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Direito objetivo

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Lições preliminares sobre o direito subjetivo 
 
 
Paulo Maycon Costa da Silva 
 
 
 
1. A problemática da conceituação 
 
Não há terreno mais arenoso do que aquele em que se edifica a teoria do direito, 
mormente no campo dos seus conceitos e definições. Por conceito entende-se a 
concepção; da idéia, ou do modo de entender a respeito de certa pessoa ou coisa, para 
poder qualificá-la ou defini-la. Diz-se, também, do sentido, da significação ou da 
interpretação da lei. O conceito legal expressa o pensamento do texto no seu 
entendimento mais justo e mais consentâneo com o caso concreto. Por sua vez a 
definição reporta-se ao ato de definir; da explicação clara e precisa do sentido ou do 
significado de alguma palavra ou de algum conceito. Para o início dessa exposição, 
nos preocuparemos em demonstrar o conceito do direito subjetivo, para 
subseqüentemente expor uma definição clara e objetiva do termo. 
 
Os dicionários jurídicos insistem em afirmar que o direito subjetivo seria a 
faculdade que a ordem jurídica assegura a toda pessoa de querer e realizar, ou de agir e 
reagir, até onde o seu direito não atinja o de outrem. Revelar-se-ia, portanto, no poder 
fundado no dever, inerente a qualquer um dos sujeitos da relação jurídica. Mais adiante 
veremos que essa idéia está equivocada, uma vez que faculdade (facultas agendi) não é 
sinônimo de direito subjetivo. 
 
Ainda, colhemos alguns ensaios que se preocuparam em trazer aquelas teorias 
clássicas acerca do direito subjetivo, que nada mais, acabam por dificultar a própria 
compreensão desse instituto. Para ilustração, vale transcrever passagem extraída da 
Enciclopédia do Advogado, nos precisos termos: 
 
"Windscheid primeiramente definiu o direito subjetivo como sendo um poder da 
vontade atribuído pelo ordenamento jurídico, porque achava que a mola que faz mover 
o direito era a vontade individual. Várias críticas sofreu a teoria: pode-se deixar de 
exercer um direito sem perder a faculdade de vir a fazê-lo; os incapazes e as pessoas 
jurídicas têm direitos mas não têm vontade (os incapazes têm capacidade de direito 
mas não de fato).; há pessoas que podem ignorar serem titulares de um direito 
(dementes, ausentes). Em vista disso Windscheid escreveu que não se trata da vontade 
individual mas da vontade do ordenamento jurídico, o que redunda em suprimir a 
distinção entre lei e direito subjetivo. Ihering sustentou que o direito subjetivo é apenas 
um interesse juridicamente protegido, entendendo-se interesse em sentido amplo: 
moral, econômico, afetivo, etc. Teria confundido a natureza desse direito coma 
finalidades a que se presta, além de submeter a apreciação do interesse à consciência 
individual, quando o direito objetivo considera estes interesses do ponto de vista do 
bem comum. Jellinek tentou conciliar ambas as doutrinas: é o interesse tutelado pela 
lei mediante o reconhecimento da vontade individual. Kelsen identifica o direito 
objetivo e direito subjetivo, não passando este de mera decorrência da mesma lei que 
impõe os deveres: Duguit diz que não há direitos mas apenas deveres que permitem 
aos indivíduos desempenharem funções na sociedade. Para Thon é o poder de acionar 
os outros para o cumprimento dos deveres que lhes incumbem” [1]. 
 
 
No entanto, em homenagem à pesquisa acadêmica, impõe-se melhor explicação 
dessas teorias para sanar qualquer curiosidade superveniente acerca da matéria. 
 
Pela Teoria da Vontade, concebida pelo jurista alemão BERNADO 
WINDSCHEID, afirma-se que alguém terá direito subjetivo, quando sua vontade, em 
virtude do direito objetivo, for mais forte que a da outra pessoa em determinada 
situação [2]. 
 
A Teoria do Interesse, ao seu turno, é a solução proposta pelo também jurista 
alemão RUDOLF VON JHERING, segundo o qual o direito subjetivo é interesse 
protegido pelo direito objetivo, ou seja, pela norma de conduta. Em suas palavras, é 
interesse juridicamente protegido [3]. 
 
Temos, ainda, a Teoria Mista que busca conjugar vontade e interesse. Conforme 
explica CÉSAR FIÚZA, para o jurista francês LEON MICHOUD, em sua obra La 
théorie de la personnalité morale, direito subjetivo é o interesse de um homem ou de 
um grupo de homens, juridicamente protegido pelo poder conferido à vontade de 
exigi-lo. De nada valeria o interesse se a vontade de exigir não fosse amparada pelo 
direito objetivo [4]. Para o também francês RAYMOND SLLEILES apud César Fiúza, 
o direito subjetivo consiste no poder conferido a alguém, poder este exercido por meio 
de vontade [5]. 
 
Por fim, tem-se a Teoria da subjetivação da norma, a qual propugna que tanto a 
teoria da vontade quanto a do interesse e, conseqüentemente, as teorias mistas 
sofreram diversas críticas. O professor mineiro CEZAR FIÚZA, citando lição de 
Domenico Barbero, extraída do livro Sistema istituzionale del diritto privato italiano, 
dispõe que “os direitos subjetivos são mero reflexo da norma, efeito seu. O que se leva 
em conta é a vontade do ordenamento jurídico e o interesse destacado pelo Direito. 
Daí, o centro de gravidade se desloca do indivíduo para a norma. O Direito Subjetivo 
não passa de efeito do Direito Objetivo aplicado ao indivíduo. É, assim, meio de 
proteção de interesse, como deseja Thon; ou , nas palavras de Barbero, meio de agir 
segundo a norma”(sic) [6]. 
 
Não poderíamos, a propósito, deixar de mencionar a Teoria da Inexistência do 
direito subjetivo, capitaneadas pelos eminentes doutrinadores LÉO DUGUIT e HANS 
KELSEN. Na opinião de Duguit o que na realidade subsiste são situações geradas pela 
norma. O que existe é apenas o direito objetivo. E, no entendimento do austríaco 
Kelsen, “o que se denomina direito subjetivo nada mais é que uma forma de encarar a 
norma jurídica, isto é, o direito objetivo, o único que conta. Pode-se encará-lo de 
forma objetiva, quando a norma se diz abstrata; e pode-se encará-lo de forma subjetiva 
quando a norma se diz concreta, uma vez que aplicada a caso concreto” [7]. 
 
Nota-se em passagem de sua clássica obra General Theory of Law and State, a 
clara concepção de HANS KELSEN acerca do direito subjetivo como direito objetivo, 
verbis: 
 
“Sem dúvida, o legislador dá ao credor um direito de receber de volta o seu 
dinheiro, e, ao proprietário, um direito de dispor da sua propriedade, justamente 
porque supõe que um credor, via de regra, tem interesse de receber o seu dinheiro e 
que, via de regra, é interesse do proprietário que os outros não interfiram com o uso de 
sua propriedade. O legislador supõe que as pessoas possuem certos interesses sob 
certas condições, e ele pretende proteger alguns desses interesses. Mas um direito 
existe mesmo nos casos em que – ao contrário da suposição do legislador – não existe 
nenhum interesse efetivo. O direito, portanto, deve consistir, não em um interesse 
presumido, mas na proteção jurídica. A proteção que o legislador dá a um tipo de 
interesse consiste no estabelecimento de regras jurídicas de certo significado. O direito 
de um credor, por conseguinte, é a norma jurídica segundo a qual o devedor é obrigado 
a pagar o empréstimo; o direito do proprietário é a norma segundo a qual outros 
indivíduos são obrigados a não interferir no uso da propriedade por parte deste. O 
direito jurídico é, em resumo, o Direito objetivo” [8]. 
 
Entretanto, não será nossa intenção tecer maiores comentários sobre as teorias 
acima enunciadas, apenas objetivamos mencionar a existência dessas proposições 
conforme o exposto inicialmente, em respeito à pesquisa acadêmica. 
 
Dentro da nossa linha de estudo, para a melhor análise do direito subjetivo, 
compulsamos os trabalhos de alguns doutrinadores pátrios. E, encontramos no esboço 
do grande Professor GOFFREDO TELLES JÚNIOR a melhor explanação acerca do 
tema, que, em facede sua clareza e objetividade, servirá de guia para o nosso primeiro 
propósito de conceituar aludido direito [9]. 
 
Esse renomado jurista nos traz, preliminarmente, a idéia de que todo o direito 
subjetivo relaciona-se a uma permissão dada por meio de uma norma jurídica. 
Significa dizer que a possibilidade de uma pessoa fazer ou não fazer alguma coisa, ter 
ou não ter algo, encontra-se consubstanciado numa permissão fundada numa norma 
jurídica, tratando-se, desde modo, de um direito subjetivo. 
 
Nessa linha dispõe o autor que somente são tidas como direitos subjetivos 
àquelas permissões dadas por meio de normas jurídicas válidas, ou seja, por meio de 
normas verdadeiramente autorizantes. Isto significa que são subjetivas aquelas 
permissões cujo uso não pode ser licitamente impedido por ninguém [10]. 
 
Com base nisso, pode-se chegar a seguinte conclusão: não se considera direito 
subjetivo as permissões que consistem em meras liberdades, fortuitas e ocasionais, por 
exemplo, as permissões de alguém atravessar eventualmente propriedade alheia, de 
caçar e pescar, em terras pertencentes a outrem, de assistir a programas na televisão do 
vizinho, de utilizar gratuitamente o telefone de um amigo. Tais permissões não 
configuram direitos subjetivos, porquanto estão desamparadas de preceito normativo. 
 
Por sua vez, podemos considerar como direitos subjetivos as permissões de ter 
domicílio inviolável (Constituição Federal. Art. 5º. X – a casa é asilo inviolável do 
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em 
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por 
determinação judicial); de casar e constituir família ( Constituição Federal. Art. 226. A 
família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado; § 1º O casamento é civil e 
gratuita a celebração); de adotar pessoa como filho (Código Civil. Art. 1.618. Só a 
pessoa maior de dezoito anos pode adotar. Parágrafo único. A adoção por ambos os 
cônjuges ou companheiros poderá ser formalizada, desde que um deles tenha 
completado dezoito anos de idade, comprovada a estabilidade da família) ; de exercer 
profissão lícita (CF. Art. 5º. XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou 
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer); de gozar e 
dispor da propriedade (CF. Art. 5º. XXII – é garantido o direito de propriedade; 
Código Civil. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da 
coisa, e do direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou 
detenha). Na precisa lição de GOFFREDO TELLES, essas permissões, como uma 
infinidade de outras, não são permissões simples. São permissões jurídicas. 
Constituem, portanto, direitos subjetivos. E constituem direitos subjetivos porque são 
permissões concedidas por meio de normas jurídicas [11]. 
 
Diante do exposto, podemos então lançar uma simples definição do direito 
subjetivo como sendo a permissão dada pela norma jurídica para o exercício das 
faculdades humanas. 
 
 
2. O direito subjetivo e a faculdade de agir (facultas agendi) 
 
O eminente civilista CÉSAR FIÚZA dispara seu conceito de direito subjetivo 
nos seguintes termos: “Direito Subjetivo é faculdade. Quando se diz que alguém tem 
direito a alguma coisa, está-se referindo a direito subjetivo seu, a faculdade que possui. 
Logicamente, os direitos subjetivos encontram proteção na norma, no Direito Objetivo. 
É este que os garante. Em outras palavras, é o Direito Objetivo que confere às pessoas 
direitos subjetivos” [12]. Todavia, não perfilhamos dessa cognição. 
 
Na linha teórica desenvolvida por GOFFREDO TELLES, pensamos que o direito 
subjetivo não é faculdade de agir, diversamente, a facultas está contida nele, por 
considerarmos que a faculdade humana de realizar algo está no plano das realizações 
naturais, o que precede o direito que, na verdade, é obra do homem, vale dizer, da 
cultura humana. 
 
As faculdades do homem, consoante preciosa lição de Telles Jr, são potências 
próprias do ser humano, potências que pertencem ao homem, porque o homem é 
homem, é o ser que ele precisamente é. São aptidões humanas, independentemente de 
implicações ou pressupostos de ordem jurídica. São aptidões próprias do homem. E, 
por serem próprias, são propriedades dele [13]. Mais à frente, o festejado autor aduz 
que “as faculdades são dados (são qualidades dadas ao homem pela natureza): 
pertencem, pois, ao mundo da natureza. O direito, porém, é o construído (é obra do 
homem), e pertence, conseqüentemente, ao mundo da cultura” [14]. E, encerra 
afirmando, categoricamente, que nenhuma faculdade humana é um direito, e nenhum 
direito subjetivo é faculdade. 
 
De igual modo, guarda sintonia com a percepção de Goffredo Telles Júnior a 
pena de um dos maiores juristas brasileiro, o sempre homenageado PONTES DE 
MIRANDA, que em seu inigualável tratado de direito privado assentou que: 
 
“O direito subjetivo não é a faculdade, ainda que seja ela uma só; o direito 
subjetivo é que contém a faculdade. Porque o direito subjetivo é o poder jurídico de ter 
a faculdade. A faculdade é fática, é meio fático para a satisfação de interesses 
humanos; o direito subjetivo é jurídico, é meio jurídico para a satisfação desses 
interesses. Na ilha deserta, sem ordenamento jurídico, o náufrago dá a outro náufrago 
o fruto que colher; não doa. Doação é categoria jurídica. Se esse náufrago diz a outro 
que encontrou caverna, em que poderiam, sem perigo, dormir, não fez nenhuma 
declaração de vontade que o obrigue a irem os dois dormir na caverna. Há, aí, 
faculdade, e não há direito subjetivo. Não há direito subjetivo sem regra jurídica 
(direito objetivo), que incida sobre suporte fático tido por ela mesma como suficiente. 
Portanto, é erro dizer-se que os direitos subjetivos existiram antes do direito objetivo; e 
ainda o é afirma-se que foram simultâneos. A regra jurídica é prius, ainda quando 
tenha nascido no momento de se formar o primeiro direito subjetivo” [15]. 
 
Nesse sentido, convém, oportunamente, trazer a lição da recente expressão da 
civilística baiana, o Professor e Promotor de Justiça CRISTIANO CHAVES DE 
FARIAS, segundo o qual “na realidade, o que se tem, no plano concreto, é que há uma 
relação de complementariedade entre o direito subjetivo e a faculdade jurídica, na 
medida em que um contém o outro: o direito subjetivo contém a faculdade. Exercitado 
um direito subjetivo, tem-se um poder de exigir de outrem determinado 
comportamento. Na faculdade jurídica, por seu turno, há poder de exercer um 
determinado direito subjetivo” [16]. 
 
Em síntese, pode-se concluir dizendo que as permissões para o uso de faculdades 
humanas, quando concedidas por meio de normas jurídicas, constituem, precisamente, 
os direitos subjetivos. Em conseqüência, não é correto dizer que o direito subjetivo é a 
mesma coisa que faculdade [17]. 
 
 
3. Características do direito subjetivo 
 
Neste ponto, enunciaremos as características identificadas pelo referido Professor 
CRISTIANO CHAVES [18]. 
 
A primeira corresponde a uma pretensão conferida ao titular paralelamente a um 
dever jurídico imposto a outrem. Significa dizer que ao mesmo tempo em que existe a 
permissão de ir e vir livremente subsiste uma obrigação, consubstanciada num dever 
imposto a todos de não cercear a liberdade de ninguém injustificadamente. 
 
Outra característica é a de que o direito subjetivo admite violação, pois o terceiro 
pode não se comportar de acordo com a pretensão do titular. Em outras palavras, o 
direito subjetivo pode ser violado, nascendo por conseqüência uma pretensão 
indenizatória conferida ao ofendido. 
 
Também se observa, que o direito subjetivo é coercível, podendo o sujeito ativo 
coagir o passivo a cumprir oseu dever. Em outros termos, a pessoa lesada, em função 
do direito subjetivo, fica autorizada a coagir o violador, com as medidas que a própria 
legislação lhe faculta, a cumprir a norma que ele infringiu, e, portanto, a obrigá-lo a 
não impedir o uso do direito subjetivo por ele obstado [19]. 
 
A última característica se revela no sentido de que o exercício do direito 
subjetivo depende, fundamentalmente, da vontade do titular. 
 
 
4. Classificação dos direitos subjetivos. 
 
Inúmeras são as classificações deduzidas pela doutrina. Por exemplo, Goffredo 
Telles Jr. enumera quatro, a saber, os direitos da personalidade, os direitos reais, os 
direitos de fazer e não fazer, e os direitos pessoais. O professor TERCIO SAMPAIO 
FERRAZ JÚNIOR, por sua vez, lembra que as primeiras classificações atribuem-se ao 
jurisconsulto romano Gaio, com sua famosa distinção entre os direitos das pessoas, das 
coisas e das ações [20]. 
 
Menciona ainda Tercio Sampaio, a classificação formulada pelo grande 
TEIXEIRA DE FREITAS, para o qual os direitos subjetivos eram classificados como 
pessoais ou reais, os primeiros abarcando as relações civis e da família; os segundos os 
direitos reais sobre coisas próprias e os sobre coisas alheias [21]. Em face da melhor 
didática, ficamos com parte da classificação formulada por César Fiúza. 
 
Para este os direitos subjetivos se classificam quanto à pessoa, ao objeto do 
direito e quanto às suas qualidades. 
 
Relativamente à pessoa, tem-se o direito subjetivo público quando a pessoa da 
qual se exigir for de direito público. E o direito subjetivo privado, se a pessoa contra a 
qual o exercemos for de direito privado. Os direitos subjetivos privados subdividem-se 
em patrimoniais e não patrimoniais. Finalmente, os direitos patrimoniais distinguem-se 
em creditícios e reais. Os primeiros são direitos de um credor contra um devedor 
determinado. Os direitos reais, por sua vez, são direitos de um titular sobre certa coisa, 
a exemplo, o direito de propriedade [22]. 
 
Quanto às qualidades, se classificam em direitos absolutos e relativos. Por 
absolutos deve-se entender os direitos subjetivos quando traduzem uma pretensão 
oponível à generalidade das pessoas [23]. Isto é, quando ao direito de uma pessoa 
corresponde obrigação correlata de todas as pessoas da coletividade, o direito é um 
direito subjetivo absoluto [24], por exemplo, os direitos reais. 
 
De outro lado, identifica-se o direito subjetivo relativo quando o dever jurídico é 
imposto a pessoas determinadas ou determináveis, fazendo com que a pretensão nele 
contida seja dirigida contra uma pessoa (ou grupo de pessoas), a título de ilustração, 
temos o direito ao crédito que é exercido relativamente a uma pessoa certa e 
determinada ou determinável [25]. Ou seja, na linha externada por Goffredo Telles, 
quando ao direito de uma pessoa corresponde obrigação correlata de pessoa certa, ou 
de um grupo de pessoas certas, o direito é um direito subjetivo relativo [26]. 
 
 
5. Conclusão 
 
Ao término desse estudo, que teve como objetivo traçar linhas gerais sobre os 
direitos subjetivos, ressaltando que nossa missão não fora a de aprofundar o tema, 
porquanto, conforme o já alertado, o assunto comporta inúmeras questões teóricas, 
cujas respostas não encontram, muitas das vezes, convergência por parte da doutrina, 
em função propriamente da complexidade da temática. Pode-se, todavia, chegar em 
algumas assertivas que demonstram o que através dessa análise restou compreendido. 
Então, temos as seguintes conclusões: 
 
O direito subjetivo é a permissão dada pela norma jurídica para o exercício das 
faculdades humanas. 
 
As permissões para o uso de faculdades humanas, quando concedidas por meio 
de normas jurídicas, constituem, precisamente, os direitos subjetivos. Em 
conseqüência, não é correto dizer que o direito subjetivo é a mesma coisa que 
faculdade. 
 
São características do direito subjetivo, a) corresponde a uma pretensão conferida 
ao titular paralelamente a um dever jurídico imposto a outrem; b) o direito subjetivo 
admite violação, pois o terceiro pode não se comportar de acordo com a pretensão do 
titular; c) o direito subjetivo é coercível, podendo o sujeito ativo coagir o passivo a 
cumprir o seu dever; d) o exercício do direito subjetivo depende, fundamentalmente, 
da vontade do titular. 
 
Os direitos subjetivos se classificam quanto à pessoa (direito subjetivo público e 
privado); quanto ao objeto (direitos subjetivos patrimoniais e não patrimoniais) e 
quanto às suas qualidades (absolutos e relativos). 
 
 
 
 
 
 
[1] SOIBELMAN, Leib. 4ª ed. Rio de Janeiro: Rio. 
 
 
 
[2] FIUZA, César. Novo Direito Civil Curso Completo. 7ª ed. Belo Horizonte: 
Del Rey, 2003, p. 14. 
 
 
 
[3] Id. Ibid. 
 
 
 
[4] Ibidem, p. 15. 
 
 
 
[5] Id. Ibid. 
 
 
 
[6] Id. Ibid. 
 
 
 
[7] Ibidem, p. 16. 
 
 
 
[8] Teoria Geral do Direito e do Estado. Tradução Luís Carlos Borges. 2ª ed. 
brasileira. São Paulo: Martins fontes, 1992, p. 82-83. 
 
 
 
[9] Direito Subjetio I. In: FRANÇA, R. Limongi (Coord). Enciclopédia Saraiva 
de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, v. 28, p 298. 
 
 
 
[10] Direito Subjetivo I. In: FRANÇA, R. Limongi (Coord). Enciclopédia 
Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, v. 28, p. 308. 
 
 
 
[11] Direito Subjetio I. In: FRANÇA, R. Limongi (Coord). Enciclopédia Saraiva 
de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, v. 28, p. 299. Com relação a razão de ser do 
nome de direito subjetivo, Goffredo Telles Júnior comenta: “O direito subjetivo é 
assim chamado em razão do sentido etimológico deste qualificativo. O termo 
subjetivo, com é obvio, tem raiz latina. Provém de subjectum, que designa o que está 
submetido, o que é sujeito, o que é ‘pertence’ de alguma cousa; ou, no caso especial do 
direito subjetivo, como em casos análogos a este, designa o que está colocado dentro. 
O direito subjetivo é subjetivo porque as permissões, que o constituem, são próprias 
das pessoas que as possuem; são permissões que lhes pertencem, podendo ser usadas, 
ou não usadas, por elas; permissões, portanto, que a elas se sujeitam, e que, de certa 
maneira, estão dentro delas”. Id. Ibid. 
 
 
 
[12] Novo Direito Civil Curso Completo. 7ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, 
p. 14. De igual pensar, define o grande Caio Mário ao dizer que direito subjetivo é a 
facultas agendi (Insituições de Direito Civil. Vol 1. 19ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1998, p. 19). 
 
 
 
[13] Direito Subjetio I. In: FRANÇA, R. Limongi (Coord). Enciclopédia Saraiva 
de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, v. 28, p. 302. 
 
 
 
[14] Id. Ibid. 
 
 
 
[15] PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado De Direito 
Privado. Parte Geral. Tomo V. Atualizado por Vilson Rodrigues Alves. 1ª ed. Capinas: 
Bookseller, 2000, p. 271. 
 
 
 
[16] Direito Civil Teoria Geral. 2ªed. Rio de Janeiro: Lumen júris, 2005, p. 7. 
 
 
 
[17] A definição de Washington de Barros Monteiro, sobre certo prisma, se 
aproxima da externada nesse trabalho, confira-se: “Direito subjetivo é poder. São as 
prerrogativas de que uma pessoa é titular, no sentido de obter certo efeito jurídico, em 
virtude da regra de direito. A expressão designa apenas uma faculdade reconhecida à 
pessoa pela lei e que lhe permite realizar determinados atos. É a faculdade que, para o 
particular, deriva da norma (jus est facultas agendi)” (Curso de Direito Civil. 35ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 1997, p. 3). Ressalte-se que Monteiro apenas acertou em afirmar 
que o direito subjetivo lhe permite realizar determinados atos, não tendo a mesma sorte 
ao dizer que direito subjetivo é faculdade de agir. 
 
 
 
[18] Ibidem, p. 5-6. 
 
 
 
[19] TELLES JÚNIOR, Goffredo. Direito Subjetio I. In: FRANÇA, R. Limongi(Coord). Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, v. 28, p. 310. 
 
 
 
[20] Direito Subjetivo II. In: FRANÇA, R. Limongi (Coord). Enciclopédia 
Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, v. 28, p. 333. 
 
 
 
[21] Id. Ibid. 
 
 
 
[22] FIÚZA, César. Novo Direito Civil Curso Completo. 7ª ed. Belo Horizonte: 
Del Rey, 2003, p. 16. 
 
 
 
[23] FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito Civil Teoria Geral. 2ªed. Rio de 
Janeiro: Lumen júris, 2005, p. 7. 
 
 
 
[24] TELLES JÚNIOR, Goffredo. Direito Subjetio I. In: FRANÇA, R. Limongi 
(Coord). Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, v. 28, p. 329. 
 
 
 
[25] FARIAS, Cristiano Chaves. Ob.cit., p. 7. 
 
 
 
[26] César Fiúza ainda traz como subdivisão dos direitos subjetivos os direitos 
transmissíveis e intransmissíveis; principais e acessórios; divisíveis e indivisíveis, por 
fim, renunciáveis e irrenunciáveis. Ob. cit., p. 17-18. 
 
 
 
 
Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2963/Licoes-
preliminares-sobre-o-direito-subjetivo 
Acesso em: 06 jul. 2009.

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