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1 - Considerações Iniciais

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
	Vicente Keller
Filosofia é um assunto sempre atual e que interessa não só a um grupo de especialistas, mas a todo ser humano. É provável que não haja ser humano que não filosofe, pelo menos uma vez na vida. Podemos dizer que a filosofia ou ao menos a atitude filosófica é algo que faz parte da vida de cada um de nós. E o que faz parte de nossa vida não podemos considerar sem importância. Mas nem todos dão importância à filosofia. Por quê? É que há muitos preconceitos contra esta ciência.
Preconceito ceticista – Nega à razão humana a possibilidade de chegar à verdade. Nada sabemos com certeza... Não há nada que já não fosse negado. Depois, as contradições dos filósofos e dos sábios. O que um afirma outro nega. Nesta confusão, como chegar até a verdade?
Preconceito existencialista – abandona a atitude crítica e abraça a indiferença diante da busca do conhecimento exato. A realidade – o homem, o mundo – não se explica, é um absurdo. A filosofia, a ciência, querem explicar a realidade. Mas o absurdo não se explica. É preferível abster-se do julgamento, afim de obter uma espécie de tranquilidade, necessária para viver a própria realidade em sua plenitude e de maneira autêntica. O homem existencialista – lúcido e razoável – contenta-se com os dados brutos da experiência pessoal e de observação empírica. É mais cômodo.
Preconceito “cientificista” e positivista – só é válido o que é mensurável, ponderável, experimentável. A verdade se reduz a isto. Ora, a filosofia vai mais além. Não se contenta só com a experiência, pelo contrário. Mas baseia-se antes de tudo na razão. Este preconceito vem acompanhado sempre de um outro: a filosofia é uma ciência teórica. Em última análise, este preconceito atinge também a ciência. A ciência é um conhecimento organizado, sistematizado e purificado de erros comuns. Enquanto tal, a ciência, mesmo a ciência prática, é composta de princípios exclusivamente teóricos. Evidentemente, a ciência visa também a aplicação prática de seus princípios, mas isso não quer dizer que elas percam o valor se eventualmente não aplicados. Tomemos um exemplo: a lei, dizem muitos, não existe, por não ser experimentável, mensurável. A lei, o que nós chamamos de lei, é puro hábito, costume. Assim pensa Hume e muitos outros. E então podemos perguntar: como é que se explica, se a lei tem valor apenas em teoria ou se é apenas um hábito de nossa mente, que, se um engenheiro planeja e executa a construção de uma ponte de acordo com certas leis ela fica firme, enquanto que uma outra, em que o engenheiro infringe estas leis, a ponte desmorona?
Preconceito comum – A filosofia é abstrata, o filósofo é um homem alienado, que vive no “mundo da Lua”, ou num mundo imaginário, longe da vida e dos problemas cotidianos, passa o tempo elaborando teorias absurdas, impassível com os acontecimentos, etc... Enfim, ele não é prático, não é realista. Como se o “homem prático” pudesse passar sem a teoria do cientista, do filósofo. Assim, mesmo as contas que lhe dão o balanço dos lucros e perdas, são obra de uma teoria matemática; à eficiência, à submissão dos empregados, responde uma teoria psicológica que estabelece as relações no trabalho; quando se orgulha de ser o dono das instalações, construções e meios de produção, não pode esquecer que é uma doutrina filosófica que lhe assegura o direito de propriedade. Nas grandes e nas mínimas coisas o “homem prático” vive na dependência de uma teoria.
Há ainda muitos outros preconceitos, todos eles injustos e sem consistência. A irrealidade, que aparece inerente a qualquer atitude filosófica é falsa e aparente. A atitude filosófica é a busca da própria realidade, ultrapassando a aparência.
Filosofia é a busca da verdade e da certeza.
	O contato com o mundo exterior se faz primordialmente, através dos órgãos dos sentidos. Estes, no entanto, podem nos dar um conhecimento errôneo da realidade. Os equívocos cotidianos – dependendo sua frequência do maior ou menor grau de cultura do indivíduo, de sua idade psicológica e do aproveitamento de suas experiências – mostram à bessa que o conhecimento empírico nem sempre corresponde à realidade das coisas e dos fatos. A nossa fala está repleta de expressões empíricas que não correspondem à verdade. Por exemplo, afirmamos que o firmamento é azul – na realidade ele é incolor; que o sol se levanta; que as imagens de um filme se movimentam (ilusão ótica), etc...
	Uma interpretação adequada da realidade só se fará por meio da reflexão. E a reflexão já é uma atitude filosófica. Esta reflexão é uma tentativa e procura voluntária do significado real das coisas. Surge sempre quando há um problema a resolver, pois todo problema foge à rotina, ao normal, e não pode ser aceito pela mente humana sem certa ansiedade. Para se ver livre desta ansiedade, a mente humana se dá ao trabalho de estudar e tentar resolver o problema. Proceder desta forma é adotar uma atitude filosófica. Procurar descobrir o sentido exato de uma realidade, não contentar-se com a observação empírica, querer descobrir as causas, os “porquês” das coisas é adotar uma atitude de filósofo. Pois Filosofia, em sentido amplo, outra coisa não é senão o amor à sabedoria, interesse pelo saber exato e explicativo (este é o significado etimológico do termo filosofia – amigo + sabedoria). Termo este atribuído a Pitágoras, filósofo grego, em contraposição aos sofistas, isto é, os que se chamavam a si mesmos de sábios. Amar a sabedoria é o que convém ao filósofo, uma vez que a ninguém é dado dominar todos os ramos do saber exato e completo. O filósofo não pretende atingir todo o saber, toda a verdade. O filósofo verdadeiro é um homem modesto, humilde. Contenta-se com algumas verdades, com algum conhecimento exato. Procura laboriosamente saber exatamente algumas verdades, esforçando-se por descobrir sob as aparências sensíveis, o significado real. E é por isso que a reflexão filosófica não se confunde nem com o puro devaneio, nem com uma imaginação mística, mas que se sustenta com argumentos da razão.
O que é filosofia?
O que é filosofia? Esta já é uma questão filosófica das mais emaranhadas. Poucas palavras podem rivalizar com a palavra “filosofia” em tantas acepções. Há muitas opiniões e definições. Eis algumas: 
A filosofia é um conceito coletivo – para tudo aquilo que ainda não foi suficientemente pesquisado e cientificamente certo. Desta opinião é, por exemplo, o grande matemático e “filósofo” inglês Bertrand Russel ( em seu livro Minha concepção do mundo diz: “Filosofar é especular sobre aquilo que ainda não é possível ter um conhecimento exato”. “Filosofia é o que nós não conhecemos cientificamente”). Tal é também a opinião de muitos filósofos positivistas. Baseiam-se no argumento seguinte: para Aristóteles, filosofia e ciência são uma e a mesma coisa. Mais tarde, as ciências, uma a uma, vão se tornando independentes da filosofia: primeiro a matemática, depois a medicina, a psicologia, etc... Não existe filosofia em sentido como existem as demais ciências. Um objeto da filosofia não existe. A filosofia é apenas uma tentativa de dar soluções ou explicações não definitivas a problemas ainda imaturos para serem resolvidos cientificamente.
Se fosse como eles julgam, devia haver menos filosofia que no tempo de Aristóteles. Ora, não é isso que se verifica. Hoje, há mais pensadores filósofos e muito mais problemas por eles abordados do que no tempo de Aristóteles. É certo que muitas disciplinas se separaram da filosofia, mas surgiram novas, paralelas às ciências, como a filosofia social, filosofia das ciências, filosofia da lógica, etc... Os fatos mostram que em vez de definhar com o progresso das ciências, a filosofia se torna mais rica e viva.
A filosofia não é uma ciência – é o que dizem muitos existencialistas. O objeto da filosofia é o supra-racional, o inconcebível, o que está além da inteligência. Filosofia não é ciência e não está ao alcance da razão. No entanto, a filosofia apreende a verdade de outra maneira qualquer, mais ou menos irracionalmente.Jean Wahl pensa que não há nenhuma distinção essencial entre filosofia e poesia. Karl Jaspers, igualmente. A filosofia deve se servir do sentimento, da vontade, da fantasia. Podemos responder-lhes com Witgenstein: Sobre o que não se pode falar, deve-se calar”. A filosofia é uma preocupação racional, doutrina e nunca poesia. A filosofia pode servir-se da poesia, do teatro, do romance (como o fizeram Platão e Santo Agostinho e mais recentemente Gabriel Marcel e Jean Paul Sartre), mas como simples meio de comunicação do pensamento. A filosofia em sua essência sempre foi uma doutrina, uma ciência.
A filosofia é simples clarificação da linguagem – não há proposições filosóficas, mas apenas uma clarificação de proposições. A filosofia não é uma ciência em si, ela tem por finalidade investigar a linguagem e a estrutura das outras ciências. Esta é a opinião de Ludwig Witgenstein e da escola positivista lógica. 
A filosofia é a ciência dos valores – É a opinião de Max Scheller e da escola alemã. O objeto da filosofia são os valores. As demais ciências investigam o que é, a filosofia aquilo que deve ser – a realidade como boa ou má,bela ou feia, etc...
A filosofia como Teoria do Conhecimento – as ciências não se preocupam com o conhecimento; a filosofia investiga a própria possibilidade do conhecimento, os pressupostos, os limites do conhecimento. Essa é a opinião de Immanuel Kant e da escola crítica. 
O homem é o objeto da filosofia – toda realidade, dizem muitos existencialistas, tem relação com o homem. Esta relação é deixada de lado pelas ciências em geral. 
A filosofia como síntese das ciências – a filosofia não tem objeto próprio. Ela é útil enquanto nos dá a síntese dos diversos dados da ciência. Tal posição é defendida por Auguste Comte e o positivismo. 
Concepção aristotélico-tomista – a filosofia se interessa com o conhecimento, com os valores, com a linguagem, com o homem. Mas não só com estes objetos. Ela não se restringe a um objeto, nem a um aspecto da realidade, por ser uma ciência universal. Ela se interessa por tudo o que é. Não há nada que exista e que não interesse à filosofia. 
Se é assim, parece que ela se ocupa com os mesmos objetos das outras ciências. Como e em que, então, a filosofia se distingue das outras ciências? A filosofia se distingue das outras ciências: 
Pelo método – a filosofia não se serve só do método empírico como o físico, nem só do método analítico. Além destes, serve-se também da síntese, da intuição, da introspecção. 
Pelo objeto formal – ou pelo ponto de vista pelo qual aborda a realidade. A filosofia encara as coisas, a realidade, sob os prismas fundamentais, das causas essenciais e últimas. Sob este aspecto, a filosofia é a ciência dos fundamentos da realidade. Não se contenta com os fenômenos. Lá onde param as outras ciências, aí entra a filosofia a investigar. A ciência conhece – a filosofia quer sabe o que é o conhecimento; as ciências descobrem e estabelecem leis – a filosofia pergunta-se o que são as leis; o sociólogo e o político falam da finalidade... a filosofia vai ou pelo menos tenta ir às raízes das questões, não se dando por satisfeita só com a explicação das outras ciências. 
O que é filosofia – Filosofia é a ciência das causas supremas do ente (ser), conhecidas pela luz natural da razão. Por isso ela foi e é chamada, com toda razão, sabedoria, pois é próprio da sabedoria preocupar-se com as razões fundamentais (Santo Tomás de Aquino). A filosofia é, portanto, um conhecimento humano-intelectual-científico. Conhecer é saber as causas. A ciência é conhecimento pelas causas próximas. O que é um conhecimento científico? Temos diversos tipos de conhecimento: 
Conhecimento sensitivo – próprio dos sentidos externos e internos. Este conhecimento é apenas genericamente humano, por ser comum ao homem e ao animal. Um conhecimento puramente sensitivo nunca pode constituir uma ciência. Com isso não se afirma que os sentidos não tem valor algum para o conhecimento humano (como muitos afirmam). Os sentidos servem instrumentalmente à inteligência (como a palavra é o instrumento do pensamento). Os sentidos são tão importantes para o conhecimento que Santo Tomás de Aquino faz coro a Aristóteles, dizendo: “Não conhecemos nada intelectualmente que não tenha passado de alguma maneira pelos sentidos”. 
Conhecimento intelectual – próprio da inteligência. É especificamente humano. Por natureza, este conhecimento é progressivo.O conhecimento intelectual pode ser: 
Vulgar ou pré-científico ou de senso comum – é um conhecimento não explicativo, que ignora a natureza das coisas, as suas leis e as suas causas. Além disso, pode ser um conhecimento obscuro (não sabe distinguir uma coisa da outra); claro (quando distingue uma coisa da outra); confuso (não sabe distinguir as notas essenciais de um conceito – por exemplo, homem-animal racional); distinto (o contrário do confuso). 
Conhecimento científico – é um conhecimento explicativo, que apreende as leis, a natureza das coisas, as suas causas. Ciência é, por conseguinte, um conhecimento certo pelas causas, embora próximas.

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