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1 ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS E DO SENADO FEDERAL SANTOS, Anderson de Paula DE ALMEIDA, Disael Rodrigues MENDES, Eliton Mello CHUERI, Leandro Antonio R. JUNIOR, Mario Sydow ARAUJO, Matheus Aparecido de Lima LOPES, Miguel Arcanjo França Acadêmicos do curso de Graduação em Direito da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva JUNIOR, Jorge dos Santos Especialista em Direito, docente da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva RESUMO Montesquieu em seu livro Do espírito das leis definiu e propagou o Princípio da Separação dos Poderes, se tornando um dogma Constitucional da Revolução Francesa a ponto da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 declarar que não teria Constituição a sociedade que não assegurasse a separação dos poderes, tal o entendimento que este princípio constituiu técnica de extrema relevância para a garantia dos Direitos do Homens, como ainda o é. Assim, com a cisão dos Poderes, temos uma tripartida ramificação, sejam o Poder Executivo, Poder Legislativo e o Poder Judiciário, sendo que a cada um compete funções típicas e funções atípicas, entretanto há funções ou competências que são estritamente privativas. Tais funções exclusivas é o tema da presente pesquisa científica Palavras-chave: Congresso Nacional, Câmara dos Deputados e Senado Federal, atribuições privativas. ABSTRACT Montesquieu in his book laws spirit defined and propagated the separation of powers principle, becoming a constitutional dogma of the French Revolution to the point of the Declaration of the Rights of Man and of the Citizen of 1789 states that there wouldn’t a Constitution society not ensured separation of powers as the understanding that this principle constituted extremely important technique for the guarantee of the Men Rights, and still is. Thus, with the separation of powers, we have a three-way branch, are the Executive, Legislature and the Judiciary, and each competes functions typical and atypical features, though there are functions or powers that are strictly private. Such unique features is the theme of this scientific research Keywords: Congress, House of Representatives and the Senate, exclusive duties. 2 1. INTRODUÇÃO Cada Poder Estatal possui suas atribuições particulares e específicas, típicas ou atípicas, privativas ou não, entretanto tal divisão clara de competências dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nem sempre se deu dessa forma, como hoje é instituído pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a classificada Constituição Cidadã. Preliminarmente, cumpre ressaltar que os doutrinadores da matéria são uníssonos ao revelarem que não foi Montesquieu o primeiro autor a tratar da tripartição de poderes. Aristóteles, em sua obra Política, conjecturava a existência de três funções distintas exercidas pelo soberano, a saber: a função de editar normas gerais oponíveis a todos, a de aplicar essas normas e a de dirimir conflitos oriundos da execução dessas no caso concreto (LENZA, 2011, p. 433). A gênese da separação de poderes se encontra sugerido em Aristóteles, Jonh Locke e Rousseau, que veio a ser definida e propagada por Montesquieu em seu livro De l’esprit des lois (Do espírito das leis). Teve objetivação positiva nas Cartas Magnas das ex-colônias inglesas da América, concretizado em definitivo na Constituição dos Estados Unidos de 17 de setembro de 1787 (AFONSO DA SILVA, 2006, p. 109). Se faz mister não olvidar que o princípio da separação dos poderes se tornou um dogma constitucional na Revolução francesa, a ponto do artigo 16 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de agosto de 1789 declarar que não teria Constituição a sociedade que não assegurasse a separação dos poderes, tal o entendimento que este princípio constituiu técnica de extrema relevância para a garantia dos Direitos Humanos. A relação deste princípio da separação dos Poderes com o tema da presente pesquisa é estreita e íntima, a final, é por meio dessa separação que cada Poder possui sua função estrita e privativa, assim trazendo o chamado check and balance, ou seja, freios e contrapesos, onde cada Poder impõe limites ao outro ao passo que contribui harmonicamente com o outro Poder para que a Democracia se desenvolva e se concretize ainda mais. Tais funções privativas, especificamente do Poder Legislativo, é o bojo do trabalho em epígrafe. 3 2. DO CONGRESSO NACIONAL E SUA ORGANIZAÇÃO BICAMERAL Na Democracia representativa, onde o povo elege seus representantes, como no Brasil, tradicionalmente o Legislativo é confiado a órgão que devem representar o povo e por ele decidir em questões federais. O egrégio doutrinador Ferreira filho (2001, p. 165) cita a lição de Montesquieu: “Como, num Estado livre, o homem, que se reputa ter alma livre, deve ser governado por si próprio, seria preciso que o povo tivesse o poder legislativo. Mas como isso é impossível nos grandes Estados, e sujeito a muitos inconvenientes nos pequenos, é preciso que o povo faça por seus representantes tudo o que não pode fazer por si próprio”. Todavia, seria uma utopia esperar que o poder legislativo estivesse nas mãos do povo, logo, esse poder fora entregue ao corpo de representantes organizados em duas câmaras, por meio da soberania popular, ou seja, sufrágio universal do voto. A função legislativa, ou seja, a competência de criar e publicar novas normas em nível nacional é de competência da União, sendo exercido, tal poder, pelo Congresso Nacional, que se constitui da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, integrados respectivamente por Deputados e Senadores (AFONSO DA SILVA, 2014, p. 513). Na Carta Magna Brasileira é tradicional a organização do Poder Legislativo cindido em duas câmaras (ou duas casas), tal divisão é classificado como bicameralismo, sistema esse que possui sua gênese, digo, origem desde o Império no Brasil, com exceções nas Constituições de 1934 e 1937, que se utilizaram do unicameralismo, sistema em que o Poder Legislativo é composto por apenas uma única câmara. Discute-se deveras as vantagens e desvantagens de um sistema em face do outro (bicameralismo versus unicameralismo). Não obstante, desde da promulgação da Constituição dos Estados Unidos da América (EUA), surge esse dogma que repele a ideia do unicameralismo, haja visto que o bicameralismo (sistema aplicado ao Brasil), possui a câmara dos deputados, que é o representante do povo, e, do 4 outro lado, o Senado Federal, este contendo representantes dos Estados da Federação. A regra geral é o bicameralismo, isto é, a existência de duas Câmaras que, em pé de igualdade ou não, participam do desempenho das tarefas ordinariamente confiadas ao Legislativo (FERREIRA FILHO, 2001, p. 165). Os que defendem o unicameralismo aduzem que este sistema é menos conservador que o bicameralismo, pois naquele ocorre um maior avanço democrático, na medida que canaliza e exprime melhor os anseios sociais, tendo em vista que o crivo para se aprovar medidas seria apenas em uma câmara, diminuindo a possibilidade de divergências e conferindo maior celeridade aos trabalhos legisferantes (AFONSO DA SILVA, 2014, p. 513-514). Se faz necessário expor que no bicameralismo nacional não há predominância de uma câmara sobre a outra. Legalmente e formalmente, contudo, a Câmara dos Deputados goza de certa primazia no que concerne à iniciativa legislativa, pois é em face dela que o (a) Presidente da República, o Supremo Tribunal Federal (STF), os Tribunais Superiores e os cidadãos promovem a iniciativa do processo de elaboração das leis, em consonância com o art. 61, § 2º, e art. 64, ambos da Constituição da República Federativa do Brasilde 1988 (CRFB/88). In verbis: CRFB/88. Art. 61. “A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. (...) § 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. (...) Art. 64. “A discussão e votação dos projetos de lei, de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados”. (Grifos nossos). 5 Dessa forma, por apenas uma questão formal prevista na Carta Magna é que se observa que para a inciativa popular de lei ou pelos outros Poderes da União (Executivo e Judiciário), ou até mesmo do Ministério Público, deve ser submetido à Câmara dos Deputados, conferindo à esta, portanto, uma certa prevalência quanto a submissões de projetos de leis de iniciativa externas ao Congresso Nacional. Enfim, determinadas atribuições do Congresso, quanto ao seu conteúdo e objeto, competem ao Congresso Nacional com a sanção do (a) Presidente da República; outras são de competência exclusiva do Congresso Nacional sem a sanção presidencial. Do exame dessas atribuições do Congresso se observa que ora são políticos-gerais, ora são administrativas, ora são judiciárias, ou seja, ora são funções típicas, legislar, ora são funções atípicas, gerenciar, julgar, administrar, etc. (PINTO FERREIRA, 2001. p. 327). Mas são as competências privativas do Poder Legislativo, que dispensam sanção, logo, ratificação presidencial, que são o foco do presente artigo, como se aduzirá infra. 2.1 Das atribuições privativas da Câmara dos Deputados Um dos ramos do Poder Legislativo Federal é a Câmara dos Deputados, que se compõem de representantes do povo, eleitos em cada Estado, Território e no Distrito Federal (DF) pelo sistema proporcional (AFONSO DA SILVA, 2014, p. 514). Seus membros gozam de mandato de 4 (quatro) anos. Possui a Câmara dos Deputados algumas atribuições privativas, destarte, competências exclusivas, pois são insuscetíveis de delegação, assim, não é permitido a atribuição de suas funções exclusivas a outro Poder ou órgão, sendo que tais atividades a Câmara exerce sozinha. Aludidas atribuições privativas são previstas no art. 51, incisos I ao V, da CRFB/88. Segue-se a transcrição da Lei Maior: CRFB/88. Art. 51. “Compete privativamente à Câmara dos Deputados: 6 I – autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado; II – proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentados ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa; III – elaborar seu regimento interno; IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção de seus serviços, e a iniciativa de lei para a fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; V – eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII”. De acordo com Ferreira Filho (2001, p. 172), no inciso I, do art. 51, a Carta Magna institui que cabe à Câmara dos Deputados votar pela admissibilidade da acusação tanto do crime de responsabilidade (o denominado impeachment, arts. 85 e 86 da CRFB/88), como os crimes comuns (tipificados pelo Direito Penal), do (a) Presidente da República e/ou de seus Ministros de Governo, por dois terços (2/3), em caso positivo. Caso haja procedência deste crivo de admissibilidade feita pela Câmara, leva-se a julgamento perante ao STF nos crimes comuns e perante ao Senado nos de responsabilidade, presidido pelo presidente da Suprema Corte. Já o inciso II, do art. 51, da CRFB/88, aduz que a Câmara deve exigir a prestação de contas do (a) Presidente, se este (a) não as prestar no interregno de 60 (sessenta) dias após abertura da sessão legislativa, já que a aprovação de contas e de gastos deve passar pela ratificação legislativa, em observância ao princípio da legalidade (art. 37, caput, da CRFB/88), que a Administração Pública jamais deve olvidar, ou seja, ignorar. O inciso III, do mesmo diploma legal, imputa à Câmara a elaborar seu próprio regimento interno, ou seja, as regras procedimentais, formais e principiológicas que irão nortear todos os trabalhos na casa legislativa em questão, o que a Câmara já o fez. Todas essas funções (incisos II, III), são as chamadas funções típicas do Legislativo, ou seja, baseiam-se na criação de normas, contudo os incisos I, IV e V, tratam de funções atípicas, ou seja, que vão além de sua função essencial de editar e publicar normas. O inciso I, trata de julgamento no que tange a admissibilidade de acusações, ou seja, a Câmara deve emitir uma sentença de pronúncia, o que, em tese, seria 7 atividade do Poder Judiciário. O inciso IV dispõe sobre a organização e gerência da câmara, no poder de polícia e criação (concurso público) e extinção de cargos, com a instituição de suas respectivas remunerações. E o último inciso, V, concede à Câmara o condão de eleger dois membros do Conselho da República. Logo percebe-se, que os inciso I, IV e V, trazem funções atípicas, de natureza de gestão, o que em regra seria do Poder Executivo, mas que o Legislativo possui como competência privativa. Mas os incisos II e III, tratam de funções legislativas, enquanto o inciso I, por mais que não aprecie o mérito de processo de impedimento, julga a admissibilidade, função atípica, que seria de natureza do Poder Judiciário. 2.2 Das atribuições privativas do Senado Federal O Senado brasileiro é, pois, uma Câmara componente do Congresso Nacional, de caráter federal, embora com laivos, ou seja, vestígios de inspiração moderadora, ou seja, o Senado acaba dando, por vontade expressa, a palavra final em assuntos que são submetidos ao crivo do Congresso Federal. Cumpre, o Senado, estruturalmente, o papel de representar na gestão do interesse nacional dos Estados-Membros da Federação (FERREIRA FILHO, 2001, p.169). Assim, a Constituição, tal como as anteriores republicanas, declara que o Senado Federal é composto por representantes dos Estados e do Distrito Federal, elegendo, cada Estado, 3 (três) Senadores (com dois suplentes cada), para um mandato de 8 (oito) anos, firmado na tese do Senado como câmara representativa dos Estados federais, para que cada Estado e o DF participem das decisões de âmbito nacionais (AFONSO DA SILVA, 2014, p. 515). As funções exclusivas do Senado Federal estão previstas na Carta Magna de 1988, em seu art. 52, e em seus incisos subsequentes, entretanto, no presente artigo científico se analisará apenas os incisos I, II e III, do artigo supramencionado. Segue-se a Lei instituída na Constituição: CRFB/88. Art. 52. “Compete privativamente ao Senado Federal: 8 I – processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandante da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos como aqueles; II – processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União noscrimes de responsabilidade; III – aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de: a) magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República; c) Governador de Território; d) Presidente e Diretores do Banco Central; e) Procurador-Geral da República; f) titulares de outros cargos que a lei determinar; (...) Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis”. É o Senado, de pleno direito, integrante do Legislativo, não podendo aprovar- se lei sem que tenha oportunamente se manifestado sobre o projeto. Em decorrência, contudo, do processo adotado pela Constituição para a feitura das leis, é normalmente uma Câmara de revisão. Como visto acima, o Senado possui certo número de competências privativas, algumas oriundas da imitação de instituições alienígenas (estrangeiras), outras, de seu caráter federal, terceiras, de sua inspiração moderadora (que fiscaliza e dá a palavra final) (FERREIRA FILHO, 2001, p. 170). “Cabe-lhe, assim, uma intervenção no desempenho da função executiva que transparece no fato de ser exigida a sua ratificação para certas nomeações” (FERREIRA FILHO, 2001, p. 170). As explicações a seguir do art. 52, foram extraídas do site do próprio Senado Federal (VIDE item 4. Referências Bibliográficas): Uma das competências privativas do Senado é o direito de processar e julgar o presidente da República e outras altas autoridades nos crimes de responsabilidade. Para isso, a Casa assume a função de órgão judiciário, ou seja, uma função atípica, e é presidido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal. Mas, para instalar processo contra o Presidente, o Vice- 9 presidente ou contra os Ministros de estado, é necessária autorização da Câmara dos Deputados. Já para processar os ministros do Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União por crime de responsabilidade não há necessidade de autorização, conforme art. 52, inciso I e II, parágrafo único, da CRFB/88. Outra competência privativa do Senado é aprovar ou rejeitar a escolha de magistrados, do procurador-geral da República, de chefes de missão diplomática e do presidente e diretores do Banco Central. Cabe ainda à Câmara Alta apreciar as indicações para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e para o cargo de Defensor Público da União. Todas as autoridades que precisam da autorização do Senado são sabatinadas por comissão competente. A comissão vota a indicação e emite parecer que, depois, é apreciado pelo Plenário da Casa. A sabatina e a votação dos candidatos a chefes de missão diplomática são feitas em reuniões secretas, nos termos do art. 52, inciso III e alíneas subsequentes da CRFB/88, sendo que essa atribuição também é uma função atípica. O Senado Federal tem atribuições que são privativas da instituição e determinantes para os destinos do país. Essas responsabilidades exclusivas fazem com que o Senado interfira na composição e na atuação dos Poderes Executivo e Judiciário. 2.3 Conflito de competência entre as duas Câmaras do Congresso Nacional No dia 09 de maio de 2016, segunda-feira, houve um conflito de competência entre as duas Câmaras que compõe o Congresso Nacional, o conflito teve como bojo as atribuições privativas da cada casa do Poder Legislativo, mais especificamente os dispositivos dos arts 51, inciso I, em face do art. 52, inciso I, ambos da CRFB/88. O conflito de competência se deu em razão do presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), que anulou, por meio de decisão monocrática, ou seja, decisão singular, a sessão que aprovara o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O fato político-jurídico ganhou as maiores manchetes do 10 Brasil e do Mundo, sendo que, infelizmente, o País virou motivo de piada no exterior pela instabilidade política e pelo fato de haver “muitos caciques para pouca aldeia”. A fonte a seguir fora tirada do site conjur ² e as respectivas críticas de um artigo no site jusbrasil ³ (VIDE item 4. Referências Bibliográficas): Com a decisão monocrática do presidente da Câmara que anulou a sessão que votara pela admissibilidade do processo de impedimento e depois remeteu para apreciação do Senado, do dia 17 de abril de 2016, causou muita polêmica pelo conflito de competência e pelo fato do presidente interino apenas querer sanar nulidades absolutas que entendeu ter ocorrido. Contudo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não conheceu do ofício, praticamente ignorou e classificou a decisão, em sessão, como absolutamente intempestiva, e complementou, in verbis: "Deixo de conhecer o ofício da Câmara e determino a sua juntada à denúncia com esta decisão", disse. Com a decisão, o processo continuou no Senado. Em nota, o deputado e presidente interino da Câmara Waldir Maranhão expressou seus fundamentos para a decisão monocrática, o que se segue concomitantemente às contrarrazões: alegou ter havido vício de origem, pois a decisão que aceitou a admissibilidade na casa teria extrapolado a denúncia. Primeiramente, a crítica que se faz é que o STF na ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) n.º 378 decidiu que a Câmara dos Deputados, no processo de impedimento, exerce um juízo de admissibilidade processual. Assim, a casa verifica a plausibilidade dos argumentos apresentados, evitando a tramitação de processos temerários contra o (a) Presidente da República e envia ao Senado para que, enfim, o processo seja instaurado, somente após aprovação por uma comissão e, em seguida, pela maioria do plenário da casa. Para tal juízo de admissibilidade, faz-se necessária a aprovação de 2/3 dos integrantes da Câmara dos Deputados, quórum qualificado. Assim, frise-se: não há processo de impeachment instaurado na Câmara dos Deputados. Há, tão somente, um juízo prévio de admissibilidade. Assim, é absurdo, segunda as críticas, considerar que um juízo de admissibilidade possa ser exercido "extra petita", ou seja, além do denunciado; e, ainda sim, declarar a nulidade do procedimento por argumentos que tenham extrapolado o pedido, de igual forma, não tem fundamento jurídico. 11 Outrossim, ainda que se considere o suposto excesso, e ainda que se verifique a possibilidade de se anular um processo por uma irregularidade em um procedimento prévio à sua instauração, não pode o Presidente da Câmara dos Deputados, em decisão monocrática, passar por cima de votação realizada por 2/3 dos 513 Deputados Federais. O Presidente da Câmara dos Deputados não detém nenhuma espécie de superpoder para passar por cima de deliberações, sobretudo quando se trata de quórum qualificado que exige uma quantidade de deputados ainda maior do que para emendar a Constituição Federal. Um deputado, sozinho, não representa toda a Câmara dos Deputados, e muito menos um dos poderes, in casu, o legislativo. Outrossim, outra crítica que se faz é quanto ao tempo do ato, já está concluso, logo, houve a preclusão temporal e consumativa, logo, o processo está tramitando junto ao Senado, já foi aprovado pela Comissão do impeachment, e seguiu para o plenário. Então, não há dúvidas de que as atribuições da Câmara dos Deputados cessaram. A competência dos ilustres deputados se exauriu! E por essa razão Rena Calheiros o classificou como intempestivo, o que significa fora do tempo. O ato de o Presidente da Câmara dos Deputados "anular" o processo de impeachmentaprovado pelo plenário da Câmara e já em tramitação no Senado, indubitavelmente, exorbita as atribuições do cargo e traz um conflito de competência. Contudo, há os que defendem que, assim como no Processo Civil, as nulidades podem ser arguidas a qualquer tempo (art. 278, § único do Código do Processo Civil, CPC), pois maculam e viciam o procedimento, o tornando, em tese, absolutamente nulos, mas como não estamos diante de um Processo Judicial, mas sim um Processo Administrativo, talvez isso não possa ser aplicado. E mesmo que pudesse ser aplicado, o CPC, em seu art. 277, aduz que: “Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade”; sendo que a finalidade se concretizou. Portanto, há sem dúvida uma questão emblemática, o que apenas o STF poderia sanar. Noutra fundamentação, Waldir Maranhão alega, inclusive, a parcialidade dos parlamentares, que teriam anunciado seus votos antes da votação do processo e os partidos orientados seus integrantes as posições de voto a serem tomadas. O fundamento é esdrúxulo, partidos são "partes", parlamentares não são juízes, não têm o dever de serem imparciais, logo, observar o princípio da imparcialidade, 12 como os integrantes do Poder Judiciário (algo, aliás, impossível no âmbito da política), segunda as críticas do artigo. Outra questão levantada é que o “resultado da votação deveria ter sido formalizado por resolução, por ser o que dispõe o Regimento Interno da Câmara e o que estava originalmente previsto no processamento do impeachment do presidente Collor, tomado como paradigma pelo STF para o processamento do presente pedido de impeachment”, justifica o deputado, o que realmente não ocorreu, contudo, como aduz o art. 277 do CPC, isso se a lei processual civil fosse aplicada, se a finalidade foi alcançada por ato distinto do estabelecido em lei, não deve ser considerado viciado, logo, não anulado. A decisão prejudicou ainda mais um país atravancado, aguardando a conclusão do processo de impeachment. Caso se considerasse legal a absurda decisão do Presidente (aparentemente de natureza procrastinatória, ou seja, protelatória, apenas para colocar obstáculos), o procedimento retornaria à Câmara dos Deputados para nova deliberação pela Comissão, outra votação do plenário e, só posteriormente, do Senado e a economia despencaria, continuando estagnada, como vem ocorrendo a cada novo susto! Susto este, que se deu origem em conflitos, entre as duas Câmaras, de competências privativas do Congresso Nacional. 13 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS O regime Democrático, como conhecemos na realidade atual, engloba boa parte do mundo Ocidental, baseada na tripartição de Poderes, sejam o Executivo, Legislativo e Judiciário, cada qual com suas funções privativas ou não, servindo como freio e contrapesos de interesses subjetivos dos Chefes de Estado, garantindo, por consequência, as garantias e direitos fundamentais. Neste sentido, temos o Poder Legislativo que, por comando Constitucional, possui o condão de transformar fatos valorados pela sociedade em lei. Tal Poder é organizado pelo sistema bicameral, sendo que a referida bifurcação logra na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Ambas as Câmaras da atividade legisferante possuem suas atribuições típicas (legislar) e atípicas (gerenciar e julgar), e por mais que uma Câmara seja parceira da outra para compor o Congresso Nacional, e, portanto, o Poder Legislativo, não é difícil que, baseado em interesses político-partidários ou pessoais, haja conflito de atribuições como se vislumbrara na pesquisa em tela, por mais que ambas as Câmaras formem um só corpo: o Poder Legislativo. Contudo, é através desse Poder que interesses sociais, coletivos, difusos, individuais e individuais homogêneos são alcançados, por meio de normatização que tutelem tudo o que interessa, os anseios, necessidades e evolução da nação. O Poder Legislativo possui, também, suas atribuições exclusivas que, por meio delas, é possível interferir em outros Poderes, evitando que o estado Democrático se transforme em um regime oligárquico, onde o interesse de uns se sobreporia às necessidades de milhares, evitando, logo, a destruição do princípio básico de um Estado Democrático de Direito: a própria soberania popular, que por meio do sufrágio universal, ou seja, o voto secreto, é que a sociedade nacional elege seus representantes, os quais, em tese, legislarão para o desenvolvimento social e lograr os mais surreais objetivos do Brasil que, indubitavelmente, seriam impossíveis de serem alcançados caso não houvesse a representação indireta pelo Poder Legislativo. 14 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFONSO DA SILVA, José. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37ª ed. São Paulo: Malheiros Editoras Ltda, 2014. ___, José. Curso de Direito Constitucional Positivo. 26 ed. São Paulo: Malheiros, 2006. FERREIRA, Pinto. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2001. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 27. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2001. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. ¹ [S.I] As Atribuições privativas do Senado Federal, 2015, disponível em: http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/1997/10/10/as-atribuicoes-privativas- do-senado-federal; acesso em 10/05/2016. ² [S.I] Decisão que suspendeu o processo impeachment foi intempestiva, diz Renan, 2016, disponível em: http://www.conjur.com.br/2016-mai-09/decisao- suspendeu-impeachment-foi-intempestiva-renan; acesso em 10/05/2016. ³ OTTO, Hyago. Presidente da Câmara dos Deputados não tem competência para anular impeachment em tramitação no Senado. 2016, disponível em: http://hyagootto.jusbrasil.com.br/artigos/335216065/presidente-da-camara-dos- deputados-nao-tem-competencia-para-anular-impeachment-em-tramitacao-no- senado?utm_campaign=newsletter- daily_20160510_3346&utm_medium=email&utm_source=newsletter; acesso em 10/05/2016.
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