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Litisconcórcio e suas Classificações Arisson Sathler

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LITISCONSÓRCIO
Conceito
De acordo com o artigo 46 do CPC, podemos conceituar litisconsórcio com a reunião de duas ou mais pessoas assumindo, simultaneamente, a posição de autor ou de réu. 
Para termos uma noção um pouco mais esclarecida vale indicar aqui o autor Cândido Rangel Dinamarco que define o processo como sendo um “palco da atividade” exercida pelo Estado (Juiz), autor e réu, no qual “o primeiro, preocupado em realizar a pacificação dos litigantes e manter a integridade do ordenamento jurídico (...) o segundo, na busca da satisfação de um interesse pessoal seu” e, por fim, “o réu, resistindo como pode para que o status quo ante seja mantido”.
A respeito do litisconsórcio vale lembrar que o que o caracteriza não é a pluralidade de processos e sim a pluralidade de partes. O entendimento dos doutrinadores, em geral, é que os sujeitos desenvolvem sua relação processual em torno de um só processo, independente do tipo de litisconsórcio.
 Thereza Alvim, em sua obra ‘O Direito Processual de estar em juízo’ comenta: “prefere-se afirmar que o instituto, em tela, se caracteriza pela pluralidade de partes ou de mais de uma pessoa no papel de parte, no mesmo polo da relação jurídica processual, aceitando a dualidade fundamental do processo”.
Classificação
Espécies de litisconsórcio
Quanto a posição processual dos sujeitos
De acordo com o caput do artigo 46 do CPC, a classificação, pela posição processual dos sujeitos, pode ser ativa ou passiva.
O litisconsórcio será ativo quando houver pluralidade de autores, e passivo quando a pluralidade for de réus. 
O litisconsórcio misto ocorre quando, em uma mesma lide, a pluralidade for de autores e réus ao mesmo tempo.
Fredie Didier cita ainda o chamado por ele de “litisconsórcio misto”, que acontece quando a pluralidade de pessoas ocorrer em ambos os polos da relação processual.
Quanto ao tempo de sua formação
Cronologicamente, o litisconsórcio poderá ser classificado como inicial ou ulterior.
Litisconsórcio inicial ou originário é aquele que se forma juntamente com a formação do processo, este se forma desde o inicio da demanda, quer porque mais de uma pessoa impetrou, quer porque em face de mais de uma pessoa foi oferecida a demanda.
Litisconsórcio ulterior é aquele que surge após a propositura da demanda, ele aparece após o processo ter-se formado.
Segundo o doutor Fredie Didier Jr., essa modalidade de litisconsórcio “tem de ser encarado como exceção, pois não deixa de ser evento que tumultua a marcha processual”.
Ele explica, também, que o litisconsórcio ulterior pode surgir de três formas:
a) em razão de uma intervenção de terceiro quando este ocorrer com o chamamento ao processo e denunciação da lide;
b) pela sucessão processual. Ocorre quando há o ingresso dos herdeiros no lugar da parte falecida (art. 43 do CPC);
 c) Pela conexão de ações que possuam mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. Hipótese estas em que os artigos 103 e 105 do Código de Processo Civil determinam o processamento simultâneo, o que pede um litisconsórcio ulterior.
Quanto ao alcance de seus efeitos
Nesta classificação o litisconsórcio pode ser unitário ou simples.
Litisconsórcio unitário ocorre quando o órgão jurisdicional tiver que decidir de forma igual a todos os litisconsortes que estão agregados no mesmo polo, invariavelmente. 
Litisconsórcio simples ou comum é aquele que não fica condicionado a uma decisão idêntica para os litisconsortes. Essa decisão poderá ser diferente para cada um dos litisconsortes. Importe ressaltar que a simples possibilidade de ocorrerem decisões diferentes já dá o status de simples ao litisconsórcio.
Vale dar atenção ao lembrete que Didier faz sobre a função dessa distinção. Ele afirma: (...)“O enquadramento do litisconsórcio como unitário ou simples apenas definirá qual será o regime jurídico de tratamento dos litisconsortes. Este é o principal papel que esta distinção exerce, sendo, na verdade, a própria razão de ser desta divisão”(...).
Quanto a sua obrigatoriedade
Em se tratando da obrigatoriedade, o litisconsórcio pode ser classificado como facultativo ou necessário.
Didier explica: “A pluralidade de sujeitos em um dos polos do processo pode resultar de uma conveniência dos litigantes ou pode ser uma imposição legal. Quando a formação do litisconsórcio for obrigatória, fala-se que ele é necessário: a formação do litisconsórcio independe da vontade das partes. Caso contrário, o litisconsórcio será facultativo”.
É denominado facultativo o litisconsórcio cuja formação depende da vontade dos sujeitos, que podem promover a ação em conjunto ou separadamente. 
O artigo 46 do CPC prevê as possibilidades onde poderá ocorrer o litisconsórcio facultativo.
Art. 46.
I - a existência de comunhão de direitos ou obrigações em relação à lide; 
II – quando os direitos ou obrigações decorrerem de idêntico fundamento de fato ou de direito;
III – quando forem titulares de ações conexas, em razão do objeto ou da causa de pedir e, por fim, 
IV – quando ocorrer afinidades de questões de fato ou de direito, por um ponto comum.
De acordo com o texto podemos concluir que para haver a faculdade de reunião de partes num processo qualquer comunhão de que decorram direitos e obrigações é suficiente. Sobre esse assunto, Marinoni comenta que “além de cumulação subjetiva há também cumulação objetiva (de causas de pedir e/ou de pedidos)”.
Litisconsórcio necessário, conforme previsto no art. 47, do CPC, acontece quando é exigida a presença de duas ou mais pessoas num dos polos do processo, podendo ser por razão da natureza da relação jurídica ou por imposição da lei.
Há uma questão muito polêmica sobre esse assunto. Alguns autores como Nelson Nery Jr, Rosa Nery e Cândido Rangel Dinamarco acreditam na possibilidade de haver o chamado litisconsórcio necessário ativo. Porém, obrigar os sujeitos a agirem no polo ativo seria uma afronta ao princípio do livre acesso ao judiciário disposto no inciso XXXV, artigo 5º, da Constituição Federal, assim como, também, feriria o princípio do artigo 2º e do artigo 262, do CPC, pois o direito de ir a juízo não pode ficar condicionado a vontade de outrem. Senão, seria possível conceber a hipótese de algum litisconsorte negar-se a demandar, impedindo o exercício do direito de ação do outro.
Art. 5º da Constituição Federal diz:
XXXV – “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”
Art. 2º do Código de Processo Civil, afirma:
“Nenhum juiz prestará tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado requerer, nos casos e formas legais”.
Art. 262 do Código de processo civil reforça:
“O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial”.
Desta forma
Porém, Fredie Didier rebate. Ele afirma que não há de se falar em litisconsórcio necessário ativo. 
”Não há hipótese de litisconsórcio necessário ativo por força de lei. Assim, toda a discussão sobre a obrigatoriedade do litisconsórcio ativo restringe-se aos casos de litisconsórcio unitário’’.
De acordo com o artigo 47 do CPC nos mostra, temos duas possibilidades de surgimento do litisconsórcio necessário. A primeira é se for unitário e a segunda se for expressamente imposto pela lei. Como diz Fredie Didier Jr: “Não há hipótese de litisconsórcio necessário ativo por força de lei. Assim, toda a discussão sobre a obrigatoriedade do litisconsórcio ativo restringe-se aos casos de litisconsórcio unitário”.
O que há, na verdade é a necessidade de que todas as partes da relação jurídica material discutida em juízo estejam na relação processual e não no polo ativo.
 
Referências
ALVIM, Thereza. O Direito Processual de estar em juízo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1996. pp. 123 e 124.
DIDIER. Curso de Direito Processual Civil – Teoria Geral e Processo de Conhecimento. Vol. 1. 10ª Ed. Editor Jus Podium. p. 299.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Litisconsórcio, 6ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2001. pp. 17 e 18.
MARINONI/MITIDIERO. Ob. Cit., p. 131

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