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Direito Público x Privado – princípios

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[http://introducaoaodireito.info/wp/?p=364] 
 
A divisão do conjunto de normas jurídicas a que chamamos Direito em dois grandes 
ramos, ​o público e o privado​, é importante sob dois pontos de vista: possibilita uma 
organização sistemática dessas normas e facilita seu manejo pelo jurista. 
Cada uma dessas grandes divisões é constituída por normas que limitam as 
possibilidades de um fato a partir de princípios diferentes. As normas que compõem 
o ramo direito público, assim, são elaboradas e interpretadas conforme regras 
gerais (princípios) diversas daquelas utilizadas nesse processo pelas normas de 
direito privado. 
Sem esgotarmos o assunto, escolhemos dois pares de princípios que regem cada 
um dos ramos e levam a questões que envolvem dois dos ideais mais elevados de 
nossa era: a igualdade e a liberdade. 
Se adotarmos o ​critério subjetivo​, podemos afirmar que o direito público rege 
relações em que o Estado é parte e o direito privado rege relações em que apenas 
particulares são partes (ressalvemos o caso do art. 173 da Constituição Federal, no 
qual o Estado age praticando atividade econômica e é regido pelo direito privado). 
Pensando nas relações de direito público, as normas jurídicas que compõem esse 
ramo estão sujeitas ao ​princípio da autoridade pública​; no caso das relações de 
direito privado, as normas jurídicas estão sujeitas ao ​princípio da igualdade das 
partes​. Assim, se verificarmos as relações sociais regidas pelas normas, 
constatamos que o princípio da igualdade não é universal no direito. 
Afirmamos que o princípio da autoridade pública sujeita as normas de direito 
público. Isso se deve ao fato de o Estado, parte necessária nessas relações sociais, 
ser dotado de autoridade perante os particulares. Essa autoridade pode ser 
considerada um dado cultural, pois os particulares devem pressupor sua existência. 
A autoridade estatal se manifesta no poder de exigir, UNILATERALMENTE, dos 
particulares, comportamentos. O Estado pode impor normas jurídicas aos 
particulares, como as leis e os regulamentos; pode impor multas em caso de 
infrações de trânsito ou de outros gêneros; pode proibir determinados atos. Essa 
autoridade deriva da Constituição, que transfere poder público ao ente estatal e 
delimita seu exercício. Essa imposição é unilateral, pois independe da concordância 
do particular. 
No caso das relações de direito privado, prevalece o princípio da igualdade entre os 
particulares. Usando a mesma linha de raciocínio, constatamos que um particular 
não pode, sob o prisma do direito, impor UNILATERALMENTE comportamentos a 
outro particular. Daí a constatação de que, juridicamente, são iguais. 
Por mais que uma empresa multinacional seja mais rica do que um indivíduo, não 
pode obrigá­lo, juridicamente, a comprar seus produtos. Por mais que um 
empregador seja economicamente mais forte do que seu empregado, não pode 
obrigá­lo a trabalhar em seu estabelecimento para sempre. 
No direito privado, uma parte só pode impor comportamentos a outra se houver um 
fundamento contratual (BILATERALMENTE, portanto). Nesse sentido, um 
consumidor e um fornecedor que celebram um contrato de prestação de serviços 
poderão exigir comportamentos recíprocos em virtude da execução desse contrato; 
um empregador pode exercer seu poder disciplinar em relação ao empregado em 
virtude desse mesmo fundamento contratual. Nesses casos, a autoridade deriva de 
um “construído cultural” (o contrato) e não de um “dado cultural” (a Constituição). 
Cumpre ressaltar uma possível exceção: a autoridade familiar, exercida pelos pais 
em relação aos filhos. Nesse caso, embora a relação seja de direito privado pelo 
critério subjetivo, é inegável que, durante a menoridade dos filhos, os pais exercem 
autoridade sobre eles. Não se trata de um fundamento contratual, mas derivado da 
própria legislação. Porém, quando os filhos atingem a maioridade e adquirem 
independência econômica, cessa a autoridade. 
Dissemos acima que, sob o ponto de vista da relação social, o princípio da 
igualdade não é universal do direito, não se aplicando, portanto, ao direito público. 
Precisamos fazer um reparo: existe, sim, o princípio da igualdade no direito público, 
mas se trata da ​igualdade de tratamento​. 
O Estado, portador de autoridade pública, deve tratar os particulares de modo a 
consagrar a ideia de igualdade. Isso ocorre sempre que os particulares iguais entre 
si são tratados de modo igual e aqueles desiguais entre si são tratados de modo 
desigual, nos limites dessa desigualdade. Em outras palavras, o Estado deve tratar 
os iguais de modo igual e os desiguais de modo desigual (buscando equilibrar a 
relação). 
Muitas vezes a igualdade é pensada como na impossibilidade de diferenciarmos as 
pessoas. Não é isso. A igualdade de tratamento consiste justamente na 
necessidade de diferenciarmos as pessoas que são diferentes e não diferenciarmos 
aquelas que já são iguais. A diferenciação exige um critério racional, ou seja, 
justificável perante o direito e a sociedade. 
Podemos exemplificar citando uma norma jurídica que proíba idosos de participarem 
de um concurso público para a função de soldado do Exército de um país. Neste 
caso, a diferenciação entre idosos e não idosos é justificável. 
Também podemos justificar a atuação estatal no sentido de proteger determinados 
particulares em suas relações com outros particulares, criando normas de ordem 
pública em ramos  do direito privado, como é o caso do consumidor, do empregado 
e da criança que são beneficiados por normas do CDC, da CLT e do ECA. 
Não seria justificável um tratamento desigual dado a pessoas em situação de 
igualdade. Imaginemos um concurso público para contratação de docente a 
Universidade Federal que proíba as mulheres de participarem da seleção. Qual o 
fundamento para diferenciarmos, no caso, homens de mulheres? Não seria aceito 
pelo direito. 
O segundo par de princípios de que trataremos liga­se ao ​princípio da legalidade​. 
O direito público é regido pela legalidade estrita; o direito privado, pela legalidade 
ampla. 
O princípio da legalidade estrita estabelece que o Estado somente pode praticar 
atos previamente previstos na legislação. Em outras palavras, o Estado somente 
pode fazer o que é, de modo expresso, obrigatório ou permitido. Não podemos falar 
de liberdade, portanto, no direito público, pois os agentes estatais não podem agir 
de modo criativo ou inovador, fazendo aquilo que não estava previsto na legislação. 
O princípio da legalidade ampla, por seu turno, estabelece que o particular deve 
fazer tudo o que é, de modo expresso, obrigatório e não pode fazer tudo o que é, 
também de modo expresso, proibido por lei. Mas há um acréscimo fundamental: ao 
particular é permitido todo comportamento que não estiver, de modo expresso, 
proibido pela lei. Surge, portanto, apenas no direito privado a noção de liberdade, 
derivada dessa permissão geral conferida aos particulares. 
Em resumo, podemos dizer que a legalidade estrita, que rege as normas de direito 
público, afirma que só aquilo expressamente previsto em lei é permitido, e a 
legalidade ampla, que rege o  direito privado, afirma que tudo que não é 
expressamente proibido é permitido. 
A situação é tão limitante no caso do comportamento do Estado, que não apenas o 
conteúdo de seus atos deve estar previsto em lei, mas também a forma como eles 
devem ser praticados. Em virtude do princípio da legalidade estrita, os atos estatais 
tornam­se típicos (descritos pela lei) e sua prática exige o respeito a procedimentos 
específicos. 
Isso significa que o direito público sujeita os atos estatais a um devido processo, 
que especifica a forma como deve serpraticado. Uma nova lei somente pode ser 
criada pelos deputados se respeitarem os procedimentos previstos no processo 
legislativo; uma sentença judicial somente pode ser proferida se o juiz respeitar os 
procedimentos previstos nos códigos processuais; uma ato administrativo do Estado 
somente pode ser praticado se o agente respeitar o procedimento administrativo 
que o norteia. 
No caso do direito privado, a liberdade aplica­se não apenas ao conteúdo dos atos 
particulares, mas também a sua forma. Como regra, as pessoas podem celebrar 
contratos verbais ou escritos. Podem praticar atos de diversas formas, livremente 
escolhidas pelo agente. Apenas excepcionalmente há a exigência de formalidades, 
como a escrituração pública de certos atos ou a prática de medidas solenes em 
outros. 
Podemos resumir este tópico concluindo que a diferenciação entre direito público e 
privado é de vital importância, pois permite tratar casos concretos a partir dos 
princípios corretos que norteiam o funcionamento de cada um dos ramos. O direito 
público é regido pelos princípios da autoridade pública, da igualdade de tratamento, 
da legalidade estrita e do devido processo; o direito privado é regido pelos princípios 
da igualdade entre as partes e da legalidade ampla. 
Referência: 
SUNDFELD, Carlos Ari. ​Fundamentos de Direito Público.

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