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Conservação de Espécies e Comunidades 1. Extinção: A conservação das espécies lida primariamente com extinção e como preveni-la. Extinção é a falha de uma espécie ou população em manter-se através da reprodução. E falha pode ocorrer de 2 formas: Quando o último indivíduo morre. Quando os sobreviventes são incapazes de produzir descendentes viáveis. A extinção está relacionada a problemas genéticos e padrões demográficos, constituindo o evento que o movimento conservacionista tenta prevenir. A extinção pode ser de três tipos: Evolucionária Ecológica Induzida pelo homem 1.1. Evolucionária: Já existiram no mundo 4,9 x 109 espécies, das quais somente 10% ainda existem. A extinção é um processo natural. A evolucionária pode ocorrer de duas formas: Tradicional (básica) Em massa Critérios de suscetibilidade à extinção evolucionária: Dispersão Área de uso Clades Ocorreram 6 grandes episódios de extinção nos últimos 10 milhões de anos: Maior: 5 milhões Mais recente: 10 mil (Rancholabrean) Mamíferos de grande porte são mais vulneráveis durante episódios de extinção, porém pequenos mamíferos também podem ser afetados adversamente, especialmente durante os episódios de resfriamento e grandes mudanças florísticas. 1.2. Ecológica: a) Fatores Bióticos: Competição Predação Parasitismo e doenças Um paradoxo aparente dos fatores biológicos que contribuem para extinção é a insignificância da predação, doenças e, especialmente, competição em biotas continentais estáveis. Incorreto concluir que predação, doenças e competição não são importantes. Estes fatores impõem uma carga energética e genética, que em combinação, vão diminuir a expectativa de vida. b) Isolamento: 75% das espécies de aves e mamíferos (58 de 82) que foram extintas recentemente eram formas insulares. Razões para susceptibilidade de formas insulares: Tamanho Erosão de defesas contra outras espécies c) Alteração e Destruição de Habitats: Espécies só estão salvas à proporção que seus habitats estão salvos. Agentes causadores: Mudanças geológicas lentas (extinção evolucionária) Mudanças climáticas (pode mudar a distribuição tanto em latitude quanto em altitude) Eventos catastróficos (usualmente um evento localizado) Homem (nenhum outro é tão devastador) 1.3. Induzida pelo Homem: Durante o Pleistoceno: 60% dos gêneros de mamíferos foram extintos, exceto na África. Postula-se que isto possa ter sido induzido pelo homem. Na África, o homem evoluiu juntamente com os animais, permitindo aos mesmos adaptarem-se. Não somente o homem ocidental é responsável pela extinção. Nas ilhas havaianas, 51% (50 espécies) de aves terrestres foram extintas em tempo pré-histórico e 17 em tempo histórico. 2. Fatores que Levam à Extinção: Raridade (baixa densidade) Raridade (distribuição localizada e dispersa) Habilidade de dispersão limitada Endogamia Perda da heterozigosidade Efeito do fundador Hibridização Sucessiva perda de habitat Variação ambiental Tendências do meio ambiente Catástrofes Extinção ou redução de populações mutualísticas Competição Predação Doenças Caça e coleta Distúrbios ou alterações do habitat Destruição do habitat Obs: Muitos destes fatores só se tornam operantes depois de outros fatores já haverem reduzido a população local. 3. Espécies Suscetíveis à Extinção: 3.1. Espécies em Níveis Tróficos Elevados e os Maiores Membros de Guildas: Recursos alimentares dispersos Demanda metabólica alta Área de vida maior Taxa reprodutiva baixa Medidas Protetoras: Proibir a caça Educação ambiental Tamanho das unidades de conservação 3.2. Espécies de Ampla Distribuição (Mas com pouca habilidade de dispersão e colonização): Requerimento de habitats específicos Vulneráveis à extinção pela destruição do habitat Medidas Protetoras: Proteger os requerimentos de habitat 3.3. Espécies Endêmicas (Espécies de distribuição restrita): a) Endêmicos Continentais: Espécies de distribuição restrita por razões estritamente evolutivas. Requerimentos de habitat restrito Medidas Protetoras: Pesquisar para identificar locais de endemismo, distribuição e necessidades de habitat Espécies endêmicas são, em sua maioria, pequenos organismos com pequena necessidade de área e energia. b) Endêmicas de Ilhas: Espécies extraordinariamente frágeis (evoluíram na ausência de predadores e competidores) Destruição do habitat Caça excessiva Doenças, predadores e competidores introduzidos Medidas Protetoras: Proteção do habitat Proteção contra e eliminação de exóticos 3.4. Espécies com Reprodução em Áreas Restritas: Perigo: introdução de exóticos Medidas Protetoras: Proteger áreas de reprodução Remoção de predadores 3.5. Espécies Migratórias: Medidas Protetoras: Políticas Requer cooperação em vários níveis 4. Grau de Plasticidade Evolutiva: Habilidade da espécie em responder às alterações ambientais Estratégias r e K Uma população K estrategista seria uma população para a qual a capacidade de suporte do meio é um fator restritivo. Por conseguinte, os indivíduos de uma população K estrategista tendem a preparar a prole para a competição por alimento, e a apresentar um tempo de vida mais longo em comparação a indivíduos de espécies r estrategistas. As espécies com estratégia demográfica de tipo seleção “K” são tipicamente competidoras com outras espécies, em nichos já bem preenchidos, investindo mais numa descendência menos prolífica, com cada descendente tendo uma maior probabilidade de sobreviver até à idade adulta. Apresentam comumente comportamentos de cuidados parentais, já que investem principalmente na sobrevivência e longevidade da prole. Podem também ser chamadas de espécies k estrategistas. Como exemplo de espécie K estrategista pode-se citar as onças em algumas matas brasileiras. Para as espécies r estrategistas, por outro lado, a capacidade de suporte não é um fator restritivo, com indivíduos com tempo de vida mais curto, e que tendem a não apresentar cuidado com a prole. Em termos gerais, as espécies com estratégia demográfica de tipo seleção “r” exploram nichos ecológicos vazios, e produzem um elevado número de descendentes a cada ciclo reprodutivo, ainda que cada um tenha poucas hipóteses individuais de sobreviver até à idade adulta. Podem apresentar picos populacionais. Podem também ser chamadas de espécies r estrategistas. Um exemplo seriam mosquitos que proliferam em áreas próximas a rios ou lagos. 5. População Mínima Viável (PMV): É a menor população isolada a apresentar chance de sobrevivência por 1000 anos a 99%, a despeito dos efeitos demográficos, ambientais, genéticos e catástrofes naturais. Quanto menor a população, maior a chance de extinção em qualquer período de tempo. Quanto mais longo o período de tempo, maior a chance de extinção para quaisquer tamanhos populacionais O conceito de PMV surgiu pelo reconhecimento de que extinção é um fenômeno probabilístico e que as chances de sobrevivência não podem ser avaliadas sem considerar-se o período de tempo e um nível de segurança Parâmetros para análise de uma PMV: Número de animais Requerimento mínimo de área Tempo de persistência 6. Tomada de Decisões e Conservação de Espécies: a) Qual é o status do animal? b) Qual é a PMV? c) Quais são os cursos alternativos de ação? d) Quais as consequências de cada alternativa? e) Quais informações estão disponíveis para relacionar a magnitude de cada ação com suas prováveis consequências? f) Qual critério a ser usado para julgar a melhor alternativa? g) Quais procedimentos devem ser usados para direcionar ações futuras, dado o status da espécie? Análise de Decisão: Prover mecanismos para uma avaliação das alternativas de forma clara, lógica e replicável Medidas de manejo que podem ser tomadas (para espécies criticamente em perigo): 6.1. População Silvestre e Habitat: Translocação de indivíduos ou material genético. Aumentar a capacidade de sustentação (suplementação alimentar). Restringirdispersão (cercar área). Criar filhotes. Reduzir mortalidade (vacinação, controle de caça). Remoção (abate) programada de alguns indivíduos. Preservação do habitat. Restauração do habitat. 6.2. População em Cativeiro: Manter populações reprodutivas para reintroduções e/ou perpetuação permanente em cativeiro. Manejo genético e demográfico. Manutenção de gametas e embriões congelados. 6.3. População Silvestre e em Cativeiro: Reintrodução de indivíduos criados em cativeiro ou de material genético em habitats ocupados e não ocupados. Contínua captura de exemplares silvestres ou material genético para propagação em cativeiro. A melhor maneira de determinar as melhores ações é através da análise da probabilidade de extinção (pE) e probabilidade de extinção esperada (E(pE)) Ex: Rinoceronte de Sumatra (Didermocerus sumatrensis) Se nenhuma medida for tomada: pE = 0.99 (Borneo) x 0.95 (Sumatra) x 0.9 (Malásia) = 0.85 85% de chance de extinção em 30 anos Medida E(pE) Custo-Benefício Status quo (nenhuma medida) 0.86 0 Intervenção (controle caça) 0.84 3.05 Nova reserva 0.69 1.80 Expandir reserva 0.53 1.08 Cercar reserva 0.55 0.60 Translocação 0.93 1.01 Reprodução em cativeiro 0.19 3.69 Alternativas: Baseado na relação probabilidade de extinção/custo-benefício 1. Reprodução em cativeiro 2. Cercar reserva 3. Expandir reserva Conservação de Comunidades 1. Biogeografia de Ilhas: A conservação ao nível de comunidades está intrinsecamente relacionada às unidades de conservação e à biogeografia de ilhas Aplicada à conservação em função da fragmentação e isolamento dos habitats (formação de “ilhas” de habitat) Em geral ilhas grandes comportam mais espécies do que ilhas pequenas (maior variedade de habitats, mais nichos, maior número de espécies). A área em si é secundária, o importante é a diversidade de habitats (a qual tende a aumentar com o aumento da área) Na relação entre espécies e área existe diferença entre ilhas continentais e ilhas oceânicas Existe um tamanho limite abaixo do qual ilhas continentais comportam-se como ilhas oceânicas (250km2) 1.1. Teoria do Equilíbrio de Espécies: Taxa de imigração de novas espécies para uma ilha diminui na proporção que o número de espécies dessa ilha aumenta (o oposto p/ taxa de extinção) Equilíbrio: extinção = imigração Não especifica quais espécies serão extintas e quais serão colonizadoras 1.2. Tamanho da Ilha e Distância: A taxa de imigração deve ser relacionada à distância de dispersão. Quanto mais distante a ilha for da fonte, menor será a taxa de imigração A taxa de extinção também é sensível ao tamanho da ilha. Ilhas menores têm taxas de extinção mais altas. Ilhas com maior número de espécies são, portanto, provavelmente aquelas próximas do continente e de tamanho grande. 1.3. Relaxamento Faunístico: É a perda do número de espécies a um novo nível sustentável no decorrer do tempo devido ao inadequamento da área, por exemplo perda de espécies em decorrência do tamanho da área. Relaxamento faunístico é mais pronunciado em áreas pequenas e também em ilhas oceânicas 2. Tamanho de Reservas Naturais: Quão grande devem ser as reservas? Newmark 1987: Análise da unidade de conservação (UC) da América do Norte A perda de espécies de mamíferos após o estabelecimento das UC’s foi consistente com as previsões da hipótese da ilha continental Extinção natural pós-estabelecimento das UC’s excede o número de colonização Número de extinção pós-estabelecimento é significativa e inversamente relacionada ao tamanho das UC’s Reservas pequenas: menor tamanho populacional maior probabilidade de extinção Parque % espécies extintas Área km2 Bryce Canyon 36 144 Lassen Volcanic 43 426 Zion 36 588 Crater Lake 31 641 Manning Provincial 26 712 Mount Rainier 32 976 Rocky Mountain 31 1.049 Yosemite 25 2.083 Sequoia-Kings Canyon 23 3.389 Olympic 6 3.628 Glacier-Waterton Lakes 7 4.627 Grand Canyon 18 4.931 Grand Teton-Yellowstone 4 10.328 Kootenay-Banff-Jasper-Yoho 0 20.736 2.1. Planejamento de UC’s: Critérios para determinar locais para estabelecimento de parques e reservas biológicas: Aspectos biológicos Verificar se a área é ocupada (muitas pessoas inviabilizam a criação de parques) Área deve ser grande o bastante (Terborgh mínimo 2.500km2 p/ manter um sistema funcional a longo prazo) + zona tampão Evitar áreas de mineração Área não deverá conter populações indígenas Tentar seguir limites naturais Deve ser compacto (menor problema com invasões) Sempre que possível, incluir a maior variedade de comunidades de plantas e paisagens da área em questão. Tamanhos e Formas 3. Conservação Mundial: Educação é uma das melhores estratégias para a conservação a longo prazo Objetivos para uma estratégia de conservação mundial: Manter processos ecológicos essenciais e sistemas de suporte da vida Preservar diversidade genética Garantir a sustentabilidade de espécies e ecossistemas CONCLUSÕES As informações sobre extinções recentes, de uma forma ou de outra estão ligadas ao homem. Formas insulares são, de longe, as mais suscetíveis às mudanças de qualquer tipo (não podem imigrar, suscetível a predadores, etc.). Isolamento em continentes do 1-Homem, 2-Análogos ecológicos superiores, são precursores de extinção em massa. Predação pode: 1-reduzir a densidade de presas (+ raramente) até eliminá-las; 2-aumentar a chance de extinção pela redução da quantidade de áreas ocupadas pela presa (reduz o nº). Competição, como a predação, tenderá a reduzir a densidade e área de distribuição das espécies em confrontação. Efeitos: contração da área de ocorrência; proporções constantes no tamanho do corpo ou órgãos alimentares entre espécies simpátricas; substituição por outra ecologicamente análoga. Destruição e alteração do habitat é hoje (não sempre) o maior agente de extinção. Passado: mudanças climáticas Nenhum desses agentes é tão rápido como o homem do século XX / XXI. O tamanho das reservas / ilhas é mais importante que a distância. O tamanho das UC´s é extremamente importante para integridade e continuidade evolutiva das comunidades. As UC´s atualmente existentes são insuficientes para manutenção da biodiversidade a longo prazo, caso sejam isoladas (i.e., não conectadas).
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