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TEXTO 34 Diversidade e política pública

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DIVERSIDADE(S) COMO POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL: 
UM TRIBUTO A RAFAEL BARBOSA DE MELO 
Wilson Camerino dos Santos Junior-Ifes 
Elvis Reis Oliveira-PMS 
Pablo Cordeiro Ferreira-Ifes/Sedu 
 
Perdi-me do nome,1 
Hoje podes chamar-me de tua, 
Dancei em palácios, 
Hoje danço na rua. 
Vesti-me de sonhos, 
Hoje visto as bermas da estrada. 
 
Trecho da música: Baladas de Gisberta- 
Autor: Pedro Abrunhosa. 
 
RESUMO 
O trabalho tem por objetivo investigar a construção social do gênero como uma política pública estatal 
escolar, para tal fim, conceitualiza a categoria diversidade(s) como componente essencial das estruturas 
das políticas educacionais. O conceito de diversidade(s) presente em debates cujos princípios 
epistemológicos são: étnicos, de gênero, da diversidade sexual, da diversidade religiosa e outras tantas 
formas de diversidade(s) que permeiam as instituições públicas, de forma a suscitar reflexões para a 
inclusão destas diversidades no tecido social da estrutura da sociedade brasileira, tem sido passivo das 
relações de poder instituídas pelos fundamentalismos, em especial o religioso, que a cada dia passa a 
anular a(s) possibilidades da(s) diversidade(s) acessarem os insumos ofertados pelo Estado, mercado e 
sociedade civil, afetando o desenvolvimento do capital social de negros, gays, travestis, transexuais, 
umbandistas, candomblecistas e demais indivíduos que exercem a(s) diversidade(s). Neste trabalho, 
problematizar a(s) diversidade(s) como uma política pública estatal é tributar a Rafael Barbosa de Melo, 
que foi vítima brutal do não reconhecimento da identidade de gênero e foi anulado do meio social pelo 
seu fenótipo e traços culturais. Especificamente, discutiremos o conceito de diversidades, elaboraremos 
panorama dos crimes de homofobia no Brasil e por fim analisaremos as reportagens que divulgaram a 
morte do adolescente Rafael Barbosa de Melo e, traçaremos políticas públicas escolares que contribuem 
para minimizar este não reconhecimento à(s) diversidade(s). Nossa metodologia utilizada foram os 
estudos exploratórios. Nosso referencial teórico metodológico será Hessel (2011) para trabalharmos a 
relação resistência e indignação, Junqueira (2009) para abordarmos a temática da homofobia na escola e 
Caetano (2012) na reflexão dos movimentos curriculares e corpos enunciativos. Os nossos resultados 
apontam para a homofobia como um processo legitimado pelo estado, doravante seu hiato na 
criminalização da violência sofrida pela população LBGT e a necessidade de políticas educacionais que 
abordem a questão da(s) diversidade(s) para que seja uma construção social o direito à diferença e não 
apenas uma política paliativa. Apontamos em nossos questionamentos que, se as políticas públicas para 
a(s) diversidade(s) não tivessem sido tolhidas no processo educacional, Rafael Barbosa de Melo, poderia 
estar até o presente dia confeccionando roupas para suas bonecas e, seu sonho em ser estilista, seria 
materialmente possível. 
Palavras Chaves: Educação. Diversidade. Política Pública. Gênero. 
 
APRESENTAÇÃO 
 
O presente artigo
2
 tem por objetivo discutir a construção social do gênero como uma 
política pública estatal escolar, para tal fim, conceitualiza a categoria diversidade(s) 
 
1
 A música é interpretada pela cantora Maria Betânia e de autoria de Pedro Abrunhosa. Gilberto ou 
Gisberta foi um transexual brasileiro que foi morto por meio de torturas que duraram dois dias, na cidade 
de Porto em Portugal por um grupo de adolescente durante dois dias. 
2 
 
como componente essencial das estruturas das políticas educacionais. Para além desta 
discussão, tributamos aqui ao adolescente Rafael Barbosa de Melo, uma homenagem 
que objetiva chamar a atenção dos formuladores de políticas públicas, políticas sociais, 
dos gestores, dos professores e demais formas de lideranças em potencial sobre a 
importância da discussão da(s) diversidade(s) como componente central para garantia da 
dignidade humana. 
Estamos no século XXI e ainda convivemos com segmentos cerceados dos seus direitos, 
e muitos destes por causas banais, por exemplo, a existência de comportamentos que 
transgridem o padrão heteronormativo. E a transgressão passa a ser na sociedade uma 
afronta a modelos historicamente construídos. Mediante a uma ideologia difundida de 
ameaça social a moral da família, aos padrões religiosos, a um modelo de 
masculinidade, dentre outras é deferido à minoria da população que esteja fora do 
padrão heteronormativo, o direito a exclusão e até mesmo a anulação da vida. 
A escrita do termo diversidade(s) que utilizamos neste trabalho é proposital, pois não 
intentamos aqui defender uma sociedade heteronormativa, cristã, branca. Assim como 
não intentamos em defender uma sociedade homoafetiva, dos umbandistas, dos 
candomblecistas, de negros, e outros. Falamos aqui em diversidade(s), e este termo no 
sentido de sua escrita proposital, “diversidade(s)”, remete à(s) sociedade(s), plural que 
coexista de forma conjunta negros, brancos, homoafetivos, heterossexuais, evangélicos, 
católicos, candomblecistas e outras formas de diversidade(s). 
Defendemos aqui que o indivíduo tem o direito ao seu exercício cultural, sem nenhum 
tipo de manipulação logo, a religião, a diversidade sexual e outras formas de existência 
devem ser consideradas a partir da construção social/cultural da pessoa e não como uma 
condição única e dada pela pré-destinação. Propomos aqui políticas educacionais que 
assumam esta(s) diversidade(s) e o direito de construção social de cada indivíduo. 
Temos então a situação hipotética: se o entorno social de Rafael Barbosa de Melo 
tivesse sido afetado pelo direito à(s) diversidade(s), hoje o adolescente estaria entre nós 
confeccionando roupas para suas bonecas e seu sonho em ser estilista seria 
materialmente possível. Todos nós somos responsáveis pela morte do adolescente, seja 
pela omissão ao reconhecimento da(s) diversidade(s) ou até mesmo pela indiferença. 
 
2
 Registro nossos agradecimentos ao GT Gêneros, sexualidades e racismos do I Congresso de 
Pesquisadores Negros da Região Sudeste. Obrigado pelo debate, ao incentivo a pesquisa e contribuições 
dadas para que possamos pensar o gênero e a diversidade na escola. 
3 
 
Neste artigo nos desculpamos com o adolescente pela sua morte cruel e objetivamos 
aqui no estado do Espírito Santo, promover a garantia ao direito da(s) diversidade(s). 
1 DIVERSIDADES(S) NO CENÁRIO BRASILEIRO E OS CRIMES DE 
HOMOFOBIA 
De que serve voltar 
Quando se volta para o nada. 
Eu não sei se um Anjo me chama, 
Eu não sei dos mil homens na cama 
E o céu não pode esperar. 
Eu não sei se a noite me leva, 
Eu não ouço o meu grito na treva, 
O fim quer me buscar. 
 
Trecho da música: Baladas de Gisberta- 
Autor: Pedro Abrunhosa. 
 
Existem duas categorias que estão circunscritas no tecido social brasileiro nos dez 
últimos anos: a(s) diversidade(s) e a violência, demarcando em especial a partir do ano 
de 2004, as discussões que tangenciam a violência de gênero como pauta não apenas de 
debates/embates no cenário público/privado, mas ano em que ocorreu o reconhecimento 
do gênero como categoria pública da proteção social brasileira. 
Cito como materialidade destes fatos o sancionamento da Lei Nº 11.340, de 7 de Agosto 
de 2006. Legislação esta conhecida como Lei Maria da Penha. Outra legislação em 
debate desde o ano de 2006 é o Projeto de lei da Câmara 122 de 2006, que criminaliza 
em sua essência a violência advinda do não reconhecimentode gênero, sexo, identidade 
de gênero ou orientação sexual. Ainda temos na década do ano de 2004 o lançamento 
do Programa Brasil Sem Homofobia, que objetiva por meio do regime de colaboração, 
criar estratégias que culminem ao respeito e à diversidade sexual e de gênero. 
Somam-se 11 anos de debates sobre a questão da diversidade sexual e de gênero, porém 
atrelado a este debate outros indicadores foram ganhando notoriedade na mídia paralela. 
Estamos denominando aqui de mídia paralela os blogs, encartes, redes sociais que de 
alguma forma objetivam divulgar os crimes de gênero no Brasil, geralmente crimes que 
são desreferenciados pela mídia de massa como um fato de notoriedade. 
A violência contra a mulher até ganhou algumas páginas na mídia impressa e na 
televisionada. Porém, a violência de gênero não é tratada como questão causadora da 
situação letal, a violência é sempre reduzida a confrontos correlatos com “desestrutura 
familiar”, álcool e outras drogas, traição conjugal, dentre fatores dos mais diversos. No 
caso dos crimes cometidos por homofobia e transfobia estes não são pautas sequer das 
4 
 
mídias locais. Fica a cargo da mídia paralela a divulgação e cobrança pela não 
impunidade dos casos. 
De acordo com Fontes et.al (p.155, 2006): 
Em outras palavras, o preconceito em relação à temática identidade de gênero, ainda 
existente em uma parte significativa da sociedade, inclusive no interior de muitas 
escolas, transforma-se em uma das principais barreiras para o avanço da 
sistematização de informações na área em questão e, consequentemente, para a 
promoção da diversidade na sociedade brasileira. 
A partir do exposto pela autora problematizamos duas categorias no âmbito das 
Ciências Sociais que são bem contextualizadas: a violência como o uso da coerção 
física e o gênero como a construção social dos papéis femininos e masculinos. Quando 
falamos na categoria violência sabemos da complexidade correlata ao termo e definimos 
de forma bem ampla que a violência é advinda das desigualdades sociais, fruto do 
capital e de seu acirramento ideológico do consumo precoce. 
Em contrapartida o Estado, o mercado e a sociedade civil vão se dissociando das 
responsabilidades em ofertar insumos para que as crianças, os jovens, os adolescentes, 
as mulheres e os homens possam ser inseridos no tecido social ou então não dissociar-se 
deste. O que Durkeim (2010) denominaria de anomia. 
O que hoje vivemos, podemos afirmar que é a espécie de um “mix” deste modelo de 
estado. Enquanto de um lado temos um grupo navegando nas redes do tecido social, 
consumindo o que o capital lhe induz, acima temos o grupo condutor deste tecido que a 
qualquer momento decide quem é que vai poder andar neste tecido social e quem vai 
sair. A violência é advinda da desigualdade social quando é fruto do não acesso aos 
insumos ofertados pelo estado, mercado e sociedade civil. 
Neste sentido a violência como um fenômeno mais amplo, passa contar com “micro 
fenômenos”, que em nossa pesquisa é a violência de gênero, e em nosso recorte as 
violências sofridas pela orientação sexual e de gênero de gays, lésbicas, travestis, 
transexuais e outros. A homofobia passa ser definida neste artigo como uma prática letal 
de aversão à existência ou circulação de homossexuais, lésbicas, travestis, transexuais e 
outros. 
Ainda de acordo com o grupo gay Bahia (2015): 
“os crimes contra LGBT desafiam a imaginação sociológica devido a sua 
imprevisibilidade: há estados que num ano matam-se mais gays, no outro, mais 
travestis; em janeiro de 2014 foram assassinados 45 LGBT, caindo para 17 em 
fevereiro, perfazendo uma média de 27 mortes mensalmente, sem possibilidade de 
interpretar-se cientificamente tal oscilação; enquanto nos anos anteriores sempre 
5 
 
prevaleceu o uso de armas brancas na execução dos homicídios, nesse ano 
dominaram as armas de fogo. Ninguém consegue explicar tais oscilações anuais.” 
 
De acordo com Fontes (2006), a promoção da homofobia esta ligada pela valorização do 
gênero masculino em desprezar qualquer padrão que não atende a afirmação da 
masculinidade. E este valorizar e desprezar já são impregnados desde a tenra infância. 
Desde cedo as crianças são educadas ao não para o respeito à(s) diversidade(s) e sim ao 
desprezo e até mesmo à prática letal em desfavor de gays, lésbicas, travestis, transexuais 
e outros. Podemos citar aqui a própria violação de gênero sofrida por mulheres, além do 
não respeito à(s) diversidade(s) religiosas como parte deste contexto educacional. 
Ainda de acordo com Fontes (p.156, 2006) podemos perceber que: 
[...] os princípios de respeitar e educar para a diversidade em relação às diferentes 
formas de identidade de gênero envolvem questões multidimensionais e bastante 
complexas de serem trabalhadas no interior das escolas. Multidimensionais porque 
abarcam discussões que vão desde a identificação das diferentes formas de 
preconceito ate os seus respectivos impactos em relação aos grupos discriminados, 
passando pela analise de como se da à geração e a difusão dessas formas de 
preconceito na sociedade. 
 
O grupo Gay Bahia divulgou que no ano de 2014, no Brasil ocorreram 326 mortes de 
homoafetivos. De acordo com o relatório do grupo ocorre um assassinato a cada 27 
horas. De acordo com Fontes (2014) os homoafetivos vítimas de violência são em sua 
maioria reduzidos a sua sexualidade. Para a autora o formato da divulgação sobre a 
violência homofóbica coloca ainda mais em situação de desvantagem gays, lésbicas, 
travestis, transexuais e outros. 
A existência da redução da identidade de gênero, da diversidade sexual ao crime, a 
analogia de sua sexualidade e as motivações para a morte coloca as vítimas no que a 
autora Fontes (2014) denomina de sinônimo amplificado da sexualidade. Ou seja, os 
homoafetivos deixam de serem vítimas e passam a ser algozes da própria brutalidade às 
quais foram submetidos. 
De acordo com Junqueira (2009) para que possamos garantir direitos humanos é 
necessário que possamos garantir um espaço de discussão mais amplo acerca da 
homofobia e os efeitos que esta promove criando obstáculos sociais para a compreensão 
deste crime. Ainda para o autor, o próprio cotidiano do trabalho afeta o docente de 
modo que este passa a não perceber a tessitura de desigualdades, do sexismo, do 
racismo, da homofobia e outras criminalizações que passam a ser naturalizadas no 
cotidiano. 
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Os crimes de homofobia estão circunscritos ao cenário brasileiro, 
desfiando/normatizando a ordem instituída da sociedade heterossexual, cristã 
protestante e branca. Observe na tabela abaixo o perfil das vítimas de acordo com o 
relatório do grupo gay Bahia. 
TABELA 1 – CRIMES DE HOMOFOBIA 
Gays 163 50% 
Travestis 134 41% 
Lésbicas 14 4% 
Bissexuais 3 0,9% 
T-lovers (amantes de travestis) 7 2% 
 Fonte: relatório crimes de homofobia-grupo gay Bahia. 
Observamos que a tabela 1(crimes de homofobia) corrobora com as reflexões de 
Junqueira (2009), quando afirma na relação de gênero a predominância da 
masculinidade hegemônica. 
A heteronormatividade, e esta como única possibilidade de relação afetiva e sexual, são 
os constructos ideais da rejeição da homossexualidade, e em especial a masculina. Os 
dados da tabela 1 revelam que ser homoafetivo gay é passionalmente maior a chance de 
ser vítima de homofobia. Em segundo lugar as travestis, com um percentual apenas de 9 
% de chances inferiores aos gays de serem assassinadas. 
Os dados dos gráficos abaixo revelam que a região Nordeste concentra o maior número 
de indicadores em relação às vítimas de crimes por homofobia. Em segundo lugar o 
Sudeste, terceiro lugaro Centro-Oeste, quarto lugar o Norte e por último o Sul, sendo as 
vítimas anuladas do tecido social das formas mais banais possíveis. Observe o gráfico 
02, as armas de fogo e branca estão em primeiro lugar. Estas são seguidas de outras 
práticas de crimes, geralmente comuns de serem aplicados aos homoafetivos, em 
especial pauladas e asfixia. 
 GRÁFICO 01 – VITÍMAS GRÁFICO 02– CAUSAS 
 
 Fonte: relatório crimes de homofobia-grupo gay Bahia. Fonte: relatório crimes de homofobia-grupo gay Bahia. 
 
Os dados da tabela 1 e dos gráficos 01 e 02 dialogam com as colocações de Junqueira 
(2009), pois os crimes de homofobia nada mais são do que o uso da força para defender 
7 
 
uma única forma de masculinidade hegemônica e, estes processos de provação resultam 
no crime de anulação social de outras formas de relações afetivas e sexuais além da 
heteronormatividade. 
Para Junqueira (2009, p. 20): 
[...] a masculinidade hegemônica se constitui, então, como um modelo ideal, 
praticamente irrealizável, que subordina outras possíveis variedades de 
masculinidades e exerce um efeito controlador no processo de constituição de 
identidades masculinas. Realizadas em Pardais (vilarejo alentejano), suas pesquisas 
encontram eco em outras produzidas no interior brasileiro, que mostram rapazes 
permanentemente submetidos a “processos de provação” [...]. 
 
Já no ano de 2015, de acordo com os dados divulgados pelo site, Quem matou a 
homofobia hoje, soma-se o total de 178 homicídios documentados em desfavor de 
LGBT no Brasil, considerando apenas os meses de Janeiro a Julho. Dentre estes crimes, 
ocorreu no Estado do Espírito Santo, no município de Cariacica, a anulação do 
adolescente Rafael Barbosa de Melo, dado sua orientação sexual. 
A anulação de Rafael Barbosa de Melo semelhante aos demais casos de homofobia 
registrados neste ano de 2015, deu-se de forma cruel e trouxe para a mídia mais uma 
vez a discussão do crime de homofobia e também o debate, porém, mais uma vez, este 
não colocava o crime na situação de homofobia e simplesmente mais um homicídio. 
Estes crimes de homofobia revelam a necessidade do Estado Brasileiro se posicionar em 
relação a mortes da população LGBT, a discriminação sofrida no trato público e 
privado, além do cerceamento em geral dos direitos humanos. Cerceamento este que 
Rafael Barbosa de Melo pagou com a vida. 
 
2 O GÊNERO E OS CORPOS ENUNCIATIVOS:O CASO RAFAEL BARBOSA 
DE MELO 
Apagaram-se as luzes, 
É o futuro que parte. 
Escrevi o desejo, 
Corações que já esqueci, 
Com sedas matei 
E com ferros morri. 
Eu não sei se um Anjo me chama, 
Eu não sei dos mil homens na cama 
E o céu não pode esperar. 
Eu não sei se a noite me leva, 
Eu não ouço o meu grito na treva, 
E o fim quer me buscar. 
 
Trecho da música: Baladas de Gisberta- 
Autor: Pedro Abrunhosa 
8 
 
Ao tratar o tema de identidade de gênero no Brasil é preciso antes de tudo, compreender 
que tal assunto ainda suscita brados estridentes e teorias diversas no que tange as 
origens, escolhas ou natureza. Abordaremos o problema de gênero não como um 
problema do campo da naturalidade e nem refletiremos suas origens, mas um problema 
político, a partir de uma construção social. 
O fato que nos apresenta é que independente de quaisquer que sejam as motivações das 
homossexualidades, elas existem e, parafraseando Simone de Beauvoir, minha ideia é 
que todos, independentes da identidade de gênero, o que quer que sejamos, devemos ser 
considerados humanos, logo, sujeito de direitos isentos de qualquer tipo de violação. 
Em se tratando da sexualidade humana, segundo Foucault (2009), a história do sexo é 
uma construção social dada a partir das relações de poder. O que poucos percebem é 
que a genealogia da sexualidade passa pela repressão e pelo controle, isso significa que 
alguém repreende, controla e julga a partir de determinados princípios as formas pelas 
quais cada um deve usar o seu próprio corpo, até mesmo na intimidade de seu leito. Tais 
mecanismos de controle são tão eficazes, que são capazes de se manifestar de uma 
maneira tão veemente que, corpos e corpos, controlarão uns aos outros e se sujeitam a 
esses mecanismos a todo instante de suas vidas. 
A construção destes mecanismos de controle acontece, dentre outras formas, a partir de 
discursos proferidos por aquelas instituições, ditas detentoras do poder. Elas constroem 
alocuções que engendram a disseminação de um padrão pseudo-justificado, que 
pretende anular, por meio da repressão, todas as dimensões da sexualidade que se 
contrapõem ao dito “normal”. 
O discurso político, por exemplo, que tem se autoproclamado democrático, todavia, no 
que diz respeito à garantia de direitos e de efetivação de políticas públicas concretas que 
proporcionem à população LGBT os mesmos direitos daqueles não-LGBT, não há 
grandes evoluções neste quesito. Ainda percebemos discursos que “profetizam” um 
modelo de família (o heteronormativo) que não corresponde às condições reais da 
população. Costumeiramente ouvimos proclamações a respeito da sexualidade e do sexo 
como verdades essenciais apenas e não como construções históricas. Quando tratam o 
histórico, apontam como natural, estrategicamente usurpam o poder. 
Ao fazerem isso, estão negando direitos e mais substancialmente provocando ações e 
atuações (quase sempre negativas) em sujeitos reais e em condições reais, versa-se da 
9 
 
questão da “performatividade” predita pela filósofa americana Judith Butler (2015, p. 
2). 
Gosto muito da idéia de que o oposto de masculinidade não seja necessariamente a 
feminilidade. Não tenho problemas com isso. Mas a relação entre sexualidade e 
gênero, da forma como vocês a colocam aqui, se baseia em Bodies That Matter. Na 
verdade, em Gender Trouble escrevi algo semelhante ao que vocês estão sugerindo. 
Embora em Bodies That Matter eu enfatize que a sexualidade é regulada através da 
degradação do gênero, isso certamente não funcionaria se o gênero não fosse ele 
próprio visto como adequado somente no contexto de uma certa regulação da 
sexualidade. Então não vejo problema com isso. Mas tenho lido muita história 
feminista que assume que tanto o que é adequado quanto o que é 'impróprio' na 
sexualidade feminina são tipos de heterossexualidade (dentro do casamento e fora 
dele, ou seja, doméstica e profissional). A questão que quero colocar tem a ver com 
o que permanece fora desses binários, o que não é nem mesmo mencionável como 
parte do impróprio ou incorreto. Temo que a questão da homossexualidade feminina 
é silenciada exatamente por esses esquemas históricos feministas que permanecem 
acriticamente amarrados a esses binarismos. 
 
Em consequência dos discursos performativos e com binarismos nos surpreendemos 
com práticas que impedem a liberdade e aniquilam o direito humano de livre 
manifestação do próprio corpo. Vejamos as consequências do discurso performativo em 
uma situação real, com um sujeito concreto que possivelmente não teve a possibilidade 
de refletir sobre a ligação direta do discurso político e da “performatividade” em sua 
vida, no entanto, viveu intensamente as mazelas dos discursos inescrupulosos que 
cerceiam até mesmo o direito de ser de pessoas inocentes, seu nome Rafael Barbosa de 
Melo. 
A imagem idealizada, estereotipada, encalacrada, inculcada e massificada do fenótipo 
de homem e do fenótipo de mulher tem sido radicalmente questionada quando corpos, 
simplesmente ingênuos transgridem com uma profundidade abismal, as estruturas 
binárias homem-mulher. A partir do divulgado pela mídia podemos considerar que 
RafaelBarbosa de Melo transgredia o padrão heteronormativo. 
De acordo com a genitora do adolescente em entrevista concedida a um jornal. 
Muitas pessoas implicavam com ele, caçoavam e o xingavam. Implicavam com o 
jeito dele andar e por ele fazer roupas (de boneca). Diziam que ele tinha um jeito 
afeminado. Ele sofria muito, por isso meu filho era uma pessoa de poucos amigos e 
muito fechado [...] ele me contava as coisas que passava no colégio e na rua. Era 
xingado na rua, no colégio e sempre faziam piada dele. Mas meu filho nunca 
revidou, ouvia tudo calado. No bairro, ouvia sempre calado, piadinhas diariamente. 
 
Observamos a partir do narrado pela genitora do adolescente a mídia, que Rafael tinha 
seu corpo ainda em formação, possuía 14 anos, transgredia aos padrões da hegemonia 
masculina, desmantelava os pré-determinados tipos de identidade de gênero que 
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sufocam as subjetividades humanas que não se enquadram e rompem com discurso do 
adequado ou do correto. Rafael foi vítima de homofobia, pois já anunciava um romper a 
binaridade heteronormativa, na qual incitaram-nos a entender como devem ser as 
relações entre pessoas concretas. 
Assim como os crimes de outros LBGT no Brasil, Rafael Barbosa de Melo foi morto a 
pedradas e pancadas no bairro Santa Catarina, em Cariacica, estado do Espírito Santo. O 
corpo foi encontrado por vizinhos que alegavam que o adolescente tinha sido vítima de 
homofobia. No local do crime, até um bloco de concreto foi recolhido, além de pedaços 
de madeira. 
No dia 13 de Junho de 2015, apagaram-se as luzes e o futuro partiu, Rafael Barbosa de 
Melo foi morto. Este foi o fim do adolescente do sétimo ano do ensino fundamental, que 
sonhava em ser estilista, que ainda brincava de boneca, e vejamos aqui, o que uma mera 
atitude pode provocar. Este adolescente, que com o consentimento da família fazia 
roupas para suas bonecas e brincava com suas irmãs, provocava, com sua identidade de 
gênero, reações de estranhamento, dado as consequências da performatividade. 
 Dentro de seu lar, convivia ludicamente com suas irmãs; isso provocava, instigava, 
questionava e confundia as verdades preestabelecidas sobre a identidade sexual e de 
gênero. Em última instância desmontava os discursos instaurados pelas instituições de 
poder. 
Muitos justificam que a utilização do discurso é em última instância a liberdade de 
expressão. Mas o que é liberdade? Qual liberdade foi dada a Rafael Barbosa de Melo? 
Seria a liberdade a possibilidade de proferir discursos que negam o direito do outro? 
Seria a liberdade o direito de pronunciar-se em favor do aniquilamento do outro, 
simplesmente por conta de suas orientações sexuais? 
Temos realmente a liberdade de dizer o que quiser, sem se preocupar com as 
consequências da fala? Se liberdade for isso, voltaremos ao estado de natureza 
preconizado por Thomas Hobbes onde há uma constante luta de todos contra todos, já 
que podemos dizer e fazer o que quisermos. Então a performatividade se manifesta 
realisticamente e fundamenta ações ideologicamente. 
Para Butler (2014, p.1): 
Aquele que ataca física ou simbolicamente um homossexual, uma travesti, um 
negro, uma prostituta, uma mulher sob uma burca, ou, ainda, uma mulher que não é 
feminina ou sensual (como se as pessoas estivessem obrigadas ao estereótipo) 
11 
 
certamente em sua base um modo de pensar assegurado por essa visão de mundo 
compartilhada pelo patriarcado, pelo capitalismo, pelo poder em geral. 
Rafael só queria viver, viver em toda a sua potencialidade e quiçá conquistasse seus 
sonhos. Mas num mundo em que a liberdade de exercer a identidade de gênero e a 
diversidade ainda é tolhida, ele foi eliminado em favor do poder do mundo 
heteronormativo, do poder discriminatório e da razão excludente sexista. O adolescente 
foi anulado por sua inocência, por se manifestar corporalmente diferente e por fim, por 
não ter o direito de ser humano. 
O caso Rafael Barbosa de Melo transcorreu por duas versões pela mídia. Inicialmente 
foi colocado como um crime cometido a partir de um suspeito com relações de 
parentesco com a vítima, apesar da mídia e movimentos sociais caracterizarem a 
execução como homofobia, tal tipificação foi descartada. Mesmo com a afirmação da 
mãe do adolescente que narrou que o mesmo era vítima de preconceitos na região onde 
morava, na escola onde estudava, no seu circulo social. A hipótese de homofobia foi 
descartada e o suposto autor detido. 
 Aproximadamente 1 mês após o crime uma nova versão para o crime surgiu. De acordo 
com a grande mídia, o adolescente teria sido visto cometendo furtos na região que 
morava e por isto o comando local do tráfico optou pela execução do adolescente. De 
acordo com delegados envolvidos na investigação, conforme o divulgado pelo portal 
G1, o adolescente não possuía nenhuma conduta que o desabonasse para justificar tal 
crime por parte dos meliantes. 
Desta forma o caso Rafael Barbosa de Melo ganha novos contornos e traz para o 
cenário a necessidade da discussão sobre o gênero na escola. Os motivos da morte do 
estudante são ofuscados. A genitora oportunizou um debate a todos: como é difícil ser 
mãe de um jovem em situação de binaridade corporal e cultural. A morte de Rafael 
Barbosa de Melo já estava anunciada. Sua sentença de vida já estava pronta para a 
genitora, o adolescente seria anulado socialmente q qualquer momento. 
Não são intentos aqui discutirmos questões criminais do caso Rafael, não objetivamos 
colocar suspeitos em evidência, porém os indícios divulgados pela mídia apontam para 
uma anulação social, que em nossa mera hipótese não se trata de homicídio advindo por 
furto, ou seja, a brutalidade que Rafael foi anulado não foi uma mera prestação de 
contas. 
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Evidenciamos a existência de relações de poder que alocam outros fragmentos ao 
cenário do crime. Homofobia ou não, mas a dor de uma mãe ao perder o filho por conta 
de seu exercício de gênero ou pela orientação sexual é o que sentiu a genitora do 
adolescente e nos permitiu a este debate, demostrando como é necessário trabalhar o 
direito a(s) diversidade(s) nos processos educativos. 
Já existem os considerados culpados da execução física de Rafael, porém milhares de 
cúmplices, inclusive você que faz a leitura deste texto, ainda estão soltos, sem a devida 
punição pela nossa omissão no reconhecimento da(s) diversidade(s), pela nossa 
homofobia, pelo nosso modo de naturalizar e estereotipar gays, lésbicas, travestis e 
transexuais. Todos nós matamos Rafael Barbosa de Melo. 
 
3 DIVERSIDADE(S) COMO POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL 
 
Trouxe pouco, 
Levo menos, 
A distância até ao fundo é tão pequena, 
No fundo, é tão pequena, 
A queda. 
E o amor é tão longe. 
 
Trecho da música: Baladas de Gisberta- 
Autor: Pedro Abrunhosa. 
A escola por ser uma instituição educativa e transformadora na vida de qualquer pessoa, 
tem uma função primordial no combate ao preconceito e à homofobia. Levando em 
consideração que a educação é um direito garantido por lei a todos, ela não pode se 
omitir no que se refere ao respeito a toda forma de diversidade, é preciso que toda forma 
de educação seja inclusiva e igualitária. Contudo, o que percebe-se é que esta instituição 
não está cumprindo com suas finalidades. Ou ela se reinventa ou desempenhará apenas 
um papel secundário para a construção de uma sociedade justa, fraterna, igualitária e 
diversa. 
Sendo assim, a escola como instituição formadora de corpos, mentes e com o dever de 
formar o aluno para a cidadania, não pode continuar propagando ideias, conceitos que 
alimentem o preconceito e a discriminação contra a pessoa humana. Em pleno século 
XXI, não dámais para se pensar em um ensino pautado para a prática excludente, onde 
reina uma visão heteronormativa. 
Para Caetano (2013, p.68): 
Os movimentos curriculares fazem parte destas práticas educativas que nos ensinam 
a heteronormatividade e o androcentrismo. Esses dois dispositivos são constituídos 
por regras discursivas que produzidas nas sociedades atravessam suas tecnologias 
educativas e interpelam nossas subjetividades permitindo, com isto, o controle ou a 
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mediação da forma como vivemos nossos gêneros, sexualidades e nos posicionamos 
nos espaços sociais. Para tanto, estes discursos e interpelações precisam ser 
constantemente repetidos e reiterados nas práticas educativas cotidianas para dar o 
efeito de substância e de algo natural. 
A escola assim como as demais instituições da sociedade se modificou ao longo dos 
anos acompanhando as mudanças sociais, todavia, no que diz respeito à questão sobre 
gênero e diversidade sexual, no âmbito dos movimentos curriculares parece que de 
alguma forma não aderiu às modificações e debates sobre a identidade de gênero e 
diversidade sexual, no intuito de atender a este processo que a sociedade vivencia. Em 
análise, é notório observar que as escolas e seus currículos, seja ele formal ou oculto 
ainda não está preparada para trabalhar com questões de combate e enfrentamento a 
toda forma de preconceito. 
Para Junqueira (2014, p. 101): 
A escola tornou-se um espaço em que rotineiramente circulam preconceitos que 
colocam em movimento discriminações de diversas ordens: classismo, racismo, 
sexismo, heterossexismo, homofobia, e outras formas de gestão das fronteiras da 
normalidade fazem parte do cotidiano escola. 
Ainda de acordo com o autor, a escola em sua essência é um espaço que de certa forma 
acaba contribuindo para as diversas formas de preconceito, isso devido ao fato que a 
heteronormatividade está na ordem das coisas e no cerne das concepções curriculares. 
Outro fator que contribui para a disseminação do preconceito é a falta de formação dos 
profissionais envolvidos no processo educativo, que em sua maioria acabam se 
omitindo, com isso alunos e alunas gays, lésbicas, travestis, bissexuais, acabam se 
afastando do ambiente escolar, espaço este que deveria possibilitar conhecimento e 
ferramentas para o seu empoderamento e enfrentamento na luta da construção de uma 
consciência que leve ao entendimento que todos possuem os mesmos direitos, 
independente de sua sexualidade. 
Para que se conquiste a inclusão social, a educação escolar deve fundamentar-se na ética 
e nos valores da liberdade, justiça social, pluralidade, solidariedade e sustentabilidade, 
cuja finalidade é o pleno desenvolvimento de seus sujeitos, nas dimensões individual e 
social de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, compromissados com a 
transformação social. 
De acordo com as Diretrizes Curriculares (2011, p. 9): 
Diante dessa concepção de educação, a escola é uma organização temporal, que 
deve ser menos rígida, segmentada e uniforme, a fim de que os estudantes, 
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indistintamente, possam adequar seus tempos de aprendizagens de modo menos 
homogêneo e idealizado. 
 A escola tem a função social de desconstruir toda e qualquer forma de preconceito. A 
partir do momento que ela exercer sua função como está escrito na legislação, ações de 
preconceitos e homofobia poderão deixar de existir. E casos como o do jovem Rafael 
Barbosa de Melo, estudante da 7° ano do Ensino Fundamental, que foi sentenciado à 
morte por conta de uma afetividade que talvez nem tenha tido a oportunidade de 
vivenciar, deixará de acontecer. A educação necessita assumir como política 
educacional a(s) diversidade(s). Não podemos mais ficar assistindo nas escolas atos de 
homofobia e a reprodução destes anos na sociedade. 
Para o grupo gay Bahia (2015): 
[...] há quatro soluções emergenciais para a erradicação dos crimes homofóbicos: 
educação sexual para ensinar aos jovens e à população em geral o respeito aos 
direitos humanos dos homossexuais; aprovação de leis afirmativas que garantam a 
cidadania plena da população LGBT, equiparando a homofobia e transfobia ao 
crime de racismo; exigir que a Polícia e Justiça investiguem e punam com toda 
severidade os crimes homo/transfóbicos e finalmente, que os próprios gays, lésbicas 
e trans evitem situações de risco, não levando desconhecidos para casa e acertando 
previamente todos os detalhes da relação. A certeza da impunidade e o estereótipo 
do gay como fraco, indefeso, estimulam a ação dos assassinos. 
Uma educação que estimule desde as séries iniciais o reconhecimento da diversidade 
religiosa, afetiva, de gostos, enfim, a existência dos seres humanos plurais, sem a 
condenação desta afetação é primordial, de modo que passaremos a garantir a 
indignação de Hessel (2011). 
Nossa proposta em diversidade(s) como política pública educacional considera a 
pedagogia da indignação como um bom elemento das políticas educacionais quando se 
trata da questão da(s) diversidade(s). Necessitamos ensinar aos nossos discentes a se 
indignarem com atos homofóbicos e com todas as demais formas de preconceito. Não é 
a história da sexualidade que vai ensinar o respeito, não é ver famílias homoafetivas que 
vai ensinar o respeito, não são cartilhas, formações aligeiradas, entre várias outras 
ações. O que minimiza a homofobia por meio dos processos educacionais é o 
reconhecimento da dignidade humana. 
Este processo pauta nos seguintes princípios: 
a) Ensinamento dos princípios e valores democráticos de nosso país; 
b) Resistência a todas as formas de preconceitos; 
c) Asseguramento à forma de existência a todos os cidadãos; 
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d) O interesse geral sobrepujando o particular; 
e) Liberdade e direitos iguais na imprensa; 
f) O motivo da resistência ser a indignação. 
A escola necessita trabalhar com o princípio da construção social do ser humano e não 
mais com escolhas pessoais e arregimentadas de seus gestores e docentes. Gostamos 
sempre de esclarecer que a proposta da educação para diversidade não se pauta na 
escola criar estereótipos e bandeiras LGBT, unicamente se a educação adota como 
princípio a diversidade em seus processos educacionais, todos serão contemplados. Do 
discente ateu ao protestante, do heteronormativo ao homoafetivo. Os cinco princípios 
listados acima assumem para além de regimentos e documentos materiais que norteiam 
aos princípios educacionais. São propostas metodológicas que asseguram a dignidade 
humana. 
CONSIDERAÇÕES 
O presente trabalho demonstrou a importância dos estudos do gênero para um processo 
para além de criminalização da homofobia. Propomos aqui que muito além da 
criminalização da homofobia, o processo educativo pode ser emancipador do ser 
humano, de modo que este possa descobrir o outro como um sujeito de direito. A 
questão da diversidade sexual toma vulto a um direito intrínseco do ser humano, sendo 
o estado brasileiro coadjuvante dos crimes de homofobia, dado a imparcialidade em 
tratar os casos e assumir de fato políticas públicas sérias de combate a todas as formas 
de discriminação. 
Por fim, a indignação contra qualquer forma de violação é o método pedagógico que 
propomos para que os educandos sejam capazes de lidar com a(s) diversidade(s). O 
indivíduo que se indigna rompe o laço do preconceito e todas as outras formas de 
exclusão. 
Faltou no caso do jovem Rafael Barbosa de Melo, indignação, e, o que restou a 
materializar em sua ausência, é o estribilho da música interpretada pela cantora Maria 
Bethania: “Trouxe pouco, levo menos, à distância até ao fundo é tão pequena, e amor 
esta tão longe”. Enquanto o jovem se manteve calado das agressõessofridas e toda sua 
rede parental e de serviços públicos foi omissa, a homofobia foi chegando e se 
materializou em sua morte. Esperamos que diante deste fato e das reflexões propostas 
nossa capacidade de indignar em favor da(s) diversidade(s) seja cada vez mais ampla. 
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