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Resenha Norma Culta Brasileira desatando alguns nós – Carlos Alberto Faraco - Capítulo 3: A questão gramatical e o ensino de português.

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Resenha: Norma Culta Brasileira: desatando alguns nós – Carlos Alberto Faraco
- Capítulo 3: A questão gramatical e o ensino de português. 
 O terceiro capítulo do livro discorre sobre a gramática e o ensino de português, o autor diz que a gramática é o grande bicho-papão de todo aprendiz da língua e que desde os primeiros anos da escola os estudantes são aterrorizados por conjuntos de regras de correção e intocáveis fenômenos de língua, que não fazem sentido para a maioria dos falantes do português no Brasil. O autor afirma que desta forma carregamos dúvidas cruéis sobre o que é certo e errado, e após nos tornamos professores de português temos que lidar com o dilema de ensinar ou não gramática, além de enfrentar a frustação de se esforçar, mas os alunos não aprenderem o conteúdo. 
 O estudo gramatical é bastante antigo. Babilônios, hindus e chineses já se dedicavam a esse estudo desde os primórdios. A gramática, do modo que é conhecida hoje foi criação da cultura greco-romana. Seu nascimento está atrelado ao ensino de línguas que envolvia a habilidade de debater, de falar em público e a de escrever. Assim nasce a retórica. Entre os estudos da retórica estavam à questão de estilo e as figuras de linguagem. Todos com o propósito de estudo gramatical associado à exploração dos recursos expressivos visando conquistar a adesão do auditório.
 O estudo gramatical deveria então subsidiar o desenvolvimento dessas habilidades, tornando se uma matéria que não esgotava em si mesmo, os gregos não estudavam a gramática por sim só, mas sim a fim de refletir sobre a estrutura da língua, os padrões sociais de correção e os recursos teóricos visando melhor manejar a fala e a escrita.
 A partir da filosofia grega foram surgindo novas modalidades de estudo, como a análise das estruturas sintáticas, das classes de palavras e dos diferentes elementos lexicais. Mais próximo da era cristã, surgiu em Alexandria, através da literatura, a filologia e a gramática. Dionísio de Trácio, um alexandrino, foi autor da primeira gramática, nela ele consolidava descrições dos aspectos da íngua grega.
 Neste tempo o objeto da gramática era a língua literária, o objetivo do gramatico era, portanto, descrever a língua e estabelecer um modelo que deveria ser seguido por todos. Por conta disso ainda persiste até os dias atuais o estudo normativo da língua. 
 Se transportando para o período clássico em Roma nota-se que os romanos incorporam a cultura da Grécia quanto ao estudo gramatical, e ainda agregaram o ideal de “pessoa culta”, alguém que falava e escrevia bem, imitando a língua dos autores clássicos. 
 No fim, sabe que os gregos e romanos produziram um saber sobre a linguagem que muito nos é importante. Eles constituíram um vocabulário para falar sobre a língua (metalinguagem); formularam grandes perguntas sobre a linguagem humana, muitas das quais penduram até hoje; e sistematizaram direções para o estudo da língua. 
 Com o fim do império romano e a chegada do período medieval, os espaços do uso da fala e escrita diminuíram, ocorrendo somente nos mosteiros. E com a mudança da língua, através do contato com outras línguas, o latim foi se tornando artificial, seus falantes nativos foram se acabando. Para aprender o latim era necessário então primeiro aprender sua gramática e somente depois seu uso prático. Nascem desta forma, dois vicios pedagógicos que permanecem até os tempos atuais: o normativismo, que considera relevante somente a norma culta e condena como erro tudo aquilo que não está permitido nos manuais. (É a valorização da norma standard). E a gramatiquice, que é o estudo da gramática em si e para si. E aí se dá um problema aos professores de língua: Como nos livrarmos do normativismo e da gramatiquice e oferecer aos nossos alunos condições para que se familiarizem com as práticas sociais de linguagem, orais e escritas que sejam de fato relevantes para sua inserção sociocultural?
 Esse tipo de ensino chega ao Brasil e se consolida através dos jesuítas. Como resultado dessa consolidação esses dois modelos entranharam em nossos modos de conceber a língua. É comum encontrar pessoas que dizem que ninguém fala bem o português no Brasil, preocupadas em difundir a normal culta. Outra problemática apontada pelo autor é que ainda que a língua evolua, a gramática escolar não consegue registrar essa mudança, nos prendendo a um anocronismo. Em consequência, a escola continua ensinando um estado de língua que não existe mais há 700 anos, sem se dar conta da língua real. 
 Depois da independência política no Brasil, iniciou-se no Brasil um debate quanto à língua. Não se falava o português de Portugal, e mesmo aqui dentro o português se diferia do português “vulgo”. Alguns conservadores da elite letrada defendiam uma só língua lusitana, a que os português nos davam. Eles tinham por objetivo criar uma nação branca e europeizada, se distanciando e diferenciando daquilo que consideravam vulgar. Com essa lusitanização a nossa referência linguística se tornou mais artificial e a discrepância entre o que falamos e acreditamos que devemos escrever aumenta. 
 Já em 1920, os poetas modernistas começam a criticar essa ideologia linguística em seus poemas. E a partir da década de 1980 inicia-se um movimento intenso de estudos e críticas ao ensino normativo e gramatical, mas ambos não são apenas concepções ligadas à língua; são parte intrínseca de nossa sociedade, que é marcada pela divisão social. 
 Percebemos então que desde o século XIX está difundida uma cultura de erro na língua, cultura essa que não apresenta nenhuma crítica a norma culta, que por sua vez não é aquilo que se fala nas ruas. 
 Faraco mostra que o ensino ideal, deve ser equilibrado entre a norma-padrão e as descrições da normal culta. Que é necessário desenvolver uma “compreensão desapaixonada da diversidade do português” falado. Segundo o autor, temos hoje plenas condições de redirecionar nossas relações com os modelos cultos combinando aquilo que chamamos de norma clássica com o que definitivamente se fala no Brasil, norma moderna. Não se é contra o ensino de gramática, mas ele deve ser inserido de forma contextualizada e entendida de que a língua é mutável e que a norma culta é também mais uma variedade linguística.
 Todavia, a reflexão sobre a língua vai além. É preciso compreender sua realidade sociocultural e histórica; entende-la como um conjunto múltiplo de variedades geográficas, sociais, estilísticas, etc. Isso implica entender a relação da língua com os grupos sociais que a utilizam e também superar os preconceitos linguísticos. 
 Assim, nós como educadores devemos criar uma pedagogia para o ensino dessa norma e auxiliar os educandos a entenderem que esta norma culta é uma entre muitas variedades, e que admite inúmeras formas alternativas. “Tendo isso claro os falantes poderão pensar e praticar a gramática culta como uma gramática entre outras e bastante flexível, o que lhes permitirá ser parte ativa do funcionamento da língua e não sua vitima.”
Referência bibliográfica: 
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta, norma-padrão e norma gramatical. Norma Culta Brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008, p. 71-86

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