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DIREITOS HUMANOS g1 MARCIA NINA

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DIREITOS HUMANOS – MARCIA NINA 
Aula 1 – Rio, 12.08.15
1ª geração – direitos civis e políticos – liberdade, autonomia - a característica dessa primeira geração é serem direitos individuais. Não querem a atuação do Estado aqui, pois ele não pode intervir nestas nossas questões. A minha liberdade individual pode ser violada pelo Estado, qualquer pessoa. Então o Estado tem que proteger por meio de políticas públicas, como segurança, tendo que restringir a atuação de terceiros e do próprio Estado e criar instituições (polícia, prisão, fiscais de impostos) – tudo que os americanos chamam de “law inforcement” exigem prestação positiva do Estado. Por isso que autores americanos mostrarem que essa distinção entre prestação positiva e negativa do Estado não faz sentido, pois tanto a 1ª quanto a 2ª geração precisam de atuação positiva do Estado.
2ª geração – direitos econômicos, sociais e culturais (DESC) – direitos para a coletividade. Judiciabilidade desses direitos – para que sejam demandados judicialmente, precisamos pensar neles minimamente de forma individual. Exemplo: educação, moradia, saúde. Como se garante esses direitos? Por meio de políticas públicas, que exigem posição positiva do Estado. 
Esses direitos existem por que são manifestações de que outra noção mais abrangente? Qual é o fundamento do DESC? Igualdade, dignidade e solidariedade/fraternidade – lema da revolução francesa. 
3ª geração – direitos difusos. 
Essa discussão sobre as gerações ficou mais dogmática. Vemos falando do princípio indivisibilidade dos DH – direitos civis e políticos não são nada sem os direitos sociais.
Quando se fala de DH temos três ordens de discurso: 1)aspecto jurídico – hoje muito consolidado; 2)aspecto cultural – DH são criações históricas, criado no Ocidente, isso é um fato, é uma noção criada historicamente a partir de acontecimentos na Europa – mas não quer dizer que tenha impossibilidade de sua transposição para outros lugares; 3)discussão filosófica – é uma discussão moral, não no sentido do que é certo e errado, mas sim uma discussão racional, modo de reflexão racional pautado por critérios, princípios, regras, que são filosoficamente reconhecidas sobre estas questões -> posso refletir sobre estas questões e chegar a conclusão de que posso universalizar este conceito ou não, pois posso estar sendo autoritário, paternalista e violento ao discutir essa universalidade. 
A discussão política permeia estes três níveis. Ela pode ser num plano normativo ou descritivo, mas é sempre uma discussão acerca do poder, formas do poder social legitimas ou não – por que o Estado pode dizer que posso fazer isso ou aquilo? Qual é a legitimidade dessas políticas públicas que acabam cerceando nossa autonomia? Quando é legítimo cercear minha autonomia? Então isso é discussão sobre o poder, política não é discussão sobre partidos. 
-Paternalismo -> a discussão sobre DH é sempre uma discussão sobre o Estado e o poder. Não é uma discussão sobre a criminalidade, por exemplo. É uma discussão sobre o que o Estado pode ou não fazer e isso desde o século XVIII. Quando discute redução da maioridade penal, lei da anistia – não está discutindo crime, mas sim as políticas públicas que foram criadas para lidar com isso. O objeto de análise é sempre o Estado. Sempre estamos discutindo políticas estatais. 
E essa discussão é carregada de informações vindas do direito, da nossa formação cultura e é também formada pelas nossas discussões acerca de legitimidade. 
A discussão sobre DH também tem um nível nacional, regional, internacional (entre nações) e transnacional (global). A discussão internacional vem sendo afetada pela transnacional. A internacional é uma visão criada por Estado, em que a unidade política de organização é a de Estados, em territórios, que está em crise desde a Guerra Fria e estamos pensando agora qual é o melhor nível de estruturação, mas que não são entre estados, mas que transcendem aos Estados, indo a outros além dos estados, como as organizações, que tem importância na esfera supranacional.
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Aula 2 – Rio, 14.08.15
- Formação histórica dos direitos humanos – transição da moral pro direito, do universal para o local
Vimos na aula passada processos que culminaram com o conceito de direitos humanos. Até a ideia de direito natural é uma ideia historicamente construída. As raízes que se conectam aos direitos humanos são realmente remotas – raízes que se conectam a essa noção de que existem certos direitos que servem para nos proteger em relação até mesmo contra uma organização política que se diz soberana. 
Primeiramente, o direito natural era visto como uma ordem normativa que estava acima do direito positivado e em caso de conflito deveria sempre sobrepor ao direito estatal. Neste momento ainda não se chamava “direito natural”, mas a ideia era a mesma. O direito natural na Grécia antiga dizia respeito a uma ordem normativa que estava acima de tudo, inclusive acima do indivíduo, e a conduta de todos deveria estar de acordo com essa ordem normativa, que era uma ordem dada pelo próprio universo. A tarefa dos indivíduos era descobrir que ordem normativa era essa e se adaptar e se harmonizar a esse sistema de normas e resolução de conflitos.
O tempo mudou, aconteceram diversas coisas na Idade Média e o conceito de direto natural depois passa a ser como emanado por um Deus, que seria superior à natureza e nesse momento o direito natural ainda é entendido como uma ordem normativo-externa ao sujeito, a qual o sujeito deveria se adaptar/enquadrar. 
Na Idade Moderna, temos uma ruptura com este entendimento e a ideia de direitos naturais passa a ser harmonizado com a noção de individualidade. Os indivíduos passam a ser a unidade central de referência tanto para a discussão filosófica, econômica, política, moral.
Uma das marcas da modernidade é o que chamamos de racionalismo e individualismo, fazendo que a modernidade seja qualitativamente diferente de todos os regimes que vieram antes. Então modernidade não é só um modo de historicização, de divisão da História, mas um termo que denota qualitativamente um modo de ver o mundo, que é diferente de todos os outros. É um processo de secularização do mundo, racionalização e de individualização – características fundamentais da sociedade moderna. Vários fatores de ordem econômica, religiosa, política contribuíram para que estes fatores pudessem acontecer, mas vemos que em todas essas áreas há uma valorização da razão como sendo atributo subjetivo, algo que pertence ao sujeito e que permite que o sujeito, se utilizar este atributo da forma correta, tenha acesso a todas as leis da natureza e as leis que devem ditar a nossa vida em sociedade. A ideia de que nós individualmente somos sujeitos competentes para entender o mundo e determinar a nossa posição no mundo e, inclusive, submeter a natureza a nossa vontade (desenvolvimento da ciência – modo de conhecimento e controle técnico da realidade). A modernidade vai se estruturando toda com estes aspectos.
Isso no direito e na moral se manifestou no jusnaturalismo moderno – Hobbes, Locke, Rousseau – esses autores são muitos diferentes entre si, mas têm em comum uma certa gramática de compreensão da realidade que é o contrato social. Todos estes três autores falam de um Estado de Natureza (situação) em que não há organização política coercitiva, organizada por Estado Civil, e a modificação de uma situação por outra se dava por meio de um contrato social. Mas a caracterização desse Estado de Natureza, da Sociedade Civil, as cláusulas desses contratos sociais, se dão de formas muito diferentes para cada um desses autores. 
Em Hobbes no Estado de Natureza “o homem é o lobo do homem”, é a “guerra de todos contra todos” – o homem hobbesiano é um homem medroso, que tem medo da morte violenta, porque como não havia uma organização política todos os sujeitos eram livres e iguais, então nada impedia que eu me apropriasse de forma violenta de algo que está na posse de outro. O conflito éinerente ao Estado de Natureza, a “guerra de todos conta todos” significa dizer que não há sociabilidade possível que não passe pela violência. 
As formas de sociabilidade são precárias e momentâneas – posso formar alianças, mas elas não duram muito tempo e depois que atingimos nosso objetivo, essa aliança se desfaz. Somos todos potencialmente inimigos – como acho que posso ser atacado a qualquer momento, não espero ser atacado, então ataco antes. Ideia de guerra preventiva, no direito internacional, é algo entendido como racional nesse mundo pré-político, pois não vou esperar ser atacado, vou atacar antes, pois quero preservar a minha vida. 
Esse Estado de Natureza para Hobbes precisava ser superado por meio de um Estado político forte, o chamado Leviatã – que era essa forma de organização política extremamente forte, que reunia todos os direitos inerentes ao ser humano: direito à vida, liberdade de ir e vir, todos esses direitos eram transferidos ao soberano para que ele pudesse efetivamente proteger a vida, que era o único direito remanescente aos súditos. Então esse contrato social que celebrava a criação do Leviatã era bastante oneroso para os indivíduos, que depois se transformariam em súditos com a construção do Estado Civil. 
Em Locke, o Estado de Natureza não era um estado de guerra civil, já havia sociabilidade, era um estado em que já havia trocas econômicas, tinha uma série de relações sociais sofisticadas. O problema do Estado de Natureza para Locke era que não havia nenhum poder vertical superior que pudesse resolver os conflitos que surgissem da vida em sociedade. Da inexistência desse poder soberano que pudesse resolver os conflitos, esses conflitos poderiam instalar uma situação de guerra. O estado de natureza não era inerentemente conflituoso, mas a possibilidade de conflito era permanente.
Não era um estado que deveria ser superado como o de Hobbes, mas sim aperfeiçoado por meio do contrato social. O que falta a este estado é um poder de resolução dos conflitos, que tira das mãos dos particulares a possibilidade de resolver os conflitos. Então tenho um estado civil em que as relações sociais que já existiam passam a ser garantidas efetivamente, organizadas por um poder coercitivo, que é o Estado. 
Mas o direito dos indivíduos continuam nas mãos dos indivíduos – então para que servia esse Estado? O Estado servia apenas para dar mais segurança e garantir os direitos dos indivíduos que já existiam no Estado de Natureza. Então as possibilidades de resistência para Locke eram muitos maiores, porque se o Estado enquanto organização política não está cumprindo as cláusulas contratuais que justificavam a sua existência, esse Estado perde a sua legitimidade. Tem um direito de resistência ao Estado muito maior, porque o Estado existe para garantir que os indivíduos possam fazer as trocas, se relacionar (modelo econômico de sociabilidade) e esse Estado tinha a função principal de solucionar de forma pacífica os conflitos que surgissem da vida em sociedade. Mas o Estado não tem que intervir na esfera de autonomia dos indivíduos, pois todo o resto estava funcionando bem. Em Locke, a noção de direitos naturais é fundamental e materializa essa possibilidade de resistência ao Estado – todas as vezes que o Estado atua para além daquilo que ele foi criado, está invadindo a nossa esfera de autonomia, está invadindo os nossos direitos naturais inalienáveis e por isso deixa de ser um Estado legítimo, nascendo a possibilidade de resistência. 
Em Rousseau existe a tese do “bom selvagem”, o homem é bom, mas quando convive em sociedade ele se degenera. A convivência social por um lado é fundamental para desenvolver determinadas faculdades nobres, como a cultura, por exemplo, mas, por outro lado, ela acaba desvirtuando essa natureza do bom selvagem. Neste Estado de Natureza é preciso estabelecer o contrato, que seria algo a ser realizado, entrando em uma sociedade em que o homem poderia se realizar plenamente e não sofreria os riscos desvirtuação moral. Essa sociedade é a sociedade democrática – na democracia conseguimos descobrir o que é a vontade geral – a vontade geral só é aferível quando tenho um grupo de pessoas buscando um bem comum. Quando estou agindo em prol do bem comum, sou capaz de sair da minha visão individual e vejo algo que está além da minha vontade individual, vou buscar a vontade geral e ajo em nome do bem comum. A vontade geral é essa que emana do bem comum. Quando ajo em nome do bem comum, percebo que os conflitos individuais são irrisórios e vou focar naquilo que é bom comum para a comunidade, sendo, então essa a expressão da democracia. 
Quando isso acontece, aquelas regras que vão cercear a nossa autonomia são regras que na verdade foram produzidas por nós mesmos – então se estou agindo de acordo com as regras que eu mesmo criei, então o conceito de autonomia para Rousseau se realiza no Estado, na democracia, sou autônomo quando participo do Estado. 
O conceito de autonomia para Locke é um conceito em que a autonomia se realiza contra o Estado, o Estado não pode interferir na minha autonomia. Rousseau é um dos grandes nomes para fundarmos o Estado Democrático de Direito e Locke é um dos grandes nomes para a gente fundar o Estado Constitucional de Direito. 
O Estado Democrático de Direito surgiu dessas duas tradições (Locke e Rosseau) – uma ideia é que a atuação do Estado deve ser limitada – para que serve uma constituição? Para limitar a atuação estatal, criando as formas de organização do poder político, distribuição do poder geograficamente (federalismo, unitário, confederação), estabelecendo competências (entes federativos) – são formas de controle da atuação estatal, impedindo que um único poder tenha nas suas mãos todas as faculdades e possibilidade de tomada de decisão para a sociedade – o centro de decisões é distribuído entre os poderes (horizontalmente – separação dos poderes) e na forma de organização do Estado (verticalmente). E eu limito a atuação do Estado também a partir da Bill of Rights, que seria lista de direitos fundamentais, jamais atacados pelo Estado, sendo essa a noção de direitos humanos. Então a noção de direitos humanos é herdeira dessa tradição jusnaturalista, que falava de direitos naturais inalienáveis, oponíveis ao Estado – a noção de direitos humanos que temos hoje é uma herdeira dessas categorias que dizem respeito ao direito natural moderno inalienável, concebido como “trunfos” que posso erguer contra a maioria e contra o próprio Estado. É uma esfera de atuação em que a única autoridade é o próprio indivíduo – nem o Estado pode intervir, nem a maioria da sociedade. A noção do Estado Constitucional, do Estado de Direito segue o princípio da minoria - é um modo de proteger indivíduos contra a maioria e o Estado. 
Hoje, as principais teorias que existem para demonstrar que não existe uma oposição entre democracia e direitos humanos e também pregam a ideia de que os direitos humanos emanaram de toda uma concepção que tinha como objetivo resguardar o indivíduo e as minorias da atuação Estatal. 
A noção de direitos humanos surge já com a preocupação de atuação do Estado. Se a gente for ver esse processo todo que Locke descreve como a criação de um poder central que pode dirimir as controvérsias, isso é bastante explorado no direito penal. Tem uma absorção do Estado pelo meu direito individual ou coletivo, diferente dos estados anteriores em que os indivíduos e coletivos assumiam a proteção e defesa dos direitos. Vou migrando da forma de defesa privada, gradativamente, para um Estado centraliza essa questão de solucionar os conflitos, já não é mais autorizada a solução das controvérsias pelas minhas próprias mãos e isso passa a ser cada vez mais uma tarefa do Estado. E é uma tarefa que o Estado passa, gradativamente, desenvolvendo sem lançar mão de penas corpóreas. A vingança deixa de ser pessoal e se começa a discutir qual é a função da pena. A pena é algo apenas a ser aplicado pelo Estado, mas é algo que o Estado usa cada vez menos (as penascorpóreas). 
Estamos sempre preocupados com a atuação do Estado. É muito importante saber quais são as ações estatais legítimas e quais não são. A grande tarefa de uma filosofia política e de direitos humanos é estabelecer critérios que me permitem auferir quando a atuação do Estado é legítima ou não. E isso é política – política não é uma discussão partidária apenas. O Estado atua através de políticas públicas – tudo que o Estado faz é uma política pública, mesmo quando não recebe este nome e é o que vamos analisar no curso.
O que seria uma atuação legítima do Estado e o que não seria? Houve um grande período em que escravidão era aceitável. Mas hoje não é possível justificar publicamente a escravidão, isso é inadmissível contemporaneamente. Esse entendimento é um processo histórico. Significa que todos os processos históricos que produzem conceitos do que é legítimo ou não? Não. Mas um dos pontos importantes sobre os direitos humanos é a constatação de que estamos trabalhando com categorias históricas. 
E por que isso complica? Porque lá no jusnaturalismo moderno o entendimento destes autores o que se tinha é que através da nossa razão podemos chegar às faculdades que são universais e se eu me utilizar corretamente das faculdades, vamos todos chegar às mesmas conclusões - vou chegar às conclusões do que é certo ou errado. É uma aposta muito ambiciosa nos potenciais da razão na época do iluminismo, a razão tudo pode. No direito natural era a mesma coisa – eu entendia esse direito natural como emanando desse meu uso da razão. Nessa época, as regras da nossa vida social denotavam da nossa razão. Essa razão universal me fazia imaginar que existiam critérios estáveis do que era certo e errado. Então eu consigo justificar uma moral universal utilizando estas categorias que se entendem com universais. 
O discurso dos direitos naturais e inalienáveis é um discurso universal e no século XVIII e XIX esse discurso migrou para o direito positivo. Foi o período histórico de introdução dessa forma jurídica que ainda temos e que achamos que é natural – início das codificações. Nesse processo de codificação do direto o que era entendido como de ordem moral migra para o direito e passa a ser positivado e migra para o ordenamento. 
A fonte de validade daquelas normas já não precisa mais acessar a minha razão universal, porque ela já é a própria lei. Por que ela passa a ser obrigatória? Não é porque todos temos uma capacidade racional e atingimos o universal por meio da razão, mas é porque o legislador quer. Estou mudando a fonte de autoridade da norma, que deixa de ser uma moral universal e passa a ser o direito positivo, é o legislador que determina. Tenho uma positivação que dá muito mais coercibilidade a essas normas. 
Porém, paralelamente a isso, o que era entendido como universal, passa a ser local – passa a ser obrigatório dentro de uma jurisdição determinada. O processo de sistematização, a constitucionalização do direito é um processo também de nacionalização dessas categorias também, que depois vamos chamar de direitos humanos. Os direitos humanos só são obrigatórios nos ordenamentos jurídicos que positivaram estas regras. O discurso de direitos humanos, que na época chamávamos de direitos naturais inalienáveis, que sempre teve essa vocação universal, passa a ser um discurso jurídico, deixando de ser moral e deixa de ser iminentemente universal e passa a ser iminentemente local. E isso acontece ao longo do século XIX. 
Esse processo de consolidação constitucional dos Estados que passam a se organizar de forma constitucional e passam a adquirir essa forma que hoje conhecemos: povo, território e soberania (elementos do estado moderno). / No direito internacional falamos de forma um pouco diferente, os elementos do Estado: povo (mais ou menos permanente, apesar das migrações), território (mais ou menos delimitado) e preciso de um governo efetivo, que consiga efetivamente implementar políticas públicas para aquele povo naquele território. Se eu verifico a existência desses três elementos, posso inferir que o Estado é soberano. Essa característica do Estado vai se construindo na modernidade e até o século XX. Essa estruturação vai se consolidando até o século XX. A ordem internacional que corresponde a essa concepção de Estado aqui era puramente horizontal: não tem nenhum poder que pode estar acima de um Estado soberano, porque se não ele não é soberano. Estão o Estado soberano é a unidade máxima de decisão dos assuntos internos. 
Aqui o direito internacional tem baixo poder coercitivo. Nesse momento, quando o Estado avança sobre direitos da sua própria população e começa a avançar sobre outras populações, não há muitas respostas possíveis, porque não se pode intervir nos assuntos de outros Estados. Essa incapacidade de atuação da comunidade internacional gerou uma perplexidade muito grande, porque no século XX ocorre a 2ª GM, que teve grande impacto na nossa concepção de direitos humanos. A guerra representou a possibilidade do avanço de um regime jurídico altamente bárbaro sem que a comunidade internacional pudesse reagir. A criação da ONU é uma resposta a isso, a essa impotência da comunidade internacional, que demorou demais para reagir a tudo que aconteceu. 
Um dos consensos dos vitoriosos é que deveria haver certas categorias que estariam acima da soberania, pois o indivíduo tem que ser protegido contra o próprio Estado, porque do jeito como estado constitucional se organizou a possibilidade de direitos individuais e DH dependia do próprio Estado querer aquilo – Estado é o principal violador dos DH e é quem cria, logo a possibilidade de reação do individuo é muito pequena quando ocorre a violação pelo Estado. A comunidade internacional começa a e articular para que haja a contenção desses Estados que violam DH, para que os DH fiquem juridicamente protegidos e não dependam da ordem constitucional dos próprios Estados. 
Nesse momento passamos a ter o que se chama de internacionalização dos DH. Os direitos humanos passam por uma categoria moral, depois passam por uma categoria jurídica local e a partir da 2ª GM passam a ser uma categoria jurídica internacional. 
O processo de internacionalização de direitos humanos vai se dar por meio de uma série de convenções. O primeiro documento que comprova isso é a Declaração de DH da ONU de 1948 e a Declaração da OEA no mesmo período listando direitos e deveres os indivíduos perante o Estado. A assinatura dessa declaração cria uma série de movimentos que vão culminar na década de 60 na assinatura de pactos para proteger o indivíduo. Essas declarações não são vinculantes, não criam obrigações jurídicas, apenas enunciam as aspirações dos Estados signatários, mas não geram obrigações internacionais. 
O momento relevante da criação dessas declarações foi criar esse momento político que permitiu a criação de uma série de órgãos de DH, criou órgãos na ONU para discutir os tratados que viriam a ser assinados. Tem o início do processo de construção de um certo entendimento de que os Estados têm obrigações que estão acima da sua soberania – não posso aduzir argumentos de soberania para justificar violações de DH. Até então não tinha como impor isso, porque os Estados eram soberanos, não podiam intervenções nos Estados por ninguém. Com a criação desses documentos de proteção ao indivíduo, eu passo a gerar pela primeira vez obrigações que impedem o argumento da soberania por parte do Estado, quando se tratar de proteção de direitos individuais. O Estado não pode mais argumentar que dentro do território dele manda ele.
Esse processo de internalização rapidamente vem acompanhado do que chamamos de Especificação dos Direitos Humanos. Os primeiros pactos que surgiram tinham como beneficiários indivíduos concebidos de forma abstrata – exemplo: Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais – esses dois pactos falam que todos são livres, todos tem direito à liberdade de expressão, todos têm direitoaos direitos sociais. Mas rapidamente se começa a perceber que certos indivíduos têm mais dificuldade para atingir essas capacidades, liberdades, esses direitos universais e comuns e aí surgem uma série de convenções que vão estabelecer direitos específicos de certos grupos sociais vistos como mais vulneráveis do que outros. Essas convenções tratam de certos grupos de indivíduos e não mais do indivíduo no seu aspecto abstrato e geral – convenção para a mulher, para as crianças, para aqueles que sofrem discriminação racial. Com isso surge uma rede regional de proteção de direitos humanos, que vão passar a se desenvolver simultaneamente aos outros sistemas internacionais. 
Quando falamos de DH e da sua efetividade como direitos precisamos entender vários acontecimentos do século XX. Depois da 2ª GM temos as criações de novas regras de direito, criação de regimes internacionais e novos autores e sujeitos de direito internacional, que faz com que o direito internacional passe a ter uma dinâmica muito diferente do que se tinha antes. 
Em 1648, o grande modelo de explicação da realidade internacional era o Modelo de Vestefália – conjunto de tratados assinados para colocar fim à Guerra dos 30 anos na Europa. Dessa guerra começam a surgir os primeiros Estados Modernos, antes só tinham as organizações feudais. A partir daí começa a enxergar o estado territorial como a grande unidade política que vai crescendo e criando independência. Esse estado territorial simultaneamente produziu essa ordem de Vestfália que acima de tudo está o Princípio da Soberania e traz junto consigo todos os outros princípios que desse princípio decorrem: não intervenção, liberdade em automar, vários princípios que vão corresponder a essa concepção de que o Estado é essa unidade política de referência, ele é soberano sobre os assuntos que lhe dizem respeito e com relação aos assuntos internacionais vamos ter que estabelecer uma relação de cooperação, porque somos todos igualmente soberanos. Então há nesse momento uma dicotomia muito acentuada entre assuntos internos e assuntos internacionais – assuntos internos só diziam respeito à decisão do próprio Estado e assuntos internacionais vamos ver como analisamos para podermos resolver. 
Nesse momento, a noção de direito internacional é muito tênue. O direito internacional tem acima de tudo uma característica contratual, de unidades que possuem interesses e se entendem como autônomas. O contrato é celebrado entre sujeitos autônomos que possuem o consentimento de que devem se obrigar nos termos daqueles contratos – eu mesmo estou me cerceando, pois me imponho a obrigação de cumprir aquele contrato, mas eu faço isso de forma autônoma, é uma escolha minha. Eu decidi fazer isso porque entendi que isso era bom para mim. O contrato é bom quando os interesses se articulam – um maximiza o outro. Esta é a lógica do contrato
O direito internacional nesse modelo de Vestefália segue a mesma lógica do contrato – ele existe para facilitar a coordenação de interesses de sujeitos que se entendem como soberanos e autônomos. Qual é a grande razão de agir internacionalmente? Não é a solidariedade, não é a paz mundial, não é a proteção dos DH, mas sim a maximização dos interesses. O direito internacional nesse modelo é um direito mínimo, uma sociedade horizontal, anárquica, sem poder central, em que se tem sujeitos tentando maximizar os seus interesses, tentando minimizar os riscos. 
Ao longo do século XX isso vai mudando. Com o final da Guerra Fria se acelera a busca por uma nova motivação. O Modelo de Vestfália entre em crise com a 2ª GM. Surgem novas regras de direito, passa a ser muito mais coercitivos, passa a regular DH, tenho novos sujeitos, tenho OI e tenho novos modos de solução de controvérsias no direito internacional por meio das OI. Com isso o direito internacional assume novas formas de colocar o direito: camada bastante acentuada do direito contratual, tem camada de direito regulatório mais espessa (não consigo mais resolver problemas de finanças internamente apenas, ou o comércio, tem que fazer parte de algum regime internacional, não é mais possíveis regular o meio ambiente internamente, porque a globalização criou a necessidade de regular tudo isso de forma global, o planeta é que tem) e camada de direito constitucional significativamente mais espessa (tenho um direito constitucional muito mais denso. O princípio da soberania continua muito forte na esfera internacional, as potências acabam decidindo muito mais, mas tenho todo esse regime de proteção dos DH, que altera significativamente a relação de poder na esfera internacional).
Por que os Estados aceitam assinar tratados de DH, se esses tratados só limitam a soberania dos Estados? Essa é a grande pergunta. Texto do Bobbio para a próxima aula. 
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Aula 3 – Rio, 19.08.15
O discurso no jusnaturalismo moderno era o discurso de afirmação de uma categoria que seria universal, porque ancorada num fundamento universal: razão humana. Temos faculdades inerentes que funcionam da mesma forma para todos os seres racionais fundamentava a ideia de direitos que possibilitavam a nossa atuação autônoma e o Estado passa a ser concebido em função disso.
Há uma inversão da relação entre sujeito e Estado bastante acentuado com relação ao regime anterior. O modo hegemônico de compreensão do mundo no início da modernidade que era racionalista, individualista, iluminista a ruptura com o pensamento anterior – a antiguidade clássica e medieval entendia a relação entre sujeito e estado como uma relação de sujeição mesmo -> o sujeito se sujeitava ao Estado, súdito. É nossa tarefa como sujeitos individuais tenta descobri qual é a ordem objetiva das coisas, seja ela uma ordem que surge dos cosmos ou que emana da vontade de um Deus. Mas existe uma ordem objetiva, no sentido de que ela não depende do sujeito, uma ordem a qual o sujeito deveria se conformar, se harmonizar e o sujeito, na verdade, é uma engrenagem nisso que é muito maior que ele. A concepção de coletividade nesse momento é muito mais forte do que qualquer concepção de individualidade. A esfera de autonomia ainda não fazia parte disso.
No iluminismo, jusnaturalismo, no inicio da modernidade, tenho uma inversão, pois passamos a entender a coletividade em função do individuo. O individuo é uma unidade autônoma capaz de raciocinar, podendo descobrir as regras da natureza, não para se conformar a essa natureza, mas para controlar a natureza. Tudo que existe está escrito nas leis e se racionalmente conseguimos alcançar tais leis, poderemos controlar a natureza. Há um racionalismo e individualismo muito forte. A vida em sociedade, nesse período, é necessária, porque somos seres que não somos capazes de sobreviver autonomamente, não conseguimos sozinhos prover nossa subsistência. Mas não existe nenhum valor deontologicamente que deve ser preservado na sociedade – deontológico e oposto a instrumental e teleológico, é aquele que parte de princípios, certas ações são boas, independente das consequências que gerem, enquanto que o teleológico avalia valores. A coletividade é boa na medida em que maximiza os nossos direitos da privacidade, da autonomia, em que potencializa a expressão da nossa autonomia individual. Sempre que a coletividade não faz isso e cerceia de forma ilegítima a minha autonomia, a coletividade é um problema. Valorização do sujeito como indivíduo autônomo. Transformação do súdito em cidadão, que tem direitos contra o Estado é algo muito novo. Ideia de que o Estado não pode violar os meus direitos enquanto indivíduo. 
Essa concepção de racionalidade individualizada explica também o desenvolvimento do capitalismo, o processo da Reforma Protestante (ideia de que temos um canal direto com Deus, não precisamos da Igreja para isso), concepção de ciência (descobrir como a natureza funciona para colocá-la a meu serviço). Isso está estruturado na ideia de autonomia individual, racionalismo. Com essa razão universal consigo chegar às regras de convivênciaem sociedade – precisamos conciliar a coexistência em sociedade com a proteção da nossa autonomia. Isso tudo é uma discussão de filosofia moral – uma reflexão sobre as nossas possibilidades de existência na coletividade.
Esse jusnaturalismo era pautado por um discurso universalista moral e vai ao longo do século XVIII se transformando num direito. Surge um direito sistematizado, positivado, organizado a partir de um princípio. Tenho todo um conceito de razão sistemática que se transfere para o direito -> tenho princípios gerais que organizam uma pluralidade de eventos – existe movimento de sistematização do direito, que é expressão desse racionalismo, iluminismo. Com essa sistematização, as regras que eram pensadas moralmente e universalmente passam a ser positivadas, com isso não preciso mais me socorrer de todo aquele raciocínio moral para afirmar certas regras, porque é lei. Por que o Estado não pode cercear minha liberdade de locomoção ou de expressão? Porque é lei. Então tem um processo de juridificação de regras, que antes eram fundamentadas no conceito de razão universal e depois passa a ser direito positivo – ordenamentos jurídicos que surgem.
Mas nesse processo algo fica de fora: a universalidade dos direitos. A retórica de DH é universalista no sentido de que afirma que todos temos direitos inalienáveis que o Estado não pode violar. Os direitos passam a ser locais com a constitucionalização, com isso a discussão moral perde força. O processo de codificação e sistematização acaba com essa ideia do direito ser universal, pois o direito passa a ser local.
A ideia de razão ao longo do século XIX passa a ser compreendida quando um aparato muito potente, estruturado por regras, determina quais são os meios para se atingir um certo fim. A razão é que vai me dizer quais são os meios adequados para atingir um certo fim, mas a razão não pode dizer nada sobre o fim em si mesmo. Começa um período de crítica sobre a razão prática. Há uma distinção entre os usos da razão – a razão pode ser usada nas ciências exatas, pois serve para descrever a realidade (movimento dos corpos), que não diz como as coisas devem se comportar, mas como se comportam – um dos usos da razão para Kant. Mas Kant entendia que a razão tinha outros usos também, entre eles o uso prático, que é a capacidade de determinar as normas que são obrigatórias para a nossa vida em sociedade. A razão nesse último prescreve condutas que são racionalmente obrigatórias – consigo racionalmente afirmar que certas condutas e princípios de ação são racionalmente fundamentados e, portanto, deontológicos. Para Kant essas ações são aquelas que conseguem derivar do Imperativo Categórico – são fundamentadas racionalmente, são obrigatórias as condutas que podem ser universalizáveis. É um método para se chegar ao que é moralmente obrigatório, normas moralmente válidas e universais.
Esse uso prático da razão entra em declínio ao longo do século XIX. E cada vez mais se entende que o que é ordem dos valores não está no campo da razão, mas são fatos – Kelsen. A razão prática não é algo universal, existem formas de organização social muito distintas entre si e todas se afirmavam como universais, então não é possível determinar valores de forma universal. Essa ideia de que os DH se fundamentam como natureza universal perde peso, então cada vez mais a afirmação de direitos naturais inalienáveis passa a depender do sistema de positivação dos direitos – eles são obrigatórios não porque são naturais e inalienáveis, mas porque são obrigatórios quando são positivados e se descumpridos, merecem sanção.
No início do século XX, ocorre a 2ª GM, que gerou esse sentimento de impotência nos próprios vencedores. Diante de toda a barbárie nazista e tudo que aconteceu os vencedores estavam perplexos em como demoraram tanto para atuar. Umas das explicações dessa demora foi a inexistência de uma categoria jurídica que estivesse acima de soberania. Quando os Estados se organizam de forma constitucional e são soberanos, que afirmam ordenamentos jurídicos e fazem políticas pública, isso tem uma expressão internacional que é o modelo de Vestfália organizado de acordo com a soberania, que é o grande corolário. O grande princípio jurídico das relações internacionais até a 2ª GM é o princípio da soberania, que tem o corolário da efetividade: se todos somos soberanos, não posso falar que o que o outro soberano fez é errado, então se um invadiu o outro, não tenho como recriminá-lo. Não existiam categorias morais e nem jurídicas internacionais para impedir a barbárie que ocorreu. 
Começou a se pensar em um modelo de direito internacional – criaram a ONU (reformulação das Ligas das Nações), criação da OEA e depois vai se consolidando o bloco europeu e se afirmam categorias jurídicas que seriam internacionalmente válidas e oponíveis ao princípio da soberania – internacionalização dos DH. Isso começa com a declaração universal dos DH, que criou o movimento possível para que surgissem diversos tratados dentro da ONU e que entrassem em vigor – depois surge a especificação dos direitos humanos (minorias e grupos vulneráveis). 
O que Bobbio fala sobre isso? Ele introduz as questões culturais que ajuda a firmar a relativização dos DH, não há algo universal capaz de assegurar a validade dos DH. Com a 2ª GM, ONU, tratados internacionais isso se irradia para o resto do planeta, que não passaram pelos mesmos problemas da Europa e EUA – uma categoria surge em determinada região – quando eu internacionalizo a categoria jurídica de DH volto a ter problemas interessantes, que é cultural e tem um reflexo moral. Tenho reflexões morais filosóficas diferentes para pensar quais são as relações entre sujeitos e o Estado. Tem culturas diferentes que vão formular formas muito diferentes dessas relações e a categoria de DH surge de um processo local (iluminismo, individuo racional e autônomo) que não á partilhado por todas as sociedades, pois se tem outras concepções em outras partes do mundo, com isso surgem problemas com relação à afirmação dos DH. 
Essas categorias que surgem de um processo histórico localizado, de uma certa cultura são violentas com relação a outras culturas ou são transponíveis e traduzíveis em outro contexto histórico, sendo adequadas para outras formas de sociedade. Essa discussão passa pelos fundamentos do DH. 
A ideia de fundamento é a função que se for sólida faz com que aquele edifício permaneça, algo fixo que estrutura e permite que qualquer coisa existe. Quando eu digo que essa fundação não existe é porque não existe algo sólido inconteste – cada um enxerga um fundamento, é relativo, então não existe um fundamento. 
Juridicamente a Declaração Universal dos DH não é obrigatória, o Estado só assume obrigações quando adere tratados internacionais. O fundamento que ele afirma é um consenso – DH são internacionais e obrigatórios porque existe um consenso de que isso é necessário. 
Qual é a relevância da categoria DH no plano internacional e interno? Os DH seriam então uma hipocrisia? De forma interna o direito é coercível, o Estado pode atuar para garantir a aplicação da sanção em caso de descumprimento, a segurança jurídica está assegurada pelo Estado. A tese da coercibilidade diz que basta a potencialidade da ação do Estado para que uma norma jurídica se transforme em obrigatória e se distinga de outras ordens normativas como, por exemplo, a moral (normas em que tenho uma adesão interior). Isso faz do direito o direito e não moral. Mas isso não existe no direito internacional, pois o direito internacional não tem essa força coercitiva que gere as obrigações, é descentralizado, não existe um poder soberano vertical que determina que se normas jurídicas foram violadas os Estados deverão cumprir sanções. Quando o direito internacional é cumprido é porque houve adesão dos Estados àquela norma. 
Um importante autor norte-americano fala que não importa que haja essa descentralização no direito internacional, pois mesmo assim existe uma jurisdição no DI, um poder legislativo tambéme existem formas de implementação das decisões internacionais, ainda que de forma diferente de como se dá no direito interno. Esse autor diz que o fato é que a maior parte dos Estados, na maior parte do tempo, segue a maior parte do DI. Por que? Tem que ter alguma coisa aí que gere interesse para seguir estas regras. 
Se o direito internacional funciona dessa forma baseada no interesse, por que os Estados teriam o interesse em seguir os DH? Pode ser porque você passa a ser bem visto internacionalmente – mas por quem você passa a ser bem visto e por que você quer ser bem visto? Por que os Estados celebram tratados de DH? Por que o Estado consciente em criar obrigações para ele mesmo, cerceando a sua atuação e cerceando a sua soberania? Por que os Estados gastam muito dinheiro na formulação de tratados de DH? Por que perdem tanto tempo formulando estes tratados? O que o Estado ganha com isso? Respeito internacional. Mas por que isso gera respeito internacional? Alguém tem que ver relevância nos DH. Soberania Desagregada. 
No Modelo de Vestfália o grande ator e o sujeito é o Estado soberano, que é entendido como uma unidade homogênea. Ao longo do século XX surgem mudanças que fazem surgir novos atores e sujeitos de direito: indivíduos, as OI (tiveram sua personalidade jurídica autônoma com relação aos Estados-membros reconhecidas) e algumas coletividades – eles não têm todas as faculdades que o Estado tem mas elas têm uma série de dificuldades. E existem também muitos atores que tem relevância – grandes empresas, associações, organizações não governamentais. 
Isso tudo fez com que fossemos gradativamente entendendo que o Estado não é mais homogêneo, como era visto antes, não é esse bloco – diante da constatação de que os Estados não são soberanos de forma absoluta, como era no Modelo de Vestfália, porque não conseguem mais soberanamente determinar políticas ambientais e econômicas, precisando decidir isso em acordo com outros Estados, porque estas questões transcendem a soberania nacional. Hoje existe o processo do multiculturalismo, temos nacionais de outros Estados vivendo em Estados que não o seu de origem, fazendo que a relação entre povo e Estado se modificasse, fazendo o critério da territorialidade que era decisivo para saber o que era assunto nacional e o que era assunto internacional, não seja mais tão decisivo - essa fronteira já não é mais clara e por isso passou a se afirmar que a soberania não é mais absoluta e sim relativa. Mas isso se modificou novamente e hoje a tese principal é a da Tese da Soberania Desagregada: o Estado continua sendo o principal ator de implementação de políticas públicas interna e internacionalmente, mas ele não faz isso de forma homogênea como se achava que ele fazia antes, porque o Estado é na verdade um monte de coisa, não há como saber qual é o interesse nacional totalmente de forma clara, porque existem muito sujeitos e atores dentro de um Estado, não sendo o Estado esse bloco homogêneo que achávamos que era. A soberania é desagregada, porque preciso do Estado para implementar políticas públicas, mas não se tem mais a pretensão de que o Estado age de forma homogênea, existem muitas desagregações. 
Nessas redes de pressão a noção de DH é importante para muitas dessas redes, ela tem um apelo. Esse apelo tem algo a ver com a ideia de consenso, mas é um consenso diferente do que Bobbio fala – o consenso é uma noção carregada de aceitação racional, é um certo tipo de consenso que gera esse tipo de aceitação e interesse.
O que Bobbio diz é que os processos históricos fizeram com que hoje exista certo entendimento compartilhado sobre DH e que está expresso e materializado na Declaração Universal de DH, então não preciso me fundamentar em mais nada que seja de outra ordem, uma vez que já tenho essa declaração universal de DH.
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Aula 4 – Rio, 21.08.15
-Problemas que surgiram após a 2ª GM
Nesse momento, a dimensão histórica e, até certo ponto, cultural dos DH é incontestável. O fundamento de validade deixa de ser algo objetivo, visto como universal e imutável, e passa a ser intersubjetivo, pressupondo-se uma espécie de consenso social acerca da sua importância. 2º texto do Bobbio: o problema hoje é a sua efetivação. 
As perguntas a seguir tratam do 1º texto do Bobbio – sobre a fundamentação dos DH. 
Podemos, então, estender essa categoria jurídica a povos de culturas muito distintas da ocidental onde não há esse consenso? Podemos “internacionalizar” os direitos humanos? Mesmo países que tem a característica ocidental existe essa discussão de DH? Podemos internacionalizar os DH? 
Relativista significa o reconhecimento de que não tenho como comparar culturas que são incomparáveis, só posso conhecer a realidade a partir da minha perspectiva de mundo. Então quando digo que DH são universais estou dizendo que uma pessoa que tem o ângulo de visão de mundo diferente do meu tem que enxergar DH da mesma forma que eu. Não tenho como estabelecer que uma cosmovisão é melhor que outra. Então não tenho como encontrar esse ponto de vista imparcial que me permite avaliar para todas as pessoas o que é certo e errado, há uma possibilidade epistemológica sobre isso. 
Na Relatividade, DH são produtos históricos do ocidente e somente podem se aplicar a esta esfera cultural. A pretensão à universalidade dos DH nada mais é do que uma nova tentativa de dominação pela cultura ocidental. Existem outros princípios de organização social, tal como deveres e responsabilidades, éticas comunitárias, éticas religiosas. 
Toda vez que afirmo categorias universais, estou afirmando de forma violenta ou imperialista aquilo que eu entendo como sendo importante. Umas das denúncias que o pensamento relativista faz que aquilo que é universalista é uma visão de mundo singular de alguém que é mais forte que eu e consegue fazer a sua voz ser ouvida, estou violentamente impondo uma visão que não é igual a minha, mesmo que eu esteja fazendo com boa intenção e de boa vontade, isso é deformação e violência. 
O universalismo pode ser muito violento – exemplo: falar para uma menina muçulmana que ela não tem que usar o véu. Qual é a diferença entre a demanda de um certo grupo étnico que quer preservar a sua cultura e outro grupo tipo ku klux klan que também quer defender a sua cultura? Como que eu posso criticar certas formas culturais de opressão, ainda que o próprio oprimido concorde com isso? É o dominado concordando com a sua própria posição. O perigo do universalismo é a imposição que fazemos. 
A discussão sobre o outro, sobre o diferente se reproduz até mesmo dentro das sociedades ditas democráticas e que respeitam os DH. Os DH valem para todos? 
Universalista no discurso de DH significa um ideário que se propõe a preservar a dignidade da pessoa humana e a sua autonomia. DH são características básicas de cada ser humano; DH exprimem valores que existem em todas as sociedades e culturas. DH são justificáveis racionalmente. O fato de terem surgido no Ocidente não afasta o seu caráter inclusivo. Qualquer um pode racionalmente afirmar a sua validade. 
A ampla aceitação de DUDH e dos Principais Tratados de DH poderia caracterizar a existência de um consenso internacional? Eles foram amplamente aceitos, poderia isso dizer que temos um consenso no plano internacional, como temos no plano interno? 
Qual a vantagem da internacionalização do DH? Em outras palavras, porque perdemos tempo discutindo se devemos ou não positivar esses conceitos? 
Possíveis respostas: 1)diálogo Intercultural – exemplo: hermenêutica diatópica (Boaventura de Souza Santos) – ideia de que vou decodificando e interpretando culturamente. 
2)Mecanismos inclusivos de atualização democrática dos DH – exemplo: Teoria do Discurso (Habermas) 
Movimento de reconhecer a insuficiência de uma perspectiva (universalista e relativista) com relação à outra. 
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Aula 5 – Rio, 26.08.15
Efetividade dos DH -> o problema dos DH não é o problema de validade,mas sim de efetividade. O que significa dar efetividade aos direitos humanos? Fazer com que eles existam concretamente.
Discurso de ódio – uso estereótipos verdadeiros ou não de modo a generalizar e atacar indivíduos por conta da sua pertença a um grupo maior. Qual a relação de discurso de ódio com a liberdade de expressão? Quando eu posso justificadamente que tal coisa não pode ser dita, cerceando a liberdade de expressão? Nos EUA a vedação ao discurso de ódio não é proibido, pois a minha liberdade de expressão me permite falar coisas que podem ser ofensivas. Já na Europa, entende-se que a liberdade de expressão sofre sim essa cerceação. A efetivação dos DH passa por esse problema primeiro de o que eles significam – como sei o que é liberdade de expressão, o que é ampla defesa? Quão ampla é essa defesa? Princípio do direito à saúde protege o que? O meu direito de fazer uma cirurgia – isso está dentro do meu direito à saúde? Direito à água limpa? Quão limpa tem que ser essa água? E o direito à educação? O que o Estado é obrigado a prover? Isso tudo é polemico, tenho dificuldades sobre os contornos desses direitos, não existe uma forma única de definição desses direitos. 
O segundo problema é: como dou a concretude aos DH? Existem muitas variações na compreensão do que significa realmente proteger DH. A relação com a cultura e não só mais com a moral, e o discurso racional, a concretização dessas categorias jurídicas e morais têm a ver com cada sociedade, com a história dessas sociedades. Para que os pactos de DH façam sentido tem que ter uma relação entre os DH e a democracia, ou seja, as categorias de DH em determina sociedade tem que ter a ver com a democracia que existe em cada sociedade. 
Os Estados não são responsabilizados, é difícil responsabilizá-los pelo cumprimento dos DH no âmbito internacional. DH no plano internacional e no plano interno é uma categoria que sempre se discute com relação ao Estado, estamos discutindo política publica – qualquer política pública está privilegiando um grupo em certo momento, sendo isso justificado às vezes e outras vezes não. É disso que se fala quando falamos sobre DH – estamos orientando o Estado com relação ás suas prioridades e falando o que ele pode e o que ele não pode. 
Precisamos do Estado para garantir DH, porque é ele quem assina os tratados e ao mesmo tempo é o Estado quem é o violador. Sempre que assinamos tratado de DH estamos cerceando a soberania do Estado. Então por que o Estado faz isso, se são documentos que o cerceiam? Qual é a vantagem? 
Por que queremos, por exemplo, pertencer a OMC? Por que essa política externa é vantajosa? Porque eu ganho o mercado internacional, eu quero ganhar economicamente, mesmo tendo que dar um passo para trás na minha autonomia, eu sei que mais a frente vou ganhar mais economicamente. É um raciocínio contratual.
E por que os Estados assinam tratados de DH que vão dizer que eles não podem fazer um monte de coisa que eles fariam de outra maneira? Correr o risco que um organismo diga que eu tenho que repensar minha lei de anistia, minha lei de violência doméstica? O pertencimento a regimes internacionais me assegura uma legalidade/ a capacidade mínima de previsibilidade da reação dos meus parceiros, é bom para os negócios, é bom em termos geopolíticos – eu preciso me adequar para não ser visto como um parceiro ruim internacionalmente.
A partir da 2ª GM surgiriam esses regimes internacionais, que são compostos por um emaranhado de normas, instituições, que conduzem a conduta daqueles que fazem parte desse regime, e estabiliza a reação e relação dos seus membros, dá uma previsibilidade do que irá acontecer internacionalmente. Ocorre um ganho de eficiência, pois já se tem todo um aparato de solução de controvérsias, modo de negociações de novas normas. 
E isso é novidade do século XX, porque antes não era assim – antigamente tinham que se mostrar os painéis de solução de controvérsias. No final do século XIX, o direito internacional era contratual e isso faz sentido no modo de organização internacional em que unidades territoriais se enxergavam como soberanas de modo absoluto, como atores sólidos e homogêneos agindo internacionalmente. Aquele território, aquele governo que conseguia manter políticas públicas autônomas sobre uma certa população era um governo soberano, um Estado soberano. A comunidade internacional não poderia intervir, tendo que aplicar o princípio da não intervenção – tinha fronteira claro entre os assuntos internos do Estado e assuntos internacionais. Então direito internacional diz respeito somente a esses assuntos internacionais, que não se misturavam com os assuntos internos. Esses assuntos internacionais eram poucos e eram resolvidos por meio de soluções diádicas, participando só os envolvidos naquele conflito – tínhamos a arbitragem como meio de solução de controvérsias, e as de força como retaliação. Os métodos de solução de controvérsias eram horizontais, sendo poucas as regulamentações internacionais.
Com a 2 ª GM e a percepção de que o princípio da soberania, associada a diversos outros desdobramentos como o desenvolvimento das OI foi mudando a dinâmica internacional. As OI que surgem antes disso pareciam cooperativas, Estados se associavam minimamente para facilitar a maximização do seu interesse internacional – exemplo: União Postal Universal – facilitavam a atuação do estado soberano. Mas as OI que surgem depois da 2ª GM querem criar uma ordem internacional mais densa, mais cogente, que criasse obstáculos a guerras mundiais e que facilitassem o comercio internacional. Estas organizações que vão sendo criadas com este propósito, passam a criar outros propósitos. Tem personalidade jurídica distinta da dos Estados, são organizações que em grande medida atendem ao objetivo de desestimular a força como mecanismos de solução de controvérsias e tenta maximizar os mecanismos de cooperação. Criaram órgãos capazes de executar os objetivos. Exemplo: Carta da ONU, da OEA – criam órgãos, estabelecem suas competências e passam a ter a competência para criar órgãos e normas necessárias para cumprir os objetivos que lhe foram colocados pelo constituinte. 
Com isso passo a ter muitas normas, muitas OI e cada uma deles operando de modo muito mais verticalizado e as soluções de controvérsias passam a assumir a forma triádica – as OI tem órgãos de dissolução de controvérsias, que são bem mais verticalizados. 
Isso tudo foi acontecendo ao mesmo tempo em que o indivíduo passa a ser reconhecido como sujeito de direito internacional e não sendo mais apenas um objeto de proteção. Não é um sujeito que consegue fazer tudo que um Estado faz, sua personalidade jurídica é mais limitada, mas ele consegue participar de debates só com voz e não com voto, iniciar contencioso contra Estados. Além dos indivíduos temos as próprias OI, que são um fórum de solução de controvérsias, mas tem personalidade jurídica distintas das dos seus Estados membros. 
No século XIX, tenho direito contratual e no século XX, isso muda -> O direito regulatório internacional é um direito vertical, que estabelece soluções, modos de controvérsias verticais, que funciona de forma bastante cogente, mas existe por conta de um raciocínio contratual, de interesse. 
Os regimes internacionais são essas malhas, essas teias que vão sendo criadas internacionalmente, que não centralizaram o direito internacional, pois tenho vários poderes descentralizados no direito internacional (meio ambiente, DH – tenho diferentes polos, diferentes autoridades para decidir sobre cada um desses temas), mas tem muito mais densidade do que se tinha antes. Essa malha que cria obrigações, que é composta de normas, instituições e procedimentos estabiliza comportamento, gera expectativas que são esperadas dos Estados que fazem parte de cada um desses regimes. 
Depois da Guerra Fria, temos expansão da democracia ao redor do mundo, é o fim do mundo popular, ocorre liberação das fronteiras para comércios e produtos maior do que para pessoas, temos inovações tecnológicasque possibilitam maior contato das pessoas (viagens, internet), facilitando fluxo de ideias pelo planeta e permitiu além das questões econômicas, permitiu que começássemos falar em ordem internacional, transinternacional. Todas essas transformações fizeram as bases do Estado territorial ficassem em xeque. Hoje temos uma nebulosidade, pois não sabemos o que é apenas assunto interno e o que é assunto internacional. 
Esses modos de cooperação mais vertical e cogentes ganharam espaço no século XX. A cogência do DI se origina no reconhecimento de que temos que agir em colaboração internacionalmente, porque se não vai ter aquecimento global, crise na economia. São tantas as áreas que não podem depender da soberania, da decisão unilateral do Estado, que realmente faça sentido hoje falarmos em um novo modo de organização internacional. 
E os DH também foram crescendo, construíram órgãos, tratados, procedimentos na esfera transinternacional. Mas por que assinar tratados DH gera essa imagem positiva dos Estados perante os outros? Há a questão da pressão do nacional – não assinar determinado tratado pode gerar crítica interna. Por que isso é importante? Isso acaba sendo uma discussão filosófica – existe uma construção histórica que faz com que a gente reconheça nos DH, com toda a sua necessária flexibilidade às manifestações culturais, um valor fundamental. 
E que regime de direito é esse? O regime internacional de DH diz respeito a três tipos de proteção ao indivíduo de direito internacional: quando a gente fala em direito internacional dos DH estamos fazendo menção à três vertentes: 1)DIDH em sentido estrito; 2)Direito internacional humanitário (DIDH em sentido amplo): entra em vigor quando as relações diplomáticas já se esgotaram, quando a não utilização do uso da força não foi suficiente para evitar a guerra; 3)Direito internacional dos refugiados (DIDH em sentido amplo).
Direito Humanitário -> não se pode usar a força, mas só se o Conselho de Segurança da ONU autorizar. Isso só deveria acontecer em situações onde existe uma ameaça à paz e a segurança internacionais em caso de um conflito local. Quem determina se há essa ameaça é o próprio CS. O art. 51 da Carta fala da legitimidade defesa: se Estado for atacado, não precisa esperar a autorização do CS, mas tem que comunicá-lo. O uso da força está proibido, o nosso ius ad bellum (direito á guerra) é mínimo, só pode ser usado em legitima defesa. Mas a gente sabe que volta e meia tem conflito armado, e ai começa o ius in bellum (durante o conflito – regulações que devem ser observadas quando está ocorrendo o conflito). Com relação a evitar crises humanitárias muito grandes (Convenções de Genebra) são as regras que protegem o indivíduo em conflitos armados – protegem aqueles que estão fora de combate: os feridos, prisioneiros de guerra e os civis. 
Direito Internacional dos Refugiados -> formas de perseguição que geram essas ondas de migração e às vezes são indivíduos que fogem isoladamente do seu país. O princípio máximo é que o estado é a grande organização que deve te dar direitos, mas se ele passa a ser aquele que te persegue, aí você tem direito a sair e o Estado pra onde você vai tem que te acolher. Isso não é algo que o Estado que vai te receber pode determinar, ele tem a obrigação de te acolher. A Grande questão é: quando a pessoa é refugiada? Quando o Estado recebe, ele não pode devolver o refugiado e nem impedir que ele entre nas suas fronteiras. Refugio é o direito que surge do fundado temor por perseguição política, religiosa – mas não menciona questões de fome, ambientais. Existem crises humanitárias que não são oriundas de crise política e religiosa, e que não gerariam esse direito de refúgio. Quem determina o caráter de refugio? Quem determina que o sujeito é refugiado? Nos Estados que ratificaram a convenção se comprometeram a criar mecanismos – CONARE. 
O DIDH em sentido estrito fala das regras que se aplicam inclusive em situações de paz, em que os Estado são signatários dos tratados de DH, de indivíduos que fazem parte de sistemas democráticos, mas que ainda assim os Estados violam tais direitos. É o direito internacional do cotidiano, que se aplica aos Estados que ratificaram estes tratados e que tem algumas normas internas sobre isso também. É disso que vamos falar ao longo do semestre. Começaremos pela ONU. 
O sistema ONU é o sistema universal de DH, que foi se estruturando de forma concomitante com os sistemas regionais. A Convenção Europeia de DH, o Sistema Interamericano de DH, o sistema africano e o asiático. 
Foram convocadas uma série de convenções para discutir vários tratados de DH. Alguns desses tratados entendemos ser a Bill Of Rights da ONU: CEDAW, CERD, Convenção dos direitos da criança, dos trabalhadores imigrantes, da tortura, contra o desaparecimento força, contra as pessoas portadoras de deficiência, da mulher – cobrem quase todos os indivíduos que merecem proteção.

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