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Conceito de Raça: História e Biologia

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RAÇA (Elementos do Conceito).
A construção histórica do conceito de raça. O conceito de raça foi desenvolvido de forma mais sistemática a partir do século 18 na Europa através do estabelecimento de uma ciência nova, a raciologia que tinha como um dos seus objetivos principais uma classificação natural das raças humanas. 
A ciência natural do século 18 (hoje conhecida como biologia) deu novo fôlego ao conceito de raça ampliando suas origens filosóficas e religiosas, acrescentando a ele o valor do caráter cientifico. Como um dos efeitos desse processo popularizou-se noções como “espírito da raça”, “produto da raça”, “gênio da raça”, “raça inferior”, “raça superior”, “raça ruim”, “raça degenerada”, “destino da raça”, dentre outras. Todas essas noções apesar de ultrapassadas pela ciência moderna tiveram grande impacto nas relações sociais e na história dos dois séculos seguintes. Na sua maioria, impactos negativos para a convivência entre as pessoas e entre as sociedades.
Os europeus acreditavam (e atualmente, em todo o mundo, muitas pessoas ainda acreditam) que existiam povos inferiores, sem cultura, e que o principal motivo para tal situação era a raça. Havia então uma grande confusão ideológica de fundo político, econômico e religioso, entre raça e História. A confusão entre as idéias de raça e História era na verdade um debate entre biologia e cultura. Achava-se que a biologia (no caso, a raça) influenciava o tipo de cultura e sociedade ou mesmo o determinava. Raça era “destino”. Tratava-se do que se conhece atualmente como determinismo biológico. Hoje sabemos que a cultura e a organização da sociedade dependem da sua História e das suas relações sociais e não possuem interferência direta da biologia. Sabemos também que o conceito de raça não se aplica a Homo sapiens sapiens.
Mas, o que vem a ser realmente o conceito de raça? Do ponto de vista biológico moderno, raça significa a mesma coisa que variedade. Ou seja, dentro de uma espécie, existem populações que variam, mudam os seus genes e, através deles, alteram-se características como cor, altura, peso, etc. Estas populações, gradualmente, vão se diferenciando da população original ou do “tipo” original da sua espécie. Assim aparecem novas variedades ou raças. Muitas espécies são formadas por várias raças. Os felídeos, os primatas e os canídeos são exemplos de ordens onde as espécies possuem raças variadas.
 Qual seria o motivo para o aparecimento das raças? Existem vários, todos de fundo genético e ambiental. Um dos mais importantes é o motivo ecológico. Considera-se que ao ocupar um determinado nicho ecológico (área física, região), uma espécie, passa por várias pressões ambientais: alguns grupos estão mais sujeitos ao frio, outros ao calor, uns conseguem mais alimentos, outros menos. Algumas populações passam a habitar na beira de rios e outras matas ou savanas. Alguns grupos vivem em áreas abertas enquanto outros ficam confinados em regiões altas, montanhosas e de difícil acesso. As relações dos genes com o meio-ambiente, durante milhares e às vezes milhões de anos, vão modificando e adaptando cada grupo ao seu meio a sua alimentação. Os grupos vão mudando (inclusive fisicamente) e afastando-se dos seus antepassados, formando novas raças (ou variedades) que, embora aparentadas e oriundas da mesma fonte genética, adquirem diferenças morfológicas (de forma) significativas inclusive perdendo a capacidade de intercruzamento. Neste sentido, raça significa adaptação. A adaptação pela raça (às vezes chamada pelos geneticistas de “especiação”) é um fenômeno fundamental para a evolução da vida, mas não é universal. Ele aparece em algumas espécies e não em outras. 
Em dois sentidos específicos a adaptação por raça pode significar uma limitação: Primeiro,quando uma população se especializa demais e está demasiadamente adaptada ao seu habitat, uma mudança ambiental brusca, como um terremoto, um vulcão, uma epidemia, uma seca duradoura, pode acabar com todo o grupo que não teve tempo de adaptar-se à nova situação. Pingüins precisam de água gelada, Pandas e Gorilas de brotos de bambu, Garças precisam de lagoas para desova. Estes são alguns exemplos simples de especialização ambiental. Segundo, quando uma população se especializa demais num meio ambiente e se isola do contato com outras populações por muito tempo (que pode ser considerado em milhares ou milhões de anos) poderá haver problemas reprodutivos devido aos sucessivos cruzamentos dentro do grupo. Doenças de origem genética e problemas fisiológicos podem aumentar causando inclusive dificuldades para sua reprodução. Na verdade uma variedade “pura” ou raça “pura” (ou seja, isolada) teria poucas chances de sobreviver sem recorrer à troca de genes “novos” (hibridação ou mestiçagem) com outras populações. Muitas populações de macacos, os ursos panda e os guepardos africanos (cheetah) são exemplos de “becos sem saída” genéticos por excessivos cruzamentos dentro do grupo e já teriam desaparecido sem a ajuda humana. 
Esse “problema da limitação “racial” não acontece em Homo sapiens sapiens, pois todos os grupos humanos são miscigenados (os geneticistas diriam submetidos a uma panmixia genética) e o número de populações isoladas é muito pequeno. Também, ao contrário de outras espécies os grupos de Homo sapiens não formaram grupos especializados e isolados ao ponto de perderem a capacidade de intercruzamento. Note que, num certo sentido, raça (isolamento reprodutivo) é a negação da mestiçagem (troca reprodutiva) e isso é ainda mais verdadeiro quando aplicado ao caso humano.
	Até o final dos anos 50 do século passado, o estudo das raças de animais e de homens, estava baseado em características físicas como altura, cor da pele e dos olhos, tipo dos cabelos, conformação do esqueleto e tamanho dos ossos, formato do nariz e ao estudo das dimensões do crânio. Com o desenvolvimento da genética molecular, puderam-se entender as variações das espécies através dos seus genes. Foi um avanço gigantesco: concluiu-se que as características físicas (cor, cabelo, altura, etc.) são modificações adaptativas acessórias de pequena importância (são chamados de caracteres secundários. Eles envolvem poucos genes e a natureza gasta com eles muito pouca energia). Esses traços físicos se fixam numa população e podem persistir durante milhões
 de anos sem função, são “memórias” genéticas de uma adaptação que aconteceu há muito tempo atrás.
 No caso dos seres humanos, as variações genéticas entre as populações conhecidas como raças são menores que as variações entre os indivíduos de um mesmo grupo (nas grandes sociedades, você pode ser - geneticamente - mais próximo de um indivíduo de outro país do que do seu vizinho ou do seu cônjuge). Com a genética molecular, o conceito de raça perdeu o seu valor explicativo e analítico. Hoje, os estudos baseados na cor da pele, tipo de cabelo, índice craniano, altura e dimensões esqueletais estão sendo totalmente abandonados (embora ainda sejam utilizados pelos museus de arqueologia, pelos paleontólogos e pelos institutos de medicina legal). Atualmente, para sabermos se uma determinada população pertence a um grupo específico (distancia genética), qual o seu grau de miscigenação (mistura gênica), qual a sua origem geográfica (ecológica) e com quais populações ela está relacionada (grau de miscigenação), não se recorre à cor da pele ou ao tipo do cabelo e sim a testes baseados na coleta de sangue ou de saliva (conhecidos genericamente como testes de DNA). 
A genética de populações e a antropologia chegaram à conclusão que os seres humanos são muito mais aparentados do que parecem ser, se nos basearmos apenas na cor da pele ou no tipo de cabelo. E mais, que toda a classificação raciológica destes últimos três séculos, era baseada em dados pouco significativos e confiáveis.
Hoje sabemos que todas as variações morfológicas em Homo sapiens sapiens foram adquiridas depois do Homem de Cro-Magnon (35-40 mil anos atrás). Que são fatos muito recentes na nossa história de 1 milhão deanos (a partir de Homo Habilis), e, só surgiram, depois que deixamos o continente africano e começamos a enfrentar sistemas ecológicos diferentes (na Ásia, na Europa e no Pacífico). Os seres humanos, ao contrário de muitas espécies, formam populações férteis e adaptáveis a qualquer meio-ambiente do planeta. A variação morfológica (tipo de cabelo, cor da pele, altura, etc.) que observamos ainda hoje é o reflexo de um passado genético que perdeu sua funcionalidade como adaptação ambiental. Com a cultura e a miscigenação, a adaptação pela cor da pele ou tipo de cabelo (racial) não tem mais a importância que possuía há 40 mil anos: se você tiver uma casa com um sistema de calefação e alimento quente poderá viver no Pólo Sul ou na Escandinávia, mesmo que seja negro. Há 40 mil anos isto era impossível. Os caracteres secundários (raciais) persistem nas populações – principalmente as isoladas – devido à tendência "conservadora" dos genes (que gostam de repetir cópias de si mesmos). Porém, em populações grandes, com muitos casamentos entre pessoas de genes diversos, o tipo físico tende a ficar indiferenciado e as velhas adaptações do Homem de Cro-Magnon, desaparecem gradativamente.
Finalmente consideramos que o conceito de raça ainda é básico para a Antropologia (e para as ciências sociais) por dois motivos: Em primeiro, pela história cultural do um grupo social que pode e isso parece acontecer com certa freqüência, ser definida em termos "raciais" (um tipo físico definindo uma identidade cultural). O problema com a história cultural é que, o fato de a ciência ter ultrapassado a noção de raça não significa que os grupos sociais façam a mesma coisa. O pensamento "racial", onde caracteres físicos "definem" grupos e populações, ainda tem validade sociológica principalmente entre as populações colonizadas pela Europa. O segundo motivo é mais técnico e metodológico. Como muitas populações e grupos adotam para si próprios e para os outros, critérios raciais de diferenciação, estas informações são importantes para a antropologia biológica, como guia para coleta de informações sobre mecanismos de criação, fusão, transmissão de genes. 
Os sistemas educacionais e a divulgação científica têm um papel importante no descolamento da relação entre raça e História. A antropologia e as ciências sociais em geral estão na linha de frente desta luta contra os efeitos nocivos que a idéia de raça tem nas relações entre as pessoas e entre as sociedades.
 TENTE RESPONDER: 1) Às maiores diferenças entre os homens esta na cor da pele, tipo de cabelo ou formato da cabeça? JUSTIFIQUE:
2) Procure estabelecer uma relação entre a persistência do preconceito racial e a educação:
3) Pelo que você leu o cientista social, teria algum papel no combate ao racismo e ao uso da noção de raça como base das relações sociais? JUSTIFIQUE:
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