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Apostila - 2ª Parte

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FILOSOFIA PARA ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS 
CONTÁBEIS. 
APOSTILA DO CURSO, segunda parte. 
 
 
PROFESSOR: ANTONIO SATURNINO BRAGA 
 
 
 
 
 
MARÇO DE 2012.
2 
 
SUMÁRIO da segunda parte. 
 
SEGUNDA PARTE: ANÁLISE FILOSÓFICA DOS GRANDES TIPOS DE TEORIA DA 
SOCIEDADE. 
- Aula 9: Imagens fundamentais da realidade: nas ciências da natureza e nas 
ciências da sociedade. Página 3. 
- Aula 10: Teoria mecanicista (positivista) da sociedade, com origem na teoria da 
sociedade de Adam Smith. Página 6. 
- Aula 11: Teoria funcionalista (positivista) da sociedade, com origem na obra de 
Durkheim. Página 9. 
- Aula 12: Materialismo histórico do marxismo ortodoxo (concepção positivista). 
Página 13. 
- Aula 13: A abordagem interpretativa da sociedade (antipositivista, idealista ou 
construtivista). Página 18. 
- Aula 14: Alguns tópicos da sociologia de Max Weber, um dos principais 
expoentes da abordagem interpretativa. Página 21. 
- Aula 15: A Teoria Crítica da Escola de Frankfurt (teoria de caráter construtivista). 
Página 25. 
- Aula 16: As abordagens sociológicas no campo da teoria das organizações. 
Página 29. 
3 
 
 
Aula 9 
Imagens fundamentais da realidade: nas ciências da natureza e nas ciências da 
sociedade 
 
Construtivismo culturalista e imagem da realidade 
 
•Holismo metodológico: a realidade que o sujeito vê (e com a qual ele lida) não é 
a realidade “em si mesma”, mas é a realidade classificada, organizada e 
interpretada a partir de (e de acordo com) uma certa imagem da realidade –a 
imagem que ele adota (o objeto do conhecimento sempre é epistemologicamente 
construído pelos sujeitos). 
 
Diagnóstico do positivismo, desde o ponto de vista do construtivismo culturalista. 
 
•Embora pretenda enxergar, investigar e descrever a realidade em si mesma, o 
positivista na verdade trabalha a partir de uma certa imagem da realidade –a 
imagem positivista da realidade. 
 
•A principal falha do teórico positivista NÃO é que a imagem que ele adota esteja 
errada, mas, sim, que ele não percebe que está adotando uma imagem (ele 
ingenuamente pensa que está tratando da realidade em si mesma). 
 
•O positivismo: duas características complementares: 
•(a) Ingenuidade metodológica (ingenuidade que sempre tem algo de negativo, 
na medida em que implica desconsideração da possibilidade de lidar com a 
realidade a partir de outra imagem). 
•(b) A imagem positivista da realidade exprime certos traços da moderna ciência 
da natureza. A questão é saber se é bom adotar essa imagem de realidade na 
esfera das ciências humanas e sociais. 
 
Imagem positivista da realidade 
 
•Características gerais da imagem positivista da realidade (exprimem a imagem 
de natureza construída e adotada a partir da revolução científica moderna). 
 
•(a) Algo que existe, se estrutura e opera de modo completamente independente 
do sujeito – de suas capacidades cognitivas, idéias, valores e interesses. 
Realidade como algo de completamente externo e alheio a elementos típicos do 
sujeito: consciência, reflexão, idéias sobre o sentido das ações e da existência 
humana em geral (no plano mais genérico, idéias sobre o que é bom e mau, sobre 
o certo e o errado, sobre o que vale a pena e o que não vale a pena; a partir das 
quais se produzem idéias mais específicas, sobre o sentido de interações e ações 
mais específicas). 
•(b) Estrutura/sistema fixo e imutável – leis de funcionamento invariáveis. 
•(c) Leis de caráter geral (determinístico ou probabilístico), permitindo previsão, 
controle, intervenção e manipulação. 
4 
 
•(d) Leis de caráter quantitativo (correlações numéricas entre variáveis 
quantitativas). 
Diagnóstico feito pelo construtivismo da imagem positivista no campo das 
ciências da natureza 
 
•(1) Não podemos ter certeza de que natureza “em si mesma” seja assim 
(completamente alheia a elementos típicos do sujeito e da consciência do sujeito, 
com leis de funcionamento fixas e imutáveis, de caráter geral e quantitativo), mas 
nós vemos a natureza dessa maneira – natureza “para nós” é assim. 
•(2) No campo das ciências da natureza, essa imagem tem rendido bons frutos, 
tanto em termos de conhecimento em sentido estrito quanto em termos de 
aplicações técnicas (tem se mostrado com alto potencial explicativo e com grande 
fecundidade na resolução de problemas de ordem técnica). 
 
Diagnóstico feito pelo construtivismo da imagem positivista no campo das 
ciências sociais 
 
•Características da imagem positivista da realidade “sociedade”: 
 
(a) Componentes fundamentais dos objetos “sociedade” e “homem em 
sociedade” são elementos “objetivos” (ou seja, independentes da consciência, 
reflexão e idéias dos homens, e, por isso mesmo, invariáveis, ou não alteráveis 
pela consciência humana). Por exemplo, “forças da natureza humana” e 
“características objetivas da racionalidade humana” (elementos típicos das 
abordagens individualistas e mecanicistas); ou “luta pela vida” e “seleção natural” 
(elementos típicos das abordagens organicistas-funcionalistas); ou “condições 
objetivas do processo de produção dos meios materiais de satisfação das 
necessidades humanas” (elemento típico da abordagem do materialismo histórico 
do marxismo ortodoxo). 
 
b) Sujeito do conhecimento científico é um mero observador de uma realidade 
objetiva e independente, e o conhecimento científico é uma descrição que 
corresponde a esta realidade independente. 
 
Problemas (em relação ao materialismo histórico do marxismo ortodoxo, a 
discussão destes problemas precisa ser nuançada). 
 
•Naturaliza (objetifica) a sociedade. Vê a sociedade como algo que se estrutura e 
funciona de modo independente da consciência, reflexão, idéias e valores dos 
sujeitos em geral. Vê a sociedade como regida, essencialmente, por leis fixas e 
invariáveis, que permitem previsão e intervenção de cunho manipulador. 
 
• “Coisifica” o homem. Vê o homem como objeto “natural”, ou seja, entidade 
regida por condições de comportamento invariáveis, independentes de idéias 
sobre o bem/mal (idéias sobre o sentido das ações, interações e vidas humanas 
em geral) conscientemente adotadas. Idéias são reduzidas a meras 
manifestações de condições “objetivas” de racionalidade e/ou comportamento, 
condições relativamente fixas e invariáveis. Enfatiza e valoriza as possibilidades 
de previsão e intervenção de cunho manipulador. 
 
5 
 
•Imagem de caráter conservador – desqualifica a possibilidade de mudanças no 
homem e na sociedade; desqualifica o projeto de mudanças sociais, 
apresentando-o como utópico (expressão apenas de desejos e sonhos, sem 
correspondência com a realidade). 
 
Imagem antipositivista da sociedade 
•Características: 
 
•(a) “Culturaliza” a sociedade. Vê a sociedade como constituída, essencialmente, 
por padrões de significação (padrões de interpretação e resposta às informações 
em geral e aos dados naturais em particular). Um padrão de significação é uma 
imagem que os sujeitos têm sobre o sentido de suas relações com a natureza e 
com os outros, sobre o sentido de suas ações, interações, e existências em geral. 
Em outras palavras, um padrão de significação exprime idéias sobre o que é bom 
e o que é ruim na existência humana, sobre o que deve e o que não deve ser feito, 
sobre a melhor maneira de escolher e agir. 
- A sociedade (cultura) é construída por sujeitos dotados de consciência e 
linguagem, ou seja, sujeitos capazes de compreender, aplicar, reproduzir e 
eventualmente alterar os padrões de significação segundo os quais são formados 
e educados. Os componentes básicos da sociedade (idéias de sentido e padrões 
de significação) são essencialmente dependentesdas práticas comunicativas de 
sujeitos dotados de consciência e linguagem. 
- O sujeito do conhecimento científico (o sujeito que produz ciência social) 
indiretamente participa do processo cultural de geração, reprodução e alteração 
das idéias de sentido e padrões de significação, participando também da tensão, 
negatividade e variabilidade que são inerentes ao processo de geração e 
reprodução das idéias. 
•(b) Enfatiza a consciência humana: a capacidade do sujeito de conscientizar-se 
do padrão de significação (idéia sobre o sentido) que está seguindo, de refletir 
sobre ele e segui-lo de modo consciente. 
- A consciência está ligada a um fenômeno muito comum na experiência do 
homem em sociedade: idéias e avaliações às quais o sujeito às vezes não 
consegue corresponder, gerando sentimentos de culpa e vergonha (Ao ser 
envolvido por uma idéia de sentido, o impulso biológico é tema de uma 
avaliação/prescrição à qual o sujeito nem sempre consegue corresponder; mas o 
fato é que, para o homem em sociedade, o impulso biológico só existe envolvido 
por alguma idéia de sentido, ainda que seja uma idéia segundo a qual “idéias são 
bobagens” e “o homem no fundo é um mero animal”). 
•(c) Enfatiza a liberdade humana: mesmo reconhecendo que padrões de 
significação tendem a estabilizar-se e cristalizar-se (tendem a reproduzir-se de 
forma relativamente automática e irrefletida), enfatiza a possibilidade do sujeito 
alterar o padrão de significação que está regendo sua existência social, por meio 
de participação consciente na rede de comunicação do sistema cultural. 
•(d) Chama atenção para o fato de que, se os participantes do sistema cultural 
“compram” e seguem uma imagem grosso modo “positivista” sobre o sentido de 
sua existência individual e social (por exemplo, grupo social como máquina ou 
organismo), a sociedade vai se estruturar e funcionar de modo correspondente – o 
grupo ou sociedade não “é” máquina ou organismo, é cultura, mas uma cultura 
que se compreende como máquina ou organismo. 
6 
 
Aula 10. 
Teoria mecanicista (positivista) de sociedade, com origem na teoria de sociedade 
de Adam Smith. 
 
O contexto histórico de A. Smith 
 
Seu livro “A Riqueza das Nações” foi publicado em 1776. 
 
•Transição da cultura tradicional (paradigma teleológico da sociedade) para 
cultura moderna (paradigma individualista da sociedade). 
 
•Constatação do definhamento do paradigma teleológico de compreensão dos 
homens e da sociedade, predominante nos períodos antigo e medieval. 
 
•Paradigma teleológico: essência de cada ser humano consiste na 
atividade/função/destinação que lhe é própria dentro da ordem social; finalidade 
de cada ser humano vincula-se à finalidade dos demais e à finalidade comum a 
todos os membros da sociedade: ordem, harmonia e beleza do Todo. 
 
• Numa ordem social tradicional, os meios de coordenação e integração entre os 
indivíduos estão baseados em expectativas de comportamento de caráter 
normativo, ou seja, expectativas que exprimem o comportamento em cada caso 
correto (visto pela sociedade como correto). Tais expectativas são aceitas e 
internalizadas pelos indivíduos em geral, o que significa que cada indivíduo 
percebe o cumprimento dessas expectativas como algo de bom para ele. 
 
Paradigma teleológico e ordem tradicional. 
•O paradigma teleológico de compreensão dos homens e da sociedade constitui-
se em fundamento de uma ordem social tradicional: ordem na qual os indivíduos 
se vêem como destinados a um determinado lugar e função numa totalidade 
integrada e harmoniosa. 
 
•Numa cultura tradicional, o sentido da ação individual consiste na satisfação das 
expectativas de comportamento definidoras do papel social do agente (guerreiro, 
senhor de terras, sacerdote, artesão, agricultor, etc.). E os papéis sociais, assim 
como as expectativas de comportamento que lhes estão respectivamente 
associadas, são essencialmente complementares: complementam-se numa 
ordem social que em princípio é aceita e reproduzida por todos. 
 
•Coordenação das ações individuais necessária à reprodução do grupos social 
está contida no sentido que cada indivíduo atribui às suas ações. 
 
Ordem Social Tradicional 
 
•Numa ordem tradicional, não se manifesta o individualismo moderno (ou pelo 
menos ele não é socialmente difundido como princípio de estruturação das 
relações sociais). Individualismo moderno: preocupação com interesse e 
vantagem estritamente individuais; orientação da vida e das decisões pelo 
interesse e vantagem estritamente individuais. 
7 
 
 
•Numa sociedade tradicional, objetivo das pessoas não é “progredir na vida” 
(maximizar interesse e vantagem individuais), mas dar continuidade à realidade 
social transmitida das gerações anteriores. Ambição não se dirige à vantagem 
individual, mas ao maior brilho possível no exercício da função própria dentro da 
ordem tradicional. 
 
•Não há mercado de terra, nem de trabalho (terra e trabalho são partes do 
caminho de vida concreto a que cada indivíduo e grupo estão destinados). Não há 
uma vida a ser “construída” ou “conquistada” mediante venda de recursos e 
talentos individuais no “mercado”. 
 
Ascensão do paradigma individualista. 
 
•Na cultura moderna (paradigma individualista), o sentido da ação individual 
consiste na busca de fins (interesse e vantagem) estritamente individuais, ou seja, 
fins adotados por indivíduos atomisticamente concebidos. O que caracteriza 
essencialmente esses fins é o fato de eles serem diferentes e até conflitantes 
entre si. 
 
•Se o sentido que cada indivíduo atribui às suas ações consiste na busca de um 
fim diferente e até conflitante em relação aos fins buscados pelos demais 
indivíduos, a coordenação das ações individuais necessária à reprodução da 
sociedade é em princípio externa ao sentido que cada indivíduo atribui às suas 
ações. 
- Para cada indivíduo, a relação com o outro aparece simplesmente como um 
meio (instrumento) de que ele se serve para perseguir seus fins individuais. Isso 
contrasta com a vivência das relações sociais predominante numa sociedade 
tradicional, na qual a relação com o outro aparece como essencial para a 
excelência buscada por cada indivíduo, na medida em que esta consiste no 
desempenho excelente da função que lhe é própria no Todo das relações sociais. 
 
A teoria da sociedade de Adam Smith 
 
•Obra fundamental. “A Riqueza das Nações” (1776). 
•Problemas fundamentais: problema da coordenação das ações individuais 
necessária à reprodução da sociedade e problema da integração social: sem a 
força integradora da tradição e da autoridade emanada da tradição, e deixando as 
escolhas socialmente relevantes ao livre-arbítrio de indivíduos essencialmente 
egoístas, como a sociedade consegue sobreviver e reproduzir-se? 
•Resposta: “Lei do mercado”: Lei da oferta e da procura dos fatores de produção 
e dos bens produzidos. “Mão Invisível”: mecanismo invisível de coordenação, pelo 
qual impulsos e interesses estritamente individualistas (egoístas) são 
mecanicamente canalizados para a funcionamento de uma estrutura eficaz, 
capaz de maximizar a prosperidade (riqueza) de toda a sociedade. 
 
•Elementos fundamentais da lei do mercado. 1) Interesse egoísta (cobiça do 
indivíduo): força que leva os indivíduos a empregarem seus recursos (trabalho, 
terra e dinheiro) na atividade que promete maior retorno financeiro e nos bens 
que prometem maior satisfação ou vantagem individual. 2) Conflito e competição 
8 
 
entre indivíduos: força que freia a cobiça e ganância dos indivíduos, levando-os a 
cobrar e pagar um valor “socialmente ótimo” pelos fatores e produtos que ofertam 
e procuram no mercado.Imagem mecanicista da sociedade (um tipo de imagem positivista da sociedade). 
•Sociedade aparece como uma máquina; imagem da sociedade como máquina. 
 
- Componentes essenciais da realidade social: 
a) Forças “objetivas” da natureza humana: cobiça, egoísmo, e racionalidade 
calculadora ou instrumental (capacidade de discernir os meios mais eficazes para 
o fim da maximização da vantagem individual). 
b) Força “objetiva” da existência humana em sociedade: competição entre os 
indivíduos: força que freia a ganância individual. 
c) Lei “objetiva” do funcionamento da sociedade: Lei da oferta e da procura. 
 
•Componentes da “máquina social”: indivíduos separados e isolados, movidos por 
forças egoístas em princípio alheias à necessidade de coordenação e integração 
numa ordem estável e eficaz. 
•Mecanismo de coordenação e integração: mecanismo que canaliza tais forças 
“individualistas” (e egoístas) para a construção e funcionamento de uma estrutura 
social materialmente eficaz. 
•Forças que podem ser aproveitadas e canalizadas pelas estruturas mecânicas de 
integração: interesse no máximo retorno financeiro; medo da privação financeira 
ou material, racionalidade instrumental como capacidade de discernir 
comportamentos necessários ou eficazes para a maximização da vantagem 
individual. 
- Negligencia-se a possibilidade de a integração social efetuar-se por meio de 
idéias e projetos comuns ou compartilhados. 
 
Imagem positivista da sociedade 
- Em Adam Smith, desejo de lucro, interesse na vantagem individual, egoísmo, 
competitividade e racionalidade calculadora (instrumental) são vistos como forças 
fundamentais da “natureza humana”, ou seja, como elementos totalmente 
independente da consciência, reflexão, idéias e valores dos sujeitos (atuação 
dessas forças é independente da consciência ou idéias que os sujeitos possam ter 
acerca delas). 
•Tais elementos não são vistos como padrões de significação (idéias e padrões de 
interpretação acerca do sentido das ações e interações humanas) historicamente 
produzidos e culturalmente transmitidos, distintos dos padrões vigentes em outras 
épocas e culturas, e em princípio mutáveis (ainda que fortemente enraizados e 
cristalizados na cultura ocidental contemporânea). 
•Imagem positivista da realidade social: imagem na qual a sociedade é vista 
como algo que se estrutura e funciona com base em elementos e leis “objetivos”, 
alheios à consciência e idéias de sentido que os sujeitos possam ter a respeito 
deles. (Ou seja, algo que se estrutura e funciona com base em leis cuja atuação 
não depende das idéias, interpretações, juízos e avaliações que os sujeitos 
possam ter a respeito delas; leis que nesse sentido atuam “às costas” da 
consciência dos sujeitos). 
 
 
9 
 
Aula 11. 
Teoria funcionalista (positivista) de sociedade, com origem na obra de Durkheim. 
 
•Primeira obra de Durkheim: “Sobre a Divisão do Trabalho Social” (1893). 
 
•Problema fundamental é semelhante ao de Adam Smith: (aparente) oposição do 
individualismo moderno às exigências de coordenação e integração que têm de 
ser satisfeitas para que a sociedade possa se reproduzir. 
- Se os sujeitos que compõem a sociedade são essencialmente individualistas, 
não atribuindo nenhum valor intrínseco ao cumprimento de expectativas de 
comportamento de caráter recíproco e complementar, como explicar a integração 
social? Como explicar a coordenação das ações individuais necessária à 
reprodução da sociedade? 
 
•Modo de visualizar a solução do problema é diferente. Smith: coordenação 
puramente mecânica entre indivíduos que são e permanecem essencialmente 
isolados, separados. Prioridade dos interesses do indivíduo (psique individual) 
sobre a estrutura social. 
 
•Para defender a autonomia e irredutibilidade da sociologia, Durkheim sente 
necessidade de defender a prioridade da estrutura social sobre a psique dos 
indivíduos. O princípio da integração social consiste, não em interesses individuais 
oriundos da psique individual, mas em padrões de relacionamento social que 
exprimem a estrutura social enquanto tal, e que moldam a psique individual. 
 
- Na terminologia de Durkheim, padrões de relacionamento social equivalem a 
formas de “solidariedade social” (padrões de relacionamento social são padrões 
de ligação dos indivíduos, e em Durkheim “solidariedade social” tem o sentido, 
justamente, de “ligação entre os indivíduos”, e não o sentido de benevolência ou 
beneficência). 
Em Durkheim, portanto, padrões de ligação entre indivíduos são anteriores aos 
próprios indivíduos, ou seja, os indivíduos existem numa estrutura que os liga a 
outros indivíduos. São os padrões de ligação que moldam a psique individual. 
 
Individualismo moderno e solidariedade orgânica 
 
•Assim, o individualismo moderno deixa de ser visto como expressão da 
natureza/psique (eterna, fixa e imutável) do indivíduo, e passa a ser visto como 
expressão de um determinado padrão de ligação (“solidariedade”) social, anterior 
à psique individual e formador da mesma. 
•Algum tipo de solidariedade social (exprimindo a estrutura social enquanto tal) 
sempre tem prioridade em relação à psique individual. 
 
•Dois tipos básicos de solidariedade social: solidariedade mecânica e 
solidariedade orgânica. 
 
 
ATENÇÃO: a “solidariedade mecânica” analisada por Durkheim não tem nada a 
ver com a coordenação mecânica que se pode perceber em Adam Smith. 
 
10 
 
- Em Smith, o conceito de “coordenação mecânica” é parte de uma análise da 
sociedade que focaliza seus membros como indivíduos essencialmente separados 
e isolados, que se integram por meios puramente mecânicos (ou seja, meios 
completamente independentes de qualquer finalidade ou propósito supra-
individual). 
- No modo de focalizar a sociedade de Smith, indivíduos isolados sempre se 
integram por meios puramente mecânicos. 
 
- Já em Durkheim, o conceito de solidariedade mecânica é parte de uma análise 
da sociedade que focaliza seus membros como indivíduos que sempre existem 
em estruturas de ligação (com outros indivíduos) que lhes são anteriores. Em 
Durkheim, o conceito de solidariedade mecânica exprime um modelo particular e 
específico de ligação entre os indivíduos, distinto de outro modelo específico, o da 
“solidariedade orgânica” (que inclusive está mais próximo da coordenação 
mecânica de Adam Smith). 
 
- No modo de focalizar a sociedade de Durkheim, indivíduos sempre existem em 
estruturas de ligação social, mas a estrutura pode ser de tipo ou “mecânico” 
(solidariedade mecânica) ou “orgânico” (solidariedade orgânica). 
 
•Individualismo moderno é sintoma ou efeito do que Durkheim chama de 
“solidariedade orgânica”, que ele contrapõe à “solidariedade mecânica”, típica da 
época pré-moderna. 
 
Solidariedade mecânica 
 
•Solidariedade “mecânica”: típica de sociedades pré-modernas. 
•Integração baseada na semelhança “psicológica” entre os indivíduos (atitudes, 
crenças e valores comuns). O predomínio da solidariedade mecânica fomenta este 
tipo de semelhança. 
•Pouca diferenciação entre indivíduos (pouca diferenciação nas atitudes, crenças 
e valores constitutivos dos projetos de vida). Idéias e valores comuns representam 
a maior parte do conteúdo da consciência individual. 
•Indivíduos integram e coordenam suas ações porque são essencialmente 
semelhantes, ou seja, porque compartilham, num nível básico, uma mesma 
concepção e projeto de vida (aspirações e expectativas individuais são moldadas 
por essa concepção compartilhada). 
 
Solidariedade Orgânica 
 
•Solidariedade “orgânica”. Típica das sociedades modernas, pós-tradicionais. 
Integração se constitui a partir da diferenciação entre os indivíduos. 
•Maiorparte do conteúdo da consciência individual passa a ser ocupado por 
fatores (aspirações, interesses, preferências) que diferenciam e separam os 
indivíduos uns dos outros. 
•Desenvolvimento de uma consciência “individualista” (indivíduos que se vêem 
como separados e diferenciados em relação aos demais). 
•Principal forma de ligação social passa a consistir em “contratos” entre 
indivíduos diferentes entre si (contrato como um vínculo entre indivíduos com 
recursos e interesses essencialmente diferentes). 
11 
 
 
Durkheim e o problema da ascensão da solidariedade orgânica 
 
•Problema que Durkheim se coloca: por que a solidariedade orgânica se 
consolidou como principal forma de solidariedade social nas sociedades 
ocidentais modernas, substituindo a solidariedade mecânica? 
 
Resposta de Durkheim (Durkheim e a abordagem funcionalista). 
 
•Explicação de Durkheim contém os germes da abordagem funcionalista. 
•Num ambiente marcado pelo aumento da “densidade material” (aumento do 
número de indivíduos em relação a uma determinada superfície de terra) e da 
“densidade moral” (aumento do número e intensidade dos relacionamentos e 
intercâmbios entre indivíduos) da sociedade, a diferenciação dos indivíduos e a 
formação de uma consciência individualista têm efeitos benéficos para a 
sobrevivência e prosperidade da sociedade como um todo. 
 
•Se não ocorresse essa diferenciação, aumentariam os conflitos entre indivíduos 
(quando a densidade aumenta, se os indivíduos são essencialmente semelhantes 
os conflitos entre eles tendem a aumentar). 
 
Para Durkheim, portanto, a solidariedade orgânica se desenvolveu e consolidou 
porque representa uma característica que torna as sociedades modernas mais 
aptas à satisfação das necessidades “vitais” de integração interna e adaptação 
externa. 
- A solidariedade orgânica torna as sociedades melhor adaptadas ao ambiente 
“material” típico da época moderna (mudança no ambiente provoca uma 
mudança no padrão de ligação social). 
 
Elementos fundamentais das explicações funcionalistas 
 
•Transposição da teoria da evolução de Darwin (1859) para o campo da teoria da 
sociedade. 
•Concebe as sociedades como organismos, submetidos a certas necessidades 
vitais e a certas leis da evolução. 
•Necessidades fundamentais dos organismos sociais (necessidades eternas, fixas 
e imutáveis): integração interna e adaptação ao ambiente externo. 
•Leis fundamentais da vida das sociedades (eternas, fixas, imutáveis): Luta pela 
vida e seleção natural: só sobrevivem e prosperam as sociedades melhor 
adaptadas ao seu ambiente. 
•Necessidades e leis dos organismos sociais são vistas como fatores “objetivos” 
(no sentido positivista do termo), ou seja, fatores que existem e atuam 
independentemente da consciência e idéias que os sujeitos possam ter acerca 
delas (imagem organicista e positivista das sociedades). 
 
 
 
Forma geral das explicações funcionalistas. 
 
12 
 
•Se uma característica torna a sociedade mais apta a satisfazer às necessidades 
de integração interna e adaptação externa, tal característica tende a desenvolver-
se e consolidar-se (em virtude da luta pela vida, as sociedades que não 
desenvolvem tal característica tendem a definhar e desaparecer). 
•Assim, a causa da consolidação da característica consiste na função que ela 
desempenha (ou nos efeitos positivos ou benéficos que ela apresenta) para a 
satisfação das necessidades de integração interna e adaptação ao ambiente 
externo. 
-Explicar um elemento da sociedade (instituição, prática, costume) é identificar e 
analisar sua função (efeito positivo ou benéfico) para o atendimento das 
necessidades básicas do organismo social. 
 
Leis a-históricas da vida das sociedades 
•Pode-se reconstruir a explicação de Durkheim afirmando que, para ele, a 
solidariedade orgânica se desenvolveu e consolidou porque representa uma 
característica que torna as sociedades modernas mais aptas à satisfação das 
necessidades de integração interna e adaptação externa (Em Durkheim, a 
diferenciação entre os indivíduos e a solidariedade orgânica têm conseqüências 
positivas para a satisfação da necessidade de integração interna) 
•Embora a abordagem funcionalista admita e procure explicar as mudanças por 
que passam as sociedades ao longo do processo histórico (mudança da 
solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica, por exemplo), o 
fundamento da explicação consiste em leis fixas e imutáveis (a-históricas) da vida 
em geral, inclusive da vida das sociedades (luta pela vida e seleção natural). 
•Imagem organicista e positivista da sociedade. 
 
Críticas à abordagem funcionalista 
 
•História dos homens e das sociedades é muito curta quando comparada aos 
períodos de tempo necessários para a atuação da seleção natural; número de 
sociedades é muito pequeno quando comparado ao número de organismos 
necessários para a atuação da seleção natural. Aplicação do conceito de seleção 
natural é implausível. (é pouco plausível afirmar que, em virtude da seleção 
natural, as sociedades “inaptas” são varridas do mapa). 
 
•Alternativa à seleção natural: Atribuição de uma “intencionalidade oculta”. Toda 
sociedade “quer” sobreviver e prosperar. Em virtude disso, toda sociedade 
“procura” satisfazer da melhor maneira possível as necessidades que têm de ser 
satisfeitas para que ela possa prosperar: integração interna e adaptação ao 
ambiente externo (necessidades do “organismo social”). Toda sociedade “rejeita” 
o conflito interno. 
 
•Trata o objetivo “prosperidade” como se fosse um objetivo “auto-evidente” e 
“neutro” – um objetivo que a sociedade enquanto tal possui, e que seria 
independente e neutro em relação aos (diferentes e opostos) interesses, valores e 
propósitos dos homens que dela fazem parte. 
 
•Crítica: prosperidade não pode ser tratada como um objetivo neutro. Diferentes 
visões de prosperidade. Necessidade de colocar questões do tipo: Prosperidade 
para quem? Que tipo de prosperidade? Por que esse tipo e não outro? 
13 
 
Aula 12. 
Materialismo histórico do marxismo ortodoxo (concepção positivista). 
 
•Materialismo histórico e dialético: Karl Marx (1818-1883). Compreensão 
materialista da abordagem dialética inicialmente desenvolvida por Hegel (1770-
1831). 
 
•Dialética: 2 idéias básicas: 
 
1ª) Há uma negatividade intrínseca à realidade humana em geral; a realidade que 
“está sendo” sempre abriga possibilidades de desenvolvimento distintas dos 
modos de ser que dominam a realidade atual. Por isso, a realidade é, 
essencialmente, movimento, mudança, diferenciação. A realidade humana é 
essencialmente histórica. 
- Mudança não deve ser concebida como mudança de uma realidade (um ser) que 
permanece. O ser é a mudança. O permanente é na verdade apenas 
aparentemente permanente, e no fundo, ou essencialmente, é permeado ou 
atravessado pela negatividade, dinamismo, movimento, mudança. 
 
2ª) A realidade humana sempre é relação entre dois pólos opostos: o pólo que 
está sendo e o pólo que “nega” o que está sendo. O pólo negativo constrói-se 
sobre as lacunas, falhas ou fraquezas do pólo existente, ele se nutre delas e ao 
mesmo tempo as aguça, levando à sua superação. Trata-se de negação e 
superação que vêm “de dentro” do pólo existente. 
- Motor da mudança: dinamismo (“inquietação”) produzido pela negatividade 
intrínseca à realidade. Todo ser está em relação com um não-ser, que o coloca em 
estado de tensão, movimento, mudança. 
- Afirmar que a realidade é, essencialmente, relação entre pólos opostos equivale 
a afirmar que, na realidade humana, cada pólo só se define e existe na relação 
com o outro, ou por meio da relação com seu oposto. 
 
Dialéticae História 
 
•Oposição e negatividade constituem o motor da criação contínua de novos pólos 
e novas relações. 
 
•História como processo de contínuo aparecimento, exacerbação, superação e 
recriação dessas relações tensas e conflituosas entre pólos antagônicos, ou entre 
um pólo e sua negação. 
 
Da dialética idealista para a dialética materialista 
 
•A dialética hegeliana é idealista. 
- Nessa abordagem, a relação dialética fundamental é a relação entre as idéias 
(teorias, concepções de vida, visões de mundo, etc.) da consciência dos sujeitos e, 
por outro lado, o objeto (a natureza, tanto a natureza externa quanto a natureza 
do próprio homem, ou substrato natural da vida humana) que, ao não se adequar 
a elas, ou ao resistir a elas (apontando suas falhas ou fraquezas), leva o sujeito ao 
processo de criação de uma nova idéia do (ou sobre o) objeto, à qual 
corresponderá um novo tipo de inadequação do objeto, e assim por diante. 
14 
 
- A história é história das idéias e concepções da consciência, ou seja, dos 
sucessivos modos pelos quais a humanidade, por meio dos produtos de sua 
reflexão, procura superar a “resistência/negação” que a natureza opõe às suas 
idéias (elementos com os quais os homens procuram explicar a realidade em 
geral e sua própria vida em particular – ênfase na necessidade humana de 
“explicar as coisas”). 
 
•A dialética marxista (do marxismo ortodoxo) é materialista. 
- Nessa abordagem, a relação dialética fundamental é a relação entre as 
necessidades materiais (vitais) dos sujeitos e, por outro lado, o objeto material (a 
natureza ou ambiente externo) que, ao resistir a elas (negar sua satisfação 
simples e imediata), leva os sujeitos ao processo de criação de um novo objeto 
material (um novo ambiente natural), ao qual corresponderá um novo tipo (ou 
novo patamar) de necessidade material, que por sua vez sofrerá resistência do 
ambiente natural, e assim por diante. 
- A história é história das necessidades humanas e dos produtos do trabalho 
humano, ou seja, dos sucessivos modos pelos quais a humanidade, por meio dos 
produtos do seu trabalho, procura superar a “resistência/negação” que a natureza 
externa opõe às suas necessidades “materiais/vitais” (ênfase na necessidade 
humana de satisfazer suas necessidades vitais ou materiais, tomadas como 
necessidades “objetivas”, ou seja, enraizadas num processo que causa efeitos 
independentemente da consciência e das idéias dos sujeitos). 
 
- Na dialética materialista do marxismo ortodoxo, as necessidades vitais dos 
homens são vistas como elementos “objetivos”, no sentido positivista do termo: 
elementos que existem e atuam independentemente das idéias ou avaliações que 
os homens possam fazer (ou não fazer) sobre eles. 
- Essa é uma das razões pelas quais o materialismo histórico (dialético) do 
marxismo ortodoxo pode ser considerado uma abordagem positivista da 
sociedade. 
 
Dialética idealista e dialética materialista 
 
•Na dialética idealista, as “necessidades vitais” aparecem como vivências da 
consciência: algo sobre o qual a consciência tem algum tipo de idéia. (Algo que é 
bom satisfazer de uma determinada maneira, e não de outra; ou então algo que é 
bom saber controlar ou reprimir; ou então algo que é bom colocar depois de outro 
aspecto da vida humana, como algo menos importante; etc.) 
 
•Na dialética materialista do marxismo ortodoxo, as necessidades vitais 
(naturais) aparecem como fatores que atuam “às costas” da consciência e sobre 
ela. A consciência é determinada “pelas costas” por necessidades “objetivas”, 
pelas condições “objetivas” do processo de produção dos meios de satisfação 
dessas necessidades, e pelas leis “objetivas” que regem a evolução dessas 
condições e desse processo, e a conseqüente produção de sempre renovadas 
necessidades “objetivas”. Daí a feição positivista do marxismo ortodoxo. 
 
 
 
 
15 
 
Relações dialéticas na abordagem materialista 
 
•Essência da realidade humana e social: processo pelo qual os homens procuram 
produzir os meios materiais de satisfação de suas necessidades vitais – processo 
social do trabalho (processo econômico é focalizado como processo de 
organização e realização do trabalho coletivo dos homens). 
•Relação entre homens (pólo do sujeito) e ambiente natural (pólo do objeto). 
Oposição entre, de um lado, o desejo humano de melhoria das condições 
materiais da existência (ou de satisfação, no maior grau possível, de suas 
necessidades materiais ou vitais) e, de outro lado, a resistência e os obstáculos 
que o ambiente natural (objeto, realidade objetiva) opõe a esse desejo. 
•A relação dialética também pode ser apresentada como: relação entre o desejo 
do sujeito de melhorar suas condições concretas de existência (tese) e, por outro 
lado, a negação desse pólo – a natureza como obstáculo que impede o sujeito de 
realizar plenamente seu desejo, e que aponta para falhas ou lacunas na 
capacidade do sujeito de satisfazer seu desejo (antítese). 
 
•Síntese: uma determinada forma de trabalhar a natureza, uma determinada 
forma de pôr a marca dos humanos na natureza, uma determinada forma de 
“dobrar” a resistência da natureza. Para Marx, isso equivale a um determinado 
tipo de sociedade (homens habitando um ambiente natural humanizado pelo 
trabalho). 
 
Síntese: um determinado tipo de sociedade 
 
•Um determinado tipo de sociedade equivale a um determinado modo de realizar 
o processo social de trabalho, constituído por quatro características fundamentais: 
•A) Um determinado conjunto de forças produtivas (instrumentos, ferramentas, 
máquinas, técnicas, conhecimentos) 
•B) Um determinado sistema de relações de produção entre os homens (divisão 
do trabalho social, distribuição dos produtos do trabalho social e regulamentação 
da propriedade dos meios de produção de que a sociedade dispõe). 
- Para Marx, quando há propriedade privada dos meios de produção as relações 
sociais de produção sempre são relações de exploração: um grupo (classe social), 
os proprietários dos meios de produção, explorando outro grupo (outra classe 
social), os que foram privados dos meios de produção. 
•C) Uma determinada forma de satisfazer o desejo dos sujeitos de melhoria das 
suas condições concretas de existência (em outras palavras, um determinado 
nível de satisfação das necessidades e desejos humanos). 
•D) Uma determinada configuração das relações de exploração e dominação 
entre os homens: um determinado sistema de classes sociais e de luta de classes 
(característica vinculada à característica B). 
 
Negação da síntese: 
 
1) História como desenvolvimento técnico 
•A síntese inicial (um determinado tipo de sociedade = um determinado modo de 
realizar o processo social do trabalho) já é momento (tese) de uma relação com o 
pólo constituído por sua negação (antítese). 
16 
 
•A negação de um determinado tipo de sociedade surge da própria sociedade, na 
medida em que esta se define por um determinado nível de satisfação das 
necessidades e desejos humanos. Um nível de satisfação dos desejos desperta a 
sensação de falhas ou lacunas que ainda precisam ser sanadas; desperta novos 
desejos, novas necessidades, em relação aos quais a natureza vai representar um 
novo tipo de resistência. 
•Desenvolvimento de novas forças produtivas, capacitando o sujeito a dobrar a 
nova resistência do ambiente natural e, com isso, criar um novo tipo de sociedade 
(uma nova síntese, ou seja, um novo tipo de humanização do ambiente natural) –
história como progresso técnico da humanidade. 
•Cada etapa do progresso técnico equivale a uma nova forma de realizar o 
processo social do trabalho, a uma nova forma de “humanizar” a natureza e, 
conseqüentemente,a um novo tipo de sociedade. 
 
Síntese e negação da síntese no campo das relações de produção 
 
•Mas a esfera das forças produtivas não é a única esfera em que se estabelece a 
dinâmica da negação da síntese inicial. Tal dinâmica também se estabelece na 
esfera das relações de produção entre os homens. 
 
•Para realizar o processo social do trabalho, os homens estabelecem entre si um 
determinado sistema de relações de produção, que regula a divisão do trabalho 
social, a distribuição dos produtos do trabalho social e a institucionalização da 
propriedade dos meios de produção de que a sociedade dispõe. 
- O sistema das relações de produção é caracterizado pela oposição interna entre 
interesses da classe dominante e interesses da classe dominada. 
 
•Nessa dimensão da sociedade, surge uma manifestação específica do desejo de 
melhoria das condições concretas de vida: o desejo de superação da exploração, 
avançado pela classe social e politicamente dominada, o qual equivale a um 
desejo de superação das falhas ético-políticas do sistema vigente de relações de 
produção. 
- E esse desejo encontra sua negação (obstáculo, resistência) no desejo da classe 
dominante de conservar o sistema vigente de relações de produção. 
 
2) Negação da síntese: história como desenvolvimento ético-político 
 
•Um determinado tipo de sociedade = Uma determinada configuração das 
relações de exploração e dominação entre os homens. 
 
•A negação de um determinado tipo de sociedade surge da própria sociedade, na 
medida em que esta se define por uma determinada configuração das relações de 
exploração entre os homens. Tal configuração desperta a sensação de falhas ou 
lacunas que ainda precisam ser sanadas: desperta o desejo da classe sócio-
politicamente dominada de melhorar suas condições de existência, em relação ao 
qual a classe dominante vai antepor obstáculos e resistência. 
 
•Falhas e oposições internas ao “modo de produção” (forças produtivas + 
relações de produção) levam à superação de uma determinada configuração das 
relações de exploração, com suas lacunas específicas, e à instauração de um 
17 
 
outro sistema de relações de produção, com outras falhas, outra configuração das 
relações de exploração. 
 
•História como processo de desenvolvimento ético-político, em direção a um 
estágio final em que será abolida a essência mesma de todas as formas de 
exploração: a propriedade privada dos meios de produção. 
 
“Leis objetivas” do processo histórico 
 
•A abordagem do materialismo dialético adota a tese de que há leis objetivas do 
processo histórico, ou seja, leis que em última instância atuam 
independentemente da consciência, reflexividade, idéias, avaliações e atitudes 
dos indivíduos que a elas estão submetidos (feição positivista do marxismo). 
•Leis que exprimem a dinâmica e negatividade intrínsecas ao processo de 
produção dos meios materiais da existência (processo de produção: forças 
produtivas + relações de produção). 
- Leis que exprimem uma contradição “objetiva” (atuando independentemente da 
consciência dos indivíduos) entre o desenvolvimento das forças produtivas e, por 
outro lado, o sistema de relações de produção. 
- As forças produtivas se desenvolvem “mais rápido” do que as relações de 
produção, gerando não apenas novas possibilidades de satisfação dos desejos 
humanos, mas também uma classe social que é porta-voz dessas possibilidades, 
que por sua vez são entravadas pelo sistema de relações de produção 
historicamente vigente, que com isso aparece como envelhecido, obsoleto. 
18 
 
Aula 13. 
A abordagem interpretativa da sociedade (antipositivista, idealista ou 
construtivista). 
 
Também chamada de abordagem fenomenológica, ou hermenêutica. 
 
Imagem antipositivista da sociedade: ênfase na participação dos sujeitos na 
construção da realidade social. 
 
Alguns dos principais expoentes: 
- George Herbert Mead (1863-1931). 
- Max Weber (1864-1920). 
- Alfred Schütz (1899-1959). 
 
 
Influências do idealismo de Hegel (1770-1831) e da fenomenologia de E. Husserl 
(1859-1938). 
 
- Teses centrais dessas teorias filosóficas: 
 
- Todos os elementos ou itens envolvidos na existência humana (tanto os dados do 
ambiente natural quanto as necessidades, impulsos e desejos dos seres humanos 
em geral, assim como as relações que eles mantêm uns com os outros) só 
existem por meio das idéias dos homens sobre eles, quer dizer, por meio das 
diversas e variadas idéias que os homens vão elaborando sobre eles ao longo do 
tempo e da história. 
 
- A realidade desses elementos para os homens (a realidade que eles têm para os 
homens) equivale ao modo como eles historicamente aparecem para os homens, 
ou ao modo como eles historicamente são vistos e compreendidos pelos homens. 
 
- A realidade que esses elementos têm para os homens equivale ao sentido que 
eles historicamente têm para os homens, ou seja, equivale às idéias com que os 
homens de uma determinada época ou cultura os situam, organizam e integram 
em sua concepção e projeto de vida. 
 
- As teses centrais da abordagem interpretativa da realidade social: 
 
- Essência da realidade social é a interação simbólica entre seres humanos. 
Interação simbólica: transmissão e troca de “idéias de sentido”, ou seja, idéias 
que exprimem o sentido que os objetos da vida social têm para os homens. 
 
- A realidade social é composta por uma pluralidade de contextos de interação 
simbólica: família, escola, associações recreativas, igreja, organizações privadas, 
agências do Estado, etc. 
 
- As idéias de sentido que os seres humanos transmitem e trocam na interação 
simbólica cristalizam-se em padrões de significação, ou seja, modelos mentais 
que se tornam independentes das consciências humanas tomadas 
individualmente; em cada contexto de interação simbólica, a consciência 
19 
 
individual encontra padrões de significação relativamente cristalizados e 
independentes. 
 
- Em cada contexto de interação simbólica tende a destacar-se um padrão de 
significação dominante, que o indivíduo que participa desse contexto aprende a 
aplicar e reproduzir. Numa certa medida as consciências individuais são 
governadas pelo padrão de significação dominante em cada contexto de interação 
simbólica. 
 
- O indivíduo tem a capacidade de participar de diferentes contextos de interação, 
ou seja, tem a capacidade de aplicar e reproduzir padrões de significação vigentes 
em diferentes contextos de interação simbólica. 
 
- A consciência individual é formada segundo os padrões de significação vigentes 
na cultura em que ela vive. A formação da consciência individual ocorre por meio 
da internalização de padrões de significação culturalmente vigentes. 
 
- Ainda que os padrões de significação adquiram certa independência em relação 
às consciências humanas tomadas individualmente, eles sempre são em alguma 
medida permeáveis às atividades da consciência humana: reflexão, 
conscientização, compreensão, avaliação crítica. 
 
- Idéias de sentido e padrões de significação nunca são “objetivos” no sentido 
positivista do termo (elementos totalmente externos ou impermeáveis à 
consciência e às atividades próprias da consciência). 
 
 
As variantes da abordagem interpretativa. 
 
 
1) Do ponto de vista da própria realidade social: 
 
1.A) Ênfase na reprodução relativamente automática e irrefletida dos padrões de 
significação culturalmente vigentes. Menor ênfase na participação consciente dos 
sujeitos na construção da realidade social. (Mas esta ênfase não é incompatível 
com a tese de que os padrões de significação sempre são em certa medidapermeáveis às atividades próprias da consciência, como reflexão, conscientização, 
compreensão, avaliação crítica). 
- Ênfase nas estruturas relativamente rígidas geradas pelos padrões de 
significação culturalmente vigentes. 
- Ênfase na idéia de que a ação humana está subordinada às estruturas vigentes 
(conforma-se a elas, tende a reproduzi-las, é limitada por elas). Liberdade humana 
sempre e inevitavelmente está enquadrada em estruturas culturalmente vigentes. 
 
1.B) Ênfase na participação consciente e refletida dos sujeitos na construção e 
reconstrução da realidade social. 
- Ênfase na possibilidade de efetuar mudanças na ordem cultural, por meio da 
projeção de novas atitudes e idéias de sentido. 
20 
 
- Ênfase na relativa autonomia da ação individual em relação às estruturas 
vigentes; liberdade humana é, justamente, poder não conformar-se às estruturas 
vigentes. 
 
 
2) Do ponto de vista da metodologia da ciência social. 
2.A) Ênfase numa atitude mais neutra em relação às avaliações (juízos valorativos 
e normativos) inerentes às idéias de sentido e padrões de significação envolvidos 
na interações simbólicas. 
- Ênfase na diferença entre compreender idéias de sentido e padrões de 
significação, que exige relacionar-se com as avaliações a eles inerentes, e julgá-
los positiva ou negativamente (diferença entre “relação a valores” e “juízos de 
valor”). (Diferença entre “ciência social” e “posicionamento político”). 
 
2.B) Ênfase na idéia de que a ciência social sempre é um momento da prática 
sócio-política do cientista. Toda compreensão da realidade social, mesmo de uma 
realidade social alheia àquela em que o próprio cientista vive, tem implicações 
para a auto-compreensão das pessoas que são contemporâneas ao cientista. 
- Ênfase na idéia de que a ciência social, mesmo não sendo retórica ou 
propaganda, tem efeitos indiretos sobre a auto-compreensão das pessoas que 
lêem o trabalho do cientista social. 
 
Consciência do sujeito sempre participa do processo social 
 
•A consciência do sujeito sempre participa, de algum modo, do processo social 
(em vez de ser simplesmente conduzida por fatores objetivos, como nas 
abordagens positivistas): essa participação pode consistir numa reprodução mais 
ou menos irrefletida dos padrões de significação vigentes, mas pode consistir 
também numa tentativa de re-estruturação dos mesmos, mediante projeção de 
novas idéias de sentido, capazes de se tornar “fatores de atração” dentro do 
sistema cultural. (re-estruturação “desde dentro”). 
 
21 
 
Aula 14 
Alguns tópicos da sociologia de Max Weber (1864-1920), um dos principais 
expoentes da abordagem interpretativa. 
 
I) 4 “tipos ideais” de ação social. Modelos idealizados, abrangentes e abstratos de 
identificação do sentido da ação – na experiência concreta esses tipos se 
misturam, mas o pesquisador procura analisar qual deles predomina e qual o grau 
de “desvio” em relação ao tipo puro. 
 
1) Ação afetiva: sentido da ação consiste numa obediência automática e 
irrefletida a afetos, sentimentos, emoções. Para se justificar, o agente apresenta 
como motivo uma emoção de caráter irrefletido (Weber a classifica como um tipo 
de ação “irracional”). 
 
2) Ação tradicional: sentido da ação consiste na obediência relativamente 
automática e irrefletida às crenças, costumes e práticas tradicionais, ou seja, há 
muito tempo transmitidos e seguidos no grupo social em que o agente foi 
formado. Para se justificar, o agente recorre à vigência de um padrão tradicional 
de comportamento (Weber também a classifica como um tipo de ação irracional). 
 
3) Ação racional com relação a um valor. Sentido da ação consiste no fato de que 
ela, nela mesma, encarna um valor consciente e refletidamente assumido pelo 
agente. Valores, neste caso, são bens (fins, idéias que os homens buscam seguir e 
efetivar) “internos” à ação, e que transformam a ação em “fim em si mesma” – 
em oposição a uma ação que é apenas meio para um bem ou fim que lhe é 
externo, que está além dela mesma. Exemplos de valor: honra, honestidade, 
lealdade, amor, vocação, justiça. 
* Elaborações que nós podemos fazer do conceito weberiano de “ação racional 
com relação a um valor”, tendo em vista uma melhor compreensão dos tipos 
ideais de legitimação da dominação, que serão vistos abaixo: 
3.a) Ação racional com relação ao valor “mágico” dos afetos, emoções, 
sentimentos. Valorização consciente e refletida dos afetos e emoções como 
elementos que infundem “encanto” e “magia” à existência, salvando-a do tédio, 
banalidade, mediocridade. 
3.b) Ação racional com relação aos valores “tradição sagrada” e “virtude”. 
Valorização consciente e refletida da ordem (visão de mundo) tradicional, e 
também do desempenho excelente das obrigações definidoras dos papéis sociais 
dentro desta ordem. 
- Valorização consciente e refletida do caráter “sagrado” da tradição, como fonte 
vital que garante a identidade, continuidade e vigor do grupo; valorização 
consciente e refletida da “virtude”, entendida como cumprimento excelente das 
expectativas sociais definidoras do papel social próprio do agente dentro da 
ordem tradicional. 
 
4) Ação racional com relação a um fim. Sentido da ação remete à utilidade ou 
eficiência da mesma para fins (resultados) que lhe são externos; ação é meio para 
a realização de um resultado que lhe é externo, que está além dela, no futuro. 
Sentido da ação remete às conseqüências da mesma em relação a um resultado 
ou fim perseguido pelo agente. 
22 
 
- No âmbito deste tipo de ação, há uma tendência a conceber os fins em termos, 
simplesmente, de maximização indefinidamente prorrogada e prolongada de 
resultados em princípio traduzíveis em termos quantitativos. A eficiência passa a 
ser o fim (deixa de ser uma qualidade dos meios), e um fim que só pode ser 
operacionalizado à medida que é traduzido em termos quantitativos. 
- Weber acreditava que, no âmbito desse tipo de ação social e dessa forma de 
racionalidade, a realização plena da existência é continuamente reposicionada 
para o futuro, o que gera um certo grau de ansiedade e frustração, revelando um 
aspecto de irracionalidade presente nesse padrão de significação tão influente na 
cultura ocidental contemporânea. 
 
 
II) Em estreita associação com este tópico dos tipos de ação social, há o tópico 
dos “tipos ideais” de legitimação da dominação social: modelos idealizados, 
abrangentes e abstratos de identificação do sentido ou significado do fenômeno 
da dominação. Em outras palavras, trata-se de modelos abstratos das idéias e 
crenças que conferem legitimidade à dominação. Na experiência concreta esses 
tipos se misturam, mas o pesquisador procura analisar qual deles predomina e 
qual o grau de “desvio” em relação ao tipo puro. 
 
1) Dominação carismática: legitimação da dominação vincula-se à crença dos 
dominados no “carisma” do governante, visto como qualidade excepcional, 
extraordinária, “mágica”. 
- Correspondência com a ação afetiva (resposta irrefletida a sentimentos de 
admiração e adoração por um indivíduo “extraordinário”) e com a ação racional 
com relação ao valor dos sentimentos e atitudes de devoção, lealdade e fidelidade 
ao líder extraordinário. 
 
2) Dominação tradicional: legitimação da dominação vincula-se à crença dos 
dominados ou na inevitabilidade e irrevogabilidade ou na sacralidade da ordem 
tradicional, na qual o mando político é tradicionalmente exercido por 
determinadas famílias ou grupos. 
- Correspondência com a ação tradicional (obediência irrefletidas às normas e 
costumes tradicionais) e com a ação racional com relação ao valor da sacralidade 
da ordem tradicional e dos papéis sociaiscontidos nesta ordem. 
- A dominação se legitima ou pela crença mais ou menos irrefletida e acrítica na 
irrevogabilidade da ordem tradicional (o peso das práticas tradicionais, a 
“naturalidade” do fato de “em nossa sociedade estas pessoas sempre 
mandaram”), ou pela refletida valorização da sacralidade da ordem tradicional e 
da virtude a ela correspondente (valorização do desempenho excelente das 
expectativas da comunidade, definidoras do papel de cada um dentro da ordem 
tradicional). 
 
3) Dominação racional, legal e burocrática, que se efetiva por meio da 
organização burocrática, ou do Estado burocrático. Legitimação da dominação 
vincula-se à crença na eficiência “técnica” de uma forma de organização das 
pessoas e recursos caracterizada pela racionalidade da estrutura ou 
organograma, qualificação técnica dos ocupantes dos cargos definidos no 
organograma, impessoalidade e meritocracia no preenchimento dos cargos. 
23 
 
- Correspondência com a ação racional com relação a fins. Legitimação da 
dominação se dá por meio da crença na racionalidade técnica ou instrumental, 
com a idéia de eficiência que lhe é típica. Legitimação da dominação vincula-se à 
crença na eficiência da Organização racional ou burocrática para a realização 
indefinidamente prolongada e aumentada de fins (resultados essencialmente 
futuros) passíveis de quantificação, como riqueza, segurança, saúde, educação. 
- Weber acreditava que, como expressão deste tipo ideal de legitimação da 
dominação, os regimes democráticos nos Estados ocidentais contemporâneos 
tenderiam cada vez mais a uma “tecnocracia”, onde o preenchimento até mesmo 
dos cargos eletivos estaria mais ligado à noção de competência técnica do que a 
uma discussão sobre os valores (bens ou fins internos às práticas sociais 
coletivas) a serem adotados e promovidos pela coletividade. 
- Em Weber, “tecnocracia” e “burocracia” são termos mais ou menos sinônimos. 
 
 
III) Para Weber, a característica essencial da cultura contemporânea é o 
predomínio crescente da racionalidade com relação a fins, ou da ação racional 
com relação a fins, que se manifesta e exerce nas organizações de caráter 
tecnocrático ou burocrático, tanto na esfera econômica quanto na esfera política. 
 
- Para Weber, o domínio crescente deste tipo de ação social tem sua origem nas 
idéias e crenças típicas do calvinismo (uma das correntes religiosas mais 
influentes da reforma protestante). Weber expôs sua teoria no famoso livro “A 
Ética Protestante e o Espírito do capitalismo” (1905). Para Weber, o sistema 
capitalista é a expressão mais importante da ação racional com relação a fins. 
 
•Em sua origem, a racionalização da sociedade (no sentido da racionalidade com 
relação a fins) esteve intimamente associada ao desenvolvimento do “espírito do 
capitalismo”: para maximizar os resultados econômicos (fim indefinidamente 
reposicionado no futuro), reinvestimento permanente dos ganhos auferidos, com a 
concomitante busca da maior eficiência. 
 
•“Espírito do capitalismo”. Combinação incomum de: desejo de riqueza e, por 
outro lado, frugalidade na vida pessoal. Em vez de ganhar para gastar e gozar a 
vida, ganhar para expandir indefinidamente os ganhos, mediante reinvestimento 
dos ganhos no processo produtivo. O lucro é buscado para maximizar 
indefinidamente o lucro. 
 
•“Ética protestante” (visão de mundo elaborada nas seitas calvinistas; seitas nas 
quais foram elaboradas e em certa medida modificadas as doutrinas de Calvino-
1509-1564, um dos mais importantes líderes da reforma protestante no início da 
era moderna): nas seitas calvinistas, o êxito econômico foi tomado como sinal de 
ter sido escolhido por Deus (para contrabalançar ansiedade gerada pela doutrina 
da predestinação defendida por Calvino). 
- Doutrina da predestinação defendida por Calvino: Deus predestinou cada um de 
nós à salvação ou condenação, sem que possamos, por nossos atos ou obras, 
modificar esse decreto divino. A salvação é para o homem um dom totalmente 
gratuito da graça divina. Rejeição de todas as práticas ritualísticas e sacramentais 
com vistas à salvação. 
24 
 
- Assim, o calvinista não só não pode fazer nada para conquistar sua salvação, 
como também não tem como saber se será salvo ou condenado, e essa incerteza 
pode se tornar psicologicamente intolerável. Em virtude de uma inclinação 
psicológica quase irresistível, ele tende a procurar no mundo sinais de que foi 
escolhido por Deus. Algumas seitas calvinistas terminaram por ver no êxito 
econômico uma prova da escolha de Deus. A riqueza era buscada, não como meio 
para se ter conforto e luxo, mas como um meio pelo qual se adquiria confiança na 
escolha de Deus. A autoconfiança era adquirida por meio do trabalho árduo e 
contínuo, marcado pela renúncia aos luxos e comodidades da vida mundana e 
pelo reinvestimento permanente da riqueza alcançada. 
- Assim, o lucro era buscado, não para gozar a vida, mas para produzir e lucrar 
cada vez mais. Surge assim o “espírito do capitalismo”, que acaba se 
desvinculando de seus motivos religiosos e levando à plena legitimação do desejo 
de posse e acumulação de riqueza. 
 
• Resultado inesperado da ética protestante: combinação incomum de 
preocupação com a salvação da alma e preocupação com a otimização das 
conseqüências econômicas. 
 
•Com o tempo, desaparece a preocupação religiosa e fica apenas a preocupação 
com a eficiência econômica. 
 
 
A teoria weberiana da organização burocrática. 
 
•O “tipo ideal” da organização burocrática (manifestação da racionalidade 
relativa a fins). 
 
•A) Regras impessoais, pautadas pela preocupação com a eficiência, regem o 
comportamento dos funcionários em todos os níveis. 
 
•B) Estrutura impessoal dos cargos, com definição clara e precisa das respectivas 
tarefas e responsabilidades. Preocupação com a eficiência técnica rege a 
definição do organograma. 
 
•C) Cargos são preenchidos segundo o princípio da qualificação técnica e 
profissional, com ênfase na possibilidade de ascensão na hierarquia dos cargos. 
Ascensão na hierarquia é regida pelo critério da meritocracia. 
 
•D) Hierarquia formal e bem definida das relações de autoridade e controle. 
Ênfase nas funções de supervisão e controle. 
 
•E) Separação nítida entre as tarefas do funcionário dentro da organização e sua 
vida pessoal fora dela. 
25 
 
Aula 15 
 
A Teoria Crítica da Escola de Frankfurt (teoria de caráter construtivista). 
 
Principais teóricos 
•Max Horkheimer (1895-1973). Theodor Adorno (1903-1969). Walter Benjamin 
(1892-1940). Herbert Marcuse (1898-1978). Jürgen Habermas (1929-). 
 
- Abordagem antipositivista ou construtivista: “interpretacionismo crítico”. 
Marxismo elaborado do ponto de vista da abordagem hermenêutica ou 
interpretativa. 
- Características que compartilha com a abordagem interpretativa 
(antipositivismo): ênfase nas idéias dos sujeitos, ou seja, nas idéias de sentido e 
padrões de significação seguidos pelos sujeitos. Ênfase na cultura. 
 
- “Teoria Crítica”: interesse nas possibilidades reais de mudança social, ou seja, 
possibilidades enraizadas na dinâmica dialética da realidade social (vista como 
dialética das idéias de sentido e padrões de significação). 
- Interesse nas possibilidades de produção de uma cultura mais propícia à 
realização do melhor potencial humano, entendido em termos de exercício 
igualitário e justo da liberdade humana. 
 
- Influência da teoria de Max Weber: Na Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, a 
racionalidade com relação a fins passa a ser chamada de racionalidade 
instrumental, ou racionalidade estratégica, caracterizada, tal como em Weber, 
pela valorização daeficiência propiciada pela ciência e pela técnica. A 
racionalidade instrumental é vista como o padrão de significação dominante na 
cultura contemporânea, e um padrão de significação que acaba por funcionar 
como justificativa para um sistema sócio-político caracterizado por formas mais 
sutis de exploração e opressão, que a humanidade já teria condições de superar. 
 
- Origem: teoria crítica do marxismo clássico (lembrando que a teoria crítica do 
marxismo clássico tinha feição positivista, por colocar a ênfase em necessidades, 
interesses, condições e leis “objetivas”, ou seja, independentes das idéias 
“subjetivas” vividas pelos sujeitos). 
 
- Características gerais da “teoria crítica”. 
1) Vínculo essencial entre teoria social e prática politicamente transformadora, 
orientada para a superação da opressão/exploração do homem, ou para a 
realização do melhor potencial humano. 
2) Teoria social como momento da prática politicamente transformadora. 
2.a) Identificação das possibilidades reais de mudança social, ou seja, 
possibilidades enraizadas na dialética da realidade social. 
2.b) Identificação dos obstáculos à prática transformadora. 
 
- Essência da opressão no marxismo clássico: exploração da força/energia de 
trabalho do homem, possibilitada pela propriedade privada dos meios de 
produção dos bens materiais. 
26 
 
- Para o marxismo clássico, a mudança social fundamental é mudança no sistema 
das relações de produção, rumo à abolição da propriedade privada dos meios de 
produção. 
 
- Identificação das possibilidades reais de mudança social, no marxismo clássico. 
- Para o marxismo clássico, as possibilidade reais de mudança social são 
possibilidades enraizadas na dialética da realidade social, vista como dialética de 
um processo histórico “objetivo”, que se desenvolve e efetiva independentemente 
das idéias de sentido adotadas pelos sujeitos, vistas como idéias de caráter 
meramente “subjetivo” (“meras idéias”). 
- Dialética do processo histórico “objetivo”: contradições “objetivas” no modo de 
produção (progresso das forças produtivas versus envelhecimento das relações de 
produção) e conflitos “objetivos” entre classe dominante e classe dominada. 
- Para o marxismo clássico, a prática transformadora deve ser orientada pelo 
conhecimento de como acirrar essas contradições e conflitos “objetivos”. 
 
- Obstáculos à prática transformadora no marxismo clássico. 
a) “Falsa consciência” da classe dominada: falta de percepção do seu “verdadeiro 
interesse objetivo” (distinto das idéias meramente subjetivas sobre o que é bom, 
importante, certo, valioso, etc.). 
b) Ideologias difundidas pela classe dominante para disfarçar a luta de classes e o 
“verdadeiro interesse objetivo” das classes dominadas: religião, credo liberal. 
 
- Prática transformadora no marxismo clássico. 
- Lutar pelo acirramento das contradições objetivas no modo de produção 
(favorecer os grupos e atividades que promovem o desenvolvimento das forças 
produtivas em cada país). E “ensinar/mostrar” à classe dominada qual é seu 
“verdadeiro interesse objetivo”. 
 
- Mudanças na teoria crítica efetuadas pelos teóricos da Escola de Frankfurt. 
 
- Essência da opressão na Escola de Frankfurt: abafamento do potencial (ou 
energia) racional, reflexivo e/ou comunicativo próprio do ser humano, um 
potencial vinculado a práticas nas quais se exercem as formas não-instrumentais 
da racionalidade, definidas pelo fato de se orientarem para bens internos às 
próprias práticas (trata-se de atividades que são vividas como fins em si mesmas, 
por serem expressão, justamente, da racionalidade e criatividade dos homens). 
 
- Habermas, um dos principais teóricos da Escola de Frankfurt, acredita que o 
“fazer junto” baseado na discussão e criação compartilhada das normas e planos 
de ação é a principal dessas práticas. 
- Para Habermas, a criação compartilhada dos planos de ação apresenta duas 
características básicas: reconhecimento de cada pessoa como um possível 
contribuidor, implicando direito de falar, e ser ouvido e considerado. Em segundo 
lugar, busca de razões comuns ou compartilhadas (razões que todos possam 
reconhecer como boas para todos, ou ao menos justas para todos), em 
substituição a razões admitidamente particulares, válidas ou boas apenas para 
este ou aquele indivíduo (ou grupo). Isso significa que o “fazer junto” é 
reconhecido por todos como um empreendimento comum a todos, ou bom para 
todos. 
27 
 
 
- Para a Escola de Frankfurt em geral, o abafamento do melhor potencial humano 
é algo que se efetiva por meio da reprodução automática e irrefletida dos padrões 
de significação historicamente vigentes, centrados nas noções de eficiência, 
controle, domínio, manipulação, segurança no trato com a realidade objetiva 
(padrão de significação constituído pela racionalidade com relação a fins 
analisada por Weber e renomeada pelos frankfurtianos como “racionalidade 
instrumental/estratégica). 
 
- Para Habermas, a mudança social fundamental é mudança no padrão de 
significação mais influente na organização da sociedade; a mudança visa a 
subordinação do padrão de significação constituído pela racionalidade 
instrumental ao padrão de significação constituído pela racionalidade 
comunicativa (que pode ser aproximada daquilo que Weber chamou de 
racionalidade com relação a um valor, onde o “valor” – tomado como bem interno 
à ação – é o “entendimento”, ou seja, o compartilhamento de uma visão da 
situação e o “fazer junto” fundado nessa visão compartilhada). 
 
- Identificação das possibilidades reais de mudança social, na Escola de Frankfurt. 
- Para a Escola de Frankfurt, as possibilidades reais de mudança social são 
possibilidades enraizadas na dialética da realidade social, vista, entretanto, como 
dialética dos padrões de significação que se desenrolam no tempo. 
- Assim, o desgaste do padrão de significação constituído pela racionalidade com 
relação a fins (racionalidade instrumental/estratégica) sugere a possível 
emergência de um padrão de significação distinto, que se encontra em tensão e 
oposição latente com o primeiro, e que está mais presente em domínios de ação 
menos abrangentes e sistêmicos. 
- Na teoria de Habermas, trata-se de um padrão de significação constituído pela 
racionalidade dialógico-comunicativa, próxima da racionalidade com relação a 
valores de Weber, onde o valor, ou seja, o bem interno à própria ação, é o 
entendimento entre os participantes da ação comunicativa. 
- Tomado como bem interno à ação de cunho comunicativo, o “entendimento” 
consiste num conjunto de elementos: revigoramento consciente e refletido da 
interpretação da situação que é compartilhada pelos participantes, adesão 
consciente e racionalmente motivada a tal interpretação comum ou 
compartilhada, e, finalmente, o “fazer junto” que decorre desse tipo de adesão. 
- Em outras palavras, o bem interno à “ação comunicativa” é o exercício do “poder 
comunicativo” do grupo, que exprime a “energia comunicativa” do grupo. 
 
- Para Habermas, o desgaste da racionalidade instrumental equivale ao desgaste 
das interações comunicativas baseadas apenas em razões particulares, como o 
interesse de um indivíduo particular, ou o medo de um indivíduo particular. 
- Para Habermas, a “ação comunicativa”, que é a interação baseada em atos de 
fala, funda-se na compreensão e aceitação do ouvinte em relação aos enunciados 
do falante. É claro que essa compreensão e aceitação podem perfeitamente 
basear-se em razões meramente particulares, do tipo “compreendo que a 
proposta dele é boa para os interesses dele, e aceito porque vejo que não aceitar 
será ruim para mim”. Habermas fala nesse caso de uma “ação comunicativafraca”. Para ele, porém, a meta de obter a compreensão e aceitação do outro, 
própria da ação comunicativa em geral, como que sugere o recurso a razões 
28 
 
compartilhadas, associadas a uma visão do empreendimento como um 
empreendimento bom para todos, ou, ao menos, justo para todos. Trata-se nesse 
caso da “ação comunicativa forte”. Para Habermas, a ação comunicativa forte 
representa uma idealização que está contida e que é influente até mesmo nos 
contextos de ação caracterizados pela ação comunicativa fraca. 
 
- Obstáculos à prática transformadora na Escola de Frankfurt. 
- Em vez de “falsa consciência” (consciência que não percebe seu verdadeiro 
interesse “objetivo”), como no marxismo ortodoxo, “consciência abafada” 
(abafamento da atividade de reflexão crítica sobre o que é bom na existência; 
abafamento da capacidade de perceber e vivenciar bens internos às próprias 
atividades ou práticas). 
- Conceito de ideologia deixa de enfatizar a produção deliberada ou proposital da 
falsa consciência (como no marxismo ortodoxo), e passa a enfatizar o processo de 
abafamento da atividade reflexiva das consciências (processo de reprodução 
automática e irrefletida de idéias de sentido como eficiência, controle, domínio, 
manipulação, certeza, segurança, progresso técnico-científico, aumento de 
produtividade, etc., oriundas do padrão de significação constituído pela 
racionalidade instrumental). 
 
- Técnica e ciência passam a ser conceituadas como “ideologia”, justamente por 
funcionarem como uma justificativa automática e irrefletida do valor “eficiência”, 
que está na base do “sistema” que abafa a liberdade ou autonomia das pessoas, 
ou seja, abafa a capacidade das pessoas de perceberem e vivenciarem bens e 
prazeres internos às suas próprias atividades ou práticas. 
 
29 
 
Aula 16. 
 
As abordagens sociológicas no campo da teoria das organizações. 
 
- Abordagens mais relevantes: abordagem mecanicista, funcionalismo, 
abordagem interpretativa e Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. 
 
1) A abordagem mecanicista no campo da teoria das organizações: abordagem de 
caráter positivista: tende a deixar de lado a tese de que a realidade organizacional 
é construída por sujeitos em interação simbólica, ou seja, interação na qual são 
transmitidas e trocadas idéias e formas de pensar, relativas ao significado das 
coisas e do ambiente em geral. 
- Vê a organização como máquina: 
a) Visão “atomística” dos indivíduos que trabalham na organização: não coloca 
ênfase nas relações entre os indivíduos. Funcionários são vistos como indivíduos 
isolados com necessidades estritamente materiais, e orientados exclusivamente 
pela racionalidade calculadora ou instrumental, entendida como capacidade de 
discernir os comportamentos necessários ou eficazes para a maximização da 
vantagem estritamente individual. Necessidades materiais, interesses individuais 
e racionalidade calculadora ou instrumental são tomadas como elementos 
“objetivos” (no sentido positivista do conceito) da natureza humana. 
b) Ênfase no organograma: estrutura de cargos com tarefas e responsabilidades 
bem definidas, estabelecidas muitas vezes em regras escritas. 
c) Ênfase em punições e recompensas associadas às necessidades estritamente 
materiais dos funcionários, que funcionam como razões ou motivos no âmbito da 
racionalidade calculadora ou instrumental. 
d) Ênfase nas linhas de comando, supervisão e controle, de caráter fortemente 
hierárquico. 
 
2) Abordagem funcionalista no campo da teoria das organizações: apesar de 
enfatizar mais a importância das relações humanas no funcionamento da 
organização, focaliza estas relações de um ponto de vista grosso modo positivista, 
interpretando-as como manifestações de necessidades humanas objetivas, 
independentes das idéias e avaliações que os próprios sujeitos têm sobre elas. 
- Vê a organização como um organismo vivo. 
a) Processo “vivo” de trocas entre seres humanos com necessidades mais 
complexas do que as necessidades estritamente materiais. Estas necessidades 
mais complexas envolvem laços de reconhecimento e amizade entre as pessoas, 
que dão origem a estruturas informais muitas vezes mais importantes do que o 
organograma formal. 
b) Ênfase na tese de que não há uma receita única do sucesso organizacional. A 
forma adequada de estruturar e gerir a organização depende dos desafios e 
tarefas que lhe são impostos pelo ambiente. 
30 
 
c) Embora a receita varie, toda organização bem-sucedida deve atender a duas 
necessidades essenciais: integração e coerência interna (coerência entre os 
diversos aspectos e dimensões da realidade organizacional; integração entre 
setores, departamentos, funcionários, etc.) e, por outro lado, adaptação ao 
ambiente externo. 
- Estas necessidades são interpretadas como necessidades “objetivas”, no sentido 
positivista do termo: elementos que existem e surtem efeitos independentemente 
das idéias, concepções e avaliações que os sujeitos tenham sobre eles. 
d) Visão grosso modo positivista do ambiente externo: ambiente externo é um 
elemento “objetivo” ao qual a organização deve simplesmente adaptar-se. Não se 
coloca ênfase na tese de que o ambiente está sendo continuamente construído 
pelas diversas organizações que dele participam ou a ele se referem, ou seja, 
pelas atitudes, idéias e práticas destas organizações (esta última tese é típica das 
abordagens antipositivistas da hermenêutica e da Teoria Crítica da Escola de 
Frankfurt). 
e) Ênfase na “aprendizagem de circuito único” como mecanismo de adaptação 
passiva a um ambiente externo caracterizado por constantes mudanças. 
Aprendizagem de circuito único: captar informações do ambiente; relacionar estas 
informações às normas operacionais e metas organizacionais; desencadear ações 
corretivas, sem questionar a pertinência e validade nem das normas nem das 
metas previamente fixadas. 
 
3) Abordagem interpretativa na teoria das organizações. Abordagem 
antipositivista e construtivista: elementos e itens que compõem a realidade 
organizacional existem por meio das idéias e formas de pensar com que os 
sujeitos lhes atribuem significados (realidade de uma coisa = modo como esta 
coisa me aparece, significado que ela tem para mim). 
- Ênfase na cultura organizacional, definida como rede das idéias e modos de 
pensar com que os membros da organização exprimem o significado dos 
diferentes itens da realidade organizacional. 
- Realidade organizacional é construída por sujeitos que compreendem, aplicam, 
transmitem e reproduzem as formas de pensar por meio das quais se atribuem 
significações aos diferentes itens envolvidos nas práticas organizacionais. 
- Interesse na identificação de modos de pensar dominantes, modos de pensar 
minoritários, modos de pensar emergentes, etc. 
 
4) Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. Abordagem antipositivista e construtivista 
das organizações, que vê a organização como cultura, ou seja, realidade 
construída pelas interações simbólicas dos sujeitos. Mas, diferentemente da 
abordagem interpretativa, tem forte interesse e coloca forte ênfase na 
possibilidade de se criar a organização como uma cultura “dialógica”, centrada 
em modos de pensar valorizadores do diálogo e entendimento “forte” entre os 
sujeitos. 
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a) Valoriza a argumentação e diálogo como princípios para a emergência de 
decisões e normas de cunho mais compartilhado. 
b) Valoriza a competência do sujeito para compreender e sentir-se motivado pelo 
sentido ou significado dessas decisões e normas compartilhadas. 
c) Valoriza o “fazer-junto” (prática efetivamente coletiva) baseado em decisões 
coletivamente construídas, e nesse

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