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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIAS – CCET DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL – DEC SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE ESTUDO DE CASO BARRAGEM DE MARIANA MAIO DE 2016 SÃO CRISTOVÃO – SE 2 Disciplina: Saneamento e Meio Ambiente; ENCIV0123. Professor: Dr. Daniel Moureira Fontes Lima Autores: 1.Clayton Daniel Brasilino Loiola; 201310014565. 2.Hericles Campos dos Santos; 201320008347. 3.Igor Matheus Alves da Silva; 201320002871. 4.Marlon Bitencourt Correia; 201320003046. 5.Paula Rafaela Correia Noia; 201310014850. ESTUDO DE CASO BARRAGEM DE MARIANA MAIO DE 2016 SÃO CRISTOVÃO – SE Trabalho apresentado pelos alunos do sexto período de Engenharia Civil à Universidade Federal de Sergipe, sob a orientação do professor Daniel M. Fontes Lima, da disciplina Saneamento e meio Ambiente, como composição parcial da nota. 3 Sumário 1.0 Introdução.................................................................................................... 04 2.0 Atividade mineradora e suas consequências............................................... 05 2.1 Mineração – Processo produtivo....................................................... 05 2.2 Geração de resíduos......................................................................... 07 2.3 Composição do rejeito....................................................................... 08 2.4 Barragem de rejeitos......................................................................... 09 3.0 Causas........................................................................................................ 11 4.0 Mapeamento................................................................................................ 14 5.0 Consequências............................................................................................15 5.1 Impactos financeiros......................................................................... 15 5.2 Impactos às pessoas.........................................................................16 5.3 Impactos ambientais..........................................................................17 6.0 Responsabilidades da Samarco.................................................................. 20 6.1 Dano Ambiental................................................................................ 20 6.2 Responsabilidade Civil..................................................................... 21 6.3 Responsabilidade Administrativa..................................................... 22 6.4 Responsabilidade Penal................................................................... 23 7.0 Métodos de Reverter os Danos.................................................................... 24 7.1 Medidas da mineradora.................................................................... 24 7.2 Novas Tecnologias........................................................................... 27 8.0 Referências................................................................................................. 29 4 1. Introdução Acidentes Ambientais são definidos como sendo eventos inesperados que afetam de maneira direta ou indireta, a segurança e a saúde da comunidade envolvida, causando impactos ao meio ambiente como um todo. Esses acidentes podem ser classificados de diferentes formas: Desastres Naturais: Ocorrências causadas por fenômenos da natureza, cuja maioria dos casos independe das intervenções do homem. Incluem-se nesta categoria os terremotos, os maremotos, os furacões, etc. Desastres Tecnológicos: Ocorrências geradas pelas atividades desenvolvidas pelo homem, tais como os acidentes nucleares, vazamentos durante a manipulação de substâncias químicas, etc. Embora estes sejam eventos independentes quanto às suas origens (causas), em determinadas situações pode haver uma certa relação entre as mesmas. Da mesma forma, as intervenções do homem na natureza podem contribuir para a ocorrência dos acidentes naturais, como por exemplo o uso e ocupação do solo de forma desordenada pode vir a acelerar processos de deslizamentos de terra [19]. Esses acidentes, naturais ou não causam sérios problemas, como perda de vidas humanas, impactos ambientais, danos à saúde humana, danos econômicos e efeitos psicológicos na população. Geralmente, os acidentes naturais, em sua grande maioria são de difícil prevenção, razão pela qual diversos países do mundo, principalmente aqueles onde tais fenômenos são mais constantes, têm investido em sistemas para o atendimento à estas situações. Já, no caso dos acidentes de origem tecnológica, podemos dizer que a grande maioria dos casos é previsível, razão pela qual há que se trabalhar principalmente na prevenção destes episódios, sem esquecer obviamente da preparação e intervenção quando da ocorrência dos mesmos. 5 2. Atividade mineradora e suas consequências Segundo a classificação internacional adotada pela ONU, define-se mineração como: extração, elaboração e beneficiamento de minerais que se encontram em estado natural: sólido, como o carvão e outros; líquido, como o petróleo bruto; e gasoso, como o gás natural. Nesta acepção mais abrangente, inclui a exploração das minas subterrâneas e de superfície (ditas a céu aberto), as pedreiras e os poços, incluindo todas as atividades complementares para preparar e beneficiar minérios em geral, na condição de torná-los comercializáveis. Assim como toda exploração de recurso natural, a atividade de mineração provoca impactos no meio ambiente seja no que diz respeito à exploração de áreas naturais ou mesmo na geração de resíduos. Segundo CPRM (2002), os principais problemas oriundos da mineração podem ser englobados em cinco categorias: poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, subsidência do terreno, incêndios causados pelo carvão e rejeitos radioativos. 2.1. Mineração – Processo produtivo Depois que se encontra a jazida, o processo de exploração consiste em retirar o material útil (pedaços de rocha com porções do minério), quebrá-lo em pedaços de tamanho comercial, limpar e colocar num trem que o leve ao porto mais próximo. Seria simples, se o tal material útil não fosse composto de rochas de milhares de toneladas, misturadas com terra e vários tipos de "lixo", acumulados durante a formação da rocha [13]. Por isso, tudo em uma mina tem proporções absurdamente grandes: os caminhões que transportam o minério, por exemplo, têm pneus de mais de 3 metros de altura e as escavadeiras pesam até 500 toneladas (25 vezes mais do que as convencionais). O Brasil é rico em muitos tipos de minérios, entre eles manganês, bauxita, tungstênio, cobre, estanho, níquel e cromo, mas o principal é, sem dúvida, o ferro, que representa cerca de 40% do faturamento nacional no setor de extrativismo mineral. Anualmente, a Companhia Vale do Rio Doce, maior empresa de mineração do país, exporta mais de 200 milhões de toneladas 6 de minério de ferro. No infográfico ao lado, mostramos como acontece a extração de ferro, desde o barranco rochoso até o caminho do ferro puro para o porto [13]. 1. Lavra A primeira etapa de mineração é a extração propriamente dita, que pode ser feita com escavadeiras, tratores que raspam a rocha ou explosivos, quando o minério se encontra longe da superfície. As maiores escavadeiras retiram da lavra 5 mil toneladas de material bruto por hora. 2. TransportePara levar o minério até a usina, onde ele será preparado para a venda, existem os caminhões fora-de-estrada. O nome já diz tudo: com 6,6 metros de largura, eles não cabem numa estrada comum. Os maiores pesam 203 toneladas, atingem surpreendentes 64 km/h e carregam 365 toneladas, o equivalente a 36 caminhões convencionais. 3. Estéril Na lavra, o ferro esconde-se no meio de um monte de terra e de outros minérios sem valor. Essa parte sem valor econômico, chamada de estéril, é empilhada em alguma área próxima à mina, com cuidados para causar o mínimo impacto ambiental - muitas vezes, árvores são plantadas na pilha de terra para evitar deslizamentos. 4. Britagem O minério bruto chega à usina em grandes blocos, que são quebrados em máquinas de britagem. São várias etapas de quebra-quebra, que esmagam os pedaços de minério até eles ficarem com cerca de 2 centímetros de diâmetro, o tamanho adequado para a separação 5. Separação Conforme o minério vai saindo da máquina de britagem, ele cai em uma peneira (com telas de diferentes espessuras), que libera a passagem dos pedaços de até 2 centímetros e lança os maiores de volta à britadeira. O peneiramento é feito com jatos de água, que ajudam a escoar os restos de terra ligados aos pedaços de ferro 7 6. Concentração Uma parte do minério fica tão fina que se confunde com os grãos de areia misturados ao material bruto. Para recolher essa parte, costuma-se empregar um separador magnético, que usa ímãs para agarrar o pó de ferro, enquanto a areia vai embora com a água. 7. Reciclagem de água Toda a água usada para limpar o minério é recolhida no fim do processo num reservatório profundo, enterrado no solo. A areia e a lama, mais pesadas, se acumulam no fundo do reservatório e a água, livre das impurezas, é bombeada para uma barragem, que reabastece todo o processo. Assim, 70 a 80% da água usada na mina é reciclada. 8. Empilhadeira Depois de limpo, peneirado e separado por tamanho, o minério em grãos segue para as empilhadeiras. Como o nome sugere, uma máquina com pás gigantes vai descarregando o minério em pilhas, até formar uma verdadeira montanha de armazenagem. 9. Ferrovia Quando chega a hora de embarcar, as pilhas de minério são transferidas para os vagões de trem, que transportam as toneladas do produto até o porto mais próximo, de onde ele segue em navios para os compradores. As ferrovias são o único meio viável para fazer esse transporte. 2.2. Geração de resíduos Assim como toda exploração de recurso natural, a atividade de mineração provoca impactos no meio ambiente seja no que diz respeito à exploração de áreas naturais ou mesmo na geração de resíduos. Segundo CPRM (2002), os principais problemas oriundos da mineração podem ser englobados em cinco categorias: poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, subsidência do terreno, incêndios causados pelo carvão e rejeitos radioativos [19]. 8 O principal e mais característico impacto causado pela atividade minerária é o que se refere à degradação visual da paisagem. Não se pode, porém, aceitar que tais mudanças e prejuízos sejam impostos à sociedade, da mesma forma que não se pode impedir a atuação da mineração, uma vez que ela é exigida por essa mesma sociedade. Um dos maiores transtornos sofridos pelos habitantes próximos e/ou os que trabalham diretamente em mineração, relaciona-se com a poeira. Esta pode ter origem tanto nos trabalhos de perfuração da rocha como nas etapas de beneficiamento e de transporte da produção. Estes resíduos podem ser solúveis, ou particulares que ficam em suspensão como lama e poeira. A contribuição da mineração para a poluição do ar é principalmente uma poluição por poeira. A poluição por gases a partir da mineração é pouco significativa, e em geral de restringe à emissão dos motores das máquinas e veículos usados na lavra e beneficiamento do minério. Quanto à poluição das águas provocada pela mineração, como ocorreu no desastre de Mariana-MG, a maior parte das minerações no Brasil provoca poluição por lama. A poluição por compostos químicos solúveis, também existe e pode ser localmente grave, mas é mais restrita. O controle no caso de lama é termicamente simples, mas pode requerer investimentos consideráveis. As minerações de ferro, de calcário, de granito de areia e argila, da bauxita, de manganês, de cassiterita, de diamante e várias outras, provocam em geral poluição das águas apenas por lama. 2.3. Composição do rejeito – Lama O rejeito é composto, em sua maior parte, por areia e não apresenta nenhum elemento químico danoso à saúde. Segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a lama é composta principalmente por óxido de ferro e areia. Especificamente no caso de Mariana, amostras da enxurrada de lama que foram coletadas cerca de 300 km depois do distrito de Bento Rodrigues apontam concentrações absurdas de metais como ferro, manganês e alumínio. 9 A água coletada pelo SAAE (Serviço de Água e Esgoto) de Valadares aponta um índice de ferro 1.366.666% acima do tolerável para tratamento - um milhão e trezentos mil por cento além do recomendado, segundo relatório enviado à reportagem do R7. Os níveis de manganês, metal tóxico, superam o tolerável em 118.000%, enquanto o alumínio estava presente com concentração 645.000% maior do que o possível para tratamento e distribuição aos moradores. As alterações foram sentidas a partir de 8h, enquanto o pico de lama tóxica ocorreu às 14h no rio Doce [17]. A quantidade de manganês presente na água em quantidade adequada para tratamento é - 0,1 mg, mas os técnicos encontraram 29,3 mg pela manhã e 118 mg (1.180 vezes acima) durante a cheia da tarde. O alumínio aparece com 0,1 mg, mas estava disponível em 13,7 mg e 64,5 mg, respectivamente (6.450 vezes superior). A concentração tolerada de ferro é 0,03 mg, mas as amostras continham 133 mg e 410 mg. O nível de turbidez regular é 1000 uT, mas chegou a 80 mil uT na passagem da enchente [17]. Tabela 1 – Compostos químicos encontrados na lama 2.4. Barragem de rejeitos Uma barragem de rejeito é uma estrutura de terra construída para armazenar resíduos de mineração, os quais são definidos como a fração estéril produzida pelo beneficiamento de minérios, em um processo mecânico e/ou químico que divide o mineral bruto em concentrado e rejeito. O rejeito é um material que não 10 possui maior valor econômico, mas para salvaguardas ambientais deve ser devidamente armazenado [16]. Muitas vezes em uma mineração é necessário aumentar a capacidade de armazenamento de uma barragem de rejeito existente, através da construção de alteamentos de acordo com os seguintes métodos construtivos: a) método à montante; b) método à jusante; c) método da linha de centro. a) Método à montante: Em sua etapa inicial consiste na construção de um dique de partida, formado geralmente de materiais argilosos ou enrocamento compactado. Após esta etapa, os rejeitos são depositados hidraulicamente da crista do dique de partida, formando uma praia de rejeito que, com o tempo, adensará e servirá de fundação para futuros diques de alteamento, estes executados com o próprio material de rejeito. O processo é repetido até atingir à cota de ampliação prevista. Se, por um lado, o método à montante apresenta como vantagens a simplicidade e o baixo custo de construção, por outro está associado à maioria das rupturas em barragens de rejeitos em todo o mundo (Engels & Dixon-Hardy, 2008). b) Método à jusante: É um método mais conservador do que o método à montante,desenvolvido para reduzir os riscos de liquefação em zonas de atividade sísmica. Depois da construção do dique de partida, os alteamentos subsequentes são realizados à jusante do mesmo, até atingir a cota de projeto. Neste processo construtivo, cada alteamento é estruturalmente independente da disposição do rejeito, melhorando assim a estabilidade da estrutura. Todo o alteamento da barragem pode ser construído com o mesmo material do dique de partida, assim como os sistemas de drenagem internos podem ser também instalados durante o alteamento, permitindo um melhor controle da superfície freática. A principal desvantagem desde método é o custo de sua implantação, devido ao grande volume de aterro que necessita e a grande área que sua construção ocupa. c) Método da linha de centro: Este método é uma solução intermediária entre os dois métodos apresentados anteriormente, possuindo uma estabilidade maior que a barragem 11 alteada somente com o método à montante, porém não requerendo um volume de materiais tão significativo como no alteamento somente com o método à jusante. O sistema de disposição é similar ao método à montante, com rejeitos lançados a partir da crista do dique de partida. A construção prossegue de modo similar, com alteamentos com diques sucessivos, porém permanecendo o eixo de simetria da barragem constante. Se a parte superior do talude perder eventualmente o confinamento, podem aparecer fissuras, causando problemas de erosão, e aumentos de poropressões. 3. Causas Várias foram as possíveis causas apontadas por diversos estudiosos e especialistas do assunto. Iremos apresentar algumas e nas seções a seguir apresentaremos a causa apontada no inquérito da Polícia Civil. a) Tremores de Terra No dia 05/11/2015 entre 14h e 15h, antes do rompimento da barragem, a USP (Universidade de São Paulo) e a UnB (Universidade Nacional de Brasília) registraram tremores de pequena magnitude, entre 2,0 e 2,6 na escala Richter. Entretanto esses tremores só causariam reais problemas se a barragem já estivesse com problemas [31]. Segundo Walter Arcoverde, diretor de fiscalização da DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) as barragens da Samarco estavam classificadas como estrutura de baixo risco. Só que ele mesmo admite que esse sistema é cheio de falhas e que a última inspeção foi em 2012 [31]. b) Proximidade entre pilha de estéril e a barragem de rejeitos Como já foi explicado anteriormente, estéril é a parte sem valor que vem misturado junto com o minério de ferro. Ele vai sendo empilhado em alguns locais da mina. Na imagem abaixo, vemos que em alguns locais haviam pilhas diretamente em contato com a barragem [32]. 12 Figura 01 - Sobreposição de áreas diretamente afetadas da Barragem do Fundão (limite em amarelo escuro) e pilha de estéril União da Vale (amarelo claro). Notam-se áreas de contato físico nos polígonos azuis. Esse problema foi frisado em um relatório elaborado pelo Instituto Prístino em 2013, com um laudo técnico referente à análise da Revalidação da Licença Operacional da barragem. Segundo o relatório, mesmo controlando os riscos, não é recomendável pelas suas naturezas físicas. A pilha requer baixa umidade e boa drenagem, enquanto que a barragem de rejeitos tem alta umidade. As figuras abaixo mostram esquematicamente o que poderia acontecer de errado nessa situação [32]. Figura 02 – Desenho esquemático de saturação do maciço da pilha União – estágio I 13 No estágio I ocorreria problemas na drenagem da pilha e uma tentativa de equilíbrio de nível d’água entre as estruturas. Com o tempo, a pilha vai se saturando (estágio II) ocasionando a ressurgência de água nas faces dos taludes das pilhas, possibilitando uma desestabilização podendo resultar num colapso da estrutura [32]. Figura 03 – Desenho esquemático de saturação do maciço da pilha União – estágio II c) Aumento da produção Em 2014 houve um aumento de mais de 15% na produção, que corresponde a 25 milhões de toneladas de minério. A Vale S/A também vinha usando a barragem com um total de cerca de 28% dos rejeitos que eram lançados. Tabela 2 – Produção/ano Empresa Sólidos Líquidos SAMARCO 6.956.844 m³/ano 18.626.534 m³/ano VALE S/A 2.569.708 m³/ano 5.215.684 m³/ano Para conter esse aumento, a SAMARCO realizou obras de alteamento da estrutura. Só que essas obras, segundo a PF, estariam acima do ideal. O alteamento feito na época do rompimento chegaria a 15 metros em um ano. Um 14 estudo da Polícia Federal mostra que o recomendado deveria ser de 5 a 10 metros por ano. Já segundo o Ministério Público do Meio Ambiente de Minas Gerais, o alteamento estava dentro do que foi licenciado no referente à altura, mas não em relação ao recuo [33]. Na barragem haviam alguns aparelhos que mediam a estabilidade. Segundo o coordenador técnico de planejamento e monitoramento da Samarco, a última leitura manual nos equipamentos tinha sido feita 26 de outubro, dez dias antes do rompimento. Os que enviavam os dados automaticamente estavam em manutenção nos dias 3, 4 e 5. A PF afirma que a Samarco tinha conhecimento da real situação da barragem. Isso faz com que ela assuma o risco de se ocorrer um evento danoso de proporções enormes, que não pode ser confundido com mero acidente. d) Excesso de água e Liquefação Em fevereiro desse ano, a Polícia Civil apresentou o resultado da perícia realizada. O relatório aponta como causa do rompimento o excesso de água. Os rejeitos numa barragem de minério geralmente ficam firmes e consistentes, oferendo uma resistência mecânica. Com o excesso de água, houve uma elevada saturação na mistura. "É como se o aumento do eixo (da barragem) fosse construído em cima de uma gelatina", disse o delegado Rodrigo Bustamante. O inquérito aponta que dos dois lados da barragem havia um grande acúmulo de água ao invés de lama, mostrando que a drenagem era ineficaz [34]. Outros pontos também apresentados pela perícia foram: falhas no monitoramento, equipamentos com defeito, número reduzido de equipamentos de monitoramento, elevada taxa de alteamento anual da barragem, assoreamento do dique 02 e deficiência junto ao sistema de drenagem [34]. 4. Mapeamento A barragem de Fundão se rompeu por volta das 15h no dia 05 de novembro de 2015. Inicialmente acreditava-se que Santarém também tinha se rompido, mas posteriormente foi constatado que a barragem permaneceu intacta e os rejeitos passaram por cima da barragem. A lama devastou o subdistrito de 15 Bento Rodrigues, em Mariana, seguindo pelos rios Gualaxo e Doce, afetando diversos municípios de Minas Gerais e Espírito Santo até atingir o Oceano Atlântico. Um dos locais afetados, a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, também chamada de Candonga, corre o risco de se romper ainda. De acordo com o técnicos, tem 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos apoiados em sua estrutura. Outros locais afetados foram a Cachoeira dos Óculos, Barra Longa, Belo Oriente, a UHE Baguari, Governador Valadares, Tumiritinga, Conselheiro Pena, Resplendor, Baixo Guandu, Colatina e Linhares, seguindo para o Oceano Atlântico. 68 afluentes e 5mil nascentes também foram afetadas, podendo ser um número até maior. 5. Impactos do Rompimento das Barragens 5.1 Impactos financeiros Após a tragédia ocorrida nas barragens de rejeitos a Samarco paralisou as atividades de mineração prejudicando as arrecadações dos municípios mineradores. Juntos, Mariana, Ouro Preto e Catas Altas estão deixando de recolher, mensalmente, quase R$ 8 milhões de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais(Cfem). Sendo que Mariana foi a cidade mais afetada financeiramente, de acordo com o prefeito de Mariana, Duarte Junior, o município arrecada da Samarco cerca de 80% das arrecadações do município [20]. Devido à importância da empresa para a cidade de Mariana, ocorreu passeata pedindo a permanência da mineradora na cidade. A associação dos municípios de Minas Gerais (Amig) tem realizado campanha para acelerar a obtenção das licenças ambientais requeridas pela Samarco nos órgãos responsáveis. Os municípios estarão praticamente parados, enquanto as atividades mineradoras estiverem paradas, e os rejeitos prejudicaram a agricultura, pecuária, turismo, captação de água e de acordo com o site oglobo.com a Samarco já protocolou, junto ao órgão ambiental de Minas Gerais, o documento para permitir a abertura do processo de licenciamento para retomadas das atividades [20]. 16 Ocorreu também protesto contra a proibição da Justiça Federal da pesca na região próximo a foz do rio Doce. No dia 22 de fevereiro, a Justiça Federal proibiu, por tempo indeterminado, a pesca na região da Foz do rio Doce. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF-ES), serão retomadas as atividades pesqueiras no local após o fim do período de defeso do camarão. Os pescadores que desobedecerem à proibição poderão ter os barcos apreendidos e receberão multas. A medida visa, segundo a Justiça, preservar a saúde da população que consume os pescados da região e a sobrevivência das espécies. Está permitida somente a pesca destinada à pesquisa científica, já o motivo da proibição pelo IBAMA é de que a pesca do camarão é realizada através de redes de arrasto e que ainda não há informações para avaliar se os elementos lançados na coluna d’água após o revolvimento do substrato, consequência natural da pesca de arrasto, poderiam gerar algum tipo de efeito negativo ao reagir com os elementos oriundos dos rejeitos da Samarco na pluma [21]. 5.2 Impactos às Pessoas A lama de rejeitos atingiu a comunidade de Bento Rodrigues e deixou 19 mortos. Há também as mais de 1265 pessoas desabrigadas devido à lama, a estimativa é de que das 207 casas do sub-distrito de Bento Rodrigues, 80% foram destruídas. Cerca de 100 ex-moradores de Bento Rodrigues, o primeiro povoado devastado pela avalanche de lama da represa da Samarco, conheceram, a área onde deve ser erguido o novo lugarejo. O terreno, de 100 hectares, fica a 12 quilômetros do Centro histórico de Mariana, na metade do caminho entre a cidade colonial e o antigo distrito. Os antigos moradores foram inicialmente alojados em hotéis na região central do município e agora estão em casas alugadas. Enquanto aguardam a reconstrução, que deve começar ainda este semestre, as despesas são integralmente pagas pela Samarco. A área tem as mesmas características do antigo lugar: várias espécies de árvores, nascentes de água e solo propício ao plantio de hortas, segundo a própria comunidade. O lugar também fica próximo ao trecho do rio Guapo do Norte que não foi atingido pela lama de minério [22]. 17 Foram afetadas pela lama 39 cidades, 35 do estado de Minas Gerais e 4 do Espírito santo. A cidade de Governador Valadares, a cidade a mais de 300 km de Mariana é a maior da bacia do rio Doce e também a mais afetada, com 280 mil habitantes, teve o abastecimento de água cortado devido ao laudo preliminar da água, além de níveis de ferro que chegaram a superar treze mil vezes o tratável. Segundo a prefeitura do município, as companhias, Samarco e Vale, fizeram pouco ou mal esforços para ajudar a população. A situação só começou a melhorar, quando o governador de Minas, Fernando Pimentel, anunciou o uso de um coagulante que permitirá o tratamento da água. A substância facilita a separação da lama e da água, permitindo assim que ela seja filtrada e volte a ser potável [23]. O número total de pessoas atingidas varia conforme os diferentes tipos de medições. A Samarco afirmou que "tem cadastradas cerca de 1.300 pessoas diretamente afetadas pelo acidente com a barragem de Fundão", nas cidades de Mariana e Barra Longa. Já a Defesa Civil de Minas Gerais, por exemplo, fala em mais de um milhão de pessoas atingidas. Para chegar a esse número, o órgão diz ter apenas somado a população de 35 municípios do Estado no caminho da lama. Há também a estimativa do geólogo Marcos Ummus, que considerou apenas pessoas que vivem a em um raio de até 2 km do leito do rio Doce e de seus afluentes afetados, chegando ao valor de 335 mil pessoas atingidas [8]. Cabe ressaltar que o impacto de um desastre atinge não somente aquelas pessoas que foram desalojadas ou que perderam seus familiares. A sensação de insegurança pós-rompimento afeta tanto as pessoas diretamente envolvidas como aquelas que permaneceram nas áreas adjacentes, que viverão sob a angústia ou o medo de novo rompimento. São afetadas em seus valores intangíveis também as populações que vivem próximas a outras barragens [24]. 5.3 Impactos ambientais O fim da vegetação Apesar de a mineradora sugerir de que a lama seja inofensiva, a lama trará grandes consequências a terra. Essa cobertura criada pelo rastro de lama, quando secar pavimentará o local, formando uma espécie de capa de cimento 18 onde nada irá crescer. Além disso, o material possui pouca matéria orgânica, o que dificulta o surgimento de uma nova vegetação, pode ocorrer a desestruturação química do solo e alteração do pH, e ocorrerá a impossibilidade do desenvolvimento da agricultura. A área tornou-se praticamente inabitável, devido que a lama irá demorar anos para secar completamente e quando secar não haverá resistência no solo para construção nele [25]. O IBAMA calcula que a lama destruiu quase 1.469 hectares só nos primeiros quilômetros depois de ser expelida da barragem. "A força da lama foi maior nos primeiros 77 km do percurso e devastou totalmente a mata. Mas também afetou com força e sufocou a mata até os primeiros 100 km." Afim de proteger as margens próximo a foz do rio Doce foram colocados barreiras de 9km de extensão [26]. Água Os rejeitos contém muitos metais traços, são metais utilizados na mineração, e as principais mudanças na água são: turbidez devido ao grande volume de sólidos em suspensão; nos parâmetros físico-químicos como pH e condutividade elétrica, sais solúveis, alcalinidade, óleo, graxa e reagentes orgânicos; e, a depender do minério e estéreis envolvidos, pode haver também alteração nas concentrações dos metais pesados O grande volume de rejeitos ao misturar com a água do rio altera a turbidez do rio, em alguns locais medido a turbidez está oitenta vezes maio do que o tolerável, que acaba bloqueando a passagem de raios solares, impedindo que os tipos de algas que ali se encontram façam a fotossíntese. O material presente no rejeito irá se depositar no rio assoreando e também poderá cobrir as nascentes diminuindo o volume d’água nos rios. No dia 19 de abril foi liberado o relatório produzido pela Marinha do Brasil realizado na foz do rio Doce, o resultado declara a presença de quatro metais pesados em alta concentração na área da foz do rio Doce, no Norte do Espírito Santo. As amostras coletadas pelo navio Vital de Oliveira, realizadas em novembro de 2015, são à base de informações para a produção do relatório [27]. Ao longo dos séculos a região foi marcada pelo garimpo do ouro, e embora esteja desativada esta prática, elementos como o ferro, manganês e 19 outros metais pesados foram sedimentando ao longo do tempo e mesmo que os estudos e laudos indiquem que a presença de metais não esteja vinculadadiretamente à lama de rejeito da barragem de Fundão, há de se considerar que a força do volume de rejeito lançado quando do rompimento da barragem provavelmente revolveu e colocou em suspensão os sedimentos de fundo dos cursos d'água afetados. Essa contaminação do rio Doce afeta não apenas as cidades presentes na beira do rio, mas também afeta diversas comunidades que mesmo afastada do rio, o utilizava para consumo humano, consumo pelo gado ou irrigação de plantações. De qualquer forma, ainda é preocupante a presença de metais na água, pelo risco de contaminação dos peixes de consumo e as consequências dos metais, em excesso, podem causar no corpo. É importante lembrar que o rio não é só água em movimento, mas também funciona como transporte de nutrientes para o mar, que acabam sustentando diversos organismos. Coincidentemente, na foz do rio Doce, ocorre também o encontro de correntes marinhas do Sul e do Norte, formando um “rodamoinho” de água de cerca de setenta quilômetros de diâmetro. Esta área é rica em nutrientes e também reúne espécies marinhas de todo o mundo. Por isso, segundo o diretor da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi, o biólogo e ecólogo André Ruschi, a foz do rio Doce se torna uma dos maiores pontos de desova de peixes marinhos do mundo. A chegada de diversos rejeitos da mineração significa um risco para todo o ecossistema do oceano. Como ainda resta a chance da presença de metais pesados na lama, há a possibilidade de contaminação da imensa biodiversidade do local. Todos os seres vivos, desde o minúsculo plâncton ao gigante marlim, podem acabar envenenados por estes elementos [28]. A Mineradora Samarco foi notificada no dia 11 de abril sobre a liminar expedida pelo juiz Luis Fernando De Oliveira Benfatti, da 2ª Vara da Fazenda Pública de Belo Horizonte, para conter o vazamento que ocorre desde o dia 5 de novembro do ano passado quando a barragem de Fundão se rompeu em Mariana, na Região Central de Minas Gerais. E o não cumprimento desta, está 20 sob pena de multa de 1milhão de reais. Cinco milhões de metros cúbicos, é o que alega a promotoria, desceram para a bacia do Rio Doce. A mineradora projetou quatro diques após o desastre ambiental com o objetivo de conter o vazamento. Segundo a ação, os diques foram construídos de forma precária, sem observância das normas técnicas pertinentes, não possuindo a capacidade de retenção e filtragem necessárias [29]. Ecossistemas Para alguns biólogos vários ecossistemas atingidos são irrecuperáveis, com inúmeras perdas de espécies e até de classes (no mar). Na bacia do rio Doce encontrava-se 80 espécies, sendo que 11 estão em ameaça de extinção e 12 vivem apenas nesta bacia. A grande mortandade de peixes foi devido à desoxigenação do rio, tanto pelo dos rejeito pobres em oxigenação como pela mistura dos rejeitos pobre em oxigênio. As matas ciliares também foram afetadas e é destacado as dificuldades para a recuperação das matas ciliares devido ao longo prazo para crescimento das árvores [24]. Deve ser lembrado que há 1.400 km de margens cujas matas tem de ser recuperadas. E será preciso primeiro utilizar plantas que possam retirar metais pesados do solo e depois fazer germinar sementes de da mata a ser implantada. Pode ser necessário analisar a viabilidade da utilização das tecnologias de São Paulo e Minas Gerais para a recuperação de matas ciliares e possibilidade de espécies de outros lugares, como o sul da Bahia, serem plantadas [30]. 6. Responsabilidade da Empresa Samarco 6.1 Dano Ambiental Quando há dano ambiental o causador do dano deve responder nas esferas civil, administrativa e ambiental, segundo a Constituição Federal art. 225, § 3º CF/88, “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados” [1]. 21 Em relação a mineração, a Constituição estabelece que “aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão competente, na forma da lei” (art. 225, § 2º da CF/88). Além disto, a Lei nº 7.805/89 estabelece que “o titular de autorização de pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de concessão de lavra, de licenciamento ou de manifesto de mina responde pelos danos causados ao meio ambiente” (Art. 19). Trata-se da responsabilidade objetiva ou sem culpa. Ou seja, basta que estejam presentes o dano e o nexo causal [4]. 6.2 Responsabilidade Civil A atividade de risco, como a mineração, gera por sua natureza, a responsabilidade civil, nos termos do parágrafo único do artigo 927 do Código Civil, “haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem” [3]. Ocorre que especificamente, sobre a responsabilidade civil ambiental, o artigo 14º § 1º da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (lei nº 6.938/81), prevê que “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente”. Assim, basta a lesividade para a responsabilização do poluidor, de modo que a análise da ilicitude da atividade é irrelevante. Quanto aos requisitos da responsabilidade civil ambiental cite-se o evento danoso e o nexo de causalidade, tão somente. Só haverá exoneração da responsabilidade quando: o risco não foi criado; o dano não existiu; o dano não guarda relação de causalidade com a atividade da qual emergiu o risco [5]. 22 Em relação aos danos causados a terceiros, os próprios têm legitimidade para ajuizar demandas individuais onde podem pleitear indenização da mineradora, por danos patrimoniais e extrapatrimoniais. Dentre os danos patrimoniais se destaca as indenizações por perdas e danos, como do valor correspondente a toda perda econômica, de casas e demais bens, como eletrodomésticos, moveis, automóveis, etc. A Samarco terá ainda que construir um novo distrito para os moradores de Bento Rodrigues. Nas reuniões entre a Samarco e a comunidade, os moradores fazem questão de três coisas: que continuassem juntos, que o local ficasse perto de Mariana e que a natureza favorável, com solo fértil e água corrente para que eles possam plantar e criar animais como muitos faziam antes da tragédia [7]. No caso, se caracterizada a falta de fiscalização do Estado, este também pode ser civilmente responsabilizado. E a responsabilização da mineradora e, eventualmente, do Estado não se limitam só a bens materiais ou as pessoas de Mariana, mas também a danos ambientais, visto que os dejetos (tóxicos) não ficaram retidos no local do acidente, pelo contrário, estão se espalhando, contaminando a agua de outras cidades e prejudicando o meio ambiente e pessoas [5]. 6.3 Responsabilidade Administrativa A legislação ambiental também prevê a responsabilidade administrativa (cobrada pelo Estado) e a penal. A primeira é efetiva pelos órgãos ambientais do Executivo. A mineradora Samarco recebeu a maior multa já aplicada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), foram ao menos R$ 250 milhões pelo rompimentode duas barragens em Mariana, cidade histórica de Minas Gerais. O valor é a soma de cinco autos de infração no valor de R$ 50 milhões cada. A multa aplicada pelo Ibama à Samarco pode nem chegar a ser paga, uma vez que ainda cabem recursos e existem brechas na lei que podem favorecer a mineradora [6]. A multa do Ibama abrange infrações por poluir rios, tornar áreas urbanas impróprias para a ocupação humana, causar interrupção do abastecimento 23 público de água, lançar resíduos em desacordo com as exigências legais, provocar a morte de animais e a perda da biodiversidade ao longo do rio Doce, colocando em risco a saúde humana. Mas além dela, a Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais anunciou que multou a empresa em mais de R$ 112 milhões pelos danos ambientais resultantes dos rompimentos. De acordo com a secretaria, o valor da multa (exatos R$ 112.630.376,32) é a faixa máxima nos critérios da legislação estadual. 6.4 Responsabilidade Penal A responsabilidade penal depende de comprovação de culpa ou de dolo. Há informações que um laudo técnico elaborado em 2013, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais teria alertado sobre riscos de ruptura das barragens, sobretudo, acerca da potenciação de processos erosivos. Os tribunais interpretam esses casos como dolo eventual, ao assumir o risco do resultado. Porém é preciso demonstrar que a conduta de determinado gestor, por exemplo, causou o desastre. E que ele tinha poder de agir para evita-lo, tendo conhecimento de que iria ocorrer. A Lei nº 9.605/98 considera crime ambiental “executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa”. Assim como “quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, [2] concessão ou determinação do órgão competente”. Portanto, mesmo que haja autorização do poder público, não se pode executar a lavra em desacordo com o autorizado. Assim como “causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade” é crime previsto no art. 54, § 2º, III da Lei de Crimes Ambientais e sujeita o infrator a pena de reclusão de 1 a 5 anos. Há outros tipos penais que possam envolver a mineradora em virtude de poluição e outros danos ambientais. As possibilidades são inúmeras devido à complexidade do caso [2]. 24 7. Métodos de Reverter os Danos 7.1 Medidas da mineradora A Samarco contratou a consultoria internacional Golder Associates para mapear os impactos ambientais e traçar o plano de ações para recuperação do Rio Doce. Equipes da Samarco seguem dedicadas, também, aos trabalhos feitos às margens do Rio Doce [12]. Como ação preventiva, espécies de peixes e crustáceos das regiões de Baixo Guandu, Colatina, Linhares e Aimorés foram resgatados e encaminhados para outros cursos d’águas, com características semelhantes ao de seu habitat original. O trabalho é executado com a autorização e acompanhamento do IBAMA. Em Colatina, 150 mil peixes foram resgatados pelo projeto Arca de Noé, iniciativa liderada por pescadores apoiados pela Samarco. As espécies foram transferidas para lagoas da região. Para a limpeza dos cursos d’água, estão sendo recolhidos os peixes mortos, cujas carcaças são direcionadas para aterros sanitários devidamente licenciados. Qualidade da água Testes divulgados recentemente pela Fundação Gorceix, instituição vinculada à Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), indicam que o rejeito da barragem de Fundão não representa perigo à saúde. O material, coletado no dia 30 de novembro, foi identificado como classe II B (resíduo não perigoso, inerte), ou seja, que não oferece perigo ao ser manuseado e nem apresenta risco de disponibilizar contaminantes ao ficar exposto a chuvas por vários anos [12]. 25 Figura 4 – Classes de Resíduos A amostra foi coletada na barragem de Santarém, que recebeu rejeitos de Fundão após o acidente. O material foi submetido a testes que simularam diversas situações para avaliar os potenciais riscos do rejeito à saúde humana e ao meio ambiente. Apesar dos rejeitos não serem tóxicos aos seres humanos, elas precisam ser tratadas antes serem disponibilizadas para consumo. Para isso está sendo usado um floculante (durante o processo de tratamento), de origem natural extraído da casca da árvore Acácia Negra. Seu permite a neutralização das cargas de impurezas da água, formando flocos que decantam para o fundo do reservatório. Possibilitando assim o tratamento da água que fica na superfície pelos métodos convencionais [9]. Revegetação Até o momento, 719 hectares foram revegetados ao longo dos rios Doce, Carmo e Gualaxo, em Minas Gerais. Para isso estão sendo usadas biomantas ou telas vegetais. As biomantas ou telas vegetais são esteiras constituídas de fibras vegetais desidratadas que são entrelaçadas por meio de costuras de fios, látex natural, colas ou ainda grelhas de polipropileno [10]. 26 Figura 5 - Biomantas Essa retenção propicia condições mais adequadas de germinação e desenvolvimento das espécies vegetais semeadas, além de fornecer nutrientes, pois, são degradáveis e servem de fonte de matéria orgânica para o solo, auxiliando em sua estruturação [10]. Além de evitar a erosão superficial, proporcionam sombreamento e também a retenção da umidade no solo, quando se implanta o trabalho de reconstituição vegetal facilita a germinação de sementes no local, além de proteger o solo contra impacto direto da chuva e mantêm boa umidade e proteção das sementes lançadas [10]. Essa etapa do trabalho promove a melhoria das condições do solo e possibilita ações futuras para sua recuperação, minimização de dispersão de poeira e auxilia na contenção de sedimentos para os cursos d’água. Diques O dique de contenção é a contenção secundária que os tanques devem possuir para, em caso de vazamento de produto químico, possa possibilitar um controle operacional, evitando que esse produto chegue ao rio ou ao mar ou contamine o solo [11]. Em geral esses diques ficam ao tempo, ficando sujeitos a água de chuva. Como o dique de contenção tem que ficar fechado para garantir que o vazamento 27 (se houver) fique contido no dique, ele acaba enchendo de água de chuva. Nessa situação, o operador da área de tancagem deve drenar a água de chuva. Para isso, os diques de contenção em geral possuem válvulas para realizar a drenagem [11]. No caso de Mariana, foram construídos 3 diques de contenção para evitar que os rejeitos cheguem aos rios Carmo, Gualaxo e Doce. Além de reforço no dique de Selinha [11]. Monitoramento A empresa faz monitoramento em tempo real por meio de radar, escaneamento a laser, câmeras, medidores de nível d´água (piezômetros), acelerômetros, entre outros. Além de implementar o Novo Plano de Ação Emergencial de Barragem de Mineração, que inclui a instalação de sirenes ao longo das comunidades e a realização de simulações com a população e monitoramento da defesa civil, de Mariana e Barra Longa [12]. 7.2 Novas tecnologias Por se tratar de um incidente de proporções sem precedentes na história, basicamente estão sendo usadas técnicas adaptadas de outros casos para reduzir o mais rápido possível os impactos. Mas já existem novas tecnologias sendo idealizadas. Algumas delas já saíram do papel e estão sendo colocadas em prática. Tijolos de Mariana Há três meses, tijolos estão sendo fabricadosde forma artesanal, a partir de rejeitos de barragens. Mais uma fábrica, que ampliará a produção para escala industrial, está prestes a sair do papel. Operada 100% por mão de obra local, a fábrica dos Tijolos de Mariana vai devolver 80 empregos diretos e indiretos à comunidade [8]. Ao final de cada ano, mais de 700 toneladas de rejeitos terão sido retiradas do ambiente, produzindo 1,2 milhão de tijolos, o suficiente para reconstruir casas populares, hospitais e escolas para, pelo menos, 400 famílias 28 da região. Vendida em todo o país, a produção ainda vai trazer renda extra à comunidade [8]. O processo consiste basicamente em coletar a matéria prima, transformação do mesmo em um composto limpo e atóxico, a partir daí o composto é transformado em tijolos através de um processo ecológico que não emite gases [8]. Bactérias decompositoras de petróleo A utilização de bactérias para decompor petróleo não é mais uma novidade. Esta vem sendo usada há muito tempo e apresentando bons resultados. A Universidade Federal do Espirito Santo desenvolve uma pesquisa utilizando bactérias modificadas geneticamente para decompor petróleo, para proteger determinadas espécies de coral. O processo consiste em coletar uma amostra de bactérias que vivam em simbiose com o coral e modifica-las geneticamente para que passem a se alimentar de petróleo. Os testes realizados até então mostram uma eficiência de cerca de 80 a 95%. Acredita-se que poderia ser feito algo semelhante para o caso da contaminação do rio doce pelos rejeitos de mineração. Utilizando para isso bactérias presentes no próprio rio [18]. 29 8. Referências [1] BRASIL. Lei nº 7.805, de 18 de julho de 1989. [2] BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. [3] Código Civil - Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. [4] O caso Samarco e a responsabilidade ambiental. Disponível em: < http:// http://fellipesd.jusbrasil.com.br/artigos/255747257/o-caso-samarco-e-a- responsabilidade-ambiental> Acesso em: 22 de abril de 2016. [5] Responsabilidade civil ambiental da mineradora SAMARCO pelo rompimento das barragens em Minas Gerais. Disponível em: < http://thiagoloures.jusbrasil.com.br/artigos/252980985/responsabilidade-civil- ambiental-da-mineradora-samarco-pelo-rompimento-das-barragens-em-minas- gerais> Acesso em: 22 de abril de 2016. [6] Samarco recebe maior multa já aplicada pelo Ibama, mas não resolve problema. Disponível em: < http://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas- noticias/redacao/2015/11/27/samarco-recebe-maior-multa-ja-aplicada-pelo- ibama-mas-pode-nao-pagar.htm> Acesso em: 22 de abril de 2016. [7] Samarco terá que construir distrito para moradores de Bento Rodrigues. Disponível em: < http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2015/11/samarco-tera- que-construir-distrito-para-moradores-de-bento-rodrigues.html> Acesso em: 22 de abril de 2016. [8] Tijolos de Mariana. Disponível em:< http://www.tijolosdemariana.com.br/> Acesso em: 20 de abril de 2016. [9] Como funcionam os floculantes. Disponível em:< http://www.samarco.com/2015/12/14/como-funcionam-os-floculantes/> Acesso em: 20 de abril de 2016. [10] Biomantas. Disponível em: <https://sites.google.com/site/langeotecniaefundacao/contato/46-biomantas> Acesso em: 20 de abril de 2016. 30 [11] Diques de Contenção: Disponível em:<http://ddsonline.com.br/dds- temas/38-meio-ambiente/210-importancia-do-dique-de-contencao.html> Acesso em: 20 de abril de 2016. [12] Dossiê Samarco. Disponível em:http://www.samarco.com/wp- content/uploads/2016/04/Dossie_reduzido_20_04_portugues.pdf> Acesso em: 20 de abril de 2016. [13] Como são extraídos os minerais de uma mina. Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-sao-extraidos-minerais-de- uma-mina Acesso em: 20 de abril de 2016. [14] Rejeito de mineradora não é danoso à saúde. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-11/rejeito-de-mineradora-nao- e-danoso-saude-diz-samarco Acesso em: 20 de abril de 2016. [15] O que se sabe sobre o rompimento das barragens em Mariana (MG). Disponível em: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas- noticias/2015/11/06/o-que-se-sabe-sobre-o-rompimento-das-barragens-em- mariana-mg.htm Acesso em: 20 de abril de 2016. [16] O que é uma barragem de rejeitos? Disponível em: http://organicsnewsbrasil.com.br/meio-ambiente/o-que-e-barragem-de-rejeitos/ Acesso em: 20 de abril de 2016. [17] Lama contaminada tem concentração de metais até 1.300.000% acima do normal. http://noticias.r7.com/minas-gerais/lama-contaminada-tem- concentracao-de-metais-ate-1300000-acima-do-normal-12112015 Acesso em: 20 de abril de 2016. [18] Importância das actinobactérias em processos ecológicos, industriais e econômicos. 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Disponível em: http://g1.globo.com/ciencia-e- saude/noticia/2015/11/rompimento-de-barragens-em-mariana-perguntas-e- respostas.html Acesso em: 22 de abril de 2016. 32 [26] O que já se sabe sobre o impacto da lama de Mariana? Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151201_dados_mariana_cc Acesso em: 22 de abril de 2016. [27] Relatório da marinha aponta 4 metais pesados na foz do rio doce. Disponível em: http://riosvivos.org.br/noticias-ecoa/relatorio-da-marinha-aponta- 4-metais-pesados-na-foz-do-rio-doce/ Acesso em: 23 de abril de 2016. [28] Com desastre em Mariana (MG), Rio Doce morreu, sim, mas pode ser ressuscitado. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e- cidadania/com-desastre-em-mariana-mg-rio-doce-morreu-sim-mas-pode-ser- ressuscitado-4a62e053b1jhgolwesngy3a9d Acesso em: 23 de abril de 2016. [29] Samarco tem ate dia 18 para conter vazamento em barragem em MG. Disponível em: http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/2016/04/samarco-tem-ate-dia-18-para-conter-vazamento-em- barragem-em-mg.html Acesso em: 23 de abril de 2016. [30] Desastre ambiental de Mariana. Disponível em: http://www.iea.usp.br/noticias/desastre-ambiental-de-mariana Acesso em: 23 de abril de 2016. [31] Prováveis causas do rompimento da barragem de rejeito de Mariana/MG. Disponível em: <http://tecnicoemineracao.com.br/causas-do-rompimento-da- barragem-de-rejeito-em-mariana/>. Acesso em 23/04/2016 [32] Laudo Técnico em resposta ao Parecer Único Nº 257/2013 - Descrição do fato: Análise Técnica Referente à Revalidação da Licença Operacional da Barragem de Rejeitos do Fundão. Disponível em: <http://www.meioambiente.mg.gov.br/images/stories/URCS_SupramCentral/RioVel has/69/9.1-laudo-tecnico.pdf>. Acesso em 23/04/2016 [33] MPF investiga causas do rompimento da barragem da Samarco em Mariana. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2015/12/mpf- investiga-causas-do-rompimento-da-barragem-da-samarco-em-mariana.html>. Acesso em 23/04/2016 33 [34] Excesso de água em barragem provocou rompimento, diz Polícia Civil. Disponível em: <http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em- mariana/noticia/2016/02/excesso-de-agua-em-barragem-provocou-rompimento-diz- policia-civil.html>. Acesso em 23/04/2016
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