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Resenha artigo Meninas de Moral

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UNIVERSIDADE CATOLICA DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIENCIAS BIOLOGICAS E SAUDE 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 RESUMO DO ARTIGO: “MENINAS DE MORAL: EXPERIÊNCIAS SOCIOEDUCATIVQS EM UM BAIRRO POPULAR DO RECIFE” 
NICOLE DE AMORIM BRAGA
Recife 
2014
O presente artigo foi resultado de um projeto de extensão universitária desenvolvido por 4 estudantes da Universidade Federal de Pernambuco, dos cursos de Psicologia e Serviço Social: Rosineide de Lourdes Meira Cordeiro, Evandro Alves Barbosa Filho, Giselle Maria Nanes Correia dos Santos, Luanne Alves Oliveira e Raissa Barbosa Araújo. 
O projeto teve por objetivo a promoção de um espaço socioeducativo de reflexão e trabalho com adolescentes do sexo feminino, buscando proporciona-las um empoderamento no universo dos direitos sociais e sexuais. Participaram deste projeto 10 adolescentes do sexo feminino, de faixa etária entre 12 e 14 anos, em sua maioria afrodescendentes, residentes e, uma comunidade da periferia de Recife. 
Nenhuma das adolescentes que participaram afirmou ter filhos e todas elas estudavam na única escola publica da comunidade. A maioria cursava a 4a serie, o que revela certa defasagem em relação aos jovens de outras classes que em media cursam a 7a ou 8a série. Apenas uma delas, com 13 anos esta na 8a série e é chamada de “rato de escola” pelas outras. Em relação à cor e à raça, duas adolescentes se declararam brancas, duas negras e as outras morenas. No que diz respeito às configurações familiares, três das dez adolescentes viviam com o pai e com a mãe, já o restante vivia apenas com a mãe e cerca de dois irmãos. Quando lhes foi solicitado de identificarem quem era o chefe do lar, praticamente todas indicaram ser a mãe. No que diz respeito à renda familiar, além dos recursos gerados pelos outros membros da família, oito jovens afirmaram receber o auxilio do bolsa família. 
O imediatismo é característico do modo de vida dessas adolescentes, apenas quando questionadas sobre o futuro é que elas se posicionavam. Durante as oficinas não houveram relatos envolvendo desejo de mudança futura ou questões sobre a vida adulta. Quando questionadas sobre qual profissão gostariam de exercer futuramente, elas responderam secretaria de clinica particular, telefonista, dona de casa e empregada domestica, não deixando de fugir de um padrão da divisão sexual do trabalho. 
Trata-se de uma juventude roubada, perpassada por responsabilidades com a casa e com os irmãos, por uma inserção irregular na escola e por forte exclusão social. Para De Leone (1979), as dificuldades diárias (de estruturação familiar, de acesso a serviços de saúde, educação, politicas de segurança social, etc) não são os fatores mais destrutivos para uma criança ou adolescente em situação de pobreza, mas o fato de que para a maioria delas a vida adulta não será melhor. Sendo assim o futuro para a maioria delas insignificante. 
No que diz respeito ao projeto socioeducativo, foram desenvolvidas oficinas semanais divididas em três eixos temáticos: gênero, direitos sexuais e reprodutivos e infecções sexualmente transmissíveis. No eixo temático sobre gênero foram abordadas as relações de poder, as assimetrias e os papeis sociais tradicionalmente atribuídos a homens e mulheres. No eixo dos direitos sexuais e reprodutivos buscou-se debater os múltiplos meios de obtenção de prazer com o corpo e os cuidados, buscando relacionar a obtenção de prazer com praticas saudáveis, além de discussões sobre aborto. Já no eixo sobre as infecções sexualmente transmissíveis buscou-se focar nos temas da Aids/HIV. 
O trabalho educativo com as jovens teve como embasamento teórico os princípios da educação popular, situando-as como sujeito do processo educativo e não como objeto. Durante as oficinas as adolescentes expuseram suas realidades de jovens assim como suas experiências de gênero, classe e etnia. 
Dentre todos os relatos, o que mais instigou os estudantes de psicologia e serviço social foi o termo de menina de moral. Para as jovens, ser uma menina de moral significa ser respeitada e admirada pelos garotos. Sendo este respeito conquistado pela própria garota, que deve se impor diante dos outros garotos e garotas da comunidade. 
O termo “menina de moral” só pode ser compreendido se consideradas as condições do lugar onde vivem estas jovens: afastado da cidade, com altos índices de desemprego e subemprego, violência contra a mulher, trafico de drogas, falta de lugares alternativos de lazer... 
O status de moral diante dos outros pode ser conquistado através da força física, de ameaças verbais ou via uso de drogas, elemento esse que não diz respeito somente ao prazer envolvido no seu consumo mas principalmente ao respeito conquistado diante dos pares. 
No que diz respeito a violência e ao uso da força física como forma de autoafirmação de uma menina de moral, deve ser entendida a partir da realidade que permeia essas jovens, numa perspectiva sócio-histórica, não havendo portanto um único tipo de jovem nem um único tipo de jovem de periferia. As praticas de emprego da força física e ameaça verbal estão ligadas a manutenção do status de menina de moral, como forma de manter o respeito entre os pares e o status no grupo. 
Desta forma, Simmons (2004) desenvolveu um estudo onde afirma que dentro de um contexto de dificuldades econômicas e ausência de cidadania, as jovens aprendem desde cedo que é preciso adquirir respeito se defender quando são agredidas, o incentivo partindo muitas vezes de dentro da própria família.
A adolescência por si só é um período em que as transgressões estão sujeitas a acontecerem, podendo o uso de drogas funcionar também uma forma dos jovens dizerem aos pais que também já são adultos. No que diz respeito especificamente ao uso de drogas entre as adolescentes deste projeto, este funciona também como mediador das relações sociais e é elemento chave na conquista do respeito dentro do microcosmo dessas jovens. 
As garotas que participaram deste projeto faziam uso bebidas destiladas, cerveja e lolo preferencialmente. Os lugares eleitos para o consumo eram principalmente em casa e na escola escondidas, ou nas festas. O uso de drogas assume no contexto destas garotas um status de elemento de distinção entre as meninas de moral e as meninas fracas. 
Diante de tal panorama social, onde a violência constitui um elemento organizador do cotidiano, o emprego de força física, ameaça verbal ou uso de drogas não constitui um fim em si mesmo, mas a manutenção de um respeito entre pares e a conquista de status.
Vemos diante de tal experiência a importância do investimento em politicas publicas que contemplem ações socioeducativas buscando o empoderamento de jovens diante dos seus direitos sociais e sexuais, proporcionando-lhes ferramentas para caminharem rumo à transformação.

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