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CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ – UNIDAVI Área das Ciências Socialmente Aplicáveis Curso de Direito – 7ª Fase Direito Processual Penal I Claudio Augusto Lima da Costa Acadêmicas: Angélica Ritter Machado Caroline do Carmo Flávia Caroline Busana Tamara Roberta Hiller Thais Varela PRINCÍPIOS NO PROCESSSO PENAL O princípio da não culpabilidade, também conhecido como princípio da presunção de inocência, tem previsão legal no artigo 5º, inciso LVII, da CRFB/88, que dispõe: “LVII – ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal condenatória.” Tal princípio significa que todos deverão ser considerados inocentes, até que sobrevenha sentença penal condenatória transitada em julgado. É uma forma de garantia individual face a figura do Estado- acusação. Garante que o ônus da prova cabe a acusação, que deverá produzir provas suficientes a fim de comprovar a culpabilidade do acusado, e assim, consequentemente, sua condenação frente o Estado-juiz. De acordo com Guilherme de Souza Nucci (2015): “Tem por finalidade servir de obstáculo à auto acusação, consagrando o direito ao silêncio. Afinal, se o estado natural é de inocência, ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo. Por derradeiro, reforça o princípio da penal da intervenção mínima do Estado na vida do cidadão, uma vez que a reprovação penal deve dar-se apenas quando absolutamente indispensável. Criminalizar todo e qualquer ilícito, transformando-se em infração penal, não condiz com a visão democrática do Direito Penal. O estado de inocência somente merece ser alterado para o de culpado quando se tratar de delitos realmente importantes – e não singelas insignificâncias ou bagatelas.” (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 12. ed. rev. atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015.) O princípio, ainda, demonstra a excepcionalidade das medidas cautelares de prisão, como a prisão temporária e a prisão preventiva, que somente poderão ser decretadas, quando cumpridos os requisitos previstos em Lei. O mesmo ocorre com outras medidas constritivas de direitos, como a quebra de sigilos fiscais, bancários e telefônicos, que somente serão decretadas quando indispensáveis à instrução criminal. Desta forma, verifica-se que o princípio visa proteger a integridade do acusado frente ao Estado-acusação, evitando restringir eventuais erros e possíveis arbitrariedades. Recente julgamento do Supremo Tribunal Federal, em Habeas Corpus, gerou grandes discussões acerca do princípio da não culpabilidade. Ao julgar o Habeas Corpus 126292, em 17/02/2016, a maioria dos ministros da Suprema Corte entenderam que a prisão do acusado, após decisão de segunda instancia que confirma sentença penal condenatória do juízo “a quo”, não fere o princípio da não culpabilidade. Em seu voto, o relator, ministro Teori Zavaski, ressaltou que até a condenação em segundo grau, a inocência do réu deve ser presumida, porém, após este momento, exaure-se o princípio da não culpabilidade, tendo em vista que os recursos cabíveis da decisão de segundo grau, ao STJ ou STF, não visam discutir os fatos e provas que já foram exaustivamente discutidos em primeira e segunda instancia, buscam apenas, discutir matéria de direito. A Corte, com essa decisão modificou entendimento firmado em 2009, no Habeas Corpus 84078/MG, que permitiu ao paciente, condenado por Tribunal do Júri, que recorresse em liberdade da condenação aos Tribunais Superiores. Naquela ocasião, entenderam os ministros que a prisão do acusado antes de sentença penal condenatória transitada em julgado, contrariava o artigo 5º, inciso LVII da CRFB/88. Seguindo a decisão do STF, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, em 23/02/2016, determinou a expedição de mandado de prisão contra réu condenado, por julgamento realizado em abril de 2014, na Apelação Criminal nº. 2014.049065-9, atendendo ao pleito formulado pelo assistente de acusação, entendendo que não há mais discussão de mérito a ser realizada, por força da análise da prova pelo corpo de jurados. O princípio in dubio pro reo ou favor rei, visa garantir que havendo razoável dúvida acerca da culpabilidade do réu, a absolvição é medida impositiva. Esse princípio tem ligação com o princípio da igualdade, que estabelece que todos são iguais perante a lei. Porém, a busca é não somente da igualdade formal, mas sim, da igualdade substancial, dando-se tratamento igual aos substancialmente iguais e desigual aos desiguais, na medida de suas desigualdades. Tendo em vista que no processo penal o Estado figura como parte, na figura do Estado-acusação, que dispõe de diversos meios para comprovar a culpabilidade do acusado, o princípio da igualdade é atenuado pelo princípio favor rei, tendo em vista que o acusado, é a parte mais frágil. Assim, em que pese não haver previsão legal expressa do princípio in dubio pro reo, seja no texto constitucional ou no Código de Processo Penal, diversas normas consagram tal princípio, como o artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, que prevê a absolvição do acusado por insuficiência de provas, bem como o artigo 609, parágrafo único do Código de Processo Penal, que prevê recurso exclusivo do réu, quando houver decisão não unanime de segunda instancia, desfavorável ao réu. Verifica-se desta forma, que muito embora não seja expressamente previsto o princípio in dubio pro reo decorre de construção doutrinária e jurisprudencial, a fim de que se estabeleça a igualdade material entre as partes no processo penal. O in dubio pro reo, pode, ainda, ser usado em outra via, quando na interpretação de dispositivos processuais penais houver dúvida quanto ao alcance e sentido, deverá o Estado-juiz optar pela via mais favorável ao acusado. Ainda, tem ligação direta com o princípio da imunidade da autoacusação, que por sua vez, decorre dos princípios constitucionais da não culpabilidade (art. 5º, LVII), da ampla defesa (art. 5º, LV) e de poder manter-se calado diante de qualquer acusação (art. 5º, LXII). Como se sabe, o acusado não é obrigado a produzir prova contra si mesmo, tendo em vista que o Estado dispõe de diversos meios para comprovar o ilícito que é atribuído ao réu, e se falhar, com todo o aparato que lhe é disponibilizado, a aplicação do princípio in dubio pro reo é medida que se impõe. A aplicação desse princípio, por vezes, causa alguns transtornos processuais, um exemplo disso é a possibilidade de produção de prova de ofício pelo juiz, considerado por alguns doutrinadores como ofensa ao princípio do in dubio pro reo, tendo em vista que o magistrado, enquanto houver dúvida, irá determinar a produção de provas, e não irá absolver o réu. No entanto, o princípio está exatamente respaldado nessa possibilidade de se utilizar de todos os meios legais para produzir provas, para só então, o magistrado poder proferir uma decisão, devidamente motivada, para absolver o réu por restar dúvidas. A efetiva forma de aplicação do princípio in dubio pro reu, está na necessidade de se esgotar todos os possíveis meios de produção de provas e, se ainda assim, restar dúvidas para justa condenação, deverá o réu ser absolvido. Entretanto, o princípio não deve ser aplicado indistintamente, sendo dever da defesa, comprovar as razões pela qual o princípio deverá ser aplicado ao caso concreto, colhe-se de julgado do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina: Apelação Criminal n. 0010623-05.2011.8.24.0064, de São José. Relatora: DesembargadoraMarli Mosimann Vargas APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A PESSOA. LESÃO CORPORAL GRAVE (ART. 129, § 2º, IV, DO CÓDIGO PENAL). SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. ABSOLVIÇÃO. PRETENSO RECONHECIMENTO DA EXCLUDENTE DE ILICITUDE DA LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA. IMPOSSIBILIDADE. AGENTE QUE ATINGE A VÍTIMA NA CABEÇA COM UMA CANECA DE PORCELANA, CAUSANDO-LHE LESÕES DE NATUREZA GRAVE (DEFORMIDADE PERMANENTE). DECLARAÇÕES FIRMES E COERENTES DA VÍTIMA E DA TESTEMUNHA PRESENCIAL. LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA NÃO COMPROVADA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. ÔNUS DA PROVA QUE INCUMBE À DEFESA. INTELIGÊNCIA DO ART. 156 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ADEMAIS, SUPOSTA EMBRIAGUEZ DA APELANTE ADQUIRIDA DE FORMA VOLUNTÁRIA. CONDENAÇÃO MANTIDA. ANÁLISE DE TODAS AS MATÉRIAS ARGUIDAS DURANTE A INSTRUÇÃO PROCESSUAL, APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO E ADEQUAÇÃO DA PENA. RECURSO QUE NÃO APONTOU AS RAZÕES PELAS QUAIS O ALUDIDO PRINCÍPIO DEVE DER APLICADO, BEM COMO A PENA REDUZIDA. INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE RECURSAL. ADEMAIS, FIXAÇÃO DA PENA NO MÍNIMO LEGAL E DE REGIME PRISIONAL ABERTO. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO NO PONTO. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E DESPROVIDO. V (TJSC, Apelação n. 0010623-05.2011.8.24.0064, de São José, rel. Des. Marli Mosimann Vargas, j. 02-03-2016). (Grifo nosso) Do princípio in dubio pro societate: Atualmente, o entendimento majoritário na doutrina e na jurisprudência é que, nos casos de dúvida quanto à existência do crime e/ou de sua autoria, o acusado deve ser pronunciado e julgado pelo Tribunal Popular, eis que este seria o verdadeiro órgão competente para o julgamento da matéria. No entanto, se faz necessário perscrutar se tal entendimento está de acordo com o Estado Democrático de Direito e com os princípios elevados a garantias fundamentais da Constituição Federal de 1988. Para que se possa responder a tal indagação, cumpre analisar, primeiramente, a estrutura princípio lógica da Carta Política, bem como as garantias processuais penais nela previstas. Em um segundo momento, deve- se aferir as diretrizes do princípio da presunção de inocência e do in dubio pro reo, para, finalmente, cotejar os posicionamentos favoráveis e contrários, na doutrina e na jurisprudência, à aplicação do in dubio pro societate nas decisões de pronúncia. Ainda que não haja previsão expressa a esse respeito no texto constitucional, percebe-se que o sistema processual penal acusatório é adotado no processo penal brasileiro, uma vez que sua utilização decorre da interpretação sistemática da Constituição. Entende-se por sistema penal acusatório aquele no qual o juiz é um sujeito passivo rigidamente separado das partes, existe paridade no debate entre a acusação e defesa, sendo que o ônus probatório compete, exclusivamente, à acusação, e, no final, é solucionado pelo julgador com base em sua livre convicção. Da relação entre os princípios da não culpabilidade e in dubio pro reo. Conforme citado acima, os princípios da não culpabilidade e in dubio pro reo estão fortemente correlacionados, segundo Guilherme de Souza Nucci (2015): O primeiro deles espelha que, na relação processual, em caso de conflito entre a inocência do réu – e sua liberdade – e o poder-dever do Estado de punir, havendo dúvida razoável, deve o juiz decidir em favor do acusado. Exemplo disso está na previsão de absolvição quando não existir prova suficiente da imputação formulada (art. 386, VII, CPP). (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 12. ed. rev. atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015.) Diante dos princípios já elencados, é possível constatar, a existência subjetiva de duas regras, em relação ao acusado, ambas decorrentes do princípio da “presunção de inocência”. A primeira, relacionada ao tratamento, estabelece que o acusado não pode sofrer qualquer restrição pessoal fundada na possibilidade de condenação, ou ainda, quando na existência de suspeitas de prática criminosa, o imputado no curso do processo deverá ser tratado como inocente, não podendo ver-se diminuído social, moral nem fisicamente diante de outros cidadãos não sujeitos a um processo. Já a segunda, relacionada ao fundo probatório, condiciona que o ônus probatório, em relação ao fato delituoso e à sua autoria, deve recair exclusivamente sobre a acusação, restando à defesa a demonstração de excludentes de ilicitude e culpabilidade, em casos nos quais se façam presentes tais alegações. Desta segunda regra emergente do princípio da presunção de inocência, segundo a qual toca à acusação o inteiro cabimento da carga probatória, origina-se o in dubio pro reo: sendo o acusado presumivelmente inocente e cabendo o ônus probatório ao acusador, é necessário, para a imposição de uma sentença condenatória, que se prove, além de qualquer dúvida razoável, a culpa do acusado. Subsistindo dúvida, tem-se que a acusação não se desincumbiu do ônus que lhe cabe, restando inafastável a absolvição do réu, já que, sem demonstração cabal de sua culpa, prevalece a inocência presumida. Nesta acepção, pode-se dizer que a presunção de inocência confunde-se com o in dubio pro reo.
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