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Unid._02_WEB_AULA_1_Alfabetizao_e_Letramento

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WEB AULA 1
Unidade 2 – Alfabetização e Letramento: Contribuições da Neurociência Sobre o Pensamento e a Linguagem
A leitura é uma aventura que nos fascina e convida a um mundo de possibilidades. A leitura sempre deve ser vista como um processo meio para realizar projetos que nos ultrapassa. Há na leitura um poder: o de aproximar pessoas, experimentar o ingresso em mundos diferentes e envolver-se em acontecimentos importantes. Do ponto de vista do cérebro humano, a leitura não demanda comandos específicos. Em palavras mais claras, a leitura e a escrita, assim como fala e escrita, não solicitam qualquer capacidade especial ou um desenvolvimento específico do cérebro humano.
Ler não é apenas decodificar um código e escrever não é apenas codificar a oralidade (fala). Ao contrário, o ato da leitura e da escrita é, do ponto de vista do cérebro humano, atividades significativas que em nada corresponde a uma atividade mecânica e passiva. Ler e escrever são atos repletos de sentidos. De acordo com Smith (2003, p. 17, grifos do autor), a leitura é uma “[...] atividade construtiva e criativa, tendo quatro características distintivas e fundamentais – é objetiva, seletiva, antecipatória, e baseada na compreensão, temas sobre os quais o leitor deve, claramente, exercer o controle”.
Figura ilustrativa 1 – Características distintivas da leitura e escrita.
Fonte: Smith (2003).
A leitura e a escrita são atos pelos quais o cérebro humano atribui uma finalidade. Assim, esses atos são objetivos porque sempre representa uma intencionalidade do leitor/escritor, sem a qual poderiam se constituir em um ato inútil. É seletiva, pois direcionamos nossos atos para aquilo que desperta o nosso interesse, ou seja, para aquilo que desperta a nossa atenção. Por isso é que vemos/lemos/escrevemos aquilo que afetivamente desperta o nosso interesse. É tambémantecipatória, pois ao ler/escrever sempre temos um objetivo a ser alcançado, ou seja, define nossos objetivos e expectativas. Assim, concordamos com Smith que a compreensão “[...] é a base, não a consequência da leitura”. O nosso cérebro enfrenta inúmeras dificuldades na compreensão da linguagem oral e escrita. Diante das inúmeras possibilidades, muitas vezes ambíguas, o cérebro pode ficar confuso na compreensão. Isso significa dizer que compreender é a consequência do processamento da informação no cérebro para lidar com as múltiplas possibilidades que a linguagem representa. Por isso, compreender a leitura ou a escrita não é em si um resultado, mas uma forma pela qual o cérebro tenta ordenar, organizar e dar sentido à linguagem nas suas diferentes modalidades.
Figura ilustrativa 2 – Dica de estudo para ampliação do estudo acerca da modalidade da linguagem oral e escrita.
SEÇÃO 1 DE APRENDIZAGEM – AS RELAÇÕES ENTRE PENSAMENTO E LINGUAGEM
O pensamento humano não é expresso de forma simples pelas palavras. Mas, ao contrário, é por meio das palavras que o pensamento se concretiza e passa a existir. Utilizando uma metáfora, as palavras constituem a vestimenta do pensamento. Porém, como já estudamos no início dessa unidade, as palavras expressam corretamente o que o ser humano está querendo dar sentido. Por isso, afirmamos que as relações entre pensamento e linguagem possuem duas fontes pelas quais se constituem: uma fonte genética situada na própria estrutura no cérebro humano; e outra fonte social que sempre resulta de mediações sociais e culturais. O pensamento é como uma linguagem silenciosa situada no cérebro humano. Essa linguagem silenciosa, chamada por Vygotsky (1987), é expressa pelo pensamento discursivo (união entre o pensamento e a palavra). Como afirma o mesmo autor, o ato do pensamento não se expressa na palavra em si, mas é por meio da palavra que se realiza o próprio pensamento. Observe que na visão desse autor há uma relação íntima e dialética entre pensamento e linguagem como um processo contínuo.
[...] a leitura não pode ser separada do pensamento. A leitura é uma atividade carregada de pensamentos. Não existe diferença entre ler e qualquer outro tipo de pensamento, exceto que, com a leitura, o pensamento focaliza-se em um texto escrito. A leitura pode ser definida como um pensamento que é estimulado e dirigido pela linguagem (SMITH, 2003, p. 37).
O pensamento não pode ser concebido em nosso olhar como uma especialização ou um conjunto específico de processos especializados, ou seja, o pensamento não é uma capacidade distinta. Assim, “[...] o pensamento é a operação normal da teoria de mundo à medida que o cérebro realiza sua própria tarefa de criar e testar, seletivamente, possíveis mundos, mesmo quando padrões de comportamento estabelecidos tornam-se fixados em hábitos [...] (SMITH, 2003, p. 37)”. Isso quer dizer que o pensamento não é estático e passivo, mas sim criativo e construtivo. Muitas vezes, temos uma apropriação incorreta ao afirmar que as palavras são o resultado do pensamento: primeiro pensamos e depois expressamos o pensamento por meio das palavras. Muito ao contrário, o pensamento não é simplesmente expresso em palavras, mas sim é por meio dessas palavras é que se constitui o ato do pensamento. Assim, as palavras:
São construções dialéticas entre pensamento e a própria palavra em si;
E os seus sentidos não são sempre constantes e imutáveis;
Modificam-se no processo do seu desenvolvimento.
Por isso, é correto afirmar que, se a palavra se modifica à medida que as aprendemos e desenvolvemos os sentidos autênticos, modifica-se, em consequência, a sua relação com o pensamento.
No cérebro humano há íntima relação entre a função superior chamada memória.  Além disso, há áreas especializadas responsáveis por essa linguagem silenciosa que resultam de processos eletro-bioquímicos das redes neuronais que se entrelaçam por meio dos prolongamentos dos axônios. Os axônios conectam-se entre si por meio das sinapses. São milhões de conexões que se especializam na produção dessas funções superiores: memória, linguagem e pensamento. Isso quer dizer que a especialização do cérebro humano para produzir linguagem e pensamento é em parte herdada geneticamente pelo ser humano.
Aproximadamente após os 6 anos de idade é que  as relações entre pensamento e linguagem refinam-se e são expressados por meio de um discurso coerente. Esse discurso coerente é refinado pela capacidade de abstração. É nesse momento que a união entre linguagem interior (linguagem para si) e linguagem exterior (linguagem para os outros) se constitui como planos da palavra. Em palavras mais claras, o aspecto sonoro (fala) e aspecto semântico (significado) constituem uma unidade autêntica, cada qual com leis próprias de desenvolvimento.
Isso nos leva a concluir que:
A linguagem não serve como expressão de um pensamento pronto;
Os planos da palavra (sonoro e semântico) representam a transição do plano interior para o exterior (fala) e do plano exterior para interior (construção de sentido);
A palavra conscientizada é a transformação do pensamento em palavra;
A linguagem interior não antecede a linguagem exterior, nem mesmo a linguagem exterior antecede a linguagem interior.
O que denominamos por pensamento discursivo é a plena união entre o ato do pensamento e da linguagem que possui uma raiz genética e outra sociocultural. Há uma predisposição genética que nos foi transmitida para aprender qualquer língua. A linguagem depende do processamento de informações que dependem do reconhecimento do cérebro, além da sua íntima relação com o sistema límbico que empresta à linguagem uma função emotiva ponderada pela parte frontal que confere à linguagem a ponderação racional, ágil e motivada segundo o contexto cultural no qual o sujeito se insere.
Figura ilustrativa 3 – Dica para ampliação do estudo acerca da funcionamento do cérebro humano.
É importante considerar que a língua é um elemento importante na constituição da linguagem e se expressa por meio do ato da fala. A língua influi diretamente no processamento da informação no cérebro humano. Por essa razão é que afirmamos que o pensamentoé linguagem e produto cultural de um grupo social que emprega os usos sociais dessa língua nas suas relações. A língua praticada por um grupo de falantes influencia, consequentemente, as maneiras pelas quais o cérebro humano armazena uma informação antiga e internaliza uma nova. A língua pode ser usada como um instrumento do pensamento, bem como um instrumento de comunicação, interação e produção de discursos, ou seja, entre os sujeitos da linguagem. Os usos e as práticas sociais que envolvem o uso da linguagem dependem intimamente das formas pelas quais a linguagem foi aprendida/desenvolvida pelo sujeito.
Smith (2003) aponta três condições para o pensamento. A ilustração abaixo indica cada uma delas.
Figura ilustrativa 4 – Condições do pensamento.
Fonte: Smith (2003).
O conhecimento prévio refere-se ao fato de que a linguagem e o pensamento sempre têm um tema, ou seja, o sujeito traz informações prévias que possibilitam a linguagem e o pensamento. A disposição refere-se às propensões do sujeito. A autoridade é o engajamento do sujeito em ato de pensamentos de natureza significativa.
SEÇÃO 2 DE APRENDIZAGEM – O PROCESSAMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA
O que acontece no cérebro humano quando lemos? A essa questão iremos agora analisar o que ocorre por trás do cérebro. A primeira consideração é a de que os olhos somente observam e que o cérebro é que determina aquilo que vemos e como o vemos. Isso implica afirmar que “[...] as decisões perceptivas do cérebro estão baseadas apenas em parte na informação colhida pelos olhos, imensamente aumentadas pelo conhecimento que o cérebro já possui (SMITH, 2003, p. 84)”. Segundo Smith (2003, p. 88), “[...] o fato de os olhos estarem abertos não é indicação de que a informação visual do mundo a nossa volta está sendo recebida e interpretada pelo cérebro”.
Assim, na fisiologia visual há três grandes considerações importantes para serem consideradas no processamento da leitura. São elas:
Figura Ilustrativa 5 – Condições do funcionamento olhos-cérebro para processamento da leitura.
Fonte: Smith (2003).
Como você já sabe de tudo o que estudamos aqui, a leitura e a escrita constituem aspectos importantes para a construção da personalidade do sujeito, já que constituem atos especificamente humanos. Aprender a falar e a escrever constituem passos importantes na vida social e cultural do sujeito. A linguagem na sua inter-relação com o pensamento modifica os comportamentos do sujeito com o mundo, bem como também o mundo em relação ao sujeito.
Toda criança neurotípica pode aprender a ler/escrever sem nenhuma dificuldade. As dificuldades em aprender a ler/escrever ocorrem pois pode ocorrer que a forma pela qual se ensina algo não se assemelha com formas preponderantes pelas quais o sujeito aprende.
Interessante notar a questão tão discutida atualmente sobre o momento mais adequado sobre a idade ideal para alfabetizar e letrar. O que verificamos do ponto de vista da Neurociência é a de que a idade psicológica não corresponde à idade cronológica. Além disso, não há nenhum estudo recente que indica que haja prejuízos ao desenvolvimento e aprendizagem da criança à aprendizagem da leitura e escrita ao final da idade pré-escolar. O que é indicado é que são necessárias neoformações básicas, tais como: a imaginação, a capacidade de reflexão, capacidade de atenção sustentada.
Ao organizar a leitura, o cérebro humano aciona diversas áreas e mecanismos cerebrais (nível psicofisiológico) formados a partir da própria atividade da leitura e da escrita.
Conforme explicita Menegassi (1995), os aspectos neuropsicológicos envolvidos no ato da leitura e escrita são:
O ouvido fonemático;
Análises e sínteses cinestésicos-táteis;
Organização sequencial motora;
Regulação e o controle da atividade voluntária;
Análise e síntese espacial;
Retenção audioverbal;
Retenção visualverbal.
Todos esses aspectos situam-se nas áreas secundárias e terciárias do córtex cerebral e não em uma única área especializada.
A leitura se dá a partir da coordenação de informações visual e não visual. Segundo Smith (2003), a informação visual é uma parte do processo de leitura, mas não é a única. É preciso também a informação não-visual, que constitui o conhecimento sobre o assunto, ou seja, aquilo que discutimos sobre o conhecimento prévio. Por exemplo, o conhecimento sobre como ler é uma informação não visual que faz parte da leitura. Desse exemplo, podemos perceber as razões de algumas crianças sentirem muitas dificuldades em ler e escrever, ou seja, possuem poucas informações não-visuais que tornam esses atos muito complexos. Em outras palavras, a leitura é o pensamento que está direcionado sobre uma informação visual impressa. Por isso, podemos dizer que é quase impossível ler sem pensar. Isso somente é possível quando se lê algum texto no qual não há nenhum sentido.
SEÇÃO 3 DE APRENDIZAGEM – IDENTIFICAÇÃO DE LETRAS E PALAVRAS NO CÉREBRO HUMANO
O aspecto relacionado às letras revela uma das discussões acerca do processo de alfabetização e letramento. Identificar letras ou palavras individuais é um dos aspectos envolvidos na leitura e na escrita. Porém, já de início expomos que a leitura fluente não se relaciona, do ponto de vista do cérebro humano, com a leitura isolada de letras e palavras. Além disso, é diferente conceitualmente e do ponto de vista do processamento da informação os processos cognitivos de identificar e reconhecer letras. Identificar letras significa decidir se esta ou aquela letra com o qual se confronta deve ser colocada em uma determinada categoria. Reconhecer envolve a ideia de que o objeto com o qual nos confrontamos já foi visto anteriormente, mesmo que ele não tenha sido identificado anteriormente.
Assim:
A letra é composta de duas categorizações: uma categorização gráfica (design ou desenho da letra) e a categorização funcional (função da letra no contexto da palavra). Representamos essa informação por meio de um esquema. Letra é sempre uma construção simbólica do cérebro. As letras e sua identificação envolvem a discriminação visual, bem como a categorização visual. Acompanhe comigo!
Nos planos da linguagem acima exposto sempre é bom destacar que há uma unidade autêntica entre o aspecto semântico (construção do sentido/significado) e o aspecto sonoro exterior (construção da consciência fonológica, por exemplo). O aspecto semântico é guiado por um processo de análise e o aspecto sonoro é construído pelo processo de síntese.
A conclusão específica a ser extraída (...) é a de que as letras são, na verdade, compostas de um número relativamente pequeno de características. As letras que são facilmente confundidas, como ae e, ou t e f, devem ter um número de características em comum, e aquelas que raramente são confundidas, como o e wou d e y, devem ter poucas características, ou nenhuma em comum. A conclusão geral a ser extraída é a de que o sistema visual é realmente analítico de características. A identificação de letras é conseguida pelo exame do olho do ambiente visual para as informações sobre as características que eliminarão todas as alternativas, exceto uma, assim permitindo que uma identificação seja feita (SMITH, 2003, p. 141).
Identificar as letras é muito diferente de reconhecer as letras. Identificar é uma decisão do sujeito em determinar se um determinado objeto com o qual o cérebro se confronta deve ser colocado em uma categoria ou não. De acordo com isso, na identificação das letras não há necessidade de ter visto a letra anteriormente. Já o reconhecimento implica em já ter visto o objeto (letra) antes. Por isso, dizemos no nosso cotidiano que reconhecemos uma pessoa sem identificar o seu nome. Lembramos também que o cérebro humano constitui redes neuronais específicas para o processamento das letras.
Além da identificação e reconhecimento das letras, outro ponto necessário para nosso estudo é o processo de como o nosso cérebro reconhece as palavras. Primeiramente, podemos entender que as palavras e sua compreensão sempre se modificam conformeocorre o desenvolvimento do cérebro. Além disso, isso nos leva a considerar que se a palavra modifica-se, modifica-se também o pensamento. Já assinalamos anteriormente que, segundo Vygotsky (1987, p. 409), “[...] o pensamento não se exprime na palavra, mas nela se realiza”. Disso decorrem alguns pontos necessários para nossa reflexão:
O significado/sentido da palavra sempre é algo mutável, ou seja, inconstante. Por essa razão é que Smith (2003, p. 190) afirma que “[...] o significado está além das palavras, não se pode dizer o que é significado em geral, não mais do que se pode dizer qual é o sentido particular de determinada palavra ou grupo de palavras [...]”.
A palavra sempre contém uma generalização, pois é uma tentativa de controlar o aspecto inconstante do seu significado. A causa disso está no fato de que o nosso cérebro não deixa de ficar perplexo diante das inúmeras possibilidades de entendimento da palavra. A sintaxe, a gramática, a ortografia são tentativas de “congelar” esses sentidos para que sejam acessados e compreendidos pelos sujeitos praticantes de um idioma. Em palavras mais simples: nós estabelecemos acordos, convenções para lidar com esses sentidos inconstantes que as palavras podem ter no contexto do pensamento e da linguagem.
A linguagem falada e escrita exerce uma função muito significativa no processo de leitura. Assim, há dois aspectos presentes na linguagem: a linguagem aparente e a linguagem profunda. A linguagem aparente é aquela observável diretamente, por exemplo, por meio da oralidade. A linguagem profunda é denominada como linguagem interior. A linguagem interior se dá no interior da criança, isto é, esta pensa e imagina a palavra em vez de (ou antes) de pronunciá-la. Outro aspecto importante é a de que as frases não são entendidas e compreendidas por palavras isoladas.
Um dos mecanismos que o cérebro humano dispõe para compreender é o da previsão. A previsão como forma de compreender palavras/frases constitui-se como um processamento de informação direcionado a eliminar previamente alternativas que sejam improváveis no contexto no qual está a palavra e a frase.
O mecanismo da previsão não é aprendido e desenvolvido pelo sujeito de forma espontânea. Ao contrário, é algo que deve ser ensinado e trabalho no espaço institucional da escola. A previsão possibilita ao leitor, diante da incerteza que tem frente ao sentido de uma palavra/frase, que ele possa limitar o verdadeiro sentido a apenas alguns aspectos.
Pelo fato de que o cérebro humano realiza a leitura por meio de um mecanismo chamado de previsão, nos leva a considerar que a leitura não é somente um mero processo de decodificação. Pelo fato de que o cérebro humano fica sempre à frente das palavras, ler é um processo criativo, ativo de compreensão. Aquele que lê e escreve não prestam atenção direta e única da palavra como um processo mecânico de tradução como se suas mentes estivessem vazias, sem um objetivo anterior ou uma determinada expectativa. Muito ao contrário, a leitura e a escrita pressupõem conhecimento prévio, um objetivo e certa dose de expectativa. Portanto, dizemos que ler e escrever são atividades-meio que se direcionam à constituição de um projeto pessoal do leitor.
Ler e escrever sempre envolve as emoções do sujeito. Segundo Smith (2003, p. 49), “[...] a linguagem é compreendida mantendo-se à frente dos detalhes recebidos, com os quais o cérebro humano luta para relacionar-se”. Ou seja, o cérebro luta para evitar ambiguidades. Assim, do ponto de vista do cérebro humano, as palavras:
São organizadas;
São selecionadas;
Escolhidas e expressas em um veículo (oral ou escrito);
Dependentes da situação na qual ela é utilizada;
Dependentes do contexto no qual ela é utilizada.
A especialização da linguagem escrita e falada (oralidade) possui convenções (acordos) diferentes cada qual com suas regras específicas. Isso indica que não falamos da forma que escrevemos e nem escrevemos tal qual o modo pelo qual falamos. Com base em Smith (2003), a palavra, quando é pronunciada (oralidade), ela “morre”, pois está associada à memória de curto prazo. A palavra escrita, ao contrário, depende estritamente daquilo que podemos lembrar e daquilo que efetivamente lembramos, isto é, das estruturas da memória de longo prazo.
Como já afirmamos anteriormente, a linguagem falada ou escrita sempre depende de convenções, pois estas permitem a previsão. Sempre é importante lembrar que esses acordos/convenções são eminentemente sociais, ou seja, expressam um contrato ou uma identificação social que pertence ao grupo praticante de um idioma. Por isso, o aspecto cultural que sustenta a linguagem é muito importante. E é claro, isso já nos remete ao conceito já estruturado na unidade anterior sobre o processo de letramento que sempre se refere aos usos e prática sociais que envolvem a leitura e a escrita.
Ler é uma atividade-meio de interação entre o escritor e o leitor mediatizado pela cultura. Portanto, ler depende diretamente da informação visual e da informação não-visual que captamos do meio por meio dos nossos olhos. Os olhos são os dispositivos pelos quais observamos, mas é o cérebro humano que realiza a leitura que constitui uma atividade de processamento das informações captadas do meio. Ver é uma decisão perceptiva do cérebro humano. Podemos dizer que quanto maior for a informação visual sobre o que se lê, menor a necessidade de informação não visual. O contrário também é verdadeiro: quanto maior for a informação não visual, menor será a necessidade de informação visual. Tanto isso é verdade que nesta unidade de estudo conciliamos informações visuais (texto escrito, desenhos, gráficos) e não visuais (conceitos).
Além da identificação das letras e das palavras, o cérebro, no processamento das informações, também se dedica a identificar os sentidos. Os sentidos/significados do texto não são imediatamente atribuídos ao texto. Assim é que os sentidos são sempre mediados pelo texto. O significado nos auxilia na compreensão das palavras. Por isso, a dedicação constante que os professores realizam em sala de aula para que os alunos possam acessar os sentidos do texto (interpretação textual)! Compreender é um processo ativo do cérebro que se relaciona com aquilo que o leitor/escritor já sabem e àquilo que desejam saber. A construção dos sentidos é um processo primário, fundamental. As palavras escritas constituem um processo secundário à compreensão. Por exemplo: o fato de ficarmos repetindo para nós mesmos a palavra “casa” de forma contínua não garante a compreensão do significado dessa palavra. O mesmo acontece com palavras de outros idiomas. Se eu não sou um sujeito da linguagem do idioma em inglês, o fato de eu ficar repetindo a palavra “table” de forma contínua não garantirá que eu entenda o seu significado. Por isso é que Smith (2003) expõe que a palavra em si é uma estrutura de superfície e que o significado desta não pode ser captado por meio de uma rede de palavras.
A diferença, acerca da compreensão, é que os leitores trazem ao texto questões implícitas sobre o significado, em vez de sobre as letras ou palavras. O termo identificação do sentido também ajuda a enfatizar que a compreensão é um processo ativo. O significado não reside na estrutura da superfície. O significado que os leitores compreendem a partir do texto é sempre relativo àquilo que já sabem e àquilo que desejam saber. Colocado de outra maneira, a compreensão envolve a redução da incerteza do leitor, que faz perguntas e obtém respostas, um ponto de vista já empregado na discussão sobre a identificação de letras e palavras. Os leitores devem ter especificações sobre o significado (SMITH, 2003, p. 186).
Os fatores de compreensão da leitura são os aspectos compartilhados entre o leitor e o escritor, as informações que estes têm dos elementos linguísticos, dos esquemas mentais, da formação cultural e do contexto no qual se produz a fala e a escrita.
As estratégias de leitura constituem um fator importante para a leitura fluente.As estratégias de leitura envolvem processamento de informações no cérebro humano que o leitor utiliza para lidar com as informações visuais e não visuais. As estratégias de leitura são de natureza cognitiva e complexa de serem observadas e controladas.
Por isso é que dizemos que:
A leitura nunca é uma atividade abstrata, sem finalidade, embora seja frequentemente estudada deste modo por pesquisadores e teóricos e, infelizmente, ainda seja ensinada deste modo para muitos aprendizes. Os leitores sempre lêem algo, lêem com uma finalidade; a leitura e sua rememoração sempre envolve emoções, bem como conhecimento e experiência (SMITH, 2003, p. 198).
A aprendizagem e o desenvolvimento das estratégias de leitura e de escrita se aperfeiçoam no exercício dessas práticas. Tudo vem com o tempo e com a prática. A automatização dessas atividades no cérebro humano é refinada a partir da experiência.
Além das estratégias cognitivas que são de difícil observação e controle, há as estratégias metacognitivas, que são mais controladas e observáveis. Por isso, podem ser controladas pelo leitor e escritor. Segundo Goodman (2003), as estratégias metacognitivas são:
Predição: que é a estratégia pela qual o leitor antecipa-se ao próprio texto e vai construindo sua compreensão. É, de certa forma, uma competência de prever o que o texto tratará.
Correção: competência pela qual o sujeito leitor retrocede em sua interpretação. Ao prever o significado do texto por meio da previsão, a hipótese levantada pode não se verificar ou estar incorreta. Assim, o mecanismo que o leitor utiliza é a correção para “redirecionar” ao verdadeiro sentido do texto.
Seleção: competência pela qual o leitor seleciona (escolhe) diante das informações do texto as que sejam efetivamente relevantes para compreender o que o texto propõe e a sua finalidade.
Inferência: competência por meio da qual o leitor complementa as informações do texto que está lendo tendo como referência conhecimentos e sua bagagem cultural.
Confirmação: competência pela qual o leitor verifica se as predições e as inferências realizadas sobre o texto se confirmam ou não diante dos objetivos e propósitos do texto.
SEÇÃO 4 DE APRENDIZAGEM – PARA NÃO CONCLUIR...
Querido aluno e aluna.
Até aqui, tentamos construir uma caminhada que se pretendeu ser lógica e pontual sobre o universo da leitura e da escrita. Meu maior desejo é que você não se contente ou se sinta e satisfeito com este texto tecido a partir da organização das ideias que se construíram a partir de minha visão. Meu desafio a você é que vá mais longe, pesquise mais. Supere essas páginas.
Lindo isso, não?
Para tal, coloco abaixo um conjunto de textos de aprofundamento que podem ser acessados por você. Vamos lá?

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