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IV poderes inespecificos

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2015.1 
 
ADM I 
Prof. Francisco De Poli 
de Oliveira 
 
 
 
Livro IV – PRINCÍPIOS 
INESPECÍFICOS DO DIREITO 
ADMINISTRATIVO 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Profº. Francisco De Poli de Oliveira 
 
 
2 
I – INTRODUÇÃO 
1.1 Elementos Introdutórios 
1. Os princípios do Direito Administrativo não se esgotam no plano constitucional. Outros 
princípios, assim denominados de inespecíficos, implícitos ou infraconstitucionais se encontram na 
legislação infraconstitucional, especialmente no art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 9.784/991 – Lei do 
Processo Administrativo Federal. 
 
2. Importante se faz frisar que a simples ausência de previsão constitucional não significa que 
esses princípios possuem menor importância diante daqueles que se encontram no caput do art. 37, 
CRFB. Eles possuem a mesma relevância sistêmica daqueles referidos na Constituição Federal. 
 
3. Tabela de correspondência principiológica do art. 2º, parágrafo único, da Lei do Processo 
Administrativo Federal2: 
 
Tabela de correspondência principiológica (art. 2º, parágrafo único, Lei nº 9.784/99) 
Inciso Teor Princípio correlato 
I Atuação conforme a lei e o Direito Legalidade 
II Atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou 
parcial de poderes ou competências 
Finalidade 
III Objetividade no atendimento do interesse público, vedada a 
promoção pessoal de agentes ou autoridades 
Impessoalidade 
IV Atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé Moralidade 
V Divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses 
de sigilo previstas na Constituição 
Publicidade 
VI Adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, 
restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente 
necessárias ao atendimento do interesse público 
Proporcionalidade 
VII Indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a 
decisão 
Motivação 
 
1 Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, 
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. 
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de: 
I - atuação conforme a lei e o Direito; 
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em 
lei; 
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades; 
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé; 
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição; 
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas 
estritamente necessárias ao atendimento do interesse público; 
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão; 
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados; 
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos 
administrados; 
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à interposição de 
recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de litígio; 
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei; 
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos interessados; 
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada 
aplicação retroativa de nova interpretação. 
 
2 Mazza, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 115-116. 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Profº. Francisco De Poli de Oliveira 
 
 
3 
VIII Observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos 
administrados 
Segurança Jurídica 
IX Adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau 
de certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados 
Informalismo 
X Garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações 
finais, à produção de provas e à interposição de recursos, nos 
processos de que possam resultar sanções e nas situações de litígio 
Contraditório e Ampla 
Defesa 
XI Proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as 
previstas em lei 
Gratuidade dos 
processos 
administrativos 
XII Impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da 
atuação dos interessados 
Impulsão oficial ou 
oficialidade 
XIII Interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o 
atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação 
retroativa de nova interpretação 
Segurança jurídica 
 
4. Note-se que alguns princípios operam como uma espécie de controles de meio manifestando de 
forma mais acentuada a preocupação ritualística e formal, enquanto outros exercem verdadeiros 
controles de fins, voltando sua ação ao conteúdo das decisões adotadas. Assim, vejamos o seguinte 
quadro sobre controles de meios e de fins3: 
 
Quadro sobre controles de meios e de fins 
Controle de meios 
(Princípios ritualísticos) 
Controle de fins 
(Princípios finalísticos) 
Legalidade Impessoalidade 
Publicidade Moralidade 
Participação Eficiência 
Duração razoável Devido processo material 
Devido processo formal Razoabilidade 
Ampla defesa Proporcionalidade 
Contraditório Finalidade 
Autotutela Isonomia 
Motivação Boa administração 
Segurança jurídica 
Obrigatoriedade 
Continuidade do serviço 
Hierarquia 
Responsabilidade 
Especialidade 
Presunção de legitimidade 
Supremacia do interesse público 
Indisponibilidade do interesse público 
 
 
3 Mazza, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 115. 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Profº. Francisco De Poli de Oliveira 
 
 
4 
 
II– DESENVOLVIMENTO 
2.1 PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO 
2.1.1 Características Gerais 
5. Motivação é um dos princípios mais revolucionários do direito Administrativo. Esse princípio foi 
desenvolvido primeiramente no Direito Administrativo Alemão (consta na CF dos Alemães como rol de 
direitos e garantias constitucionais). 
 
6. Esse princípio obriga o Poder Público a motivar os seus atos. A motivação serve principalmente 
para controlar os atos discricionários já que qualquer ato, mesmo os discricionários, contendo decisão 
que vai mexer com os direitos de terceiros, tem que possuir motivação obrigatória, a exemplo das 
permissões de uso. 
 
7. Ato administrativo sem motivação é ato arbitrário. Os atos discricionários motivados facilitam o 
controle no Judiciário. 
 
8. No Estado Democrático de Direito todo cidadão deve tomar conhecimento das razões pelas 
quais seus direitos foram concedidos ou negados. A motivação exige que a Administração Pública 
indique os fundamentos de fato e de direito de suas decisões. A obrigatoriedade da motivação atinge 
qualquer ato (discricionário ou vinculado) para permitir o controle da legalidade. 
 
9. A motivação não exige forma específica, podendo ser feita por laudos, relatórios, informações, 
etc. Segundo reiteradas decisões de nossos tribunais, a ausência de motivação ou indicação de 
motivos falsos ou incoerentes torna o ato nulo. 
 
10. A motivação,contudo, não se traduz à mera alusão ao dispositivo legal. Motivação significa 
exposição dos fatos. Exemplo: Se a Administração Pública aplica ao servidor qualquer tipo de 
penalidade, ela deve motivar a conduta incriminadora da penalidade. Não vale, portanto, apenas, 
indicar qual artigo da lei foi violado. 
 
11. Pergunta-se: existem atos administrativos que para sua validade não demandam de 
motivação? Sim, existem! A título de ilustração citamos os atos vinculados puros, pois eles já estão 
previstos na lei. Exemplo: a aposentadoria de um servidor público. É ato vinculado, pois basta que o 
servidor preencha os requisitos previstos na lei para que o benefício seja concedido. 
 
12. A doutrina ensina que os atos discricionários por demandarem de uma avaliação que 
normalmente recai sobre conveniência e oportunidade necessitam obrigatoriamente de motivação. Mas 
a motivação, em nossa opinião, sempre vai existir, porque há sempre a necessidade de se demonstrar 
se aquela situação fática se adéqua a todos os elementos na lei, mesmo em se tratando de atos 
vinculados, embora de forma resumida. Quanto aos atos discricionários, contudo, o dever de motivação 
tem que ser mais elaborado. 
 
13. Chamamos a atenção que a não obrigatoriedade da motivação encontra-se apenas nas 
seguintes situações: 
 
 
 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Profº. Francisco De Poli de Oliveira 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.1.2 Teoria dos Motivos Determinantes 
14. A teoria dos motivos determinantes funda-se na consideração de que os atos administrativos 
quando tiverem sua prática motivada, ficam vinculados aos motivos expostos para todos os efeitos 
jurídicos. Exemplificando, para maior compreensão, diremos que, se o superior, ao dispensar um 
funcionário exonerável ad nutum, declarar que o faz por improbidade de procedimento, essa 
“improbidade” passará a ser motivo determinante do ato, e sua validade e eficácia ficarão na 
dependência da efetiva existência do motivo declarado. Se inexistir a declarada “improbidade” ou não 
estiver regularmente comprovada, o ato de exoneração será inválido, por ausência ou defeito do motivo 
determinante. No mesmo caso, porém, se a autoridade competente houvesse dispensado o mesmo 
funcionário sem motivar a exoneração (e podia fazê-lo, por se tratar de ato decorrente de faculdade 
discricionária, com amparo na própria Constituição Federal), o ato seria perfeitamente válido e 
inatacável. 
 
15. Vejamos o seguinte esquema explicativo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.1.3 Correntes Doutrinárias 
16. Existem três correntes sobre o princípio da motivação. São elas: 
ATOS 
ORDINÁRIOS 
Não possuem cunho decisório. São atos que visam 
impulsionar a máquina administrativa. Exemplo: Portarias, 
Instruções, Ordens de serviços, etc. 
 
Art. 37, XI, 
CRFB 
São dispensados pela própria dicção constitucional 
 
Cargos em 
comissão 
São de livre nomeação e exoneração 
 
TEORIA DOS MOTIVOS 
DETERMINANTES 
MOTIVAÇÃO 
FACULTATIVAMENTE 
OFERECIDA 
A legalidade do ato fica 
presa à veracidade do 
motivo 
Provado que o motivo é 
inexistente ou 
inverídico ocorre a 
anulação do ato 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Profº. Francisco De Poli de Oliveira 
 
 
6 
17. Primeira corrente (minoritária): diz que nenhum ato precisa ser motivado se não houver 
previsão legal, já que a motivação não é princípio constitucional. Além disso, essa mesma corrente admite 
que todos os atos sancionatórios devem ser motivados para que o destinatário conheça a razão de ser do 
ato, invocando o art. 93, X, da CRFB4. Ora, se as decisões dos Tribunais devem ser motivadas, que dirá as 
do administrador! 
 
18. Quanto ao Poder Judiciário, existe um dispositivo determinando a motivação dos atos 
administrativos e essa corrente aduz que, se para o Judiciário é obrigatório, por que não se fez menção 
ao Executivo ou ao Legislativo no exercício da função administrativa? Só ao Judiciário?! Há um silêncio 
eloquente do texto constitucional. Para sustentar essa conclusão, advogam que, se o Constituinte 
quisesse determinar que os atos do Executivo e Legislativo devessem ser motivados, tê-lo-ia feito de 
maneira expressa, mas não o fez, e por não ter feito, essa motivação não existe como regra, somente por 
exigência de lei. 
 
19. Segunda corrente (majoritária): parte do raciocínio de que todos os atos devem ser 
motivados em virtude do princípio da moralidade. Só com a motivação o destinatário do ato e a própria 
população vão poder exercer o controle popular sobre as decisões administrativas. Se o Poder 
Judiciário, que controla os atos de todos os poderes (do executivo e do legislativo) está obrigado a 
motivar, consequentemente, o executivo está também obrigado a motivar. É questão de raciocínio 
lógico (corrente dominante para concursos públicos). 
 
20. A nossa constituição faz alusão à exigência da motivação nos seguintes artigos: art. 93 inc. X 
e IX5. 
 
21. Terceira corrente (mais tradicional): tem como seu maior defensor o saudoso professor Hely 
Lopes Meirelles. Os atos vinculados devem ser motivados, os discricionários não necessitam, 
obrigatoriamente, de motivação, a não ser quando a lei assim o exigir, mas se forem motivados ficariam 
vinculados aos motivos alegados para todos os fins de direito. É o que se chama, em doutrina, de Teoria 
dos Motivos Determinantes. Essa posição é muito criticada, pois os atos vinculados são aqueles atos em 
que não há liberdade de agir. Ora, para que motivar esses atos se a lei já dá os motivos? Mas é 
justamente nos atos discricionários, em que há certa liberdade de agir, uma liberdade nos limites da lei, 
que se necessita saber as razões. 
 
 
2.1.4 Momento da Motivação e seus atributos 
22. Entende-se que a motivação deve ser apresentada simultaneamente ou no instante seguinte 
à prática do ato. Caso ela for posterior (intempestiva) ou anterior (extemporânea) causa nulidade do 
ato. 
 
4 Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados 
os seguintes princípios: 
(...) 
X - as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto 
da maioria absoluta de seus membros; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
5 IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de 
nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, 
em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à 
informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Profº. Francisco De Poli de Oliveira 
 
 
7 
23. Os atributos da motivação estão expressos no art. 50, § 1º, da Lei nº 9.784/996. São eles: 
motivação explícita, clara e congruente. Visam, esses atributos, inibir a apresentação de motivação 
implícita, obscura ou desarrazoada. 
 
24. O já citado art. 50, § 1º, da Lei nº 9.784/99 permitiu a utilização da denominada motivação 
aliunde7 ou per relationem8, que é aquela indicada fora do ato, consistente em concordância com 
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas. Opõem-se, portanto, à 
motivação contextual, em que os fundamentos de fato e de direito estão indicados no própriocontexto 
do ato, não havendo remissão à motivação externa. 
 
 
2.1.5 Motivação, Motivo, Causa Móvel e Intenção Real 
25. Importante se faz esclarecer esses quatro conceitos que apesar de estarem muito próximos 
possuem significados diferentes e inconfundíveis. Vejamos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: 
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; 
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; 
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública; 
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório; 
V - decidam recursos administrativos; 
VI - decorram de reexame de ofício; 
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios 
oficiais; 
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo. 
§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos 
de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. 
§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das 
decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados. 
§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo 
escrito. 
 
7 Em outra parte, de outro lugar. 
 
8 Diz-se per relationem a técnica de fundamentação por meio da qual se faz remissão ou referência às alegações de uma das 
partes, a precedente ou a decisão anterior nos autos do mesmo processo. 
Assim sendo, trata-se de prática que o STF não entende equivaler à ausência de fundamentação, desde que as peças 
referidas contenham os motivos que ensejam a decisão do feito. 
Acompanhe-se trecho do julgado MS 27350 MC / DF DJ 04/06/2008, que ora, transcreve-se: "Valho-me, para tanto, da técnica 
da motivação"per relationem", o que basta para afastar eventual alegação de que este ato decisório apresentar-se-ia destituído 
de fundamentação. Não se desconhece, na linha de diversos precedentes que esta Suprema Corte estabeleceu a propósito da 
motivação por referência ou por remissão (RTJ 173/805-810, 808/809, Rel. Min. CELSO DE MELLO - RTJ 195/183-184, Rel. 
Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, v.g.), que se revela legítima, para efeito do que dispõe o art. 93 , inciso IX , da Constituição da 
República, a motivação "per relationem", desde que os fundamentos existentes "aliunde", a que se haja explicitamente 
reportado a decisão questionada, atendam às exigências estabelecidas pela jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal 
Federal.". 
 
 
MOTIVAÇÃO 
É a justificativa escrita sobre todas as razões que determinaram 
a prática do ato (razões de fato e de direito). Exemplo: nas 
multas de trânsito, o documento de notificação do infrator 
contém a motivação do ato 
 
MOTIVO 
É o fato que autoriza a realização do ato administrativo. 
Exemplo: a infração é o motivo da multa de trânsito. 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Profº. Francisco De Poli de Oliveira 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26. Vejamos este caso prático (punição de servidor): 
 
NOTA DE PUNIÇÃO 
 
“O Servidor Público Federal TÍCIO DE SOUZA, por ter se 
ausentando sem autorização do serviço durante o expediente na 
repartição, deixando dessa forma de autuar os processos 
administrativos sob a sua responsabilidade, o que causou sérios 
transtornos para a administração, tudo devidamente apurado em 
sindicância, incidindo na falta do art. 117, I, da Lei nº 8.112/90, fica, 
de acordo com o art. 127, I, desse mesmo diploma legal, advertido. 
Tal sanção deverá constar nos seus apontamentos funcionais”. 
 
 
 
 
 
 
MOTIVO: ausentar-se da repartição durante o serviço sem autorização. 
MOTIVAÇÃO: a nota de punição, com os fatos de direito e a fundamentação 
legal (dispositivos da Lei nº 8.112/90) 
 
 
CAUSA 
É o nexo de pertinência lógica entre o motivo do ato e o 
conteúdo, sendo útil para medir a proporcionalidade da 
conduta. Exemplo: a demissão de servidor público motivada em 
faltas injustificadas é ato de punição desproporcional e ilegal, 
com defeito na causa. 
 
 
MÓVEL 
É a intenção declarada pelo agente como justificativa para a 
prática do ato. Exemplo: prefeito que declara de interesse 
público determinado imóvel para construir uma creche “diante 
da inadiável necessidade de atender as crianças carentes da 
região” (móvel do decreto). 
 
 
INTENÇÃO 
REAL 
É a verdadeira razão que conduziu o agente a praticar o ato. 
Exemplo: decreto expropriatório praticado com a intenção real 
de perseguição contra o dono. Se a intenção real 
comprovadamente não coincidir com o móvel (intenção 
declarada), o ato administrativo pode ser anulado. 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Profº. Francisco De Poli de Oliveira 
 
 
9 
CAUSA: a aplicação da advertência em função da transgressão cometida pelo 
servidor. 
MÓVEL: manutenção da ordem e da disciplina. 
INTENÇÃO REAL: nesse caso, houve coincidência com o móvel. 
 
 
2.1.6 Jurisprudências envolvendo o Princípio da Motivação 
 
APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO Nº. 721203-5, 
DA 3ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA 
Apelante: ESTADO DO PARANÁ 
Apelado: GUILHERME KNEVITZ 
Relator: Des. LEONEL CUNHA 
EMENTA 
1) ADMINISTRATIVO. TRANSFERÊNCIA DE POLICIAL MILITAR. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO DO 
ATO ADMINISTRATIVO. NULIDADE. 
a) Os atos administrativos devem ser motivados, expondo-se claramente os fatos e os fundamentos 
jurídicos que os justificam, sob pena de nulidade. 
b) A transferência dos Policiais Militares “por interesse do serviço” não é justificativa suficiente para 
motivar o ato administrativo, existindo ofensa ao princípio da motivação. 
2) APELO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. MANTENDO-SE A SENTENÇA EM REEXAME 
NECESSÁRIO. 
 
PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL 
APELAÇÃO CÍVEL E REMESSA NECESSÁRIA NO MANDADO DE SEGURANÇA N.º 0070450-
58.1997.805.0001-0-Salvador 
APELANTE: MUNICÍPIO DO SALVADOR 
PROCURADOR DO MUNICÍPIO: MARCUS VINICIUS AMERICANO DA COSTA 
APELADO: DOMINGOS FRANCISCO BEZERRA 
ADVOGADO: JAIR CONCEIÇÃO PITTA 
RELATORA: DESA. MARIA DA PURIFICAÇÃO DA SILVA 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL E REMESSA NECESSÁRIA- MANDADO DE SEGURANÇA. 
ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL – ATO ADMINISTRATIVO- MOTIVAÇÃO 
INEXISTENTE. SENTENÇA CONFIRMADA. APELAÇÃO CÍVEL E REMESSA NECESSÁRIA 
IMPROVIDOS. 
A discricionariedade é incompatível com o pressuposto de validade do ato administrativo: a 
motivação. A motivação é em regra necessária, seja para os atos vinculados, seja para os 
discricionários, pois constitui garantia de legalidade, que tanto diz respeito ao interessado como a 
própria Administração Pública; a motivação é que permite a verificação, a qualquer momento, da 
legalidade do ato, até mesmo pelos demais Poderes do Estado.” 
 
Processo: APC 20050110143765 DF 
Relator(a): JAIR SOARES 
Julgamento:16/04/2008 
Órgão Julgador:6ª Turma Cível 
Publicação: DJU 23/04/2008 Pág.: 133 
Ementa 
ATO ADMINISTRATIVO. MOTIVAÇÃO. VINCULAÇÃO. OS ATOS ADMINISTRATIVOS, QUANDO 
MOTIVADOS, VINCULAM-SE AOS SEUS MOTIVOS DETERMINANTES, SENDO IMPRESCINDÍVEL, 
PARA A VALIDADE DO ATO, A EXISTÊNCIA DE SEU FUNDAMENTO. DEMONSTRADA A 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
Profº. Francisco De Poli de Oliveira 
 
 
10 
INSUBSISTÊNCIA DOS MOTIVOS, EIVADOS DE VÍCIOS, O ATO É NULO. APELAÇÃONÃO 
PROVIDA. 
Acórdão 
NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME. 
 
 
2.2 PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO 
2.2.1 Características Gerais 
27. Pelo princípio da indisponibilidade do interesse público entende-se que as competências 
administrativas são irrenunciáveis, constitucionalmente ou legalmente fixadas. Exemplo: dever de 
apurar irregularidades. Se um empregado de uma empresa privada comete alguma irregularidade, o 
empregador, diante de sua conveniência, pode fazer vista grossa. Essa possibilidade não existe no 
Direito Administrativo, pois o dever de apurar irregularidades é irrenunciável. Pelo fato de não agir, gera 
responsabilidade do servidor público. Outro exemplo: obrigação de se apurar denúncias, sob pena de 
condescendência criminosa. 
 
28. Imaginemos a atuação da polícia de trânsito não agindo para interditar determinadas áreas. O 
interesse público foi renunciado pela omissão. Não havendo justificativa para essa omissão, pode 
caracterizar responsabilidade do servidor público. Mesmo no campo das competências discricionárias, 
o princípio da indisponibilidade do interesse público impõe uma avaliação de que a omissão seja, no 
caso concreto, a conduta que melhor atenda o interesse público. 
 
29. Caso polêmico: Locação de Imóvel entre Empresa Pública da União e Empresa Privada é 
Regido por Normas de Direito Privado? 
 
30. Em nome do aludido princípio, a Administração Pública não pode, via de regra, celebrar 
contrato sendo proprietária, pela lei do inquilinato, exatamente por ferir o princípio da indisponibilidade 
do interesse público. 
31. O administrador não pode dispor dos bens, rendas e patrimônio públicos como se fosse seu. 
A indisponibilidade do interesse público está no princípio da legalidade. Só a lei pode dispor. Então, 
pergunta-se: o interesse público pode se tornar disponível? Pode, desde que haja previsão legal. Se a 
lei permite parcelar uma determinada dívida que o cidadão deve ao Estado, em 10 vezes, posso fazê-
lo. Aliás, em razão desse princípio, o STF já decidiu que o poder de transigir ou de renunciar não se 
configura se a lei não o prevê. 
32. De um modo geral, o administrador não pode vender bens públicos. Só a lei que pode dispor 
para tal. 
33. Em função do princípio da indisponibilidade dos bens públicos, a alienação de bens públicos 
é forma excepcional. Por tal razão, os bens da Administração, em regra, só poderão ser alienados se 
demonstrado o interesse público específico e após a realização de prévia avaliação do bem, de acordo 
com as regras do art. 17 da Lei no 8.666/1993. 
 
 
2.3 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS 
2.3.1 Características Gerais 
34. Em síntese, o princípio da continuidade dos serviços públicos veda a interrupção na 
prestação dos serviços públicos. Aplica-se, por isso, somente no âmbito do Estado prestador (atuações 
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11 
ampliativas da esfera privada de interesses), não valendo para outros domínios, como o poder de 
polícia, a atividade econômica, o fomento, as atuações políticas e as funções legislativas e 
jurisdicionais. 
35. Ele está expressamente previsto no art. 6º, § 1º, da Lei nº 8.987/959, e seu fundamento reside 
no fato de a prestação de serviços públicos ser um dever constitucionalmente estabelecido (art. 175, 
CRFB10), localizando-se, portanto, acima da vontade da Administração Pública, que não tem escolha 
entre realizar ou não a prestação. 
 
2.3.2 Aspectos Doutrinários 
36. Os serviços públicos essenciais não podem ser interrompidos. Uma Delegacia de Polícia tem 
que funcionar 24 horas por dia, assim como os plantões de emergência, os transportes e outros 
serviços essenciais. 
37. Em homenagem ao princípio da continuidade dos serviços públicos, a Constituição Federal 
veda expressamente o exercício do direito de greve pelos militares (art. 142, § 3º, IV11). 
38. A Lei nº 7.783/8912 reza que mesmo que a greve seja considerada legal, os serviços 
 
9 Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, 
conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. 
§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, 
generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas. 
 
10 Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre 
através de licitação, a prestação de serviços públicos. 
Parágrafo único. A lei disporá sobre: 
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua 
prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; 
II - os direitos dos usuários; 
III - política tarifária; 
IV - a obrigação de manter serviço adequado. 
 
11 Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais 
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da 
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei 
e da ordem. 
(...) 
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em 
lei, as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998) 
(...) 
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998) 
 
12 LEI Nº 7.783, DE 28 DE JUNHO DE 1989 - Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, 
regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências. 
Art. 1º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os 
interesses que devam por meio dele defender. 
Parágrafo único. O direito de greve será exercido na forma estabelecida nesta Lei. 
(...) 
Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente 
com o empregador, manterá em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja paralisação 
resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção 
daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento. 
(...) 
Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais: 
I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; 
II - assistência médica e hospitalar; 
III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; 
IV - funerários; 
V - transporte coletivo; 
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12 
essenciais não podem ser paralisados totalmente, devendo funcionar para atender os casos de 
urgência. 
39. Decorrem do princípio da continuidade as seguintes consequências importantes: 
a) Impossibilidade, para quem contrata com a Administração Pública invocar a 
exceção do contrato não cumprido13, mesmo que o poder público concedente descumpra as suas 
obrigações (art. 39, parágrafo único da lei 8.987/9514). Como exemplo, citamos empresa de Metrô que 
paralisa seus serviços por não ter recebido a contraprestação do Estado (pagamento). 
 
A exceção do contrato não cumprido utiliza-se como regra geral. No entanto, com a atual lei de 
licitações e contratosadministrativos, a “exceptio” passou a ser admitida após determinado 
prazo de inadimplemento da Administração Pública (90 dias). Passado esse prazo, a atual lei 
passa a admitir que o particular paralise suas atividades. 
 
 
VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; 
VII - telecomunicações; 
VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; 
IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; 
X - controle de tráfego aéreo; 
XI compensação bancária. 
Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum 
acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da 
comunidade. 
Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a 
sobrevivência, a saúde ou a segurança da população. 
Art. 12. No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público assegurará a prestação dos serviços 
indispensáveis. 
 
13 A exceção do contrato não cumprido – exceptio non adimpleti contractus -, usualmente invocada nos ajustes do Direito 
Privado, não se aplica, em princípio, aos contratos administrativos quando a falta é da Administração. Com efeito, enquanto 
nos contratos entre particulares é lícito a qualquer das partes cessar a execução do avençado quando a outra não cumpre sua 
obrigação (art. 475, CC), nos ajustes do Direito Público o contrato não pode usar dessa faculdade contra a Administração. O 
princípio maior da continuidade do serviço público impede que o particular paralise a execução do contrato diante da omissão 
ou atraso da Administração no cumprimento das prestações a seu cargo. Em tais contratos essa exceção é substituída pela 
subsequente indenização dos prejuízos suportados pelo particular, ou mesmo pela rescisão por culpa da Administração. O que 
não se permite é a cessação sumária da execução do contrato sob a invocação da falta da Administração. 
Mas o rigor da inoponibilidade dessa exceção vem sendo atenuado pela doutrina, para aceitar-se a exceptio non adimpleti 
contractus nos casos em que a falta da Administração cria um encargo extraordinário e insuportável para a outra parte, como, 
por exemplo, quando o Poder Público atrasa seus pagamentos por longo tempo, obrigando o contratado a um verdadeiro 
financiamento das obras e serviços, não previstos no ajuste. 
É o que se infere do art. 78, XV, da lei, que assegura ao contratado o direito de optar pela suspensão do cumprimento de suas 
obrigações até que seja normalizada a situação. 
Diz o art. 78, XV: “o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos pela Administração decorrentes de obras, 
serviços ou fornecimento, ou parcelas destes, já recebidos ou executados, salvo em caso de calamidade pública, grave 
perturbação da ordem interna ou guerra, assegurado ao contratado o direito de optar pela suspensão do cumprimento de suas 
obrigações até que seja normalizada a situação”. 
Não se admite, entretanto, que diante de pequenos atrasos no pagamento, ou de falhas irrelevantes no cumprimento das 
obrigações contratuais da Administração, o contratado paralise a obra, o serviço ou o fornecimento sob invocação de contrato 
não cumprido pelo Poder Público. Essa atitude só será admissível em casos extremos, em que a mora da Administração seja 
substancial e prolongada, acarretando ônus insuportável para o contratado, excedente da álea normal em todo ajuste 
administrativo, em que são previsíveis e compreensíveis alguns embaraços burocráticos que retardem seu cumprimento por 
parte da Administração. Esta, entretanto, pode sempre aplicar a exceção em seu favor, diante da inadimplência do particular 
contratado. (Hely Lopes Meirelles. Licitação e Contrato Administrativo.14ª Ed. P. 213). 
 
14 Art. 39. O contrato de concessão poderá ser rescindido por iniciativa da concessionária, no caso de descumprimento das 
normas contratuais pelo poder concedente, mediante ação judicial especialmente intentada para esse fim. 
Parágrafo único. Na hipótese prevista no caput deste artigo, os serviços prestados pela concessionária não poderão ser 
interrompidos ou paralisados, até a decisão judicial transitada em julgado. 
 
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13 
Há uma corrente fortíssima da banca da Procuradoria do nosso Estado, sob o comando do 
professor Marcos Juruena, que não entende assim. A ideia é que a lei 8.666/93 ao estabelecer 
um prazo de 90 dias (quando o serviço não estiver afetado à coletividade) não foi para que o 
particular pudesse invocar a exceção do contrato não cumprido, mas sim para que após 90 dias 
ele pudesse ir ao judiciário pedir autorização para paralisar o serviço mediante pedido de 
antecipação de tutela ou de liminar em mandato de segurança. 
 
Para o professor Marcos, presidente da banca da procuradoria, quando o serviço estiver afetado 
à coletividade, em 90 dias o particular tem que trabalhar a seco. Esse entendimento, que é de um 
autor respeitado, parece-nos entendimento equivocado e seria inconstitucional, pois, se eu não 
estou recebendo nada, e ainda teria que esperar 90 dias para ir ao Judiciário, é pior que o 
Decreto-Lei 2300 que possuía uma solução autoritária, não admitindo a exceção do contrato não 
cumprido. 
 
b) Impenhorabilidade dos bens das concessionárias, pois tal poderia dissolver o serviço 
público. Imaginem se uma penhora incidir sobre os ônibus de uma concessionária. Dissolver-se-ia o 
próprio serviço de transportes por absoluta falta de meios (ônibus)! Portanto, a penhorabilidade tem que 
estabelecer um limite: o de não comprometer o interesse público. No entanto, pode-se requerer a 
penhora da receita da concessionária (desde que isso, obviamente, não afete a continuidade do serviço 
público). 
c) Possibilidade de intervenção no serviço público. A Administração Pública intervém no 
serviço, utilizando-se do maquinário e pessoal do concessionário. Caso encontre resistência, fará uso 
da força policial. Nesse momento, o Poder Público pode, sem licitar, delegar o serviço a uma empresa 
idônea, por 180 dias, para dar tempo de se lançar novo edital de licitação. Essa empresa que colaborou 
com a Administração poderá participar da licitação. Já a empresa que sofreu a Intervenção não poderá 
mais participar da licitação com aquele ente da federação que o condenou. 
Pergunta-se, contudo: a concessionária será indenizada? A resposta é que sim para evitar o 
enriquecimento sem causa do Estado. No entanto, essa indenização será paga depois de abatidos os 
prejuízos causados com a paralisação, além de multa (normalmente pesada). E o que é pior: o 
pagamento será via precatório. 
d) Nos casos de Recuperação Judicial, o contrato de concessão não se extingue. O 
concessionário dará terminalidade ao contrato, assumindo, o poder concedente, no entanto, as 
principais atividades da empresa, como a entrada e saída do dinheiro, etc. 
 
40. Vejamos algumas particularidades: 
 
41. O serviço de luz e água pode ser paralisado pelo não pagamento do usuário? A lei nº 
8.987/95 fala que pode, que não constitui violação ao princípio da continuidade do serviço público a 
interrupção do fornecimento desses serviços. A posição do STJ, em relação aos chamados serviços 
essenciais, é a de que não poderia. A atual lei de concessão não trabalha com essas duas categorias 
de serviços públicos (essenciais e não essenciais). O STJ tem dito que nos serviços essenciais 
predomina o interesse do usuáriona continuidade do serviço, mas sem prejuízo da concessionária (ela 
pode cobrar pelas vias judiciais próprias a tarifa em atraso). O Juiz não pode escolher um serviço 
público que seja essencial e outro que não seja. No serviço público essencial, segundo o próprio STJ, o 
corte de energia elétrica em determinados estabelecimentos não é possível, já que há um bem público 
mais valioso do que o crédito. Como exemplo, citamos o corte de energia elétrica em um hospital, por 
ocasião de uma cirurgia. 
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14 
42. O art. 6º, § 3º, da lei nº 8.987/9515, na esteira do entendimento doutrinário majoritário e da 
jurisprudência do STJ, autoriza o corte no fornecimento do serviço após prévio aviso, nos seguintes 
casos: a) razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e b) inadimplemento do 
usuário. 
 
43. Existe uma corrente minoritária que sustenta a inconstitucionalidade na interrupção do serviço 
por falta de pagamento por violar o princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
 
2.3.3 Desdobramentos Normativos do Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos 
44. São os seguintes os desdobramentos normativos: 
 
DESDOBRAMENTOS NORMATIVOS 
Desdobramento Normativa 
Direito de greve dos servidores públicos exercido nos termos e nos 
limites definidos em lei específica 
Art. 37, VII, CRFB 
Restrição à aplicabilidade da exceptio non adimpleti contractus, pois 
o contratado só pode interromper a execução do contrato após 
permanecer 90 dias sem receber a remuneração 
Art. 78, XV, Lei nº 8.666/93 
Possibilidade de intervenção na concessionária para garantia de 
continuidade na prestação do serviço 
Art. 32, Lei nº 8.987/95 
Ocupação temporária de bens, pessoal e serviços para garantia de 
serviços essenciais 
Art. 58, V, Lei nº 8.666/93 
Reversão de bens do concessionário indispensáveis à continuidade 
do serviço 
Art. 36, Lei nº 8.987/95 
Encampação do contrato de concessão mediante a retomada do 
serviço pelo concedente 
Art. 37, Lei nº 8.987/95 
Suplência, delegação e substituição de servidores públicos Lei nº 8.112/90 
 
45. Importante salientar que esse princípio deriva-se do princípio da obrigatoriedade da função 
administrativa, que por sua vez impõe ao Estado o dever inescusável de prover o desempenho de todas 
as tarefas próprias da Administração Pública. 
 
 
15 Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, 
conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. 
(...) 
§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, 
quando: 
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e, 
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. 
 
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15 
2.3.4 Jurisprudências envolvendo o Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos 
 
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.139.802 - SC (2009/0089852-5) 
RELATOR: MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO 
AGRAVANTE: COMPANHIA CATARINENSE DE ÁGUAS E SANEAMENTO - CASAN 
ADVOGADO: RODRIGO FRANCISCO COZER E OUTRO(S) 
AGRAVADO: MUNICÍPIO DE BARRA VELHA 
PROCURADOR: EURIDES DOS SANTOS E OUTRO(S) 
EMENTA 
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE 
CONCESSÃO. EXTINÇÃO. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO. 
INDENIZAÇÃO PRÉVIA. INCABIMENTO. 
 
1. Extinto o contrato de concessão por decurso do prazo de vigência, cabe ao Poder Público a 
retomada imediata da prestação do serviço, até a realização de nova licitação, a fim de assegurar a 
plena observância do princípio da continuidade do serviço público, não estando condicionado o termo 
final do contrato ao pagamento prévio de eventual indenização, que deve ser pleiteada nas vias 
ordinárias. 
 
2. Agravo regimental improvido. 
 
Processo: REOMS 7152 SP 2006.61.00.007152-6 
Relator(a): DESEMBARGADORA FEDERAL SALETTE NASCIMENTO 
Julgamento: 24/02/2011 
Órgão Julgador: QUARTA TURMA 
Ementa 
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO. 
MOVIMENTO PAREDISTA. 
 
I - A Carta Política de 88 garante o direito de greve, regulamentado pela Lei nº 7.783/89, a qual prevê a 
obrigatoriedade de manutenção dos serviços cuja interrupção resulte em prejuízo para o usuário. 
 
II - Direito do impetrante ao recolhimento de tributos, para o fim de desembaraço aduaneiro, que deve 
ser observado em face do princípio da continuidade do serviço público. 
 
III - Remessa oficial improvida. 
 
Processo: AC 81025 RN 2010.008102-5 
Relator(a): Des. Aderson Silvino 
Julgamento: 05/04/2011 
Órgão Julgador: 2ª Câmara Cível 
 
Ementa 
DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA 
DE COBRANÇA. DECISÃO QUE DETERMINOU A CONTINUIDADE NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 
DE TELEFONIA EM POSTO DE SAÚDE DE MUNICÍPIO, APESAR DAS CONTAS EM ATRASO. 
INTERESSE PÚBLICO DEMONSTRADO. SERVIÇO ESSENCIAL. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE 
DO SERVIÇO PÚBLICO. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. MANUTENÇÃO 
DA SENTENÇA. CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO RECURSO. 
 
Em se tratando de serviço público essencial, onde haja demonstração de interesse público em sua 
continuidade, é vedado o corte em seu fornecimento, ainda que o ente público contratante do serviço 
esteja em atraso no pagamento das faturas. 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
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16 
Processo: REsp 950489 DF 2007/0108084-6 
Relator(a): Ministro LUIZ FUX 
Julgamento: 03/02/2011 
Órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMA 
Publicação: DJe 23/02/2011 
Ementa 
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LICITAÇÃO. CONTRATO DE CONCESSÃO DE 
SERVIÇO PÚBLICO. EXPLORAÇÃO ECONÔMICA DAS ATIVIDADES INERENTES AOS 
CEMITÉRIOS. EXIGÊNCIA EDITALÍCIA. CAPITAL SOCIAL MÍNIMO ESCRITURADO. ART. 55, VI E 
XIII DA LEI N. 8.666/93. SANEAMENTO POSTERIOR. NULIDADE DO CONTRATO NÃO 
DECRETADA. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO. 
1. Os princípios que norteiam os atos da Administração Pública, quando em confronto, indicam deva 
prevalecer aquele que mais se coaduna com o da razoabilidade. 
 
2. No balanceamento dos interesses em jogo, entre anular o contrato firmado para a prestação de 
serviços de recuperação e modernização das instalações físicas, construção de ossuários, cinzários, 
crematório e adoção de medidas administrativas e operacionais, para a ampliação da vida útil dos 06 
(seis) cemitérios pertencentes ao Governo do Distrito Federal, ou admitir o saneamento de uma 
irregularidade contratual, para possibilitar a continuidade dos referidos serviços, in casu, essenciais à 
população, a última opção conspira em prol do interesse público. 
 
3. Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios objetivando a 
decretação de nulidade do contrato celebrado com a empresa vencedora da Licitação realizada pela 
Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil - NOVACAP para a Concessão de Serviços 
Públicos precedido de Obra Pública sobre imóvel do Distrito Federal nº 01/2002 (administração dos 
cemitérios do DF), ao argumento de que a inobservância do capital social mínimo exigido do edital de 
licitação, não configura mera irregularidade, ao revés, constitui vício grave capaz de nulificar o Contrato 
Administrativo, mercê de violar o disposto no art. 55, incisos VI e XIII, da Lei 8.666/93. 
 
4. O princípio da legalidade convive com os cânones da segurança jurídica e do interesse público,por 
isso que a eventual colidência de princípios não implica dizer que um deles restará anulado pelo outro, 
mas, ao revés, que um deles será privilegiado em detrimento do outro, à luz das especificidades do 
caso concreto, mantendo-se, ambos, íntegros em sua validade. 
 
5. Outrossim, convém ressaltar que a eventual paralisação na execução do contrato de que trata a 
presente demanda, relacionados à prestação de serviços realizada pelos 06 (seis) cemitérios 
pertencentes ao Governo do Distrito Federal, coadjuvado pela impossibilidade de o ente público 
assumir, de forma direta, a prestação dos referidos serviços, em razão da desmobilização da 
infraestrutura estatal, após a conclusão do procedimento licitatório in foco, poderá ensejar a 
descontinuidade dos serviços prestados pela empresa licitante, em completa afronta ao princípio da 
continuidade dos serviços públicos essenciais. 
 
6. In casu, merece destaque as situações fáticas assentadas pelo Tribunal a quo, insindicáveis nesta 
Corte, assim sintetizadas: (a) o procedimento licitatório, realizado pela Companhia Urbanizadora da 
Nova Capital do Brasil - NOVACAP, teve como vencedor o Consórcio DCB, formado pelas empresas 
Dinâmica - Administração, Serviços e Obras Ltda.; Contil - Construção e Incorporação de Imóveis Ltda.; 
e Brasília Empresa de Serviços Técnicos Ltda., o qual, antes da assinatura do contrato administrativo, 
valendo-se de permissivo legal, constituiu a empresa denominada Campo da Esperança Serviços Ltda.; 
(b) o Consórcio DCB, vencedor do procedimento licitatório sub examine, comprovou todos os requisitos 
para participação no certame, inclusive, a exigência do capital mínimo, de R$ 1.438.868,00 (um milhão, 
quatrocentos e trinta e oito mil, oitocentos e sessenta e oito reais); (c) a empresa Campo da Esperança 
Serviços Ltda., criada para substituir o consórcio vencedor do certame, inobstante obrigada ao 
cumprimento das exigências editalícias nos mesmos moldes do vencedor, mormente no que se refere 
ao valor do capital mínimo, foi constituída, inicialmente, com capital de R$ 10.000,00 (dez mil reais), o 
LIVRO IV – PRINCÍPIOS INESPECÍFICOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO 
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17 
qual foi majorado para R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), mediante alteração dos seus atos 
constitutivos, e, posteriormente, ampliado para R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), em 
razão do cumprimento da decisão proferida pelo Juízo de Direito da Vara da Fazenda Pública do 
Distrito Federal, com supedâneo no art. 798 do CPC, consoante se verifica da verifica da decisão de fls. 
às fls. 334/344. 7. Deveras, o Ministério Público Federal, na qualidade de custos legis, destacou que: "o 
princípio da continuidade dos serviços públicos admite o saneamento de uma irregularidade contratual, 
no intuito de atingir o interesse público. Correta a decisão do Tribunal a quo que entendeu possível a 
correção posterior de uma exigência prevista no edital de licitação (capital social mínimo de empresa) 
para preservar o bem comum dos administrados". (fl. 662) 8. Recurso Especial desprovido. 
 
 
2.4 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O INTERESSE PRIVADO (OU 
DA FINALIDADE) 
2.4.1 Características Gerais 
46. É um conjunto de privilégios e prerrogativas concedidos à Administração, em relação a 
terceiros, porque a essência do Estado é encarnar a supremacia do interesse público. 
 
47. Segundo Celso Bandeira a supremacia do interesse público é tão importante quanto o 
princípio da legalidade. 
 
 
2.4.2 Aspectos Doutrinários e Legais 
48. Sempre que houver confronto entre os interesses, há de prevalecer o coletivo. É o que ocorre 
no caso de desapropriação por utilidade pública, por exemplo. Determinado imóvel deve ser 
disponibilizado para a construção de uma creche. O interesse do proprietário se conflita com o da 
coletividade que necessita dessa creche. Seguindo esse princípio e a lei, haverá sim a desapropriação, 
com a consequente indenização do particular (art. 5º, XXIV, CRFB). 
 
49. Outro caso exemplar é o da requisição administrativa, prevista no art. 5º, XXV, CRFB. Esse 
princípio deve ser seguido tanto no momento da elaboração da lei, quanto no momento da execução da 
mesma, no caso concreto, sempre vinculando a autoridade administrativa. Havendo atuação que não 
atenda ao interesse público, haverá o vício de desvio de poder ou desvio de finalidade, o que torna o 
ato nulo. 
 
50. Ressalte-se que o interesse público é indisponível. Assim, os poderes atribuídos à 
Administração Pública têm a característica de poder-dever, que não podem deixar de serem exercidos, 
sob pena de ser caracterizada a omissão. 
 
51. Dentre as principais prerrogativas e vantagens inerentes a esse princípio, elencamos as 
seguintes: 
 
52. Intervenção do Estado na Propriedade. Desapropriação. A CRFB garante o direito de 
propriedade. Essa garantia não possui caráter absoluto, pois a propriedade, hoje, não é mais 
imaculada, sagrada, inviolável e inatingível, devendo a propriedade cumprir sua função social. A 
intervenção do Estado ocorre em homenagem ao princípio da supremacia do interesse público sobre o 
interesse privado. 
 
53. Exemplo: caos no trânsito. Necessidade de desapropriação de imóveis próximos às estradas 
para ampliar a rodovia. O Poder Público, com fundamento da supremacia do interesse público, pode 
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18 
desapropriar os bens para remover os obstáculos. É como se fosse uma intervenção cirúrgica. Seria 
inaceitável se, quando a Administração Pública fosse desapropriar um imóvel se sujeitasse à 
autorização do proprietário. Não tem lógica o poder público ficar preso à vontade do proprietário. 
 
 
54. Intervenção do Estado na Propriedade. Limitação Administrativa. Imaginemos o seguinte 
caso concreto que está ocorrendo na Travessa Angrense, em Copacabana: com a finalidade de 
privilegiar a urbanização, segurança e qualidade de vida, dentre outros fatores, o município fechou 
algumas ruas aos veículo. Ocorre que um edifício-garagem ali localizado ficou no prejuízo, pois não há 
mais acesso de veículos no local. Nesse caso a Limitação Administrativa (limitação ao tráfego de 
veículos) causou prejuízo, portanto há direito à indenização por parte do proprietário do edifício-
garagem. 
 
55. Intervenção do Estado na Propriedade. Servidão Administrativa. Seria um total absurdo 
que o Estado fosse impedido de levar energia elétrica domiciliar às regiões longínquas porque os 
proprietários dos imóveis sobre os quais recairão a passagem das torres não querem. Nesse caso 
(instituição da servidão administrativa) há indenização ao proprietário? Depende. Ela existirá somente 
se houver prejuízo econômico. Se os fios elétricos passarem no pico do morro, local que o proprietário 
nunca foi, então não há que se falar em indenização. Diferentemente, por exemplo, de oito sapatas 
encravadas na minha fazenda, reduzindo o pasto necessário para a criação de gado Nelore. Cabe, 
portanto, nesse último caso, indenização. 
 
56. Intervenção do Estado na Propriedade. Desapropriação Indireta. Vejamos o seguinte 
caso concreto: em Magé foi construído um hospital no terreno de uma determinada pessoa, sem que 
ela soubesse e sem a competente desapropriação. A desapropriação Indireta ocorre muito por erro de 
cálculos. 
 
57. Como exemplo ilustrativo da supremacia do interesse público, podemos mencionar, em 
termos de caso concreto, um julgado recente em que determinado cidadão, ao voltar de viagem dos 
Estados Unidos e de casamento marcado, resolve realizar seu sonho: a construção de sua casa em 
terreno adquirido antes da viagem. Contudo, aolevar um engenheiro para elaborar um projeto de 
construção para o terreno, deparou-se com uma praça pública no mesmo local. 
 
58. Trata-se de ato ilícito da Administração Pública, pois não realizou o procedimento previsto na 
legislação para a desapropriação. Neste caso ocorreu a chamada desapropriação indireta. No entanto, 
certo ou errado, o Poder Público realizou algo em prol da coletividade, materializado na construção de 
hospital, de um posto de saúde, de uma escola pública ou de uma praça. Cabe ressaltar que os bens, 
uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação. Qualquer ação 
julgada procedente resolver-se-á em perdas e danos (art. 35 do Decreto-Lei nº 3.365/4116). 
 
59. Destaca-se que o bem alcançou status de bem público de uso comum do povo, 
impossibilitando qualquer medida reivindicatória. Para o caso, caberia apenas ação indenizatória. 
 
60. Cláusulas exorbitantes nos contratos administrativos. Imaginemos a seguinte situação: o 
asfaltamento de 10 (dez) quilômetros. A Administração Pública pode alterar unilateralmente o contrato, 
 
16 Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que 
fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos. 
 
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19 
impondo, por termo aditivo, sem licitação, um aumento de 25% da cláusula de serviço, 
independentemente da vontade da empresa contratada. Tal prerrogativa está dentro do limite imposto 
pela Lei (Art. 65, § 2º, Lei 8.666/9317). Isso jamais poderia ser possível no direito privado, salvo com a 
aceitação das partes. 
 
61. Prazos. Os prazos são dilatados: em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer. 
 
62. Recurso de ofício. Caso o Juiz dê uma sentença desfavorável ao Estado, essa sentença só 
vai se tornar eficaz se houver uma reapreciação em 2º grau, independentemente da apelação do 
Estado. O fundamento reside na supremacia do interesse público. A princípio, não há que se falar em 
trânsito em julgado. 
 
63. Presunção de Legalidade e Legitimidade dos Atos Administrativos. Presume-se que os 
atos administrativos são legais (de acordo com a lei) e legítimos (estão atendendo o interesse público). 
Imaginemos os casos que envolvem as multas de trânsito. Às vezes o cidadão sofre uma multa de 
trânsito em lugar que nunca esteve. Ele é quem tem que provar que nunca esteve lá. 
 
64. Autoexecutoriedade. A Administração Pública executa os seus próprios atos 
independentemente de autorização judicial. Exemplo: apreensão de mercadorias de camelôs; passeata 
que é dissolvida em função dos atos de vandalismo contra o patrimônio público, etc. 
 
65. Prescrição administrativa. A norma que concede 05 (cinco) anos para se cobrar um crédito 
em face do Estado. 
 
 
2.4.3 Jurisprudência envolvendo o Princípio da Supremacia do Interesse Público 
 
MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRATO ADMINISTRATIVO. TRANSPORTE ESCOLAR. 
RESCISÃO UNILATERAL. CONTRADITÓRIO. SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO. 
 
1. É nula a rescisão unilateral de contrato administrativo sem que se tenha assegurado ao contratado o 
contraditório e a ampla defesa. Art. 78, § único, da Lei n.º 8.666/93. 
 
2. A invocação do princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado não garante à 
Administração Pública a incolumidade dos seus atos administrativos ao arrepio da observância das leis. 
Não confere à Administração Pública o direito de interferir na esfera jurídica dos contratados 
arbitrariamente. Trata-se de noção que fundamenta as prerrogativas conferidas pela lei à Administração 
 
17 Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes casos: 
I - unilateralmente pela Administração: 
a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos; 
b) quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, 
nos limites permitidos por esta Lei; 
(...) 
§ 1o O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos ou supressões que se fizerem 
nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco por cento) do valor inicial atualizado do contrato, e, no caso particular 
de reforma de edifício ou de equipamento, até o limite de 50% (cinquenta por cento) para os seus acréscimos. 
§ 2o Nenhum acréscimo ou supressão poderá exceder os limites estabelecidos no parágrafo anterior, salvo: (Redação dada 
pela Lei nº 9.648, de 1998) 
 
 
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20 
Pública na realização da utilidade pública ou do bem comum. A nulidade da rescisão unilateral do 
contrato administrativo sem prévio processo administrativo não pode ser eliminada pela invocação do 
princípio da supremacia do interesse público sobre o privado. 
Recurso desprovido. Sentença confirmada em reexame necessário. 
 
APELREEX200884000020875 APELREEX 5992 Relator(a) Desembargadora Federal Margarida 
Cantarelli 
TRF5 Órgão julgador Quarta Turma Fonte DJE - Data:12/11/2009 - Página:827 Decisão UNÂNIME 
Ementa: ADMINISTRATIVO. MILITAR. TRANSFERÊNCIA. TRATAMENTO DE SAÚDE DE FILHA 
MENOR. 
I. É sabido que o ato de movimentação de militar tem caráter discricionário. No entanto, não se 
encontra a Administração adstrita à vontade de seus membros, devendo obediência ao princípio 
constitucional da primazia do interesse público sobre o particular. A legislação, ao excepcionar algumas 
hipóteses de remoção, estabelece condições para o seu deferimento. 
II. Verifica-se que a filha menor do autor - dependente de militar da ativa - é portadora de doença 
alérgica e necessita cumprir o tratamento de saúde a que vem se submetendo, consubstanciado em 
vacinas, antialérgicos e acupuntura. 
III. Não restou demonstrada a necessidade de manutenção do militar na cidade de Natal, até final do 
tratamento de sua filha, uma vez que a transferência da família da cidade de Natal para o Rio de 
Janeiro não irá provocar a interrupção do tratamento da menor, podendo o mesmo ser continuado nesta 
última cidade, que, além de ser um centro médico, não tem clima inóspito. IV. Apelação da União e 
Remessa Oficial providas para que seja mantido o ato administrativo que transferiu o autor para a 
cidade do Rio de Janeiro. 
Apelação do autor improvida. 
 
ProcessoAG200905000771605 AG - Agravo de Instrumento - 100186 Relator(a) Desembargador 
Federal Francisco Barros Dias - TRF5 Órgão julgador Segunda Turma 
Fonte DJE - Data:12/11/2009 - Página:462 - Nº:48 Decisão UNÂNIME 
Ementa: ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. 
TRANSFERÊNCIA. PROTEÇÃO À FAMÍLIA VERSUS SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO. 
JUÍZO DE CONVENIENCIA E NECESSIDADE DE SERVIÇO DA ADMINISTRAÇÃO. AGRAVO 
PROVIDO. 
1. Deve prevalecer o interesse público sobre o particular. Tratando-se de militar, a natureza do 
deslocamento é totalmente diferente do servidor civil. Não se pode dar tratamento igual a quem se 
encontra em situação diversa; em outra categoria de servidores. 
2. Ao ingressar no Exército, o Agravado tinha plena ciência da possibilidade de ser 
movimentado/deslocado no interesse da Administração Pública. 
3. Dentro do juízo de conveniência e da necessidade do serviço, pode a Administração Pública deslocar 
seus servidores para outros pontos do território nacional, ainda mais, tratando-se da classe de militar, 
cuja natureza do serviço impõe constantesmovimentações em seus quadros. 
4. "A movimentação do agravado, consequentemente, teria como finalidade atender unicamente ao seu 
próprio interesse, em detrimento do interesse público, o qual se relaciona com a própria segurança 
nacional. Ademais, compete às Forças Armadas determinar como se dará a distribuição de seu 
contingente, levando-se em consideração a necessidade e as condições de cada região. (TRF5. AGTR 
200805000555862. Desembargador Federal José Maria Lucena. DJ 13/02/2009, Página 224, Decisão 
04/12/2008) 5. Agravo de Instrumento provido. 
 
 
APELAÇÃO CÍVEL n° 990.10.530808-2 
Comarca: SÃO PAULO 
Apelante: SOTRANGE TRANSPORTES RODOVIÁRIOS LTDA. 
Apelada: INSTITUTO DE PESOS E MEDIDAS DO ESTADO DE SÃO PAULO - IPEM. 
(Juiz de Direito de I o Grau - Dr. Kenichi Koyama) 
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21 
ANULATORIA DE DEBITO C.C. COM INSUBSISTÊNCIA DE AUTO DE INFRAÇÃO - Caminhão-trator 
de propriedade da autora autuado por infração ao art. 5°, da Lei 9.933/99 - Supremacia do interesse 
público sobre o privado - Poder de polícia exercido respeitando o princípio da legalidade - Presunção de 
legalidade e legitimidade do ato administrativo praticado pelo órgão fiscalizador - Sentença de 
improcedência mantida. Recurso improvido. 
 
APELAÇÃO CÍVEL n° 990.10.503529-9 
Comarca: ARARAQUARA 
Apelante: AGRO SANTA ELIZA DO SALTINHO LTDA. 
Apelada: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO 
(Juiz de Direito de I o Grau - Dr. João Baptista Galhardo Júnior) 
 
DECLARATÓRIA - Pretensão de anulação de ato administrativo exarado pela Secretaria de Agricultura 
e Abastecimento, que determinou a eliminação do pomar de propriedade da Autora, supostamente 
infestado pela praga "Huamglongbing HLB - Greening" - Supremacia do interesse público sobre o 
privado - Poder de polícia exercido respeitando o princípio da legalidade – Presunção de legalidade e 
legitimidade do ato administrativo praticado pelo órgão fiscalizador - Sentença mantida. Recurso 
improvido. 
 
 
2.5 PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA ADMINISTRATIVA 
2.5.1 Características Gerais 
66. Esse princípio consagra o controle interno que a Administração Pública exerce sobre os seus 
próprios atos. Como consequência da sua independência funcional, expresso no art. 2º, CRFB18, a 
Administração Pública não precisa recorrer ao Judiciário para anular (anulação19) os seus atos eivados 
de ilegalidade e revogar (revogação20) aqueles inconvenientes e inoportunos. Trata-se de um autêntico 
 
18 Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 
19 ANULAÇÃO 
a) Definição: Todo ato administrativo para ser válido deve conter os seus cinco elementos ou requisitos de validade 
(competência, finalidade, forma, motivo e objeto) isentos de vícios (defeitos). Caso um desses elementos apresente-se em 
desacordo com a lei, o ato será nulo. 
O pressuposto da anulação é que o ato possua um vício de legalidade em algum de seus requisitos de formação. Com isso, 
podemos defini- la como sendo o desfazimento de um ato por motivo de ilegalidade. A anulação decorre do controle de 
legalidade dos atos administrativos. 
b) Quem pode ANULAR ato administrativo? A anulação de um ato que contenha vício de legalidade pode ocorrer tanto 
pelo Poder Judiciário (controle externo) quanto pela própria Administração Pública (controle interno). 
É óbvio que sendo a Administração Pública seguidora do Princípio da Legalidade, deve ela, por ato próprio, anular o ato ilegal. 
Como exemplo, podemos citar: ato administrativo expedido pelo Poder Legislativo poderá ser anulado tanto pelo próprio Poder 
Legislativo (Administração Pública) quanto pelo Poder Judiciário. 
A invalidação por via judicial dependerá, sempre, de provocação do interessado. Já a via administrativa poderá resultar do 
Poder de Autotutela do Estado, que deve extingui-lo, muito embora proveniente da manifestação de vontade de um de seus 
agentes, contenha vício de legalidade. 
c) Efeitos da Anulação: Uma vez que o ato administrativo ofende a lei, é lógico afirmarmos que a invalidação opera efeitos 
ex- tunc, retroagindo à origem do ato, ou seja, como bem explicita Bandeira de Melo: fulmina o que já ocorreu, no sentido de 
que se negam hoje os efeitos de ontem. 
20 REVOGAÇÃO 
a) Definição: Ocorre no momento em que um ato válido, legítimo e perfeito torna-se inconveniente e inoportuno ao 
interesse público. O ato não possuía qualquer vício de formação, porém, não atende mais aos pressupostos de 
conveniência e oportunidade. 
É importante ressaltarmos que o conceito de revogação guarda estreita relação com o de ato discricionário, visto ser o Poder 
Discricionário da Administração o fundamento de tal instituto. Além disso, os atos vinculados são classificados, pelos grandes 
autores, como atos irrevogáveis, visto que neles a lei não deixou opção ao administrador, no que tange à valoração da 
conveniência e da oportunidade. Sendo assim, concluímos que a revogação decorre do controle de mérito dos atos 
administrativos. 
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22 
poder-dever de retirada dos atos administrativos por meio da revogação e da anulação. 
 
67. Assim: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
68. O Princípio da Autotutela está consagrado no art. 53, Lei nº 9.784/9921, e nas Súmulas 34622 
e 47323, STF. 
 
b) Quem pode REVOGAR ato administrativo? Por depender de uma avaliação quanto ao momento em que o ato tornou-se 
inoportuno e inconveniente, a revogação caberá à autoridade administrativa no exercício de suas funções. Seria inadmissível 
imaginar que o Poder Judiciário pudesse revogar ato administrativo, pois tal competência depende da experiência/ 
vivência do administrador público que decidirá quanto à oportunidade e conveniência da prática do ato. Porém, é importante 
reforçarmos que, atipicamente, o Poder Judiciário também emite atos administrativos (quando exerce a função administrativa). 
Nesse caso, caberá ao Poder Judiciário revogar os seus próprios atos administrativos. 
Como exemplo, podemos citar: ato administrativo expedido pelo Poder Legislativo poderá ser revogado, apenas, pelo próprio 
Poder Legislativo. 
c) Efeitos da Revogação: A revogação opera efeitos ex-nunc (proativos), ou seja, a partir de sua vigência. O ato de 
revogação não retroagirá os seus efeitos, pois o ato revogado era perfeitamente válido, até o momento em que se tornou 
inoportuno e inconveniente à Administração Pública. 
d) Atos Irrevogáveis: O Poder Discricionário dado à Administração Pública de revogar seus atos administrativos, por 
questões lógicas não é ilimitado. Alguns atos são insuscetíveis de revogação, ou seja, são atos ditos irrevogáveis. 
Assim temos: a) os atos consumados, que já exauriram seus efeitos; b) os atos vinculados, pois nesse o administrador não 
tem escolha na prática do ato; c) os atos que geram direitos adquiridos; d) os atos que integram um procedimento 
administrativo; e e) os meros atos administrativos (certidões, pareceres, atestados). 
 
21 Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por 
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. 
 
22 SÚMULA STF 346, STF – “A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PODE DECLARAR A NULIDADE DOS SEUS PRÓPRIOS 
ATOS”. 
 
23 Súmula 473 - “a Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque 
deles não se originamdireitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, 
e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”. 
 
COMENTÁRIOS 
A Súmula 473 foi editada em 3 de outubro de 1969. É uma das mais conhecidas súmulas de Direito Administrativo, porque 
reforça o poder de autotutela administrativa, segundo o qual se a Administração pode agir de ofício, sem a necessidade de 
autorização prévia do Poder Judiciário, ela também poderá rever seus atos de ofício. 
A revisão dos atos pela Administração implica no poder de declarar a sua nulidade, caso haja vício de ilegalidade, que é 
tratado também no conteúdo da Súmula 346/STF, mas também o de revogar o ato, por motivo de conveniência e 
oportunidade. 
Quando a súmula expõe que a Administração poderá anular seus atos, porque deles não se originam direitos, ela está 
implicitamente reforçando o fato de que como a invalidade tornaria o ato írrito, nulo por vício original, então, o desfazimento 
deve ser feito ex tunc, isto é, com efeitos retroativos, caso o ato tenha produzido efeitos provenientes de direitos inexistentes. 
Essa interpretação é, no entanto, mitigada em alguns casos específicos, como, por exemplo, no caso de servidor que auferiu 
remuneração, mas que depois tem o vínculo funcional com a Administração Pública questionado por vício na investidura, não 
se aplica a invalidação ex tunc por proibição de enriquecimento ilícito pela Administração Pública. Também terceiros de boa-fé 
podem ser poupados dos efeitos retroativos de invalidações, conforme, por exemplo, a teoria do fato consumado ou a 
segurança jurídica. 
Já a revogação terá sempre efeitos ex nunc (a partir de então), porquanto atinge ato legítimo, isto é, não viciado, por isso, 
sempre deve respeitar aos direitos adquiridos. A doutrina costuma ampliar o rol de limites à revogação, acrescentando a esta 
 
ATOS ILEGAIS 
ANULAÇÃO (Problemas 
de legalidade) 
ATOS INCONVENIENTES 
E/OU INOPORTUNOS 
REVOGAÇÃO (Trata do 
mérito do ato) 
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23 
2.5.2 Aspectos Doutrinários e Legais 
69. O Estado é o guardião da legalidade. Então, ao se deparar com uma ilegalidade, não pode a 
Administração Pública andar de braços dados com ela, sob pena de ferir o art. 37 da CF. É um conceito 
doutrinário contido na súmula 473 do STF: “A Administração pode anular seus próprios atos 
quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou 
revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e 
ressalvada, em qualquer caso, a apreciação judicial”. 
 
70. Pelo verbete citado, o que vai acontecer? Estamos diante de uma auto revisão do ato 
administrativo. 
 
71. Primeira hipótese: anulação de seus próprios atos. Vejamos o seguinte exemplo: havia um 
Decreto do Presidente vetando o duplo benefício previdenciário. Ocorre que, quando a origem for 
diferente, a parte interessada faz jus aos dois benefícios. É o caso de uma pensão por morte, 
acumulada com qualquer tipo de aposentadoria (a viúva, já aposentada, faz jus a receber a pensão de 
seu marido recém-falecido). O Presidente anulou seu próprio ato antes da postulação de uma ação 
judicial. 
 
72. Grande parte da doutrina entende que a anulação é um dever, uma obrigação da 
Administração Pública. No entanto, o STJ e o STF caminham no sentido de interpretá-lo como sendo 
uma faculdade, com fundamento no Princípio da Supremacia do Interesse Público. A regra geral é 
anular o ato ilegal, salvo quando a sua retirada causar danos graves ao interesse público, levando-se 
em consideração o binômio custo x benefício. 
 
73. Exemplo: loteamento ilegal. 
 
74. Segunda hipótese: revogação. Na análise do mérito do seu ato, poderá a Administração 
decidir que o ato permanece conveniente e oportuno com relação ao interesse público. Exemplo: 
Autorização de Uso concedida a banca de jornais. Com o crescimento do número de pedestres naquela 
região, a banca de jornais passou a ser inconveniente e inoportuna. Temos aqui, então, um caso de 
revogação. Na revogação o ato é legal, mas a administração realiza um novo juízo de conveniência e 
oportunidade. Como há reavaliação de mérito, a revogação só pode ser feita pela Administração. O 
judiciário não pode interferir na revogação. 
 
75. Pelo Princípio da Autotutela, a Administração Pública pode anular e revogar seus atos sem 
necessitar de interferência do judiciário. A Administração, atuando por provocação do particular ou de 
ofício, reaprecia os atos, incidindo sobre a legalidade do ato ou quanto ao seu mérito. 
 
 
 
 
 
 
hipótese também a impossibilidade da revogação de atos: que a lei declare irrevogáveis; já exauridos ou que determinam 
providência material já executada, atos vinculados; atestados, certidões ou votos, atos preclusos e atos complexos (Ver: 
NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2010. p. 228). 
O conteúdo da Súmula é também reproduzido no art. 53 da Lei nº 9.784/99, de acordo com o qual: “A Administração deve 
anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência e 
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos”. 
 
Expressão-chave do Princípio da Autotutela: “SEM 
INTERFERÊNCIA DO JUDICIÁRIO” 
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24 
76. A autotutela volta-se mais para os atos ilegais. Vejamos um caso concreto: o INSS concedeu 
uma aposentadoria. Posteriormente, a própria previdência percebeu que esta pessoa está recebendo 
R$ 800,00 a mais de aposentadoria. Pode o INSS, depois de conceder a aposentadoria, abaixar o 
rendimento de alguém? Pode. O princípio da autotutela é de caráter obrigatório. A Administração 
Pública pode anular o ato ilegal, por motivo de interesse público superveniente. No entanto, tem que 
garantir o devido processo legal. É decorrência do Princípio da Legalidade. Detectou uma ilegalidade, a 
Administração não pode andar de braços dados com a ilegalidade. 
 
77. O princípio da autotutela não pode ser confundido com o princípio da tutela. Princípio da 
tutela ocorre quando a Administração Direta controla a observância das finalidades das entidades da 
Administração Indireta. Exemplo: uma autarquia foi criada para realizar pesquisas de doenças 
infectocontagiosas. Não pode o Diretor de tal autarquia mudar de atividade para Faculdades Médicas e 
Paramédicas, hipoteticamente. 
 
78. Na anulação de concursos públicos haverá sempre a garantia do devido processo legal? 
Depende. Se a ilegalidade ocorreu por conta da banca organizadora do concurso, anula-se 
diretamente, sem a ampla defesa e o contraditório. É importante lermos o art. 5, LV, CRFB, que fala em 
“acusados”. E aqui não há acusados. Agora, se o candidato já tomou posse antes da Administração 
Pública se utilizar da autotutela, então deverá ser garantido obrigatoriamente o contraditório e a ampla 
defesa, sob pena de nulidade do ato de eliminação do candidato. 
 
79. É de vital importância para fins de concursos públicos saber que o princípio da autotutela não 
admite interpretação retroativa em função de uma nova interpretação. 
 
80. A prescrição que estabelece limite á autotutela? Depende. Fundo de direito ilícito utiliza-se a 
Autotutela, porque não pode estar sujeito à prescrição aquilo que é inexistente. Vejamos este caso 
concreto: uma pessoa munida de certidão de nascimento falsa

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