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Faculdade de São Bernardo do Campo Letras – Português e Inglês RESUMO Capítulo: Sociolinguística – Parte I Introdução à Linguística: domínios e fronteiras, v.1/Fernanda Mussalim, Anna Christina Bentes (orgs.) – 2 ed. – São Paulo: Cortez, 2001. Considerações Iniciais O capítulo começa com as Considerações Iniciais, uma subdivisão, que aborda os estudos de diversos autores e suas teorias a respeito da Sociolinguística. Primeiramente, é passada a visão de que linguística e sociedade estão relacionadas e essa ligação é a base da formação do ser humano. São as teorias linguísticas que interpretam a natureza e as características do fenômeno linguístico, além de descrevê-lo e analisá-lo. A primeira abordagem citada no capítulo foi a do linguista alemão Augusto Schleicher que propôs colocar a Linguística no campo de ciências naturais. De acordo com ele, cada língua é o produto da ação de um complexo de elementos naturais no cérebro e no aparelho fonador. Porém, na época, essa visão biológica afastou todo pensamento de ordem social e cultural a respeito do fenômeno linguístico. Outro linguista citado decisivo na Linguística do século XX para relação linguagem-sociedade foi Saussure, que em seu “Curso de Linguística geral”, em 1916, atentou para essa relação e definiu a língua como o objeto central da Linguística. Em sua visão, a língua é o sistema invariante que pode ser abstraído das múltiplas variações observáveis da fala e é um fato social. Saussure aponta então a linguagem como a faculdade natural que permite ao homem constituir uma língua. Essa subdivisão também se refere a outros estudiosos que contribuíram para a relação citada no parágrafo anterior: Antoine Meillet, Mikhail Bakhtin, Marcel Cohen, Émile Benveniste e Roman Jakobson. Começando por Meillet, aluno de Saussure, os autores citam sua reflexão de que a história das línguas é inseparável da história da cultura e da sociedade. E Bakhtin (1929) traz para a atenção para a noção da comunicação social dizendo que a interação verbal é realizada através da enunciação ou das enunciações. Já em uma perspectiva diferente, Jakobson (1960) aponta que todo indivíduo participa de diferentes comunidades linguísticas e todo código linguístico é “multiforme e compreende uma hierarquia de subcódigos diversos, livremente escolhidos pelo sujeito falante”. Para ele, o ponto de partida é o processo comunicativo amplo, o que o faz enxergar a Linguística além das características estruturais. E quando Jakobson dá destaque a ao processo comunicativo, destaca também os aspectos funcionais da linguagem. O francês, Marcel Cohen, estabelece a necessidade de um diálogo entre as ciências humanas e aborda a relação entre a linguagem e a sociedade a partir da consideração de fatores externos. E ao final das considerações é tratada a contribuição do linguista francês Benveniste, principalmente no campo da Análise do Discurso.Para Benveniste (1963) é pelo exercício da linguagem, pelo uso da língua, que o homem estabelece sua relação com a natureza e com os outros homens. Sendo assim, linguagem e sociedade não podem ser concebidas uma sem a outra. Em outra reflexão, ele aborda que sociedade e língua são grandezas diferentes, mas se assemelham, pois são realidades inconscientes, representam a natureza, são herdadas e não podem ser abolidas pela vontade dos homens. Ainda segundo suas ideias, há a consideração da língua como instrumento de análise da sociedade, porque ao estudar o vocabulário de uma determinada sociedade é possível obter informações sobre as formas e as fases da organização social. E por fim sua última concepção abordada é a de que a língua permite que o homem se situe na natureza e na sociedade. A Sociolinguística: fixação de um campo de estudos Nessa subdivisão os autores trazem aonde, quando, etc., a Sociolinguística passou a ser vista como uma ciência. O termo Sociolinguística fixou-se em 1964 em um congresso, organizado por William Bright, na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e com a participação de diversos estudiosos como John Gumperz, Einar Haugen, William Labov, Dell Hymes, John Fisher, José Pedro Rona. O organizador do congresso propôs a definição e a caracterização dessa nova área de estudo em sua obra “As dimensões da Sociolinguística” que diz que o objetivo da Sociolinguística é “relacionar as variações linguísticas observáveis em uma comunidade às diferenciações existentes na estrutura social desta mesma sociedade” e seu objeto de estudo é a diversidade linguística. Na mesma obra, ele identifica um conjunto de fatores com os quais se supõe que a diversidade linguística esteja relacionada como identidade social do emissor ou falante, identidade social do receptor ou ouvinte, o contexto social e o julgamento social distinto que os falantes fazem sobre as atitudes linguísticas de alguém. A partir da atividade de vários estudiosos e pesquisadores que deram continuidade à tradição chamada Antropologia Linguística, como F. Boas(1911), Edward Sapin(1921) e Benjamin L. Wholf(1941) é que se fez a constituição da Sociolinguística como área explicitamente voltada para o tratamento do fenômeno linguístico no contexto social. E essa área nasce voltada a origem interdisciplinar. Finalmente os autores encerram analisando que o termo Sociolinguística reuniu e agregou pesquisadores de diferentes campos do saber que também se preocupavam com o fenômeno linguístico, tendo como ponto de reflexão básica a realidade diversificada. A Sociolinguística: objetos, conceitos, pressupostos Na abordagem do objeto da Sociolinguística os autores apontam o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social. E seu ponto de partida como sendo a comunidade linguística, ou seja, uma comunidade de fala que se caracteriza por pessoas que se relacionam e que orientam seu comportamento verbal por um mesmo conjunto de regras. No estudo da comunidade linguística se constata a existência de diversidade, isto é, cada comunidade vai empregar diferentes modos de falar. Essas maneiras distintas são chamadas variedades linguísticas. O conjunto destas variedades é chamado repertório verbal. E qualquer língua é representada por um conjunto de variedades. Para finalizar os autores afirmam que língua e variação são inseparáveis e a sociolinguística encara isso como uma qualidade constitutiva do fenômeno linguístico. 3.1 A Variação Linguística: Um Recorde A língua é uma herança passada de geração em geração. Ao decorrer da história o português passou por duas mudanças: A) No português arcaico (XII e XVI) se usava “homem” no lugar de “se”. B) A expressão “Vossa Senhora” fora usada para se referir somente ao rei. Passando o tempo, tal expressão começou a ser usada para se referir a outros líderes também. Ocorre variação lingüística devido a dois fatores: A) Variação geográfica ou diatópica: Ligada as diferentes linguísticas distribuídas no espaço, a variação diatópica se dá por questões geográficas que influenciam em aspectos de fala, no plano lexical, no plano fonético, e no plano gramatical. B) A Variação Social ou Diastrática: Ligada a identificação do falante e ao contexto em que o indivíduo vive, ou seja, classe social, idade, sexo. Segue exemplos de como ocorres tais variações. Classe Social: -Uso de dupla negação; -Presença de “R” em lugar do “L”. Idade: -Uso do léxico particular (Gírias) mais comum entre os jovens; -Uso do pronome “tu” em situações de interação no Rio de Janeiro. -Pronuncia fechada de algumas vogais tônicas entre os idosos. Sexo: -Duração de vogais como recurso expressivo e uso de diminutivos entre as mulheres. Contexto Social: - Todo falante varia sua fala de acordo com a situação em que se encontra. Para Fishman (1972) “Uma situação é definida pela ocorrência de dois (ou mais) interlocutores mutuamente relacionados de uma maneira determinada, comunicando sobre um determinado tópico num contexto determinado”. A situação diz qual o comportamento linguístico adequado àsdeterminadas situações. Tais comportamentos serem aceitos ou não dentro de um contexto depende de grupo social tendo em vista a questão da formalidade e informalidade. Um fenômeno chamado por Fishman “Mudança Metafórica”, ocorre quando há mudança de linguagem sem mudança de situação. Isso ocorre, por exemplo, quando se quer dar uma ideia irônica a situação. Para Fishman o ser falante aprende quando pode falar e quando deve se manter em silêncio, se deve falar imperativamente, ou moderadamente, Tais situações de fala são aprendizados tirados a partir da convivência e o passar dos anos. As variações ligadas ao contexto são chamadas de “variações estilísticas ou registros”. Neste caso o falante estiliza sua fala de acordo com a circunstância. De forma genérica os estilos em que basicamente ocorre tal variação são chamados de formal, informal, coloquial, familiar e pessoal. 3.2 As Variedades Linguísticas e a Estrutura Social Em qualquer comunidade de fala, podemos observar a coexistência de variedades linguísticas. Em todas as comunidades existem variedades que são consideradas superiores e outras inferiores. Para Gnerre “Uma variedade linguística ‘vale’ o que ‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais”. A variedade prestigiada é diretamente ligada à variedade padrão, no qual é socialmente mais valorizada. Usado pela sociedade como interação em determinado momento definido pela sociedade como ideal em situações formais. A variedade padrão (culta), se dá pela seleção de um dos modos de falar entre vários existentes na comunidade, e o estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo “correto” de falar. Tradicionalmente a forma “correta” de falar pertence a classe dominante. Para Fishman (1970) há estabelecimento da variedade padrão quando há diversidade social, assim sendo, variações linguísticas. Para a linguística não existe linguagem “simples”, “inferior”, ou “primitiva”, já que toda a língua é adequada à comunidade que a utiliza, sendo assim não existe também vocabulários “pobres”, muito menos sistemas gramaticais imperfeitos. Para a Sociolinguística a variedade da língua é um pressuposto fundamental que orienta e sustenta a interpretação do comportamento linguístico, a não aceitação desse fato é um preconceito social.
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