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clovis camargo

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A RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL DA PESSOA JURÍDICA DE 
DIREITO PRIVADO: UMA ANÁLISE DE SUA APLICABILIDADE1 
 
Clóvis Medeiros Camargo2 
 
RESUMO: Este trabalho apresenta a responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica de direito privado, 
demonstrando uma análise da sua aplicabilidade no ordenamento jurídico, através do posicionamento divergente 
da doutrina e da jurisprudência brasileira, uma vez, que as pessoas jurídicas tomam papel cada vez mais 
importante na sociedade moderna, podendo-lhe trazer benefícios, mas também causar sérios prejuízos. 
Analisando a responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica como instituto previsto pelo Legislador 
Constitucional como instrumento de controle da qualidade ambiental em casos de grave ameaça ao meio 
ambiente, partindo de uma análise da evolução do Direito Ambiental brasileiro desde os tempos embrionários até 
dos tempos hodiernos, analisando a evolução legislativa Constitucional e infraconstitucional sobre a proteção 
ambiental e, a preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, com a demonstração do papel do 
Direito Penal Ambiental, como ferramenta de combate a degradação ambiental através da repressão e prevenção, 
e a sua subsidiariedade frente aos outros ramos do Direito, apresentando a correntes doutrinarias concernente a 
matéria. 
Palavras-chave: responsabilidade - penal - ambiental - pessoa jurídica 
 
ABSTRACT: This paper is about the environmental penal responsibility of legal entity from the private law, 
demonstrating an analysis about legal standards applicability, thru a divergent positioning of the Brazilian 
doctrine and jurisprudence, once legal entities are taking an important role in the modern society, which can 
bring benefits, but also cause serious damages. This present work shall also analyze the environmental penal 
responsibility of legal entity as an intention of the Constitutional lawmaker as environment quality control 
instrument at cases of serious environment‘s threat. This paper starts with a Brazilian environment law evolution 
analysis since early times until now, analyzing the Constitutional and infraconstitutional evolution about the 
environment protection and an ecologically balanced environment with a demonstration about the role of the 
environmental law as a combat tool against the environmental degradation thru the prosecution and prevention, 
and the subsidiarity front of the other branches of law, presenting new stances of legal writing related with this 
theme. 
Keywords: responsibility – penal – environmental – legal entity 
 
INTRODUÇÃO 
O estudo do meio ambiente, ao longo das ultimas décadas tem se intensificado e se 
tornado alvo de profundas observações, não tão somente pelos operadores do direito, mas 
pelos operadores das mais diversas ciências. O ambiente dá mostras que cada vez mais é 
necessário compreendê-lo e preservá-lo, como um conjunto complexo de vida que é. A 
complexidade do estudo do meio ambiente e diretamente proporcional a complexidade de sua 
existência, uma vez que, a interação dos corpos que a compõem não estão adstritos a um 
resultado previamente estabelecido. A cada ação pode ter uma reação totalmente adversa 
daquilo já conhecido. Neste ponto temos a clara percepção que ao estudarmos o meio 
ambiente há uma contribuição para a permanência de uma convivência harmônica, ainda que 
difícil, em nosso planeta. 
O Direito Ambiental surge no momento da interação do homem com a natureza, nas 
suas diferentes modalidades. O direito penal, por conseguinte, não pôde se distanciar da 
relação do meio ambiente com a humanidade, ao passo que este mesmo direito penal 
necessariamente, através de sua evolução enquanto ciência teve que prever remédios jurídicos 
penais, para a agressão aquele bem, estabelecendo o Direito Penal Ambiental. Vejamos que a 
 
1
 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de 
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aprovação 
com grau máximo pela banca examinadora composta pelo orientador, Prof. Orci Paulino Bretanha Teixeira, pelo 
Prof. Maurício Carvalho Góes e pela Profª. Marcia Andréa Büring, em 25 de novembro de 2011. 
2
 Acadêmico do Curso de Ciências Jurídicas e Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 
Contato: clovis-camargo@brigadamilitar.rs.gov.br 
 2 
sociedade ao longo de sua fatídica existência utilizou-se de recursos naturais para seu uso, 
gozo, fruição, de maneira a subsidiar a sua vida despreocupadamente, e os reflexos começam 
a surgir. 
A introdução de sanções penais, para tutelar, proteger e preservar o meio ambiente 
foi uma consequência inevitável, em face das inábeis atitudes da sociedade para o 
desenvolvimento sustentável e para o mantimento do meio ambiente ecologicamente 
equilibrado. A sanção penal é capaz de produzir efeitos mais abrangentes de reeducação, 
repressão, e prevenção pelo caráter que possui. Ao longo do tempo, observou-se que apenas 
criminalizar atitudes danosas ao meio ambiente, produzidas diretamente pelo homem, não 
reprimiu inteiramente o delito. Dessa forma, partiu-se para uma nova perspectiva, e observou-
se que as pessoas jurídicas, principalmente de direito privado, poderiam, facilitar ações 
nocivas ao meio ambiente, pela natureza de suas atividades. 
As pessoas jurídicas desempenham um papel cada vez mais importante na vida da 
sociedade, trazendo muitos benefícios, como a produção de empregos, fomentação da 
economia, mas podem produzir nocividades incalculáveis, ao passo desses benefícios. A 
sociedade civil organizada através de empresas, grupos econômicos, multinacionais, enfim, 
todo o tipo de seguimento de pessoa jurídica, não mede esforços para diminuir distâncias e 
auferir maior lucro em pouco espaço de tempo. A responsabilização penal ambiental da 
pessoa jurídica, tornaram-se instrumentos importantíssimos na luta para a sobrevivência sadia 
da sociedade moderna e globalizada. 
O Legislador Constitucional previu em nossa Constituição, a responsabilização por 
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Existindo 
posicionamentos divergentes quanto a possibilidade de se criminalizar atividades de pessoas 
jurídicas de direito privado, diante da dogmática e tradicional ciência do Direito Penal. Mas 
para que se possa vislumbrar a aplicabilidade deste feito, os estudos devem romper uma 
concepção tradicional, e se verificar a proteção de um bem jurídico maior. 
 Este trabalho tem por objeto de estudo a responsabilidade penal ambiental da pessoa 
jurídica de direito privado, através de uma análise de sua aplicabilidade diante dos 
instrumentos jurídicos existentes no ordenamento brasileiro. Iniciando por uma breve análise 
da evolução do Direito Ambiental brasileiro, calcado na evolução histórica infraconstitucional 
e constitucional da proteção do meio ambiente e nas influências internacionais do direito 
ambiental brasileiro, tendo como ponto de partida o período colonial brasileiro, considerado 
como embrionário na proteção ambiental em nosso sistema jurídico. 
Analisa-se o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental, 
por meio de seu conceito jurídico e sua previsão na Constituição. Posteriormente, analisa-se o 
surgimento do Direito Penal Ambiental, sendo este responsável pela aplicação de sanções 
penais, ao passo da ineficiência das demais áreas do direito na tutela ambiental. O Direito 
Penal Ambiental, como novo ramo do Direito Penal, tenta romper aspectos tradicionais, que 
na visão da maioria dos ambientalistas, acabam por dificultar a responsabilidade penal por 
dano ambiental. O Direito Penal Ambiental leva consigo não somente os princípios 
consagrados pelo Direito Penal clássico,mas também, os princípios basilares do Direito 
Ambiental, responsáveis pela tutela do meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
Tratado-se de questões correlatas a responsabilidade penal ambiental da pessoa 
jurídica, cujos os argumentos elencados pela doutrina se confundem. Partindo para uma 
apreciação da natureza da pessoa jurídica através das teorias da personalidade jurídica em que 
esta consagrada os argumento favoráveis ou contrários a possibilidade de responsabilização 
criminal. Nesta seara, o que se pretende é ilustrar a quão é intrincada a responsabilização 
penal da pessoa jurídica, introduzida e albergada pela Constituição Federal de 1988, 
rompendo com as tradicionais perspectivas do Direito Penal, invocando este instituto na 
tentativa de barrar as atividades altamente lesivas ao meio ambiente. Tal dispositivo foi 
 3 
regulamentado dez anos após a promulgação da Constituição, pela Lei nº 9.605/1998, a 
conhecida Lei dos Crimes Ambientais, reafirmando o compromisso constitucional. O 
posicionamento ainda controverso sobre o a responsabilidade criminal da pessoa jurídica, 
estendeu-se aos Tribunais que necessitam aplicar as normas para a devida persecução penal. 
 
1 A EVOLUÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL NO BRASIL 
1.1 BREVE ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO 
No Brasil, o Direito Ambiental vem passando por evoluções, que possibilitaram uma 
maior reflexão sobre a necessidade de respeitar a interação do homem com o meio ambiente. 
Nos últimos 30 anos aumentaram as especulações entorno da questão ambiental, e muitos 
estudos viabilizaram uma melhor visão do Direito Ambiental, e principalmente, da relação 
compatível do homem com a natureza. 
As ciências jurídicas não pôde se privar de estudar o meio ambiente, pois é um bem 
que afeta diretamente o homem. Um bem que é indispensável a sua sobrevivência e a 
existência das mais diversas formas de vida. O direito tem por interesse a existência da vida 
compatível com o uso dos bens ambientais de forma harmônica e equilibrada. 
O meio ambiente como bem jurídico a ser tutelado pelo direito, culminou com o 
surgimento do Direito Ambiental. Este é um novo ramo do direito que estuda as relações 
jurídicas ambientais, que está fundado em organização, instrumentos e princípios próprios 
destinados a observar a essência constitucional, difusa e transindividual dos direitos e 
interesses ambientais, buscando a sua proteção, preservação e efetividade. Nesta linha de 
pensamento Elida Séguin diz que, 
Direito Ambiental é o conjunto de regras, princípios e políticas públicas 
que buscam a harmonização do homem com o Meio Ambiente. Envolve aspectos 
naturais, culturais, artificiais e do trabalho, que possuem regulamentação própria, 
com institutos jurídicos diferentes, apesar de complementares.3 
Para Paulo Affonso Leme Machado, “O Direito Ambiental é um Direito 
sistematizador, que faz articulações da legislação, da doutrina e da jurisprudência 
concernentes aos elementos que integram o ambiente. Procura evitar o isolamento dos temas 
ambientais e sua abordagem antagônica”. 4 A importância do estudo do Direito Ambiental 
não se delimita tão somente ao estudo de normas, mais sim o estudo organizado das ciências 
que buscam a qualidade ambiental. O Direito Ambiental é marcado pela sua interdependência 
entre as ciências, do direito e de outras áreas, como por exemplo, a tecnologia. 
Visivelmente o direito ambiental não atua isoladamente, ele extrapola as fronteiras 
estabelecidas pelo dogmático e tradicional estudo do direito, indo além das relações do 
homem. Avalia nesse sentido Celeste Gomes quando avalia que, “O direito do ambiente é 
profundamente marcado por uma dependência entre as ciências e a tecnologia. Sua 
compreensão exige um mínimo de consonância cientifica e a reflexão crítica à propostas 
apresentadas, marcada pela pluridisciplinariedade”.5 
Claramente o objetivo do Direito Ambiental, além regular a interação do homem 
com os diversos elementos que compõe o ambiente, é de proteger, preservar, e tutelar o 
direito que recai a uma complexidade de pessoas indeterminadas. “A missão do Direito 
Ambiental é conservar a vitalidade, a diversidade e a capacidade de suporte do planeta 
Terra, para usufruto das presentes e futuras gerações”.6 A relação do homem com o meio 
 
3
 SÉGUIN, Elida. Direito Ambiental: nossa carta planetária. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 17. 
4
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14. ed. rev., atual., ampl. São Paulo: Malheiros, 
2006. p. 149. 
5
 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira. Crimes Contra o Meio Ambiente: Responsabilidade e Sanção Penal. 
São Paulo: Oliveira Mendes, 1998. p. 5. 
6
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 157. 
 4 
ambiente, não ficou desprovido dos olhares das ciências jurídicas. Isto porque, as ciências 
jurídicas segundo Édis Milaré, “[...] tem evoluído inquestionavelmente no ordenamento da 
sociedade humana. Ela visa ao interesses individuais a aos da coletividade. Por intermédio 
da legislação, define direitos e estabelece deveres que devem balizar a organização da 
sociedade como um todo”.7 
Portanto é desiderato do Direito a proteção do meio ambiente ecologicamente 
equilibrado para as presentes e futura gerações e a proteção da existência do homem 
harmoniosamente com a natureza. Na linha evolutiva do Direito Ambiental sempre se esteve 
na busca de maior conhecimento, e produção de meios legais para combater o desequilíbrio 
ecológico causado pelas ações desmedidas do homem. Édis Milaré8, com muita propriedade, 
enfatiza que a devastação ambiental não é marca exclusiva dos tempos hodiernos. Como ele 
relata, apenas a percepção jurídica deste fenômeno é de explicação recente, até em 
consequência de um novo bem jurídico denominado “meio ambiente”. 
 
1.1.1 O Direito Ambiental brasileiro no período colonial 
As primeiras legislações introduzidas no Brasil, que tinham o meio ambiente como 
conteúdo, são do período em que o país ainda era colônia portuguesa, e as primeiras 
formulações normativas organizacionais de direito a respeito do meio ambiente foram 
importadas de Portugal.9 O reino português já havia editado leis para a proteção de bens 
ambientais por razões econômicas e, em virtude da escassez dos bens naturais, principalmente 
os não-renováveis.10 De acordo com Ann Helen Wainer11, as Ordenações de 1326, protegiam 
as aves, e para efeitos criminais, equiparava a qualquer outra espécie de crime. Na mesma 
esteira protecionista segunda a autora em 1393, foi proibido o corte de árvores frutíferas, 
classificando como crime de injúria ao rei,12 face à preocupação portuguesa com a proteção 
florestal, fonte de matéria-prima para a construção naval, utilizada para expansão.13 
No período do descobrimento, vigorava em Portugal as Ordenações Afonsinas, 
baseadas no Direito Romano e no Direito Canônico que resultou de uma compilação das 
Ordenações produzidas anteriormente.14 Nestas Ordenações, concluídas em 1446, 
encontravam-se algumas referências que denotavam preocupação com o meio ambiente. Em 
substituição as Ordenações Afonsinas, foram produzidas as Ordenações Manoelinas, datadas 
de 151415, e as Ordenações Filipinas, de 1603, que segundo Fernanda Medeiros16, possuíam 
penas extremamente severas no que concerne à conservação dos recursos naturais. 
As Ordenações das Filipinas, uma das mais referenciadas legislações do período 
colonial, dispunham sobre relevantes providências relativas a proibição de caça de 
determinadas espécies animais, a proibição de pesca com rede em determinadas épocas, e 
menções expressas à poluição das águas, com a proibição de lançamento de material que 
 
7
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente.4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 89. 
8
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 134. 
9
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 46. 
10
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 46. 
11
 WAINER, Ann Helen. Legislação Ambiental Brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 5. 
12
 WAINER, Ann Helen. Legislação Ambiental Brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 62. 
13
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 47. 
14
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 135. 
15
 MAGALHÃES, Juraci Perez. A evolução do direito ambiental no Brasil. 2. ed. aum. São Paulo: Juarez de 
Oliveira, 2002. p. 25. 
16
 MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Meio ambiente: direito e dever fundamental. Porto Alegre: PUCRS, 
2001. Dissertação (Mestrado em Direito). Faculdade de Direito. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande 
do Sul, 2001. p. 70. 
 5 
pudesse causar danos a vida de animais aquáticos.17 Juristas como Juraci Perez Magalhães18 
consideram o período colonial como sendo o berço de nosso direito a proteção ambiental, e 
como ele bem elucida, desde a produção das Ordenações oriundas de Portugal que, 
[...] legislação ambiental teve grande progresso em terras brasileiras. 
Desenvolveu-se de tal forma, na fase colonial, que podemos considerar esse período 
como a fase embrionária de nosso Direito Ambiental. A partir daí, esse novo ramo 
jurídico não parou de crescer, chegando aos nossos dias como um direito 
especializado, de forte tendência publicista, destacando-se como um dos mais 
importantes da era contemporânea.19 
Mas o escopo dos dispositivos legais que traziam matéria relativa a recursos naturais, 
até então, tinham por objetivo outro viés e não a proteção do meio ambiente.20 Os interesses 
ali dispostos eram meramente individuais, tinham o cunho de proteção da propriedade privada 
e de interesses econômicos. Orci Paulino Bretanha Teixeira21 revela que muito embora as 
normas fossem de natureza econômica, o período colonial é considerado como sendo 
embrionário de nosso Direito Ambiental, e que nos tempos atuais a normas são consideradas 
de cunho ambientalista, com forte preocupação com os bens ambientais. 
O primeiro texto normativo brasileiro no que tange a proteção das florestas foi o 
“Regimento sobre o Pau-Brasil” de 1605. A primeira lei florestal brasileira apresentava regras 
bem definidas a respeito do corte e da exploração da madeira, criando tipificações penais e 
suas respectivas sanções22. A partir deste regimento, a legislação de proteção florestal teve 
grande desenvolvimento, sendo demonstrada a preocupação com o crescente desmatamento 
da colônia.23 Para Juraci Magalhães24 foi a partir deste ponto que uma grande de quantidade 
de regimentos, alvarás e outras formas de legislação determinando medidas de proteção 
florestal. Destacando ele, a expedição de Cartas Régias datadas de 179725. 
 Nesta esteira em 1808, Dom João VI, fundou o Jardim Botânico e, como 
acontecimento importante, em 1861 mandou plantar a Floresta da Tijuca, com a finalidade de 
garantir o abastecimento de água potável para o Rio de Janeiro, que estava ameaçado pelo 
desmatamento.26 Nota-se que o período colonial brasileiro apesar da visão estratégica e 
econômica que se tinha, propiciou indiretamente a proteção ambiental. Tais medidas ainda 
 
17
 MAGALHÃES, Juraci Perez. A evolução do direito ambiental no Brasil. 2. ed. aum. São Paulo: Juarez de 
Oliveira, 2002. p. 27. 
18
 MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Meio ambiente: direito e dever fundamental. Porto Alegre: PUCRS, 
2001. Dissertação (Mestrado em Direito). Faculdade de Direito. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande 
do Sul, 2001. p. 70. 
19
 MAGALHÃES, Juraci Perez. A evolução do direito ambiental no Brasil. 2. ed. aum. São Paulo: Juarez de 
Oliveira, 2002. p. 3. 
20
 ROCHA, Vânia de Almeida Sieben. Constituição e Meio Ambiente. In: HAUSEN, Enio Costa; TEIXEIRA, Orci 
Paulino Bretanha. ALVARES, Pércio Brasil. (Orgs.). Temas de direito ambiental. Uma Visão Interdisciplinar. 
Porto Alegre: AEBA, APESP, 2000. p. 183. 
21
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 46. 
22
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 46. 
23
 MAGALHÃES, Juraci Perez. A evolução do direito ambiental no Brasil. 2. ed. aum. São Paulo: Juarez de 
Oliveira, 2002. p. 27-28. 
24
 MAGALHÃES, Juraci Perez. A evolução do direito ambiental no Brasil. 2. ed. aum. São Paulo: Juarez de 
Oliveira, 2002. p. 28. 
25
 Em 1797, por exemplo, foram expedidas as cartas régias declarando de propriedade da Coroa todas as matas e 
arvoredos existentes à borda da Costa ou de rios que desembocassem imediatamente no mar e por qualquer via 
fluvial que permitissem a passagem de jangadas transportadoras de madeiras. MAGALHÃES, Juraci Perez. A 
evolução do direito ambiental no Brasil. 2. ed. aum. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 28 
26
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 47. 
 6 
que iniciais, garantiram novos rumos ao Direito Ambiental brasileiro como Estado 
independente. 
 
1.1.2 Novos rumos do Direito Ambiental brasileiro 
A preocupação das autoridades voltadas ao meio ambiente através do Direito 
Ambiental podia ser notada no ordenamento jurídico pátrio efetivamente a partir de 1930. 
Entretanto, foi o Código Civil de 1916, uma das primeiras legislações do período republicano, 
que indiretamente protegia o meio ambiente ao disciplinar o uso da propriedade, tornado 
ilícito civil seu mau uso, que integrou o conceito de bem de uso comum do povo, utilizado 
posteriormente pelo Legislador Constituinte brasileiro na edição da Constituição Federal de 
1988.27 
O Direito Ambiental ganhou novos rumos através da promulgação de leis que deram 
partida na proteção ambiental. Com a edição do Código Florestal de 1934, o Decreto nº 
23.793, de 23 de janeiro daquele ano, o Código das Águas, o Decreto nº 24.643/1934, além do 
Código de Pesca, o Decreto-Lei nº 794/1938, foi dada uma pequena mostra da fomentação da 
matéria ambiental. Em meados dos anos de 1960, além do Código Florestal, a Lei nº 
4.771/1965, que reformava o anterior, houve a criação de outros textos legislativos 
infraconstitucionais importantes sobre o meio ambiente. Tais disposições legislativas tinham 
suas essências mais ligadas a prevenção e o controle da degradação ambiental. Temos por 
exemplo, o Estatuto da Terra, a Lei nº 4.504/1964, que é anterior ao Código Florestal; a Lei nº 
5.197/1967, que dispunha sobre a proteção a fauna, revogando o então Código de Caça, o 
Decreto-Lei nº 5.894/1943; o Código de Pesca, Decreto-Lei nº 221/1967; o Código de 
Mineração, Decreto-Lei nº 227/1967; o Decreto-Lei nº 303/1967, que criava o Conselho 
Nacional de Controle de Poluição Ambiental e a Lei nº 5.357/1967, que estabelecia 
penalidades para embarcações e terminais marítimos e fluviais que laçassem detritos ou óleo 
em águas brasileiras. As elaborações legislativas passaram a respeitar mais a necessidadede 
preservação ambiental. 
Mas como muito bem revela Fernanda Medeiros, “entre as décadas de 30 e 60, as 
promulgações de leis voltadas para a defesa do meio ambiente foram realizadas de forma 
setorizada, sem apresentar qualquer tipo de unidade sistemática”.28 Nos anos 70, o país em 
que pese já soubesse da necessidade da preservação ambiental, pois já produzia legislações a 
respeito, passava por um momento político em que era defendido o crescimento econômico 
sem preocupação com males da poluição e devastação ambiental, classificados como 
menores, ou até mesmo insignificantes em relação aos problemas socioeconômicos, que são 
fortes até hoje. Como bem observa Édis Milaré, “a poluição e a degradação do meio 
ambiente eram vistas como uma mal menor”.29 
Muito embora o Brasil encabeçasse os países com problemas de crescimento 
econômico e social, que questionavam os movimentos de proteção ambiental da comunidade 
internacional, que ganhava corpo nos anos 70, em 1973, no âmbito do Ministério do Interior, 
através do Decreto nº 73.030, criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), órgão 
de fiscalização ambiental30, que objetivamente tinha missão de criar uma política de uso e 
 
27
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 50. 
28
 MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Meio ambiente: direito e dever fundamental. Porto Alegre: PUCRS, 
2001. Dissertação (Mestrado em Direito). Faculdade de Direito. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande 
do Sul, 2001. p. 71. 
29
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 51. 
30
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14. ed. ver., atual., ampl. São Paulo: Malheiros, 
2006. p. 155. 
 7 
conservação dos recursos naturais.31 A abertura de novos olhares em relação ao Direito 
Ambiental, influenciou a aprovação, através da Lei nº 6.151 de 1974, do II Plano Nacional de 
Desenvolvimento (PND), que era para ser executado até o ano de 1979, e tinha a missão de 
implantar uma política ambiental, o que resultou na mudança da visão despreocupado com o 
desenvolvimento desenfreado. 
O Direito Ambiental brasileiro foi produtivo nos anos 70, pois nesse período houve 
as edições do Decreto-Lei nº 1.413/1975, que tratava sobre o controle da poluição do meio 
ambiente provocada por atividades industriais; da Lei nº 6.453/1977, que disciplinava a 
exploração de Energia Nuclear no país e da Lei nº 6.766/1979, conhecida como a “Lei 
Lehmann”, que tratava sobre o parcelamento do solo urbano. Notadamente, a visão de meio 
ambiente, através do Direito Ambiental já começava ser introduzida nas discussões políticas 
um pouco mais com força. Como bem observado por Orci Paulino Bretanha Teixeira, “A 
partir de 1970, em face à enorme devastação dos recursos naturais não-renováveis e o 
comprometimento do habitat do homem, a preocupação com ecossistema equilibrado 
despertou o interesse de juristas brasileiros. O ambiente passou a ser objeto de debates e de 
proteção legislativa”.32 
 Apesar de um pensamento voltado ao crescimento econômico a qualquer custo dos 
anos 70, uma mudança de concepção de políticas públicas voltados ao meio ambiente foi 
notada definitivamente a partir dos anos 80, em que a busca de alternativas para crescimento 
econômico através de tecnologias e modelos de desenvolvimento mais adequados ficaram 
mais visíveis. Neste sentido, visando a essa mudança de concepção, de que o meio ambiente 
que é de suma importância para a vida, foi promulgada a Lei nº 6.938 de 1981, a denominada 
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente. “É a primeira lei onde a preocupação é com o 
meio ambiente, onde a tutela é para coletividade”.33 Elida Séguin34 afirma que a Lei da 
Política Nacional do Meio Ambiente foi a “certidão de nascimento” do Direito Ambiental 
brasileiro, apesar da Lei de Zoneamento Industrial, de 1980, ter a primazia de enunciar a 
questão sob uma ótica holística de Meio Ambiente. 
Esse diploma legal trouxe a baila definições sobre o meio ambiente ainda não 
tratadas em nenhuma outra legislação brasileira. Em apenas um texto legal reuniu as bases da 
proteção ambiental, trazendo os conceitos de meio ambiente, poluição, poluidor e recursos 
naturais. Além de traçar os objetivos da proteção ambiental, relacionou os órgãos integrantes 
do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e elencou os instrumentos da política 
nacional do meio ambiente. A Lei ainda dispôs sobre licenciamento, e também previu um 
crime de poluição genérica, atualmente revogado.35 
Como bem afirma Sílvia Cappelli, “pode-se dizer que o Direito Ambiental se 
assentou no Brasil na década de 80, principalmente a partir da publicação das leis nº 
6.938/81 e 7.347/85”.36 A segunda de 24 de julho 1985, conhecida como a Lei da Ação Civil 
 
31
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 140. 
32
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 50. 
33
 ROCHA, Vânia de Almeida Sieben. Constituição e Meio Ambiente. In: HAUSEN, Enio Costa; TEIXEIRA, Orci 
Paulino Bretanha; ALVARES, Pércio Brasil. (Orgs.). Temas de direito ambiental. Uma Visão Interdisciplinar. 
Porto Alegre: AEBA, APESP, 2000. p. 185. 
34
 SÉGUIN, Elida. Direito Ambiental: nossa carta planetária. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 25. 
35
 CAPELLI, Sílvia. Novos Rumos do Direito Ambiental. In: HAUSEN, Enio Costa; TEIXEIRA, Orci Paulino 
Bretanha; ALVARES, Pércio Brasil. (Orgs.). Temas de direito ambiental. Uma Visão Interdisciplinar. Porto 
Alegre: AEBA, APESP, 2000. p. 53. 
36
 CAPELLI, Sílvia. Novos Rumos do Direito Ambiental. In: HAUSEN, Enio Costa; TEIXEIRA, Orci Paulino 
Bretanha; ALVARES, Pércio Brasil. (Orgs.). Temas de direito ambiental. Uma Visão Interdisciplinar. Porto 
Alegre: AEBA, APESP, 2000. p. 53. 
 8 
Pública, instrumentalizou a defesa do meio ambiente. Forneceu ferramentas processuais para 
coibir e reparar danos à natureza. 
E para corroborar com a idéia, de que os anos 80 foi uma época de ouro da produção 
de meios de proteção ambiental, foi promulgada a Constituição Federal de 1988. Apontada 
como um marco, o terceiro, assim classificado na escala de evolução legislativa ambiental, a 
Constituição Federal de 1988, projetou uma bela matéria relativa ao meio ambiente, 
apresentando um capitulo próprio ao tema, um dos mais modernos textos já estabelecidos no 
mundo. Somente no final do Século XX, o problema ambiental começou a ser percebido com 
toda a sua intensidade.37 Vânia de Almeida Sieben Rocha, declara que foi nesse período que 
Iniciaram-se estudos direcionados a diminuir os impactos ambientais, 
com a intenção de obter um equilíbrio, uma convivência harmônica entre o homem e 
a natureza. Um equilíbrio que permitisse o desenvolvimento econômico sem a 
degradação do meio ambiente. Ao lado disso, paulatinamente, começou a surgir uma 
consciência ecológica.38 
As legislações infraconstitucionais produzidas anteriormente foram muito positivas e 
propiciaram a criação novas legislações protecionistas do meio ambiente a partir dos anos 90. 
A criação da Lei dos Crimes Ambientais, foi o quarto marco na evolução legislativa ambiental 
brasileira.39 A Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e 
administrativas aplicavéis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, significou 
relevante avanço na tutela dos bens ambientais, uma vez que, expos pela primeira vez no 
nosso ordenamento as sanções administrativas e elencou deforma organizada os crimes 
ambientais. Tal diploma, representou uma mudança da visão do tradicional Direito Penal pois 
em sua redação tornou efetiva o compromisso constitucional de se incluir a pessoa jurídica 
como sujeito ativo de crime ambiental, possibilitando que os entes coletivos pudessem estar 
no pólo passivo da ação penal, sobrepujando o clássico principio societas delinquere non 
potest.40 A Lei dos Crimes Ambientais sistematizou os tipos penais que antes estavam 
esparços no Código Penal, Código de Mineração, Código Florestal, definindo também novos 
tipos penais buscando a uma melhor tutela do meio ambiente. 
Novos caminhos na luta pela proteção ambiental estão sendo traçados pelo Direito 
Ambiental brasileito, seja na tentativa de produção legislativa ou na criação de programas de 
incentivo para um meio ambiente sadio. Ao analisar o caminho construído ao longos das 
décadas do século XX na busca da tutela do meio ambiente por intermédio do Direito 
Ambiental, se tem a clara percepção que a produção legislativa ambiental brasileira teve 
momentos marcantes e de transição de pensamento. Mas as legislações não alcançam sua 
plenitude se não houver uma mudança comportamental da sociedade. 
Esse é o desafio do Direito Ambiental brasileiro, a busca pela efetiva tutela 
ambiental através do comportamento humano, por meio da proteção, preservação, 
manutenção e recuparação de um meio ambiente sadio para as presente e futuras gerações. A 
convivência harmônica, com o mínimo de qualidade e dignidade possivel, do homem com a 
natureza, é o principal objeto de estudos do direito e das ciências modernas. 
 
1.1.3 A evolução do Direito Ambiental na Constituição 
 
37
 ROCHA, Vânia de Almeida Sieben. Constituição e Meio Ambiente. In: HAUSEN, Enio Costa. TEIXEIRA, Orci 
Paulino Bretanha. ALVARES, Pércio Brasil. (Orgs.). Temas de direito ambiental. Uma Visão Interdisciplinar. 
Porto Alegre: AEBA, APESP, 2000. p. 183. 
38
 ROCHA, Vânia de Almeida Sieben. Constituição e Meio Ambiente. In: HAUSEN, Enio Costa. TEIXEIRA, Orci 
Paulino Bretanha. ALVARES, Pércio Brasil. (Orgs.). Temas de direito ambiental. Uma Visão Interdisciplinar. 
Porto Alegre: AEBA, APESP, 2000. p. 183. 
39
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 142. 
40
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 142. 
 9 
Partindo para uma perspectiva quanto a evolução do Direito Ambiental nas 
Constituições, é de facil constatação que o tratamento dispensado à materia tem evoluído. 
Pois partiu-se de um ponto onde a constituição nada declarava até alcançarmos um nível de 
amparo muito bem definido com a Constituição atual.41 Nossa primeira Carta Magna, a 
Constituição do Império de 1824, como primeiro diploma Constitucional, não fazia nenhuma 
menção ao meio ambiente. Orci Paulino Bretanha Texeira, atribui este lapso, como sendo 
“produto de um tempo e uma cultura”.42 Fernanda Medeiros, afirma que este fato não 
surpreende, uma vez que, à época “além de não ser preocupação corrente de todos os povos, 
o Brasil ainda carecia de identidade como povo e nação independente”.43 
Estabelecida a primeira República, representada pela Constituição de 1891, foi dado 
início a uma preocupação com regulamentação constitucional no que tange aos elementos da 
natureza.44 Atribui-se competência para tratar de minas e de terras a União, numa visão 
ambiental utilitarista, de natureza econômica.45 Na Carta de 1934, tinha-se também o objetivo 
de regulamentar as atividades econômicas, mas não o de proteger o meio ambiente. Aliás, as 
Constituições subsequentes, ou seja a Constituição de 1937, de 1946 e de 1967, estabeleceram 
o mesmo modelo de normatização, quanto ao meio ambiente. A finalidade que se destinavam, 
eram de racionalização econômica das atividades de exploração de recursos naturais, e não a 
de estabelecer a proteção ambiental, como conhecemos nos tempos hodiernos.46 
Acompanhando as marcantes modificações políticas que estavam ocorrendo no país, 
a partir da década de 80, a proteção ambiental tomou novos rumos, e como afirma Fernanda 
Medeiros47, a preocupação deixou de ser “extrativista” para ser “protecionista”. A legislação 
mais importante da história brasileira, a Constituição Federal de 1988, foi a marca balizadora 
da reconstituição e renascimento da democracia. Esta foi a primeira Constituição a tratar clara 
e explicitamente sobre o meio ambiente. Tratando-lhe com o verdadeiro valor que possui, o 
adicionado no nosso ordenamento como direito e garantia fundamental. Para Paulo Affonso 
Leme Machado, “a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é a primeira 
Constituição Brasileira em que a expressão ‘meio ambiente’ é mencionada”.48 
A promulgação da Constituição Federal de 1988, transmitia verdadeiramente o 
reflexo da nova concepção em torno do problema ambiental: preservar, proteger e manter o 
meio ambiente ecologicamente equilibrado, para as presentes e futuras gerações, através do 
Poder Público e da coletividade. Fato é que o meio ambiente foi visto com a grandeza que lhe 
merece. O trato passou a ser em prol da coletividade e não para individualidade conforme as 
legislações produzidas anteriormente. Todos os textos normativos, que não contrariavam a 
Constituição, foram recepcionados e elevados a outro nível. Os bens ambientais, a fauna, a 
flora, os bens naturais e artificiais que eram tutelados individualmente nas legislações 
 
41
 MEDEIROS, Fernanda Luíza Fontoura de. Meio Ambiente: Direito e Dever Fundamental. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2004. p. 61. 
42
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 58. 
43
 MEDEIROS, Fernanda Luíza Fontoura de. Meio Ambiente: Direito e Dever Fundamental. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2004. p. 61. 
44
 MEDEIROS, Fernanda Luíza Fontoura de. Meio Ambiente: Direito e Dever Fundamental. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2004. p. 61. 
45
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 58. 
46
 MEDEIROS, Fernanda Luíza Fontoura de. Meio Ambiente: Direito e Dever Fundamental. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2004. p. 61-62. 
47
 MEDEIROS, Fernanda Luíza Fontoura de. Meio Ambiente: Direito e Dever Fundamental. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2004. p. 62-63. 
48
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14. ed. ver., atual., ampl. São Paulo: Malheiros, 
2006. p. 115. 
 
 10 
infraconstitucionais, passaram a ser protegidos com mais ênfase através da tutela 
constitucional voltada a preservação do todo. 
A constituição além de reverenciar o meio ambiente, como nunca havia se feito, 
trouxe novas perspectivas de combate a degradação ambiental. Dentre estas podemos citar a 
previsão da responsabilidade penal, civil e administrativa aos autores de práticas lesivas ao 
meio ambiente. Além de prever que não só as pessoas físicas (pessoas naturais) podem ser 
responsabilizadas pelos danos ambientais, mas também, as pessoas jurídicas. Essa talvez 
tenha sido a maior evidência da mudança da visão do legislador em relação aos bens 
ambientais. 
 
1.1.4 As influências Internacionais no Direito Ambiental brasileiro 
O Direito Ambiental brasileiro teve influências internacionais na alçada protecionista 
do meio ambiente ecologicamente equilibrado. E como bem observa Fernanda Medeiros, “o 
que se tem percebido é que a legislação ambiental brasileira emergiu no ordenamento 
jurídico nacional como consequência das normas internacionais”.49Um clara mostra de influência internacional no sistema jurídico ambiental brasileiro 
foi a Conferência de Estocolmo, ocorrida no ano de 1972, que foi um marco para os 
movimentos sociais que influenciaram a produção de meios de proteção na legislação 
brasileira. O Direito Ambiental brasileiro começou a ser alvo de estudos mais dedicados. Mas, 
os movimento sociais de proteção ao meio ambiente começavam ainda acanhados, em vista a 
grande degradação de bens ambientais. 
A Conferência de Estocolmo foi uma Conferência das Nações Unidas sobre o Meio 
Ambiente Humano, United Nations Conference on the Human Environment, promovido pela 
Organização das Nações Unidas (ONU), contando com a participação de 113 (cento e treze) 
países.50 Considerada com divisor de águas por Fernanda Medeiros51, pode-se dizer que a 
motivação para a realização da conferência, fora o crescimento econômico despreocupado, 
além de um acelerado processo de industrialização predatório. A conferência foi resultado da 
percepção das nações ricas e industrializadas da degradação ambiental causada pelo seu 
modelo de crescimento econômico e progressiva escassez de recursos naturais. 52 
A conferência foi de suma importância, pois teve a presença de grandes potências, 
sendo consagrados vários princípios os quais, para Édis Milaré53, refletiam o cerne das 
preocupações e concepções ambientais da época. Tal conferência e seus princípios 
influenciaram o Direito em todo o mundo. Considerado por Orci Paulino Bretanha Teixeira54 
como extensão da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948. Pois na 
conferência de Estocolmo, estabeleceu-se que o homem tem direito fundamental à vida 
saudável em um ambiente ecologicamente equilibrado, com uma vida digna que deve ser 
tutelada pelo Estado, o qual tem dever de protegê-lo, manter o equilíbrio ecológico, 
 
49
 MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Meio ambiente: direito e dever fundamental. Porto Alegre: PUCRS, 
2001. Dissertação (Mestrado em Direito). Faculdade de Direito. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande 
do Sul, 2001. p. 72. 
50
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 50. 
51
 A conferência de Estocolmo como grande divisor de águas para o enraizamento da efetiva busca pela proteção 
ambiental. E a razão para é que a referida conferência contém 26(vinte e seis) princípios e 109(cento e nove) 
resoluções. Podemos afirmar, conjuntamente com outros autores, que, a partir dessa Convenção de 1972, as 
nações ‘passaram a compreender que nenhum esforço, isoladamente, seria capaz de solucionar os problemas 
ambientais do planeta’. MEDEIROS, Fernanda Luíza Fontoura de. Meio Ambiente: Direito e Dever 
Fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004. p. 44. 
52
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 140. 
53
 MILARÉ, Édis. Legislação Ambiental do Brasil. São Paulo: APMP, 1991. p. 532. 
54
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 67. 
 11 
necessário a existência do homem. Na ótica de Elida Séguin, “A conferência de Estocolmo, 
em 1972, foi um marco para os movimentos sociais, que terminaram por impor frutos na 
legislação brasileira, que timidamente começou a regulamentar a devastação desenfreada do 
nosso patrimônio ambiental”.55 
Na década de 90, outro evento internacional realizado pela Organização das Nações 
Unidas, entusiasmou o estudo do Direito Ambiental brasileiro. No de 1992, foi realizada no 
Brasil a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento 
(CNUMAD), United Nations Conference on Environment and Developpment, mais conhecida 
como Eco 92 ou Rio 92, na qual participaram mais de 150 (cento e cinqueta) países. Esta é 
considerada uma das mais importantes conferências sobre o Meio Ambiente e 
desenvolvimento, na qual vários documentos foram produzidos, entre eles a Convenção sobre 
a Biodiversidade56 e a Agenda 2157.Para Elida Séguin esta conferência “teve o grande mérito 
de despertar os brasileiros de sua inércia, ao verem o mundo todo preucucupado com o tema 
(ambiental)”.58 Considerando-lhe como “um marco divisor na história do Direito Ambiental, 
por popularizar conhecimentos”.59 
O despertar da comunidade internacional frente as violações ambientais ocorridas no 
planeta, viabilizaram estas duas conferências, consideras como marcos, pontos de partida para 
uma reformulação dos meios de proteção ambiental. No sistema jurídico ambiental brasileiro, 
apartir principalmente, da Conferencia de 1972, foi possivel vislumbrar melhores pespetivas 
de legislações ambientais realmente protecionistas, como por exemplo, a Lei da Politica 
Nacional do Meio Ambiente de 1981, e a Constituição Federal de 1988. 
 
1.2 O MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO 
O meio ambiente ecologicamente equilibrado, indispensável á sadia qualidade de 
vida, está em um momento de grande especulação entorno das consequências da 
irresponsabilidade do homem, quando este lança mão de um direito que é indisponível. O 
homem quando afeta um parcela, mínima deste equilíbrio, indiretamente atinge a totalidade 
do equilíbrio ecológico. O reflexo pode ser não ser sentido imediatamente, mas seus efeitos 
cumulativos podem abranger diversas gerações. Neste sentido Eladio Lecey afirma que, “[...] 
a sobrevivência da espécie humana e sua digna qualidade de vida dependem da sustentação 
de um ambiente equilibrado ecologicamente”.60 
A existência de uma vida digna, passa pela soma dos diversos aspectos e 
fundamentos que são de suma importância para uma sociedade e para uma vida saudável. 
Estão entre estes fundamentos, o direito a educação, o direito a segurança, o direito a saúde, 
que só podem ser buscados a partir da aplicação de uma política de conservação ambiental 
que se digne a preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Pois, este por sua vez, 
 
55
 SÉGUIN, Elida. Direito Ambiental: nossa carta planetária. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 25. 
56
 É um documento em que os países signatários se comprometem em proteger as riquezas biológicas existentes, 
principalmente nas florestas; 112 países assinaram a Convenção. MAGALHÃES, Juraci Perez. A evolução do 
Direito Ambiental no Brasil. 22 ed. aum. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 66. 
57
 É um texto de diretrizes, por vezes normativo, de cunho otimista e com abrangência até então pouco vista em textos 
congêneres. [...] Nele são tratados, questões temáticas relativas ao desenvolvimento econômico – social e as suas 
dimensões, à conservação e administração de recursos para o desenvolvimento, ao papel dos grandes grupos 
sociais que atuam nesse processo. [...] pode-se dizer que a Agenda 21 é a cartilha básica do desenvolvimento 
sustentável. MILARÉ, Édis. Agenda 21: A cartilha do desenvolvimento sustentável. In: MILARÉ, Edis; 
MACHADO, Paulo Affonso Leme. (orgs.) Coleção doutrinas essenciais. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 
2011. v. 6. p. 114. 
58
 SÉGUIN, Elida. Direito Ambiental: nossa carta planetária. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 27. 
59
 SÉGUIN, Elida. Direito Ambiental: nossa carta planetária. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 27. 
60
 LECEY, Eladio. A proteção do meio ambiente e a responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: FREITAS, 
Vladimir Passos de (org.). Direito Ambiental em Evolução 1. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 37. 
 12 
tem objetivo de efetivamente garantir a existência de vida, para as presentes e futuras 
gerações, com o mínimo de qualidade possível. Para melhor compreender o meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, deve-se compatibilizarda idéia de José Afonso da Silva, que 
definiu o meio ambiente, como riqueza insubstituível, e a sua interação com o homem como 
sendo “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o 
desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.61 
 O meio ambiente, como um bem da coletividade, necessita de um especial 
tratamento do Estado. Pensando nisso, o Estado brasileiro na escala evolutiva de meios 
legislativos de proteção ambiental, produziu os textos mais modernos nessa matéria, através 
da Legislação Constitucional e Infraconstitucional. 
 
1.2.1 O conceito de meio ambiente ecologicamente equilibrado 
O meio ambiente não teve conceito definido legalmente, até o advento da Lei da 
Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981), que além de definir o que se 
entende por meio ambiente, poluição e degradação, demonstrou os objetivos do da Política 
Nacional do Meio Ambiente, o que representou o efetivo surgimento da proteção ambiental 
brasileira. Na lei o meio ambiente está conceituado como “o conjunto de condições, leis, 
influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a 
vida em todas as suas formas”. Esta definição foi dada pelo artigo 3º, inciso I, da Lei de 
Política Nacional do Meio Ambiente. A lei no artigo 2º, inciso I, ainda definiu o meio 
ambiente como “patrimônio publico a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em 
vista o uso coletivo”. 
Édis Milaré62 faz uma classificação do sentido da expressão meio ambiente, em 
linguagem técnica, e no conceito jurídico. Na linguagem técnica, o meio ambiente é entendido 
como combinação de todas as coisas e fatores externos ao indivíduo ou a população de 
indivíduos. Precisamente é constituído por seres bióticos e abióticos e suas relações e 
interações. É uma realidade complexa e marca por inúmeras variáveis. 
No conceito jurídico, o meio ambiente e visto através de duas perspectivas: uma 
estrita e uma ampla. Na primeira, o meio ambiente, não é nada mais que a expressão do 
patrimônio natural e as relações com os seres vivos e entre eles. Desprezando-se o que não diz 
respeito aos bens naturais. Na segunda, o meio ambiente abrange toda a natureza original e 
artificial. O meio ambiente na perspectiva ampla abrange todos os elementos culturais, 
artificiais, e naturais, que se destinam a permitir o desenvolvimento equilibrado de todas as 
formas de vida. 
 
1.2.2 O meio ambiente ecologicamente equilibrado na Constituição Federal 
 Foi visando à proteção da interação de todos os elementos essenciais a existência de 
vida em todas as suas formas que o legislador dedicou-se a trabalhar implantando na 
Constituição Federal de 1988 o desenvolvimento sustentável e o Meio ambiente 
ecologicamente equilibrado como direitos fundamentais de todos os cidadãos, em um capítulo 
especifico, iniciado no artigo 225.63 
Para Paulo Affonso Leme Machado64, a Constituição de 1988 pela primeira vez 
inseriu o tema meio ambiente reunindo todos os elementos que a compõem de forma não 
 
61
 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 20. 
62
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 158. 
63
 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as 
presentes e futuras gerações. 
64
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14. ed. ver., atual., ampl. São Paulo: Malheiros, 
2006. p. 104. 
 13 
fragmentada. A nova ordem constitucional garantiu o direito de todos ao meio ambiente 
equilibrado ecologicamente e essencial a qualidade de vida. 
Celso Antonio Pacheco Fiorillo65 observa que a Constituição Federal “validou”, a 
definição jurídica de meio ambiente apontada na Lei nº 6.938/1981, e fica evidente que a 
definição jurídica está circunscrita à tutela da vida em todas as suas formas. Sendo assim, a 
proteção ambiental constitucional se ocupa da defesa jurídica da vida no plano constitucional, 
pois o direito a vida em todas as suas formas, estabelecido pelo artigo 225 da Constituição 
Federal, deve ser ecologicamente equilibrado. 
As inovações trazidas pela Constituição de 1988 foram tão importantes para os 
brasileiros em matéria ambiental, quanto os direitos e garantias elecandos no artigo 5º da 
Constituição Federal, pois elevou o meio ambiente a direito fundamental da pessoa humana, 
como afirma Édis Milaré, 
A par dos direitos e deveres individuais e coletivos elencados no art. 5º, 
acrescentou o legislador constituinte, no caput do art. 225, um novo direito 
fundamental da pessoa humana, direcionado ao desfrute de adequadas condições de 
vida em um ambiente saudável ou, na dicção da lei, “ecologicamente equilibrado”.66 
Portanto, o meio ambiente equilibrado ecologicamente passou a ser considerado um 
direito fundamental, apesar de não constar no rol de direitos previstos no artigo 5º de nossa 
Constituição, face a importante constatação de que somente haverá vida, ou existência do 
homem, a partir do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Assim, leciona Orci Paulino 
Bretanha Teixeira 
Este direito é portador de uma mensagem de interação entre o ser humano 
e a natureza para que se estabeleça um pacto de harmonia de equilíbrio. Ou seja, um 
novo pacto: homem e natureza. Fixada sua importância, passa a ser reconhecido 
como direito fundamental, embora não conste como tal no catálogo destes direitos.67 
Na Constituição de 1988, estão dispostos os meios de proteção; o papel do cidadão 
na proteção; o papel do Poder Público na tutela do meio ambiente e as formas como ele deve 
exercer esta tutela. Da mesma forma que Constituição quis impor ao poder público o dever de 
zelar pela qualidade ambiental, solidariamente repassou este dever a todos os cidadãos que 
usufruem do equilíbrio ecológico. Muito bem refere Orci Paulino Bretanha Teixeira que, 
A defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado passa a ser tarefa 
e finalidade do Estado e obrigação dos indivíduos para garantir o direito 
fundamental formalmente reconhecido e preexistente ao próprio Estado. [...] O 
homem na condição de cidadão torna-se titular do direito ao ambiente 
ecologicamente equilibrado e também sujeito ativo do dever fundamental de 
proteger ao meio ambiente.68 
Na visão de Paulo Affonso Leme Machado, a Constituição federal foi muito bem 
elaborada, pois aproximou o Poder Público e a coletividade na tarefa de defesa do meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, 
A Constituição foi bem-formulada ao terem sido colocados 
conjuntamente o Poder Público e a coletividade como agentes fundamentais na ação 
defensora e preservadora do meio ambiente. [...] O Poder Público e a coletividade 
deverão defender e preservar o meio ambiente desejado pela Constituição, e não 
qualquer meio ambiente. O meio ambiente a ser defendido e preservado é aquele 
ecologicamente equilibrado.69 
 
65
 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do processo ambiental. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 34-35. 
66
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 158. 
67
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 67. 
68
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 87. 
69
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14. ed. ver., atual., ampl. SãoPaulo: Malheiros, 
2006. p. 123. 
 14 
Ele ainda esclarece enfatizando que o equilíbrio ecológico não significa dizer 
imutabilidade dos elementos que compõem o meio ambiente, mas uma convivência 
harmoniosa com o mínimo de impacto possível, 
O equilíbrio ecológico não significa uma permanente inalterabilidade das 
condições naturais. Contudo, a harmonia ou a proporção e a sanidade entre os vários 
elementos que compõem a ecologia – populações, comunidades, ecossistemas e a 
biosfera – hão de ser buscadas intensamente pelo Poder Público, pela coletividade e 
por todas as pessoas.70 
O Legislador Constitucional foi muito hábil quando consagrou a punição aos 
agressores dos bens ambientais indispensáveis para o equilíbrio do ecossistema, prevendo 
punições nas esferas civil, penal e administrativa tanto para as pessoas físicas quanto para as 
pessoas jurídicas. A aplicação da tutela penal do meio ambiente e da responsabilidade da 
pessoa jurídica no texto Constitucional foi a grande nova idéia com o fito de proteger e 
preservar o meio ambiente. Foi lúcida a ruptura do legislador com os tradicionais e 
dogmáticos princípios do direito que devem ser analisados de forma diferente quando o bem 
jurídico a ser tutelado possui tão elevado valor a vida, como é o meio ambiente. Foi uma 
clara tentativa de barrar o esvaziamento dos recursos ambientais. 
A sobrevivência humana, e da vida, inegavelmente esta relacionada ao meio 
ambiente, que deve ser um meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia 
qualidade de vida. Esse direito projeta-se como a defesa, proteção, tutela e preservação de 
recursos indispensáveis à dignidade de uma vida. Ensina ainda Elida Séguin que, 
O ângulo de abrangência e influência do Meio Ambiente, a 
impossibilidade de determinar seu titular, que constantemente tem no proprietário do 
bem específico seu maior inimigo, o transforma num direito difuso por excelência, 
justificando a amplitude do vocábulo todos no art. 225 da CRF.71 (grifo da autora) 
 O Direito Ambiental tem indubitavelmente, através da norma constitucional e das 
normas infraconstitucionais, a meta de manter e ditar o equilíbrio do meio ambiente, 
composto pelos recursos naturais, pelo o homem e todas as formas de vida presentes e futuras. 
O meio ambiente ecologicamente equilibrado, indispensável á sadia qualidade de 
vida, está em um momento de grande especulação entorno das consequências da 
irresponsabilidade do homem, quando este lança mão de um direito que é indisponível. O 
homem quando afeta um parcela, mínima deste equilíbrio, indiretamente atinge a totalidade 
do equilíbrio ecológico. O reflexo pode ser não ser sentido imediatamente, mas seus efeitos 
cumulativos podem abranger diversas gerações. Neste sentido Eladio Lecey afirma que, “[...] 
a sobrevivência da espécie humana e sua digna qualidade de vida dependem da sustentação 
de um ambiente equilibrado ecologicamente”.72 
A existência de uma vida digna, passa pela soma dos diversos aspectos e 
fundamentos que são de suma importância para uma sociedade e para uma vida saudável. 
Estão entre estes fundamentos, o direito a educação, o direito a segurança, o direito a saúde, 
que só podem ser buscados a partir da aplicação de uma política de conservação ambiental 
que se digne a preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Pois este, por sua vez, 
tem objetivo de efetivamente garantir a existência de vida, para as presentes e futuras 
gerações, com o mínimo de qualidade possível. Aduz Elida Séguin que 
O art. 225 da Constituição Federal da República (CRF) incorporou ao 
nosso ordenamento jurídico institutos conhecidos por poucos segmentos sociais. 
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente ecologicamente equilibrado 
 
70
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14. ed. ver., atual., ampl. São Paulo: Malheiros, 
2006. p. 119. 
71
 SÉGUIN, Elida. Direito Ambiental: nossa carta planetária. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 40. 
72
 LECEY, Eladio. A proteção do meio ambiente e a responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: FREITAS, 
Vladimir Passos de (org.). Direito Ambiental em Evolução 1. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 37. 
 15 
começaram a fazer parte do conceito de cidadania, influenciado pelos Direitos 
Humanos internacionalmente reconhecidos, como o direito ao desenvolvimento, à 
saúde e à educação.73 
Nesta esteira, Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues, 
manifestam-se no sentido de que 
 O direito ao meio ambiente, em verdade, é pressuposto de exercício 
lógico dos demais direitos do homem, vez que em sendo o direito à vida, o objeto do 
direito ambiental, somente aqueles que possuírem a vida, e, mais ainda, a vida com 
qualidade e saúde é que terão condições de exercitarem os demais direitos humanos 
nestes compreendidos os direitos sociais, da personalidade e político do ser 
humano.74 
Portanto, o meio ambiente ecologicamente equilibrado busca a proteção da vida, e 
como tal, tem de ser respeitado como direito fundamental. E como direito fundamental 
merece os olhares não só do Direito Civil, do Direito Administrativo e do Direito Penal, mas 
do conjunto de todos os fundamentos das ciências de forma integralizada. 
 
2 A TUTELA PENAL DO MEIO AMBIENTE 
2.1 ORIGEM DA TUTELA PENAL DO MEIO AMBIENTE 
Para melhor compreender a tutela penal do meio ambiente, mister a análise histórica 
quanto a evolução da legislação penal que se destinou a proteção do meio ambiente 
ecologicamente equilibrado. Tem-se que a legislação de natureza fundamentalmente penal é 
bem mais escassa do que a de natureza civil e administrativa.75 A primeira formulação 
legislativa penal foi o Código Criminal do Império do Brasil, de 1830, que estabelecia 
sanções para quem destruísse ou danificasse construções, monumentos e bens públicos e, 
também, para quem cortasse árvores ilegalmente.76 
No Código Penal de 1890, o Decreto nº 847, também pode ser encontrada uma breve 
alusão ao corte de árvores. Em relação à Consolidação das Leis Penais, aprovada e adotada 
pelo Decreto nº 22.213/1932, tem-se a proteção parcial do meio ambiente cultural; em seu 
artigo 390, a exemplo do Código Penal de 1890, também em artigo do mesmo número, 
dispõe sobre a proteção ambiental. Posteriormente, o Código Penal de 1940, o Decreto-Lei nº 
2.848, previa, o crime de corrupção ou de poluição de água potável. Todavia, esse dispositivo 
legal protegeu apenas a água potável, e não àquela já considerada poluída. Esse Código 
tutelava indiretamente o meio ambiente em seus artigos 165 (dano in cousa de valor artístico, 
arqueológico ou histórico); 166 (alteração de local especialmente protegido); 252 (uso de gás 
tóxico ou asfixiante); 259 (difusão de doença ou praga); e 270, caput e §1°, 1ª parte 
(envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal).77 
O Decreto-Lei nº 3.688/1941, conhecido por Lei das Contravenções Penais, em seus 
artigos 38 e 64, de modo tímido dispôs sobre a proteção ambiental. Este texto legal na 
verdade, tratou da poluição e da proteção dos animais. Entretanto, da legislação citada, esses 
dispositivos são os mais próximos do moderno Direito Penal Ambiental, pois tinham por 
objetivo também, o princípio da prevenção. 
 
73
 SÉGUIN, Elida. Direito Ambiental: nossa carta planetária. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 25-6. 
74
 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito ambiental e legislação 
aplicável. 2.ed. [s.l.]: Max Liminad, 1999. p. 31-32. 
75
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. Responsabilidade penal ambiental. texto não publicado, 2011. 
76
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. Responsabilidade penal ambiental. texto não publicado, 2011. 
77
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha.O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 55. 
 16 
Para Orci Paulino Bretanha Teixeira, a evolução do que se pode denominar de 
Direito Penal Ambiental, tem como grande marco o artigo 1578 da Lei nº 6.938/81, com a 
redação conferida pela Lei nº 7.804/1989, que introduziu no sistema penal a responsabilidade 
pelo crime de poluição. Como ele mesmo destaca 
as normas penais editadas até 1940 foram insuficientes para uma efetiva 
proteção do meio ambiente por si só. A proteção se limitava a alguns bens isolados 
e se dava por razões patrimoniais e não como recursos da humanidade essenciais à 
própria sobrevivência da vida.79 
Comprova-se tal assertiva, com alguma facilidade, tendo como ponto de partida a 
legislação ambiental, uma vez que, alguns danos são as vezes irreversíveis quando 
produzidos. Para Orci Paulino Bretanha Teixeira80, a legislação ambiental além de ter o 
caráter preventivo também tem o caráter educacional. Nessa conjuntura, tendo se revelado 
precária a legislação infraconstitucional até então produzida, somada a falta de 
conscientização quanto à necessidade de proteger o meio ambiente, foi editada a Le nº 9.605 
de 12 de fevereiro de 1998, regulamentando o artigo 225, §3º, da Constituição Federal de 
1988, como já explicitado. A Lei nº 9.605/1998 dispôs sobre as sanções penais e 
administrativas para as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado e, ainda, precursoramente tipificou os delitos ambientais imputados às pessoas 
físicas e às pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado, sendo impar ao dispor 
sobre responsabilidade penal de pessoa jurídica, o que significou um grande avanço na 
proteção ambiental81 
A Lei nº 9.605/1998 revogou parcialmente a Lei nº 6.938/1981 quanto às sanções 
penais e administrativas relativas ao meio ambiente. Além do art. 15 da Lei nº 6.938/1981, 
que dispunha sobre o crime ambiental, a Lei nº 9.605/1998, também revogou os artigos 165, 
166, 252, 259, 270, caput, § 1ª parte, e 271, todos do Código Penal e os artigos 28, 38, 42 e 
64, todos da Lei das Contravenções Penais. Outros textos infraconstitucionais que dispunham 
sobre crime ambiental também foram revogados pela Lei dos Crimes Ambientais. Tais como: 
o artigo 26, “a”, “b”, “c”, “d”, “f”, “g”, “h”, “i”, “n”, “o”, e o artigo 45, §3º, da Lei nº 
4.471/1965 (código florestal); os artigos 4º, 17, 18, 27, caput, §1º e §2º, da Lei nº 5.197/1967 
(Código de Caça) ; os artigos 20, 21, 22, 24 3 25 da Lei nº 6.453/1977 (atividades nucleares); 
o artigo 8º da Lei 7.679/1988 (proibição de pesca de espécies em períodos de reprodução); os 
artigos 15 e 16 da Lei 7.802/1989 (agrotóxicos); e o artigo 21 da Lei 7.805/1989 (lavra 
garimpeira).82 
 
2.2 O DIREITO PENAL AMBIENTAL 
A manifestação da tutela jurídica do meio ambiente é em decorrência da ameaça, 
constante, assim como definiu José Afonso da Silva “não só do bem-estar, mas a qualidade 
da vida humana, se não a própria sobrevivência do ser humano”.83 A manifestação do 
Direito Ambiental no controle da qualidade ambiental, em função da qualidade de vida, 
 
78
 Art. 15. O poluidor que expuser a perigo a incolumidade humana, animal ou vegetal, ou estiver tornando mais grave 
situação de perigo existente, fica sujeito a pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a mil 
1000 (MRV). 
[...] II – a poluição é decorrente de atividade industrial ou de transporte. 
III - o crime é praticado durante a noite em domingo ou feriado. 
§ 2º. Incorre no mesmo crime a autoridade competente que deixar de promover as medidas tendentes a impedir a 
pratica das condutas acima descritas. 
79
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. Responsabilidade Penal Ambiental.texto não publicado, 2011. 
80
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. Responsabilidade Penal Ambiental.texto não publicado, 2011. 
81
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. Responsabilidade Penal Ambiental.texto não publicado, 2011. 
82
 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 57. 
83
 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 28. 
 17 
agredida pela própria ação desmedida do homem, pode-se dizer que é a busca da tutela do 
meio ambiente. 
E como ferramenta, ou propriamente um ramo da tutela jurídica do meio ambiente, a 
tutela penal do meio ambiente é hoje um instrumento jurídico apto, importantíssimo para a 
proteção, manutenção e preservação de um ambiente ecologicamente equilibrado, para que a 
vida seja possível nas sua diferentes formas. A tutela do meio ambiente assim como afirma 
Eladio Lecey, “tem merecido a atenção de toda a humanidade, sendo objeto de preocupação 
nos mais diversos países do planeta”.84 
O Direito Penal Ambiental foi introduzido no sistema jurídico como uma forma de 
proteger o meio ambiente e sancionar as atividades e as condutas nocivas a sua existência 
como um sistema complexo que é. O Direito Penal quis na verdade manter a harmonia entre o 
homem e a natureza, e incorporar a repudia da sociedade em relação aos danos causados a 
essa relação. Leciona nesse sentido Eladio Lecey que, 
[...] o meio ambiente ecologicamente equilibrado é essencial à qualidade 
de vida a ponto de impor-se ao Poder Público e à coletividade o dever de vida a 
ponto de preservá-lo às presentes e futuras gerações. [...] Bem de tal extrema 
importância, não pode ficar alheio ao Direito Penal, cujas regras devem estender-lhe 
proteção.85 
Nota-se que o ambiente é tutelado e protegido, como um valor em si mesmo, pelo 
que representa às gerações presentes e futuras, como destaca nossa própria Constituição de 
1988.86 A tutela penal do meio ambiente, por consequência, decorre da relação do homem e a 
natureza, que o direito tratou de regular e proteger. 
Ensina Celeste Gomes que, “A proteção do meio ambiente não se resume apenas a 
conservação, mas coordenação e racionalização do uso dos recursos, com a finalidade de 
preservar o futuro do homem”.87 A criminalização do dano ambiental deve ser analisada a 
partir da perspectiva da evolução da sociedade. A evolução social fez com que tivéssemos 
uma visão de consumo sustentável, frente à escassez destes recursos. A necessidade de punir 
os danos ao meio ambiente provocou a intervenção do Estado para a preservação dos recursos 
naturais. Eladio Lecey assevera que “O direito Penal Ambiental incrimina não só o colocar 
em risco a vida, a saúde dos indivíduos e perpetuação da espécie humana, mas o atentar 
contra a própria natureza”.88 Édis Milaré89 coloca como sendo uma questão de “vida ou 
morte” restabelecer o equilíbrio ecológico em nossos dias, pois os fenômenos biológicos e 
suas manifestações sobre o planeta estão sendo alterados muito perigosamente. Por isso, a 
indiferença da tutela do Direito Penal, frente ao clamor social pela criminalização das 
condutas antiecológicas, estaria ferindo a sua reputação, enquanto ciência do direito 
responsável por assegurar os direitos fundamentais. 
A punição aos danos primeiramente, tinha uma visão econômica dos recursos 
naturais, passando posteriormente a uma visão protecionista, pois o meio ambiente é um 
complexo de interações de diversos elementos, que refletem diretamente na vida do homem. 
A criminalização aos limites extrapolados surgiu como uma forma de preservação, proteção e 
 
84
 LECEY, Eladio. A proteção do meio ambiente e a responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: FREITAS, 
Vladimir Passos de (org.). Direito Ambiental em Evolução 1. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 37. 
85
 LECEY, Eladio. A proteção do meio ambiente e a responsabilidadepenal da pessoa jurídica. In: FREITAS, 
Vladimir Passos de (org.). Direito Ambiental em Evolução 1. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 38. 
86
 LECEY, Eladio. A proteção do meio ambiente e a responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: FREITAS, 
Vladimir Passos de (org.). Direito Ambiental em Evolução 1. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 39. 
87
 GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira. Crimes Contra o Meio Ambiente: Responsabilidade e Sanção Penal. 
São Paulo: Oliveira Mendes, 1998. p. 1. 
88
 LECEY, Eladio. A proteção do meio ambiente e a responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: FREITAS, 
Vladimir Passos de (org.). Direito Ambiental em Evolução 1. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 39. 
89
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4. ed. rev., ampl., atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2005. p. 845. 
 18 
melhoria a qualidade ambiental, e não simplesmente, uma forma de punição do Estado. A 
observação de Alex Fernandes Santiago é muito clara quando fala que, o Direito Penal 
Ambiental tem a sua missão muito bem definida: 
Dois marcos bem nítidos fixam a missão do Direito Penal Ambiental e 
dentro destes marcos deve ser examinada e avaliada sua eficácia: proteger o meio 
ambiente como uma composição de interesses sociais e, em sentido acessório, fazê-
lo somente frente aos ataques mais intoleráveis e atuando de modo subsidiário. O 
Direito Penal deve sancionar pouco e bem[...].90 
A responsabilização criminal, por se tratar de aplicação de uma pena, tem a feição 
mais impositiva, pois reflete diretamente o grau de reprovabilidade da conduta realizada. 
Eladio Lecey91 faz uma bela demonstração da utilidade do direito criminal na tutela penal do 
meio ambiente. Portanto como ele classifica, o Direito Penal Ambiental mostra-se útil: como 
resposta social, tendo em vista a natureza do bem tutelado, pois o meio ambiente é um bem 
da coletividade transcendendo ao indivíduo, merecendo, portanto, o rigor da sanção penal; 
como instrumento de pressão à solução de conflitos, pois deve atuar nas mais graves lesões e 
violações ao meio ambiente; como instrumento de efetividade das normas gerais, pois como 
resposta social e instrumento de pressão, torna efetiva as normas que não são penais, que por 
vezes, só se tornam efetivas com a aplicação da norma penal; e como instrumento de 
prevenção, pois o mais notório papel do Direito Penal é o de prevenir a ocorrência de delitos 
ambientais. 
Contribui nesse sentido Alex Fernandes Santiago92, quando aponta as vantagens do 
Direito Penal na proteção do meio ambiente, observando-se a dosada intervenção. Pois frente 
ao Direito Civil, o Direito Penal aporta a dimensão sancionatória. O Direito Penal carrega 
consigo, a força do mecanismo público de persecução de infrações, o que lhe dá uma o status 
de comunicativa superior. Como ele mesmo afirma “o direito penal é bem menos romântico 
do que se costuma imaginar. Os tipos penais constituem verdadeira autorização primária 
para que o Estado possa intervir em certas áreas reservadas da esfera da liberdade 
individual”.93 E ainda, frente ao Direito Administrativo, o Direito Penal aporta maior 
neutralidade política, assim como a imparcialidade jurisdicional. 
Em que pese, a sanção penal ambiental tenha, em uma analise menos rebuscada, um 
caráter meramente repressivo, pois em tese age somente após a atividade lesiva, ela pode 
desempenhar um duplo papel. O papel da repreensão e da prevenção. Mas prevenir é o mais 
importante em tratando-se do bem jurídico que atinge a coletividade, como é o meio 
ambiente, pois não há qualquer mérito em punir quando o dano, as vezes, irreversível já 
ocorreu. 
Para Alex Fernandes Santiago94, existem três formas em que se dá a prevenção do 
dano ambiental através do Direito Penal. A primeira delas é pela técnica da tipificação das 
condutas prejudiciais ao meio ambiente, pois também são tipificadas condutas de perigo, 
antecipando o momento de consumação, evitando portanto, o dano ambiental; a segunda, pela 
prevenção geral positiva feita pela norma penal, reafirmando o bem ambiental como 
 
90
 SANTIAGO, Alex Fernandes. Compreendendo o papel do Direito Penal na defesa do Meio Ambiente. Revista de 
Direito Ambiental, São Paulo, n. 61, p. 83, jan./mar. 2011. 
91
 LECEY, Eladio. A proteção do meio ambiente e a responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: FREITAS, 
Vladimir Passos de (org.). Direito Ambiental em Evolução 1. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 40-1. 
92
 SANTIAGO, Alex Fernandes. Compreendendo o papel do Direito Penal na defesa do Meio Ambiente. Revista de 
Direito Ambiental, São Paulo, n. 61, p. 84-86, jan./mar. 2011. 
93
 SANTIAGO, Alex Fernandes. Compreendendo o papel do Direito Penal na defesa do Meio Ambiente. Revista de 
Direito Ambiental, São Paulo, n. 61, p. 86, jan./mar. 2011. 
94
 SANTIAGO, Alex Fernandes. Compreendendo o papel do Direito Penal na defesa do Meio Ambiente. Revista de 
Direito Ambiental, São Paulo, n. 61, p. 101-102, jan./mar. 2011. 
 19 
fundamental e relevante para a sociedade; a terceira, pela prevenção especial impositiva, 
dirigida ao infrator, reafirmando o valor do bem atingido. Para Gilberto Passos de Freitas, 
[...] a relevância do objeto tutelado justifica a intervenção penal. Daí se 
falar em Direito Penal Ambiental. Outrossim, por ser o meio ambiente um bem 
difuso, alguns conceitos e princípios consagrados no Direito Penal tradicional a eles 
não se aplicam ou se aplicados, devem se amoldar às especialidade e aos princípios 
do Direito Ambiental.95 
Portanto o Direito Penal Ambiental aporta os principais princípios do Direito 
Ambiental, quais sejam: princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito 
fundamental; principio do controle do poluidor pelo Poder Público; princípio do poluidor-
pagador e princípio da prevenção. Este último é basilar do Direito Ambiental, concernindo à 
prioridade que deva ser dada às medidas que evitem o nascimento de atentados ao meio 
ambiente, de modo a reduzir ou eliminar as causas de ações suscetíveis de alterar sua 
qualidade.96 
 
2.3 A SUBSIDIARIEDADE DA RESPONSABILIDADE PENAL 
A responsabilidade ambiental, em termos genéricos, representa destinar a alguém um 
ônus pelo resultado de ações que lesem, ou que venham a lesar o ambiente ecologicamente 
equilibrado, ou seja, imputar as consequências ao infrator da transgressão à legislação 
ambiental e causador de um dano, muitas vezes tecnicamente irreparável. A responsabilidade 
não se aplica tão somente em casos de danos já causados propriamente, mais se funda também 
em um risco de dano que certas atividades ou atitudes que se tomadas venham a causar. 
A palavra responsabilidade tem origem latina, respondere - responsa97, tomado na 
significação de se responsabilizar, garantir, assegurar, assumir o pagamento do que se obrigou 
ou do ato que praticou. Edson José da Fonseca observa que, 
Em seu sentido amplo, revela-se como o dever jurídico em que se coloca 
a pessoa, seja em virtude de contrato, seja em face de fato ou omissão que lhe seja 
imputado, para satisfazer a prestação convencionada ou para suportar as sanções 
legais que lhe são impostas.98 
 A responsabilidade ambiental é reflexo de uma ação ou de uma omissão. E como bem 
vislumbra Alessandra Rapassi Mascarenhas Prado a responsabilidade, é termo que se refere às 
consequências da conduta e, 
sob o prisma jurídico-penal: a obrigação de suportar as consequências 
jurídicas do crime. Mediante a determinação da responsabilidade, procura-se tornar 
obrigado alguém a ressarcir um dano ou a sofrer determinada pena, por motivo 
daquele que deu causa.99 
A responsabilidade por dano ambiental, como muito bem observado pela 
Constituição Federal, poderá ter reflexos penais, civis e administrativos, de acordo com a 
natureza da infração, do dano

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