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MÉTODOS QUALITATIVOS DE PESQUISA: UMA TENTATIVA DE 
DESMISTIFICAR A SUA COMPREENSÃO 
 
 
 
Profa. Dra. Silvia Cristina Mangini Bocchi 
Profa. Dra. Carmen Maria Casquel Monti Juliani 
Profa. Dra. Wilza Carla Spiri 
 
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM – FACULDADE DE MEDICINA - UNESP 
 
BOTUCATU 2008 
“Manual de estudos para 
alunos de pós-graduação, 
pretende ser um guia 
orientador em alguns dos 
métodos de pesquisa 
qualitativa” 
 
As autoras
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
1/32 
SUMÁRIO/MENU 
 
1- INTRODUÇÃO .....................................................................................................02 
2 - ABORDAGENS 
2.1 Pesquisa-ação ........................................................................................04 
2.2 Fenomenologia .......................................................................................07 
2.3 Etnografia ...............................................................................................10 
2.4 Grounded Theory ...................................................................................13 
2.5 Materialismo Histórico Dialético ...........................................................15 
 
3 – AMOSTRA INTENCIONAL NA PESQUISA QUALITATIVA 
3.1 – Como conseguir os sujeitos participantes da pesquisa? ....................20 
3.2 – Quando eu sei que houve a saturação? .................................................20 
3.3 – Quando eu integro as categorias e encontro temas? ...........................21 
3.4 – Como integrar dados provindos de várias técnicas de coleta? ...........21 
 
4 – ESTRATÉGIAS PARA COLETA DE DADOS 
4.1 - Observação participante ..........................................................................22 
4.2 – Notas de campo ........................................................................................22 
4.3 – Entrevista ..................................................................................................22 
4.3.1 – Entrevista não estruturada interativa ..........................................22 
4.3.2 – Entrevista semi-estruturada .........................................................22 
4.4- Grupo focal .................................................................................................23 
 
5 – ANÁLISE DE CONTEÚDO ................................................................................26 
 
6 – RIGOR NA QUALIDADE DA INVESTIGAÇÃO .................................................29 
 
7 – ETAPAS QUE UM PROJETO DE PESQUISA DEVERÁ ABORDAR ...............30 
 
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................31 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
1 – INTRODUÇÃO 
 
 Este texto foi escrito com a finalidade de desmistificar a pesquisa qualitativa, 
como um caminho de se construir um corpo de conhecimento na área, bem como, 
as suas principais abordagens. Contudo, nessa aproximação, não temos a intenção 
de nos aprofundarmos em uma ou outra abordagem, tampouco esgotar o assunto, 
mas apresentarmos algumas possibilidades para que os alunos possam escolher 
uma modalidade de acordo apropriada à pergunta elaborada em seus projetos de 
pesquisa. Assim, pretendemos oferecer uma visão geral das possibilidades e opções 
metodológicas para o desenvolvimento da pesquisa. 
Existem, atualmente, duas linhas complementares de pesquisa, os métodos 
quantitativos e os qualitativos, possibilitando ao pesquisador uma escolha daquele 
que dê melhores respostas ao seu problema (FIELD, MORSE, 1985). 
TURATO (2005) explicita estas diferenças em um quadro sintético: 
 
 
2/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
Não devemos alimentar discussões quando os participantes justificam a 
escolha do método quantitativo ou qualitativo, fundamentada em preferências 
pessoais, bem como, apontando as deficiências entre um e outro (FIELD, MORSE, 
1985). 
As origens desses tipos de atitudes, consideradas como inadequadas entre 
pesquisadores não estão inteiramente claras e, portanto se acredita existir relações 
com as percepções de pesquisadores quantitativos, que por não entenderem a 
perspectiva epistemológica desta abordagem, acabam acusando o pesquisador 
qualitativo como burlador de regras da metodologia científica. A outra causa pode 
estar relacionada às próprias frustrações de pesquisadores qualitativos, que ao 
tentarem conseguir aprovações de seus projetos em comitês que utilizam critérios 
quantitativos para avaliações, acabam se revoltando com tais atitudes e, portanto 
direcionando suas críticas (FIELD, MORSE, 1985). 
Se nós nos perdermos nessas discussões, poderemos nos enfraquecer enquanto 
profissionais responsáveis pela construção do conhecimento. 
Não devemos nos esquecer que na área da Saúde o propósito da pesquisa 
quantitativa e qualitativa é o mesmo: construir o conhecimento, por meio de métodos 
que se complementam. 
 
[Voltar ao menu] 
3/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
2 – ABORDAGENS: COMO ESCOLHER A QUE MELHOR ATENDA AO NOSSO 
QUESTIONAMENTO? 
É importante ter em mente que o ideal é que o problema e a questão a ser 
investigada é que deve nortear a escolha do método científico a ser utilizado. 
Também os dados do contexto estudado devem ser considerados. Apenas para citar 
um exemplo, em situações onde existem deficiências dos sistemas de informação, 
muitas vezes os dados não se apresentam confiáveis para contemplar estudos 
quantitativos, fazendo-se necessário delinear um estudo qualitativo. 
Visto isso, é preciso fazer uma aproximação dos métodos para saber qual a 
melhor escolha para aquilo que se pretende estudar, pesquisar. Assim, esse manual 
de orientação permitirá uma aproximação de algumas modalidades de pesquisa 
qualitativa, no entanto, após esse primeiro reconhecimento, recomendamos um 
aprofundamento naquela escolhida. 
 
2. 1 – Pesquisa-Ação 
A pesquisa-ação, tradicionalmente utilizada na área da educação, pode ser 
uma interessante modalidade de escolha para projetos que, além do caráter de 
pesquisa, envolvem também intervenção em uma determinada realidade, com 
abertura a construção coletiva dos diversos atores envolvidos no contexto e podem 
variar em graus distintos de participação, dada a fatores relacionados ao contexto, 
ao tempo de execução do projeto, ao número de sujeitos/instituições envolvidos. 
De acordo com Loureiro (2007) na pesquisa-ação a transformação prática da 
realidade é o problema central, de modo que, as incertezas e certezas, o conflito e o 
consenso, a organização e o caótico, dentre outros, não são erros, defeitos ou 
exercício lógico-abstrato, mas a própria existência em movimento. 
Reis (2007) aponta a denominação de pesquisa-ação-participativa por 
considerá-la mais adequada à produção de conhecimentos no campo das ciências 
humanas e sociais que dá ênfase à ação e a participação. A mesma autora apoiada 
nas idéias de Brandão, neste tipo de pesquisa existe a superação dos “pesquisados” 
como “objeto” de estudo, mas o entendimento é que “pesquisadores” e 
“pesquisados” são sujeitos, aliados e parceiros, no processo de produção de 
conhecimentos sobre a realidade social. 
Demo (apud Reis, 2007) reconhece a pesquisa-ação como uma modalidade 
de pesquisa que coloca que coloca a ciência a serviço da emancipação social, com 
4/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
duplo desafio, o de pesquisar e participar, o de investigar e educar, de modo a 
articular a teoria e a prática. 
Participação, transformação e ação educativa são, portanto, componentes da 
pesquisa=ação. Assim, responde à necessidade de superar um modelo de ciência 
fundamentado na separação entre o saber científico e o saber popular, entre a teoria 
e a prática, entreo conhecer e o agir, entre a neutralidade e a intencionalidade, 
Essas reflexões, embora voltadas ao contexto da educação ambiental, podem 
ser extrapoladas e aplicadas ao contexto do trabalho, do trabalho em saúde e, na 
saúde do trabalhador, permite aproximações da realidade de forma crítica e 
consciente que favoreça a transformação da realidade. 
É importante que se reconheça a pesquisa-ação como um dos inúmeros tipos de 
investigação-ação, que é um termo genérico para qualquer processo que siga um 
ciclo no qual se aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da 
prática e investigar a respeito dela. Planeja-se, implementa-se, descreve-se e avalia-
se uma mudança para a melhora de sua prática, aprendendo mais, no correr do 
processo, tanto a respeito da prática quanto da própria investigação. (Tripp, 2005). 
 
 
Fonte: Tripp, 2005. 
 
O mesmo autor classifica a pesquisa-ação em 5 modalidades: 
5/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
1 - Pesquisa-ação técnica 
A pesquisa-ação técnica constitui uma abordagem pontual na qual o 
pesquisador toma uma prática existente de algum outro lugar e a 
implementa em sua própria esfera de prática para realizar uma 
melhora. 
2 - Pesquisa-ação prática 
Nesse caso, as duas características distintivas são: primeiro, é mais 
como a prática de um ofício - o artífice pode receber uma ordem, 
mas o modo como alcança o resultado desejado fica mais por sua 
conta de sua experiência e de suas idéias -; e segundo, porque as 
decisões que ele toma sobre o quê, como e quando fazer, são 
informadas pelas concepções profissionais que tem sobre o que será 
melhor para seu grupo. 
3 - Pesquisa-ação política 
A terceira pergunta (c) refere-se à mudança da cultura institucional 
e/ou de suas limitações. Quando se começa tentar mudar ou 
analisar as limitações dessa cultura sobre a ação, é preciso engajar-
se na política, porque isso significa trabalhar com ou contra outros 
para mudar "o sistema". Só se pode fazer isso pelo exercício do 
poder e, assim, tal ação torna-se política. 
4. Pesquisa-ação socialmente crítica 
A pesquisa-ação socialmente crítica passa a existir quando se 
acredita que o modo de ver e agir "dominante" do sistema, dado 
como certo relativamente a tais coisas, é realmente injusto de várias 
maneiras e precisa ser mudado. 
5. Pesquisa-ação emancipatória 
Assim também a pesquisa-ação emancipatória é uma modalidade 
política que opera numa escala mais ampla e constitui assim, 
necessariamente, um esforço participativo e colaborativo, o que é 
socialmente crítico pela própria natureza. Não é preciso dizer que a 
pesquisa-ação emancipatória ocorre muito raramente. 
 
Apresentamos a seguir um modelo de relatório de pesquisa-ação segundo Tripp 
(2005): 
O relatório da pesquisa-ação 
O que se segue é um esquema de um típico relatório de estudo de caso de 
pesquisa-ação, o qual pode ser utilizado para qualquer projeto e também é 
adequado para dissertações. 
1 - Introdução: intenções do pesquisador e benefícios 
previstos 
2 - Reconhecimento (investigação de trabalho de campo e 
revisão da literatura) 
2.1 - da situação 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
2.2 - dos participantes (o próprio e outros) 
2.3 - das práticas profissionais atuais 
2.4 - da intencionalidade e do foco temático inicial 
3 - Cada ciclo 
3.1 - Planejamento: da preocupação temática (ou ciclo 
anterior) ao primeiro passo de ação 
3.2 - Implementação: relato discursivo sobre quem fez o quê, 
quando, onde, como e por quê. 
3.3 - Relatório de pesquisa sobre os resultados da melhora 
planejada: 
3.3a - resumo e base racional do(s) método(s) de produção 
de dados 
3.3b - apresentação e análise dos dados 
3.3c - discussão dos resultados: explicações e implicações 
3.4 - Avaliação 
3.4a - da mudança na prática: o que funcionou ou não 
funcionou e por quê 
3.4b - da pesquisa: em que medida foi útil e adequada 
4 - Conclusão: 
4.1 - Sumário de quais foram as melhorias práticas 
alcançadas, suas implicações e recomendações para a 
prática profissional do próprio pesquisador e de outros 
4.2 - Sumário do que foi aprendido a respeito do processo de 
pesquisa-ação, suas implicações e recomendações para fazer 
o mesmo tipo de trabalho no futuro. 
 
 
2. 2 - Fenomenologia 
Etimologicamente fenomenologia é o estudo ou ciência do fenômeno, sendo 
que por fenômeno, em seu sentido mais genérico, entende-se tudo o que aparece, 
que se manifesta ou se revela por si mesmo. 
Os tipos de questões respondidos pela fenomenologia são aqueles 
designados a extrair a essência das experiências. Querem compreender as 
percepções dos sujeitos e, sobretudo, ressaltam o significado que os fenômenos têm 
para as pessoas. 
Essência é “aquilo que constitui a natureza das coisas; substância. A 
existência. Idéia principal. Significação especial; espírito. O que constitui o cerne de 
um ser; natureza” (FERREIRA, 1995). Referem-se portanto, ao sentido ideal ou 
verdadeiro de alguma coisa, dando um entendimento comum ao fenômeno sob 
investigação. (MOREIRA, 2002) 
A fenomenologia busca compreender o ser humano, utilizando-se de 
formulações de problemas como: 
7/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
- Quais são as causas, segundo a percepção dos alunos repetentes, dos 
pais e dos professores, do fracasso escolar e o significado que este 
tem para a vida dos estudantes que fracassam, segundo estes 
mesmos, os pais e os educadores das escolas de primeiro grau da 
cidade de Porto Alegre –RS? 
- Qual a percepção de jovens gestantes sobre as conversas em famílias 
sobre a sexualidade e a gravidez na adolescência? 
- Como é estar morrendo? 
- O que significa ser hipertenso? 
A fenomenologia tem como objetivo precípuo a investigação direta e a 
descrição de fenômenos que são experienciados conscientemente, sem teorias para 
sua explicação causal, e tão livre quanto possível de pressupostos e de 
preconceitos. 
A fenomenologia não é somente um método, mas um referencial filosófico. As 
suas origens são atribuídas a Edmund Husserl. Os filósofos existencialistas, 
Heidegger, Schutz, Sartre, Merleau-Ponty, Ricoueur, dentre outros, têm conferido a 
fundamentação teórica∗ para o método fenomenológico, quando o projeto de 
pesquisa visa coletar informações sobre a experiência de vida, situação 
experienciada pelos sujeitos como por exemplo, os comportamentos humanos e os 
significados. 
 
Exercício 1 
Leia os resumos abaixo, tentando encontrar em cada um deles, as principais 
características de um estudo fenomenológico. 
 
A - BERNICÁ C R S, GOMES W B. Relatos de mães sobre transformações 
familiares em três gerações. Estudo de Psicologia. v. 3, n. 2, p. 177-205, 
1998. 
 
Examinou-se um conjunto de descrições e entendimentos de mudanças em idéias e 
comportamentos familiares através de três gerações. As informantes foram doze 
 
∗ Fundamentação teórica, também, denominada como referencial teórico ou até revisão da literatura significa o 
conjunto de conhecimentos que irão nortear o pesquisador durante a análise e interpretação dos dados. Pode ser 
uma teoria ou uma revisão bibliográfica bem executada. 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
mães provenientes de quatro diferentes famílias, seguindo a linearidade geracional 
de avó, mãe e neta. Todas elas residiam na região de Passo Fundo - RS. Utilizando-
se uma análise qualitativa baseada na teoria fenomenológica, interpretaram-se as 
continuidades e descontinuidades de comportamentos e idéias em duas 
perspectivas: 1) redimensionamento no poder do pai e da mãe e na coesão familiar; 
e 2) transformação da identidade coletiva em identidade individual, com a ampliaçãodo espaço para a realização pessoal. Continuidades mostraram-se associadas a 
princípios ideais como a ética familiar. Em contraste, descontinuidades aconteceram 
de acordo com pressões contextuais nos aspectos práticos da vida familiar. 
Palavras-chave: Padrões-transgeracionais, relações-intergeracionais, fenomenologia. 
 
B - DIAS A C G, GOMES W B. Conversas, em família, sobre sexualidade e gravidez 
na adolescência: percepção das jovens gestantes. Psicol. Reflex. Crit., v. 13, 
n. 1, 2000. 
 
Apresenta-se uma análise fenomenológica da ambigüidade na tomada de decisão 
em comportamento sexual de meninas adolescentes que vieram a engravidar. A 
análise foi contextualizada nas relações informativas e comunicativas entre filhas e 
pais sobre temas de sexualidade e cuidados contraceptivos. As considerações 
analíticas foram baseadas em entrevistas com onze adolescentes gestantes e uma 
jovem mãe, todos de nível sócio-econômico médio baixo, com idade entre 12 e 19 
anos. A informação sobre prevenção foi percebida, pelas jovens, como parcial e 
incompleta e a comunicação mostrou-se prejudicada por falta de confiança no 
interlocutor preferencial (no caso, a mãe). A rede de apoio, constituída por tias e 
amigas, mostrou-se falha em apresentar esclarecimentos ou reduzir incertezas. 
Além de despreparados, os interlocutores apresentaram dificuldades associadas à 
falta de informação e a não aceitação da sexualidade adolescente. A interpretação 
destacou três aspectos relacionados com a gravidez na adolescência: 1) reafirmou a 
liberdade e iniciativa da mulher em relação à sua sexualidade; 2) confirmou a 
ausência da discussão franca e informada sobre sexualidade; e, 3) mostrou a 
substituição do mito do amor romântico pela expectativa clara do sexo prazeroso. 
Palavras-chave: Gravidez; adolescência; fenomenologia; comunicação; sexualidade. 
9/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
C - HILL E, GAUER G, GOMES W B. Uma análise semiótico-fenomenológica das 
mensagens auto-reflexivas de filhos adultos de alcoolistas. Psicol. Reflex. 
Crit. V. 11, n. 1, 1998. 
O propósito deste estudo é interpretar as mensagens auto-reflexivas de filhos 
adultos de alcoolistas (FAA) por meio de uma análise semiótico-fenomenológica. O 
ser humano tem múltiplas percepções a respeito da miríade de fenômenos que 
ocorrem em relacionamentos consigo mesmo e com os outros. Confere-se a 
validade de tais percepções deslocando-se de um nível de percepção para outro, 
podendo então contemplar a percepção anterior. Em outras palavras, é preciso sair 
da floresta para poder observar as árvores. Continuando a metáfora, o FAA encontra 
dificuldade em sair da floresta. Para este estudo foram entrevistados seis FAAs. O 
procedimento de análise dos dados inicia com (1) a leitura da descrição das reações 
dos participantes da pesquisa a um excerto da biografia de um outro FAA, seguindo-
se (2) a descoberta das mensagens auto-reflexivas dos participantes e (3) a 
interpretação de perspectivas diretas, metaperspectivas e meta-metaperspectivas 
das mensagens auto-reflexivas. Os resultados da análise corroboram o trabalho de 
psicólogos clínicos que têm identificado o mundo-vivido do FAA como um sistema 
fechado. De um ponto de vista pragmático, os resultados sugerem que as 
mensagens auto-reflexivas podem ser a chave que fecha e abre o sistema 
interacional defeituoso do FAA. 
Palavras-chave: Alcoolismo; relações familiares, comunicação; fenomenologia. 
 
 
2.3 – Etnografia 
 A escolha deste referencial metodológico de análise deve ser feita por 
aqueles projetos de pesquisas que o problema demanda a descrição de valores, 
crenças e as práticas de grupo cultural. A etnografia descreve um grupo cultural ou 
um fenômeno associado com tal grupo, portanto, considerado um tipo de estudo 
qualitativo descritivo que utiliza abordagens teóricas etnográficas. 
 As questões formuladas que demandam esse tipo de abordagem são 
colocadas da seguinte maneira: 
- Quais são as crenças de saúde da comunidade ribeirinha ao Rio Parnaíba? 
10/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
- Como é a experiência de se enfrentar a maternidade adolescente em um 
contexto cultural que interferem nas relações de maternagem? 
 
Exercício 2 
Leia os resumos abaixo, identificando as características principais que nos levariam 
a classificá-los como provenientes de pesquisas qualitativas e do tipo etnográfica. 
 
A - FONSÊCA, A L B; BASTOS, A C de S. Maternidade adolescente em contexto 
cultural: um estudo com mães adolescentes de duas comunidades (uma 
urbana e uma semi-rural) na Bahia. Rev. bras. crescimento desenvolv. 
Hum. V. 11, n. 1, p. 86-98, 2001. 
 
Descrevem-se como famílias de duas comunidades da Bahia enfrentam a 
maternidade adolescente e como o seu contexto cultural interfere nas relações de 
maternagem. Foram entrevistadas 20 mães adolescentes do Vale das Pedrinhas 
(área urbana) e 20 da Areia Branca (área semi-rural), em seus domicílios. Os 
resultados demonstram que o suporte familiar é imprescindível à condição da 
maternidade adolescente. Indicam também que as adolescentes da área urbana 
(VP) diluem mais este papel com os demais membros da família, pois todas 
continuavam vivendo no núcleo familiar de origem, sendo sua mãe a principal 
responsável pela criança. As mães adolescentes da área semi-rural constituíram, em 
sua maioria, o próprio núcleo familiar, sendo responsáveis elas mesmas pelo 
cuidado e educação do seu filho. Observa-se uma naturalização da maternidade 
precoce nas duas áreas, embora com maior ênfase na área semi-rural. A família é o 
principal ponto de referência dos indivíduos, principalmente nas comunidades de 
baixa renda. 
 
B - SILVA, F S da; AZEVEDO, M R C Crianças do sertão: modos de vida. Um 
estudo etnográfico das famílias de Santa Cruz do Banabuiú, Ceará. Rev. 
bras. crescimento desenvolv. Hum. n. 11, v. 1, p. 17-34, 2001. 
 
Este estudo etnográfico parte integrante da primeira etapa do projeto "Lugar de 
Criança", objetivou conhecer o modo de vida, organização familiar, as práticas 
culturais de cuidado das crianças na faixa etária de zero a sete anos e suas famílias, 
11/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
ambos residentes no semi-árido. Inicialmente foram visitadas 81 famílias 
pertencentes à zona urbana e rural do distrito de Santa Cruz do Banabuiú, Município 
de Pedra Branca. Em um segundo momento, 24 destas famílias foram revisitadas, 
entrevistadas e observadas, utilizando a metodologia de observação participante e 
diário de campo centrados no âmbito familiar. As entrevistas foram realizadas com 
as mães e as observações da família seguiram um roteiro semi-estruturado. 
Percebeu-se a relação entre as práticas familiares e o ambiente de seca revelados 
no cuidado com a alimentação e higiene, a arquitetura das casas e nas falas da 
religiosidade popular. Frente à escassez de água, à baixa produção agrícola, aos 
empregos altamente rotativos e às questões de saúde, as famílias criam suas 
próprias estratégias de convivência com o ambiente, cabendo à criança ajudar a 
família. 
 
C - LOPES, S. M. B. Cultura, linguagem e fonoaudiologia: uma escuta do 
discurso familiar no contexto da saúde pública. São Paulo, 2001. 134 p. 
Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Saúde Pública - Departamento de 
Prática de Saúde Pública - Universidade de São Paulo. 
 
Busca compreender o contexto cultural que envolve as práticas das mães residentes 
na comunidade pesqueira de Zimbros em Bombinhas, Santa Catarina e constrói a 
partir do diálogo entre Fonoaudiologia, Saúde Pública e as Ciências Sociais. O 
caminho metodológico contou com contribuições da Etnografia, utilizando-se na 
pesquisa a observaçãoparticipante realizada na sala de espera da Unidade de 
Saúde do bairro. A partir da análise dos textos dos diários de campo, observa a 
importância de construir-se uma escuta em relação à população e explorar mais o 
espaço da Unidade de Saúde como um espaço comunicativo para que a população 
possa ressignificar as suas práticas. As práticas das mães refletem a maneira como 
a comunidade entende as questões de linguagem. Neste local, há um silêncio em 
relação às questões de linguagem que estão atreladas ao desejo da criança de falar, 
a espera do tempo certo para falar, sendo mais evidentes para as mães as questões 
atreladas ao uso de chupeta, à amamentação e; ou alimentação. A função das mães 
circula entre atender os desejos do filho ou repassar normas de conduta. Portanto, a 
Fonoaudiologia deve aprofundar as questões relacionadas à linguagem e cultura; 
12/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
construir formas alternativas de abordar a população, buscando situações dialógicas 
e que possam auxiliar outros profissionais a valorizarem as falas das mães. 
 
2.4 – Grounded theory 
 A Grounded Theory, que muitas traduções para o Português a denominam 
como Teoria Fundamentada em Dados, e que por entendermos que toda teoria é 
fundamentada em dados, recomendamos que a mantenha na língua original. 
 Ela pode ser considerada como uma forma de analisar dados etnográficos. Ao 
contrário da fenomenologia, a Grounded Theory assume a existência de processos, 
quando se tenta compreender as experiências de seres humanos, nas mais diversas 
situações. Podemos dizer de maneira bem sintética que, a Grounded Theory é um 
conjunto de procedimentos e técnicas de coletar e analisar dados de maneira 
processual, onde eles são, inicialmente, fragmentados e codificados de acordo com 
os incidentes e fatos, para possibilitar, posteriormente, a categorização e atribuição 
de conceitos. Assim, as categorias são ordenadas, de maneira a identificar a 
categoria central, que por sua vez, precisa ser testada para verificar se a mesma 
representa as experiências dos sujeitos. 
 A Grounded Theory tem suas raízes interacionistas e, portanto as pesquisas 
nessa abordagem têm adotado, também, o Interacionismo Simbólico como 
referencial teórico, o que gostaríamos de salientar que não é imprescindível. O 
criador do Interacionismo simbólico foi Blumer, a partir das compilações de aulas 
dadas pelo seu mestre Mead e a Grounded Theory por Glaser, Straus (1967). 
 As questões de projetos de pesquisas que demandam uma abordagem 
Grounded são geralmente deste tipo: 
- Como é o processo, conceitos e vivências experienciadas por mulheres ao 
retornar ao trabalho após a licença gestante? 
- Como têm sido as experiências, na perspectiva dos familiares cuidadores, 
vivenciando o processo interacional com entes após o AVC? 
 
Exercício 3 
Leia os próximos resumos, tentando encontrar as características principais de uma 
pesquisa do tipo Grounded Theory: 
 
13/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
A - MARCON S S. Vivência de mulheres sobre o desmame (tardio) da criança. Rev. 
gauch. Enfermagem. V.17, n. 1, p. 43-50, 1996. 
 
Vivências experienciadas pelas mulheres durante o desmame tido como "natural" 
não são encontradas na literatura. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é 
apresentar os processos, conceitos e vivências experienciadas por mulheres durante 
o processo de desmame tardio de seus filhos. Trata-se de um estudo qualitativo que 
adotou como linha metodológica a Grounded Theory (Glaser & Strauss, 1967) e 
como método de coleta de dados a Observação Participante (Leininger, 1985). Os 
dados foram coletados junto a 60 mulheres, através de duas técnicas: entrevistas 
abertas e observação não estruturada. O desmame tardio ocorre diante da ausência 
de problema físico, fisiológico ou social e engloba a vivência de cinco subprocessos: 
"Acreditando em uma idade limite", "Desacreditando do poder de sustentação do 
leite materno", "Sendo influenciada", "Desmamando com tranqüilidade" e "Tendo 
dificuldades para concretizar o desmame". 
 
B - MARCON, S. S. Vivenciando a gravidez. Florianópolis, 1989. 383 p. 
Universidade Federal de Santa Catarina 
 
O objetivo deste estudo foi explorar e compreender o período de uma gravidez a 
partir da perspectiva de mulheres em estado de gravidez. Para tanto, adotei a 
metodologia da "Grounded Theory" (Teoria Fundamentada nos Dados), que 
segundo GLASER & STRAUSS (1967: 43), consiste na descoberta e no 
desenvolvimento de uma teoria a partir de informações obtidas e analisadas 
sistemática e comparativamente. Para a coleta dos dados foi utilizado o método de 
observação - participante (LEININGER, 1985:52). Eles foram coletados junto a 
quatro grupos amostrais, totalizando 85 mulheres em estado de gravidez no período 
de janeiro a dezembro de 1987. Para a análise dos dados adotei o método de 
comparação constante. Os resultados do estudo estão expostos na teoria 
substantiva desenvolvida "Vivenciando a gravidez": é um processo dinâmico que 
ocorre na vida da mulher dentro de um contexto espaço-temporal. A vivência deste 
processo pode ou não ser planejada, além de ser influenciada por um conjunto de 
fatos relacionados ao contexto no qual a mulher se encontra inserida. Esta vivência 
se dá em quatro etapas seqüenciais e inter-relacionadas que foram denominadas 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
de: Precedendo o Início, o Início, o Meio e o Fim da Gravidez e é composta por cinco 
processos: "Vivendo um relacionamento sexual", "Descobrindo-se grávida", "Estando 
grávida", "Sentindo-se grávida" e "Esperando nascer". Cada um destes processos é 
vivido de forma particularizada, embora existam conceitos que são comuns a todos. 
De qualquer modo, independente da forma como a mulher experiencia estes 
processos, a vivência de cada um deles só ocorre após a vivência do anterior, 
caracterizando a existência da teoria. 
 
C - OLIVEIRA, I. de. Vivenciando com o filho uma passagem difícil e reveladora. 
São Paulo, 1998. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem - Universidade 
de São Paulo. 
 
O presente estudo foi realizado com mães acompanhantes em um hospital escola. 
Os objetivos foram: compreender as interações vivenciadas, identificar os 
significados que o familiar acompanhante atribui a experiência de vivenciar a 
hospitalização provoca na vida do familiar e construir um modelo teórico 
representativo da experiência. Utilizou-se como Referencial Teórico o Interacionismo 
Simbólico e Referencial Metodológico a "Grounded Theory". Dos resultados 
emergiram o fenômeno Indo a busca de solução, que representa as tentativas da 
mãe resolver o problema da criança antes da sua hospitalização e Atravessando 
uma situação difícil, que caracteriza a fase em que a mãe vivencia a hospitalização 
junto do filho internado. A partir desses fenômenos, identificou-se a categoria central 
Vivenciando com o filho uma passagem difícil e reveladora. 
 
2.5 – Materialismo histórico dialético 
 O materialismo histórico é a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis 
sociológicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua evolução histórica e da 
prática social dos homens, no desenvolvimento da humanidade. O materialismo 
histórico significou uma mudança fundamental na interpretação dos fenômenos 
sociais que, até o nascimento do marxismo, se apoiava em concepções idealistas de 
sociedade humana. Marx e Engels colocaram pela primeira vez , em sua obra A 
ideologia alemã (1845-46), as bases do materialismo histórico. Nela criticam os 
jovens Hegelianos e Feuerbach, que acham ainda que a história era resultado das 
ideologias e da presença dos “heróis”, ao invés debuscar nas formações sócio-
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
econômicas e nas relações de produção os fundamentos verdadeiros das 
sociedades. O materialismo histórico ressalta a força das idéias, capaz de introduzir 
mudanças nas bases econômicas que as originou (TRIVIÑOS, 1987). 
 Segundo o autor, as definições da dialética materialista dos clássicos do 
marxismo ressaltam os aspectos que se referem às formas do movimento universais 
e as conexões que se observam entre elas. Engels a define como a ciência “ das leis 
gerais do movimento e desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do 
pensamento.” E Lênin a define como “a doutrina do desenvolvimento na sua forma 
mais completa, mais profunda e mais isenta da unilateralidade, a doutrina da 
relatividade do conhecimento humano, que nos dá um reflexo da matéria em eterno 
desenvolvimento. Engels, define a dialética como “a ciência da interconexão 
universal”. Lênin destaca também este traço e outros da dialética ao expressar que 
ela se apresenta na compreensão do desenvolvimento como a ciência que vê na 
realidade do mundo dos fenômenos “ a interdependência e a mais íntima e 
indissolúvel conexão entre todos os aspectos de cada fenômeno (a história 
desvendando sempre novos aspectos), uma interconexão da qual resulta um 
processo de movimento único e universal, com leis imanentes Estes conceitos de 
conexão, interdependência e interação são essenciais no processo dialético de 
compreensão do mundo (TRIVIÑOS, 1987). 
 O pesquisador que segue uma linha teórica baseada no materialismo dialético 
deve ter presente em seu estudo uma concepção dialética da realidade natural e 
social e do pensamento, a materialidade dos fenômenos e que se estes são 
possíveis de conhecer. 
Os projetos de pesquisas que enunciam o problema, de forma a dirigir à 
compreensão da historicidade do fenômeno, geralmente, utilizam-se do referencial 
metodológico denominado Materialismo Histórico Dialético (TRIVIÑOS, 1987). 
 
Exercício 4 
Leia os resumos abaixo, tentando encontrar as características principais de uma 
pesquisa com uma abordagem qualitativa e no Materialismo Histórico Dialético. 
 
A - MADEIRA, L. M. Reinternaçäo infantil: descortinando os determinantes sociais 
do fenômeno. São Paulo, 1996. 175. Tese (Doutorado) – Escola de 
Enfermagem - Universidade de São Paulo - Escola de Enfermagem. 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
 
As hospitalizações constituem procedimentos traumáticos para a criança, além de 
representarem alto custo social para a família e para a sociedade. Nas instituições 
hospitalares é significativo o número de internações/reinternações de crianças, 
sendo necessário questionar suas determinações, uma vez consideradas as 
condições de vida e saúde de grande parte da população brasileira. Buscando 
elucidar os determinantes sociais das reinternações infantis procedeu-se ao 
presente estudo, referenciado pelo materialismo histórico e dialético, com os 
seguintes objetivos: identificar determinantes de reinternações de crianças, 
relacionados às suas condições de vida; identificar estrangulamentos nos serviços 
de saúde que estejam contribuindo para as reinternações; conhecer as 
representações de familiares sobre o processo saúde-doença da criança que se 
reinterna e evidenciar as contradições existentes entre a realidade vivida e a 
representação de familiares sobre o fenômeno da reinternação infantil. O estudo 
teve como cenários o Centro Geral de Pediatria (CGP), instituição pública estadual, 
localizada no Distrito Sanitário Centro-Sul de Belo Horizonte; os Distritos Sanitários 
Leste, Centro-Sul e Nordeste e os domicílios das famílias entrevistadas. Os dados 
foram coletados de documentos, registros e informações de profissionais do CGP, 
da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA/BH) e dos Distritos 
Sanitários de origem das crianças e de 11 entrevistadas, mães e avós, responsáveis 
pelas crianças reinternadas, durante visitas no hospital e no domicílio. 
 
B - GUIMARÃES, J., MEDEIROS, S. M. de Contribuição ao ensino de saúde mental 
sob o signo da desinstitucionalização. Ciênc. saúde coletiva, v.6, n.1. p. 97-104, 
1991 
O presente trabalho teve como objetivo relatar uma experiência de ensino da 
disciplina Enfermagem Psiquiátrica na Faculdade de Enfermagem da Universidade 
Regional do Rio Grande do Norte (FAEN-URRN), desenvolvida desde meados da 
década de 1980 até meados da década de 1990, sob a ótica da 
desinstitucionalização e dos direitos de cidadania do doente mental, ancorados na 
discussão sobre saúde e sociedade, utilizando-se o método de discussão teórica, 
compilação de textos e confronto da teoria/prática em atuação de campo. Dos 
resultados obtidos, constatou-se que a base teórico-metodológica do materialismo 
histórico e dialético como fio condutor do processo de captação do ensino-
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
aprendizagem possibilitou melhor compreensão da totalidade, além de incentivar 
posteriormente uma revisão crítica do curso de enfermagem da FAEN-URRN e da 
atuação do enfermeiro em saúde mental. 
Palavras-chave Ensino, Saúde mental, Desinstitucionalização 
 
C - PERNA, P. O. O controle social na ponta do SUS: o caso de Pontal do Sul-
Município de Pontal do Paraná – PR. Curitiba, 2000. 130 p. Setor de 
Ciências da Saúde - Universidade Federal do Paraná. 
 
A participação da sociedade na formulação e acompanhamento na implementação 
de políticas públicas em saúde é um dos princípios nucleares na estruturação do 
Sistema Único de Saúde brasileiro, conforme a Carta Constitucional de 1988. Trata-
se do controle social exercido no campo da saúde. Esta participação, no entanto, 
não se dá por decretos legislativos. É preciso que certas condições sejam 
viabilizadas para que ela efetivamente possa acontecer. O presente trabalho teve 
como objetivo conhecer algumas dessas condições entre a população de usuários 
da localidade de Pontal do Sul, no Município de Pontal do Paraná. Neste sentido, a 
investigação priorizou conhecer as representações da população local sobre o 
fenômeno da saúde - pois este é, em última análise, o objeto do controle social - 
bem como identificar qual é o conhecimento que a população tem sobre a existência 
do Conselho Municipal de Saúde e das Conferências Municipais de Saúde, que são 
as duas formas principais previstas em lei para o exercício do controle social. Para 
isso, primeiramente, procedeu-se a uma identificação de todos os grupos 
organizados existentes na referida localidade e, em seguida, foram realizadas 
entrevistas com pessoas de atuação central naqueles mesmos grupos. A 
perspectiva teórica que orientou o trabalho foi a do materialismo histórico e dialético 
e a pesquisa de abordagem qualitativa foi a metodologia adotada. Ao final o estudo 
revela como a população local manifestou certo grau de consciência sobre a 
determinação de seus problemas de saúde, o que sugere que sua atuação no 
controle social pode contribuir na formulação de políticas públicas que melhor 
atendam às suas necessidades locais. Apontou, ainda, para lacunas importantes na 
relação entre população e poder público municipal, no sentido da falta de 
informações consistentes sobre a existência e finalidade do Conselho e 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
Conferências Municipais de Saúde, além da falta de outras práticas educativas 
relacionadas à participação cidadã em saúde. 
 
Concluindo: Podemos perceber que as perguntas de projetos de pesquisas que 
põem em relevo as percepções dos sujeitos e, sobretudo, salientam o significado 
que os fenômenos têm para as pessoas são de natureza fenomenológica, enquantoaqueles que demandam descrever um cenário ou uma comunidade, tentando 
compreender seus valores, crenças e práticas de grupo, são etnográficos. Quando o 
problema indica a necessidade de entender as experiências na forma de processo 
interacional, devemos escolher a perspectiva Grounded Theory, ao passo que em 
problema que se dirige à compreensão da historicidade do Fenômeno, o 
Materialismo Histórico Dialético é a mais indicada. 
 
Exercício 5 
Elabore quatro questões de pesquisa que poderiam se implementados em seu 
campo de trabalho, sendo uma de natureza fenomenológica e as outras três nas 
perspectivas: etnográfica, Grounded Theory e Materialismo Histórico Dialético. 
 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
3 – AMOSTRA INTENCIONAL NA PESQUISA QUALITATIVA 
 
3.1 – Como conseguir os sujeitos participantes da pesquisa? 
 A finalidade na amostra qualitativa é compreender o fenômeno de interesse, 
enquanto na quantitativa, a mesma visa generalizar os resultados à população, da 
qual foi extraída (MAYAN, 2001). 
 Segundo a autora, as investigações qualitativas dependem de amostras 
selecionadas propositalmente. O pesquisador escolhe indivíduos e contextos por 
meio das seguintes perguntas: 
- Quem pode me dar as melhores informações, referentes à pergunta de meu 
projeto de pesquisa? (Definindo os sujeitos da pesquisa) 
- Em quais contextos eu conseguirei colher as melhores informações relativas à 
pergunta de meu projeto? (Definindo o local da coleta de dados) 
Resumindo este tópico: O pesquisador precisa definir em seu projeto de pesquisa os 
sujeitos com os quais irá trabalhar, bem como o local da coleta de dados. 
 
Exercício 6 
Selecione um problema elaborado no exercício 5 e defina quem serão os sujeitos, 
bem como o local onde você fará a coleta de dados. 
 
3.2 – Quando eu sei que houve a saturação? 
 Na verdade, a minha dúvida é quando eu devo parar a coleta de dados? A 
resposta é: Quando todas as categorias estiverem saturadas por dados. Isto ocorre 
quando nenhum dado relevante emerge, quando todos os caminhos foram seguidos 
e quando a estória ou teoria está completa. A saturação é obtida quando as 
categorias se apresentarem densas (em variação e processo) e quando as relações 
entre elas estiverem bem estabelecidas e validadas (MAYAN, 2001). 
 Para determinar uma amostra suficiente que nos conduza a saturação das 
categorias depende de vários fatores, como (MAYAN, 2001). 
- Qualidade dos dados (transcrições legíveis; gravações clara, dentre outros) 
- Liberdade quanto ao âmbito do estudo (ampla x reduzida) 
- Natureza da informação (Clara; informação pode ser obtida facilmente) 
- Quantidade de informação útil obtida de cada sujeito participante (articulada, 
pertence à experiência; tempo disponível para oferecer a informação) 
20/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
Segundo a autora as categorias devem ser julgadas por dois critérios, 
homogeneidade interna e externa. Homogeneidade externa refere-se às categorias 
individuais, ou seja, deve responder às seguintes perguntas: - Os dados refletem a 
categoria e se ajustam à mesma? A categoria faz sentido? 
Quando as categorias se apresentam a ponto de formarem processos? 
- Todas as partes dos dados estiverem inclusas 
- As categorias fazem sentido e representam os dados por completo 
- Os nomes das categorias devem respeitar as mesmas palavras dos dados. Por 
exemplo: se um sujeito está falando de seu cansaço, eu nunca devo nomear a 
categoria como: sentindo-se fatigado, mas como sentindo-se cansado. 
- As categorias devem fazer sentido aos outros. O pesquisador deve pedir aos 
colegas a opinião, visando avaliar se a maneira que elas estão sendo construídas 
e a razão de suas criações estão claras. 
- As categorias devem ter validade interna; fazer sentido à pessoa ou às pessoas 
que forneceram a informação. O pesquisador deve compreender os dados 
pensando nas categorias. As categorias representam cada peça dos dados? 
 
3.3 – Quando eu integro as categorias e encontro temas? 
Para integrar as categorias, o pesquisador deve responder às questões: 
- Como as categorias estão relacionadas? 
- As categorias permitem ligações quando se recorre aos dados? 
- Quais as conclusões podem ser desenhadas? 
 
A intenção neste ponto de análise dos dados é descobrir as relações entre as 
categorias e encontrar alinhamentos ou temas comuns que permeiam os dados. 
 
3.4 – Como integrar dados provindos de várias técnicas de coleta? 
 Os dados provindos da entrevista, bem como aqueles oriundos das notas de 
campos, bem como dados quantitativos e qualitativos precisam ser colocados juntos 
para serem analisado. O pesquisador deve olhar para os dados visando encontrar 
contradições entre eles. Se duas peças dos dados fornecem dados contraditórios, 
então ela deve ser investigada MAYAN (2001). 
 
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4 – ESTRATÉGIAS PARA COLETA DE DADOS 
 
4.1 - Observação participante 
 A observação participante foi desenvolvida como uma estratégia de coleta de 
dados pelos antropologistas ao estudarem culturas estrangeiras no século XX. Ela é 
empregada, atualmente, como uma estratégia essencial em estudos etnográficos. 
Na observação participante, o pesquisador se insere ao grupo investigado, por 
períodos de tempos e passa a vivenciar a experiência no local do grupo estudado. 
Isso permite ao pesquisador, compreender a organização do grupo, bem como suas 
relações, comportamentos, valores e crenças MAYAN (2001). 
 
4.2 – Notas de campo 
 Enquanto o pesquisador está no campo de coleta de dados, o mesmo deve 
ter seu senso de observação acurado e se não der para fazer as anotações no local 
onde se está fazendo a coleta, recomenda-se fazê-los tão logo puder, por meio da 
escrita ou por gravação de: reflexões, sentimentos, idéias, momentos de confusão, 
interpretações, bem como tudo que julgar importante do que observou no campo de 
coleta de dados. Procure fazer esse tipo de procedimento em lugar reservado e 
nunca na presença dos sujeitos. Procure sempre respeitar a individualidade e a 
privacidade dos sujeitos, sem expô-los a situações de constrangimentos MAYAN 
(2001). 
 
4.3 – Entrevista 
4.3.1 – Entrevista não estruturada interativa 
O pesquisador parte de uma questão orientadora do tipo: - Como tem sido a 
sua experiência vivenciando o papel de cuidador de uma pessoa de sua família? 
Ressalto para a importância de se realizar algumas entrevistas como um pré-
teste, para avaliar se a questão está clara, no sentido de se obter os dados 
pretendidos e até mesmo como um treino ao entrevistador. Pois se a entrevista não 
for bem conduzida, não há riqueza de dados. 
 
4.3.2 – Entrevista semi-estruturada 
 A entrevista é conduzida a partir de um conjunto de perguntas abertas e numa 
ordem específica. 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
 
4.4- Grupo focal 
O grupo focal é uma técnica de coleta de dados, recomendada para pesquisa de 
campo, já que, em pouco tempo e baixo custo permite uma diversificação e um 
aprofundamento dos conteúdos relacionados ao tema de interesse (CHIESA, 
CIAMPONE, 1999). 
A utilização do Grupo Focal na área da saúde é recente. 
O principal objeto do Grupo Focal consiste na interação entre os participantes e o 
pesquisador e a coleta de dados, a partir da discussão com foco, em tópicos 
específicos e diretivos. Envolve algum tipo de atividade coletiva como, por exemplo: 
assistir um vídeo, examinar uma mensagem de educação para a saúde ou 
simplesmente debater um tema ou questões (BARBOUR, KITZINGER, 1999). 
É diferente de entrevista em grupo porque para o grupo focal a interaçãoé 
imprescindível e o pesquisador precisa encorajar que os participantes falem uns com 
os outros. 
Pode envolver diferentes composições de grupo (incluindo estranhos e amigos, 
leigos e profissionais) e grupos com tarefas diversas (BARBOUR, KITZINGER, 
1999). 
O grupo focal é ideal para explorar as experiências das pessoas, opiniões, 
desejos e preocupações. O método é particularmente útil para permitir aos 
participantes criarem suas próprias questões, estruturas e conceitos e ocuparem-se 
com suas próprias prioridades em seus próprios termos e vocabulários. 
Pode ser combinado com outros métodos qualitativos e também com métodos 
quantitativos. 
A combinação com a estratégia metodológica qualitativa caracteriza-se por 
buscar respostas acerca do que as pessoas pensam e quais são seus sentimentos. 
A combinação com métodos quantitativos pode ser utilizada para auxiliar na 
construção de questionários em “surveys” possibilitando o entendimento de temas 
chaves e refinando frases para questões específicas (BARBOUR, KITZINGER, 
1999). 
A organização e sistematização de uma investigação através do grupo focal têm 
seus alicerces em Debus (1997), Dall’agnol e Trench (1999), que são unânimes 
quanto aos aspectos operacionais desde a escolha de seus participantes, do 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
moderador (também chamado facilitador), do local dos encontros, da elaboração do 
guia de temas, quesitos fundamentais para o bom andamento das reuniões. 
 
Participantes - a definição dos membros que farão parte do Grupo Focal é 
considerada tarefa relevante uma vez que implica na capacidade de contribuição 
com os objetivos da pesquisa. A amostra é intencional e os critérios (sexo, idade, 
escolaridade, diferenças culturais, estado civil e outros) podem variar, devendo, 
todavia, ter pelo menos um traço comum importante para o estudo proposto. A 
decisão de participar de um Grupo Focal deve ser individual e livre de qualquer 
coação, explicitação do projeto e dos cuidados éticos incluídos no processo e 
informados aos selecionados. O número de participantes deve variar de 6 (seis) a 12 
(doze) pessoas. 
 
Número de sessões grupais – pelo menos duas sessões para cada variável 
considerada importante para o tema pesquisado, ou até que a informação obtida 
deixe de ser nova. Não existe, portanto, um padrão para o número de sessões de 
Grupo Focal, dependendo, sobretudo dos objetivos traçados pelo pesquisador. 
 
Local e tempo de duração das sessões grupais - o local e ambientação para os 
encontros, preferencialmente, deve ser neutro, isto é, fora do ambiente de trabalho 
e/ou convívio dos participantes e de fácil acesso. Livre de ruídos, com isolamento 
acústico, possibilitando a captação das falas, sem “muitas” interferências. A 
organização do espaço físico deve objetivar a participação e interação do grupo, de 
maneira que todos estejam dentro do campo de visão entre si e com o moderador, 
isso fomentará a interação e o sentimento de fazer parte do grupo. O tempo de 
duração das sessões deve ser de uma a duas horas para que o cansaço dos 
participantes e as condições desconfortáveis não venham a interferir nos objetivos 
da discussão em prejuízo dos resultados. 
 
Guia de Temas - O guia de temas deve incluir uma lista de temas e questões 
abrangentes, que favoreçam a discussão, servindo de roteiro para o moderador, 
facilitando a condução do trabalho grupal ao encontro dos objetivos da pesquisa. 
 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
Moderador (facilitador) e observador – o papel do moderador deve ser 
significativo e relevante para o funcionamento dos grupos e implica preparo e 
instrumentalização em todas as fases do processo. O moderador experiente, 
segundo Debus (1997) adapta–se ao estilo dos participantes, aos objetivos e 
necessidades do grupo. Alguns comportamentos não devem ser exercidos pelo 
moderador, como por exemplo: atuação como professor, como juiz ou como chefe. 
Não deve expressar acordo ou desacordo com pontos de vista expressos pelos 
componentes do grupo e não pode “por palavras na boca dos participantes”. 
Segundo Dall’agnol, Trench (1996) o moderador “é um facilitador do debate”. Deve 
ter experiência no manejo com atividades grupais, cultivar a empatia, aptidão para 
escutar, entusiasmo para conduzir o grupo às discussões e controle do grupo focal. 
O observador deve cultivar a atenção, auxiliar o moderador na condução do grupo, 
tomar nota das principais impressões verbais e não verbais, estar atento à 
aparelhagem audiovisual. Deve ter facilidade para síntese e análise e capacidade 
para intervenção. Ao final de cada sessão (ou nos dias seguintes) deve ser realizada 
avaliação acerca das discussões, sentimentos e sensações promovidas naquele 
encontro, sendo elaborado um quadro geral das idéias preponderantes. Juntos, 
coordenador e observador, traçam estratégias para as próximas reuniões do Grupo 
Focal. 
A análise dos dados coletados no grupo focal será de acordo com o 
referencial teórico metodológico escolhido (ASCHIDAMINI, SAUPE, 2004). 
 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
5 – ANÁLISE DE CONTEÚDO 
 Vale ressaltar que existem várias técnicas de se analisar os dados, além da 
análise de conteúdo, como: análise de discurso, Grounded Theory, análise do 
discurso do sujeito coletivo, história oral. Outro ponto a se destacar é que a 
fenomenologia possui um método próprio de análise dos dados. 
 Aqui, abordaremos somente os fundamentos da análise de conteúdo. 
A análise de conteúdo é conceituada por BARDIN (1977), como "um conjunto de 
técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos, 
sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores 
(quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às 
condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens". 
 Buscando atingir os significados manifestos e latentes no material qualitativo, 
têm sido desenvolvidas como técnicas de análise de conteúdo a análise de 
expressão, a análise de relações, a análise temática e a análise da enunciação 
(MINAYO, 1992). No entanto, para BARDIN (1977), não existe nada pronto para 
aqueles que pretendem utilizar a análise de conteúdo como método em suas 
investigações. O que existem são algumas regras básicas, que permitem ao 
investigador adequá-las ao domínio e objetivos pretendidos, reinventando a cada 
momento uma maneira de analisar. 
 Para BARDIN (1977), a análise de conteúdo basicamente desdobra-se em 
três fases, a saber: 
1 - pré-análise; 
2 - exploração do material; 
3 - tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. 
 
1- pré-análise: nesta fase, o pesquisador faz uma leitura flutuante, atividade onde 
se estabelece o primeiro contato com os documentos a serem analisados, 
deixando-se tomar contato exaustivo com o material. Além da leitura flutuante, o 
investigador faz a escolha dos documentos, ou seja, procede a demarcação do 
universo de documentos sobre os quais proceder-se-á a análise, portanto 
constituindo o corpus, "conjunto de documentos tidos em conta para serem 
submetidos aos procedimentos analíticos" (BARDIN, 1977). Ainda nesta fase, 
pode-se formular hipóteses e objetivos, não sendo obrigatório o estabelecimento 
de hipóteses como guia. Já os objetivos poderão ser aqueles que norteiam a 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
investigação ou ser estabelecidos a partir desta fase. Seguindo os procedimentos 
da pré-análise, o autor recomenda que se determine, também, a operação de 
recorte do texto em unidades comparáveis de categorização para análise 
temática e de modalidade de codificaçãopara o registro dos dados. Como último 
procedimento da pré-análise, recomenda-se a preparação do material no sentido 
de reuni-lo, no caso, de entrevistas gravadas. Estas deverão ser transcritas na 
íntegra, facilitando, desta maneira, a manipulação para a análise. 
 
2 - exploração do material: ocorre logo após a pré-análise e consiste numa fase 
longa de dedicação, de operações de codificação, enumeração, classificação e 
agregação, em função de regras previamente formuladas. Nesta fase o material 
é codificado, ou seja, submetido a um "processo pelo qual os dados brutos são 
transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem 
uma descrição exata das características pertinentes do conteúdo" (BARDIN, 
1977). Para organização da codificação são necessárias três escolhas: - o 
recorte (escolha das unidades); - a enumeração (escolha das regras de 
contagem); e - a classificação e a agregação (escolha das categorias). Para 
realizar o recorte do material, torna-se necessária à leitura do mesmo e a 
demarcação dos "núcleos de sentido", ou seja, das unidades de significação. 
Estas unidades podem ser chamadas de unidades de registro que nada mais são 
do que um segmento de conteúdo a ser considerado como unidade de base, 
visando à categorização e à contagem freqüencial. No caso de uma análise 
temática, o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um 
texto analisado. Logo, fazer uma análise temática, consiste em descobrir os 
temas que são as unidades de registro neste tipo de técnica de análise, que 
corresponde a uma regra para o recorte. Após o recorte, procede-se à contagem 
das unidades de significação, conforme as regras estabelecidas pelo codificador 
que, posteriormente, passará a classificá-las e a agregá-las em categorias. 
 
3 - tratamento dos resultados obtidos, a inferência e a interpretação: no caso de 
análise de conteúdo qualitativo, os resultados brutos são tratados de maneira a 
serem significativos e válidos. Os resultados são submetidos a operações 
estatísticas simples (percentagens), ou mais complexas (análise fatorial), 
permitindo estabelecer quadros, diagramas, figuras e modelos referente aos 
27/32 
Métodos Qualitativos de Pesquisa 
resultados. De posse destes dados significativos, o investigador poderá, então, 
propor inferências e interpretações a propósito dos objetivos previstos, ou que 
digam respeito a outras descobertas inesperadas (BARDIN, 1977). Porém há 
variantes na abordagem que no tratamento dos resultados trabalha com 
significados em lugar de interferências estatísticas. Essas variantes, de certa 
forma, reúnem, numa mesma tarefa interpretativa, os temas como unidades de 
fala, propostos, numa mesma tarefa interpretativa, os temas como unidades de 
fala, propostos (MINAYO, 1992). 
 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
6 – RIGOR NA QUALIDADE DA INVESTIGAÇÃO 
 
 Na pesquisa qualitativa se deve assegurar a validade interna, porque a 
confiabilidade ainda não parece ser adequada à pesquisa qualitativa. Assim, 
validade interna significa que as conclusões da pesquisa precisam ser corroboradas 
pelos dados. A validade interna é julgada a partir da precisão com que as descrições 
dos eventos representam os dados (MAYAN, 2001). 
 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
7 – ETAPAS QUE UM PROJETO DE PESQUISA DEVERÁ ABORDAR 
 
1. INTRODUÇÃO (justificativa, problema, objetivo) 
2. MÉTODO 
2.1. Tipo de pesquisa (Optando pela pesquisa qualitativa, se for o caso) 
2.2. Os sujeitos (A amostra) 
2.3. O local onde será desenvolvido o trabalho 
2.4. Os procedimentos de coleta e de análise (Instrumento de coleta de dados, 
o Consentimento Livre e Esclarecido para participação em estudo clínico, 
como se procederá a coleta de dados, ...) 
2.5. A análise dos dados 
* Observação: No caso da pesquisa qualitativa, é recomendado o tempo verbal 
na primeira pessoa do singular 
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
4. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DO PROJETO 
 
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Métodos Qualitativos de Pesquisa 
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8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ASCHIDAMINI, I.M.; SAUPE, R. Grupo focal – estratégia metodológica 
qualitativa: um ensaio teórico. 2004. 
BARBOUR, R. S.; KITZINGER, J. Developing focus group research: politics, 
theory and practice. SAGE, London, 1999. 225p. 
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa, Personal, 1977 
CHIESA, A. M.; CIAMPONE, M. H. T. Princípios gerais para a abordagem de 
variáveis qualitativas e o emprego da metodologia de grupos focais. A 
classificação internacional das práticas de enfermagem em saúde coletiva – 
CIPESC. Brasília: ABEN, 1999, p. 306-324. 
DALL’AGNOL, C. M.; TRENCH, M.H. Grupos focais como estratégia 
metodológica em pesquisa na enfermagem. Rev.Gaúcha Enf., Porto Alegre, 
v.20, n.1, p. 5-25, 1999. 
DEBUS M. Manual para excelência em la investigacion mediante grupos 
focales. Washington: Academy for Educational Development, 1997. 
FIELD, P. A., MORSE, J. M. Nursing research: the application of qualitative 
approaches. Rockville, Aspen Publication, 1985. 
MAYAN, M. J. An introduction to qualitative methods: a training module for 
students and professionals. Edmonton, Universidade of Alberta, 2001. 
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 
São Paulo-Rio de Janeiro, HUCITEC-ABRASCO, 1992. 
MORSE, J. M., SWANSON, J. M., KUZEL, A. J. The nature of qualitative 
evidence. London, Sage Publications, 2001. 
TOZONI-REIS, M. F. C. (org). A pesquisa-ação-participativa em educação 
ambiental: reflexões teóricas. São Paulo: Annablume; FAPESP, Botucatu, 
Fundibio, 2007. 
TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educ. Pesqui., set./dez. 
2005, vol.31, no.3, p.443-466. 
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa 
qualitativa em educação. São Paulo, Atlas, 1987. 
 
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FICHA CATALOGRÁFICA 
 
Bocchi, Silvia Cristina Mangini. 
 Métodos qualitativos de pesquisa: uma tentativa de desmistificar a sua 
compreensão: manual de estudos para alunos de pós-graduação, pretende ser um guia 
orientador em alguns dos métodos de pesquisa qualitativa / Silvia Cristina Mangini 
Bocchi, Carmen Maria Casquel Monti Juliani, Wilza Carla Spiri. – Botucatu : FMB- 
UNESP, 2008. 
 
 
 32p. : il , 21cm x29,7cm 
 
 
 1. Investigação científica 2. Pesquisa 3. Saúde 4. Ensino superior 
5. Metodologia científica I. Juliani, Carmen Maria Casquel II. Spiri, Wilza Carla 
 
 CDD 378.007 
 
 
Ficha Catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação 
Divisão Técnica de Biblioteca e Documentação - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP 
Bibliotecária responsável: Selma Maria de Jesus 
 
Editoração eletrônica: Denise de Cássia Moreira Zornoff e Renato Antunes Ribeiro 
NEAD.TIS – Núcleo de Educação a Distância e Tecnologias da Informação em Saúde da FMB 
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