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Aula 07 Literatura Portuguesa

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Aula 07 Literatura Portuguesa: O REALISMO EM PORTUGAL
O Realismo em Portugal
O Realismo foi um movimento estético surgido na Europa, mais precisamente na França, em meados do século dezenove. De modo geral, podemos indicar o desejo de representar a realidade circundante como um aspecto existente, desde sempre, nas manifestações artísticas; o que chamamos de Realismo, aqui, transcende este aspecto e refere-se, especificamente, a uma escola estética, com modos de pensar a arte, orientações e procedimentos próprios.
Como movimento específico, o Realismo tem a sua origem no campo das Artes Plásticas, na década de quarenta, a partir das propostas do francês Gustave Courbet, que se orientavam para a ruptura com as normas impostas pela pintura acadêmica.
Courbet exigia uma nova arte, interessada em representar o mundo através de um olhar esvaziado de idealização. Supera a dicotomia entre a arte clássica e a arte romântica ao postular o fazer artístico a partir da “abordagem direta da realidade, independente de qualquer poética previamente constituída. Era a superação simultânea do “clássico” e do “romântico” enquanto poéticas destinadas a mediar, condicionar e orientar a relação do artista com a realidade” (ARGAN, Giulio. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2002).
Em busca de uma arte potente para simbolizar a experiência subjetiva fora de normas e procedimentos previamente estabelecidos, o artista deveria fruir a experiência de abordar a realidade de modo livre e não idealizado. Diante dessas premissas, por exemplo, Courbet pinta quadros como “Moças à beira do rio Sena”, no qual as convenções são quebradas a partir do momento em que se pinta uma cena externa, fora de qualquer idealização: o espaço natural é estranho e feio; as moças não são belas e estão amarrotadas e despenteadas.
No campo da literatura, a emergência do movimento realista é identificada com a publicação de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, na década de sessenta do século XIX. Aconselhado por um amigo a escrever de um modo menos afetado, Flaubert teria encontrado uma notícia de jornal sobre o suicídio da esposa de um médico de província. O escritor não pesquisou a história real ou quis basear-se nela, mas, a partir do mote dado pela notícia, iniciou a sua obra.
Madame Bovary narra a história de Emma, casada com o medíocre doutor Charles Bovary. Alimentada por histórias românticas, Emma desenvolve uma percepção precária e distorcida da realidade, em uma tentativa histérica de transferir o imaginário ficcional romântico para um cotidiano limitado e entediante.
No romance, o universo burguês é dissecado e representado de modo crítico e impiedoso. Valores caros à burguesia, como o patriarcalismo, o Cristianismo tradicional, a maternidade e o amor espiritual são questionados. A questão do adultério feminino põe em xeque a estrutura patriarcal; a representação de Emma como uma mãe desleixada, capaz de preferir o amante à filha e de olhá-la e pensar em como esta é feia desconstrói a imagem da mulher pura e devotada ao lar.
Na narrativa, pouco a pouco as escolhas românticas e ambiciosas de Emma, o seu inconformismo e o desejo de ser uma mulher diferente do papel reservado pela sociedade levam-na à destruição. Até a sua morte revela a crítica ao imaginário romântico divulgado nos romances, pois Emma decide envenenar-se e aguardar, lânguida, o seu fim. Porém, o narrador descreve minuciosamente toda a agonia de uma morte lenta e dolorosa provocada por aquele que seria o último equívoco da protagonista, causado pela leitura romanesca.
O movimento inaugurado na literatura com a publicação de Madame Bovary alcança Portugal cerca de três décadas depois. Os artistas portugueses que abraçaram o Realismo ficaram conhecidos como membros da “geração de 70”. 
Como ocorreu em outros países europeus, o Realismo português caracterizava-se, de modo geral, pela oposição ao universo romântico, ao sentimentalismo e ao egocentrismo. Sua postura racional, objetiva e universal rejeitava o que via como artificialismos e exageros românticos. À percepção da realidade como projeção de um estado psíquico subjetivo, os escritores realistas opunham um olhar lógico, reflexivo e investigativo face ao real.
Geralmente, a formação dos escritores realistas tinha como base as teorias filosóficas advindas das correntes materialistas dos Oitocentos. O diálogo com o Cientificismo, o Evolucionismo, o Determinismo, a dialética hegeliana e o Positivismo, principalmente, nutriram o imaginário de uma geração à qual se chamou “materialista”, por sua posição filosófica.
O Artista Realista
O artista realista assumia-se como um ser engajado e comprometido com a reflexão sobre o mundo e a sua possível transformação. A literatura era percebida como um instrumento muito poderoso de pensamento, crítica e ação política, social e cultural. Através da palavra literária, criar-se-ia um mapeamento da sociedade e de suas fraturas, que deveriam ser trazidas à tona em sua representação no jogo simbólico literário.
Com a visão de um mundo em transformação, que emerge a noção de “intelectual”, quando o romancista Émile Zola escreve o artigo “Eu acuso!”, no qual defendia o um oficial francês injustamente condenado, por antissemitismo.
De um modo pejorativo, Zola foi chamado de intelectual, em alusão ao fato de estar interferindo em um assunto que não lhe diria respeito, por ser escritor. Evidentemente, o autor rejeitou vivamente a crítica, mostrando como o artista precisava assumir o seu engajamento.
Os membros da “geração de 70” formam-se, pois, em meio a tal contexto, quando em Portugal o Liberalismo estava consolidado. Ao contrário da geração romântica e de sua luta em impor um veio cultural laico e burguês, como nos lembra Antonio Saraiva (In: História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2008, p. 797).
Convém destacar que além do documento em si, a Agenda 21 é um processo de planejamento participativo que resulta na análise da situação atual de um país, estado, município, região, setor e planeja o futuro de forma socioambientalmente sustentável.
Apesar do contexto mais liberal, em relação aos românticos, os jovens da geração de 70 encontraram Portugal um pouco mais evoluído, em contato com as novidades artísticas e filosóficas alemãs, francesas e inglesas, mas ainda estagnado e tacanho, se comparado a outros países europeus. A formação dos artistas realistas portugueses deu-se no choque entre uma educação progressista, ancorada em ideais cientificistas, e a realidade limitada de seu país.
A energia intelectual da geração de 70 empregava-se no desejo de transgredir os modos de produção estéticos românticos e veio à tona com a Questão Coimbrã.
Convém destacar que além do documento em si, a Agenda 21 é um processo de planejamento participativo que resulta na análise da situação atual de um país, estado, município, região, setor e planeja o futuro de forma socioambientalmente sustentável.
A Questão Coimbra foi o embate travado entre os jovens artistas formados em Coimbra e um grupo de escritores com o desejo de defender o status quo da arte literária romântica. O escritor romântico Castilho escreveu um posfácio à obra “Poema da mocidade”, de Pinheiro Chagas. Nele, criticou severamente a produção do grupo de Coimbra, acusando-os de exibicionistas, de empregarem uma linguagem hermética no trato de temas sem relação com a poesia. Os jovens coimbrões diretamente atacados eram os poetas Antero de Quental e Teófilo Braga.
Em resposta aos ataques de Castilho, Antero de Quental publicou uma nota aberta ao autor nos jornais, chamada “Bom senso e bom gosto”, na qual postulava a missão do poeta como um pensador participativo e a liberdade da poesia. Afirmou Quental no texto que o ataque à Escola de Coimbra não seria a uma opinião literária, mas à independência dos novos escritores em relação aos antigos mestres da literatura portuguesa. Defende, assim, um posicionamento libertário do escritor:
“O escritor quer o espírito livre de jugos, o pensamento livre de preconceitose respeitos inúteis, o coração livre de vaidades, incorruptível e intemerato. Só assim serão grandes e fecundas as suas obras:
só assim merecerá o lugar de censor entre os homens, porque o terá alcançado, não pelo favor das turbas inconstantes e injustas, ou pelo patronato degradante dos grandes e ilustres, mas elevando-se naturalmente sobre todos pela ciência, pelo paciente estudo de si e dos outros, pela limpeza interior d'uma alma que só vê e busca o bem, o belo, o verdadeiro.”
Destarte, Quental apontou em “Bom senso e bom gosto” o que via como a condição cultural periférica de Portugal, diante do restante da França, Inglaterra e Alemanha, responsáveis, segundo o autor, pelo “grande espírito filosófico de nosso tempo”.
Mais tarde, os jovens escritores de Coimbra – Quental, Braga, Manuel Arriaga, Eça de Queirós e outros – passaram a se reunir em torno do Cassino Lisbonense, para um projeto de conferências, nas quais se discutiriam arte e planos para reformas sociais, e que foram proibidas pelo governo, em 1871.
A poética de Antero de Quental
Antero de Quental, como vimos, foi um dos catalisadores do movimento realista português, na condição de autor de “Bom senso e bom gosto”. 
Teve uma formação inicial católica que entraria em choque com a sua educação superior na faculdade de Coimbra, fundamentada nas filosofias materialistas do século XIX, como o Socialismo, o Evolucionismo, o Determinismo e o Positivismo.
A tensão entre os dois processos formativos foi um ponto importante na construção da obra poética de Quental. Segundo Antonio Saraiva, em seu livro Introdução à literatura portuguesa, este movimento trouxe a perda de sua crença inicial e desencadeou “um movimento intelectual e moral demolidor” (SARAIVA, 1999, p. 121), que depois alcançaria outros estudantes da época do autor, levados pelo espírito de liderança de Quental.
Os protestos e manifestos promovidos por Quental apoiavam-se no racionalismo e nas teorias cientificistas e na percepção da poesia como um instrumento transformador, pois segundo o autor “a Poesia é a voz da revolução”.
m seu primeiro livro, Odes Modernas, o tom de protesto já aparece no texto introdutório: "a poesia moderna é a voz da revolução, é o nome que o sacerdote da história, o tempo, deixou cair sobre a fronte fatídica do nosso século". A obra apresenta uma escrita poética vigorosa e voltada para a ideia de revolução, a partir de poemas com fortes diálogos com elementos da oratória e a adesão a determinadas imagens que já seriam lugares-comuns, na verdade.
Por outro lado, em Sonetos, o tom panfletário do primeiro livro é deslocado pelo perfil meditativo da maioria dos poemas. Há duas chaves de construção poética aqui: o idealismo e as reflexões sobre as aporias do mundo e da subjetividade, a partir de uma clave melancólica e alimentada pela matéria filosófica.
O idealismo revela-se em um olhar poético visionário seja para a figura feminina, 
seja para o sobrenatural ou para a busca de algo que pudesse equivaler à deidade.
O Eu lírico
O eu lírico representa-se como um Dom Quixote em defesa do sonho incerto, o que faz dele o “Vagabundo”, o “Deserdado”, o ser deslocado por ter um ideal. É um “cavaleiro andante” que se desloca por espaços físicos e psicológicos.
Na primeira estrofe, representa-se o entusiasmo da partida; na segunda, o cansaço do fracasso; na terceira, a consciência do deslocamento traz à tona a esperança, mas a chave de ouro na última estrofe do soneto revela o desalento da quebra da idealização.
A construção do poema faz-se, como em outros do autor, partindo de imagens capazes de narrar estados psicológicos, o que era inovador na poesia portuguesa.
A ausência de resposta para esse idealismo seria, na opinião do crítico literário Antonio Saraiva, o caminho para “o mergulho no angustiante pessimismo à Schopenhauer”, ou na filosofia de outros pensadores, como Hegel e até mesmo Proudhon.
mbora não haja grandes inovações formais na obra de Quental, ele inova ao deslocar a poesia portuguesa da temática predominantemente amorosa e perceber o poético como um elemento para a reflexão filosófica complexa. Isto poderia ser percebido na tematização recorrente de questões referentes aos processos evolutivos e de consciência. Para Saraiva, essa seria uma “dualidade insolúvel” que “é a razão ou o pretexto da angústia que faz nascer os sonetos”.
Eça de Queirós e o romance realista
Companheiro de Quental nas conferências do Cassino, escreveu, entre outras conferências, “A nova literatura, o Realismo como nova expressão da arte”. Segundo Saraiva, nesta conferência Eça propôs ideias ousadas, já que fez “a crítica do Romantismo e da Arte pela Arte e recomenda o Realismo como a “Arte que nos pinta os nossos olhos”. Grita “abaixo os heróis!” e insiste na circunstância de que o Homem é o produto. A nova literatura trazida pela geração de 70 ficou a partir daí identificada com o Realismo”.
Em seus textos de prosa, Eça esvazia a idealização em torno do sujeito, mostrando os seus desvios e fraturas. Ao apontar a fragilidade do ser, o autor pontua uma nova visão caracterizada pela assunção das limitações do Homem. A literatura de Eça chama a atenção para as relações de hipocrisia e para as desmedidas, em uma postura comprometida com a denúncia dos problemas sociais.
A Narrativa de Eça de Queirós
		Das alternativas abaixo, assinale a que NÃO faz parte dos temas utilizados por Eça de Queirós.
	
	
	
	
	 
	a aristocracia falida.
	
	
	a hipocrisia da sociedade burguesa.
	
	 
	o idealismo romântico.
	
	
	a injustiça social.
	
	
	o adultério.
	
	
	
		2.
		Pode-se afirmar que a estética realista Portugal promove:
	
	
	
	
	
	a denúncia dos males marítimos, visando embarcações mais seguras e bem equipadas.
	
	
	a denúncia dos males inflacionais, visando uma economia estável e segura.
	
	 
	a denúncia dos males raciais, visando uma sociedade democrática e culta.
	
	
	a denúncia dos fatores econômicos falidos, visando uma sociedade mais rica e desenvolvida.
	
	 
	a denúncia dos males sociais, visando uma sociedade progressista e justa.
	
	
	
		3.
		No trecho extraído de O Primo Basílio, de Eça de Queirós, a opção que melhor demonstra a ociosidade da vida da personagem Luísa, cujo marido (Jorge) está viajando a trabalho, é:
Havia doze dias que Jorge tinha partido e, apesar do calor e da poeira, Luísa vestia-se para ir à casa de Leopoldina. Se Jorge soubesse não havia de gostar, não! Mas estava tão farta de estar só! Aborrecia-se tanto! De manhã ainda tinha os arranjos, a costura, a toilette, algum romance... Mas de tarde!
À hora em que Jorge costumava voltar do ministério, a solidão parecia alargar-se em torno dela. Fazia-lhe tanta falta o seu toque de campainha, os seus passos no corredor!...
Ao crepúsculo, ao ver cair o dia, entristecia-se sem razão, caía numa vaga sentimentalidade : (...) o que pensava em tolices então! (Eça de Queirós. O Primo Basílio. São Paulo: Ateliê, 2000)
	
	
	
	
	
	"Fazia-lhe tanta falta o seu toque de campainha, os seus passos no corredor!..."
	
	
	"Havia doze dias que Jorge tinha partido e, apesar do calor e da poeira, Luísa vestia-se para ir à casa de Leopoldina. "
	
	
	"Se Jorge soubesse não havia de gostar, não!"
	
	 
	"Ao crepúsculo, ao ver cair o dia, entristecia-se sem razão, caía numa vaga sentimentalidade : (...) o que pensava em tolices então! "
	
	 
	"De manhã ainda tinha os arranjos, a costura, a toilette, algum romance... Mas de tarde!"
	
	
	
		4.
		É possível afirmar que Gustave Flaubert com sua obra Madame Bovary exerce grande influência sobre Eça de Queirós no romance O Primo Basílio. Analisando e comparando as obras é possível identificar várias semelhanças, tanto nas características estruturais destas como naspersonagens que as compõem.
De um lado, temos toda a história narrada em Madame Bovary que acontece na França no início do século XIX, no ano de 1857. De outro lado, temos a história narrada em O primo Basílio (1878), também no século XIX; narrativas que devastam e criticam as convenções burguesas daquele tempo que acontece tanto na França, quanto em Lisboa.
As duas histórias que se apóiam sobre Ema personagem flaubertiana e Luísa personagem queirosiana, estão demarcadas por um espaço temporal de vinte um anos entre uma e outra.
O principal tema contido nas obras supracitadas é a questão:
	
	
	
	
	
	da boêmia da época.
	
	
	da educação religiosa das personagens.
	
	
	da vida plena da burguesia.
	
	
	das leituras realistas das personagens
	
	 
	do adultério na classe média
	 Gabarito Comentado
	
	
		5.
		Das alternativas abaixo, assinale aquela que corresponde a literatos da década de 70, que eram conhecidos como os "moços de Coimbra" ou "Geração de 70".
	
	
	
	
	 
	Antero de Quental, Teófilo Braga e Eça de Queirós.
	
	
	Antônio Castro, Pedro Amaral e Lúcio Prado.
	
	
	Machado de Assis, Aluísio de Azevedo e Castro Alves.
	
	
	Aureliano Peixoto, Vasco da gama e Lúcio Verlupp.
	
	
	Antonio Pedro, Getúlio Vargas e Vasco da Gama.
	
	
	
		6.
		Como podemos definir a posição do escritor realista do século XIX diante da sociedade?
	
	
	
	
	
	Engajado, comprometido com uma reflexão sobre a sociedade, mas ciente de que o saber científico em nada alteraria as condições sociais do povo.
	
	
	Engajado, comprometido com uma reflexão sobre a sociedade, mas consciente de que, como artista, não podia mudar as regras sociais.
	
	
	Engajado, comprometido com uma reflexão sobre a sociedade, mas limitado por sua atuação política favorável à monarquia.
	
	 
	Engajado, ciente de sua participação na sociedade e comprometido com uma reflexão que pudesse levar a uma transformação dos costumes sociais.
	
	
	Engajado, ciente de sua participação na sociedade, mas comprometido com uma sociedade burguesa que determinava as normas sociais

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