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Direito Empresarial Universidade do Sul de Santa Catarina Disciplina na modalidade a distância Universidade do Sul de Santa Catarina Disciplina na modalidade a distância Palhoça UnisulVirtual 2013 Direito Empresarial direito_empresarial.indb 1 14/02/13 14:50 Créditos Reitor Ailton Nazareno Soares Vice-Reitor Sebastião Salésio Herdt Chefe de Gabinete da Reitoria Willian Máximo Pró-Reitor de Ensino e Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Desenvolvimento e Inovação Institucional Valter Alves Schmitz Neto Diretora do Campus Universitário de Tubarão Milene Pacheco Kindermann Diretor do Campus Universitário Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Moacir Heerdt Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Gerente de Administração Acadêmica Angelita Marçal Flores Secretária de Ensino a Distância Samara Josten Flores Gerente Administrativo e Financeiro Renato André Luz Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Coordenadora da Biblioteca Salete Cecília de Souza Gerente de Desenho e Desenvolvimento de Materiais Didáticos Márcia Loch Coordenadora do Desenho Educacional Cristina Klipp de Oliveira Campus Universitário UnisulVirtual Coordenadora da Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel Gerente de Logística Jeferson Cassiano Almeida da Costa Gerente de Marketing Eliza Bianchini Dallanhol Coordenadora do Portal e Comunicação Cátia Melissa Silveira Rodrigues Gerente de Produção Arthur Emmanuel F. Silveira Coordenador do Design Gráfico Pedro Paulo Teixeira Coordenador do Laboratório Multimídia Sérgio Giron Coordenador de Produção Industrial Marcelo Bitencourt Coordenadora de Webconferência Carla Feltrin Raimundo Gerência Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico Maria Isabel Aragon Assessor de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendonça Assessora para DAD - Disciplinas a Distância Patrícia da Silva Meneghel Assessora de Inovação e Qualidade da EaD Dênia Falcão de Bittencourt Assessoria de relação com Poder Público e Forças Armadas Adenir Siqueira Viana Walter Félix Cardoso Junior Assessor de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior Educação, Humanidades e Artes Marciel Evangelista Cataneo Articulador Graduação Jorge Alexandre Nogared Cardoso Pedagogia Marciel Evangelista Cataneo Filosofia Maria Cristina Schweitzer Veit Docência em Educação Infantil, Docência em Filosofia, Docência em Química, Docência em Sociologia Rose Clér Estivalete Beche Formação Pedagógica para Formadores de Educação Profissional Pós-graduação Daniela Ernani Monteiro Will Metodologia da Educação a Distância Docência em EAD Karla Leonora Dahse Nunes História Militar Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços Roberto Iunskovski Articulador Graduação Aloísio José Rodrigues Serviços Penais Ana Paula Reusing Pacheco Administração Bernardino José da Silva Gestão Financeira Dilsa Mondardo Direito Itamar Pedro Bevilaqua Segurança Pública Janaína Baeta Neves Marketing José Onildo Truppel Filho Segurança no Trânsito Joseane Borges de Miranda Ciências Econômicas Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Turismo Maria da Graça Poyer Comércio Exterior Moacir Fogaça Logística Processos Gerenciais Nélio Herzmann Ciências Contábeis Onei Tadeu Dutra Gestão Pública Roberto Iunskovski Gestão de Cooperativas Pós-graduação Aloísio José Rodrigues Gestão de Segurança Pública Danielle Maria Espezim da Silva Direitos Difusos e Coletivos Giovani de Paula Segurança Letícia Cristina B. Barbosa Gestão de Cooperativas de Crédito Sidenir Niehuns Meurer Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública Thiago Coelho Soares Programa de Pós-Graduação em Gestão Empresarial Produção, Construção e Agroindústria Diva Marília Flemming Articulador Graduação Ana Luísa Mülbert Gestão da tecnologia da Informação Charles Odair Cesconetto da Silva Produção Multimídia Diva Marília Flemming Matemática Ivete de Fátima Rossato Gestão da Produção Industrial Jairo Afonso Henkes Gestão Ambiental José Carlos da Silva Júnior Ciências Aeronáuticas José Gabriel da Silva Agronegócios Mauro Faccioni Filho Sistemas para Internet Pós-graduação Luiz Otávio Botelho Lento Gestão da Segurança da Informação. Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Programa em Gestão de Tecnologia da Informação Unidades de Articulação Acadêmica (UnA) direito_empresarial.indb 2 14/02/13 14:50 Livro didático Palhoça UnisulVirtual 2013 Design instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos Marina Melhado Gomes da Silva Direito Empresarial Terezinha Damian Antônio direito_empresarial.indb 3 14/02/13 14:50 Edição – Livro Didático Professor Conteudista Terezinha Damian Antônio Design Instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos Marina Melhado Gomes da Silva Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Fernanda Fernandes Revisão Diane Dal Mago Amaline Boulos Issa Mussi Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2013 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 342.2 A64 Antônio, Terezinha Damian Direito empresarial : livro didático / Terezinha Damian Antônio ; design instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos, Marina Melhado Gomes da Silva. – Palhoça : UnisulVirtual, 2013. 286 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. 1. Direito comercial. 2. Sociedades comerciais. 3. Títulos de crédito. I. Campos, Marcelo Tavares de Souza. II. Silva, Marina Melhado Gomes da. III. Título. direito_empresarial.indb 4 14/02/13 14:50 Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 Palavras da professora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 - Teoria geral do Direito Empresarial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 UNIDADE 2 - Regime jurídico das sociedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 UNIDADE 3 - Propriedade industrial: marcas e patentes . . . . . . . . . . . . . . . 109 UNIDADE 4 - Títulos de crédito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 UNIDADE 5 - Recuperação de empresa e falência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 UNIDADE 6 - A empresa e as relações de consumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273 Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281 Respostas e comentários das atividades de autoavaliação . . . . . . . . . . . . . 283 Biblioteca Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285 direito_empresarial.indb 5 14/02/13 14:50 direito_empresarial.indb 6 14/02/13 14:50 7 Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina Direito Empresarial. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância, proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a um aprendizado contextualizado e eficaz.Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores e instituição estarão sempre conectados com você. Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como: telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual. direito_empresarial.indb 7 14/02/13 14:50 direito_empresarial.indb 8 14/02/13 14:50 Palavras da professora Caro/a aluno/a, Seja bem vindo/a à disciplina Direito Empresarial. Denominado Direito Comercial antes da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, a qual instituiu o novo Código Civil Brasileiro, o Direito Empresarial passou por diversos estágios e, atualmente, é entendido como sendo o ramo do direito privado que normatiza a atuação de empresas no Brasil. Trata de princípios e normas jurídicas que regulam a atividade empresarial, exercida pelo empresário, na forma individual ou societária. Assim referido/a, você passa a estudar a caracterização e a capacidade civil do empresário; o conceito e os elementos formadores do estabelecimento empresarial, os institutos complementares do direito empresarial, tais como, o registro público de empresa, nome empresarial, prepostos e escrituração; o regime jurídico das sociedades empresárias e não empresárias de forma geral; os requisitos e a importância dos direitos relativos às marcas e patentes no meio empresarial. Compreenderá a origem e a evolução histórica do direito cambiário, as características, os princípios e a classificação dos títulos de crédito, os principais institutos cambiários, como também, acessará considerações específicas sobre a aplicação da Lei do Cheque e as práticas empresariais de cheque pós-datado e o uso da duplicata no Brasil. Compreenderá também os objetivos e a aplicabilidade da lei de falência, e identificará as características dos processos de recuperação e de falência de empresas. direito_empresarial.indb 9 14/02/13 14:50 10 Universidade do Sul de Santa Catarina Por fim, conhecerá importantes normas jurídicas sobre o direito das relações de consumo, contidas na Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor, o qual visa a salvaguardar os direitos dos consumidores, considerados hipossuficientes, da relação consumerista de fornecer bens e serviços. Sucesso e bons estudos! Professora Terezinha Damian Antônio direito_empresarial.indb 10 14/02/13 14:50 Plano de estudo O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação. São elementos desse processo: o livro didático; o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA); as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de autoavaliação); o Sistema Tutorial. Ementa Introdução ao estudo do Direito Comercial. Comerciantes: o empresário. A empresa. Registros do comércio. Introdução ao estudo do Direito Societário Mercantil. Títulos de Crédito. Recuperação judicial e extrajudicial, falência. Tipificação e regime jurídico das relações de fornecimento e consumo nos quadros da produção industrial. A proteção jurídica do consumidor. Relações de consumo. O Código de Defesa do Consumidor. Propriedade industrial: marcas, patentes e segredo industrial. direito_empresarial.indb 11 14/02/13 14:50 12 Universidade do Sul de Santa Catarina Objetivos da disciplina Geral Oferecer ao acadêmico/a uma visão global sobre o direito empresarial, a partir da análise dos principais tipos de sociedades comerciais, bem como dos principais títulos de crédito, marcas e patentes, e das noções gerais sobre o direito falimentar e o direito do consumidor, o que permitirá aos futuros profissionais o entendimento do processo de constituição de empresas. Específicos Compreender a evolução, os principais conceitos e fontes do direito empresarial, bem como os principais institutos jurídicos que caracterizam a teoria da empresa e as normas que regulam a atividade empresarial. Conhecer o regime jurídico das sociedades e as características dos principais tipos societários. Entender os aspectos legais sobre a propriedade industrial no Brasil e sua importância para as empresas. Estudar noções gerais sobre o direito cambiário e as características dos principais títulos de crédito mais utilizados no meio empresarial. Identificar as disposições comuns da falência e da recuperação de empresas, bem como as características dos pedidos e dos processos de recuperação de empresa e de falência. Analisar as principais disposições sobre as relações de consumo contidas no Código de Defesa do Consumidor. Carga horária A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula. direito_empresarial.indb 12 14/02/13 14:50 13 Direito Empresarial Conteúdo programático/objetivos Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Unidades de estudo: 6 Unidade 1 – Teoria geral do Direito Empresarial Nesta unidade, você verá a evolução do Direito Empresarial e dos principais conceitos sobre a empresa, bem como, o conjunto de normas jurídicas que regulam a atividade empresarial exercida pelo empresário na forma individual e coletiva e os institutos jurídicos afins e complementares, tais como, registro de empresa, nome empresarial, escrituração e preposição. Unidade 2 – Regime jurídico das sociedades Esta unidade trata dos principais conceitos, características, classificação, tipos de sociedades e as formas de reestruturação e participação societária, permitindo a discussão de temas relevantes sobre o regime jurídico das sociedades, por exemplo, a responsabilidade patrimonial pessoal dos sócios e a teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Conhecerá, também, os tipos societários presentes no Código Civil e em legislações específicas, como a legislação brasileira aplicável às sociedades limitadas e às sociedades anônimas. Unidade 3 – Propriedade industrial: marcas e patentes Por meio desta unidade, você entenderá os aspectos legais sobre a propriedade intelectual no Brasil e sua importância para as empresas, a partir do estudo da legislação brasileira que trata de patentes de invenção e de modelo de utilidade, como também, do direito_empresarial.indb 13 14/02/13 14:50 14 Universidade do Sul de Santa Catarina registro de marcas e de desenho industrial, e, ainda, estudará o segredo industrial e analisará a problemática do uso indevido do termo know how e sua relação com o segredo industrial. Unidade 4 – Títulos de crédito Aqui, você estudará noções gerais sobre o direito cambiário, sua origeme evolução histórica, seus conceitos e princípios gerais. Verá a classificação dos títulos de crédito e os principais institutos e devedores cambiários, e, ainda, as características dos principais títulos de crédito mais utilizados no meio empresarial, como, por exemplo, o cheque e a duplicata. Unidade 5 – Recuperação de empresa e falência Nesta unidade, você identificará as disposições comuns da falência e da recuperação de empresas, bem como as normas jurídicas que disciplinam a nomeação e as atribuições do administrador judicial, do comitê de credores e da assembleia de credores na recuperação e na falência. Estudará procedimentos de verificação e habilitação de créditos, os requisitos e os tipos de recuperação de empresas existentes no Brasil, e conhecerá os requisitos e os procedimentos legais para a instauração, a decretação e o encerramento da falência. Unidade 6 – A empresa e as relações de consumo Por fim, você analisará os requisitos de configuração da relação de consumo, os princípios do Código de Defesa do Consumidor e os direitos básicos do consumidor, definidos na legislação consumerista. Estudará a responsabilidade civil do fornecedor nas relações de consumo, a proteção do contrato firmado entre fornecedor e consumidor, e as formas de tutela jurisdicional do consumidor. direito_empresarial.indb 14 14/02/13 14:50 15 Direito Empresarial Agenda de atividades/Cronograma Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e professor. Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina. Atividades obrigatórias Demais atividades (registro pessoal) direito_empresarial.indb 15 14/02/13 14:50 direito_empresarial.indb 16 14/02/13 14:50 1 Objetivos de aprendizagem Conhecer as etapas que marcaram a origem do comércio, assim como a evolução do Direito Empresarial. Entender o conceito e as principais fontes do Direito Empresarial na atualidade. Compreender as características e as condições que permitem ao empresário o exercício da empresa. Identificar os elementos que constituem juridicamente o estabelecimento empresarial. Analisar as espécies de nome empresarial. Estudar os demais institutos jurídicos complementares da empresa, como o registro público, as formas de escrituração e a preposição. Seções de estudo Seção 1 A origem do comércio e do Direito Empresarial Seção 2 Conceito e fontes de Direito Empresarial no Brasil Seção 3 O empresário Seção 4 Estabelecimento empresarial Seção 5 Nome empresarial Seção 6 Outros institutos jurídicos da empresa UNIDADE 1 Teoria geral do Direito Empresarial direito_empresarial.indb 17 14/02/13 14:50 18 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade, você conhecerá a evolução histórica do comércio e do Direito Empresarial, bem como os conceitos e as características que definem a teoria da empresa, de acordo com o Código Civil Brasileiro. Você entenderá que a teoria da empresa tem o sentido prático de ampliar o campo de incidência do direito comercial, que passou a ter como base a empresa, e compreenderá que essa teoria substituiu o conceito tradicional de comerciante pelo de empresário, e o de comércio pelo de empresa. Estudará que empresário é quem exerce a atividade empresarial, que, por sua vez, engloba o comércio, a indústria, a prestação de serviços e demais atividades organizadas para a produção ou a circulação de bens ou serviços destinados ao mercado. Compreenderá também que a empresa é exercida por meio de um complexo de bens tangíveis e intangíveis, os quais constituem o estabelecimento empresarial, assim como entenderá que a identificação da empresa no mercado consumidor ocorre por meio do nome empresarial. Também conhecerá os institutos jurídicos complementares que regulam o exercício da empresa, tais como, o registro público, a preposição e a escrituração; e verá que o Direito Empresarial é o ramo do Direito constituído por um conjunto de leis as quais regulamentam as atividades desenvolvidas pelo empresário. direito_empresarial.indb 18 14/02/13 14:50 19 Direito Empresarial Unidade 1 Seção 1 – A origem do comércio e do Direito Empresarial O Direito Empresarial é o ramo do direito que estuda a empresa. Entretanto, para entender este ramo do direito, é preciso estudar a origem do comércio, o surgimento do direito comercial, como regulador da atividade comercial, bem como, as fases que marcaram a evolução do direito comercial para o Direito Empresarial, e, ainda, o conceito e as fontes de Direito Empresarial. 1.1 Surgimento do comércio A origem do comércio está associada ao desenvolvimento da economia, determinado pela necessidade humana de conciliar a sobrevivência em períodos caracterizados pelo excesso ou escassez na produção de alimentos. Na sociedade primitiva, não havia condições favoráveis ao desenvolvimento do comércio, pois o homem vivia da caça, da pesca e da coleta de frutos e raízes. A fixação do homem a terra decorreu do desenvolvimento da atividade pastoril, que deu origem à indústria de transformação, à atividade agrícola e à formação de pequenas aldeias. Nos primórdios da sociedade feudal, essas aldeias eram praticamente autossuficientes e a vida econômica decorria sem muita utilização de capital. Era uma economia de consumo, em que os servos e sua família cultivavam seu alimento e fabricavam tudo o que lhes era necessário. Entretanto, embora o homem procurasse se abastecer de tudo o que precisava, ora tinha mais do que necessitava ora não tinha nada. Por isso, buscou trocar o que possuía em excesso pelo que não possuía para sobreviver. Neste período, o homem fazia trocas, primeiramente com os vizinhos, depois com grupos maiores e mais distantes, os quais foram se aproximando cada vez mais das aldeias, passando a se direito_empresarial.indb 19 14/02/13 14:50 20 Universidade do Sul de Santa Catarina reunir ao redor de templos, em festas religiosas e em feiras, com o objetivo de trocar objetos e coisas uns com os outros. Estas trocas diretas deram origem ao comércio. Embora restrito, o comércio era realizado semanalmente, no mercado, lugar onde se realizavam as trocas de produtos excedentes, sendo que o intercâmbio de produtos era feito pela necessidade de consumo, e não pela procura do produto. O mercado semanal era mantido junto ao mosteiro ou ao castelo e controlado pelo senhor feudal ou pelo bispo, os quais, também naquele local, trocavam os excedentes que seus servos e artesãos produziam. Com o passar do tempo, essas trocas se tornaram mais complexas, envolvendo uma gama maior de produtos e de produtores, o que impulsionou o aparecimento das moedas de troca, representadas, inicialmente, por coisas desejadas ou raras, como sal, conchas e gado, e depois, por metais preciosos. Mais tarde, os gregos introduziram a moeda de metal nas transações comerciais, conforme exemplo ilustrado pela figura na sequência. Figura 1.1 – Exemplar das primeiras moedas de metal utilizadas pelos gregos Fonte: Meu dever de casa, 2009. Nesta figura, verifica-se um exemplar de moeda utilizada pelos gregos para realizarem transações comerciais. Nela ressalta a imagem de uma coruja, simbolizando a sabedoria da sociedade grega. Os gregos também estampavam ilustrações de outros animais nas moedas, assim como imagensde divindades. direito_empresarial.indb 20 14/02/13 14:50 21 Direito Empresarial Unidade 1 O comércio, neste momento, baseava-se na troca e não visava ao lucro. Essa prática acontecia por influência marcante da Igreja Católica, que se constituiu na instituição mais poderosa da sociedade medieval ocidental. Na economia, a ação da Igreja se fez sentir de diversas maneiras, não só por suas concepções comunitárias, mas também por dispor de rico patrimônio. Cabe destacar que a Igreja definiu princípios para as atividades econômicas, proibindo a especulação e estabelecendo o preço justo, que consistia na soma do custo de produção mais a remuneração do trabalho. Por outro lado, com a expansão marítima, o crescimento do comércio foi acelerado e o preço justo foi substituído pelo preço de mercado, o que possibilitou a obtenção do lucro na atividade comercial. Nesse período, o produtor não produzia mais para a troca, mas para vender e adquirir moeda, que era aplicada como capital em novo ciclo de produção, o que intensificou o uso do dinheiro e fez surgir as letras de câmbio, uma vez que nem toda cidade podia cunhar sua própria moeda. Dessa forma, o comércio se estruturou para desenvolver sua função econômica e social, possibilitando a troca de mercadorias. Mas, como era regulado o comércio? Inicialmente, não havia um conjunto de normas jurídicas capaz de disciplinar a atividade comercial, pois o comércio era regulado por normas morais e religiosas, e não havia discernimento claro das esferas do direito, da moral e da religião. direito_empresarial.indb 21 14/02/13 14:50 22 Universidade do Sul de Santa Catarina 1.2 Surgimento do Direito Comercial O primeiro registro histórico quanto a uma normatização norteadora das atividades comerciais refere-se às regras contidas no Código de Hamurabi. (REIS E REIS, 2005). Posteriormente, surgiram outras regras para disciplinar a atividade comercial, e que passaram a compor o direito comercial, entendido como um ramo histórico do direito que surgiu para regular o comércio, cujas atividades não tinham respaldo jurídico nas normas do direito civil. É importante observar que, até o advento do Código Civil (CC) brasileiro de 2002 e a revogação de parte do Código Comercial brasileiro de 1850, não se utilizava, no Brasil, a expressão Direito Empresarial, mas, somente, Direito Comercial. Na sua concepção inicial, o direito comercial englobava apenas os comerciantes que compravam mercadorias para revender, já o Direito Empresarial é mais abrangente, regulando as atividades empresariais, tais como, o comércio, a indústria e a prestação de serviços. Assim, pode-se dizer que a trajetória histórica do direito comercial revela-se como um retrato dinâmico que mostra a evolução da atividade mercantil, conforme se irá ver a seguir. 1.2.1 Primeira fase do Direito Comercial Na Idade Média, a partir do século XII, o Direito Comercial floresceu como sistema jurídico, com o aparecimento das corporações de ofício, associações de pessoas que exerciam uma mesma profissão ou ofício, sujeitas às mesmas normas, regras, direitos e deveres, o que marcou a primeira fase do Direito Comercial, que se estendeu desde o século XII até o século XVIII. O surgimento das corporações de ofício decorreu do enfraquecimento da economia feudal, provocado pelo crescimento do comércio e pelo desenvolvimento das cidades. Assim, os artesãos especializados em algum ofício, tais como O Código de Hamurabi é uma das leis mais antigas da humanidade, escrito por Khammu – rabi, no século 18º a.C, que destacava normas para regular o comércio, apresentando regras para os contratos de sociedade, os empréstimos a juros, os contratos de transporte, as locações, o uso da moeda, a insolvência e execução de dívidas, conforme Altavila (1989). direito_empresarial.indb 22 14/02/13 14:50 23 Direito Empresarial Unidade 1 padeiros, ourives, carpinteiros, fabricantes de armas, tecelões e outros artistas, deixaram de cultivar a terra, para viver da arte, abrindo pequenos comércios em suas cidades, a fim de abastecer um mercado pequeno e prestar serviços à comunidade. Esses grupos de profissionais organizados formavam as corporações de ofício, que logo se destacaram na sociedade da época, conquistaram autonomia para determinados centros comerciais italianos e possibilitaram o surgimento de cidades alemãs. Essas corporações possuíam um regulamento semelhante a um código de ética e conviviam como irmãos, pois os membros de uma corporação se preocupavam com os membros de outra corporação. Os usos e costumes mercantis regulavam as relações jurídico-comerciais, e não havia a participação do Estado na solução dos conflitos. As pendências entre os mercadores eram resolvidas dentro da classe, por juízes eleitos, que sistematizavam as regras do mercado. Para Requião (2003), essas corporações criavam entre si um direito costumeiro, aplicado internamente pelos juízes eleitos e pelas suas assembleias. Nessa fase, o Direito Comercial estava a serviço do comerciante, como um direito corporativo, profissional, especial e autônomo. 1.2.2 Segunda fase do Direito Comercial De acordo com Requião (2003), a segunda fase do Direito Comercial iniciou no século XIX, com a edição do Código Comercial francês ou Código Napoleônico, e se estendeu até 1942. Esse código, seguindo os ideais da Revolução Francesa (igualdade a todos perante a lei e exclusão dos privilégios de classe), estabeleceu a liberdade profissional e de comércio, assim como o fim das corporações. Nessa fase, o Direito Comercial passou a ser considerado como um sistema jurídico estatal destinado a regular todos os atos de comércio, representados por atividades de intermediação habitual de troca, com a finalidade de lucro. direito_empresarial.indb 23 14/02/13 14:50 24 Universidade do Sul de Santa Catarina Entre tais atividades, destacam-se a compra e venda, revenda, locação de coisas móveis, operações de câmbio, operações bancárias, operações de corretagem, operações das empresas de seguros, atividade de transporte de mercadorias, atividade de espetáculos públicos; compra, venda ou troca de bens móveis ou semoventes por atacado ou por varejo, industrializados ou não, para revenda ou para alugar o seu uso. Portanto, o comerciante é todo aquele que pratica algum ato de comércio. São agentes econômicos fundamentais, pois geram empregos, tributos e certos bens essenciais à sociedade. A legislação comercial trazia uma série de vantagens para o comerciante, o qual poderia ser pessoa física (individual), aquele que exerce individualmente os atos de comércio; ou pessoa jurídica, sociedade comercial. 1.2.3 Terceira fase do Direito Comercial A terceira fase do Direito Comercial iniciou a partir de 1942, com o surgimento da teoria da empresa, que originou o Direito Empresarial. A teoria dos atos de comércio estabelecida no Código Comercial francês apresentava deficiências, pois definia regras para o comércio e deixava as demais atividades econômicas sem base legal, como a prestação de serviços, a mineração e as atividades agrícolas e artesanais. Assim, muitas atividades relacionadas com a circulação de riqueza não estavam contempladas no conceito de comércio, embora fossem consideradas como atividades econômicas. Dessa forma, o novo Código Civil italiano trouxe a teoria da empresa para regular qualquer atividade econômica de produção e circulação de bens e serviços, e não exclusivamente a atividade comercial. Mas qual contribuição essa teoria trouxe para o Direito Comercial? direito_empresarial.indb 24 14/02/13 14:50 25 Direito Empresarial Unidade 1 Ela possibilitou que o direito comercial passasse a regulamentaras atividades empresariais, correspondendo ao que se conhece hoje por Direito Empresarial ou direito da empresa. De acordo com Negrão (2007), o Direito Comercial passou a regular não só as atividades relacionadas aos atos de comércio, mas qualquer atividade econômica exercida profissionalmente e destinada à produção e circulação de bens ou serviços, para o mercado, tendo como fim a obtenção de lucro. Diante desse contexto, verifica-se que a atividade empresarial seria exercida pelo empresário ou pelas sociedades empresárias por meio da organização, essa que se sobrepõe ao labor pessoal dos sócios, os quais poderão atuar como dirigentes, mas que não serão, de forma predominante, os operadores diretos da atividade-fim exercida. No campo econômico, a empresa fica caracterizada pela organização dos fatores de produção, com o objetivo de satisfazer as exigências do mercado consumidor. Por isso, as atividades da empresa são voltadas para o mercado e têm finalidade lucrativa. Portanto, entende-se a empresa como uma atividade econômica organizada de produção e circulação de bens e serviços para o mercado, com finalidade lucrativa, exercida pelo empresário em caráter profissional, por meio de um complexo de bens. Pode-se identificar neste conceito quatro elementos de caracterização da empresa, a saber: profissionalismo, exercício de atividade econômica, organização e, ainda, produção e circulação de bens e serviços. Coelho (2007) traz as seguintes definições quanto a esses elementos que caracterizam a empresa: O profissionalismo consiste no exercício profissional da atividade, ou seja, não se trata de prática ocasional, ainda que relacionada com a troca ou a produção de bens e serviços. O exercício profissional relaciona-se com a habitualidade e indica que a atividade empresarial não pode ser eventual, ocasional ou praticada por esporte, ou mero lazer. A atividade sazonal, quando desenvolvida de forma cíclica, mantém o caráter de empresarialidade. direito_empresarial.indb 25 14/02/13 14:50 26 Universidade do Sul de Santa Catarina O exercício de atividade econômica indica que, para se caracterizar como empresário, o sujeito deve atuar na persecução do lucro, ou seja, estão excluídas as atividades com intuito altruísta ou beneficente. Dessa forma, a atividade econômica está relacionada à produção de bens ou serviços, e a economicidade está na criação de riquezas; de modo que aquele que profissionalmente exerce qualquer atividade, que não seja econômica ou não seja atividade de produção de riquezas, não é empresário. Organização é a conjugação dos fatores da produção – trabalho, natureza e capital –, para produção de bens ou de serviços, reunidos pelo empresário de forma coesa, com a finalidade de abastecer o mercado com bens ou serviços. A produção e a circulação de bens e serviços é o elemento que corresponde à característica do empresário que o diferencia do comerciante, traçando uma figura mais ampla. Assim sendo, tanto o capital do empresário como o pessoal que irá trabalhar nada mais são isoladamente do que bens e pessoas, pois a empresa somente nasce quando se inicia a atividade, sob a orientação do empresário. (COELHO, 2007). O surgimento da teoria da empresa possibilitou que a matéria empresarial passasse a englobar toda a atividade econômica privada exercida no mercado, com exceção das atividades de natureza intelectual. Além disso, segundo Bulgarelli (1999), o direito comercial passou a ter como base a empresa, e os termos comércio, comerciante e atos de comércio foram substituídos por empresa, empresário e atividades empresariais. A seguir, estude a respeito das normas que regem o direito comercial e o Direito Empresarial no Brasil. direito_empresarial.indb 26 14/02/13 14:50 27 Direito Empresarial Unidade 1 1.3 O Direito Empresarial no Brasil No Brasil, as relações jurídicas comerciais foram embasadas na Legislação de Portugal até 1808, e na Carta Régia, editada com a chegada de Dom João ao Brasil, no período entre 1808 a 1850. Essa carta instituiu as primeiras normas de direito comercial no Brasil. Em 25 de junho de 1850, foi editado o Código Comercial do Império do Brasil, apresentando 1.299 artigos os quais dispunham sobre as pessoas do comércio, os contratos e obrigações mercantis, o comércio marítimo e a insolvência. Em 1889, o referido Código passou a ser chamado apenas Código Comercial do Brasil, e, como os demais códigos editados nos anos de 1800, adotou a teoria dos atos de comércio. A Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o novo Código Civil Brasileiro, revogou a primeira parte do Código Comercial de 1850 e adotou a teoria da empresa em seus artigos 966 a 982. Desta forma, o Brasil, passou a considerar a empresa como figura central do Direito Empresarial e a sequência de atos que caracteriza a atividade desempenhada pelo empresário. Agora que você conhece a origem e a evolução do comércio, do direito comercial e do Direito Empresarial, passa a estudar os conceitos e as fontes do Direito Empresarial. Seção 2 – Conceito e fontes de Direito Empresarial no Brasil O Direito Empresarial é o ramo do Direito constituído por um conjunto de leis que regulamentam as atividades empresariais, que têm por objetivo a produção ou circulação de bens ou serviços destinados ao mercado, com o fim de lucro. As normas contidas neste ramo do Direito estão amparadas por fontes, primárias ou secundárias, conforme se apresenta na sequência. direito_empresarial.indb 27 14/02/13 14:50 28 Universidade do Sul de Santa Catarina 2.1 Fontes primárias do Direito Empresarial A fonte principal ou primária do Direito é a lei, sendo que, no Estado Democrático de Direito, a regência do princípio da legalidade determina a preponderância da lei como primeira resposta à pergunta sobre como o Estado se manifesta diante de determinada situação jurídica. Nesse sentido, a lei é natural e compulsória como expressão genérica da ordem jurídica brasileira, que se desdobra hierarquicamente em Constituição Federal (CF), Código Civil e legislação comercial extravagante. Para o Direito Empresarial, as fontes primárias constituem-se hierarquicamente no mais importante instrumento para interpretação de questões jurídicas, pois consistem em normas que todo juiz ou tribunal deverá aplicar de imediato quando for apreciar e decidir determinada questão. A Constituição Federal do Brasil apresenta, no Capítulo I do Título VII, princípios gerais da atividade econômica, de observância obrigatória, que condicionam o exercício da empresa. Fazzio Júnior (2008) destaca que, além desse normativo, são fontes primárias do Direito Empresarial: o Código Comercial na parte não revogada, o Código Civil de 2002, as leis extravagantes, normas previstas em outros ramos do Direito, normas derivadas do Estado, bem como tratados e convenções internacionais referentes ao Direito Empresarial. Cabe destacar que a doutrina e a jurisprudência não são fontes do Direito Empresarial. A Doutrina não tem legitimidade para gerar direitos. Embora forneça contribuição à materialização do direito, não alcança o patamar das fontes, e, assim, tecnicamente, não produz direito. Já a Jurisprudência surgiu na Roma Antiga e compreendia a interpretação pelos jurisconsultos de matéria de alta relevância. Compõe-se dos trabalhos forenses, tratados, pareceres e opinião dos mestres. Compreende o conjunto de julgados que são direito_empresarial.indb 28 14/02/13 14:50 29 Direito Empresarial Unidade 1 proferidos pelos mais importantes tribunais do país, de modo constante e uniforme. 2.2 Fontes secundárias do Direito Empresarial As fontes subsidiárias ou secundárias do Direito são aquelas queservem de apoio à solução de questões de relevante importância para o Direito Empresarial. Entre essas fontes, destacam-se os costumes, a analogia e os princípios gerais de Direito. Cabe observar que o costume ganha especial importância no campo empresarial, podendo, inclusive, ser registrado na Junta Comercial, conforme prevê a Lei n. 8.934, de 18 de novembro de 1994, artigo 8º, inciso VI. (BRASIL, 1994). Entretanto, mesmo sem esse registro, pode ser invocado em juízo. Os usos e costumes são normas observadas de modo uniforme e público pelos empresários de uma região e por eles considerados obrigatórios para, na ausência da lei, regular as questões comerciais. Para que possam ser praticados, devem estar de acordo com a boa-fé e não contrariar qualquer princípio legal. No que se refere à analogia, corresponde ao ponto de semelhança entre coisas diferentes, entendida como a operação lógica pela qual são supridas as omissões da lei, aplicando-se as normas de direito que disciplinam casos semelhantes. Porém a analogia não se trata de uma fonte direta do direito, mas sim de um processo interpretativo da lei, para a busca de uma solução jurídica explícita ou implícita na normação já existente. Quanto aos princípios gerais de Direito, são fontes secundárias, entretanto não geram normas. É comum esses princípios não estarem declarados nas normas jurídicas. Por outro lado, estão implícitos e permitem a análise dos diversos subsistemas que compõem o ordenamento. Dessa forma, dependendo do tema jurídico controvertido, o Juiz decidirá com base em um determinado princípio. No campo do Direito Empresarial, podem ser destacados os princípios da dignidade da pessoa humana, da autonomia da vontade e da boa- fé, entre outros. direito_empresarial.indb 29 14/02/13 14:50 30 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 3 – O empresário Ao se estudar juridicamente a figura do empresário, verificam-se o conceito do empresário individual e o conceito do empresário coletivo, os quais especificam quem pode ser empresário e quem não pode exercer a empresa. Verificam-se, ainda, os elementos que definem o tratamento diferenciado, favorecido e simplificado, destinado ao pequeno empresário, ao empresário rural e ao empresário de micro e pequenas empresas. 3.1 Conceito de empresário De acordo com o artigo 966, caput da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o Código Civil Brasileiro: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.” (BRASIL, 2002). Sendo assim, com base no que estabelece o Código Civil Brasileiro, pode-se considerar que empresário é aquele que pratica a atividade econômica de modo profissional, habitual, sistemático, em seu próprio nome; de forma organizada, a partir da adequada coordenação dos fatores de produção – trabalho, natureza e capital, visando ao lucro e à geração de riqueza. Nesse sentido, se a atividade empresarial deve ser praticada em nome do próprio empresário, o sócio de uma sociedade empresária que não exerce diretamente a atividade econômica organizada não é empresário, mas integrante de uma sociedade. Seguindo o que determina o Código Civil Brasileiro, os profissionais que exercem profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que tenham auxiliares ou colaboradores, não são considerados empresários, salvo se constituírem uma empresa para explorar a atividade empresarial, como, por exemplo, a sociedade de advogados, de contadores, de engenheiros, entre outros. (BRASIL, 2002). direito_empresarial.indb 30 14/02/13 14:50 31 Direito Empresarial Unidade 1 Em princípio, nas atividades desenvolvidas pelo profissional intelectual, falta o elemento de organização dos fatores de produção, o que impossibilita de classificá-las como atividades próprias de empresários. Entretanto, se forem organizadas na forma de empresa, assumem as características de empresários. Para esclarecer essa questão, apresentou-se, como exemplo, o caso de um médico que, ao fazer o diagnóstico de seus pacientes, está prestando um serviço resultante de sua atividade intelectual, não sendo caracterizado, nesse caso, empresário. Porém, se organizar fatores de produção, reunindo capital, trabalho de outros profissionais da saúde e utilizar um complexo de bens corpóreos e incorpóreos, será considerado empresário. O empresário é classificado a partir do modo que irá explorar suas atividades empresariais, podendo ser individual ou coletivo. O empresário individual é a pessoa que explora a empresa de forma pessoal e individual. Já o empresário coletivo é aquele que pratica a atividade empresarial por meio de uma sociedade. Nos dois casos, o empresário pode, ou não, responder de forma limitada ou ilimitada pelos débitos da empresa. Cabe destacar que, para exercer a atividade empresarial de modo individual, o empresário pode optar entre duas formas: empresário individual ou empresa individual de responsabilidade limitada. 3.1.1 Empresário individual O empresário individual é a forma utilizada por aquele que, independentemente de motivo, deseja desenvolver sua atividade empresarial de forma isolada, sem a participação de sócios. Ao empresário individual é assegurado o direito à inscrição, à recuperação de empresas, à falência, à utilização de seus livros como provas, assim como ocorre com as sociedades empresárias. Entretanto, esse tipo de empresário não goza da limitação de responsabilidade e da separação patrimonial, como acontece na empresa individual de responsabilidade limitada e na maioria das sociedades empresárias. direito_empresarial.indb 31 14/02/13 14:50 32 Universidade do Sul de Santa Catarina Assim, em sua atividade empresarial solitária, não se considera em separado o patrimônio particular e o patrimônio da empresa do empresário individual. Desta forma, a responsabilidade pelas obrigações firmadas em razão do seu negócio é ilimitada. Antes de iniciar suas atividades é obrigatório que o empresário individual faça sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, assim como a escrituração e a contabilidade dos negócios. Em se tratando de empresário rural, o qual se dedica à agricultura e à pecuária, ele poderá requerer inscrição no Registro competente da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. (BRASIL, 2002). O empresário individual inscrito, que admitir sócios, poderá solicitar a transformação de seu registro de empresário para registro de sociedade empresária. 3.1.2 Empresa individual de responsabilidade limitada A partir de janeiro de 2012, o empresário passou a contar com a possibilidade de exercer sua atividade empresarial de forma isolada, pessoal, individual e solitária, sem a participação de sócios, respondendo, entretanto, de forma limitada pelas obrigações da sua empresa. Trata-se de outra forma de exercer a atividade empresarial de forma individual, anteriormente não prevista no Código Civil Brasileiro. A possibilidade de constituição de empresa individual com responsabilidade limitada decorre da Lei 12.441, de 11 de julho de 2011, com vigência a partir de janeiro de 2012. Essa Lei alterou o Código Civil Brasileiro, Lei 10.406/2002, com a inclusão do Título I-A: da empresa individual de responsabilidade limitada. As regras da constituição desse tipo de empresa estão contidas no artigo 980-A e seus parágrafos 1º ao 6º. Nesse caso, a direito_empresarial.indb 32 14/02/13 14:50 33 Direito Empresarial Unidade 1 responsabilidade do empresário pelas obrigações sociais é limitada ao capital social. Na sequência,apresentam-se os requisitos para a constituição de uma empresa individual de responsabilidade limitada, definidos nesta nova legislação: deve ser constituída por uma única pessoa titular, da totalidade do capital social, devidamente integralizado; o capital integralizado não poderá ser inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no país; a pessoa natural que constituir esse tipo de empresa somente pode figurar em uma única empresa dessa modalidade; a constituição da empresa individual de responsabilidade limitada também pode resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio; o nome empresarial deve ser formado pela inclusão da expressão “EIRELI”, após a firma ou a denominação social. (BRASIL, 2011). 3.2 Quem pode ser empresário O Código Civil Brasileiro determina que podem exercer a atividade de empresário as pessoas naturais que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidas. Caso contrário, responderão pelas obrigações contraídas. A atividade empresarial pode ser exercida por qualquer pessoa que esteja em pleno gozo de sua capacidade civil, ou seja, que tenha 18 anos completos e não tenha doença ou deficiência que lhe cause falta de discernimento ou incapacidade de exprimir a vontade ou não for legalmente impedido. (BRASIL, 2002). Entretanto, cabe ressaltar que existem certas condições para que determinadas pessoas possam exercer a empresa, como os menores entre 16 e 18 anos e os cônjuges. direito_empresarial.indb 33 14/02/13 14:50 34 Universidade do Sul de Santa Catarina 3.2.1 Menor entre 16 e 18 anos O menor com idade entre 16 e 18 anos também poderá ser empresário se for emancipado. Essa emancipação pode ocorrer por concessão dos pais, em cartório; pelo casamento; pela colação de grau em curso de ensino superior; ou pelo estabelecimento comercial por economia própria. 3.2.2 Contrato de sociedade por cônjuges De acordo com o Código Civil Brasileiro, os cônjuges podem contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham sido casados no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória. A mulher casada não necessita de autorização do marido para integrar uma sociedade, respondendo apenas com seus bens particulares e, quanto aos bens comuns, até o limite de sua meação. É importante observar que os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade serão também arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis, assim como a sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário, bem como, o ato de reconciliação. Observa-se, ainda, que o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real. De acordo com Requião (2003), entende-se por economia própria o estado econômico de independência do menor, que decorre da propriedade de bens em função de seu trabalho, de herança ou doação não administrável pelo pai. direito_empresarial.indb 34 14/02/13 14:50 35 Direito Empresarial Unidade 1 3.3 Quem não pode ser empresário De acordo com o Código Civil Brasileiro, não podem ser empresários os legalmente impedidos e os incapazes. 3.3.1 Os legalmente impedidos A lei impede que determinadas pessoas sejam empresárias ou que desenvolvam algum tipo de atividade na empresa em que são sócias, em função do que representam para a sociedade; tipo de atividade que desenvolvem ou situação em que se encontram. (BRASIL, 2002). De acordo com Reis e Reis (2005), as pessoas impedidas de serem empresárias são: corretor de seguros – não pode constituir sociedade, nem qualquer outro tipo de negociação; despachante aduaneiro – não pode manter empresa de exportação ou importação, nem comercializar mercadorias estrangeiras no país; estrangeiro com visto provisório – não pode ser administrador, gerente ou diretor de sociedade empresária ou simples, nem constituir firma individual; falido não reabilitado, enquanto estiver interditado – não pode ser empresário, a não ser, dois anos depois da extinção das obrigações; leiloeiro – não pode exercer a empresa direta ou indiretamente, nem constituir sociedade empresária; médico – não pode ter empresa farmacêutica em paralelo ao exercício da atividade médica; deputado ou senador não pode ser proprietário, controlador ou diretor de pessoa jurídica de direito público, nem exercer função remunerada ou cargo de confiança nessa empresa; direito_empresarial.indb 35 14/02/13 14:50 36 Universidade do Sul de Santa Catarina juiz de direito, promotor de justiça, funcionário público, militar da ativa e policial – podem ser cotistas ou acionistas, mas não podem participar de sociedade empresária como administradores ou gerentes. 3.3.2 Os incapazes Também as pessoas, absoluta ou relativamente incapazes, não poderão tomar iniciativa na criação da empresa, e ainda estão proibidas legalmente de exercer atividade empresarial, mesmo por meio de representação ou assistência. A incapacidade para o exercício da atividade empresarial tem por escopo tutelar o incapaz, protegendo-o dos riscos advindos daquela atividade. Entretanto, se a incapacidade do empresário aparecer depois de constituída a empresa, o representante legal poderá dar continuidade aos negócios, podendo nomear administrador idôneo, pois somente a formação da empresa é vedada aos incapazes. Os interditos também não podem ser empresários. São declarados incapazes e estão submetidos a regime especial sob a responsabilidade de um curador, que lhes administra os bens, mas, que não pode exercer a empresa em seu nome. 3.4 Tratamento diferenciado ao empresário A Constituição Federal define tratamento especial às microempresas, empresas de pequeno porte e ao pequeno empresário, visando a simplificar o atendimento às obrigações administrativas, previdenciárias, tributárias e creditícias, para criar condições para o seu desenvolvimento. Para tal, foi editada a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, para dar cumprimento ao disposto constitucional. Podem se beneficiar desse tratamento especial, a sociedade empresária mercantil, a sociedade empresária simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário individual, devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, desde que São aqueles que não têm o necessário discernimento para os atos da vida civil, como, os deficientes mentais, os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, os excepcionais sem completo desenvolvimento mental, os pródigos e os que, por causa duradoura, não podem exprimir a sua vontade. direito_empresarial.indb 36 14/02/13 14:50 37 Direito Empresarial Unidade 1 enquadrados como microempresa, empresa de pequeno porte ou pequeno empresário. Para isso, a Lei Complementar no 139, de 10 de novembro de 2011, definiu os seguintes limites de receita bruta anual em cada ano calendário, para enquadramento nos casos de: microempresa, desde que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00; no caso da empresa de pequeno porte, desde que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00; no caso de pequeno empresário, aquele que tenha receita anual de até 60.000,00. (BRASIL, 2011). Esse tratamento especial destinado às microempresas, às empresas de pequeno porte e ao pequeno empresário consisteem: privilégios registratórios, trabalhistas, fiscais e previdenciários; condições mais favoráveis para acesso a editais de licitação e aos mercados de crédito e de capitais; realização de negócios por meio de consórcios de microempresas ou empresas de pequeno porte, optantes do Simples Nacional; apoio creditício às suas operações; eliminação de exigências e obrigações acessórias e instituição do Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições; simplificação de normas concernentes ao protesto de títulos; acesso aos juizados especiais; estímulo ao uso de conciliação prévia, mediação e arbitragem para a solução de conflitos; plano especial de recuperação judicial. direito_empresarial.indb 37 14/02/13 14:50 38 Universidade do Sul de Santa Catarina Analisados os requisitos para ser um empresário, você vai estudar as peculiaridades de um estabelecimento empresarial, o qual é composto por um conjunto de elementos que permitem o exercício da empresa. Seção 4 – Estabelecimento empresarial Quando o empresário ou a sociedade empresária se propõe a desenvolver a atividade econômica, precisa ter disponíveis certos elementos que possibilitem a prática profissional da atividade proposta. Essa reunião de elementos denomina-se estabelecimento empresarial. Conforme o Código Civil Brasileiro, estabelecimento empresarial consiste no complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária, podendo ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. (BRASIL, 2002). 4.1 Tipos de estabelecimento empresarial O estabelecimento empresarial pode ser físico, com um endereço físico e que constitui o local para onde se dirigem os clientes do empresário para realizar negócios, ou pode ser um estabelecimento virtual, que é um local não físico, um site, para onde os clientes também se deslocam, não por deslocamento físico, mas sim por deslocamento virtual, em busca de negócios. O site é o conjunto de informações e imagens alocadas em um servidor e disponibilizadas de forma virtual na internet, cujo acesso é realizado por meio de um endereço eletrônico ou nome de domínio. De acordo com Bruscato (2011), o estabelecimento físico é o estabelecimento tradicional do empresário, local dotado de endereço físico, onde ele providencia, organiza e coordena as direito_empresarial.indb 38 14/02/13 14:50 39 Direito Empresarial Unidade 1 instalações e a disposição dos móveis, máquinas e equipamentos, o estoque, os documentos, as práticas, o pessoal, a filosofia de trabalho, bem como os métodos de produção, comercialização ou prestação de serviços. Embora, no estabelecimento virtual, isso aconteça de forma similar, o empresário não dispõe de instalações físicas para receber os clientes, pois, nesse caso, são atendidos na página da internet, no site da empresa. O estabelecimento empresarial virtual é o meio onde ocorre o comércio eletrônico, o qual é caracterizado pela atividade de intermediação de produtos ou prestação de serviços realizados a partir de meios eletrônicos, como por exemplo, a rede mundial de computadores ou fora dela, sem deixar de caracterizar a virtualidade do negócio. Nesse sentido, pode-se dizer que tanto o estabelecimento empresarial físico como o estabelecimento empresarial virtual consistem no conjunto de bens materiais e imateriais utilizados pelo empresário ou sociedade empresária, como instrumento para o exercício da atividade empresarial. Mas qual a diferença entre estabelecimento empresarial físico e virtual? O que diferencia o estabelecimento físico do virtual não é a sua constituição, mas a forma de realizar negócios, pois, enquanto no estabelecimento físico os clientes se dirigem ao endereço físico da empresa, no estabelecimento virtual acessam o site da empresa, para o qual enviam informações por via de transmissão eletrônica de dados. Dessa forma, tanto a natureza jurídica do estabelecimento físico quanto a do virtual em nada diferem. Neste sentido, o estabelecimento empresarial virtual é um complexo unitário composto pelos mesmos bens que integram o estabelecimento físico, entretanto, não há possibilidade de ele figurar como objeto num trespasse. Essa particularidade é o que simplifica o contrato que tem por objeto o estabelecimento virtual, pois, nesse caso, é desnecessária a cessão da locação para continuar no espaço físico. É o contrato de compra e venda do estabelecimento empresarial por meio do qual ocorre a transferência de sua titularidade. Também pode ser denominado traspasso. direito_empresarial.indb 39 14/02/13 14:50 40 Universidade do Sul de Santa Catarina Diante do exposto, pode-se verificar que, para se realizar uma determinada atividade econômica, é necessário haver o estabelecimento empresarial, físico ou virtual, entendido como sendo um conjunto de bens, corpóreos e incorpóreos, organizados pela vontade do empresário com vista ao desenvolvimento da produção e circulação de bens ou serviços para o mercado, com o fim de lucro. Conhecidas as características referentes ao estabelecimento empresarial, você vai estudar os bens corpóreos e os bens incorpóreos que integram tal estabelecimento, seja ele físico ou virtual. 4.2 Bens corpóreos e bens incorpóreos Inicialmente, cabe destacar que um bem é tudo aquilo que pode ser objeto de direito e é suscetível de ser utilizado e apropriado, ou seja, trata-se de coisas materiais ou imateriais que têm valor econômico e que podem servir de objeto a uma relação jurídica. Os bens corpóreos, também chamados materiais ou tangíveis, têm existência física, podem ser tocados e são visíveis. Já os bens incorpóreos são os que não têm existência tangível e se referem aos direitos que as pessoas físicas ou jurídicas têm sobre as coisas, apresentando valor econômico, como por exemplo, os direitos autorais. Em uma empresa, os bens corpóreos consistem em coisas materiais usadas para o exercício da atividade empresarial, como utensílios, máquinas, equipamentos, mercadorias, imóveis, veículos. Já os bens incorpóreos da empresa incluem as coisas imateriais que não ocupam espaço físico, mas que integram o estabelecimento, como ponto empresarial, título do estabelecimento, aviamento e nome empresarial. direito_empresarial.indb 40 14/02/13 14:50 41 Direito Empresarial Unidade 1 4.3 Ponto empresarial De acordo com Coelho (2007), o ponto empresarial corresponde ao local específico em que se encontra o estabelecimento empresarial. Por fazer referência ao local onde está instalado o estabelecimento empresarial, em função do ramo de atividade explorado pelo empresário, a localização do estabelecimento pode acarretar acréscimo no valor do ponto empresarial. Conforme Bruscato (2011), para o sucesso do empreendimento, o empresário, ao se estabelecer, deve avaliar a localização do seu negócio, considerando o vulto do empreendimento, o tipo de atividade, o perfil da clientela, a distância até os principais fornecedores, a facilidade de escoamento da produção e de acesso, o segmento de mercado que deseja atingir, pois a localização do estabelecimento empresarial é um dos fatores decisivos para o sucesso da empresa. Esse espaço físico pode ser um imóvel próprio ou alugado, devendo ser escolhido entre os espaços que oferecem melhor localização para o sucesso do empreendimento. Caso o empresário esteja estabelecido em imóvel de sua propriedade, a proteção jurídica do valor agregado ao ponto empresarial pelo exercício de uma atividade empresarial tem respaldo nas leis da propriedade imobiliária do direito civil. No entanto, se o empresárioestiver estabelecido em imóvel alugado, a proteção jurídica do valor agregado pelo estabelecimento empresarial neste ponto empresarial será baseada na Lei de Locação. (COELHO, 2007). Desse modo, no Brasil, se o empresário não é locatário do imóvel onde está situado o seu estabelecimento empresarial, o direito à permanência no ponto empresarial e o direito à renovação da locação do imóvel são assegurados pela Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991. direito_empresarial.indb 41 14/02/13 14:50 42 Universidade do Sul de Santa Catarina Essa lei dispõe sobre as locações de imóveis urbanos, protege o ponto empresarial e estabelece que é do empresário, garantindo- lhe o direito de obter a renovação obrigatória do aluguel. Esse direito só é assegurado ao empresário locatário, excluindo-se os profissionais liberais, as associações sem fins lucrativos e as fundações. (BRASIL, 1991). 4.4 Título do estabelecimento empresarial O título do estabelecimento empresarial consiste na designação pela qual a empresa é conhecida do público. Tem por objetivo designar o local onde o empresário expõe suas mercadorias e se encontra com a clientela, servindo para individualizar o estabelecimento, fixar determinado local na mente dos consumidores e diferenciá-lo da concorrência. Esse título não pode ser confundido com o nome empresarial, pois este é o registrado no Registro Público competente que dá origem à personalidade jurídica e é utilizado pelo empresário que exerce a atividade empresarial, com o objetivo de identificar tanto o empresário individual como a sociedade empresária. O título de um estabelecimento pode ser constituído por um nome de fantasia, composto de figuras, desenhos ou palavras combinadas, ou termo de expressão relativa à atividade empresarial do estabelecimento, como também, pode ser o mesmo da firma ou denominação do estabelecimento, que, nesse caso, pode causar confusão com o nome empresarial. Geralmente o título é apresentado por meio de uma expressão de fantasia, cujo tema está associado ao bem produzido e/ou ao serviço fornecido, como por exemplo: Casas Bahia, Drogaria Catarinense, Leopoldina Shopping, Lojas Americanas, Magazine Luiza, entre outros. direito_empresarial.indb 42 14/02/13 14:50 43 Direito Empresarial Unidade 1 4.5 Aviamento O aviamento é um atributo do estabelecimento empresarial, resultado do conjunto de fatores de ordem material ou imaterial, que confere ao empresário a capacidade ou aptidão de gerar lucros, e pode ser entendido como sendo a valorização de uma sociedade empresária em relação à média das sociedades equivalentes. Negrão (2007) afirma que o aviamento está intimamente ligado ao estabelecimento empresarial, mesmo que resulte da atividade empresarial nele desenvolvida pelo titular da empresa, pois, no trespasse do estabelecimento, o sobrevalor que lhe foi outorgado o acompanha e se expressa economicamente, independentemente da permanência de seu titular. Por isso, considera o aviamento como atributo do estabelecimento, e não da empresa. Este sobrevalor, de acordo com Campinho (2005), pode resultar da boa organização de capital e trabalho para o exercício da atividade empresarial; da clientela e da reputação e do bom nome do empresário na praça, onde está situado o seu estabelecimento empresarial. Conhecidos os elementos que compõem um estabelecimento empresarial, a seguir você vai estudar o conceito e a formação do nome empresarial, que consiste na designação que serve para indicar tanto o nome do empresário quanto o exercício da atividade empresarial. Seção 5 – Nome empresarial O nome empresarial identifica o empresário, assim como individualiza e assinala a espécie de responsabilidade patrimonial do mesmo ou da sociedade empresária. A proteção jurídica do nome empresarial está condicionada à inscrição no Registro Público competente. O registro do nome empresarial ocorre, automaticamente, com o arquivamento dos atos constitutivos da empresa e suas alterações. direito_empresarial.indb 43 14/02/13 14:50 44 Universidade do Sul de Santa Catarina Esse registro assegura o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado. No caso de sociedade estrangeira, ressalta-se que ela segue as normas do país onde se estabeleceu primeiro, podendo, no Brasil, acrescentar a expressão do Brasil ou para o Brasil. O nome empresarial pode ser formado de duas espécies, firma ou denominação. 5.1 Firma No que se refere à espécie firma, ela apresenta-se sob duas formas: individual ou social, as quais serão detalhadas a seguir. 5.1.1 Firma individual A firma individual é aquela adotada pelo empresário que explora a atividade econômica de forma isolada, pessoal e individualmente, ou ainda no caso de empresa individual de responsabilidade limitada. Nessas hipóteses, o nome empresarial é formado pelo nome completo ou abreviado do empresário, e deve ser distinto de qualquer outro já inscrito na Junta Comercial. Caso já exista outro registro com o mesmo nome do empresário, deve-se acrescentar uma designação mais precisa de sua pessoa ou da atividade que exerce. No caso de empresa individual de responsabilidade limitada, há necessidade de acrescentar a expressão EIRELI no final do nome empresarial. Anselmo Acilino dedica-se ao comércio de bebidas, assim ele deverá inscrever como firma o seu nome civil, por extenso – Anselmo Acilino – ou abreviado – A. Acilino, acompanhado, ou não, de designação do ramo de atividade, que poderá ser Anselmo Acilino Bebidas. direito_empresarial.indb 44 14/02/13 14:50 45 Direito Empresarial Unidade 1 Cabe destacar que, no caso de a empresa de Anselmo ser enquadrada como microempresa, o nome empresarial deverá ser, então, Anselmo Acilino Bebidas ME. Já, no caso de empresa individual de responsabilidade limitada, o nome empresarial poderia ser Anselmo Acilino EIRELI ou Anselmo Acilino Bebidas EIRELI. 5.1.2 Firma social ou razão social A firma social ou razão social é aquela utilizada pelas sociedades empresárias constituídas, com base nas qualidades pessoais dos sócios, como por exemplo, a sociedade limitada, a sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita simples e a sociedade em comandita por ações. No caso de firma social ou razão social, não é possível utilizar somente o primeiro nome do sócio. Neste caso, o nome empresarial é formado pelo nome completo ou abreviado do(s) sócio(s), que responde (m) solidária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade, com exceção da sociedade limitada, que deve usar a expressão limitada, e da sociedade em comandita por ações, que deve usar a expressão comandita por ações. Também é possível substituir o nome de um ou de mais sócios pela expressão & Cia. A seguir, apresentam-se diferentes maneiras de se formar um nome empresarial com base na firma social. Anselmo Acilino contrata uma sociedade limitada com Maria Mendes; neste caso, a firma social será formada pelo nome deles, por extenso ou abreviado – Anselmo Acilino & Maria Mendes Ltda; Acilino & Mendes Ltda; A. Acilino & M. Mendes Ltda; Acilino & Cia Ltda. É importante observar que é necessária uma cláusula contratual indicando o(s) nome(s) do(s) sócio(s) que irão figurar na firma ou razão social. Além disso, no caso de alteração da firma social, é obrigatória a retirada do(s) nomes (s) do(s) sócio (s) que figuravam na firma social nas situações em que houver retirada, exclusão direito_empresarial.indb 45 14/02/13 14:50 46 Universidade do Sul de Santa Catarina ou morte de sócio(s), como também, no caso de alteração de categoria de sócio figurante na firma social ou na alienação do estabelecimento empresarial, como dispõe o artigo 1.165 do CC. 5.2 Denominação A denominação tempor base qualquer expressão linguística, utilizada pelas sociedades constituídas com base no capital, como por exemplo, a sociedade anônima e a sociedade em comandita por ações. Cabe destacar que a sociedade limitada e a empresa individual de responsabilidade limitada também podem usar razão social ou denominação. A denominação é formada por um nome de fantasia, acrescida da designação de seu objeto social e das expressões correspondentes ao tipo de sociedade – limitada ou Ltda., comandita por ações ou C/A, sociedade anônima ou S.A., companhia ou Cia, EIRELI. O nome da sociedade limitada entre Anselmo Acilino e Maria Mendes poderia ter como denominação: Tequila Bebidas Ltda. Se fosse uma sociedade anônima, a denominação poderia ser: Companhia Tequila de Bebidas ou Tequila Bebidas Sociedade Anônima. Nesse mesmo exemplo, em se tratando de uma empresa individual de responsabilidade limitada, a denominação pode ser: Tequila Bebidas EIRELI. Na sociedade anônima ou na sociedade limitada, pode-se utilizar o nome do fundador, acionista ou pessoa que tenha influenciado no sucesso da empresa no lugar do nome fantasia. Nesse caso, o nome próprio representa apenas uma homenagem a um fundador da empresa, ou a outra pessoa grada, equiparando-se ao nome de fantasia. Além disso, o uso do nome do fundador, acionista ou outra pessoa no lugar do nome fantasia pressupõe autorização específica de seu titular ou de seus herdeiros para a inclusão do nome civil no nome empresarial. Isso, porque esse nome deixa de ser um direito_empresarial.indb 46 14/02/13 14:50 47 Direito Empresarial Unidade 1 nome civil para se transformar em um nome criado, de domínio público, o que possibilita a continuidade do nome empresarial. No caso de retirada, exclusão ou morte da pessoa cujo nome foi usado na denominação social, se a sociedade continuar existindo, não é necessária a alteração do nome empresarial, como requer o artigo 1.165, do Código Civil Brasileiro. (FAZZIO JUNIOR, 2008). No exemplo a seguir, apresentam-se diferentes maneiras de se formar um nome empresarial, com base na denominação com uso do nome do fundador. Supondo-se que Tereza Modolon tivesse sido a fundadora de uma sociedade limitada de bebidas que, agora teria como sócios Anselmo Acilino e Maria Mendes, o nome empresarial poderia ser: Tereza Modolon Bebidas Ltda. ou Modolon Bebidas Ltda. No caso de uma sociedade anônima, na mesma situação, o nome empresarial poderia ser Companhia Modolon de Bebidas ou Tereza Modolon Bebidas S/A. Cabe destacar que também é necessária uma cláusula contratual indicando o(s) nome(s) do(s) sócio(s) que irão figurar na denominação. Analisados os aspectos quanto ao nome empresarial, vão ser estudados, na sequência, os demais institutos jurídicos que regulam a atividade empresarial. direito_empresarial.indb 47 14/02/13 14:50 48 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 6 – Outros institutos jurídicos da empresa Para exercer a atividade econômica organizada de produção e circulação de bens e serviços para o mercado, com o fim de lucro, o empresário deve cumprir determinadas obrigações legais inerentes ao exercício regular de sua profissão. Sendo assim, o Código Civil Brasileiro define as regras para o registro público da empresa, a escrituração e a preposição, que serão apresentados na sequência. 6.1 Registro público de empresa Toda empresa é formalizada por meio de um ato constitutivo que representa a formalização da vontade do empresário ou dos sócios de uma sociedade de exercer a empresa. Esse ato deve ser inscrito no registro público competente. De acordo com a lei n. 8.934/1994, o registro público é o instituto jurídico que possibilita a existência legal da empresa e tem por objetivo dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro; como também, visa a cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no país e proceder às matrículas e aos cancelamentos dos agentes auxiliares do comércio. (BRASIL, 1994). Essa mesma lei dispõe ainda que registro público de empresa compreende os seguintes atos jurídicos, entre outros. arquivamento dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas individuais, sociedades mercantis e cooperativas; dos atos relativos a consórcio, a grupo de sociedade e a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil; das declarações de microempresa; de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro Público; matrícula e seu cancelamento, dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais; direito_empresarial.indb 48 14/02/13 14:50 49 Direito Empresarial Unidade 1 autenticação dos instrumentos de escrituração das empresas mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio. (BRASIL, 1994). O empresário e a sociedade empresária devem requerer sua inscrição no Registro Público competente, da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Desse modo, as sociedades empresárias personalizadas devem ser registradas no Registro Público de Empresas Mercantis, enquanto que as sociedades simples devem ser registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. No Brasil, os serviços do Registro Público de Empresas Mercantis e atividades afins são exercidos pelo Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (Sinrem), composto pelo Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), órgão central com funções técnicas de supervisão, orientação, coordenação e normação; e pelas Juntas Comerciais, órgãos estaduais, responsáveis pela execução e administração dos serviços de registro. Para fazer o referido registro, o empresário deve apresentar um requerimento ao registro público competente, contendo seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; a firma, com a respectiva assinatura autografa; o capital; e o objeto e a sede da empresa. Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos respectivos atos. As alterações contratuais devem ser averbadas à margem da inscrição. Também devem ficar arquivados e averbados os pactos e declarações antenupciais, título de doação, herança, legado, sentença de separação judicial ou reconciliação do empresário. Cabe observar que a Junta Comercial não dará andamento a qualquer documento de alteração de firma individual ou sociedade, se não constar o Número de Identificação de Registro de Empresas (NIRE) nos respectivos requerimentos e instrumentos. De acordo com o artigo 54, da Lei 8.934/1994, a certidão dos atos constitutivos e de alteração de sociedades empresárias, direito_empresarial.indb 49 14/02/13 14:50 50 Universidade do Sul de Santa Catarina passadas pelo Registro Público competente em que foram arquivados, será o documento hábil para a transferência, por transcrição no registro público competente, dos bens com que o subscritor tiver contribuído para a formação ou aumento do capital social. (BRASIL, 1994). As informações que integram o banco de dados do registro público podem ser consultadas por qualquer pessoa, sem necessidade de provar interesse, assim como podem ser objeto de consulta quaisquer assentamentos nele existentes. É possível ainda, obter as certidões dos atos constitutivos e de alteração de sociedades empresárias, mediante pagamento do preço devido. 6.2 Escrituração A escrituração é uma técnica contábil que consiste no registro em livros próprios dos fatos administrativos resultantes da atividade empresarial que influenciam o patrimônio de uma empresa. (LIMA,
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