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Centro de Ciências Sociais Aplicadas Da globalização à crise subprime: O papel do Estado na economia Kethellyn Soares Recife 2013 INTRODUÇÃO O presente trabalho busca compreender as consequências econômicas do fenômeno da globalização bem como o papel do Estado ao longo do século XX principalmente a partir da crise no socialismo real. Também Perceber por que ocorreu o processo de privatizações e desregulamentação financeira e como este foi apontado como principal causa da crise do subprime no EUA, analisando quais as principais medidas de combate a esta crise e sua semelhança com a crise de 1929 e a crise atual na União Europeia. Diante do cenário da globalização e integração dos mercados financeiros faz-se necessário a reflexão sobre o papel do Estado na economia. É importante compreender como a desregulamentação da economia foi decisiva para que crise do subprime se espalhasse pelo mundo inclusive afetando o Brasil, dessa forma saberemos quais politicam estão sendo tomadas para sanar essa crise que muitos afirmam ser a pior desde a crise de 1929. Para alcanças os objetivos propostos foram consultados especialistas na área de economia por meio de diversos artigos publicados em revistas eletrônicas especializadas na área e também em portais de diversas universidades. O trabalho conta com além desta introdução, mais quatro seções que explanam claramente os temas propostos e por fim a conclusão, onde apresento o que foi apreendido bem como minha análise sobre o assunto. O papel do Estado na economia e a crise no socialismo real. Após a crise de 1929 o liberalismo clássico declinou fortemente colocando em xeque o papel que o Estado deveria desempenhar na economia. Ganhou força teorias de intervenção do Estado na economia, notadamente as ideias de Keynes . Em 1944 os países industrializados criaram os acordos de Bretton Woods tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes e estabeleceram regras intervencionistas para a economia mundial e a adoção de políticas keynesianas. Entre outras medidas, surgiu o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (International Bank for Reconstruction and Development, ou BIRD) (mais tarde dividido entre o Banco Mundial e o "Banco para investimentos internacionais") e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Após o fim da 2º guerra mundial mundo estava agora divido em dois sistemas antagônicos de um lado os Estados Unidos da América liderava o bloco capitalista do outro a URSS liderava o bloco socialista e por algum tempo essas duas potências se “equiparavam” economicamente falando. Em certa medida esse papel intervencionista do estado estava relacionado com a competição capitalismo versus socialismo. O sistema clássico capitalista tinha levado a uma situação extrema de desemprego e pobreza dos trabalhadores na crise de 1929, o que poderia levá-los a se sentir atraídos pelas ideias socialistas, que visavam uma distribuição igualitária e maior empoderamento da classe proletária. A partir da década de 1970, a União Soviética apresentaria traços de crise que se tornariam cava vez mais agudos até culminar em sua fragmentação. O excesso de centralização do poder na classe de dirigentes, bem como os privilégios que funcionários de alto escalão do governo passaram a desfrutar ,que não faziam parte do cotidiano da maioria da população eram grandes contradições, pois o socialismo buscava a construção de uma sociedade igualitária. Os sinais de esgotamento econômico também começaram a aparecer e isso se tornou evidente com a divulgação de problemas graves, como a falta de alimentos, já que a capacidade de produção estava sendo direcionada para fabricação de armamentos. Todos esses fatores afetaram profundamente o sistema socialista causando uma imensa insatisfação popular com o sistema. Em 1985, Mikhail Gorbatchev assume o poder na União Soviética e dedica-se a uma possível solução dos problemas assim ele lança dois projetos: a Perestroika e a Glasnost. O primeiro tratava-se de uma tentativa de reestruturação econômica. Já o segundo, propunha a transparência política. Era tarde demais a insatisfação da população já era suficientemente grande e a maioria já desejava o fim por completo do sistema. Isto enfraqueceu ainda mais a tentativa de reestruturação e em 1991 a derrota da União Soviética foi aficialmente declarada pelo novo presidente russo Boris Yeltsin A denominação “socialismo real” se refere ao fato de que o socialismo tal como as nações instituíram não se enquadrava nos moldes propostos por Karl Marx e Friedrich Engels, ou seja essa nomenclatura foi literalmente pra falar do socialismo que fora posto em prática. A globalização e as privatizações: uma redefinição do papel do Estado A crise do socialismo real colocou em xeque a função de Estado definida tal como em Bretton Woods. Para grande parte do mundo o socialismo nos moldes soviéticos não parecia mais uma alternativa viável sob o prisma da opinião pública. É neste contexto que em 1989 reuniram-se em Washington, convocados pelo Institute for International Economics, entidade de caráter privado, diversos economistas latino-americanos de perfil liberal, funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo norte-americano. John Willianson, economista inglês e diretor do instituto promotor do encontro, foi quem alinhavou os dez pontos tidos como consensuais entre os participantes. E quem cunhou a expressão "Consenso de Washington", através da qual ficaram conhecidas as conclusões daquele encontro, ao final resumidas nas seguintes regras universais: 1. Disciplina fiscal, através da qual o Estado deve limitar seus gastos à arrecadação, eliminando o déficit público; 2. Focalização dos gastos públicos em educação, saúde e infra- estrutura 3. Reforma tributária que amplie a base sobre a qual incide a carga tributário, com maior peso nos impostos indiretos e menor progressividade nos impostos diretos 4. Liberalização financeira, com o fim de restrições que impeçam instituições financeiras internacionais de atuar em igualdade com as nacionais e o afastamento do Estado do setor; 5. Taxa de câmbio competitiva; 6. Liberalização do comércio exterior, com redução de alíquotas de importação e estímulos á exportação, visando a impulsionar a globalização da economia; 7. Eliminação de restrições ao capital externo, permitindo investimento direto estrangeiro; 8. Privatização, com a venda de empresas estatais; 9. Desregulação, com redução da legislação de controle do processo econômico e das relações trabalhistas; 10. Propriedade intelectual. Em súmula, é possível afirmar que o Consenso de Washington faz parte do conjunto de reformas neoliberais que apesar de práticas distintas nos diferentes países, está centrado na desregulamentação dos mercados, abertura comercial e financeira e redução do tamanho e papel do Estado com ênfase na privatização. Diversos autores afirmam que o termo globalização se refere ao processo de internacionalização econômica social, cultural e política. É gerado pela necessidade de dinâmica no capitalismo que requer maiores mercados e maior integração mundial, permitindo assim um maior fluxo de mercadorias, informações e transações financeiras. “A globalização está intimamente associada ao surgimento do Estado Neoliberal, que teve a sua origemno início do século XX na Inglaterra, mas que se consolidou apenas no governo da Primeira Ministra Margareth Tacher” (SOUSA, 2011, p.2) Os impactos do consenso de Washington começaram a ser fortemente sentidos no Brasil na década de noventa onde o atual presidente era Fernando Collor de Melo. Deu-se inicio à era das privatizações “caracterizada pela interferência mínima do Estado na economia em suas principais áreas e que antes eram controladas em quase que exclusivamente pelo poder público, como educação, saúde, habitação e segurança.” (SOUSA,2011,p.6). Depois de Collor Fernando Henrique Cardoso intensificou o processo de liberalização e privatização. “[...] O Brasil contou com um exuberante montante de Investimento Direto Estrangeiro (IDE), entretanto, tais investimentos concentraram-se em aquisições de empresas públicas e privadas nacionais, sobretudo no setor de serviços. Investimentos concentraram-se principalmente no setor de energia elétrica (US$ 34,3 bilhões), de telecomunicações (US$ 26,4 bilhões) e o terceiro em importância, o setor financeiro (cerca de US$ 18 bilhões) [...] “(GENNARI 2001,p.10) Da desregulamentação financeira à crise do subprime Desde a década de 1980 os Estados Unidos baseia seu setor financeiro na liberalização. De fato a globalização financeira gera grande mobilidade de capitais. O mercado globalizado é um mercado desregulamentado, sobre o qual os Estados possuem cada vez menos controle. Segundo Arienti e Inácio (2010,p.6 e7) essa liberalização financeira também atingiu o mercado imobiliário de forma que esse setor passou a apresentar : “elevado grau de desregulamentação, assim como a predominância da securitização e da utilização de novos produtos financeiros como formas de reduzir os riscos na ampliação dos ganhos recebidos. A crise subprime do mercado imobiliário norte-americano ocorre, portanto, num segmento do setor financeiro dos Estados Unidos marcado pela desregulamentação, securitização e pela proliferação de produtos financeiros complexos. Esse contexto estimulou a especulação e permitiu ao mercado subestimar os riscos e precificar mal os seus ativos.” A securitização, que é a transformação de dívidas em ativos para vender a investidores, esse mercado desenvolve o processo de criação de novos produtos financeiros, que buscam proteger as aplicações contra a inflação e a grande variabilidade das taxas de juros e de câmbio, mas ao mesmo tempo facilita a especulação e a volatilidade do mercado de capitais. Dessa forma os investidores, supostamente com garantias de risco, Passaram a ser credores de pessoas que não tinham emprego nem renda comprovada sem poderem dar garantias se o risco era aceitável.Com um baixa taxa de juros inicial. De acordo com Arienti e Inácio (2010) Agentes que já possuíam hipotecas passaram a adquirir outras, para aproveitar as taxas de juros baixas no início do empréstimo e investir o recurso em um produto financeiro mais lucrativo.Isso acabou por gerar uma bolha no mercado. A crise veio a ocorrer quando essas taxas de juros aumentaram e os tomadores não tiveram mais como pagar suas dívidas, muitas vezes a dívida estava maior do que o valor dos imóveis. Isso gerou uma corrida para venda desses títulos o que causou queda ainda maior no preço. A partir de então as desconfianças dos investidores começou a se concretizar e muitos buscaram vender esses papéis para minimizar as percas isso gerou no final de 2006 a crise no mercado subprime. Nesse cenário muitas empresas tornaram-se insolventes outras faliram ou chegaram muito perto disso. Graças à globalização financeira e a desregulamentação desse mercado a crise se espalhou para o mundo a bolsa de valores de vários países caiu e os governos de maneira geral tiveram de intervir na economia para proteger o mercado interno. Nas medidas de combate a crise nos países centrais houve mecanismos de intervenção estatal na economia sobretudo pela atuação dos bancos centrais e de pacotes de ajuda governamental para instituições financeiras.Nozaki citando Bernanke lança: “No começo de 2009 o” governo dos EUA anunciou um novo Plano de Estabilidade prevendo: aportes de capital do Tesouro para as instituições bancárias que não conseguissem levantar capital junto aos investidores privados e saneamento das carteiras de ativos ilíquidos do sistema bancário, num montante que poderia variar de US$ 500 bilhões a US$ 1 trilhão.” Já no Brasil Nozaki (2011, p.44) destaca as seguintes medidas: “Medidas emergenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil e pelo Ministério da Fazenda, com a liberação de parcela dos compulsórios dos bancos, tanto desobrigando da aplicação em títulos do tesouro como autorizando seu uso na aquisição de carteiras de crédito de instituições financeiras em dificuldade; como a realização de leilões de moeda estrangeira, o reforço da carteira de bancos oficiais além das isenções tributárias (como do IPI de automóveis, eletrodomésticos e construção civil, e do IOF para créditos a pessoas físicas); bem como as ações dos bancos públicos (CEF, BB e BNDES) que ampliaram de maneira importante o volume de crédito para o financiamento de grandes montantes de investimentos, tanto em obras sociais – setor de habitação,por exemplo – como na realização de projetos de infraestrutura e de expansão da estrutura produtiva.” Semelhança com as crises de 1929 e na zona do euro No cenário da primeira guerra mundial os Estados Unidos se sobressaio como a grande potencia mundial.Ele emprestava dinheiro para países europeus e produzia grande parte do que o mundo necessitava no momento, já que a Europa estava devastada pela guerra. A Europa aos poucos se recuperou mas a produção norte americana não diminuiu o estado não intervinha na economia para orientar os produtores havia a cença de que o próprio mercado estabilizaria a oferta com a demanda.Tudo isso levou em 1929 à explosão da crise de superprodução o Crack da Bolsa de Nova York foi o anúncio da expansão da grande depressão capitalista.A crise afetou o mundo inteiro, inclusive o Brasil que na ocasião teve sua produção de café queimada para tentar conter os preços do produto. Muitos economistas consideram a crise de 2008 a mais severa desde a crise de 1929, outros discordam. Sobre isto a Associação Brasileira Keynesiana na pessoa de Lourdes Rollemberg aponta: “A crise financeira que assola o mundo é grave. Nada lhe é comparável desde 1929. É uma profunda crise de confiança decorrente de uma cadeia de empréstimos originalmente imobiliários baseados em devedores insolventes que, ao levar os agentes econômicos a preferirem a liquidez e assim liquidar seus créditos, está levando bancos e outras empresas financeiras à situação de quebra mesmo que elas próprias estejam solventes.”(2008 ,p.5) Ambas as crises tiveram origem nos Estados Unidos mas com causas e medidas de combate bastante diferentes.Enquanto a crise de 1929 foi uma crise de superprodução onde o Estado hesitou em intervir na economia para conter a crise sendo que o principal advento de recuperação econômica foi a segunda grande guerra. a crise atual teve inicio no setor imobiliário, a famosa bolha imobiliária, Desta vez o Estado não demorou a agir e interviu na economia quando percebeu que a gravidade da crise era grande.Assim Rollemberg destaca: “Certamente com cicatrizes para os Estados Unidos e com prejuízos para todos, inclusive cerca de dois anos de recessão.Mas não teremos nada parecido com a depressão dos anos 1930, porque, naquela época, o governo norte- americano demorou quase quatro anos para agir. Agora, usando instrumentos keynesianos e pragmáticos, não apenas ogoverno dos Estados Unidos, mas todos os governos relevantes financeiramente estão agindo imediatamente, e com força.” (2008 ,P.6) A economia mundial tem experimentado um crescimento lento desde a crise financeira dos Estados Unidos entre 2008 e 2009. A crise americana expôs as políticas fiscais insustentáveis dos países na Europa e no mundo. A crise financeira de 2008 deixou os investidores muito mais inseguros, a qualquer risco de perigo eles tendem a não investir e levar seu dinheiro para países com economias mais sólidas, mesmo que rentabilidade nesses países seja menor. As chamadas “bolhas” de diversos países europeus se desfizeram e a crise se espalhou na Europa. Uma menor segurança quanto ao pagamento faz com que credores dos títulos da dívida pública exijam maior rentabilidade. Aliado ao gasto do governo torná-se insustentável a situação de alguns países na zona do euro. Portugal , Irlanda , Itália , Grécia e Espanha ,batizados de “Piigs” são os que apresentam as maiores dificuldades. Em relação à semelhança com a crise subprime podemos destacar a insegurança dos investidores para emprestar dinheiro aos países numa pior situação, o que poderia levar à falência de alguns bancos (como aconteceu nos EUA) e aprofundar ainda mais a crise. Poderiam alguns pensar que a austeridade seria a saída mais viável para conter a crise na zona do euro mas especialistas apontam que a crise fiscal não poderia ser resolvida dessa maneira,uma vez que isto dificultaria o crescimento dos países que já estão em crise, colocando em xeque te mesmo a permanência desses países na zona do euro. Países menores que tem economias menos robustas necessitariam de políticas macroeconômicas diferentes da de países mais robustos, por exemplo, a desvalorização cambial para impulsionar exportações, mas a permanência desses países na zona do euro impossibilita essas alternativas. Apesar da ajuda do banco central europeu para conter a crise as medidas são inexpressivas para o tamanho do problema e exigem muito mais que austeridade fiscal. CONCLUSÃO Primeiramente foi apresentado o tema do trabalho bem como sua justificativa e relevância. Também os objetivos e os meios utilizados para concretizá-los. Na primeira parte do desenvolvimento foi analisado o papel do Estado na economia no século XX que após a crise de 1929 passou a adotar uma política intervencionista também o que foi de fato o “socialismo real” e como ele fez declinar o socialismo na extinta URSS. Em seguida foi mostrado como a crise no socialismo real levou a uma redefinição do papel do estado com grande ênfase nas privatizações e na desregulamentação financeira esta também devido a própria globalização. A partir de então é estabelecida a relação direta entre a desregulamentação financeira e a crise subprime. Ainda quais foram as medidas de combate a esta crise e como a globalização dos mercados possibilitou que ela se espalhasse pelo mundo. A última parte do desenvolvimento aponta como a crise atingiu fortemente os países da zona do euro apontando quais as semelhanças e diferenças da crise de 2008 com a crise de 1929 e a crise na União Europeia atualmente. A crise do subprime deixou claro que não se pode confiar apenas nos mecanismos autorreguladores do próprio mercado e que as medidas efetivas de combate passam fortemente por uma maior intervenção do Estado na economia. A crise norte americana contou com a ajuda do Estado para o país e os sinais de recuperação já começam a ser sentidos. A crise na Europa ainda parece está longe de uma solução definitiva apesar da ajuda oferecida aos países mais necessitados. Parte disso se deve ao fato de que países diferentes com economias tão distintas exigem políticas macroeconômicas diferente e os governos não querem aceitar que sonho da unificação mundial, com uma só moeda como é lá pode não está funcionando e pior ,está afundando ainda mais os países numa recessão sem precedentes. REFERÊNCIAS ARIENTI, Patricia Fonseca Ferreira ; INÁCIO, Janypher Marcela. Instabilidade, desregulamentação financeira e a crise do sistema financeiro atual. Cadernos Cedec, nº 90 (Edição especial Cedec/INCT- INEU), nov. 2010. Disponível em : <www.cedec.org.br/files_pdf/CAD90.pdf> .Acesso em 20/09/2013. GENNARI, Adilson Marques. Globalização, neoliberalismo e abertura econômica no Brasil nos anos 90. PESQUISA & DEBATE, SP, volume 13, n. 1(21), p. 30-45, 2001.Disponível em :<revistas.pucsp.br/index.php/rpe/article/download/12029/8709> Acesso em :19/09/2013. KEYNESIANA, Associação Brasileira. Dossiê da Crise. 2008. 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