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Logoterapia_02

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
LOGOTERAPIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
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CURSO DE 
LOGOTERAPIA 
 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
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MÓDULO II 
 
 
2 ANÁLISE DAS BASES CIENTÍFICAS E FILOSÓFICAS DA LOGOTERAPIA 
 
 
No fim do século XIX, o pensamento positivista tomava a personalidade 
como algo atomizado e as especulações sobre o humano eram de ordem 
matemático-científica. No campo da Psicologia, nascida nesse período, o homem 
também aparecia como objeto a ser medido e analisado e como o dono de uma vida 
psíquica reduzida a sensações ou impressões, conforme leis mecânicas. E mesmo o 
surgimento da psicanálise que, de um lado, contribuiu para um maior esclarecimento 
sobre o homem, não eliminou a visão determinista e mecanicista, na opinião de 
Frankl (XAUSA, 1988). 
Para Xausa (1988), as terapias psicológicas baseadas nessas visões, unidas 
às classificações psicopatológicas, que rotulavam os indivíduos como inferiores, 
esquizofrênicos, neuróticos etc., provocavam a alienação do homem de si mesmo. A 
psicoterapia desenvolvida seria, segundo esse raciocínio, desumana, na medida em 
que se apoiava em padrões invariáveis de ajustamento e fechava os olhos para a 
vivência existencial de cada um, perdendo de vista a pessoa humana. 
É no início do século XX que começaram a ser elaboradas tendências 
distintas, que se colocavam na contramão do pensamento filosófico-científico 
predominante até aquele momento. Aparecem propostas de uma ciência humana 
que, ao estudar o homem, não o desarticulassem e pulverizassem. Para tanto, era 
necessária uma nova concepção de homem, que respondesse ao contexto e aos 
sofrimentos desse novo século, que assistiu a duas guerras mundiais e à ameaça de 
extinção da humanidade (XAUSA, 1988). 
Diante desse homem, apareceu a necessidade de uma visão psicológica 
mais compreensiva e ampla, que respondesse, além dos problemas cotidianos, às 
questões importantes da vida humana, como as indagações sobre a própria 
existência. Essa análise existencial se fundamentaria em uma autêntica 
 
 
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compreensão do homem que lhe possibilitasse encontrar um sentido para sua vida. 
Aqui: 
 
 
(...) a logoterapia de Viktor Frankl aparece-nos como um caminho 
terapêutico para encontrar resposta à indagação de cada homem, e em 
particular do homem que vive este momento histórico, fundamentada em 
uma compreensão do homem como ser e de sua problemática neste século. 
Esta resposta não tem a finalidade de adaptá-lo somente às funções 
internas, nem responder às tensões impulsivas causadoras de conflitos 
intrapsíquicos, interpessoais ou sociais de caráter paroquial para alcançar a 
homeostase psicofísica ou bem-estar social e econômico, mas buscar a 
solução da tensão existencial da própria vida do homem (XAUSA, 1988, p. 
93). 
 
A teoria desenvolvida por Viktor Frankl desenvolveu uma nova visão de 
homem como base de uma psicoterapia e teve influências significativas do 
pensamento de existencialista e fenomenólogos do século XX. Assim, considerando 
a importância dessas influências na construção da logoterapia, a seguir serão 
apresentados em linhas gerais alguns fundamentos dessas escolas de pensamento. 
A psicanálise, dada sua influência no início dos estudos de Frankl também será 
retomada, focando-se nos aspectos aos quais Viktor Frankl se opôs. Por fim, esse 
módulo apresenta a visão antropológica desenvolvida por Frankl e que serve de 
base para sua escola de psicoterapia. 
 
 
2.1 FENOMENOLOGIA 
 
 
O termo fenomenologia foi criado no século XVIII, por J. H. Lambert, para 
designar o estudo puramente descritivo dos fenômenos, da forma como eles se 
apresentam à consciência (CHAUÍ, 1994 apud SURDI, 2008). Já como corrente 
filosófica, a fenomenologia foi fundada por Edmund Husserl, na Alemanha, entre o 
fim do século XIX e começo do XX. 
O termo é formado por duas partes, ambas de origem grega: fenômeno 
significa “aquilo que se mostra” e logia, pode ser entendida como pensamento ou 
capacidade para refletir (SURDI; KUNZ, 2009). 
 
 
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FIGURA 12 – EDMUND HUSSERL 
 
FONTE: Disponível em: <http://download.thelancet.com/images/journalimages/0140-
6736/PIIS0140673612610071.fx1.lrg.jpg>. Acesso em: 01 jul. 2013. 
 
 
Tal corrente filosófica surgiu como uma nova forma de acesso e 
conhecimento do mundo, que se opunha à visão positivista, para apenas em 
seguida se tornar um movimento dentro da filosofia, em que diferentes pensadores 
passaram a ter uma atitude própria de conhecimento e pesquisa de seus objetos de 
estudo (XAUSA, 1988). 
A proposta principal do movimento fenomenológico é a de “voltar às coisas 
mesmas”, ou seja, ir aos fenômenos. Esses seriam tudo aquilo que se mostra à 
consciência humana. E este “caminho” para os fenômenos deveria ser direto, sem a 
influência de análises reflexivas ou explicações científicas (SURDI, 2008). 
O retorno às mesmas coisas procura também abandonar a separação entre 
sujeito e objeto do conhecimento, na medida em que o objeto é sempre objeto para 
a consciência de um sujeito. É a intencionalidade da consciência humana que dá o 
direcionamento para alcançar o essencial do fenômeno, processo denominado de 
redução fenomenológica. Essa redução requer a suspensão de atitudes, crenças, 
preconceitos, teorias, de forma que se concentre apenas na experiência cotidiana, 
no mundo vivido, permitindo que o fenômeno fale por si mesmo (SURDI, 2008), para 
além de sua aparência (XAUSA, 1988). 
 
 
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Essa concepção de uma consciência intencional difere da visão anterior de 
uma consciência entendida como fenômeno psíquico manipulável por meio dos 
instrumentos quantificadores próprios das ciências da natureza (SURDI, 2008). 
Ademais, a ideia de uma consciência intencional implica que o homem 
esteja sempre em relação com um objeto e não sustentando em si mesmo, o que 
rompe com a lógica individualizante que operava antes do surgimento do movimento 
fenomenológico (SCHNEIDER, 2009). 
O interesse para a fenomenologia não é o mundo existente, mas o modo 
como o conhecimento desse mundo se dá para cada sujeito, e sua tarefa é desvelar 
o mundo vivido antes de significá-lo (SURDI, 2008). 
 
O que importa em tudo isto é o caminho aberto por Husserl. Ao colocar na 
ordem da vivência consciencial a inteira possibilidade do mundo, ele chama 
à subjetividade o papel de doadora de sentido ao mundo e à presença do 
homem no seu meio. O sentido da ciência e a própria ideia de cientificidade 
devem ser radicalmente revistos. A história do homem no mundo assume 
outra perspectiva. Competindo à subjetividade descobrir o sentido do 
mundo da vida, certamente a tarefa do pensador será conduzida na 
perspectiva da realização das condições fundamentais do homem, 
resumidas, em última instância, na possibilidade e na liberdade 
(GUIMARÃES, 1984, p. 9). 
 
Em referência às ideias de Husserl, Surdi (2008) explica que os fenômenos
têm sua essência de ser e é isso que lhes confere um sentido e significado próprios. 
Além disso, os fenômenos são captados pela consciência pela intuição, que seria 
um método de conhecimento direto e imediato da realidade. 
Nas palavras de Xausa (1988), a intuição consiste em uma forma de olhar 
que se adianta à análise racional e que ocorre sem mediação do discurso. O intuir 
não se trata de um pressuposto, mas de uma evidência imediata que se tem do 
mundo. Esse modo de conhecer correspondeu a um giro metodológico em relação 
às formas de conhecimento que dominavam até o século XIX, que eram adeptas da 
empiria e negavam o conhecimento das essências. 
 
Quando ocorre a intuição, um objeto se apresenta (por exemplo, numa 
percepção) e, segundo Husserl, a intuição, a evidência e a verdade 
coincidem. Elas consistem na visão direta do objeto e caracterizam-se pela 
presença efetiva do próprio objeto. Por outro lado, a intuição apreende não 
só objetos materiais ou coisas, mas também objetos ideais que têm uma 
existência diferente. Categorias lógicas, essências materiais (como casa, 
árvore, cor, ou sensação, sentimento) são aceitas por Husserl como objetos 
ideais que oferecem à experiência vivida de forma análoga, não idêntica, 
como as coisas sensíveis se oferecem à percepção. Nesse caso, a intuição 
 
 
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terá por objeto uma essência e será, portanto, intuição eidética (XAUSA, 
1988, p. 62) 
 
O contrário do método intuitivo é o método descritivo. Enquanto o primeiro é 
direto e busca o conhecimento imediato sobre a essência dos objetos que busca 
conhecer, o segundo é indireto e mediato, já que depende de análises para 
conhecer a realidade (SURDI, 2008). 
A consciência tem consciência de si própria, processo que Husserl (XAUSA, 
1988) chamou de percepção imanente. Já a percepção que a consciência tem das 
coisas é a consciência transcendente. 
Para citar alguns nomes dos discípulos do movimento fenomenológico, 
temos os alemães Martin Heidegger, Eugen Fink, Ludwig Landgrebe, Edith Stein, 
Max Scheler e Nicolai Hartmann, e os franceses Gabriel Marcel, Jean Paul Sartre, 
Maurice Merleau-Ponty e Paul Ricoeur (XAUSA, 1988). 
Não tardou para que essa corrente de pensamento influenciasse, além da 
filosofia, a psicologia, mantendo com ela a característica comum de descreverem a 
experiência do sujeito. No entanto, Husserl (XAUSA, 1988) estabelece uma 
diferença entre a psicologia e fenomenologia: a primeira seria uma ciência de fatos, 
em oposição à segunda, voltada para as essências. 
Ao aplicar o método fenomenológico na psicologia alcança-se a pessoa 
humana. Para isso, é preciso uma atitude aberta frente aos fatos que surgem e um 
olhar ingênuo, despido de uma imposição ideal. Dessa forma, a aplicação do método 
fenomenológico na psicoterapia é uma tentativa de compreensão do homem, antes 
de colocá-lo como objeto de estudo. E tal compreensão só é possível na relação 
interpessoal, no encontro terapêutico, em que, ao mesmo tempo, descobre-se a si 
mesmo e o outro. Prioriza-se aqui a comunicação, o entendimento direto, evitando-
se o apoio em conceitos absolutos. 
No caso da logoterapia, Frankl (1978, p. 21) afirma o uso da análise 
fenomenológica: 
 
O logoterapeuta, verdade, não obedece a considerações moralistas, apenas 
fenomenológicas. Não faz julgamento de valor, limita-se a registrar os 
valores vivenciados pelo homem comum, o qual não perde de vista a 
relação com o sentido da vida, do trabalho, do amor, e, last but not least, do 
valoroso sofrimento que resiste a tudo. 
 
 
 
 
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2.2 EXISTENCIALISMO 
 
 
 
O existencialismo centra sua reflexão na pessoa existente e considera o 
homem o único ser que é sua existência e que é capaz de se criar livremente. Além 
disso, sob essa perspectiva, o homem é visto como uma realidade inacabada e 
aberta e que se vincula intimamente ao mundo e, em especial, aos demais homens. 
E é essa relação homem-mundo que constitui o tema da filosofia existencialista. 
Xausa (1988) indica expoentes do pensamento existencialista, sendo que 
alguns também estiveram ligados ao método fenomenológico, anteriormente citado: 
Martin Heidegger, Gabriel Marcel, Karl Jaspers e Jean Paul Sartre, no campo na 
filosofia; Camus e Kafka, no campo da literatura. 
A característica em comum mais marcante entre esses autores é a 
inquietação com a ação e a consciência do problema da escolha na existência 
humana (EWALD, 2008). 
Como explica Xausa (1988), Heidegger foi a grande figura do 
existencialismo contemporâneo. Seu objetivo era, partindo de uma compreensão 
vaga do ser, poder interrogá-lo e alcançar plenamente seu sentido. Essa “análise da 
existência” se utilizava do método fenomenológico, negando a compreensão do 
homem com base em teorias. 
Outro expoente do existencialismo foi Sartre. Segundo ele, não há 
determinismo em relação à realidade humana, de forma que apenas a liberdade é 
determinante. Isso implica que o homem faça a si mesmo. Para esse pensador, a 
existência precede a essência e isso ocorre porque o homem é livre, não é 
predeterminado. Isso o diferencia dos demais animais: enquanto o homem existe, os 
outros animais apenas são (MARQUES, 1998). 
É com base nessa liberdade que Sartre afirma ser o homem livre para 
decidir o caminho a tomar e responsável por suas decisões. Na concepção 
sartreana não há algo como uma natureza humana (essência) que se sobreponha 
ao que o homem faz de si (existência). O homem primeiramente está no mundo, 
existe, e apenas depois se define (MARQUES, 1998) 
 
 
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A questão da liberdade e das escolhas humanas aparece como ponto 
fundamental. Mesmo o ato de não escolher já consiste em uma escolha. E diferente 
do conceito de livre-arbítrio, tal liberdade se liga intimamente ao conceito de 
responsabilidade: se, de um lado, o sujeito pode encaminhar sua vida, de outro, é 
responsabilizado por seus atos (MARQUES, 1998). 
Não se deve esquecer que essa liberdade anunciada por Sartre é limitada. 
Ele reconhece que o homem é condicionado pela sociedade e suas regras. No 
entanto, ele considera um ato de má-fé quando o indivíduo tenta ludibriar a si 
próprio, não assumindo a própria responsabilidade por suas escolhas, dizendo-se 
determinado (MARQUES, 1998). 
O fato de ser ateu contribuiu para Sartre levar sua noção de 
responsabilidade às ultimas consequências: não havendo um Deus, o homem é 
completamente responsável por si próprio e também pelos outros homens 
(MARQUES, 1998). 
Para os existencialistas, ao viver a realidade o homem se dá conta de sua 
finitude e da fragilidade de sua posição no mundo. Trata-se de um ser projetado em 
direção à morte e a percepção desse fato acarreta angústia: 
 
A preocupação dos escritores existencialistas manifesta o trágico sentido da 
vida em contraste com a frivolidade e a superficialidade que são um tipo de 
viver diminuído, alienado. Os hábitos existencialistas de alguns jovens 
constituíram após a Segunda Guerra Mundial um protesto grotesco contra 
os valores tradicionais da sociedade. Mas as filosofias da existência não 
reduzem tudo à existência, porque a existência deve sempre se definir em 
relação à outra coisa que não é a existência, em relação à transcendência. 
O problema da crise é, pois um ponto de encontro entre todos (XAUSA, 
1988, p. 75). 
 
 
É importante frisar que o pensamento existencialista não reduz tudo à 
existência, já que ela sempre se define em que relação à outra coisa que lhe é 
externa, que lhe transcende. Essa capacidade de transcendência é compreendida 
como um estar no mundo, fazendo dele o objeto das possíveis ações do homem.
Isso implica, para esses pensadores, que o homem tem a possibilidade de modificar 
as coisas, o que constitui um ato de liberdade (XAUSA, 1988). 
Brennan (1994 apud Teixeira, 1997) enumera algumas contribuições do 
existencialismo na psicologia: 
 
 
 
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 A primeira delas é a consideração de que o homem é um ser-no-mundo, 
com uma existência única, que reflete percepções, atitudes e valores 
também únicos. 
 Em segundo, as abordagens existenciais na psicologia consideram o 
indivíduo fruto de seu desenvolvimento pessoal, de forma que sua 
experiência psicológica individual é chave para compreender sua 
existência. 
 Em terceiro, o indivíduo visto desta perspectiva luta contra a 
despersonalização de sua existência, o que pode ocorrer pela influência 
da sociedade, levando-o à alienação e à solidão. 
 Em quarto, o indivíduo está sempre em situação, o que implica uma 
liberdade limitada pelas circunstâncias. 
 Por último, é o método fenomenológico que permite o conhecimento da 
experiência individual. 
 
Essas abordagens existenciais são do tipo compreensivas, não buscando 
relações de causa e efeito, mas entender a totalidade da existência humana. Isso é 
de extrema importância quando se consideram as psicopatologias, pois, ao invés de 
incluí-las em categorias diagnósticas, procurará contextualizá-las na totalidade da 
existência. Desse modo, as patologias são vistas como uma possibilidade humana 
universal, o que relativiza o contraste entre o que é normal ou patológico (TEIXEIRA, 
1997). 
Com base nas ideias do existencialismo, Viktor Frankl (XAUSA, 1988) 
propôs uma análise existencial, que procura, na clínica psicoterapêutica, atentar 
para o sentido único da existência de cada paciente. Para ele, a grande lição 
deixada pelo existencialismo é que o homem não participa da qualidade que faz as 
coisas serem coisas, já que estas são determinadas umas pelas outras. O homem, 
ao contrário, tem o poder de deixar ou na se determinar por suas pulsões, instintos, 
razões e significados. 
Além disso, essa análise existencial retoma a questão da finitude e 
temporalidade, descritas na reflexão existencialista e que, em Frankl, aparecem 
como elementos constitutivos do sentido da própria vida humana. É por esse 
caminho que ele aponta a importância da existência, considerando-a como algo 
 
 
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único e irrepetível, e repleta de possibilidades igualmente únicas e irrepetíveis 
(XAUSA, 1988). 
A análise existencial tem ainda a característica de estar com o paciente, com 
amizade, interesse e entrega. Uma compreensão com amor desenvolvida em uma 
relação comunal (RODRIGUES, 1991). 
Essa análise não parte de modo algum da ideia de uma 
compartimentalização do homem ou de uma fixação apenas na dimensão espiritual 
humana, desconsiderando as demais dimensões. Isso incorreria no erro que tenta 
eliminar, ou seja, haveria um estreitamento conceitual do humano (RODRIGUES, 
1991). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2.3 PSICANÁLISE 
 
 
Rodrigues (1991) se refere ao período pré-freudiano como o de uma 
psicologia “sem alma”. Isso porque naquele momento, o entendimento do homem 
era buscado por meio de medições e testes, orientados por uma lógica científica e 
racional, mas que não se comunicava diretamente com o humano. Esse modo de 
olhar o homem tem um giro nos estudos Freud: o homem passa a ser o centro de 
comunicação, ser de paixões, virtudes e defeitos. 
Enquanto sistema psicológico, a psicanálise é, antes de tudo, uma teoria do 
domínio da ciência, mas alguns pensadores a entendem também como uma 
concepção de vida de uma filosofia do homem. Isso porque a psicanálise vai além 
de propor métodos de tratamento para o sofrimento psíquico e constrói um sistema 
de psicologia geral do homem (NUTTIM, 1979 apud XAUSA, 1988). 
Viktor Frankl foi um estudioso de Freud, tendo mantido contato com ele por 
correspondência. Mas apesar de reconhecer a contribuição indubitável desse teórico 
para a psicoterapia, as leituras detalhadas da obra freudiana levaram Frankl a 
diversos questionamentos e um posterior afastamento. Suas críticas são duras, 
chegando a dizer que o pai da psicanálise compreendeu sua descoberta sobre o 
psiquismo da mesma forma que Colombo que descobriu a América, julgando ter 
chegado às Índias (FRANKL, 2003b). 
Segundo Frankl (2003b), Sigmund Freud aponta como o trabalho principal 
da psicanálise tornar consciente e do domínio do Ego aquilo que foi reprimido e está 
inconsciente. Segundo essa visão, o sintoma neurótico aparece como uma ameaça 
ao poder do Ego e seria a conscientização, por meio da terapia psicanalítica, que o 
fortaleceria. 
Encontra-se justamente aí uma das críticas de Frankl (2003b) em torno da 
psicanálise freudiana. Na opinião do logoterapeuta, a psicanálise restringe seu 
campo de visão à conscienticidade do homem. Ele não nega que o ser consciente é 
um dos aspectos fundamentais do humano, mas ao lado dele deve ser considerado 
 
 
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o ser-responsável. Só com os dois aspectos tomados em conjunto – o ser-
consciente e o ser-responsável – que se delineia um verdadeiro retrato do homem. 
Frankl (Kroeff, 2011) ainda afirma que a psicanálise, na medida em que se 
volta para os problemas relacionados aos embates entre as instâncias psíquicas e 
aos elementos anteriormente reprimidos pelo paciente, possui um caráter mais 
introspectivo e retrospectivo, ou seja, centrado no interior do sujeito e nos elementos 
por ele reprimidos no passado. Já a logoterapia, diz ele, por ter como foco um 
sentido a ser realizado, tende a ser mais prospectiva e mais voltada para o exterior, 
ou seja, focada na dimensão futura e voltando-se para o encontro com o mundo e 
com outros seres. 
Como aponta Xausa (1988), dentre as outras críticas que a logoterapia tece 
a respeito dos pressupostos freudianos, temos: 
 
1. Seu reducionismo biopsicológico, que se foca nos fenômenos 
psíquicos e seu funcionamento; 
2. Seu niilismo, ao colocar o homem como resultado de suas 
determinações psíquicas, negando sua liberdade de escolha; 
3. Seu entendimento do psíquico, partindo de uma concepção mecânica; 
4. Sua interpretação que resume a conduta humana à busca do prazer; 
5. Sua consideração de valores como derivações e sublimações de 
necessidades impulsivas; 
6. Sua concepção de que um princípio de homeostase rege a vida 
psíquica. 
 
Quanto ao primeiro ponto – o psicologismo – Frankl (1990) aponta que ao se 
considerar apenas a dimensão psicológica do homem, ignora-se sua dimensão 
espiritual (ou noética). Esta dimensão essencialmente humana seria a responsável 
pela vivência da liberdade e da responsabilidade, ligando-se às questões 
existenciais. Uma terapia que negligenciasse essa dimensão incorreria no risco de 
entender e tratar dificuldades existenciais como se fossem patologias, e não como 
algo genuinamente humano. 
Sobre o niilismo, segundo ponto das críticas, Frankl (1989) afirma que toda 
forma de reducionismo é um niilismo, pois perde de vista a intencionalidade humana. 
 
 
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Um exemplo é a crença de que a infância determina todo o curso ulterior da vida. 
Para a logoterapia, tais experiências não são tão decisivas, contando muito mais os 
posicionamentos e escolhas que o homem faz. Isso, claro, considerando que o 
homem é um ser determinado pelas condições biológicas, psicológicas e sociais, ou 
seja, possui uma liberdade limitada. Mas dentro do quadro de suas
limitações, ele 
ainda pode tomar posições. 
Em relação ao terceiro ponto – a concepção mecânica da psicanálise – 
Frankl (1990) faz críticas a todos os sistemas de psicoterapia e às formas de 
Medicina que se prestam a ver a psique como um aparato ou mecanismo passível 
de ser consertado. Ao contrário, ele defende uma humanização desse tratamento, 
que veja o homem sob a doença. 
No que se refere ao quarto ponto, Frankl (1978) afirma que o homem, muito 
mais que motivado pela busca de prazer, se impulsiva pela busca de sentido, o que 
ele chamou de vontade de sentido. O prazer, segundo essa visão, seria apenas um 
produto secundário da realização de sentido e quando trazido para o primeiro plano 
das reflexões e intenções do homem – hiper-reflexão e hiperintencionalidade – se 
esquiva. 
Sobre o quinto ponto, Frankl (1990) conta o caso de um casal jovem, recém-
chegado da África, onde haviam servido nas forças de paz. Ambos voltaram 
desanimados de sua missão, pois, ao longo de um mês, precisaram frequentar 
reuniões em grupo, arranjadas por um psicólogo. Este, desde o início, passou a 
questionar a real intenção do casal em servir a população, concluindo que seus 
motivos eram, na verdade, provar sua superioridade em relação àqueles que 
ajudavam. Nesse caso, os valores não foram reconhecidos e tomados em sua 
autenticidade ao serem interpretados como simples complexos, retirando deles toda 
sua humanidade. 
Por fim, em relação ao último ponto, Frankl (2003b) rejeita a ideia de que o 
psiquismo humano funciona de forma a atingir um estado de equilíbrio ou, utilizando-
se o termo da biologia, de homeostase. Na verdade, um estado de tensão seria 
indispensável para a saúde mental. A isso ele chamou de noodinâmica, que 
consistiria numa dinâmica existencial em um campo polarizado de tensão, em que 
um dos polos está representado por aquilo que se alcançou e o outro polo, pelos 
potenciais a serem realizados. 
 
 
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2.4 FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS 
 
 
Partindo de uma visão antropológica de um homem total, composto por 
diferentes dimensões, Frankl (1978) tece uma crítica ao “ismos” que, a seu ver, são 
formas de niilismo que reduzem a existência humana: o fisiologismo, o psicologismo 
e o sociologismo. 
O autor se utiliza da expressão “formas de niilismo”, porque, a seu ver, cada 
uma dessas visões reducionistas acabaria por negar a existência de um sentido da 
existência humana. 
 
O reducionismo é de qualquer forma o niilismo de hoje. Ele retira do homem 
nada mais nada menos que toda uma dimensão, a saber, a dimensão 
humana. Ele projeta o especificamente humano para fora do espaço 
humano, no nível subumano. Numa palavra, o reducionismo é um sub-
humanismo, se assim posso me expressar (FRANKL, 1990, p. 117) 
 
 
No fisiologismo, a redução se volta para a realidade física; no psicologismo, 
para a realidade psíquica; no sociologismo, para a realidade sociológica. Seja qual 
for a modalidade de niilismo, a existência é reduzida é mero efeito de fatores físicos, 
psíquicos ou sociais. Ocorre que ao evidenciar apenas os efeitos, perdem-se de 
vista as intenções, o que, para Frankl (1978), faz com que não se possa mais ver 
qualquer sentido na existência. 
O fisiologismo, o psicologismo e o sociologismo não devem ser confundidos 
com a fisiologia, a psicologia e a sociologia, respectivamente. O “ismo”, segundo 
Frankl (1978), apareceria a partir do momento que cada uma dessas visões de 
mundo se ampliasse a ponto de se considerar a única válida. 
Além disso, Frankl (1978) aponta que ao se considerarem apenas as 
camadas fisiológicas, psicológicas e sociais, negligencia-se a dimensão espiritual 
(noética) – e é justamente nessa camada esquecida que seria possível aparecer 
algo como a intencionalidade. 
No caso do psicologismo, Frankl (1978) aponta que frequentemente a 
psicoterapia, ao ignorar a dimensão noética do homem, acaba por tratar dificuldades 
 
 
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existenciais como patologias. Apesar da sintomatologia entre ambas, ser 
semelhante – por exemplo, insônia, sudorese e tremores – não se deve confundir 
aquilo que faz parte da dimensão noética, espiritual e, portanto, essencialmente 
humana, daquilo que é pertence ao psíquico e à patologia. 
Ao não considerar devidamente uma problemática espiritual, uma 
psicoterapia pode classificá-la como patológica. Apesar de Viktor Frankl ter 
denominado esses casos de neurose noogênica, elas não são necessariamente 
patológicas ou patogênicas. Ligam-se aos conflitos morais e aos problemas de 
ordem existencial e são abordáveis apenas por uma terapia não psicologista, ou 
seja, que se negue a reduzir os dilemas existenciais a enfermidades psíquicas e 
calá-los com medicamentos. 
Nesse contexto, Frankl (1990) faz duras críticas a uma medicina que se 
preste apenas a ver complexos em seus pacientes, colocando-se como missão 
“consertar” um mecanismo deficiente. Esse médico, ao se colocar diante de um 
“homem-máquina” torna-se incapaz de ver o homem que padece sob a doença. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
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FIM DO MÓDULO II

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