendo e iniciativa popular de lei). Nunca houve a utilização de nenhum desses instrumentos no Brasil em matéria ambiental. Ex.: houve, no Uruguai, um referendo para perguntar à população se a concessão de água deveria permanecer na iniciativa privada ou voltar para a administração pública. 
iii) aspecto judicial: um exemplo é a ação popular ambiental. 
A participação comunitária também é da essência do Estado Democrático de Direito. 
11. Princípio da ubiquidade ou da variável ambiental no processo decisório das políticas de desenvolvimento
Ubiquidade significa colocar o meio ambiente no epicentro dos direitos humanos, ou seja, no centro das políticas de desenvolvimento e dos direitos humanos. Essa discussão é altamente pertinente nos dias de hoje, tendo em vista a progressiva implementação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). 
Todas as políticas públicas de desenvolvimento devem contemplar obrigatoriamente as questões ambientais. 
Exemplos: i) leis orçamentárias; ii) plano plurianual; iii) lei de diretrizes orçamentárias etc. 
Na verdade, o empresário já fez a avaliação econômica do negócio e é sabido que, na história recente do país, a preocupação é basicamente voltada a essas questões, em detrimento das questões ambientais. A variável ambiental, além da questão puramente econômica, deve estar presente na análise. 
Está previsto no princípio 17 da Declaração do Rio de Janeiro:
PRINCÍPIO 17 - A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser empreendida para atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependam de umadecisão de autoridade nacional competente. 
Exemplo desse princípio aplicado nas políticas de desenvolvimento é o EIA/RIMA (estudo/relatório prévio de impacto ambiental). O art. 225, §1º, IV da CR traz a previsão desse estudo prévio. Dessa forma, para toda obra ou empreendimento que cause significativo impacto ambiental ou degradação do meio ambiente será necessária a confecção do estudo prévio de impacto ambiental (EIA/RIMA). 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento)
(questão do MPF) A avaliação ambiental estratégica (AAE) ocorre quando há a análise de planos, de programas, políticas governamentais. Essa avaliação, ao contrário do que ocorre com o EIA/RIMA é feita de forma global e não especificamente com relação a uma obra ou empreendimento. Ocorre nos casos em que serão realizadas várias obras no mesmo local. Ela avalia todo o conjunto dos planos, dos programas e das políticas ambientais e não afasta a realização do EIA/RIMA. Esse é o ideário e o MPF tem insistido na realização adequada dessa avaliação.
Um exemplo de EIA/RIMA bastante comentado foi o da obra da Usina de Belo Monte e da transposição do Rio São Francisco. No EIA/RIMA analisa-se uma obra específica, um empreendimento determinado.
12. Princípio do controle do poluidor pelo Poder Público
O Poder Público deve exercer o controle sobre o poluidor, pois se não for colocado um freio nas atividades econômicas, haverá proliferação da poluição. Na década de 1970, quando ainda não havia preocupação com a questão ambiental, foram causados diversos danos ambientais.
Está previsto no art. 225, §1º, V, da CR.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)
Exemplos de aplicação do princípio:
O licenciamento ambiental é exemplo de aplicação desse princípio, bem como a atuação das auditorias florestais. Esse controle exercido é bem amplo e se dá também em relação aos combustíveis, agrotóxicos, energia nuclear etc. 
Outra forma de controle do poluidor é a realizada através do controle das atividades de biossegurança, previsto na Lei 11.105/05 (trata dos organismos geneticamente modificados OGM’s). 
Outro exemplo é a utilização das células-tronco, previstas na mesma lei. Caso não haja controle, as consequências podem ser desastrosas. As pesquisas com OGM’s só podem ser feitas por pessoas jurídicas, jamais por pessoas físicas, exatamente para que o controle seja maior e mais efetivo.
O poder de polícia ambiental, que é uma forma de aplicação do princípio, segue a mesma sistemática do poder de polícia administrativo. É o art. 78 do CTN que traz o conceito de poder de polícia ambiental. A leitura do dispositivo deve ser importada para o direito ambiental.
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 28.12.1966)
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
13. Princípio da cooperação
Cooperar significa agir conjuntamente. É também chamado de princípio da cooperação entre os povos, vez que os danos ambientais são transnacionais (os impactos ambientais não respeitam as fronteiras estabelecidas). Todos os povos devem cooperar, pois de nada adianta que apenas um país cumpra suas obrigações ambientais, tendo em vista que os danos ambientais causados serão sentidos por todos os povos. Por isso a cooperação é imprescindível em matéria ambiental. 
Está contido na Declaração do Rio de Janeiro, nos princípios 2, 5 e 7.
PRINCÍPIO 2 - Os Estados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de Direito Internacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio ambiente e desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.
PRINCÍPIO 5 - Todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, devem cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidades, nos padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo.
PRINCÍPIO 7 - Os Estados devem em um espírito de parceria global, para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre. Considerando as distintas contribuições para a degradação ambiental global, os Estados têm responsabilidades comuns porém diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que têm na busca internacional do desenvolvimento sustentável, em vista das pressões exercidas por suas sociedades sobre o meio ambiente global, e das tecnologias e recursos financeiros que controlam.
Os arts. 77 e 78 da Lei de crimes ambientais (9.605/98) preveem o princípio da cooperação. O efeito sinérgico é a soma dos efeitos e consequências da degradação ambiental. Esse efeito pode potencializar a degradação do meio ambiente. 
Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concerne ao meio ambiente, a necessária cooperação a outro país, sem qualquer ônus, quando solicitado para:
I - produção de prova;
II - exame de objetos e lugares;
III - informações sobre pessoas e coisas;
IV - presença temporária da pessoa presa, cujas declarações tenham relevância para a decisão de uma causa;
V - outras formas de assistência permitidas pela legislação em vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte.
Art. 78. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e especialmente para a reciprocidade da cooperação internacional, deve ser mantido sistema de comunicações apto a facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações com órgãos de outros países.
14. Princípio da proibição do retrocesso ecológico
Alguns doutrinadores denominam esse princípio de proibição da retrogradação socioambiental. 
Canotilho ensina que se trata de verdadeira espécie de cláusula rebus sic stantibus, pois, a menos que a situação se altere significativamente, não é permitido haver recuo da proteção ambiental. É uma garantia contra o legislador.
Situações excepcionais que poderiam flexibilizar esse princípio para Canotilho seriam somente as de calamidade, estado de sítio ou de emergência grave. Uma vez encerradas essas situações excepcionais, o princípio volta a ser aplicado com toda a força. 
A aplicação ocorre da mesma forma que a do princípiodo retrocesso social. Não é permitido que haja níveis inferiores de proteção ambiental, pois o núcleo fundamental dos direitos já realizados deve ser protegido contra retrocessos na legislação. Em outras palavras, aquilo que já existe em termos de proteção ambiental deve ser garantido e não se admite retrocesso.
Um exemplo desse princípio é a discussão sobre o novo Código Florestal. Outro exemplo é a ADI ajuizada contra o Código Florestal do Estado de Santa Catarina (pegar no material de apoio), editado em 2009, que argumenta exatamente com o princípio da vedação do retrocesso ecológico. A fundamentação da decisão será também a proibição da retrogradação socioambiental.
A CR determina que a proteção do meio ambiente é destinada às presentes e futuras gerações. Portanto, a proteção não é só para o agora, mas igualmente para as gerações futuras, o que não permite a retrogradação. O retrocesso seria negar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as futuras gerações, o que é expressamente vedado.
Em SP, a prova da magistratura de 2012, pediu ao candidato que analisasse a flexibilização do princípio da proibição do retrocesso ecológico. 
15. Princípio do progresso ecológico
O princípio do progresso ecológico estabelece que o Estado é obrigado a rever e a aprimorar a legislação ambiental.
Esse princípio é conhecido como cláusula de progressividade ou dever de progressiva realização e previsto no Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais, em seu art. 2º, §1º. 
1.  Cada Estados Partes do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o, pleno exercício e dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.
Na medida em que é vedado o retrocesso, deve haver uma progressiva realização. A melhor técnica disponível deve ser utilizada e prevista na legislação. É o contraponto do princípio do retrocesso, pois de nada adianta falar em direito sociais, econômicos e culturais se não houver progressividade da proteção ambiental.
Hoje já se fala, inclusive, do mínimo existencial ecológico ou socioambiental. Além dos direitos sociais, deve ser incluída uma nova dimensão na qual esteja incluído o mínimo ambiental. 
CONSTITUIÇÃO E MEIO AMBIENTE
1. Conceito legal de meio ambiente
A Lei 6.938/81 trata da Política Nacional do Meio Ambiente e no art. 3º, I, traz o conceito legal de meio ambiente: é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. 
Art.3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: 
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; 
Esse conceito traz dois elementos importantes: i) elementos bióticos e ii) elementos abióticos. Biótico é tudo aquilo que tem vida, como a fauna e a flora. Abiótico é tudo aquilo que não tem vida, como o ar, a atmosfera, as águas etc. Os elementos abióticos, contudo, influenciam a vida de todos, inclusive a dos elementos bióticos. Esses elementos já foram perguntados em provas do MPF. 
O conceito legal é amplo, pois abrange todas as formas de vida (não somente a vida humana), inclusive os elementos abióticos. 
Outras expressões relacionadas ao direito ambiental importantes:
i) biota: são os seres vivos em um determinado local. É a fauna e a flora de um determinado local. Ex.: biota de uma região são os seres vivos existentes naquela região.
ii) biótopo: é o lugar.
iii) biocenose: são os seres vivos. 
2. Classificação do meio ambiente (de acordo com José Afonso da Silva)
Essa classificação é dada pelo professor José Afonso da Silva e atualmente é acolhida pela doutrina e pelos tribunais.
2.1. Meio ambiente natural (art. 225 da CR)
Trata-se da fauna e da flora (elementos bióticos e abióticos), os recursos hídricos, a atmosfera, o solo, o subsolo, enfim, os elementos da biosfera. O direito ambiental em sentido estrito é o que protege o meio ambiente natural, cuja principal norma de proteção é o artigo 225 da CR.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
2.2. Meio ambiente cultural (arts. 215 e 216, da CR)
Meio ambiente cultural é o patrimônio cultural brasileiro. Esse patrimônio é formado pelos bens de origem material e de origem imaterial. 
Bens materiais são os bens móveis e bens imóveis que compõem o patrimônio brasileiro material (ex.: cidades históricas de Ouro Preto, São João Del Rey, São Luis do Paraitinga etc). 
O patrimônio imaterial não é físico, mas incorpóreo. Ex.: danças como a capoeira, samba, frevo, festas religiosas como o sírio de Nazaré, as comidas típicas etc. 
Formas de proteção: previstas no art. 216, §1º, da CR
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
a) tombamento: destina-se à proteção dos bens móveis e imóveis que compõem o patrimônio;
b) registro: o patrimônio imaterial deve ser registrado, pois é uma forma de proteção desse patrimônio. Ex.: o samba de roda do recôncavo baiano foi registrado como patrimônio cultural do Brasil. 
c) inventário: podem ser inventariados bens materiais e imateriais. Não há regulamentação federal específica. Ex.: os bens que guarnecem uma igreja ou um museu devem ser inventariados, para que sejam protegidos. 
d) vigilância: é a fiscalização. Ex.: para evitar que um imóvel tombado seja descaracterizado, o Poder Público deve exercer a vigilância e fiscalização desse imóvel. Há previsão constitucional e também no art. 20 do Decreto 25/1937 (que regulamenta o tombamento). 
Art. 20. As coisas tombadas ficam sujeitas à vigilância permanente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que poderá inspecioná-los sempre que for julgado conveniente, não podendo os respectivos proprietários ou responsáveis criar obstáculos à inspeção, sob pena de multa de cem mil réis, elevada ao dobro em caso de reincidência.
e) desapropriação: a desapropriação pode ser utilizada para a incorporação de um imóvel ao patrimônio público.
f) outras formas de acautelamento e preservação 
Cuidado: retrocessão não é forma de proteção ao patrimônio cultural. No direito administrativo, quando ocorre a tredestinação (desvio de finalidade), o particular pode pedir o imóvel de volta, o que caracteriza a retrocessão. Veja que em nada se relaciona com a proteção do meio ambiente cultural.
2.3. Meio ambiente artificial (art. 182 da CR)
O meio ambiente artificial é constituído pelos espaços abertos e fechados. Alguns doutrinadores denominam de meio ambiente construído, com espaços abertos e fechados. 
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.
É o contrário do meio ambiente natural, pois há intervenção antrópica (humana). O homem, com suas intervenções, criou espaços abertos (ex.: ruas, praças, parques, áreas verdes) e fechados (ex.: edificações, construções). 
Na Lei 6.766/79 (Lei de parcelamentodo solo) há dois conceitos importantes: i) equipamentos urbanos e ii) equipamentos comunitários, que constituem o meio ambiente artificial. 
Equipamentos comunitários (art. 4º, §2º, da Lei 6.766/79) são as edificações de saúde, educação e lazer. Já os equipamentos urbanos (art. 5º, parágrafo único, da Lei 6766/79) são as estações de esgoto, energia elétrica, água, gás canalizado, coleta de águas pluviais e rede telefônica. Esses equipamentos podem ser incluídos no conceito de meio ambiente artificial. 
Art. 4º. § 2º - Consideram-se comunitários os equipamentos públicos de educação, cultura, saúde, lazer e similares.
Art. 5º. Parágrafo único - Consideram-se urbanos os equipamentos públicos de abastecimento de água, serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas pluviais, rede telefônica e gás canalizado.
Na prova da magistratura do Sergipe, esses equipamentos foram dispostos na disciplina do meio ambiente cultural, o que está errado, pois integram o meio ambiente artificial.
A edificação compõe o meio ambiente artificial. Se a edificação, todavia, ganha uma qualificação especial, passa a integrar o meio ambiente cultural. Cuidado com essa hipótese prevista nos incisos IV e V do art. 216 da CR. 
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
2.4. Meio ambiente do trabalho (art. 220, VIII, da CR)
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
Há doutrinadores que não aceitam o conceito de meio ambiente do trabalho. 
O meio ambiente do trabalho preocupa-se com a saúde e segurança do trabalhador. Atenção, pois o SUS compreende o meio ambiente do trabalho, portanto, é uma possível associação que pode ser perguntada em provas de concurso. Isso porque o art. 200, VIII, da CR diz exatamente isso.
Ver o REsp 725.257/MG. 
3. Art. 225 da CR
O art. 225 da CR pode ser assim dividido (também de acordo com JAS):
i) norma matriz (caput)
ii) instrumentos de garantia de efetividade da norma matriz (§1º)
iii) determinações particulares, que são normas específicas (§§2º ao 6º)
3.1. Norma matriz
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
A norma matriz é o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Toda a proteção ambiental relaciona-se com esse conceito de meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
A CR/88 foi a primeira Constituição a dedicar um capítulo ao direito ambiental. Antes dela, nenhuma outra fazia sequer menção ao tema.
O pronome indefinido “todos” abrange os brasileiros e os estrangeiros residentes no país, devendo ser incluídas as futuras gerações. O meio ambiente ecologicamente equilibrado deve ser garantido também às futuras gerações.
- concepção ética de meio ambiente
Em relação às questões ambientais, a concepção ética de meio ambiente pode ser analisada sob esses dois prismas:
i) antropocentrismo: a preocupação é com o bem-estar do homem. O homem está no centro de todas as relações jurídicas. Os gregos já diziam que o homem é a medida de todas as coisas. Deveres morais positivos e negativos são estabelecidos tendo em vista o ser humano que é colocado no centro e acima dos outros seres vivos. No antropocentrismo tradicional, não se reconhece valor intrínseco aos outros seres vivos. 
ii) biocentrismo: é a corrente se que opõe ao antropocentrismo. Todas as formas de vida são igualmente importantes, por isso os seres vivos são colocados no centro (e não mais a humanidade). O homem não é mais o centro. É holístico e integrador. Por esta corrente, são também tutelados os animais. No biocentrismo se reconhece valor intrínseco a outras formas de vida. 
O art. 225 da CR é de leitura antropocêntrica. Essa questão foi reproduzida na prova da Magistratura do Paraná. A proteção da CR preocupa-se com o homem e por isso na CR há predominância da visão antropocêntrica.
Hoje, entretanto, há doutrinadores defendendo a corrente do biocentrismo. Não obstante o art. 225 da CR seja de leitura antropocêntrica, deve-se admitir que nele há uma visão biocêntrica: o inciso VII, do §1º, art. 225, da CR é uma passagem biocêntrica. 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.  (Regulamento)
Ex.: leis estaduais que regulamentaram as rinhas de galo foram consideradas inconstitucionais, por submeter os animais à crueldade. O mesmo ocorre com a “farra do boi”, que ocorria em Santa Catarina. Não obstante enquadrar-se no meio ambiente cultural, no confronto entre direitos culturais e direitos dos animais, deve prevalecer os direitos dos animais. A pesca com explosivos no Brasil é vedada, exatamente em razão dessa proteção conferida à fauna, que corrobora a adoção da visão biocêntrica de meio ambiente. 
O conceito legal de meio ambiente, previsto na Lei 6.766, é de ordem biocêntrica. Veja que o conceito constitucional é antropocêntrico e o conceito legal é biocêntrico. 
O Decreto 4.339/2002 trata da política nacional da biodiversidade, estabelecendo que é regida pelo princípio da diversidade biológica e que possui valor intrínseco, de forma que deve ser respeitada pelo ser humano. A diversidade biológica pode ser protegida ainda que não se destine ao homem. 
2. A Política Nacional da Biodiversidade reger-se-á pelos seguintes princípios:
I - a diversidade biológica tem valor intrínseco, merecendo respeito independentemente de seu valor para o homem ou potencial para uso humano;
Existem outras teorias:
iii) ecocentrismo: é uma teoria mais radical, também chamada de ecologia profunda. Ao invés de tratar dos seres vivos, essa visão abrange todos os organismos. A ecologia profunda é a que aparece no filme “Avatar”, no qual o planeta era um ser vivo e todos os organismos estão interligados. 
Para os adeptos do ecocentrismo, Gaia é o planeta Terra. Alguns dizem que ele é um ser vivo e que tudo está interligado. Para as discussões jurídicas, essa concepção não é tão importante quanto as anteriores. 
Biocentrismo, portanto, não é sinônimo de ecocentrismo. Há uma imprecisão terminológica. 
iv) antropocentrismo alargado: alguns professores do sul defendem a concepção moderna de antropocentrismo, chamada de antropocentrismo alargado, no qual o homem é o centro, mas os demais seres vivos também são importantes, pois devem ser preservados para as próximas gerações. O modelo tradicional de antropocentrismo, para eles, não se sustenta. Os grandes problemas ambientais da humanidade estão geralmente ligados a essa visão antropocentrista clássica.
A locução “todos têm direito” cria um direito subjetivo, oponível erga omnes. Ex.: um vizinho que degrada o meio ambiente pode ser acionado. Ou seja, esses direitos subjetivos podem ser divididos.
“Bem de uso comum do povo” não é o que se estuda no direito civil (art. 99 do CC, que prevê os bens públicos). Se o meio ambiente fosse bem de uso comum do povo ele pertenceria à União, Estados etc. O meio ambiente, todavia, não possui dono e o Judiciário realiza apenas a gestão. A natureza jurídica do meio ambiente é difusa. Trata-se de direito indisponível, patrimônio de todos. 
Embora o Estado seja apenas o gestor do meio ambiente, em provas de concurso pode-se afirmar que o meio ambiente é patrimônio público. A LPNMA, no art. 2º, I, determina que o meio ambiente é considerado um patrimônio público que deve necessariamente ser conservado e protegido. 
Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: 
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; 
Os bens ambientais podem ser divididos em dois: 
i) macrobem: é o meio ambiente incorpóreo, imaterial, inapropriável, indivisível etc. É difuso. Trata-se da “alma” do meio ambiente. 
ii) microbens: constituem a parte corpórea do meio ambiente. Trata-se da parte física do meio ambiente. A parte corpórea é constituída pela água, fauna, flora etc.
O Poder Público abrange as três funções: Legislativo, Executivo e Judiciário. É um dever do Poder Público defender o meio ambiente. O Poder Público garante a incolumidade do meio ambiente e tem a obrigação de não degradar. Ele deve cumprir a legislação ambiental e a coletividade deve cobrar isso do Estado. 
“Preservar para as presentes e futuras gerações” significa preservar para um sujeito de direito indeterminado, ou seja, para aquele que não nasceu, mas deve-se garantir que ele nasça com condições ambientais adequadas à sua sobrevivência.
3.2. Instrumentos de garantia de efetividade 
Para efetivar a norma matriz, são utilizados os instrumentos elencados no §1º do art. 225 da CR. Ele traz as obrigações do Poder Público relativamente às questões ambientais:
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito [meio ambiente ecologicamente equilibrado], incumbe ao Poder Público: 
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento)
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;   (Regulamento) 
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;  (Regulamento)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento)
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.  (Regulamento)
Observações dos incisos do §1º:
i) processos ecológicos essenciais são aqueles que garantem o funcionamento dos ecossistemas e contribuem para a salubridade e higidez do meio ambiente. Esse conceito é de Edis Milaré. 
Processos ecológicos essenciais: “objetivam garantir a proteção dos processos vitais que tornam possíveis as interpelações entre os seres vivos e o meio ambiente” (Heline Sivini).
Esses processos ecológicos essenciais, em última análise, garantem a vida e sua proteção. 
ii) prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas: manejar é fazer uma interferência humana com a finalidade de melhorar o meio ambiente e o ecossistema. 
iii) preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético: 
Biodiversidade é a variedade de seres que compõem a vida na terra. 
Patrimônio genético é o conjunto de seres que habitam o planeta, incluindo os seres humanos, os animais, os vegetais e os micro-organismos (Luis Paulo Sirvinkas). Uma das incumbências do Poder Público é proteger o patrimônio genético (devem ser protegidos os genes) e fazer a fiscalização das entidades que lidam com o patrimônio genético. 
iv) espaços territoriais especialmente protegidos: o Poder Público deve estabelecer alguns espaços territoriais especiais, que são chamados de espaços especialmente protegidos. São eles: 
a) unidades de conservação (UC’s): Lei 9.985/00;
b) áreas de preservação permanente (APP’s): Lei 12.651/12 (novo Código Florestal);
c) reserva legal: Lei 12.651/12;
d) servidão ambiental: art. 9º-A da Lei 6.938;
e) tombamento ambiental: são as áreas ambientais que podem ser instituídas pelo Poder Público.
Em sentido amplo, os espaços especialmente protegidos abrangem as áreas elencadas acima. 
Até o julgamento da ADI 3540, em 2005, falava-se em espaços territoriais especialmente protegidos que abrangiam apenas as UC’s (tese da AGU). A partir do julgamento dessa ADI, o STF inseriu as APP’s no rol de espaços territoriais especialmente protegidos. A doutrina ampliou o rol para abranger todos os espaços territoriais vistos acima (sentido lato). Cuidado, então, com essa diferenciação entre espaços territoriais especialmente protegidos em sentido amplo e em sentido estrito. 
v) estudo prévio de impacto ambiental: deve ser dada publicidade ao estudo. Como visto, para a construção de toda obra que cause significativa degradação ambiental deve ser realizado o EIA/RIMA (esses conceitos serão estudados adiante).
vi) o inciso VI fala de educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
3.3. Determinações particulares
As determinações particulares estão previstas nos §§ 2º ao 6º.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
O §2º traz o reconhecimento constitucional de que a mineração causa degradação ambiental. Dessa forma, aquele que explorar recursos minerais é obrigado a reparar o meio ambiente, de acordo com a solução técnica que estabelecer a autoridade pública competente.
O §3º fala da tríplice responsabilidade (civil, penal e administrativa), independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
O §4º, por sua vez, traz os grandes biomas brasileiros ou macrorregiões. O tratamento deve ser global entre eles e a CR os considera patrimônio nacional. São eles:
a) Floresta Amazônica
b) Mata Atlântica
c) Serra do Mar
d) Zona Costeira
e) Pantanal Mato-grossense 
Estes biomas são tão importantes que foram elevados pela CR à categoria de patrimônio nacional. Ser considerado patrimônio nacional não tem nada a ver com a titularidade do bem, ou seja, não significa que pertencem à União. Dentro dessas áreas podem existir imóveis privados. 
O examinador costuma acrescentar outros biomas como o cerrado, a caatinga, os pampas (campos sulinos), o atol das rocas, que não são biomas considerados patrimônio nacional. 
Existe uma Lei que trata do bioma Mata Atlântica (será tratada adiante) e está para ser aprovada a Lei que trata do Pantanal. Portanto, o único dos biomas que possui lei própria é a Mata Atlântica (Lei 11.428/06). 
O §5º trata das terras devolutas que são indisponíveis.Já o §6º trata das usinas que operam com reator nuclear, que devem ter sua localização definida em lei federal (não é lei estadual nem municipal). 
4. Competências constitucionais em matéria ambiental
As competências constitucionais em matéria ambiental estão previstas nos artigos 21 a 25 e 30, da CR.
Serão estudadas a competência administrativa (art. 23 da CR) e a competência legislativa (art. 24 da CR). A competência administrativa é comum; já a legislativa é concorrente.
4.1. Competência administrativa (art. 23 da CR)
A competência administrativa, também chamada de competência material, executiva ou paralela, prevista no art. 23 da CR, refere-se ao poder de polícia ambiental, fiscalização e licenciamento ambiental. Trata-se, em resumo, do poder de polícia em matéria ambiental. 
Em alguns editais de concurso consta o tópico “poder de polícia ambiental”. Esse poder de polícia é o estudado no direito administrativo, previsto no art. 78 do CTN. 
Trata-se de competência comum entre todos os entes federativos (União, Estados, DF e Municípios).
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
Os incisos grifados são os que tratam de matéria ambiental. 
A competência é comum, por isso todos os entes federativos poderão tratar da matéria. É por isso que o parágrafo único estabelece a edição de leis complementares. A finalidade é que uma norma editada por um ente da federação não se sobreponha a outra. 
A LC 140, de dezembro de 2011, regulamentou os incisos III, VI, VII, e parágrafo único do art. 23 da CR. Essa lei é bastante importante e será possivelmente questionada nas provas de concurso.
Art. 1o  Esta Lei Complementar fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora. 
Art. 3o  Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta Lei Complementar: 
I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente; 
II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais; 
III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente; 
IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as peculiaridades regionais e locais. 
LC 140/11: estabelece as atribuições no que se refere ao licenciamento ambiental e às ações administrativas a serem realizadas por cada ente federativo. 
Há uma discussão importante: se a competência é comum entre os entes federativos, não poderia ocorrer uma sobreposição da competência dos órgãos ambientais? Ex.: multas aplicadas por fiscais dos órgãos municipal, estadual e federal. Tecnicamente é possível a lavratura de dois autos de infração e consequentemente a aplicação de duas multas em razão do mesmo fato, pois a competência é comum. 
O sistema jurídico respondia a essa questão no art. 76 Lei 9.605/98 (lei dos crimes ambientais): o pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios e DF substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência. Assim, se alguém fosse autuado pelo fiscal do órgão federal e também pelo fiscal do órgão municipal, e tivesse pagado a multa aplicada pelo ente municipal, não seria necessário pagar a multa aplicada pelo órgão ambiental federal.
Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência.
Entretanto, o art. 17 da LC 140 estabelece que quem licenciar uma obra, atividade ou empreendimento deve também fiscalizar. Ou seja, quem licencia fiscaliza. Essa LC dispõe sobre as regras para o licenciamento. Ex.: se a obra foi licenciada pelo estado do Paraná, deve ser fiscalizada por esse mesmo estado. 
Art. 17.  Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada. 
E como fica a fiscalização por todos os entes federativos prevista no art. 23 da CR? A competência da fiscalização é comum, por isso nada impede que um fiscal de outro órgão ambiental faça cessar uma degradação ambiental. Deve, contudo, comunicar imediatamente o órgão que detém a competência para fiscalizar (porque licenciou). 
§ 1o  Qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental decorrente de empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício de seu poder de polícia. 
§ 2o  Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis. 
Qual auto de infração prevalece no caso do exemplo anterior? Se utilizarmos o art. 76 seria correto dizer que uma multa municipal paga prevaleceria sobre a multa aplicada pelo ente federal. Todavia, a resposta deve ser extraída da LC 140/11 e, portanto, deve prevalecer a multa do ente que detém a competência para a fiscalização. É o que estabelece o §3º do art. 17 da LC 140.
§ 3o  O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorizaçãoa que se refere o caput. 
Lembrar que o §2º, do art. 17, da LC 140 estabelece que o ente federal deve tomar medidas para cessar, evitar ou mitigar a degradação ambiental, fazendo a comunicação ao ente que detém a competência para a fiscalização.
Cuidado, pois esse assunto é novo. O professor entende que o art. 76 foi revogado pelo art. 17 da LC 140, por incompatíveis. Há, contudo, divergências. Ainda não há manifestação judicial nesse sentido. 
A LC 140 é uma novidade e alterou profundamente essa sistemática. 
4.2. Competência legislativa (art. 24 da CR)
Prevista no art. 24 da CR. A competência legislativa é concorrente entre União, Estados e DF. É também chamada de competência legiferante ou formal.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
A competência legislativa do art. 24 da CR afasta a atuação dos Municípios. Nesse ponto há uma pegadinha concursal clássica: tem competência legislativa pelo art. 24 da CR a União, os Estados e o DF (essa assertiva está correta); tem competência legislativa em matéria ambiental, a União, os Estados, o DF e os Municípios (essa assertiva também é correta). 
Em provas, se aparecer o art. 24 da CR, devem ser excluídos os Municípios. Se a prova, todavia, não fizer menção direta ao art. 24 da CR, devem ser incluídos os Municípios, uma vez que os Municípios podem legislar em matéria ambiental, conforme previsto no art. 30, I e II. Assim, é evidente que os Municípios podem complementar a legislação estadual e federal em matéria ambiental. 
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber [inclusive em matéria ambiental];
Atenção aos incisos IV, VII e VIII, do art. 30 da CR. 
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
Em relação ao art. 24 da CR, cabe à União editar as normas gerais. Significa que a União tem o papel de uniformizar, padronizar, coordenar a legislação. A norma geral traz um piso mínimo, ou seja, os princípios gerais. Uma norma geral não trata do assunto de forma pormenorizada. 
Em seguida, os Estados editam normas suplementares à norma geral. Significa dizer que a norma suplementar será detalhada, pormenorizada de acordo com as peculiaridades de cada Estado. 
Pode ocorrer de a União não editar as normas gerais. Nessa hipótese, os Estados passam a ter competência legislativa plena para atender às suas peculiaridades e necessidades. Sem norma geral, o Estado tem liberdade total para legislar, afinal não existem princípios gerais editados pela União. 
Uma vez editada lei estadual exercendo a competência legislativa plena, sobrevindo lei federal com normas gerais, o que ocorre com a lei estadual editada anteriormente? Nesse caso, suspende-se a eficácia da lei estadual no que for contrária à lei federal. Só haveria revogação se a Assembleia Legislativa do Estado revogasse expressamente a lei estadual. 
Questão do amianto branco (asbesto): envolve o confronto entre lei estadual e lei federal sobre o mesmo tema. O STF, basicamente, utiliza dois critérios interpretativos: o primeiro trata da prevalência da norma federal; o segundo, que surgiu há pouco tempo e ainda não há decisão transitada em julgado utilizando-o, trata da prevalência da norma mais favorável ao meio ambiente. 
A Lei 9.055/95 permite a utilização e o transporte do amianto no Brasil. Ocorre que o estado do MS editou uma lei estadual proibindo a utilização do amianto. O STF, em uma ADI, decidiu que essa lei é inconstitucional. Nesse confronto, prevaleceu a lei federal, por se tratar de competência federal. Essa decisão do STF é do início de 2000.
No ano de 2007, o estado de SP editou a Lei 12.684, proibindo o uso do amianto em seu território. Houve ajuizamento da ADI 3937 questionando a constitucionalidade dessa lei. Na inicial da ADI havia remissão à questão julgada no estado do MS. O STF, todavia, julgou uma medida cautelar e, destoando de todo o entendimento anterior, por 7 votos a 3, manteve a lei paulista, com a argumentação de que estava em maior conformidade com a CR do que lei federal, já que trata não só da questão da preservação do meio ambiente como também da questão envolvendo a saúde dos trabalhadores (amianto seria altamente cancerígeno). A Carta Capital veiculou matéria envolvendo essa questão, pressionando o julgamento da questão pelo STF.
A argumentação do STF, em síntese, remete à Convenção 162 da OIT, da qual o Brasil é signatário, e estabelece que os países devem eliminar esses riscos à saúde dos trabalhadores. Esse tratado internacional, por ser mais benéfico, deve prevalecer diante da norma do ordenamento jurídico brasileiro (lei federal). A norma estadual cumpre muito mais a CR no sentido de evitar riscos à saúde dos trabalhadores e do próprio meio ambiente (eficácia máxima da CR no que diz respeito aos direitos fundamentais). É um caso interessante de contraposição da norma suplementar em relação à norma geral, no qual deve prevalecer a norma suplementar por mais benéfica ao meio ambiente. O mérito da questão ainda não foi julgado. 
A ADI 3937, portanto, traz o entendimento da norma mais favorável ao meio ambiente. 
O uso do amianto está proibido no estado de SP. Ocorre que o estado de SP começou a barrar também o transporte do amianto pelas estradas paulistas. A produção de amianto necessariamente passa pelas rodovias de SP para ser exportada e distribuída para o restante do país. Isso deu origem à ADPF 234, na qual argumentava-se não sobre o meio ambiente, mas sobre a questão da competência para legislar sobre transporte interestadual e internacional, que compete à União e, portanto, SP estaria invadindo a competência da União, pois não poderia obstar a passagem dos caminhões. 
A lei paulista foi suspensa, através de liminar concedida na ADPF, pois não fala do transporte, mas do uso do asbesto. A ADPF 234 e a ADI 3937 foram apensadas e esse julgamento deve ser acompanhado (no início de novembro de 2012 houve a prolação de mais dois votos, um para cada lado). 
5. Preservação e conservação ambiental
Preservação significa manter o meio ambiente intocado, sem intervenções humanas. Quando se fala em “preservação” do meio ambiente, significa que se impede a ocorrência de atividades econômicas e sociais no local protegido.
Conservação significa a proteção ao meio ambiente, mas com o uso direto dos recursos naturais pelo homem. Assim, quando se menciona “conservar”, procura-se compatibilizar a proteção ao meio ambiente e o desenvolvimento de atividades econômicas.
Obs.: Essa diferenciação tornou-se evidente com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), com a divisão em dois grupos: (i) unidades de proteção integral, com a preservação do ambiente; e (ii) unidades de uso sustentável, com a conservação do ambiente.
6. Degradação e poluição ambiental
Degradação é gênero e poluição é espécie. 
Degradação é a alteração adversa das características do meio ambiente. 
Conceito de degradação ambiental (artigo 3o, II, da Lei nº 6.938/81): pode decorrer de fenômenos naturais ou fatores humanos. Os fatores naturais são os terremotos, raios, erupção vulcânica, etc. A degradação causada pelo homem recebe o nome de poluição.
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: 
II - degradação

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