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uma situação existente, pretendendo, portanto, incutir no espírito de alguém a inexistência de uma situação real. 5.3) ESPÉCIES: a) RESERVA MENTAL: é a emissão de uma declaração não querida em seu conteúdo, tampouco em seu resultado, pois o declarante tem por único objetivo enganar o declaratário. Nela o agente quer algo e declara, conscientemente, coisa diferente para, eventualmente, poder alegar o erro em D I R E I T O C I V I L II Prof. Orlando Pereira Machado Júnior 23 seu proveito, enganando o outro contratante, sendo ineficaz, por não atingir a validade do negócio jurídico. O atual CCB não cuidou da reserva mental. b) SIMULAÇÃO ABSOLUTA: quando a declaração enganosa da vontade das partes exprime um negócio jurídico bilateral ou unilateral simulado, que não gerará efeito algum entre as partes, não havendo intenção de realizar negócio algum. O ato é ilusório, inexistente, fictício. Ex. Devedor que simula venda de seus bens a parente ou amigo, para que aqueles se subtraiam à execução dos credores. c) SIMULAÇÃO RELATIVA: quando resulta no intencional desacordo entre a vontade interna e a declarada. Dá-se quando uma pessoa, sob a aparência de um negócio fictício, pretende realizar outro que é o verdadeiro, diverso no todo ou em parte do primeiro. Tem a intenção de prejudicar terceiros. Há, neste caso, dois contratos, um aparente e um real, sendo este o que é querido pelas partes e que se lhe oculta de terceiros. A simulação relativa pode ser: c.1) Subjetiva: quando o negócio não é efetuado pela próprias partes mas por uma pessoa interposta ficticiamente, quando o negócio aparente conferir ou transmitir direitos a pessoa diversa a quem se confere ou se transmite (CCB, artº 167, par. 1º). c.2) Objetiva: se for relativa à natureza do negócio pretendido, ao objeto ou a um dos elementos contratuais. Será objetiva se o negócio contiver declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira. Ex. Doação do homem casado à concubina, efetivada mediante compra e venda. d) SIMULAÇÃO INOCENTE: quando não existir intenção de violar a lei ou de lesar outrem, devendo ser, por isso, tolerada (CCB, artº 103). Apresenta os seguintes elementos: intencional declaração contrastante com a vontade real das partes; ocultação do negócio real a terceiros e ausência de prejuízo a terceiros ou de violação a lei. Os contraentes poderão usar da ação declaratória de simulação ou opô-la sob a forma de exceção, em litígio de um contra o outro, ou contra terceiro. e) SIMULAÇÃO MALICIOSA: é a que envolve o propósito de prejudicar terceiros ou de burlar o comando legal, viciando o ato que perderá toda a validade. Os contratantes nada poderão alegar ou requerer em juízo quanto à simulação do negócio, em litígio de um contra o outro ou contra terceiro (artº 167 do CCB). 6) DA FRAUDE CONTRA CREDORES: 6.1) DEFINIÇÃO E ELEMENTOS CONSTITUTIVOS: D I R E I T O C I V I L II Prof. Orlando Pereira Machado Júnior 24 É a prática maliciosa, pelo devedor, de atos que desfalcam o seu patrimônio, com o escopo de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios. Desta feita, deverá o devedor responder, com seu patrimônio, por dívidas por ele contraídas, não podendo ser preso em decorrência do não pagamento dela, com exceção dos casos elencados pelo artº 5º, LXVII, da Constituição Federal. Algumas vezes, o devedor oferece ao credor uma garantia específica, que recai sobre determinado bem, móvel ou imóvel, como acontece no penhor e na hipoteca. A coisa dada em garantia fica sujeita por vínculo real, ao cumprimento da obrigação (artº 1.419 do CCB). Outras vezes, o credor não dispõe de garantia específica , contando apenas com a garantia comum a todos os credores, que é o patrimônio do devedor (artº 591 do CCB). 6.2) REQUISITOS: Dois são os seus requisitos: a) objetivo: o “EVENTUS DAMNI”, que é todo ato prejudicial ao credor, por tornar o devedor insolvente ou por ter sido realizado em estado de insolvência, devendo haver nexo causal entre o ato do devedor e a sua insolvência; b) subjetivo: a “CONSILIUM FRAUDIS”, que é a má-fé, a intenção de prejudicar do devedor (renúncia da herança) ou do devedor aliado a terceiro (venda fraudulenta), ilidindo efeitos da cobrança. Na conceituação de consilium fraudis não tem relevância o animus nocendi, o propósito deliberado de prejudicar credores. Basta que o devedor tenha consciência de que de seu ato advirão prejuízos. A fraude pode existir sem ser premeditada. Igualmente, em relação ao cúmplice do fraudador não se cuida da intenção de prejudicar, bastando o conhecimento que ele tenha, ou deva ter, do estado de insolvência do devedor e das conseqüências que, do ato lesivo, resultarão para os credores. 6.3) ATOS SUSCETÍVEIS DE FRAUDE: São suscetíveis de fraude os seguintes negócios jurídicos: a) a título gratuito (doação, dote) ou remissão de dívidas (CCB artº 386), quando os pratique independentemente de má-fé, o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, caso em que poderão ser anulados pelos credores quirografários (sem garantia) como lesivos dos seus direitos, se já o eram (credores) ao tempo desses atos (CCB artº 158, par. 2º); b) a título oneroso, se praticado por devedor insolvente ou quando a insolvência for notória ou se houver motivo para ser conhecida do outro contraente (CCB artº 159), podendo ser anulado pelo credor; c) outorga de garantias reais (CCB artº 1.419), pelo devedor a um dos credores quirografários estando em estado de insolvência, prejudicando os direitos dos demais credores (artº 163), acarretando a anulabilidade do ato; D I R E I T O C I V I L II Prof. Orlando Pereira Machado Júnior 25 d) pagamento antecipado do débito, que frustra a igualdade que deve haver entre os credores quirografários, podendo estes propor ação para tornar sem efeito esse pagamento, determinando que o beneficiado reponha aquilo que recebeu em proveito do acervo (artº 162). 6.4) AÇÃO REVOCATÓRIA: A fraude contra credores, que vicia o negócio de simples anulabilidade, somente é atacável por AÇÃO PAULIANA ou AÇÃO REVOCATÓRIA. Só pode ser proposta por credor que já o fosse quando se praticou o ato acoimado de fraudulento. O credor posterior encontra comprometido o patrimônio do devedor, não tendo, pois, direito de reclamar contra a suposta fraude. Mas só o quirografário pode intentá-la. Ao credor com garantia real não assiste esse direito, por falta de interesse econômico ou moral. Os bens que acompanham os créditos os seguem por toda parte, ainda no caso de venda. Enquanto existirem tais bens os créditos estão garantidos e o pagamento assegurado. Requer os seguintes pressupostos: a) ser o crédito do autor anterior ao ato fraudulento; b) que o ato que se pretende revogar tenha causado prejuízo; c) que haja intenção de fraudar, presumida pela coincidência do estado de insolvência; d) pode ser intentada contra o devedor insolvente, contra pessoa que com ele celebrou a estipulação fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé (artº 161); e) prova da insolvência; f) perdem os credores a legitimação ativa para movê-la, se o adquirente dos bens do insolvente que ainda não pagou o preço, que é o corrente, depositá-lo em juízo, com citação edital de todos os interessados (artº 160 - CCB). 6.5) DISPOSIÇÕES ESPECIAIS: O principal efeito da ação pauliana é revogar o negócio lesivo aos interesses dos credores, repondo o bem no patrimônio do devedor, cancelando a garantia real concedida (artº 165, par. único) em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, possibilitando a efetivação do rateio, aproveitando a todos os credores e não apenas ao que intentou.