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Conflito de leis no tempo, Artigo extraído de Direito.Net

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01/12/2014 Conflito de leis no tempo: é possível uma lei retroagir e alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada? ­ Artigo jurídico ­ Direi…
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28/dez/2013
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A relativização da coisa
julgada inconstitucional
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Conflito de leis no tempo: é
possível uma lei retroagir e
alcançar o ato jurídico perfeito,
o direito adquirido e a coisa
julgada?
A regra adotada pelo ordenamento jurídico é de que a norma
não poderá retroagir, ou seja, a lei nova não será aplicada às
situações constituídas sobre a vigência da lei revogada ou
modificada (princípio da irretroatividade).
Por Vinícius Rodrigues Bijos
Considerações Iniciais
É possível uma lei retroagir para alcançar o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada?
Antes de adentrarmos na análise dos conflitos de normas no tempo, devemos
analisar e compreender um pouco da lei que regula a referida questão.
Inicialmente, o Decreto­Lei n. 4.657/1942, em sua redação original, tinha como
ementa: “Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro” (LICC). Porém, com a entrada
em vigor da Lei n. 12.376/2010, o título do referido decreto­lei foi alterado para “Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro” (LINDB). Essa mudança ocorreu em
virtude de a LINDB não ser parte integrante do Código Civil, e sim uma lei
autônoma.
As normas previstas na LINDB não regulam apenas as partes integrantes do Código
Civil, mas todas as normas previstas no ordenamento jurídico. Ela não rege a vida
das pessoas, como é o caso do Código Civil, mas sim as próprias normas jurídicas,
alcançando tanto o direito privado, quanto o direito público.
Segundo Tartuce, a LINDB: “[...] é um conjunto de normas sobre normas, ou uma
norma de sobredireito (lex legum), eis que disciplina as próprias normas jurídicas,
01/12/2014 Conflito de leis no tempo: é possível uma lei retroagir e alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada? ­ Artigo jurídico ­ Direi…
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prevendo a maneira de sua aplicação no tempo e no espaço, bem como a sua
compreensão e o entendimento do seu sentido lógico, determinando também quais
são as fontes do direito, em complemento ao que consta na Constituição Federal.”
[1]
Feita as devidas considerações sobre a Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, passemos a análise da celeuma que envolve o instituto “conflito de leis no
tempo”, regulado pela referida lei, em especial sobre a possibilidade ou não de uma
lei retroagir para alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.
Conflitos de leis no tempo
Como é de conhecimento de todos, a lei, em regra, é feita para valer para o futuro.
Segundo Maria Helena Diniz, quando uma lei modifica ou regula, de forma diferente,
a matéria versada pela lei anterior, seja em decorrência da ab­rogação (revogação
total da lei anterior) ou pela derrogação (revogação parcial da lei anterior), podem
surgir conflitos entre as novas disposições e as relações jurídicas já consolidadas sob
a égide da velha norma revogada. [2]
Sendo assim, o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves faz o seguinte
questionamento: Será que é possível a aplicação da lei nova às situações
anteriormente constituídas? [3]
Para solucionar tal questão, a doutrina utiliza dois critérios. O primeiro critério diz
respeito às disposições transitórias, às quais são elaboradas pelo legislador, no
próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitos que poderão
surgir do confronto da nova lei com a antiga lei. Tais normas são temporárias e
conciliam a nova lei com as relações já definidas pela norma anterior. O segundo
critério, como bem explica Maria Helena Diniz, diz respeito ao princípio da
retroatividade e da irretroatividade das normas. [4]
A regra adotada pelo ordenamento jurídico é de que a norma não poderá retroagir,
ou seja, a lei nova não será aplicada às situações constituídas sobre a vigência da lei
revogada ou modificada (princípio da irretroatividade). Este princípio objetiva
assegurar a segurança, a certeza e a estabilidade do ordenamento jurídico.
É possível afirmar, ainda, que o referido princípio apresenta duplo fundamento,
sendo um de ordem constitucional e outro de ordem infraconstitucional. Vejamos:
01/12/2014 Conflito de leis no tempo: é possível uma lei retroagir e alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada? ­ Artigo jurídico ­ Direi…
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O art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal prevê que: “A lei não prejudicará o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.” [5] Já o art. 6º, da LINDB
diz o seguinte: “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.” [6]
Sendo assim, tendo como parâmetro estes dois fundamentos, é possível observar
que a regra da irretroatividade não é absoluta, tendo em vista que convive com
outro preceito de direito intertemporal, que é o da eficácia imediata e geral da lei
nova. Ou seja, em alguns casos a lei nova poderá retroagir. Além disso, Carlos
Roberto Gonçalves afirma que a irretroatividade das leis não possui caráter absoluto,
por razões de políticas legislativas, que por sua vez podem recomendar que, em
determinadas situações, a lei seja retroativa, atingindo os efeitos dos atos jurídicos
praticados sob o império da norma antiga. [7]
Nessa perspectiva, é possível se olvidar que a lei nova alcance os casos pendentes e
futuros decorrentes de situações pretéritas que se realizem sob a égide da lei
revogada, não abrangendo os fatos passados, nos quais se incluem o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
Em meio a essas explanações, vale aduzir o que venha ser ato jurídico perfeito,
direito adquirido e coisa julgada.
Sobre o assunto, Flávio Tartuce assevera que: “Direito adquirido: é o direito material
ou imaterial já incorporado ao patrimônio de uma pessoa natural, jurídica ou ente
despersonalizado.” [8]
Pela previsão do § 2º do art. 6º da LINDB: “consideram­se adquiridos assim os
direitos que seu titular, ou alguém por ela, possa exercer, como aqueles cujo começo
do exercício tenha tempo prefixo ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio
de outrem”. [9]
Isso quer dizer que o direito adquirido não se restringe apenas ao direito que já se
incorporou ao patrimônio de seu titular, mais também o exercício de um direito que
depende de um termo prefixo ou condição preestabelecida e que seja inalterável,
pelo arbítrio de outrem.
Com relação ao ato jurídico perfeito, Maria Helena Diniz diz que é o ato: “[...] já
consumado, seguindo a norma vigente ao tempo em que se efetuou. Já se tornou
apto para produzir os seus efeitos.” [10]
Por fim, a coisa julgada, também chamada de caso julgado, consiste na
01/12/2014 Conflito de leis no tempo: é possível uma lei retroagir e alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada? ­ Artigo jurídico ­ Direi…
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imutabilidade de uma sentença, ou seja, é a decisão prolatada da qual não caiba
mais recurso. [11]
Dessa forma, é possível perceber que a Constituição Federal, como a LINDB,
adotaram a Teoria de Francesco Gabba, que se apoia em total respeito ao direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, no intuito de preservação da
segurança jurídica.
Desta maneira, é possívelconcluir que a regra é a irretroatividade no que diga
respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e a coisa julgada, e a
possibilidade da retroatividade no que diga respeito a casos pendentes e futuros.
Logo, a regra é que a lei só pode retroagir, para atingir fatos consumados quando
não ofender o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, e quando o
legislador, expressamente, mandar aplicá­la a casos passados, mesmo que a palavra
“retroatividade” não seja usada. [12]
Diante disso, a doutrina reconhece três tipos de retroatividade, quais sejam:
Retroatividade máxima, também chamada de restitutória, que é aquela em que a lei
nova ataca fatos pretéritos, ou seja, fatos já consumados sob a vigência da lei
revogada, prejudicando assim o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.
Retroatividade média, que é aquela em que a lei nova atinge efeitos pendentes de
atos jurídicos verificados antes da nova lei, como por exemplo, um contrato, em que
uma prestação esteja vencida, mas ainda não foi paga.
Retroatividade mínima, também chamada de temperada ou mitigada, na qual a lei
nova alcança e atinge os efeitos futuros de situações passadas consolidadas sob a
vigência da lei anterior, como por exemplo, uma prestação decorrente de um
contrato que não venceu e ainda não foi paga. Inclusive, existem alguns autores que
defendem que neste aspecto não seria nem caso de retroatividade. Com isso, não se
verifica propriamente a retroatividade, o que ocorre é tão somente a aplicação
imediata da lei nova, que por sua vez seria uma situação intermediária entre a
retroatividade e a irretroatividade. [13]
Na ADI 439, o Ministro Moreia Alves, em seu voto, citando Matos Peixoto, diz que
tais considerações são equivocadas, já que: “[...] dúvidas não há de que, se uma lei
alcança efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei
retroativa porque vai interferir na causa, que é um ato ou fato ocorrido no passado.
Nesse caso, a aplicação imediata se faz, mas com efeito retroativo. [14] Para o ex­
01/12/2014 Conflito de leis no tempo: é possível uma lei retroagir e alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada? ­ Artigo jurídico ­ Direi…
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ministro do STF, norma irretroativa não alcança efeitos pendentes e futuros de atos
constituídos sob o império da lei velha.
Em que pese a retroatividade de grau máximo, esta não é aceita pela doutrina
majoritária. No entanto, em relação a retroatividade de graus médio e mínimo, estas
são aceitas pela maioria da doutrina.
A contrario sensu, o doutrinador Flávio Tartuce, em seu Manual de Direito Civil,
levanta uma questão contemporânea das mais relevantes, qual seja: será que a
proteção dos institutos do ato jurídico perfeito, do direito adquirido e da coisa
julgada são absolutos? A resposta, segundo o ilustre doutrinador, é negativa, diante
de uma forte tendência de relativizar princípios e regras em sede de Direito. [15]
Nessa esteira, é possível observar a relativização da coisa julgada. Vejamos o
entendimento do STJ a esse respeito:
“É possível a flexibilização da coisa julgada material nas ações de investigação de
paternidade, na situação em que o pedido foi julgado improcedente por falta de
prova. Contudo, não se admite o ajuizamento de nova ação para comprovar a
paternidade mediante a utilização de exame de DNA em caso no qual o pedido
anterior foi julgado improcedente com base em prova pericial produzida de acordo
com a tecnologia então disponível.” [16]
Seguindo a mesma linha de raciocínio, temos o Supremo Tribunal Federal, que no
informativo n. 622, confirma a mitigação da coisa julgada. Senão vejamos:
“Ação de investigação de paternidade e coisa julgada – 1
O Plenário iniciou julgamento de recurso extraordinário em que se discute a
possibilidade, ou não, de superação da coisa julgada em ação de investigação de
paternidade cuja sentença tenha decretado a extinção do processo, sem julgamento
do mérito, por insuficiência probatória. Na situação dos autos, a genitora do autor
não possuía, à época, condições financeiras para custear exame de DNA.
Reconheceu­se a repercussão geral da questão discutida, haja vista o conflito entre o
princípio da segurança jurídica, consubstanciado na coisa julgada (CF, art. 5º,
XXXVI), de um lado; e a dignidade humana, concretizada no direito à assistência
jurídica gratuita (CF, art. 5º, LXXIV) e no dever de paternidade responsável (CF, art.
226, § 7º), de outro. O Min. Luiz Fux salientou o aspecto de carência material da
parte — para produção da prova extraída a partir do exame de DNA — como
intrínseco à repercussão geral da matéria, tendo em vista a possibilidade, em
determinados casos, de o proponente optar por não satisfazer o ônus da prova,
01/12/2014 Conflito de leis no tempo: é possível uma lei retroagir e alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada? ­ Artigo jurídico ­ Direi…
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independentemente de sua condição socioeconômica, considerado entendimento
jurisprudencial no sentido de se presumir a paternidade do réu nas hipóteses de não
realização da prova pericial. RE 363889/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 7.4.2011.
Ação de investigação de paternidade e coisa julgada – 2
Em seguida, o Min. Dias Toffoli, relator, proveu o recurso para decretar a extinção do
processo original sem julgamento do mérito e permitir o trâmite da atual ação de
investigação de paternidade. Inicialmente, discorreu sobre o retrospecto histórico
que culminara na norma contida no art. 226, § 7º, da CF (“Art. 226. A família, base
da sociedade, tem especial proteção do Estado. ... § 7º ­ Fundado nos princípios da
dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar
é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte
de instituições oficiais ou privadas.”), dispositivo que teria consagrado a igualdade
entre as diversas categorias de filhos, outrora existentes, de modo a vedar qualquer
designação discriminatória que fizesse menção à sua origem. A seguir, destacou a
paternidade responsável como elemento a pautar a tomada de decisões em matérias
envolvendo relações familiares. Nesse sentido, salientou o caráter personalíssimo,
indisponível e imprescritível do reconhecimento do estado de filiação, considerada a
preeminência do direito geral da personalidade. Aduziu existir um paralelo entre esse
direito e o direito fundamental à informação genética, garantido por meio do exame
de DNA. No ponto, asseverou haver precedentes da Corte no sentido de caber ao
Estado providenciar aos necessitados acesso a esse meio de prova, em ações de
investigação de paternidade. Reputou necessária a superação da coisa julgada em
casos tais, cuja decisão terminativa se dera por insuficiência de provas. Entendeu
que, a rigor, a demanda deveria ter sido extinta nos termos do art. 267, IV, do CPC
(“Art. 267. Extingue­se o processo, sem resolução de mérito:  IV ­ quando se
verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e
regular do processo;”), porque se teria mostrado impossível a formação de um juízo
de certeza sobre o fato. Aduziu, assim, que se deveria possibilitar a repropositura da
ação, de modo a concluir­se sobre a suposta relação de paternidade discutida.
Afirmou que o princípio da segurança jurídica não seria, portanto, absoluto, e que
não poderia prevalecer em detrimento da dignidade da pessoa humana, sob o prisma
do acesso à informação genética e da personalidade do indivíduo. Assinalou não se
podermais tolerar a prevalência, em relações de vínculo paterno­filial, do fictício
critério da verdade legal, calcado em presunção absoluta, tampouco a negativa de
respostas acerca da origem biológica do ser humano, uma vez constatada a evolução
nos meios de prova voltados para esse fim. Após, pediu vista dos autos o Min. Luiz
01/12/2014 Conflito de leis no tempo: é possível uma lei retroagir e alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada? ­ Artigo jurídico ­ Direi…
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Fux. RE 363889/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 7.4.2011.” [17]
Segundo Tartuce, essa relativização da coisa julgada é solucionada pela técnica de
ponderação desenvolvida por Robert Alexy. Segundo o autor, o caso em comento
traz um conflito entre a proteção da coisa julgada e a dignidade do suposto filho de
saber quem é seu pai. Nessa colisão entre direitos tidos por fundamentais, tanto o
Superior Tribunal de Justiça, quanto o Supremo Tribunal Federal, sabiamente
privilegiaram o direito à verdade biológica (dignidade da pessoa humana) sobre a
proteção da coisa julgada (segurança jurídica). [18]
Segundo Barroso, atual ministro do Supremo Tribunal Federal: “a previsão dos
relatos se dá de maneira mais abstrata, sem se determinar a conduta correta, já que
cada caso concreto deverá ser analisado para que o intérprete dê o exato peso entre
eventuais princípios em choque (colisão). Assim, a aplicação dos princípios “não será
no esquema tudo ou nada, mas graduada à vista das circunstâncias representadas
por outras normas ou por situações de fato”. Destaca­se assim, a técnica da
ponderação e do balanceamento, sendo, portanto, os princípios valorativos ou
finalísticos.” [19]
Com relação ao direito adquirido, Tartuce demonstra um caso de relativização da
proteção desse instituto. O doutrinador afirma que o Código Civil de 2002 contraria a
regra de proteção absoluta ao instituto do direito adquirido, quando em seu art.
2.035 determina que: “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de
ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função
social da propriedade e dos contratos.” [20]
O art. 2.035 do Código Civil de 2002 consagra o princípio da retroatividade
motivada, pela qual as normas de ordem pública relacionadas à função social da
propriedade e dos contratos podem retroagir. Tartuce afirma que não há qualquer
inconstitucionalidade na referida norma, eis que a função social da propriedade é
amparada pela própria Constituição Federal em seu art. 5º, incisos XXII e XXIII. O
ilustre doutrinador ainda afirma que a expressão “convenção” constante no art.
2.035 do Código Civil de 2002 abrange qualquer ato jurídico celebrado, incluindo
nesse rol os negócios jurídicos celebrados antes da entrada em vigor da nova lei
geral privada. [21]
Vejamos um julgado do Tribunal de Justiça de Sergipe, ilustrado pelo doutrinador
Tartuce:
“Civil. Ações declaratória de inexigibilidade de títulos e cautelares de sustação de
01/12/2014 Conflito de leis no tempo: é possível uma lei retroagir e alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada? ­ Artigo jurídico ­ Direi…
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protestos. Intempestividade. Não configurada. Litispendência. Extinção do feito.
Rescisão contratual. Atraso. Cláusula Penal. Alegação de prejuízo. Desnecessidade.
Redução da multa convencional. Cabimento. Incidência sobre o montante não
excetuado do pacto. Compensação de dívidas. Liquidez. Simples cálculos aritméticos.
Exigibilidade das duplicatas. Inocorrência. Contrato realizado na vigência do
CC/1916. Regra de transição. Art. 2.035 do NCC. Matéria de ordem pública.
Retroatividade da norma. Protestos indevidos. Distribuição do ônus sucumbencial.
Procedência das ações cautelares (...). VIII. Tendo o contrato sido celebrado na
vigência do Código Civil/1916, aplicam­se, em princípio, as regras deste. Todavia,
em se tratando de normas de ordem pública, é perfeitamente possível a
retroatividade da Lei nova, consoante regra de transição disposta no art. 2.035,
parágrafo único, do CC/2002. IX. Em se tratando a redução a cláusula penal de
matéria de ordem pública, impondo a nova Lei, através do art. 413 do CC, uma
obrigação ao magistrado em reduzir o montante da multa cominatória sempre que
verificar excesso na fixação, a fim de que seja resguardada a função social dos
contratos, impõem­se a manutenção do decisum que apenas fez incidir a norma
cogente ao caso em apreço; (...) (TJSE, Apelação Cível 2006212091, Acórdão
10.214/2008, 2ª Câmara Cível, Rel.ª Des.ª Marilza Maynard Salgado de Carvalho,
DJSE 13.01.2009, p. 16).” [22]
No referido julgado, o Tribunal entendeu que mesmo o contrato tendo se constituído
sob a égide do Código Civil de 1916, e portanto, presente os institutos do direito
adquirido e do ato jurídico perfeito, por conter cláusula penal com parâmetros
abusivo, isso por si só viola a função social dos contratos. Além disso, existe uma
previsão no novo Código Civil, mais precisamente no art. 413, que diz que o juiz
deve verificar se há penalidade excessiva e, caso a identifique, deve reduzi­la.
Segundo o Tribunal, cláusula penal é matéria de ordem pública, e sendo matéria de
ordem pública, deve retroagir a fatos pretéritos, como reza o art. 2.035 do Código
Civil de 2002.
Segundo Tartuce, a proteção do direito adquirido, que por sua vez é um dos pilares
da segurança jurídica, não pode ser protegido ao extremo, tendo em vista que se
essa proteção for absoluta, o sistema jurídico restará engessado, não possibilitando
assim a evolução da ciência e da sociedade. Deve entrar em cena a ponderação de
valores, em especial quando se tratar de valores de ordem pública com amparo
constitucional. [23]
Sobre o assunto, Daniel Santos diz o seguinte:
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“A segurança jurídica – ideia que nutre, informa e justifica a proteção constitucional
do direito adquirido – é, como já se destacou, um valor de grande relevância no
Estado Democrático do Direito. Mas não é o único valor, e talvez não seja nem
mesmo o mais importante dentre aqueles em que se esteia a ordem constitucional
brasileira. Justiça e igualdade material, só para ficar com dois exemplos, são valores
também caríssimos à nossa Constituição, e que, não raro, conflitam com a proteção
da segurança jurídica. Se a segurança jurídica for protegida ao máximo,
provavelmente o preço que se terá de pagar será um comprometimento na tutela da
justiça e da igualdade substancial, e vice­versa. O correto equacionamento da
questão hermenêutica ora enfrentada não pode, na nossa opinião, desprezar esta
dimensão do problema, refugiando­se na assepsia de uma interpretação jurídica
fechada para o universo dos valores. Ademais no Estado Democrático de Direito, o
próprio valor da segurança jurídica ganha um novo colorido, aproximando­se da ideia
de Justiça. Ele passa a incorporar uma dimensão social importantíssima. A segurança
jurídica, mais identificada no Estado Liberal com a proteção da propriedade e dos
direitos patrimoniais em face do arbítrio estatal, caminha para a segurança contra
infortúnios e incertezas da vida; para a segurança como garantia de direitos sociais
básicos para os excluídos, e até para a segurança em face das novas tecnologias e
riscos ecológicos na chamada “sociedade de riscos”. [24]
Reynaldo Porchat afirma que em relação às normas de ordem pública, que dizem
respeito aointeresse público ou político, estas se aplicam imediatamente e não há
direito adquirido contra elas, tendo em vista que o interesse coletivo se sobrepõe aos
interesses particulares do indivíduo. [25]
Diante disso, pode­se afirmar que há uma tendência entre doutrinadores e
jurisprudências de Tribunais Estaduais, no sentido de uma lei nova poder retroagir
alcançando o direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada, em especial em
relação a normas de ordem públicas consagradas pela nova lei.
Diversamente desse pensamento, o STF parece ter acolhido a Teoria de Gabba,
mesmo que em alguns de seus julgados tenha relativizado a proteção sobre o
instituto da coisa julgada. No RE 362.584/DF, este órgão se posicionou no sentido de
mesmo diante de norma de ordem pública, esta não pode retroagir para atingir
efeitos jurídicos futuros de contrato celebrado anteriormente à sua edição, tendo em
vista a regra do art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal. Ou seja, a Suprema
Corte, mesmo diante de efeitos futuros que corresponderiam a retroatividade
mínima, uma norma, ainda que de ordem pública, não poderia retroagir. Se este é o
entendimento para efeitos futuros, muito provavelmente fatos pretéritos, que inclui o
01/12/2014 Conflito de leis no tempo: é possível uma lei retroagir e alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada? ­ Artigo jurídico ­ Direi…
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direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito, jamais poderão ser
alcançados por tais normas. (RE 362.584/DF. Rel. Ministra Ellen Gracie. Primeira
Turma. Julgamento: 02/12/2002. DJ 14.03.2003). [26]
Roberto Gonçalves diz o seguinte:
“Pode­se resumidamente dizer que o sistema jurídico brasileiro contém as seguintes
regras sobre a matéria: a) são de ordem constitucional os princípios da
irretroatividade da lei nova e do respeito ao direito adquirido; b) esses dois princípios
obrigam ao legislador e ao juiz; c) a regra, no silêncio da lei, é a irretroatividade; d)
pode haver retroatividade expressa desde que não atinja direito adquirido; e) a lei
nova tem efeito imediato, não se aplicando aos fatos anteriores. Tendo o Supremo
Tribunal Federal proclamado que “não há direito adquirido contra a Constituição” e
que, “sendo constitucional o princípio que a lei não pode prejudicar o ato jurídico
perfeito, ele se aplica também às leis de ordem pública.” [27]
“Na doutrina, diz­se que é justa a retroatividade quando não se depara, na sua
aplicação, qualquer ofensa ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa
julgada; e injusta, quando ocorre tal ofensa. A retroatividade pode ser máxima,
média e mínima. A primeira atinge o direito adquirido e afeta os negócios jurídicos
perfeitos; a segunda faz com que a lei nova alcance os fatos pendentes, os direitos
já existentes mas ainda não integrados no patrimônio do titular; a terceira se
confunde com o efeito imediato da lei e sujeita à lei na vigência da lei anterior. Todas
essas situações são de retroatividade injusta, porque com ela se verifica lesão, maior
ou menor, a direitos individuais.” [28]
Conclusão
Com base em tudo que foi dito, é possível concluir que por mais que haja
doutrinadores e julgados de Tribunais de Justiça entendendo que uma lei
infraconstitucional não pode retroagir para alcançar o ato jurídico perfeito, a coisa
julgada e o direito adquirido, entendo que em vista das recentes decisões a respeito
da relativização da coisa julgada feitas pelo STF e pelo STJ, além da previsão contida
no art. 2.035 do CC/02, em alguns casos excepcionalíssimos tal retroação da lei será
admitida.
Sendo assim, com base em Pedro Lenza, esse cenário pode ser esquematizado da
seguinte forma:
“a) As normas constitucionais, por regra, têm retroatividade mínima, aplicando­se a
fatos ocorridos a partir de seu advento, mesmo que relacionados a negócios
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celebrados no passado – ex.: art. 7.º, IV;
b)é possível a retroatividade máxima e média da norma introduzida pelo constituinte
originário desde que haja expressa previsão, como é o caso do art. 51 do ADCT da
CF/88. Nesse sentido, doutrina e jurisprudência afirmam que não há direito adquirido
contra a Constituição.
c)por outro lado, as Constituições Estaduais (poder constituinte derivado decorrente
– limitado juridicamente) e demais dispositivos legais, vale dizer, as leis
infraconstitucionais, bem como as emendas à Constituição (fruto do poder
constituinte derivado reformador, também limitado juridicamente), estão sujeitos à
observância do princípio constitucional da irretroatividade da lei (art. 5.º, XXXVI –
‘lei’ em sentido amplo), com pequenas exceções, como a regra da lei penal nova que
beneficia o réu (nesse sentido, CF. AI 292.979­ed, rel. min. Celso de Mello, DJ,
19.12.2002).” [29]

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