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Fichamento obra Príncipios Constitucionais - Walter Claudius Rothenburg

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LIBERTAS – FACULDADES INTEGRADAS
CURSO DE DIREITO
FICHAMENTO DA OBRA: 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
Walter Claudius Rothenburg
TRABALHO DE DIREITO CONSTITUCIONAL I
Prof. MARCO CESAR DE CARVALHO
ALUNA: Vanessa Ribeiro do Prado 
SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO
04/04/2016
ROTHENBURG, Walter Claudius. Princípios constitucionais. 2. ed. Porto Alegre: Sérgio Augusto Fabris Editor, 2003.
I - Introdução
Em nosso ordenamento jurídico encontram-se dispostos regras e princípios. Os primeiros, de caráter específico; Os segundos, com caráter mais amplo e abstrato. Porém, diferenciá-los na prática não é tão simples assim. 
2 DISTINÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS (pp. 13-49)
2.1. Os princípios
Por força de sua suposta natureza “transcendente”, ou em razão de seu conteúdo e vagueza, os princípios em uma primeira abordagem não eram vistos como autênticas normas jurídicas. Pouco a pouco, com a percepção de que neles comparecia, embora de modo explícito, sua completude em outras normas jurídicas, os princípios começaram a ser aceitos pelo Direito como imperativos.
O autor esclarece que tal reconhecimento, entretanto, levaria ate o ponto oposto, da identificação dos princípios e os demais preceitos jurídicos. Quando muito, haveria uma mera distinção de grau (“quantitativa”) – mas não de natureza – entre os primeiros (dotados de maior generalidade) e os outros (mais concretos). Na visão de Celso Antônio Bandeira de Mello (1994:450-1), princípio jurídico é mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espirito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica a lhe dá sentido harmônico.
O termo aparece muito mais no sentido de fundamento, base, do que no sentido de origem, início. Sua localização também não é irrelevante, quer em razão da evidencia que assim se empresta aos princípios, quer pela superioridade formal de que se revestem no quadro – hoje largamente predominante – das constituições rígidas. 
2.2. Distinções de Natureza (p. 15-17)
	O autor cita Robert Alexy (1993:83) que afirma que tanto as regras como os princípios são normas, porque ambos dizem o que deve ser. Ambos podem ser formulados com a ajuda das expressões deônticas básicas do mandamento, da permissão e da proibição. Os princípios, tal como as regras, são razões para juízos completos de dever ser, ainda quando sejam razões de um tipo muito diferente. A distinção entre regras e princípios é, pois, uma distinção entre dois tipos de normas.
	Se os princípios têm suas propriedades, diferenciando-se por sua natureza (qualitativamente) dos demais preceitos jurídicos, a distinção está em que constituem eles expressão primeira dos valores fundamentais expressos pelo ordenamento jurídico, informando materialmente as demais normas (fornecendo-lhes inspiração para o recheio). Há uma hierarquia, os princípios são superiores às demais normas, uma vez que determinam integralmente qual há de ser a substância do ato pelo qual são executados: princípios como limite e conteúdo, enquanto as demais normas nunca chegam a determinar completamente as que lhe são inferiores.
	O autor menciona a semelhança entre a teoria dos valores e a dos princípios. Embora aqueles pertençam ao âmbito axiológico – cujo conceito fundamental é o do bem – e estes, ao deontológico – cujo conceito fundamental é o do dever-ser (Alexy 1993:139-41) -, aparecem no Direito como conteúdo e continente. No pensamento de Carlos Cossio: “os princípios referem-se a juízos estimativos que servem para regular comportamentos; sendo que ambos se interpretam mediante um juízo de ponderação, destinado a estabelecer “seu peso” no caso concreto. 
2.3. Distinções formais. A possibilidade de aplicação imediata dos princípios a casos concretos (p. 17-29)
	A diferenciação formal se baseia em que princípios são dotados de um elevado grau de abstração - o que não significa indeterminação - e, consequenteme,nte, de baixa densidade semântico-normativa (integrável por meio de interpretação, e aplicação, sobremodo através de outras normas, até mesmo individuais, como decisões judiciais e atos administrativos), ao passo que as demais normas (regras) possuem um menor grau de abstração e mais alta densidade normativa.
	O autor menciona palavras do Professor CANOTILHO (1993, p. 166), que nos ajuda a compreender isso aludindo ao "grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto" (que, nos princípios, por ser menor, estaria a demandar "mediações concretizadoras... enquanto as regras são suscetíveis de aplicação directa"). FERNANDO MUNIZ SANTOS (1995, p. 16) esclarece definitivamente que por densidade normativa "compreende-se a capacidade ou não duma determinada norma jurídica incidir num caso concreto de maneira direta, sem a necessidade da já 'mediação', por parte dos operadores jurídicos". Completa o professor Canotilho, que “qualquer que seja a indeterminabilidade dos princípios, isso não significa que eles sejam impredictíveis. Os princípios não permitem opções livres aos órgãos ou agentes concretizadores da constituição (impredictibilidade dos princípios); permitem, sim, projeções ou irradiações normativas com um certo grau de discricionariedade.
	Além disso, a determinação de sentido dos princípios depende sempre do contexto, correspondendo ao sentido que os respectivos valores assumem na realidade histórica: "o ordenamento jurídico não constitui um conjunto de regras jurídicas cujo sentido e alcance independe do contexto político e social, mas sim que tais regras estão subordinadas a fins em função dos quais devem ser interpretadas" (diz GRAU, p. 94, citando PERELMAN). 
	Da generalidade e da vagueza, pontua o autor, decorre a plasticidade que os princípios jurídicos apresentam, permitindo-lhes amoldarem-se às diferentes situações e assim acompanharem o passo da evolução social. Essa é uma característica predominantemente formal: prende-se antes a expressão linguística dos princípios que a seu sentido, visto que este deve ser sempre preciso em dado contexto, refletindo com precisão a tradução jurídico-normativa dos valores mais caros e oportunos.
	Desconsiderar que os princípios já carregam um certo e suficiente significado, e sustentar sua insuperável indeterminação, representa desprestigiar sua funcionalidade em termos de vinculação (obrigatoriedade), continuando-se a emprestar-Ihes uma feição meramente diretiva, de sugestão - o que não se compadece, absolutamente, com a franca normatividade que se lhes deve reconhecer. Portanto, inclusive quando os princípios não estejam retomados e desenvolvidos por preceitos mais precisos e específicos, é possível- embora de difícil operacionalidade - deduzir e atender pretensões imediatas com fundamento exclusivo nesses princípios jurídicos.
	Na precisa lição de Robert Alexy, ao passo que as regras normalmente são razoes “definitivas”, ou razões para ações, os princípios são “razões prima facie”, ou razões para normas. Todavia, mesmo os princípios podem ser “juízos concretos de dever-ser” (e as regras, razões para outras normas mais especificas). Porém, eles nunca serão “razões definitivas”, nisto distinguindo-se delas.
	O autor menciona o apontamento de Carmen Lúcia Rocha acerca da imprecisão como vantagem dos princípios: “A indeterminação dos conceitos havidos nas normas que expressam princípios, permite que estes sejam interpretados conforme o momento histórico e sua ambiência em dado local e segundo a disposição ideológica do povo pelo qual é aceito e assumido juridicamente. Assim, a não determinação dos conceitos pelos quais se apresentam os princípios constitucionais permitem a construção e atualização do direito, pela determinação permanente e engajada dos conteúdos nele inseridos quando da aplicação da(s) norma(s) na(s) qual(is) elesse apresentam.
	O traço distintivo reside, mais propriamente, na maneira como a “generalidade” se apresenta nas regras X princípios: “... a regra é geral porque estabeleci da para um número indeterminado de atos ou fatos. Não obstante, ela é especial na medida em que não regula senão tais atos ou tais fatos: é editada para ser aplicada a uma situação jurídica determinada. Já o princípio, ao contrário, é geral porque comporta uma série indefinida de aplicações.” (GRAU, ob. cit., p. 112, em DWORKIN e BOULANGER). Assim, percebe-se que a vagueza não é um defeito que os princípios apresentam, senão que um seu jeito de ser. Eles são naturalmente vocacionados para serem retomados e desenvolvidos por normas mais determinadas e especificas. Além disso, um tanto do que se pretende transmitir através dos princípios encontra dificuldades em expressão linguística, ou seja, os princípios não conseguem ser perfeitamente verbalizados, e o máximo que se consegue é uma formulação vaga.
	Conclui o professor Canotilho, que “A densificação dos princípios constitucionais não resulta apenas da sua articulação com outros princípios ou normas constitucionais de maior densidade de concretização. Longe disso: o processo de concretização constitucional assenta, em larga medida, nas densificações dos princípios e regras constitucionais feitas pelo legislador (concretização legislativo) e pelos órgãos de apl icação do direito designadamente os tribunais (concretização judicial) a problemas concretos...”
2.4- Distinções quanto à incidência (aplicação): conflito (colisão) e concorrência de princípios (p. 29-43)
	O âmbito de incidência dos princípios é maior que o das regras. “Eles exercem uma ação imediata, enquanto diretamente aplicáveis ou diretamente capazes de conformarem as relações politico-constitucionais. E exercem também uma ação mediata tanto num plano integrativo e construtivo como num plano essencialmente prospectivo” (J. Miranda (1988:199).
	O autor lembra que as demais normas jurídicas jamais esgotam os princípios, elas somente conseguem expressá-los de maneira incompleta. De outra banda, cada vez que uma regra qualquer é interpretada/aplicada, ela no deve ser em absoluta conformidade com os princípios. “A norma é limite, o principio é limite e conteúdo. A norma é a lei faculdade de interpretá-la ou aplica-la em mais de um sentido, e o ato administrativo a faculdade de interpretar a lei em mais de um sentido; porém, o principio estabelece uma direção estimativa, um sentido axiológico, de valoração, de espírito” (Augustin Gordillo, citado por Grau 1990:97-8).
	O esquema aberto de princípios e regras não se desenvolve apenas em uma direção, de cima para baixo, ou seja, dos princípios mais abertos para os princípios e normas mais densas, ou de baixo para cima, do concreto para o abstrato. A formação do sistema aberto consegue-se mediante em processo bi-unívoco de “esclarecimento recíproco” (Larenz). Os princípios estruturantes ganham densidade e transparência através das suas concretizações (em princípios gerais, princípios especiais ou regras), e estas formam com os primeiros uma unidade material (unidade da Constituição). Todos estes princípios e regras poderão ainda obter maior grau de concretização e densidade através da concretização legislativa e jurisprudencial.
	Onde a distinção entre regras e princípios se torna mais clara, na concepção de Alexy (1993:87), é na forma como se solucionam as “colisões de princípios” e os “conflitos de regras”. Quanto a estes: “Um conflito de regras só pode ser solucionado ou bem introduzindo em uma das regras uma cláusula de exceção que elimina o conflito ou declarando inválida, pelo menos, uma das regras. O fundamental é que a decisão é uma decisão acerca de validade.” Já quando princípios colidem, um deles “tem que ceder ante o outro. Porém isto não significa declarar inválido o principio afastado nem que no principio afastado tenha que se introduzir uma cláusula de exceção. O que sucede, mais exatamente, é que, sob certas circunstâncias, um dos princípios precede o outro. Nos casos concretos, os princípios tem diferente peso e que prevalece o principio com maior peso. Os conflitos de regras resolvem-se na dimensão da validade: a colisão de princípios – como só podem entrar em colisão princípios validos – tem lugar para além da dimensão da validade, na dimensão do peso. (1993:89)
	O autor cita Farias (1996:28), que por sua vez cita o pensamento da jusfilósofa italizana Letizia Gianformaggio, para quem “os princípios não são mais incompatíveis entre si: são sempre concorrentes”, aduzindo: “aplicar um principio implica também aplicar outros princípios com ele concorrentes no sentido de se alcançar o mínimo de restrição dos princípios envolvidos.” É possível falar, assim, da possibilidade de fragmentação dos princípios, onde parcelas de um ou diversos podem compor-se com parcelas de outro(s) e formar a norma de solução dos casos concretos.
	A seleção de princípios – explicita ou implícita – não vai se pautar por critérios formais como ocorre no conflito de normas (critérios temporal, critério de especificidade, critério de competência da autoridade etc.) Não, em sede de princípios a seleção se dará sempre a partir de critérios de conteúdo, guiados pelo critério de racionalidade adotado no caso especifico. (Marques Neto 1995:43)
	Não apenas a forma de aplicação dos princípios e das regras em relação às situações fáticas é diversa: mais, ocorre que os princípios incidem sobre as regras, sempre que as estas caiba disciplinar mais diretamente a realidade. As regras como objeto da incidência dos princípios. "Embora não se preste esta circunstância a distinguir os princípios das regras jurídicas, é certo que estas últimas operam a concreção daqueles: as regras são aplicações dos princípios". (GRAU, p. 133). “Tal concepção dos princípios é útil para demonstrar que a ordem jurídica não se restringe à pautas que encontram um certo respaldo institucional explicito em regras jurídicas, porém que se extende ao mundo dos valores éticos, políticos, etc., representados pelos princípios. Além disso, a concepção forte dos princípios oferece subsídio para a racionalidade da argumentação jurídica nos chamados hard cases.” (Edilsom Pereira de Farias (1996:23).
	Segundo Carmem Lucia A. Rocha, é, pois, a razoabilidade diferente da proporcionalidade, que impede excessos na aplicação dos princípios constitucionais, pois aquele permite que se conheça o espirito destes princípios e acerte-se a sua interpretação e, conseguintemente, a sua aplicação, vale dizer, permite que se conheça o principio considerado em si mesmo, enquanto a proporcionalidade possibilita que se o conheça em sua relação com os demais princípios e regras que compõe o sistema constitucional.
2.5- Distinção Funcional (p. 43-49)
	A funcionalidade elementar dos princípios jurídicos vem de seu mister enquanto norma. Aliás, ninguém menos que NORBERTO BOBBIO (p. 159) justifica assim a normatividade dos princípios: "a função para a qual são extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é. a função de regular um caso". 
Reiterando essa função “regulativa” que tem os princípios, Edilsom Pereira de Farias (1996:41-2) aponta ainda uma função hermenêutica, que serve de limite protetivo contra a arbitrariedade: “Os princípios são úteis em primeiro lugar para dirimir duvidas interpretativas ao ajudar a esclarecer o sentido de determinada disposição da norma... contudo, a singularidade dos princípios no campo da interpretação é que eles servem de guia para a sua própria aplicação. Isso acontece porque os princípios carecem de interpretação, e o agente jurídico terá que primeiramente interpretar os princípios retores de sua interpretação.” “Os princípios cumprem ainda a função de limitação da interpretação ao restringir a discricionariedade judicial. A referência obrigatória aos mesmos nos casos difíceis e duvidosos torna o processo de interpretação-aplicação do direito mais controlável e racional,porquanto evita que o operador jurídico invoque valores subjetivos não amparados de forma explicita no ordenamento jurídico.”
O autor concorda com Jorge Miranda (1988:200) que aponta a finalidade prospectiva desempenhada pelos princípios, nos seguintes termos: “Exercem, finalmente, uma função prospectiva, dinamizadora e transformadora, em virtude da força expansiva que possuem (e de que se acham desprovidos os preceitos, desde logo por causa das suas amarras verbais). Daí, o peso que revestem na interpretação evolutiva; daí, a exigência que contêm ou o convite que sugerem para a adopção de novas formulações ou de novas 'normas que com eles melhor se coadunem e que portanto, mais se aproximem da ideia de Direito inspiradora na Constituição (sobretudo, quando se trate de Constituição programática).”
Com efeito, essa a serventia dos princípios. Inclusive, nos c.asos em que o princípio constitucional é de alguma forma desenvolvido por outras normas (mesmo que tênue e insuficientemente, reclamando ainda e sempre uma melhor retomada) - sejam normas anteriores (recepção) ou posteriores ao advento da constituição - , há uma eficácia impeditiva de retrocesso, quer dizer, o princípio não admite que essa parca normatividade seja substituída por outra que o desenvolva menos ainda, ou que seja simplesmente revogada. Um tal desenvolvimento mínimo, embora insuficientemente, já está garantido. JOSÉ AFONSO DA SILVA (1982, p. 177), cita BALLADORE PALLIERI, que adverte: "uma vez dada a execução à norma constitucional, o legislador ordinário não pode voltar atrás".
Considerado, enfim, não apenas investidos de uma normatividade ordinária, senão que até privilegiadamente posicionados no escalonamento normativo, os princípios mostram-se inclusive hábeis a servir de índice para a fiscalização de constitucionalidade (PACTET, p. 464; Cleve, p. 35 - 36). Sobre a possibilidade de basear-se a declaração de inconstitucionalidade apenas em princípios constitucionais, afirma Carmen Lucia A. Rocha (1994:58): “No Brasil, o STF vem acatando a autonomia à suficiência dos princípios constitucionais como fundamento de arguição de inconstitucionalidade, havendo votos de eminentes Ministros daquela Casa que se embasam e se fundamentam exclusivamente nos mesmos”.
Por certo, um sistema jurídico carece de ambas as espécies normativas: tanto regras como princípios. 
2.6- Diferenciação Global (p. 49)
	As desigualdades das regras e princípios manifestam, na verdade, facetas de uma mesma realidade normativa. Tanto é, que se ressalva a possibilidade de uma mesma norma albergar a um só tempo princípios e regras (Alexy, 1993:137-8).
	Reconhecida, portanto, a distinção ontológica e teleológica; natural, formal e funcional, entre os princípios e regras constitucionais, convém, entretanto, insistir em remontar ao gênero comum de que ambas, em sua juridicidade, fazem parte: tanto princípios como regras são normas jurídicas.
3. Os princípios na concepção sistêmica do Direito (p. 51-54)
	O autor sintetiza que há sistema porque as diferentes normas que o compõem têm conteúdo e direção orientados pelos valores expressos nos princípios. Mesmo quando os princípios não eram tidos como preceitos de ordem jurídica e entendia-se, com o Jusnaturalismo, que se localizavam fora do Direito (numa dimensão transcendente: Deus, Razão...) ou quando, mais tarde, com o Positivismo, foram apresentados como derivados das normas jurídicas positivadas, encontrando-se no interior dos códigos e das leis (BONAVIDES, ob. cit., p. 232 e s.), os princípios sempre apareciam vinculados à ideia de sistema, como reitores, num ambiente logicamente organizado. 
A positivação dos princípios (de forma expressa, embora sem excluir a possibilidade de existência de princípios implícitos, inferidos da ordem jurídica18) e sua transposição dos códigos para a constituição (primeiro tomados como meras normas programáticas depois, em toda sua concretude e objetividade), com o reconhecimento definitivo de sua normatividade, revela uma evolução "pós-positivista" (BONAVIDES, p. 237 e s., especialmente p. 246) no caminho da transparência, conferindo-lhes maior certeza e legitimidade.
Ademais, os princípios constitucionais auxiliam a transitar de uma concepção sistêmica hermética (pouco permeável) e formal para uma concepção sistêmica aberta e material (FISCHER, 1995, p. 25).
Em suma: tem-se a possibilidade de se falar em um sistema constitucional aberto, composto por princípios e regras, orientando segundo valores, resultantes do compromisso firmado entre classes antagônicas, no momento constituinte, compromisso este que pode ser refeito em outras bases, consonantes com as mudanças de interesses e pretensões destas classes, sem que isto importe na destruição do sistema constitucional. (SANTOS, p. 15 e 20)
O autor faz menção à Carmen Lucia A. Rocha (1994:22-3) que ressalta que a atualização permanente do Direito Constitucional para que o sentido de justiça que a sociedade oferece e que se altera em cada tempo e local não se perca na poeira dos textos normativos... São os princípios que permitem a evolução do sistema constitucional pela criação ou recriação do sentido e da aplicação de suas normas, sem necessidade de modificação de sua letra, legitimando-se pela sua coerência com o contexto politico, social e econômico que a sociedade vivencia em determinado momento.
Por último, também em suas relações recíprocas os princípios constitucionais ordenam-se sistematicamente, pois atuam conjugadamente, completando-se, condicionando-se e modificando-se em termos recíprocos, sendo que tais relações “explicam a necessidade de estabelecer operações de concordância pratica” entre eles. (Canotilho e Moreira 1991:74 e 75).
3.1- Princípios implícitos (p. 54-58)
	Os princípios podem apresentar-se explícitos (com maior nitidez e segurança, embora então limitados pelas possibilidades da linguagem) ou implícitos, mas, numa formulação quanto na outra, exercendo idêntica importância sistemática e axiológica. Carlos Ari Sundfeld (1992:144) sintetiza: “Princípios implícitos são tão importantes quando os explícitos constituem, como estes, verdadeiras normas jurídicas. Por isso, desconhecê-los é tão grave quanto desconsiderar quaisquer outros princípios.” Isto permite falar de princípios codificados e outros provenientes da tradição.
	Carlos A. Sundfelt (1992:143) destaca: “Fundamental notar que todos os princípios jurídicos, inclusive os implícitos, tem sede direta no ordenamento jurídico. Não cabe ao jurista “inventar os seus princípios”, isto é, aqueles que gostaria de ver consagrados; o que faz, em relação aos princípios jurídicos implícitos, é sacá-los do ordenamento, não inseri-los nele”.
	O autor lembra nossa própria Constituição, no pródigo artigo 5º, que inaugura o titulo II, “Dos direitos e Garantias Fundamentais” –, após enumerar longa série de direitos, adverte, no paragrafo 2º, que esses “não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados...”, como a indicar que outros “direitos fundamentais” somente podem resultar de princípios contidos no sistema (ainda que não ostensivamente revelados). 
3.2- O princípio da unidade hierárquico-normativa da constituição e a concordância prática entre os princípios (p. 58-64)
	O fato da constituição constituir um sistema aberto de princípios insinua já que podem existir fenômenos de tensão entre os vários princípios estruturantes ou entre os restantes princípios constitucionais gerais e especiais. Considerar a Constituição como uma ordem ou sistema de ordenação totalmente fechado e harmonizante significa esquecer, desde logo, que ela é, muitas vezes, o resultado de um compromisso entre vários atores sociais, transportadores de ideias, aspirações e interesses substancialmente diferenciados e ate antagônicos ou contraditórios. O consenso fundamental quanto a princípios e normas positivo-constitucionalmente plasmados não pode apagar, como é obvio, o pluralismo e antagonismo de ideias subjacentesao pacto fundador. (Canotilho 1993:190).
	Por isso que os princípios nem estão naturalmente dispostos numa unidade perfeita (completa) nem se harmonizam espontaneamente (coerência), nem tampouco possuem idêntica importância. “ A unidade é ou pode ser uma “tarefa” a realizar, mas não é, certamente, uma estrutura já “preparada” ontologicamente, na qual se vai “integrar” uma constituição entendida como elemento ordenador de algumas dimensões do processo de integração” adverte Canotilho.
 Não é outra a impressão de Bastos e Brito (1982:66): ... Os valores e finalidades de umas e outras (normas-regras e normas-princípios) as desequiparam, funcionalmente, de modo a se inferir, do próprio sistema, um escalonamento hierarquizado quando à abrangência dos seus conteúdos jurídicos. Romeu F. Bacellar Filho (1998:147-8) adverte que vigora, no sistema brasileiro, o principio da unidade normativa da Constituição, o que não impede a afirmação da hierarquia axiológica dos princípios constitucionais sobre as regras constitucionais”.
O autor cita Marques Neto (1995:43) que sintetiza: “o fato de existirem critérios formais para seleção de princípios eventualmente colidentes afasta desde logo qualquer alusão a uma norma superior, extra-sistema, sobre a seleção dos princípios. Tal "regra" inexistente, ademais, pelo simples fato de que a seleção de um determinado plexo de princípios em detrimento de outros somente pode ser analisado dentro de um contexto específico. Ou seja, trata-se de uma pauta de seletividade perpassada por uma racionalidade ao mesmo tempo teleológica e conjuntural”. 
Os princípios constitucionais possuem marca distintiva, embora atuem conjugadamente, complementando-se, condicionando-se e modificando-se em termos recíprocos. Tudo porque assentam-se em base antropológica comum: a dignidade da pessoa humana. Em sua interação recíproca, ocorrem deslocações compreensivas, ou seja, modificações no entendimento do conteúdo de um principio podem produzir reflexos na compreensão de outro. Tais relações explicam a necessidade de estabelecer operações de concordância prática: não se admitem sacrifícios unilaterais de um principio em relação ao outro, antes, reclama-se a harmonização... (Bacellar Filho 1998:148).
Quando a incompatibilidade surgir entre princípios e regras, estando ambos estampados na constituição, estas é que deverão prevalecer. Para solucionar tal impasse, adota-se o critério hermenêutico da exceção (pontual e restrita), imaginando-se que o constituinte, ciente do principio que ele mesmo adotou como norma geral, previu expressa e especificamente alguma regra de exceção. “O principio jurídico é norma de hierarquia superior à das regras, pois determina o sentido e o alcance destas, que não podem contrariá-lo, sob pena de por em risco a globalidade do ordenamento jurídico. Deve haver coerência entre os princípios e as regras, no sentido que vai daquele para estas.” (Sundfelt 1992:140)
3.3- Os limites da formulação racional: acesso sentimental aos princípios (p. 64-67)
O “acesso” à constituição é proporcionado não apenas pelos recursos intelectuais (os mais certos e objetivos), mas, ainda, por meio de sentimentos, intuições e vontades, que não podem ser desprezados. Nessa linha, o autor cita Luiz Fernando Coelho (1983:39) que acrescenta: “Mas uma vez criado, o direito está na experiência, seja na experiência empírica de quem tem o contato fatual com a realidade que se pressupõe esteja fora da consciência, seja a experiência intuitivo-emocional dos valores intersubjetivos...”. 
Os princípios que não conseguem ser perfeitamente formulados e compreendidos através da linguagem conseguem, porém, traduzir sentimentos. Quiçá por isso a apreensão que se tenha dos princípios é, muitas vezes ou em parte, intuitiva: é uma impressão. Para que o fenômeno de aplicação do direito não descambe para a irracionalidade (e acabe, talvez, por assentar-se no lastro da força bruta, econômica ou física), impõe-se, após a revelação e aceitação dessa dimensão não intelectual dos valores, uma fundamentação funcional e razoável.
 
4- Classificação dos princípios constitucionais (p. 67-71)
	De modo geral, as classificações orientam-se por um critério de generalidade/positividade,24 apresentando por primeiro princípios gerais de Direito, em seguida princípios básicos mas referidos a um determinada concepção político-social, e finalmente princípios mais específicos dotados de uma maior precisão. 
	O autor cita a classificação de LUÍS ROBERTO BARROSO (p. 26), tomando a Constituição brasileira de 1988 e levando em conta o grau de importância e abrangência dos princípios, triparte-os em: 
- princípios fundamentais ("que contêm as decisões políticas estruturais do estado"): o republicano (Constituição brasileira, artigo 1°, caput), federativo (artigo 1°, caput), do Estado democrático de direito (artigo 1°, caput), o da separação de Poderes (artigo 2°), o presidencia1ista (artigo 76) e o da livre iniciativa (artigo I°, IV); 
- princípios constitucionais gerais (desdobramentos menos abstratos dos princípios fundamentais,. equivalendo aos "princípios-garantia" de CANOTILHO): O da legalidade (artigo 5°, II), o da isonomia (artigo 5°, caput e I), o da autonomia estadual e municipal (artigo 18), o do acesso ao Judiciário (artigo 5°, XXXV), o da irretroatividade das leis (artigo 5°, XXXVI), o do juiz natural (artigo XXXVII e LIII) e o do devido processo legal (artigo 5°, LIV); 
- princípios setoriais ou especiais ("presidem um específico conjunto de normas afetas a um determinado tema, capítulo ou título da Constituição... Por vezes são mero detalhamento. dos princípios gerais, como os princípios da legalidade tributária ou da legalidade penal. Outras vezes são autônomos, como o princípio da anterioridade em matéria tributária ou odo concurso público em matéria de administração pública"): relativos à Administração pública (o da legalidade administrativa - artigo 37, caput"): o da impessoalidade - artigo 37, caput, o da moralidade - artigo 37, caput, o da publicidade - artigo 37, caput, o do concurso público - artigo 37, II; o da prestação de contas - 70, p. ún.; 34, VII, "d", e 35), relativos à organização dos Poderes (o majoritário, o proporcional, o da publicidade e da motivação das decisões judiciais e administrativas - artigo 93, IX e X; o da independência e da imparcialidade dos juízes - artigo 95 e 96; o da subordinação da Forças Armadas ao poder civil - artigo 142); relativos à tributação e ao orçamento (o da capacidade contributiva - artigo 145, III; o da legalidade tributária - artigo 150, I; o da isonomia tributária - artigo 150, II; o da anterioridade da lei tributária - artigo 150, III; o da imunidade recíproca das pessoas jurídicas de direito público - artigo 150, VI, "a", o da anuidade orçamentária - artigo 165, III; o da universalidade do orçamento - artigo 165, parágrafo 5°; o da exclusividade da matéria orçamentária - artigo 165, parágrafo 8°), os relativos à ordem econômica (o da garantia da propriedade privada - artigo 170, lI; o da função social da propriedade - artigo 170, III; o da livre concorrência - artigo 170, IV; o da defesa do consumidor - artigo 170, V; o da defesa do meio ambiente - artigo 170, VI) e os relativos à ordem social (o da gratuidade do ensino público - artigo 206, IV; o da autonomia universitária - artigo 207; o da autonomia desportiva - artigo 217, I). 
O autor explica que todas as propostas de classificação podem ser adotadas. O critério classificador é que importa. Já a utilidade das classificações é discutível e talvez resida antes no efeito aglutinador, que permite reunir princípios afins e assim apresenta-los melhor, do que na revelação de características próprias dos diversos grupos (para o que as tipologias não se mostram muito eficientes).
5- A localização dos princípios constitucionais e o preâmbulo (p. 73-76)
	A residência dos princípios na constituição tem implicação com a caracterização e funcionalidade deles. “Pela sua próprianatureza e função, os princípios não carecem de sede fixa no texto constitucional; os que lhe não sejam exteriores (ou anteriores) podem dele ser simplesmente induzidos. Raras vêm a ser, no entanto, as Constituições, nas quais, em lugares variáveis, não apareçam enumerados princípios de que terá havido consciência aquando da sua elaboração ou a partir de alguns dos quais não se terá pretendido mesmo organizar o sistema constitucional. (MlRANDA, ob. cit., p. 204).”
	O preâmbulo, sozinho, bem mereceria um estudo à parte. “Exerce a função de apresentação do poder constituinte, além de outros aspectos de ordem formal-legal (relativos à promulgação), revelando forte traço político-ideológico, e não raro uma preocupação estética (literária): para MIRANDA (1998:209), "as palavras adquirem aqui o seu valor semântico e a linguagem todo o seu poder simbólico". A inauguração dos textos constitucionais por preâmbulos responde, assim, a uma intenção de pompa ("solene declaração", na expressão de SLAIBI FILHO, 1989, p. 119). Afirma-se que o preâmbulo relaciona-se aos "antecedentes e enquadramento históricos da Constituição, bem como à sua justificação e aos seus grandes objetivos" (parecer da Comissão de Sistematização da Assembléia Constituinte portuguesa de 1976, referido por MIRANDA, 1998, p. 208)
	O autor afirma que se o alcance do preâmbulo é debatido na doutrina, como assinala Verdú (1997:94), certo é que “serve como base interpretadora do resto da Constituição.” Observe-se a correspectividade entre o preâmbulo e as disposições do Título I da Constituição, sobre os princípios fundamentais, disposições a que ninguém negaria a força de comando imperativo. Em face de tal correspectividade, parece vencida, ao menos na Constituição de 1988, qualquer tentativa de se negar validade jurídica ao preâmbulo. (SLAIBI FILHO, ob. cit., p. 120). Não deixa, por conseguinte, de ser importante e útil a sua proclamação (dos princípios) no pórtico da Constituição. As disposições constitucionais poderão, em certos casos, consumir todas as afirmações nele contidas; só que o preâmbulo como que as unifica e as liga global dialeticamente. Ainda que, no plano dos conceitos, se admita que nada lhes acrescenta, no plano dos valores, da sua impulsão orientadora, do seu estímulo crítico, a diferença parece nítida. (MIRANDA, ob. cit., p. 211 - 212)
	O autor conclui que não há, portanto, um local especifico, uma sede reservada para os princípios na constituição. Eles costumam apresentar-se desde o preâmbulo e podem ser encontrados em qualquer ponto da Constituição ou mesmo dos demais atos normativos infraconstitucionais que compõe o sistema jurídico. 
6- O caráter retórico dos princípios enquanto decisões politicas fundamentais (p. 77-79)
	Os princípios, portadores dos mais altos valores que uma dada sociedade \ resolve transformar em preceitos jurídicos, revelam as "decisões políticas fundamentais" (CARL SCHMITT), tendo, portanto, uma iniludível carga ideológica, que deve ser reconhecida, assumida e prestigiada ou criticada. Impossível a assepsia por meio de princípios "neutros".
	O autor esclarece citando Pablo Lucas Verdú (1997:50) que define a acepção do termo “ideologia”: “Toda constituição espelha-se em um ideologia. Aqui não empregamos ideologia em um sentido marxista, quer dizer, mascarar o poder em prejuízo dos trabalhadores alienados, senão que em sentido técnico-politológico, a saber: conjunto de ideias, preconceitos e inclusive sentimentos, sobre o modo de organização do exercício e objetivos do poder politico na sociedade.”
	Antes ainda, impõe-se fazer dos princípios constitucionais, deliberadamente, ferramentas das tensões e intenções da população a que o ordenamento jurídico se reporta. A carga político-ideológica, com suas fantasias, Seus medos, seus anseios e seus preconceitos, deve refletir a realidade vivida, sentida e sonhada pelos participantes da aventura social. Em uma suma: os princípios têm mesmo de rechear-se com determinado conteúdo ideológico, e prestam-se magnificamente para tanto.
	Ademais, servem os princípios para inestimáveis fins argumentativos, como critérios de seleção dos topoi (CANOTILHO, referido por BONAVIDES, ob. cit., p. 256; VIEHWEG, 1979) ou mesmo como autênticos tópicos (fornecendo conteúdos decisórios), podendo assim desempenhar suas elevadas funções, sempre com o redobrado cuidado para não se diluírem em retórica vã ludibriante, com o que se mostrariam ainda atados à ultrapassada concepção que não lhes reconhecia caráter jurídico-normativo (mas os via, sim, como meras diretivas), numa tentativa intencional de tomar inócuos os valores neles consagrados, subtraindo-lhes as virtudes que uma identificação autenticamente jurídica pode proporcionar.
	É preciso, portanto, assumir inteiramente as “decisões politicas fundamentais” (“politicas” em sentido amplo) expressas pelos princípios constitucionais e extrair do discurso destes todo apelo argumentativo, sem se deixar iludir por “desvios retóricos”.
7- Conclusão (p. 81-83)
	Os direitos constitucionais não são outros que os princípios gerais de Direito: preceitos que consagram os valores mais importantes (ou cuja chancela jurídica é reputada mais conveniente) num determinado contexto histórico, e que só podem fazê-lo adequadamente por meio de enunciados vagos e ajustáveis. 
O autor afirma que devem os princípios ser reconhecidos como autênticas normas jurídicas, comandos vazados em linguagem deôntica (prescritiva), ainda que não se identifiquem com as outras espécies jurídico-normativas. 
Distinguem-se os princípios das demais normas jurídicas (as regras) em diversos aspectos. Já pelo conteúdo (os princípios incorporando primeira e diretamente valores ditos fundamentais, enquanto as regras destes se ocupam num segundo momento, além de poderem ter outras preocupações menores), mas também pela apresentação ou forma enunciativa (vaga, ampla, aberta, dos princípios, contra uma maior especificidade das regras), pela aplicação ou maneira de incidir (o princípio incidindo sempre, porém às vezes mediado por regras, e jamais excluindo outros princípios concorrentes, que podem conjugar-se. ou ser afastados apenas para o caso concreto as regras incidindo direta e exclusivamente, constituindo aplicação integral e estrita dos princípios, e eliminando outras conflitantes) e pela funcionalidade (que é estruturante e fundamentadora nos princípios, enquanto as regras descem à regulação específica). Traduzem ambos - princípios como regras- expressões de realidades distintas com matriz comum: variedades de normas jurídicas.
Outrossim, os princípios constitucionais servem de parâmetro excelente à constitucionalidade das normas. E, trazendo em si o norte axiológico do ordenamento jurídico, os princípios reclamam retomada e aperfeiçoamento através de atividade normativa integradora, incorporando e garantindo desde logo um eventual desenvolvimento já verificado, dotados que são os princípios de uma eficácia impeditiva de retrocesso.
A racionalidade que constrói e permite compreender o ordenamento jurídico insere os princípios numa concepção sistêmica do Direito, mas aberta, compreensiva e complementar, ou seja, não exclusiva, admitindo também uma abordagem e respostas tópicas dos problemas concretos, bem como uma apreensão "metaconsciente" (psicológica, sentimental, inconsciente) do fenômeno jurídico.
Os princípios jurídicos, constitucionalizados, indicam os valores em que se assenta e para onde se orienta uma comunidade, sempre ao encontro de uma nova redenção.
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