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Dignidade da pessoa humana frente a sanção penal

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Dignidade da pessoa humana diante da sanção penal
Muito se fala do princípio da Dignidade da Pessoa Humana, um dos princípios que norteiam toda relação humana, que pode ser encontrado no artigo 1º, III da Magna Carta, porém, o que seria dignidade da pessoa humana? Ao procurar no dicionário, encontramos o significado de Dignidade como: “modo de proceder que infunde respeito”. Após tal definição, não fica muito difícil a interpretação sistemática de tal princípio diante da tentativa do legislador constitucional de garantir um mínimo de decência para viver a todos aqueles que se encontrem em território nacional.
Além de positivado, o princípio da Dignidade da Pessoa humana faz parte do direito natural, além de seu respeito, que faz parte da moral e dos bons costumes. Mesmo que tal princípio não fosse basilar em nossa Constituição, ainda sim, faria parte do nosso cotidiano, e não poderia ser excluído de nossas relações diárias, sendo que, como ele encontra-se em nossa carta magna, sua incidência nas relações pessoais deve ser ainda maior. Vale ressaltar que a dignidade, assim como a sua busca, é inerente a qualquer ser humano, sendo um direito constitucional irrevogável.
Encontramos grande ineficácia por parte do Estado quando o assunto é garantir a efetiva aplicação de tal princípio dentro do sistema penitenciário. Frequentemente encontramos na televisão matérias que mostram penitenciárias superlotadas, com pelo menos o dobro de presos do que a infraestrutura realmente suporta, presos que ao invés de penitenciárias se encontram presos dentro de containers, e diversas outras atrocidades contra a dignidade dos condenados. Como no caso citado, do container, encontramos no Acordão do Ministro Nelson Naves, do STJ, o seguinte trecho:
“3. Entre as normas e os princípios do ordenamento jurídico brasileiro, estão: dignidade da pessoa humana, prisão somente com previsão legal, respeito à integridade física e moral dos presos, presunção de inocência, relaxamento de prisão ilegal, execução visando à harmônica integração social do condenado e do internado.
4. Caso, pois, de prisão inadequada e desonrante; desumana também.
5. Não se combate a violência do crime com a violência da prisão.
6. Habeas corpus deferido, substituindo-se a prisão em contêiner por prisão domiciliar, com extensão a tantos quantos – homens e mulheres – estejam presos nas mesmas condições.” (Habeas Corpus 2009/0141063-4 - Relator: Ministro Nelson Naves – órgão julgado: 6ª turma - DJ:10.05.2010).
Apenas para uma melhor visualização dos fatos citados, podem ser vistos em uma rápida visita ao site da Secretária da Administração Penitenciária de São Paulo dados que comprovam o que já foi dito. Usando algumas penitenciárias como exemplo, pode ser percebido que a superlotação é comum, como os dados abaixo comprovam:
Penitenciária III de Franco da Rocha: Capacidade: 600 - População:  1629 (população carcerária 171% superior do que a capacidade do estabelecimento prisional)
Penitenciária I "Tarcizo Leonce Pinheiro Cintra" de Tremembé: Capacidade: 538 -População: 1298 (população carcerária 141% superior do que a capacidade do estabelecimento prisional)
Penitenciária "Osiris Souza e Silva" de Getulina: Capacidade: 792 - População: 1460 (população carcerária 84% superior do que a capacidade do estabelecimento prisional)
Não encontramos nenhuma ressalva a respeito de tal princípio, portanto, devemos entender ele como absoluto, sendo assim, deve ser garantido a todos, também aos que cumprem pena privativa de liberdade. Nesse mesmo sentido, encontramos o artigo 5º, I e II, do Pacto de San José de Costa Rica:
“Artigo 5º - Direito à integridade pessoal
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.”
No mesmo sentido, encontramos no código penal:
“Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral.”
Diversos institutos de Direito Penal e Processual Penal tentam evitar que aquele que foi condenado por cometer um ilícito penal seja jogado e esquecido em um presídio, como por exemplo, o induto, remição, as penas alternativas, entre outros, que são resultados do movimento de despenalização que passa por todo o mundo atualmente. 
	Percebemos que ao longo do tempo a aplicação de tal princípio foi dando-se gradativamente, porém, hoje o vemos estagnado, se não falarmos em esquecido. No princípio do Direito Penal, na aplicação da “Lei de Talião”, existia a possibilidade de pena capital e castigos corporais de acordo com a infração penal cometida pelo delinquente, o que já foram extintas, passando a ser a principal pena a ser utilizada, a pena privativa de liberdade. As sanções penais deixaram de ter um caráter vingança privada/estatal, e passaram a ter o objetivo de resocializar o criminoso afim de que ele possa voltar a conviver em sociedade como qualquer outro indivíduo. Tal mudança afeta em grande escala a forma de tratamento do Estado em relação ao apenado, e essa mudança também pode ser encontrada no artigo 5º do Pacto de San José de Costa Rica, em seu item 6:
“6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados.”
A aplicação não parou por ai, e o último instituto a ser implementado na legislação penal pátria, foi a complementação do Código Penal, onde foram ampliadas as hipóteses que cabem a conversão da pena privativa de liberdade a uma pena restritiva de direitos, a conhecida pena alternativa. 
	A utilização da pena alternativa é vista hoje como uma das principais formas de se aplicar o princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que ela evita que delinquentes de baixa periculosidade possam entrar em um ambiente como uma penitenciária, e consequentemente, não se misturarem com criminosos de todos os tipos, mais violentos e “experientes”. A pena alternativa além de manter o condenado longe da prisão, também pode ser vista como um voto de confiança da recuperação do indivíduo por parte do Estado, o que pode evitar novos crimes, sendo que, o condenado sabendo que caso volte a delinquir, provavelmente não terá outra chance como essa. Por último, mas muito importante, é o aspecto social que a pena alternativa trás ao condenado, uma vez que como visto, a sanção penal visa a reeducação do indivíduo, sua aplicação não o afasta de seu convívio social e familiar, dessa forma, tal aspecto é muito importante e decisivo no caráter de uma pessoa.
	Atualmente, vemos que muito se avançou quando o assunto é a dignidade da pessoa humana aplicado ao Direito Penal, porém, não podemos parar. Todos sabemos que a sociedade ainda tem muito a melhorar em relação a prevenção e a punição de crimes, sendo que, tudo deve ser pautado na nossa Carta Magna, que tem como um dos princípios basilares, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Tal princípio deve ser observado em toda a sociedade, inclusive, a aqueles que estão cumprindo uma pena, de forma a preservar o princípio da isonomia, pois todos somos iguais perante a lei.
Bibliografia:
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/> Acesso em 30 de agosto de 2011
COSTA, Tailson Pires. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DIANTE DA SANÇÃO PENAL. São Paulo: Fiuza Editores, 2004.
Dicionário. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. - Acesso em 30 de agosto de 2011.
INTERNACIONAL. Pacto de San José da Costa Rica <http://www.pge.sp.gov.br/> Acesso em 30 de agosto de 2011
O CRIME do Século. Direção: Mark Rydell. Roteiro: William Nicholson. 1996, 114 min, son., color. 
SOUZA, Michelle Amorim Sancho. O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NA REALIDADE PRISIONAL DO ESTADO DO CEARÁ.Disponível em: < http://www.ibccrim.org.br/> Acesso em 30 de Agosto de 2011.
SIRVINSKAS, Luís Paulo. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO PRINCÍPIO DO DIREITO PENAL. Disponível em: < http://www.ibccrim.org.br/> Acesso em 30 de Agosto de 2011.
Unidades Prisionais. Disponível em: <http://www.sap.sp.gov.br/>. Acesso em 30 de Agosto de 2011.

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