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Indaial – 2022
da Libras
Prof.ª Danielle Vanessa Costa Sousa
Prof.ª Mariana Correia
1a Edição
socioLinguística
Elaboração:
Prof.ª Danielle Vanessa Costa Sousa
Prof.ª Mariana Correia
Copyright © UNIASSELVI 2022
Revisão, Diagramação e Produção:
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.
Núcleo de Educação a Distância. SOUSA, DANIELLE VANESSA COSTA.
Sociolinguística da Libras. Danielle Vanessa Costa Sousa; Mariana Correia. 
Indaial - SC: UNIASSELVI, 2022.
216p.
ISBN XXX-XX-XXX-XXXX-X
“Graduação - EaD”.
1. Sociolinguística 2. Libras
CDD XXXXX
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Prezado acadêmico, seja bem-vindo ao Livro Didático de Sociolinguística! É com 
muita satisfação que o apresentamos para você. Nesta edição, procuramos apresentar 
as discussões basilares da área e relacionar os estudos da Sociolinguística às discussões 
das línguas de sinais num geral e à Libras em específico. Para que possamos organizar o 
debate que envolverá essas questões, o livro está dividido em três unidades, que serão, 
brevemente, apresentadas a seguir.
Na Unidade 1, serão estudadas as bases das discussões sobre língua e sociedade 
que envolvem o debate da Sociolinguística, para isso, iniciaremos com a compreensão 
das relações entre língua e sociedade, a apresentação da história de delimitação do 
campo de estudos e as correntes de pensamento que fazem parte dos debates da 
Sociolinguística. Ainda nesta unidade, serão estudados os conceitos de variação 
e mudanças linguísticas, bem como os tipos de variação, as noções de comunidade 
linguística e preconceito linguístico. Por fim, serão apresentadas possibilidades 
de contato linguístico de modo a serem estudados os conceitos de empréstimos, 
interferências, misturas e alternâncias; além disso, as concepções de pidgins e crioles 
também entrarão em pauta a partir da compreensão das consequências linguísticas do 
contato entre línguas. Para encerrar unidade, veremos, brevemente, alguns aspectos da 
emergência das línguas de sinais a partir dos contatos linguísticos.
Em seguida, na Unidade 2, serão apresentadas as diferentes concepções 
de linguagem presentes na sociedade e, a partir desta discussão, será estabelecida 
uma reflexão sobre a relação entre língua, cultura e sociedade. Além disso, serão 
apresentadas as particularidades das abordagens de ensino de uma língua adicional e, 
após, mostraremos e diferenciaremos as visões ideológicas sobre os surdos e a surdez, 
a partir das filosofias de educação de surdos.
Por fim, na Unidade 3, os debates serão desenvolvidos em torno da abordagem 
que discute os direitos linguísticos dos surdos, a partir de documentos oficiais que 
orientam sobre a educação de surdos e a Libras. Além disso, apresentaremos os conceitos 
de política e planejamento linguístico, focando em seguida, na política de educação 
bilíngue para surdos no Brasil. Após, discutiremos os elementos linguísticos envolvidos 
na noção de pertencimento social mediado pela língua na formação da identidade surda, 
em seguida, abordaremos alguns dos elementos importantes para compreensão da 
aquisição da Libras e da Língua Portuguesa. Por fim, serão discutidos características e 
conceitos referentes ao caso dos sinais internacionais e o desenvolvimento do Gestuno.
APRESENTAÇÃO
Desse modo, as três unidades que compõem este livro didático pretendem 
apresentar as bases teóricas dos estudos em Sociolinguística e demonstrar as 
discussões sobre língua, linguagem, surdez e políticas públicas na perspectiva deste 
campo de estudos. Assim, a ideia central deste livro é proporcionar, à teoria e implicações 
práticas, debates sobre os estudos sobre surdez da compreensão Sociolinguística dos 
fenômenos linguísticos.
Ao longo deste livro, serão apresentados diferentes materiais, os quais servirão 
de apoio à aprendizagem, de modo a ampliar, sintetizar, relacionar ou exemplificar 
diferentes aspectos das discussões estabelecidas sobre o campo de estudos da 
Sociolinguística e suas implicações no debate sobre surdez, Libras, políticas linguísticas 
e aprendizagem, dentre outros assuntos correlatos.
Desejamos uma boa leitura e bons estudos!
Prof.ª Danielle Vanessa Costa Sousa
Prof.ª Mariana Correia
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a 
você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo 
interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse 
as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade 
para aprimorar os seus estudos.
GIO
QR CODE
Você lembra dos UNIs?
Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas 
vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico 
como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará 
você a entender melhor o que são essas informações 
adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura 
dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará 
informações adicionais e outras fontes de conhecimento que 
complementam o assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os 
acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir 
de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual 
– com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a 
leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que 
você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados 
através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo 
continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada 
com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo 
o espaço da página – o que também contribui para diminuir 
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por 
exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto 
de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este 
livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a 
possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, 
tablet ou computador. 
Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo 
layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual 
adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de 
relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os 
materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, 
possa continuar os seus estudos com um material atualizado 
e de qualidade.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - O QUE A SOCIOLINGUÍSTICA ESTUDA? .......................................................... 1
TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DA SOCIOLINGUÍSTICA .....................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 CONCEPÇÃO SOCIALDA LÍNGUA ......................................................................................3
3 A CIÊNCIA DA LINGUAGEM E A DELIMTAÇÃO DA SOCIOLINGUÍSTICA ...........................6
3.1 HISTÓRIA DA DELIMITAÇÃO DO CAMPO DE ESTUDOS DA SOCIOLINGUÍSTICA .................... 9
3.2 ESTUDIOSOS EM LINGUAGEM E SOCIEDADE .............................................................................. 11
4 CORRENTES DE ESTUDO RELACIONADAS À SOCIOLINGUÍSTICA................................ 15
4.1 DIALETOLOGIA ..................................................................................................................................... 15
4.2 SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA ...............................................................................................17
4.3 SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL ................................................................................................21
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 28
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 30
TÓPICO 2 - VARIAÇÃO E MUDANÇAS LINGUÍSTICAS ...................................................... 33
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 33
2 AS CONCEPÇÃO DE NORMA E USO NA LÍNGUA ............................................................. 33
3 O QUE É VARIAÇÃO LINGUÍSTICA? ................................................................................. 39
4 COMUNIDADE LINGUÍSTICA E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA .............................................. 45
5 DIFERENÇAS ENTRE VARIAÇÃO E MUDANÇAS LINGUÍSTICAS ................................... 48
RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................57
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................59
TÓPICO 3 - CONTATO LINGUÍSTICO ................................................................................... 61
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 61
2 INTERFERÊNCIAS E EMPRÉSTIMOS LINGUÌSTICOS ..................................................... 64
3 ALTERNÂNCIAS (CODE-SWITCHING), MISTURAS (CODE-MIXING) 
 E SOBREPOSIÇÕES (CODE-BLENDING) LINGUÍSTICAS ................................................67
4 PIDGINS, LÍNGUAS CRIOULAS E A EMERGÊNCIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS ................70
6 PESQUISA SOBRE SURDEZ NA PERSPECTIVA DA SOCIOLINGUÍSTICA .......................74
LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................79
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 82
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 84
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 86
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E SOCIOLINGUÍSTICA ............................................................. 91
TÓPICO 1 — AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM ................................................................. 93
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 93
2 CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E SOCIOLINGUÍSTICA .................................................. 94
2.1 PURISMO LINGUÍSTICO ......................................................................................................................99
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................107
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................108
TÓPICO 2 - UM OLHAR SOCIOLINGUÍSTICO SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
 DE SURDOS ......................................................................................................111
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................111
2 AS CONCEPÇÕES SOBRE AS PESSOAS SURDAS ..........................................................111
3 AS FILOSOFIAS DE EDUCAÇÃO DE SURDOS ................................................................ 113
3.1 O ORALISMO ........................................................................................................................................114
3.2 A COMUNICAÇÃO TOTAL .................................................................................................................115
3.3 BILINGUISMO ......................................................................................................................................116
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 119
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 121
TÓPICO 3 - LÍNGUAS EM CONTATO ..................................................................................123
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................123
2 A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS .................................................................................123
3 CONTATO LINGUÍSTICO .................................................................................................. 127
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................134
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................139
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 141
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................143
UNIDADE 3 — POLÍTICAS LINGUÍSTICAS, AQUISIÇÃO, LÍNGUA E LÉXICO .................... 147
TÓPICO 1 — DIREITOS LINGUÍSTICOS: POLÍTICAS PÚBLICAS 
 E SOCIOLINGUÍSTICA.....................................................................................149
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................149
2 POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO ............................................150
3 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS .................................152
4 SOCIOLINGUÍSTICA, PLURILINGUÍSMO E LÍNGUA DE SINAIS ....................................156
5 PRESENÇA E INTERFERÊNCIAS LP E LIBRAS ..............................................................158
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 161
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................163
TÓPICO 2 - PERTENCIMENTO SOCIAL MEDIADO PELA LÍNGUA NA FORMAÇÃO 
 DA IDENTIDADE SURDA ................................................................................. 167
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 167
2 MACRO E MICROSSOCIOLINGUÍSTICA: BILINGUISMO E DIGLOSSIA ..........................168
3 SOCIOLINGUÍSTICA APLICADA AOS CONTEXTOS E SUJEITOS PARA 
 A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE SURDA .......................................................................... 172
4 CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICAPARA O ENSINO DE SURDOS .................... 174
5 ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E SURDEZ ................................................................ 175
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................180
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................182
TÓPICO 3 - SINAIS INTERNACIONAIS ..............................................................................185
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................185
2 O PORQUÊ DE NÃO EXISTIR UMA LÍNGUA ÚNICA: LÍNGUA, LÉXICO E SOCIEDADE........ 186
3 LÍNGUAS NATURAIS E LÍNGUAS ARTIFICIAIS: O CASO DO ESPERANTO ...................187
4 GESTUNO E SINAIS INTERNACIONAIS: ORIGEM E POLÍTICA DE USO ........................189
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................195
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................201
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 203
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 205
1
UNIDADE 1 - 
O QUE A 
SOCIOLINGUÍSTICA ESTUDA?
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• perceber o lugar da sociolinguística dentro do campo dos estudos linguísticos;
• conhecer o conceito da sociolinguística na perspectiva histórica dos estudos linguísticos;
• localizar os estudos da sociolinguística dentro das vertentes teóricas da linguística;
• discutir as vertentes teóricas de estudo no campo da sociolinguística;
• compreender as noções de norma e uso dentro da perspectiva dos estudos da 
sociolinguística;
• delimitar a variação linguística na perspectiva da sociolinguística;
• ter um panorama de diferentes tipos de variação linguística;
• perceber os diferentes contextos de ocorrência e de delimitação dos contatos 
linguísticos;
• associar os conceitos presentes nos estudos dos contatos linguísticos aos estudos 
das línguas de sinais;
• observar as estratégias utilizadas em contextos de contato linguístico;
• relacionar as pesquisas feitas dentro dos estudos surdos ao campo de pesquisa da 
sociolinguística.
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de 
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DA SOCIOLINGUÍSTICA
TÓPICO 2 – VARIAÇÃO E MUDANÇAS LINGUÍSTICAS
TÓPICO 3 – CONTATO LINGUÍSTICO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS 
DA SOCIOLINGUÍSTICA
1 INTRODUÇÃO
Bem-vindo ao Tópico 1, do Livro Didático de Sociolinguística da Libras! Neste 
momento do nosso debate, serão estudas as bases teóricas desse campo de estudos 
para que possamos, ao longo das discussões apresentadas, compreender qual é a 
concepção social da língua estudada e como se deu a história da delimitação do objeto 
de estudos da Sociolinguística. Em seguida, serão debatidas, brevemente, as correntes 
de estudos teóricos, que são compreendidos dentro das discussões entre língua e 
sociedade, e apresentados alguns dos principais pesquisadores que estruturaram 
os debates sobre a língua em sua dimensão social. Depois disso, debateremos, 
sinteticamente, a respeito de alguns dos aspectos de estudo das línguas de sinais sob 
a perspectiva da Sociolinguística, relacionando as discussões entre língua e sociedade 
a aspectos específicos dos estudos sobre as línguas de sinais. Desse modo, a ideia 
é que seja possível perceber que as discussões linguísticas são importantes para o 
conhecimento dos fenômenos das línguas, independentemente da modalidade, seja 
oral-auditiva ou visuoespacial. 
O objetivo deste tópico é apresentar a perspectiva da Sociolinguística em relação 
ao estudo dos fenômenos linguísticos, a partir da compreensão do seu lugar no campo 
dos estudos linguísticos e da perspectiva histórica da compreensão da relação entre 
língua e sociedade. Por fim, conhecer as principais vertentes, ou correntes teóricas, e 
relacionar esses estudos entre língua e sociedade no âmbito dos estudos sobre línguas 
de sinais. No fim do tópico, você terá conhecido as bases da perspectiva que estuda a 
relação entre língua e sociedade.
Bons estudos!
2 CONCEPÇÃO SOCIAL DA LÍNGUA
Acadêmico, ao pensarmos na língua e no uso social dela, podemos perceber 
que o uso dela é algo que nos parece natural, pois faz parte do nosso cotidiano, com 
diferentes modalidades e usos. Seja qual for a língua, modalidade ou estrutura, nossas 
relações de sentido são perpassadas pelas estruturas linguísticas que aprendemos 
ao longo da vida, pelo contato com outras pessoas que se utilizam do mesmo código 
linguístico. Esse código é um “conjunto de todos os elementos linguísticos vigentes 
numa comunidade e postos à disposição dos indivíduos para lhes servir de meios 
de comunicação” (DICIO, s.d., s.p.). Assim, de modo amplo, esse código abarca os 
elementos específicos da comunicação, como os fonemas, os grafemas e os sinais, e 
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
4
as referências linguísticas compartilhadas, as quais fazem parte da nossa relação com 
a língua e com a linguagem. Dito de outro modo, são nossas vivências em sociedade 
que nos permitem adquirir o sistema linguístico. Os usos específicos e as formas de 
comunicação fazem sentido na sociedade na qual estamos inseridos ao longo da nossa 
vida. Assim, é pela, e através da língua, que as nossas relações de sentido internas e 
externas são estabelecidas.
Ao iniciar as discussões sobre a Sociolinguística, Alkmim (2011, p. 21) coloca que
linguagem e sociedade estão ligadas ente si, de modo inquestionável. 
Mais do que isso, podemos afirmar que essa relação é a base da 
constituição do ser humano. A história da humanidade é a história 
de seres organizados em sociedade e detentores de um sistema de 
comunicação oral [ou sinalizado], ou seja, de uma língua.
Desse modo, a autora salienta que a ligação entre linguagem e sociedade é, não 
apenas, evidente, mas está, também, na base da formação do ser humano como tal, 
logo, ao se viver em sociedade, pela e através da língua e da linguagem que se dão as 
relações entre os seres humanos, ou seja, na sociedade. Além disso, podemos destacar 
que, a partir da estrutura do sistema de comunicação, ou seja, da língua, os seres 
humanos organizam o próprio pensamento. Logo, o sistema da língua é a forma através 
da qual as pessoas ordenam as relações externas (entre seres humanos) e internas 
(em si mesmas). Em outras palavras, a língua é estrutura e estruturante da linguagem 
humana, pois, por ela, e através dela, as relações de sentido se arranjam.
Ao mesmo tempo, através do contato com os demais indivíduos que fazem 
parte da sociedade, o uso da língua se modifica, ajusta, estrutura, organiza e reorganiza 
na interação com os diferentes grupos de interação, nas situações comunicativas, e 
frente a necessidades de estabelecimento de relações sociais organizadas a partir das 
situações comunicativas específicas. A figura a seguir demonstrará, graficamente, de 
modo muito interessante, as inter-relações estruturadas a partir do uso da língua em 
sociedade. Primeiramente, observe, atentamente, a figura, com a discussão feita, até 
agora, em mente:
FIGURA 1 – IMAGEM ILUTRATIVA SOBRE A SOCIOLINGUÍSTICA 
FONTE: Trabalhos escolares (2021, s.p.)
5
Vamos aos destaques em relação à figura?! Então, podemos ver que são 
apresentadas cinco silhuetas coloridas, e, a partir delas, é interessante notar que o 
uso da corcria uma ideia de diversidade, explicita que são pessoas diferentes, mesmo 
que o desenho não tenha elementos que diferenciem, além de uma noção de gênero 
pautada no tamanho do cabelo. Veja, também, que, na extrema esquerda, aparecem as 
únicas duas pessoas que estão conversando entre si, já as demais não parecem estar 
em contato com mais nenhuma em específico, contudo, a partir dos balões de conversa 
que estão inseridos na parte de cima da figura, são evidenciadas as relações e inter-
relações estabelecidas a partir do diálogo da esquerda.
Isso posto, repare que os balõezinhos de diálogo têm diferentes formatos, 
sobrepõem-se, cruzam-se e se misturam entre si, de modo a demonstrar, graficamente, 
a interação que a língua permite entre os diferentes pensamentos, os entrecruzamentos 
que ela promove através dos diálogos internos ou externos, e como esses enunciados 
se mesclam entre as enunciações das diferentes pessoas que fazem parte de uma 
comunidade linguística. Também, são utilizados diferentes formatos, inclusive, aqueles 
semelhantes a nuvens, os quais indicam os pensamentos dos personagens, ou seja, 
demonstram a modificação que a língua sofre ao ser misturada durante as interações 
que ocorrem em sociedade.
A figura utilizada consegue demonstrar como a língua permeia as interações 
sociais em diferentes níveis de modos. Assim, compreendemos que o campo de estudos 
dos fenômenos linguísticos, ao qual a Sociolinguística se dedica, é aquele em que são 
estudadas as relações entre língua e sociedade.
Essa relação entre língua e sociedade é bem complexa, pois abarca discussões 
que envolvem as variações internas de uma língua e a relação entre as diferentes línguas 
e o modo através do qual essas ligações alteram as línguas que estão em contato. Sobre 
os estudos da Sociolinguística, Borin (s.d., p. 8) coloca que
[...] a sociolinguística é uma área que estuda a língua em uso real, 
levando em consideração as relações entre a estrutura linguística 
e os aspectos sociais e culturais da produção linguística. Para essa 
corrente [dos estudos linguísticos], a língua é uma instituição social, 
e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, 
independente do contexto situacional, da cultura e da história das 
pessoas que a utilizam como meio de comunicação.
Assim, a língua, não apenas, está relacionada à sociedade, mas a uma entidade 
que se manifesta em sociedade, logo, não pode ser estudada sem que os fatores sociais 
sejam levados em conta. Por consequência, o contexto de enunciação, a cultura e a 
história do povo que utiliza a língua, incluindo a história pessoal dos indivíduos que 
se utilizam dela, devem ser levados em consideração para o estudo dos fenômenos 
linguísticos. Desse modo, “[...] é, precisamente, a DIVERSIDADE linguística, o objeto de 
estudos da Sociolinguística” (BRIGHT, 1964, p. 18, grifo do autor), ou seja, nesse amplo 
espectro de possibilidades, está o propósito dos estudos que observam a relação entre 
o uso da língua e os aspectos sociais.
6
Acadêmico, nesta seção, foi apresentado o modo através do qual a língua e a 
sociedade estão relacionadas para os estudos da Sociolinguística. No próximo subtópico, 
serão apresentados alguns dos aspectos históricos que levaram à delimitação desse 
campo de estudos dentro da linguística. Após, veremos como são organizadas as 
correntes teóricas que estruturam as perspectivas das pesquisas em Sociolinguística.
NOTA
O termo “comunidade linguística” será trabalhando mais adiante, nas 
discussões desta unidade, mas, por enquanto, vamos entendê-lo como 
apresentado no dicionário de Linguística, de Dubois et al. (1973, p. 133, 
grifo dos autores): “Chama-se comunidade linguística um grupo de seres 
humanos que usam a mesma língua ou o mesmo dialeto, num dado 
momento, e que podem se comunicar entre si”. Ou seja, uma comunidade 
linguística é aquela que compartilha as mesmas experiências linguísticas.
3 A CIÊNCIA DA LINGUAGEM E A DELIMTAÇÃO 
DA SOCIOLINGUÍSTICA
Ao percebermos que língua e sociedade são, de fato, indissociáveis, podemos 
estranhar o porquê da necessidade de existir um campo específico para o estudo dos 
fatos linguísticos, pois, se são, assim, ligados, por que a Linguística não se estruturou, 
inicialmente, já com essa compreensão em seu horizonte? Ainda, nas palavras de 
Alkmim (2011, p. 21), “[...] por que existe uma área, dentro da Linguística, para tratar, 
especificamente, das relações entre língua e sociedade – a Sociolinguística? A linguagem 
não seria, essencialmente, um fenômeno de natureza social?”
Para respondermos a essas indagações, Alkmim (2011) destaca que é preciso 
compreender o contexto histórico no qual a Linguística foi proposta como a ciência da 
linguagem, ou seja, as próprias circunstâncias sociais do estabelecimento da ciência da 
linguagem permitem compreender os motivos que levaram os estudiosos a descreverem 
e a analisarem o fenômeno linguístico, separadamente, dos fenômenos sociais. Dito de 
outro modo, o momento da proposição da Linguística, como a ciência que se propõe a 
estudar a língua por ela mesma, é, exatamente, fruto da sua época, tendo em vista que 
os estudiosos da linguagem estavam inseridos em uma conjuntura que valorizava o 
saber cientificista, ou seja, aquele que (per)segue uma lógica vinculada àquilo que pode 
ser testado e comprovado com o mínimo de influência do contexto, ou seja, o que pode 
ser estudado dentro de parâmetros, claramente, delimitados.
7
Sobre isso, Alkmim (2011, p. 23) coloca que
a relação entre linguagem e sociedade, reconhecida, mas nem 
sempre assumida como determinante, encontra-se, diretamente, 
ligada à questão da determinação do objeto de estudo da Linguística. 
Isto é, embora se admita que a relação linguagem sociedade seja 
evidente por si só, é possível privilegiar uma determinada óptica, e 
essa decisão repercute na visão que se tem do fenômeno linguístico, 
da natureza e da caracterização dele.
Isso quer dizer que a definição do objeto de estudo de uma ciência, como 
da Linguística, foi delimitada a partir de uma visão específica que enfatiza um modo 
específico de delimitar aquilo que é percebido como parte dos estudos linguísticos. 
Assim, a partir da observação dos eventos linguísticos e do modo através do qual eles 
são observados, será feita a compreensão daquilo que foi observado. Para exemplificar 
isso, observe o seguinte esquema:
QUADRO 1 – EXEMPLO DE VISÕES DIFERENTES SOBRE O MESMO FENÔMENO LINGUÍSTICO
Fenômeno: a existência de muitas línguas no mundo
Estruturalismo Gerativismo Variacionismo
A língua é um sistema 
subjacente à fala, e, 
socialmente, adquirido 
através do convívio 
entre os falantes de 
determinada língua. Ou 
seja, a estrutura de cada 
língua será adquirida 
através do contato, mas 
esse contato não é o foco 
dos estudos da linguagem, 
pois estes deverão 
se pautar no estudo 
dos caráteres formal e 
estrutural da língua.
A língua é um sistema 
mental que nasce com 
os seres humanos, tendo 
parâmetros universais 
que são ativados, ou não, 
de acordo com a língua 
específica. Ou seja, as 
línguas são diferentes 
porque cada uma delas 
aciona, ou não, um 
parâmetro da Gramática 
Universal interna da mente 
dos seres humanos.
A língua é uma 
propriedade da 
comunidade de fala, 
existindo diversas 
variedades que sofrem 
diversas pressões internas 
e externas, causando 
variações que, com o 
tempo, podem vir a se 
tornar outras línguas, de 
acordo com o status que 
atingem, a comunidade 
linguística de falantes e a 
complexidade estrutural.
FONTE: Os autores
O esquema anterior apresenta um exemplo simples de como três teorias 
diferentes percebem, de modos, também, diversos, um mesmo fenômeno linguístico. 
Desse modo, a escolha de qual será a centralidade da teoria delimitará como ela se 
desenvolverá e quais serão os rumos das pesquisas realizadas dentro dessa perspectiva 
teórica. Dito de outro modo, o mesmo fenômeno linguístico terá compreensões 
diferentes a partirda lente teórica que for utilizada pelo pesquisador, pois cada pesquisa 
se inscreve em um contexto teórico que prioriza certas compreensões em detrimento 
de outras, e essas compreensões diferenciadas abrem diversos percursos de pesquisa.
8
Ademais, como já discutimos, as teorias se estabelecem a partir do momento 
histórico e das correntes de pensamento da época. Assim, quando Saussure (1981) 
propõe que a língua, em oposição à fala, seja o objeto da Linguística, ele dá origem à 
visão estruturalista da língua, opondo-se aos estudos históricos e filológicos anteriores 
a ele, e à visão que percebia a língua como resultado de substâncias naturais do cérebro 
e do aparelho fonador, ou seja, aproximava a compreensão linguística do entendimento 
biológico. Logo, quando Saussure (1981) afirma que o objeto de estudos da Linguística é 
a língua em sua forma e estrutura, ele transforma o pensamento linguístico da época e 
inaugura toda uma vertente de estudos sobre a linguagem (ALKMIM, 2011).
Para explicar a que linguística a sua teoria se vincula, Saussure (1981) divide a 
Linguística em Linguística Interna e Linguística Externa, divisão que, ainda, mantém-
se no campo dos estudos linguísticos, mesmo na contemporaneidade: a Linguística 
Interna se ocupa das estruturações formais, e a Linguística Externa estuda as relações 
contextuais. Por isso, as áreas a que a Linguística está relacionada, a outros campos 
de estudo, encontram-se inseridas na Linguística Externa, como a Sociolinguística, a 
Etnolinguística, a Psicolinguística, dentre outras (ALKMIM, 2011).
Antes de seguirmos adiante, com a história da delimitação do campo de 
estudos da Sociolinguística, é interessante chamar a atenção para o fato de que a 
maioria das discussões sobre Linguística parte dos estudos de Saussure (1981). Isso 
acontece porque ele foi o pesquisador que estabeleceu a Linguística como uma área do 
conhecimento independente das demais, pois, até aquele momento, os estudos sobre 
a linguagem ficavam, sempre, subordinados a outras áreas, como história e biologia, 
ou, então, tinham um cunho descritivo de regras, registro de sentidos ou de estudo de 
textos muito antigos. Assim, Saussure (1981) foi o teórico que estruturou a Linguística 
como a conhecemos, e, por isso, tem, sempre, lugar nas discussões sobre a língua(gem).
Neste subtópico, debatemos a respeito de a Sociolinguística ser um campo 
específico dentro da área de estudos da Linguística, devido a fatores históricos e 
culturais que influenciaram a delimitação do campo de estudos. Além disso, também, 
discutimos que cada perspectiva teórica apresenta a própria compreensão do fenômeno 
linguístico, e, por isso, terá uma visão particular desse objeto, delimitada, teoricamente, 
através da perspectiva. Nos próximos subtópicos, estudaremos a delimitação específica 
da Sociolinguística como campo de estudos; brevemente, alguns dos nomes mais 
conhecidos entre os estudiosos que se dedicam a estudar a relação entre língua e 
sociedade; e, em linhas gerais, como cada um deles percebeu o fenômeno linguístico 
pela ótica da língua e sociedade.
9
3.1 HISTÓRIA DA DELIMITAÇÃO DO CAMPO DE ESTUDOS DA 
SOCIOLINGUÍSTICA
Segundo Alkmim (2011), o termo Sociolinguística foi estabelecido em 1964, e isto 
se deu a partir do Congresso feito na UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles), 
organizado por William Brigth. A esse evento, compareceram muitos pesquisadores 
que acreditavam na estruturação desse campo de estudos interdisciplinar. Ao fazer a 
publicação dos anais desse Congresso, o organizador escreve um texto introdutório 
chamado de “As dimensões da Sociolinguística”, a partir do qual ele delimita o campo de 
estudos e caracteriza a nova área de pesquisas. O autor afirma que a Sociolinguística 
pretende “[...] demonstrar a covariação sistemática das variações linguística e social. E, 
talvez, até mesmo, demonstrar uma relação causal numa e noutra direção” (BRIGTH, 
1964, p. 17). Assim, as pesquisas, nessa área, partem do pressuposto de que as 
línguas variam e que essa variação pode ser relacionada às características específicas 
percebidas na estrutura social, pela qual os falantes dessas línguas circulam. Logo, 
essa compreensão observa como as estruturas linguísticas são modificadas a partir dos 
diferentes contextos sociais nos quais as línguas estão inseridas.
NOTA
O conceito de interdisciplinaridade pressupõe a relação entre áreas do conhecimento, 
sendo que uma delas estabelece o rumo da pesquisa com o suporte dado pelas demais 
áreas envolvidas, ou seja, a coordenação das ações se dá a partir de uma das áreas 
envolvidas. No caso da Sociolinguística, a ideia é, exatamente, a de que a discussão da 
relação entre língua e sociedade se fixe dentro do campo das discussões linguísticas. 
Assim, a Sociolinguística é um campo interdisciplinar no qual as discussões se darão 
a partir do estudo da língua e da sociedade, mas com a coordenação dos estudos da 
linguagem. A figura a seguir demonstrará, graficamente, o que foi explicado:
ESQUEMA ILUSTRATIVO INTERDISCIPLINARIDADE
FONTE: Castro (2010, p. 4)
Observe que a área que está no nível mais acima coordena esforços com as demais, 
pois as flechas são nos dois sentidos, logo, essa cooperação não acontece, apenas, de 
cima para baixo, mas ela se estabelece entre os níveis estruturantes, mesmo que uma 
das disciplinas envolvidas esteja, hierarquicamente, posicionada em um estágio acima 
das demais.
10
Ainda, nesse mesmo texto fundador da área de pesquisas, Brigth (1964) delineia 
um conjunto de elementos definidos socialmente, os quais ele acredita estarem, 
diretamente, vinculados às variações observáveis na diversidade linguística, ou seja, 
o autor desenha aquelas que, para ele, são as possibilidades de estudo vinculadas à 
língua(gem), abarcadas pelas perspectivas teórica e metodológica da Sociolinguística. 
De acordo com Alkmim (2011, p. 28-29), as possibilidades citadas pelo autor são:
a) Identidade social do emissor ou falante.
b) Identidade social do receptor ou ouvinte.
c) Contexto social.
d) O julgamento social distinto que os falantes fazem do próprio 
comportamento linguístico e sobre o dos outros, isto é, as 
atitudes linguísticas.
Desse modo, percebe-se que as possibilidades de pesquisa estão vinculadas, 
exatamente, a esse modo interdisciplinar da Sociolinguística de perceber o fenômeno 
linguístico, pois estão relacionadas à identidade dos usuários da língua, ao contexto social 
e às discussões a partir das quais a língua é compreendida, como forma de estabelecer 
distinções de poder. Isso quer dizer que as pesquisas, nesta área, observarão como a 
língua e as pessoas interagem e se relacionam.
 Acadêmico, nem na vida nem na Linguística, as coisas surgem do 
nada, como já diria Bakhtin (1990), tudo, na língua, é resposta! Assim, tudo parte do 
conhecimento desenvolvido até aquele momento, confirmando ou contrariando a 
tradição. Seja um adolescente ou uma corrente teórica, todas as modificações partem 
daquilo que veio antes e do que está acontecendo no momento, em direção a algo que 
interage com o que já existe.
Desse modo, os estudos sobre língua e sociedade não nasceram em 1964, mas 
foi, naquele momento, que vários pesquisadores encontraram o campo de atuação 
deles, a partir das perspectivas interdisciplinar, antropológica e social que tinham sido 
desvinculadas no início do século XX, da Linguística, por Saussure, que reconhece o 
aspecto social, mas que diz que, dele, a ciência da linguagem não se ocupará. Ainda, 
dos estudiosos que não concordavam com a perspectiva da Gramática Gerativa de 
Chomsky, que percebia a faculdade da linguagem como uma característica mental 
nascida com o ser humano.
Tendo isso em vista, podemos destacar que, de um lado, a Sociolinguística 
abarcou uma tradição de estudos da Antropologia Linguística, vertente a partir da 
qual “[...] linguagem, cultura e sociedade são considerados fenômenos inseparáveis, 
linguistas e antropólogos trabalhavam ladoa lado, e, mesmo, de modo integrado” 
(ALKMIM, 2011, p. 29). Por outro lado, ela traz a definição específica de um campo de 
estudos interdisciplinar que funciona no interior da Linguística, em que linguistas 
e estudiosos do campo das Ciências Sociais serão atuantes. Em outras palavras, a 
Sociolinguística traz, para a centralidade dos estudos linguísticos, as relações entre 
11
língua(gem), cultura e sociedade, a partir de uma perspectiva interdisciplinar que refuta 
a noção de língua como entidade autônoma, apenas, estrutural ou mental, mas, ao 
mesmo tempo, reconhece a Linguística como o lugar de debate do fenômeno linguístico 
com diferentes dimensões e entrecruzamentos.
Assim, neste subtópico, foi apresentado como o campo de pesquisa da 
Sociolinguística foi delimitado, além do momento do estabelecimento dele como área de 
estudos. Brevemente, vimos que ele se inscreve na tradição da Antropologia Linguística, 
ao mesmo tempo em que coloca a relação entre língua e sociedade no interior da 
discussão da ciência da linguagem, refutando a noção estruturalista de Saussure e a 
teoria inatista de Chomsky.
Acadêmico, no próximo subtópico, veremos alguns dos estudiosos que 
relacionaram língua(gem) e sociedade nas pesquisas deles.
ESTUDOS FUTUROS
No último tópico desta unidade, apresentaremos alguns exemplos de 
trabalhos a partir das perspectivas da Sociolinguística e dos Estudos Surdos, 
por isso, apenas, citamos os fatores linguísticos, sem abordar detalhes 
quanto aos estudos específicos.
NOTA
Nesta unidade, estamos usando o termo língua(gem) quando queremos 
fazer referência aos conceitos de língua e de linguagem ao mesmo tempo. 
Quando a ideia é remeter ao conceito de língua como entidade mais 
específica, usamos, apenas, essa palavra, porém, quando é necessário fazer 
referência à capacidade de simbolizar, utilizaremos linguagem.
3.2 ESTUDIOSOS EM LINGUAGEM E SOCIEDADE
Neste espaço, o objetivo é que você seja apresentado, mesmo que, brevemente, 
a alguns dos estudiosos que pautaram as pesquisas deles sobre língua e linguagem. 
Com certeza, toda a seleção é complicada, mas procuramos apresentar aqueles que se 
tornaram referências básicas na área da Sociolinguística.
12
É necessário destacar que a fixação do campo de estudos da Sociolinguística 
tem um evento e uma data específicos, contudo, não quer dizer que os estudiosos e 
os pesquisadores da relação entre língua e sociedade existiram, apenas, a partir desse 
momento, ao contrário, foi, exatamente, a existência de trabalhos que conectavam os 
estudos da linguagem e os estudos da sociedade que acabou por provocar o surgimento 
de um campo de pesquisas interdisciplinar dentro da Linguística, que abrangia 
essa compreensão dos fenômenos linguísticos. Dito de outro modo, não é a área do 
conhecimento que faz surgirem estudos, mas é a quantidade, a qualidade e a divulgação 
dos estudos que fazem com que um campo de pesquisas seja delimitado. Contudo, 
é inegável que, depois do estabelecimento do campo de pesquisas, a divulgação 
e a estruturação darão origem a mais divulgação, assim, isso levará mais pessoas a 
conhecerem esse modo de compreender os fatos da língua, logo, surgirão estudiosos e 
serão feitas mais pesquisas dentro da mesma compreensão, e tentando refutar aquilo 
que a área de pesquisas menciona, ou seja, muita gente entende o fenômeno de jeito 
semelhante, e isso faz com que se estabeleça uma perspectiva teórica que dará origem 
a diferentes compreensões que podem ser reunidas sob o mesmo entendimento, ou, 
podem, inclusive, provocar dissidências que darão origem a outras áreas de pesquisa.
A seguir, colocaremos os nomes de alguns dos pesquisadores que estudaram 
as questões linguísticas, fazendo conexões com os fatores sociais envolvidos. Esses 
nomes foram selecionados a partir de Alkmim (2011):
• Meillet (1928 apud ALKMIM, 2011): ele foi aluno de Saussure e estudava a diacronia 
dos estudos linguísticos, ou seja, os estudos dele eram na direção de observar a língua 
ao longo da história dela. Defendia que a língua não era uma entidade autônoma, 
pois ela, apenas, ganha existência a partir dos indivíduos que a utilizam, por isso, a 
realidade da língua era, ao mesmo tempo, linguística e social.
• Bakhtin (2014): para ele, todo o enunciado é resposta a outro enunciado em uma 
cadeia infinita de respostas, pois a interação verbal é a verdadeira realidade da língua, 
e não um sistema abstrato estruturado ou uma enunciação monológica. Dito de outro 
modo, toda a utilização da língua está vinculada às utilizações que a precederam 
e àquelas que serão posteriores a ela, pois não é possível desvincular o fenômeno 
linguístico da interação verbal. A compreensão do diálogo e da enunciação verbal é 
entendida, pelo autor, inclusive, nas obras literárias, pois, para ele, o diálogo escrito, 
sempre, está inserido em uma discussão ideológica em grande escala, respondendo, 
confirmando, contrariando, enfim, respondendo a algo. Por isso, é estudado na 
linguística e na Teoria Literária.
• Jakobson (1974): este pesquisador parte do processo comunicativo de modo amplo, 
e, desse modo, evidencia os aspectos funcionais da linguagem. Ele nomeou e difundiu 
os termos específicos do ato da comunicação verbal, os quais são estudados até 
hoje: remetente, mensagem, destinatário, contexto, canal e código. Na figura a seguir, 
poderá ser visto o modo através do qual esses elementos se relacionam no momento 
da comunicação, de acordo com o autor:
13
FIGURA 2 – ESQUEMA DA COMUNICAÇÃO VERBAL DE JAKOBSON
FONTE: Zambillo (2014, p. 3)
É interessante perceber que, embora relacionados, diretamente, à mensagem, 
o contexto, o contato, ou canal, e o código precisam ser compartilhados pelo emissor 
e pelo receptor, para que a mensagem seja, efetivamente, compartilhada pelos 
participantes do evento de comunicação. Além disso, ele coloca que cada um dos fatores 
pode ter predominância na mensagem, e que determinará a estrutura verbal utilizada. 
Para exemplificar isso, Alkmim (2011, p. 25) observa que “[...] a predominância do fator 
remetente configura a função emotiva ou expressiva, a qual exprime a atitude de quem 
fala em relação àquilo de que está falando, e se evidencia, dentre outros procedimentos, 
pelo uso de interjeições, pela alteração de duração de vogais (por exemplo, grande)”. 
Em Libras, poderíamos ilustrar isso com o modo de sinalização de sinais com maior ou 
menor amplitude, ou com o uso de expressões não manuais que dão ênfase a aspectos 
específicos em um diálogo sinalizado.
• Cohen (1956 apud ALKMIM, 2011): em 1956, o autor publicou a obra Por uma 
Sociologia da Linguagem (título original em francês “Pour une sociologie de langage”). 
Neste livro, ele defende a necessidade de que as ciências humanas dialoguem 
para a compreensão do fenômeno linguístico, a principal contribuição dele, para a 
delimitação do campo de pesquisa da Sociolinguística, é que ele estabelece, segundo 
Alkmim (2011, p. 26):
[...] um repertório de tópicos de interesse para um estudo das relações 
entre as divisões sociais e as variedades da linguagem, que permite 
abordar temas, como: a distinção entre variedades rurais, urbanas e de 
classes sociais, os estilos de linguagem (variedades formais e informais), 
as formas de tratamento, a linguagem de grupos segregados (jargão de 
estudantes, de marginais, de profissionais etc.).
Assim, o autor destaca tópicos que enfatizam os estudos das variações da 
linguagem, de acordo com as características dos grupos sociais observados, de modo 
que a análise procure perceber quais são as variedades da linguagem específicas de 
cada conjunto de indivíduos observados. É interessante chamar a atenção para uma 
14
característica muito importante das pesquisas em Sociolinguística: a necessidade de 
recolhimento de dados para a análise, ou seja, é um tipo de pesquisa que é feito a 
partir do estudo das formas de uso na sociedade, e, para isso, faz-se preciso captar as 
informações para analisar com a própriasociedade.
• Benveniste (1968 apud ALKMIM, 2011): para ele, a língua só existe no interior de 
uma organização linguística específica e em uma sociedade, também, específica, 
assim, não se pode compreender a língua sem a sociedade, e vice-versa. O estudioso 
reconhece que a língua e a sociedade são dimensões estruturais diferentes, mas, 
ao mesmo tempo, elas têm características que as aproximam: “[...] são realidades 
inconscientes, representam a natureza, são, sempre, herdadas, e não podem ser 
abolidas pela vontade do homem” (ALKMIM, 2011, p. 27). Ou seja, ao mesmo tempo em 
que funcionam em organizações diferentes, essas duas grandezas são aproximáveis, 
devido às peculiaridades que têm em comum. Para o autor, a língua é uma ferramenta 
de análise da sociedade, pois, no interior da língua, está contida a sociedade, por 
isso, esta última pode ser interpretada através da primeira, ou seja, a língua é um 
estruturante da sociedade, através de designações e fenômenos linguísticos ligados 
às questões vocabulares. Desse modo, a língua é a maneira pela qual o indivíduo se 
localiza na natureza e na sociedade, pois, através dela, podem ser observados os 
usos específicos que cada grupo, ou classe social, faz através da língua. Assim, o ser 
humano, e, por consequência, a sociedade, estruturam-se por e através da língua, de 
maneira indissociável.
• Hymes (1962 apud ALKMIM, 2011): este autor propõe uma área de estudos 
interdisciplinares chamada de Etnografia da Comunicação, a qual envolve a Etnologia, 
a Psicologia e a Linguística. No artigo no qual propõe esse modo de organizar os 
estudos da linguagem, o autor, também, destaca que a ideia desloca o estudo 
linguístico da compreensão de código e estrutura e joga o foco para “[...] descrever e 
interpretar o comportamento linguístico no contexto cultural [...]”. Com esse objetivo, 
ele propõe a definição das “[...] funções da linguagem a partir da observação da fala e 
das regras sociais próprias de cada comunidade” (ALKMIM, 2011, p. 30).
• Labov (1963 apud ALKMIN, 2011): este pesquisador foi o responsável por estabelecer 
as bases teórico-metodológicas da Sociolinguística Variacionista. O trabalho dele, a 
respeito da comunidade de Martha’s Vineyard, tornou-se célebre, devido ao modo 
através do qual ele “[...] sublinha o papel decisivo dos fatores sociais na explicação 
da variação linguística, isto é, da diversidade linguística observada” (ALKMIM, 2011, p. 
30). Assim, ele relaciona as especificidades da pronúncia de determinados fonemas, 
em inglês, dos habitantes, às categorias de idade, sexo, ocupação, origem ética e 
atitude. Isso ocorre porque “[...] as pressões sociais estão operando, continuamente, 
sobre a língua, não de algum ponto remoto no passado, mas como uma força social 
imanente agindo no presente vivo” (LABOV, 2008, p. 21). Assim, os estudos dele 
têm uma perspectiva sincrônica, pois estudam a relação entre a língua e como as 
pressões sociais sofridas por ela geram variações, socialmente, determináveis.
15
Assim, nós vimos, de modo sintético, alguns dos pesquisadores que relacionaram 
língua(gem) e sociedade, de maneira a compreender o fenômeno linguístico e o fenômeno 
social como pares indissociáveis. Alkmim (2011) chama atenção para a obviedade e a 
complexidade de se estabelecer uma relação entre o linguístico e o social. No próximo 
subtópico, trataremos das vertentes, ou das correntes teóricas de compreensão dessa 
relação, de modo a entender como se estruturam os estudos na Sociolinguística. 
4 CORRENTES DE ESTUDO RELACIONADAS 
À SOCIOLINGUÍSTICA
Acadêmico, talvez, você esteja se perguntando como as infinitas possibilidades 
de relacionar língua e sociedade podem ser estruturadas em pesquisas dentro do 
campo de estudos da Sociolinguística. Isso porque, como visto anteriormente, existe 
uma infinidade de rumos que a pesquisa pode tomar e inúmeras maneiras de se 
compreender o fenômeno linguístico sob a perspectiva a partir da qual ele se estabelece 
com o fenômeno social.
Então, para observar os fatos da língua, o que as áreas do conhecimento 
fazem, é estabelecer grupos de percepções que são passíveis de conexões, ou seja, 
mesmo que os fenômenos sejam infinitos, as lentes sob as quais eles são observáveis 
conseguem estabelecer semelhanças que permitem o agrupamento de estudos que 
apresentam características análogas. Tendo isso em vista, serão apresentadas as três 
principais correntes, ou vertentes de estudo, relacionadas às pesquisas no campo da 
Sociolinguística. Assim, como objetivo desta parte do Tópico 1, percebemos, não apenas, 
quais são as tendências dos estudos relacionadas à Sociolinguística, mas, também, 
quais são os fenômenos percebidos em cada uma delas.
4.1 DIALETOLOGIA
A dialetologia, ou, também, geografia linguística, faz parte daqueles estudos 
anteriores à fixação do campo da Sociolinguística, os quais estudavam a relação entre 
língua e sociedade. De acordo com Dubois et al. (1973), ela é a disciplina que assumiu 
a tarefa de descrever, comparativamente, os diferentes sistemas, ou dialetos, a partir 
dos quais uma língua se diversifica no espaço, além de estabelecer limites. Para 
compreender essa afirmação, precisamos, primeiramente, definir o que é um dialeto, 
após, retomaremos essa citação.
16
Ainda, segundo Dubois et al. (1973, p. 185), dialeto é
uma forma de língua que tem os próprios sistemas léxico, sintático 
e fonético, e que é usada em um ambiente mais restrito do que a 
própria língua. É um sistema de signos e de regras combinatórios da 
mesma origem que outro sistema considerado, como a língua, mas 
que se desenvolveu, apesar de não ter adquirido os status cultural e 
social dessa língua, independente daquela.
Dessa maneira, o dialeto tem a mesma origem da língua, mas é utilizado em 
contextos específicos, porém, não é reconhecido, cultural e socialmente, como uma 
língua independente, às vezes, por, ainda, apresentar muitas semelhanças com a língua 
da qual é apontado como dialeto. Então, voltando à definição da dialetologia (agora, já 
tendo uma noção do que seria um dialeto), podemos afirmar que essa área pesquisa as 
variantes regionais de uma língua e delimita como essas variantes dialetais se estruturam 
em um dado contexto social. Ainda, a respeito dos estudos da Sociolinguística e da 
Dialetologia, nesta questão de dialeto, McCleary (2009, p. 14) coloca que:
Os dialetos são idênticos às línguas do ponto de vista linguístico. Eles 
têm tudo o que as línguas têm. Não são menores ou mais simples, 
ou menos perfeitos. Os dialetos, do ponto de vista linguístico, são 
línguas. Mas do ponto de vista da sociolinguística, são línguas que 
não atingiram a autonomia na imaginação popular.
Assim, a delimitação entre língua e dialeto não é algo muito simples, pois engloba 
elementos que fogem da percepção linguística em si mesma, ou seja, é, exatamente, 
o assunto de estudos dessa área que envolve língua e sociedade, pois são elementos 
de percepção das leis, da sociedade e da compreensão dos falantes que acabam por 
estabelecer a diferença entre língua e dialeto.
Segundo Strobel e Fernandes (1998), o fato de a Libras possuir diferentes 
dialetos regionais é uma comprovação do status de língua natural que lhe cabe, ou seja, 
não é um problema, mas uma característica das línguas naturais.
Ainda, com relação às discussões dialetais, McCleary (2009, p. 15, grifo do autor) 
exemplifica a questão que envolve língua e dialeto a partir da noção de que o português 
brasileiro e o português europeu são considerados dialetos da Língua Portuguesa, porém, 
mesmo que, muito semelhantes na escrita, a fala apresenta diferenças que dificultam 
a compreensão entre eles. Por isso, “os linguistas consideram que, atualmente, as duas 
variedades são tão diferentes que constituem dois sistemas linguísticos distintos, ou 
seja, que são duas línguas diferentes”. O português brasileiro e o português europeu, 
ainda, apresentam traços que permitem perceber a proximidade entre eles, contudo,os sistemas deles são, reconhecidamente, distintos, e, por isso, percebidos como duas 
línguas diferentes. Com relação à Libras, o mesmo autor coloca o seguinte:
17
A libras é um dialeto da ASL (língua de sinais americana)? É um dialeto 
da língua de sinais francesa? Qual é o grau de inteligibilidade entre as 
três? Historicamente, a libras e a ASL são línguas irmãs (duas "filhas" 
da língua de sinais francesa), mas cada uma tem sua autonomia, e, 
portanto, são consideradas línguas diferentes (MCCLEARY, 2009, p. 
15, grifo do autor).
Assim, historicamente, a Libras é uma língua que se desenvolveu a partir da 
Língua de Sinais Francesa (Langue de Signes Fançaise – LSF). De modo semelhante, 
a Língua de Sinais Americana (American Sign Language – ASL), também, tem origem 
a partir da LSF, logo, a Libras e a ASL são línguas que derivam de uma mesma origem, 
mas já se distanciaram dela de modo a terem sistemas autônomos diferentes e serem 
reconhecidas, politicamente, como línguas diferentes da língua-mãe, a LSF.
Por fim, podemos afirmar que a Dialetologia é uma área de estudos que tem uma 
história particular e específica como campo de estudos, anterior à fixação do campo da 
Sociolinguística. Para delinear a relação entre elas, Macêdo (2012, p. 36-37) coloca que 
“[...] a dialetologia tem, como base de descrição, a localização espacial, configurando-
se como, eminentemente, diatópica. A Sociolinguística, por sua vez, centra-se na 
correlação entre os fatos linguísticos e os fatores sociais”. Ou seja, a Dialetologia se 
preocupa mais com fatores geográficos, e, a Sociolinguística, com fatores sociais, mas 
ambas estudam como esses fatores influenciam a língua. Além disso, a autora chama 
a atenção para o fato de que as duas disciplinas têm o mesmo propósito de estudar a 
língua e as forças sociais que a modificam, porém, utilizam métodos diferentes para a 
análise desse objeto de estudos.
Acadêmico, como vimos, a Dialetologia e a Sociolinguística têm semelhanças e 
diferenças, mas ambas estudam a língua e as variações sociais dela, inclusive, alguns 
autores as colocam, até certo ponto, como sinônimas (CARDOSO, 2010). Por isso, neste 
material, escolhemos manter a inserção da Dialetologia como uma das correntes, ou 
vertentes, vinculadas à Sociolinguística, pois ambas tratam da língua e da relação entre 
os elementos geográficos, culturais e sociais que a pressionam ou a influenciam. Apenas, 
escolhemos trazer, mesmo que, brevemente, esse debate, pois, ora a Dialetologia 
aparece nos materiais disponíveis como vertente, ora, como disciplina autônoma 
relacionada à Sociolinguística, logo, é interessante que você tenha a informação de que 
esse entendimento diferente poderá aparecer nas suas pesquisas.
4.2 SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
A Teoria da Variação se desenvolveu a partir dos estudos de Labov (1972), e deu 
origem à vertente mais conhecida da Sociolinguística: a linha de pesquisa variacionista. 
Aqui, veremos, apenas, algumas linhas gerais dessa teoria, pois os demais tópicos desta 
unidade falarão, especificamente, dela.
18
Conforme Coelho et al. (2010, p. 22), a visão laboviana, acerca da relação 
entre língua e sociedade, é a de que “não existe uma comunidade de fala homogênea, 
nem um falante-ouvinte ideal. Pelo contrário, a existência de variação e de estruturas 
heterogêneas nas comunidades de fala é um fato comprovado”. Dito de outro modo, é 
uma realidade da língua a diversidade de usos, incluindo a organização estrutural nos 
grupos linguísticos de fala, assim, a pluralidade linguística faz com que não exista um 
padrão homogêneo de usuário da língua.
No interior das comunidades linguísticas, é uma realidade a existência da 
“variação inerente”, ou seja, “[...] como o sistema linguístico é heterogêneo, (i) a variação 
é uma propriedade regular do sistema; (ii) o falante tem competência linguística para 
lidar com regras variáveis”, segundo Coelho et al. (2010, p. 22). Dito de outro modo, a 
mutabilidade do sistema linguístico é uma característica constante do sistema, assim, 
a mudança é um traço, sempre, presente. A variação é certeza no sistema linguístico. 
Além disso, o usuário proficiente da língua consegue operar, linguisticamente, dentro 
das normas variáveis, ou seja, o falante/sinalizante que sabe a língua consegue 
compreender e operar mesmo dentro das regras variáveis que agem dentro da língua.
Essas variações, e a compreensão do que foi dito, ficam bem evidentes quando 
se compreende que a comunicação acontece mesmo não havendo “[...] dois falantes 
que se expressam do mesmo modo, nem mesmo um falante que se expresse da mesma 
maneira em diferentes situações de comunicação”, conforme Coelho et al. (2010, p. 22). 
Para ilustrar isso, pense em duas pessoas sinalizando o sinal de OI em Libras. O modo 
de articular o léxico poderá variar, de acordo com a personalidade e com a situação na 
qual está interagindo: com o chefe, com os amigos, sóbrio, bêbado, feliz, triste, em uma 
entrevista de emprego. Cada uma dessas possibilidades poderá interferir na sinalização, 
pois mudará o modo através do qual a língua é utilizada.
Em sua teoria, Labov (1972), também, delimita como a pesquisa, na 
Sociolinguística Variacionista, deverá perceber o fenômeno linguístico. De acordo com 
Coelho et al. (2010, p. 22):
A busca por julgamentos intuitivos homogêneos é falha. Os linguistas 
não podem continuar a produzir teoria e dados ao mesmo tempo. 
Para lidar com a língua, é preciso olhar para os dados de fala do dia 
a dia e relacioná-los às teorias gramaticais o mais criteriosamente 
possível, ajustando a teoria de modo que ela dê conta do objeto.
Desse modo, as pesquisas linguísticas, de acordo com os estudos da 
Sociolinguística Variacionista, deverão partir do pressuposto da heterogeneidade da 
língua e do estudo consciente e planejado da língua, pois os estudiosos da linguagem 
deverão pautar as próprias pesquisas em dados coletados pela fala cotidiana, e, partindo 
de critérios claros e pensados, relacionar o corpus coletado às teorias gramaticais, 
fazendo ajustes na teoria, para que ela dê conta do que ficou aparente nos dados 
19
obtidos. Dito de outro modo, Labov (1972) afirma que é necessário observar a língua em 
uso através da coleta de dados, pois os pesquisadores precisam perceber aquilo que 
acontece no uso da língua, assim, os fenômenos linguísticos observáveis darão o rumo 
das descobertas teóricas.
NOTA
A palavra corpus é um termo que remete a todo o conjunto de materiais 
para a análise linguística, ou seja, o conjunto de dados para a investigação 
em uma pesquisa.
Desse modo, a teoria da variação apresenta, em seu cerne, a preocupação com a 
metodologia da pesquisa da Sociolinguística Variacionista, pois Labov (1972 apud COELHO 
et al., 2010) se preocupa em detalhar o modo através do qual o olhar do pesquisador deverá 
se voltar ao objeto de estudos, e faz reflexões acerca do modo como a teoria deverá ser 
norteada a partir de dados verificáveis e da observação criteriosa destes.
A partir dessas discussões propostas pelo autor, Veloso (2014, p. 3) apresenta a 
divisão das três ondas, ou das tendências de prática analítica, pela Teoria da Variação. 
Elencadas por Eckert (2012), essas tendências são modos de perceber o fenômeno 
linguístico a partir da perspectiva teórica da variação, e “[...] não se sucedem ou se 
substituem, mas, apenas, correspondem à maneira característica com que esses 
modelos lidaram/lidam com a variação linguística ao longo das décadas de estudo”. Isso 
quer dizer que essas são percepções utilizadas para a análise do corpus coletado para a 
pesquisa linguística, ou seja, não se sobrepõem ou substituem, podendo ser utilizadas 
de acordo com os objetivos da pesquisa, do pesquisador, dentre outras variáveis.
Para sintetizar as três tendências de análise na Sociolinguística Variacionista, 
elaboramos um quadro-resumo no qual são apresentadas.
20
QUADRO 2 – RESUMO DAS TRÊS ONDAS DE ANÁLISE NA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTAOndas Tendência 
analítica
Características das pesquisas
Primeira onda Desenvolvimento 
do grande quadro
• Grandes estudos de levantamento de 
comunidades, geograficamente, definidas. 
• Hierarquia socioeconômica como um mapa 
do espaço social. 
• Variáveis, como marcadores de categorias 
sociais primárias, e carregando traços de 
prestígio/estigma.
• Estilo, como atenção prestada à fala, e 
controlado pela orientação em direção ao 
prestígio/estigma.
Segunda onda Desenvolvimento 
do quadro local
• Estudos etnográficos de comunidades 
definidas geograficamente. 
• Categorias locais como elo para as 
demográficas. 
• Variáveis, como indicadores de categorias, 
localmente, definidas.
• Estilo como atos de filiação.
Terceira onda Perspectiva 
estilística
• Estudos etnográficos de comunidades de 
prática.
• Categorias locais construídas através de 
posições comuns.
• Variáveis, como indicadores de posições, 
atividades, características.
• Estilo como construção da persona.
FONTE: Adaptado de Veloso (2014)
Ao observarmos as três tendências apontadas pela autora, podemos perceber 
um movimento analítico que sai do geral para o individual, pois, na primeira onda, são 
detalhadas características de pesquisas que observam o panorama língua e sociedade 
de modo mais abrangente, pois os estudos pretendem delimitar macroestruturas 
comunitárias ou linguísticas que envolvem a forma através da qual o todo social é 
percebido ou se percebe o todo, pois os objetivos são observar e desenhar as comunidades 
de fala, as variáveis mais ou menos prestigiadas da sociedade e as variáveis atreladas 
às características socioeconômicas. Já na segunda onda, aparecem estudos nos 
quais a prioridade é a delimitação de características menos gerais, com comunidades 
linguísticas localizadas em lugares específicos, estilo linguístico, e modo de estabelecer 
o pertencimento a um grupo específico. Na terceira tendência de análise, as pesquisas 
são mais voltadas à estilística, ou seja, percebe-se uma preocupação em compreender 
como se dá a dinâmica de construção individual a partir do uso da linguagem. De acordo 
com Freitag et al. (2012, p. 922), “os estudos de terceira onda incorporam a dinamicidade 
21
da estrutura, ou seja, como a estrutura se molda no cotidiano, com os condicionamentos 
sociais impostos e as relações de poder estabelecidas atuando sobre ela”. Assim, a 
terceira onda dos estudos da Sociolinguística Variacionista, proposta por Eckert (2012 
apud VELOSO, 2014), está relacionada à compreensão de como a estrutura da língua 
varia em uso estilístico e de que modo isso influencia no uso diário dessa mesma língua 
a partir das forças externas sociais que a pressionam.
Para compreendermos melhor a noção de estilística, segundo Veloso (2014, 
p. 5), a delimitação do conceito de estilo, dentro da perspectiva apresentada, é a de 
que “estilo diz respeito ao modo como os falantes combinam modos distintivos de fala 
[sinalização], e, por meio deles, constroem a própria identidade social, uma vez que esta 
depende, efetivamente, da linguagem, para se conceber e se consolidar. Os estilos de 
fala estão, intimamente, associados às categorias identitárias”. Assim, essa proposta 
da terceira onda está conectada à compreensão de como o indivíduo utiliza a língua a 
partir da própria identidade social, por e através da língua. Para exemplificar, uma pessoa 
surda, que tenha nascido surda, terá um estilo de uso da Libras diferente de um surdo 
que perdeu a audição quando adulto e aprendeu a língua de sinais após já ter adquirido a 
língua oral-auditiva. Assim, esses indivíduos terão a identidade social delimitada a partir 
da relação deles com a língua e o modo como se movimentam através das relações 
linguísticas estabelecidas a partir da Libras.
Tendo isso em vista, debatemos, brevemente, as características da Sociologia 
Variacionista. Além disso, conhecemos as três tendências analíticas das pesquisas 
realizadas nesse campo de estudos e compreendemos a noção de estilo dentro da 
perspectiva teórica.
4.3 SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL
A partir da perspectiva da Sociolinguística Interacional, ou Sociointeracionismo, 
o estudo do fenômeno linguístico, a partir da relação entre língua e sociedade, é pensado 
a partir da Análise do Discurso. De acordo com Gumperz (2015, p. 9):
A Sociolinguística Interacional (SI) é uma abordagem de análise de 
discurso que tem sua origem na busca de métodos replicáveis de 
análise qualitativa que explicam nossa capacidade de interpretar o 
que os participantes pretendem transmitir na prática comunicativa 
cotidiana. É sabido que os conversadores, sempre, confiam no 
conhecimento que, além da gramática e do léxico, faz-se ouvir. 
Contudo, como esse conhecimento afeta a compreensão, ainda, não 
é, suficientemente, compreendido.
Assim, o objetivo do Sociointeracionismo é perceber como os envolvidos em uma 
conversação conseguem interpretar aquilo que é transmitido para além das palavras/
sinais e da estrutura das normas gramaticais postas em uso durante a interação entre 
indivíduos. Nesta teoria, as informações subentendidas são parte da trama linguística 
22
que sustenta as relações entre os usuários da língua. Segundo Witkowski (2013, p. 90), 
“nesse processo, a intenção comunicativa é a questão principal, e, para acessá-la, os 
interlocutores devem ir além do que está aparente, e se concentrar, não apenas, no que 
é dito, mas nas suposições que sustentam a negociação”. Assim, o objetivo é perceber 
esses pressupostos que estão subjacentes à comunicação, além de observar como 
eles são, socialmente, compartilhados, de modo a ser um problema quando os falantes/
sinalizantes não compartilham os mesmos códigos subjacentes.
Dentro dessa teoria, são estudados os conceitos de posto (aquilo que é, 
expressamente, dito), pressuposto (aquilo que aparece como sugestão durante a 
comunicação) e subentendido (aquilo que o indivíduo precisa deduzir a partir da 
interpretação), por exemplo, na sentença:
Pedro deixou de fumar.
Posto: Pedro não fuma mais.
Pressuposto: Pedro fumava.
Subentendido: Pedro vai engordar novamente.
Observe que, no exemplo dado, o pressuposto fica claro pelo léxico utilizado, pois 
quem não fuma mais é porque era fumante, mas o subentendido depende de informações 
que não se ancoram no posto nem no pressuposto, pois partem da dedução feita pelo 
indivíduo para quem a frase foi dita, podendo estar relacionada ao senso comum de 
que todo mundo que para de fumar engorda e do conhecimento compartilhado, com 
o interlocutor, de que Pedro era gordo. Assim, a Sociolinguística Interacional pretende 
estudar como se dá o processo de construção dessas informações subjacentes e como 
elas afetam o processo de compreensão do que foi dito.
Acadêmico, essa síntese apresentada, apenas, relatou, brevemente, o objeto 
de estudo de cada uma das vertentes, ou correntes de estudos da Sociolinguística, 
porém, o objetivo era, exatamente, o de que você tivesse um panorama geral quanto 
a esse campo de pesquisa e a possibilidades teóricas e metodológicas dele. Nos 
próximos tópicos, estudaremos alguns dos conceitos imprescindíveis para os estudos 
em Sociolinguística. Até breve!
NOTA
Para acesso aos links dos materiais disponíveis on-line, 
serão colocados, ao longo do livro, QR-Codes, basta 
apontar a câmera do seu smartphone através de um 
dos aplicativos de leitura desses códigos que você será 
encaminhado, diretamente, ao site do material. Além 
disso, as referências completas estão colocadas no fim 
de cada unidade.
23
INTERESSANTE
O artigo Reflexões Sociolinguísticas sobre a Libras (Língua Brasileira de Sinais), de Rodrigues 
e Silva, apresenta uma síntese muito interessante a respeito do estudo da Libras na 
perspectiva da Sociolinguística, por isso, sua leitura, na íntegra, está colocada neste livro 
didático, dividida em dois momentos distintos como Leitura Complementar, divididos de 
acordo com os elementos abordados ao longo do texto. Aqui, no fim do Tópico1, está 
posta a parte do texto dos autores que discutem os aspectos abordados neste tópico. 
No fim do Tópico 2, será colocado o restante dos autores, desse modo, retomando 
os conceitos e os debates efetuados no Tópico 2 e inserindo a temática abordada ao 
longo do Tópico 3. Assim, o texto tem, exatamente, a ideia de, não apenas, acrescentar 
elementos às discussões apresentadas, mas, também, de servir como uma forma de 
síntese do caminho teórico estabelecido ao longo desta unidade. Boa leitura!
REFLEXÕES SOCIOLINGUÍSTICAS SOBRE A LIBRAS (LÍNGUA BRASILEIRA 
DE SINAIS)
Angelica Rodrigues 
Anderson Almeida da Silva
Resumo
O objetivo, neste artigo, é discutir questões caras à Sociolinguística, como variação 
e mudança linguística, heterogeneidade e contato linguístico, tendo a Libras (Língua 
Brasileira de Sinais) em perspectiva. Para isso, será necessário remeter a aspectos da 
gramática da Libras, e da comunidade de falantes, isto é, da sócio-história. Partimos 
dos pressupostos teóricos desenvolvidos pela Sociolinguística que, embora sejam mais 
explorados, tendo em vista as línguas faladas, devem ser considerados em discussões 
cujo objetivo seja desconstruir paradigmas a respeito das concepções de língua, de 
contato linguístico e de variação e mudança linguística nas línguas sinalizadas.
Palavras-chave: Sociolinguística; Libras; contato linguístico; variação e mudança linguística.
Sociolinguistics reflections on Libras – Brazilian Sign Language
[...]
Introdução
Se a linguística pode ser considerada uma ciência nova, a linguística das línguas de sinais é 
ainda mais recente e pouco conhecida até mesmo entre os linguistas que historicamente 
têm se voltado mais fortemente para a análise de línguas faladas. No Brasil, os estudos 
linguísticos de línguas sinalizadas ganharam força nos anos 1990, depois dos trabalhos 
pioneiros de Ferreira-Brito (1984, 1995), Felipe (1989) e mais recentemente Quadros 
(2003) e Quadros e Karnopp (2004), que publicaram, dentre outros, dissertações, teses e 
livros sobre a língua dos surdos brasileiros.
Nesse contexto, a Libras tem ganhado, a partir da última década, principalmente, destaque 
nos debates voltados para questões tanto pedagógicas quanto linguísticas relativas à 
educação de surdos. No entanto, no que diz respeito ao ensino e à aprendizagem de 
Libras por surdos e ouvintes, é possível encontrar referências às noções de "erro" e 
aos conceitos de "certo" e "errado" como um reflexo tanto do sentimento dos próprios 
falantes em relação a sua própria língua quanto de práticas pedagógicas tradicionais 
que elegem um padrão de língua a ser seguido por todos os membros da comunidade 
de fala. Esse "sentimento" e esse debate não divergem do observado em contextos de 
ensino e aprendizagem da língua oral, todavia, para o português, esses "pré-conceitos" 
24
são amplamente discutidos na literatura, inclusive nos PCN, há mais de três décadas. Por 
ser uma língua silente, não sonora, muitos acreditam que as línguas de sinais estariam 
de certa forma “imunes” aos efeitos da estigmatização de formas linguísticas largamente 
estudados nas línguas orais, principalmente a partir de Labov (2008). Portanto, neste 
artigo, que é um resumo das ideias apresentadas no minicurso Reflexões sociolinguísticas 
sobre a Libras (Língua Brasileira de Sinais) durante o 64º.Seminário do GEL, nossa 
intenção é destacar, a partir da revisão dos pressupostos clássicos da Sociolinguística, os 
processos relacionados à variação e mudança presentes nas línguas de sinais, visando, 
sobretudo, apontamentos que possam fomentar trabalhos futuros nesse campo.
O artigo está organizado do seguinte modo: inicialmente, defenderemos a legitimidade 
da Libras como língua natural a partir de pressupostos sociolinguísticos, buscando 
destacar sua natureza heterogênea. Num segundo momento, discutiremos a realidade 
sociolinguística da Libras num contexto de bilinguismo português e Libras. Finalmente, 
abordaremos a temática da variação e da mudança linguística aludindo, principalmente, 
a questões de ensino e aprendizagem da Libras por surdos e ouvintes. As conclusões e 
as referências bibliográficas serão apresentadas no final do artigo.
O que é língua?
Uma das principais demandas das comunidades surdas é o reconhecimento das línguas 
de sinais como línguas naturais, assim como as línguas orais. Esse reconhecimento é 
fundamental porque apenas com a legitimação de sua língua e, consequentemente, de 
sua cultura, os surdos podem ter garantidos seus direitos relacionados à sua identidade 
linguística.
A história dos surdos é marcada por períodos de avanço no reconhecimento de 
seus direitos e capacidades, mas também por períodos de total desrespeito, o que 
determinou, inclusive, a proibição das línguas de sinais por aproximadamente um século, 
desde o congresso de Milão em 1880 até meados de 1980. Em nome da brevidade, 
não exploraremos esse aspecto da história dos surdos e nos concentraremos mais 
especificamente na história da Linguística das Línguas de Sinais, buscando enfatizar as 
contribuições da linguística para a legitimação das línguas de sinais (daqui em diante, 
LS) como línguas naturais. Nesse sentido, destacamos as pesquisas de W. Stokoe (1960) 
que foram extremamente importantes para a legitimação das línguas sinalizadas. Ao 
propor inicialmente três parâmetros para descrever a estrutura sublexical da Língua de 
Sinais americana, o autor consegue mostrar que, assim como as línguas orais, as línguas 
sinalizadas possuem estrutura gramatical que pode ser analisada segundo diferentes 
níveis, como fonologia, morfologia e sintaxe. Por essa razão, o trabalho pioneiro de Stokoe 
(1960) é recorrentemente usado para legitimar as línguas de sinais que são julgadas, 
muitas vezes, como mímicas ou pantomimas.
Considerados um marco no desenvolvimento da linguística das LS, os estudos de 
Stokoe (1960) se desenvolveram dentro do paradigma estruturalista, que partia de uma 
concepção de língua marcada pelo pensamento saussuriano de que língua é um sistema 
(langue) que se opõe à fala (parole). Uma vez que é a partir de Saussure (2002) que, ao 
discutir, pela primeira vez, o objeto de estudo da linguística, a língua, temos a proposição 
da linguística como ciência, os estudos estruturalistas sobre as LS concentraram-se na 
descrição das línguas sinalizadas como um sistema estruturado, tal como proposto pelo 
linguista genebrino.
Embora a língua seja descrita como um fato social no Curso de Linguística Geral (SAUSSURE, 
2002), a metodologia da pesquisa estruturalista retira da língua tudo o que é social, 
concentrando as análises nos fatos de língua que podem ser usados para demonstrar a 
sistematicidade da língua, como o sistema de oposições fonológicas, por exemplo.
25
É fato pacífico que não há língua sem gramática, isto é, não há língua em que não se 
possam depreender aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos. Todavia, é preciso 
refletir sobre uma questão fundamental: nosso entendimento daquilo que seria uma 
língua está restrito à descrição de sua estrutura gramatical? O que é, afinal, a língua?
Saussure, ao formular os pressupostos daquilo que passaria a ser reconhecido como 
a ciência da linguagem, afirma que, na linguística, diferente de outras ciências, é a visão 
do pesquisador que define o objeto de estudo. Desse modo, o objeto de estudo da 
linguística, isto é, a língua, será definido de diferentes maneiras a partir da perspectiva 
do analista.
Os pressupostos estruturalistas são repensados a partir do desenvolvimento de 
outras duas correntes de pensamento, a saber, gerativismo e funcionalismo. Embora 
a concepção de língua no modelo gerativista não se afaste consideravelmente daquela 
proposto em Saussure, é no desenvolvimento do funcionalismo que encontramos uma 
nova concepção de língua e, consequentemente, uma nova linguística, em que não se 
discute oposições entre langue e parole (SAUSSURE, 2002) nem entre competência e 
desempenho (CHOMSKY, 1965).
Omodelo funcionalista, ao definir a língua como um produto de interação, afasta-se da 
ideia de uma gramática pré-concebida e propõe a existência de uma gramática emergente 
(HOPPER, 1987), que resulta de pressões de uso ligadas às necessidades comunicativas 
e expressivas dos falantes.
Todavia, é basicamente a partir de Weinreich, Labov e Herzog (2006) (WLH daqui em 
diante) e das primeiras pesquisas sociolinguísticas empreendidas principalmente por 
William Labov na década de 1960, que é proposto o desenvolvimento de uma perspectiva 
efetivamente social para a linguística, em que a língua é entendida como um sistema 
heterogêneo em uso numa comunidade de fala e sujeita a pressões linguísticas e 
extralinguísticas (sociais). A fim de enfrentar os problemas descritivos descartados na 
abordagem estruturalista, a sociolinguística se consolida a partir da eleição do estudo da 
variação e da mudança linguística, atributos vinculados grosso modo às noções de langue 
e desempenho. WLH defendem que qualquer análise linguística precisa dar conta daquilo 
que é parte constitutiva e fundamental de toda língua, a saber, a mudança linguística, e 
que fora, de certo modo, deixado de lado pelos estruturalistas, ocupados principalmente 
com a descrição sincrônica. A problematização do pensamento saussuriano é construída 
por WLH a partir da própria definição estruturalista de sistema: “se uma língua tem de ser 
estruturada, a fim de funcionar eficientemente, como é que as pessoas continuam a falar 
enquanto a língua muda, isto é, enquanto passa por períodos de menos sistematicidade?” 
(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 87). A solução para o dilema seria o rompimento 
da identificação entre estruturalidade e homogeneidade. Os autores propõem, portanto, 
um modelo de análise linguística que seja capaz de descrever a heterogeneidade ordenada, 
ou seja, a variação, considerando que nem toda variação leva à mudança, mas toda mudança 
pressupõe um período anterior de variação (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006).
Essa correlação entre variação e mudança linguística instaura um modelo de análise 
linguística que assume a língua como um processo dinâmico, em que não é possível a 
separação de fenômenos diacrônicos e sincrônicos. O estado sincrônico de qualquer 
língua é resultado dos processos diacrônicos que se sucederam ao longo do tempo. 
Sendo assim, uma análise estritamente sincrônica é uma análise sociolinguisticamente 
agnóstica. Desse modo, para a sociolinguística, não existe língua fora do contexto 
social e toda língua é um conjunto de variedades; língua é um sistema constituído de 
heterogeneidade ordenada em que fatores linguísticos e extralinguísticos funcionam 
como condicionadores da variação e da mudança. A língua, nessa perspectiva, portanto, 
não pode ser analisada separada dos seus contextos de usos e, consequentemente, de 
26
seus falantes. Considerando que não há língua com apenas um falante, as línguas devem 
ser analisadas no contexto social em que falantes de diferentes idades, origem social, 
etnia, graus de escolaridade, sexo e gênero interagem. A gramática não é produto acabado 
e fechado que esses falantes devem aprender. A gramática é construída justamente por 
esses falantes em situações de interação em que sentidos são negociados. Desse modo, 
a história interna de uma língua não se desvincula da sua história externa, ou seja, da 
história de seus falantes.
Nesse sentido, cabe remeter às definições de usuário/falante apresentadas em Neves (2002):
• No ser que fala, no que chamamos de usuário da língua, está, então, a gramática.
• A imagem do usuário – que é o homem que fala – precedeu a da gramática.
• Ela está nele: na sua fala há uma gramática, que ele possui. 
Se a gramática está no usuário, ele não é um aprendiz, pois não é possível aprender o 
que já se sabe. Não existe gramática como produto acabado que se configurou num 
determinado tempo e espaço e assim permanecerá a despeito de reconfigurações 
sociais a que seus falantes sejam submetidos. A gramática está num movimento contínuo 
de estruturação e reestruturação motivado pelas necessidades comunicativas de seus 
usuários. E sendo as necessidades comunicativas e a identidade dos falantes diferentes, 
não podemos esperar que a língua seja a mesma para todos os falantes em todas as 
situações de comunicação. Por isso, não podemos dizer, por exemplo, que a Língua 
Portuguesa ou Inglesa ou a Libras sejam únicas e homogêneas. Elas são todas, na verdade, 
um conjunto de variedades a que se atribui um rótulo. Se pensarmos, por exemplo, nas 
variedades brasileiras do português, não é possível dizer onde começa e onde termina 
a variedade mineira ou paulista (caipira). Aquilo que chamamos de português constitui-
se como um conjunto de regras mais ou menos regulares que são compartilhadas por 
falantes. O que garante a unidade dessa língua, a despeito da intensa variação dialetal, é 
a normatização. A norma, difundida na escola através do material didático, na imprensa 
e nos documentos oficiais, garante um certo nível de unidade, que é mais perceptível 
na escrita formal. O que deve ser destacado, no entanto, é que, apesar da diversidade 
linguística, todos os falantes de português são capazes de se entender mutuamente. 
Como afirmam WLH, a variação dialetal faz parte da competência monolíngue do falante.
No que diz respeito à Libras, pesquisas, como a de Xavier e Barbosa (2014) e Andrade 
(2013), mostram que há variação no nível fonológico da sinalização dos surdos de diferentes 
dialetos, e considerando diferentes variáveis. Todavia, apesar dos avanços das pesquisas 
sociolinguísticas, é comum ouvirmos na comunidade surda sinalizadores se referirem 
negativamente a outros sinalizadores que usam uma espécie de Libras misturada com 
o Português, comumente denominada de Português sinalizado Há também casos em 
que sinalizadores realizam, com uma mão só, sinais feitos, a priori, com duas mãos – o 
que pode soar como um deslize fonológico, a exemplo de expressões como "os menino", 
"praca", "bicicreta", "nóis vai" tão repreendidas pelos falantes de Português, e que acabam 
sendo objeto de preconceito linguístico. Utilizando-se do mesmo "argumento" de que 
“isso não é Português”, muitos sinalizadores dizem “isso não é Libras” ao se depararem 
com efeitos dialetais. Esse preconceito usa a variedade padrão como referência única de 
língua e atribui aos falantes das variedades não-padrão o estigma do "analfabeto" ou o 
dos "sem gramática".
Se toda língua se constitui a partir de uma gramática, não é possível que qualquer 
produção linguística inteligível seja produzida fora de uma gramática. Todavia, se toda 
língua é constituída de variedades, então entre seus falantes circulam várias gramáticas 
sendo todas elas igualmente complexas e completas.
27
A sociolinguística, nesse sentido, pode ser usada para desconstruir esses 
preconceitos que sustentam as orientações pedagógicas e o senso comum 
no que diz respeito à língua. Nesse sentido, discutiremos nas próximas 
seções deste artigo dois conceitos importantes para a sociolinguística, 
a saber, contato linguístico e variação e mudança linguística, buscando 
correlacioná-los à realidade sociolinguística da Libras no Brasil.
FONTE: Rodrigues e Silva (2017, p. 686-691)
28
Neste tópico, você aprendeu:
• Nossas relações de sentido são perpassadas pelas estruturas linguísticas que 
aprendemos ao longo da vida, pelo contato com outras pessoas que se utilizem do 
mesmo código linguístico que nós.
• Pela, e através da língua, as nossas relações de sentido internas e externas são 
estabelecidas.
• O campo de estudos dos fenômenos linguísticos, ao qual a Sociolinguística se dedica, 
é aquele em que são estudadas as relações entre língua e sociedade.
• A partir da observação dos eventos linguísticos e do modo através do qual eles são 
observados, é feita a compreensão daquilo que é observado.
• O mesmo fenômeno linguístico tem compreensões diferentes a partir da lente teórica 
que éutilizada pelo pesquisador.
• A maioria das discussões sobre linguística parte dos estudos de Saussure.
• As línguas variam, e essa variação pode ser relacionada às características específicas 
percebidas na estrutura social pela qual os falantes dessas línguas circulam.
• A Sociolinguística traz, para a centralidade dos estudos linguísticos, as relações entre 
língua(gem), cultura e sociedade, a partir de uma perspectiva interdisciplinar que 
refuta a noção de língua como entidade autônoma, apenas, estrutural ou mental.
• O dialeto tem a mesma origem da língua, mas é utilizado em contextos específicos, 
porém, não é reconhecido, cultural e socialmente, como uma língua independente.
• A Libras é uma língua que se desenvolveu a partir da Língua de Sinais Francesa 
(Langue de Signes Fançaise – LSF). De modo semelhante, a Língua de Sinais 
Americana (American Sign Language- ASL), também, tem origem na LSF.
• A pluralidade linguística faz com que não exista um padrão homogêneo de usuário 
da língua.
• A mutabilidade do sistema linguístico é uma característica constante do sistema, assim, 
a mudança é um traço, sempre, presente. A variação é certeza no sistema linguístico.
RESUMO DO TÓPICO 1
29
• A palavra corpus é um termo que remete a todo o conjunto de materiais para a análise 
linguística, ou seja, o conjunto de dados para a investigação em uma pesquisa.
• Uma pessoa surda, que tenha nascido surda, tem um estilo de uso da Libras diferente 
de um surdo que perdeu a audição quando adulto e que aprendeu a língua de sinais 
após já ter adquirido a língua oral-auditiva.
• O objetivo do Sociointeracionismo é perceber como os envolvidos em uma 
conversação conseguem interpretar aquilo que é transmitido para além das palavras/
sinais e da estrutura das normas gramaticais postas em uso durante a interação 
entre indivíduos.
• Dentro dessa teoria, são estudados os conceitos de posto (aquilo que é, expressamente, 
dito), pressuposto (aquilo que aparece como sugestão durante a comunicação) e 
subentendido (aquilo que o indivíduo precisa deduzir a partir da interpretação).
• A Sociolinguística Interacional pretende estudar como se dá o processo de construção 
dessas informações subjacentes e como elas afetam o processo de compreensão do 
que é dito.
30
1 A partir da observação dos eventos linguísticos e do modo através do qual eles 
são observados, relacione, de forma CORRETA, Coluna I, Característica, à Coluna 
II, Justificativa:
Coluna I
(1) Estruturalismo
(2) Gerativismo
(3) Variacionismo
Assinale a alternativa que apresenta a CORRETA numeração da Coluna II:
a) ( ) 2, 3 e 1.
b) ( ) 3, 1 e 2.
c) ( ) 1, 2 e 3.
d) ( ) 3, 2 e 1
AUTOATIVIDADE
Coluna II
( ) A língua é propriedade da comunidade de 
fala, existindo diversas variedades que sofrem 
diversas pressões internas e externas, causando 
variações que, como o tempo, podem vir a se 
tornar outras línguas, de acordo com o status 
que atingem, com a comunidade linguística de 
falantes e com a complexidade estrutural.
( ) A língua é um sistema subjacente à fala e, 
socialmente, adquirido no convívio entre os 
falantes de determinada língua. Ou seja, a 
estrutura de cada língua é adquirida através 
do contato, mas esse contato não é o foco 
dos estudos da linguagem, pois estes devem 
se pautar no estudo dos caráteres formal e 
estrutural da língua.
( ) A língua é um sistema mental que nasce com 
os seres humanos, tendo parâmetros universais 
que são ativados, ou não, de acordo com a língua 
específica. Ou seja, as línguas são diferentes 
porque cada uma delas aciona, ou não, um 
parâmetro da Gramática Universal interna da 
mente dos seres humanos.
31
2 Brigth (1964) delineia um conjunto de elementos definidos, socialmente, que ele 
acredita estarem, diretamente, vinculados às variações observáveis na diversidade 
linguística, ou seja, o autor desenha aquelas que, para ele, são as possibilidades de 
estudo vinculadas à língua(gem), abarcadas pelas perspectivas teórica e metodológica 
da Sociolinguística. De acordo com Alkmim (2011, p. 28-29), as possibilidades citadas 
pelo autor são:
I- Identidade social do emissor ou falante.
II- Identidade social do receptor ou ouvinte.
III- Contexto social.
IV- Julgamento social distinto que os falantes fazem do próprio comportamento 
linguístico e sobre o dos outros, isto é, as atitudes linguísticas.
V- Direitos a omitir e a renegar a própria cultura.
Dentre essas afirmações, quais estão CORRETAS?
a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) I, II, III e V.
c) ( ) II, III, IV e V.
d) ( ) I, III, IV e V.
e) ( ) I, II, IV e V.
3 De acordo com o estudo sobre as tendências de análise em Sociolinguística Variacionista, 
analise as sentenças relacionadas à primeira onda, sobre o desenvolvimento do grande 
quadro, classificando V para as verdadeiras e F para as falsas:
( ) Grandes estudos de levantamento de comunidades, geograficamente, definidas.
( ) Estudos etnográficos de comunidades definidas geograficamente.
( ) Hierarquia socioeconômica como um mapa do espaço social.
( ) Variáveis, como marcadores de categorias sociais primárias, e carregando traços de 
prestígio/estigma.
( ) Estilo, como atenção prestada à fala, e controlado pela orientação em direção ao 
prestígio/estigma.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – V – V.
e) ( ) V – F – V – F – V.
32
4 Dentro da análise do discurso são estudados os conceitos de posto (aquilo que é 
expressamente dito), pressuposto (aquilo que aparece como sugestão durante a 
comunicação) e subentendido (aquilo que o indivíduo precisa deduzir a partir de sua 
interpretação). A partir disso, estabeleça o que se pede sobre a seguinte sentença:
Maria deixou de dançar bem.
Posto: 
Pressuposto: 
Subentendido:
5 A Sociolinguística apresenta diferentes percepções para a observação do fenômeno 
linguístico, na perspectiva dos estudos sobre Sociolinguística Interacional ou 
Sociointeracionismo, temos aqueles estudos que observam o modo como os 
discursos são atravessados por diferentes interpretações, a partir desta vertente, 
descreva o objetivo do Sociointeracionismo.
33
VARIAÇÃO E MUDANÇAS LINGUÍSTICAS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, estudaremos os conteúdos referentes à variação 
linguística e às mudanças linguísticas. Deste modo, veremos como a Sociolinguística 
estuda as variações da língua para compreender os fenômenos observados a partir do uso 
que os falantes/sinalizantes fazem durante as interações em um dado contexto social.
A fim de estabelecermos as bases necessárias às discussões sobre variação 
linguística, começaremos este tópico com as concepções de norma e uso na língua. 
Assim, iremos apresentar quais são os aspectos linguísticos relacionados à discussão 
e como eles são percebidos na Libras. A seguir, delimitaremos a noção de variação no 
contexto do estudo das línguas, bem como os tipos de variação, a ligação entre variação 
e comunidade linguística e, por fim, debatermos como as mudanças linguísticas e as 
mudanças linguísticas estão relacionadas.
Neste tópico, você irá conhecer mais a Sociolinguística Variacionista, aquela 
em que os estudos sobre a variação social ganham relevância para a discussão 
acerca das concepções sobre os fatos da língua. Este estudo é importante para que 
compreendamos que a variabilidade é uma característica das línguas vivas em que os 
falantes/sinalizantes estão sempre demonstrando as suas peculiaridades através do 
uso que fazem da língua.
2 AS CONCEPÇÃO DE NORMA E USO NA LÍNGUA
Acadêmico, provavelmente, você estudou, na escola, as regras ou normas 
gramaticais da Língua Portuguesa de um jeito que fazia com que o estudo da língua 
parecesse um apanhado de regras que precisavam ser decoradas, classificadas e 
entendidas para que você compreendesse a gramática da língua. Dito de outro modo, 
você, muitas vezes, sofreu a gramática. Este tipode estudo da língua faz parecer que 
existe uma fixidez normativa que prescreve as coisas da língua, ou seja, o modo como 
a língua é estudada nas escolas faz parecer que existe um conjunto de regras que 
impõe certas coisas imutáveis e invariáveis que determinam o uso da língua. Em outras 
palavras, a tradição do estudo escolar sobre a língua nos deixa com a visão de 
que a norma determina o uso. Assim, dá a entender que não sabemos aquilo que 
efetivamente é nosso: a língua.
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 
34
Então, acadêmico, neste momento, é importante destacar que é uma confusão 
que mistura duas concepções da palavra norma, aliás, duas concepções que nós, 
falantes/sinalizantes, sabemos bem, pois conseguimos nos movimentar tranquilamente 
na língua a que tivemos acesso e, por isso, sabemos quando algo é apenas imposto e 
quando é necessário à compreensão.
Para desenvolver este debate, iremos utilizar um pesquisador que estuda 
bastante essa discussão entre norma, uso e preconceito linguístico, o professor Marcos 
Bagno (2018). De acordo com ele, existe uma confusão entre as duas concepções de 
norma, sendo que” O conceito de norma é um dos principais objetos de interesse da 
sociologia da linguagem, e não poderia ser de outra maneira, uma vez que a norma 
é, antes de tudo, um construto teórico que emerge do exame das relações sociais” 
(BAGNO, 2018, p. 20). Deste modo, segundo o autor, as concepções de norma são 
estabelecidas a partir dos usos que a sociedade delimita do entendimento destas 
mesmas normas linguísticas, isso porque, de um lado a palavra norma pode estar 
vinculada à normalidade, ou seja, aquilo que é de uso corrente dentro de uma 
comunidade linguística; ou pode ser relacionado àquilo que é normativo, ou seja, 
reconhecido socialmente como regra de uso da língua, mesmo que não seja de 
uso comum. Observe a figura a seguir os exemplos em português e Libras para estas 
diferenças entre as concepções de norma:
FIGURA 3 – NORMA E USO
NORMA PORTUGUÊS LIBRAS
REGRA estar OBRIGADO/OBRIGADA
USO Maria tá doente OBRIGADO/OBRIGADA
FONTE: Adaptada de Capovilla et al. (2017, p. 1989)
Observe que em ambos os exemplos a alteração lexical da palavra/sinal 
aconteceu a partir da diminuição dos fonemas envolvidos para a realização, no Português 
o verbo perdeu o “es” e o “r” final, já em Libras, a mão que ficava embaixo foi suprimida 
na realização usual. Deste modo, o uso destas palavras mantém apenas parte dos seus 
35
fonemas e, mesmo assim, permanecem reconhecidas pelos falantes/sinalizantes no 
momento da conversação. Desta maneira, esses exemplos ilustram a ideia de que o 
conceito de norma pode ter duas compreensões, como paradigma de correção ou como 
uso corrente na comunidade linguística.
NOTA
A maioria das discussões linguísticas atuais utiliza os conceitos semelhantes 
para fazer referência aos fenômenos da língua, desse modo, utilizaremos 
fonema para fazer referências às partes que formam os sinais.
NOTA
A correspondência entre duas línguas nunca é exata, contudo, é possível 
observamos os mesmos fenômenos linguísticos, levando-se em conta as 
devidas peculiaridades de cada modalidade.
Ainda sobres as diferentes concepções do conceito de norma, Bagno (2018) 
apresenta o seguinte Quadro que reproduzimos a seguir:
FIGURA 4 – COMPARAÇÃO ENTRE AS CONCEPÇÕES DE NORMA SEGUNDO BAGNO
FONTE: Bagno (2012, p. 21)
36
Observe na figura que as duas perspectivas têm pontos de vista opostos em 
relação ao modo como analisar os fenômenos da língua e, com base, nestas perspectivas 
também se depreende o entendimento sobre o uso que os usuários fazem da língua, 
por exemplo, na perspectiva de uso corrente, o verbo “estar” reduzido à forma “tá” é 
perfeitamente aceitável e funcional, já no ponto de vista normativo, este fenômeno 
é percebido como um desvio da normal, ou seja, um erro. Assim, a noção de erro 
está vinculada à visão normativa, em que existe uma regra a partir da qual os usos 
são avaliados.
Desta compreensão normativa é que encontram suporte as percepções que 
colocam apenas um modo de uso da língua como correto e todos os demais como 
errados ou incorretos. Já as discussões que a Sociolinguística propõe são pautadas 
no pressuposto de que os usuários da língua a utilizam a partir de diferentes contextos 
sociais e estes contextos, ao serem analisados, mostrarão ao linguista como a língua 
varia a partir das características sociais observadas.
Além disso, é importante termos em mente que a compreensão de variação 
linguística e de norma como língua em uso, implica diretamente a questão de que língua 
é poder, ou seja, o uso da língua também é uma forma de se estabelecer relações 
sociais hierarquias, pois existem variações linguísticas que são reconhecidas como de 
maior prestígio do que outras, e isso faz com que as pessoas que dominam as variações 
mais prestigiadas tenham acesso a bens culturais, oportunidades e serviços. Esta visão 
que coloca um uso como correto e outro como incorreto, caipira ou errado, faz com 
que as pessoas que o utilizam sejam classificadas como ignorantes e tendo sua opinião 
invalidade em diferentes contextos. Nisso, vemos a língua como forma de estabelecer 
preconceitos e demonstrar relações de poder.
Em relação à Libras, destacaremos dois aspectos, primeiro, o preconceito 
pautado na diferença, ou seja, na deficiência, que acarreta uma compreensão 
equivocadas das questões relativas à surdez, como os entendimentos que tratam 
a Libras como linguagem e não língua, ou a ideia de que todo surdo é mudo ou até 
mesmo as representações que tratam o surdo de modo raso através de generalizações 
como a ideia e que todo o surdo é visual e bastam figurinhas acompanhando os textos 
em Português que estaria tudo bem ou que colocam o surdo oralizado como aquele 
mais capaz de se estabelecer em sociedade do que o surdo sinalizante ou até aquela 
compreensão de que o indivíduo surdo necessita sempre da intervenção de um ouvinte 
para se colocar no mundo. Dito de outro modo, neste aspecto estão as percepções de 
que sem o domínio da língua majoritária, o surdo não é capaz de se desenvolver em 
sociedade, deste modo, entram também as percepções que veem o surdo a partir de 
sua capacidade de compreensão e expressão na Língua Portuguesa, assim, colocando 
o domínio da língua majoritária como parâmetro de êxito comunicativo.
37
O segundo aspecto é o preconceito pautado no uso da Libras, pois o maior 
ou menor domínio da língua de sinais acaba por proporcionar, também, situações e 
que a sinalização de alguém pode ser classificada como menos adequada ou apenas 
vinculada a uma região, ou ainda, demonstra o uso da língua feito por um surdo que 
sabe Libras e um ouvinte, ou entre surdos que tiveram e os que não tiveram o acesso à 
Língua de Sinais. Para ilustrar este tipo de situação, trazemos o exemplo de uma situação 
em uma pessoa surda se recusava a estabelecer um diálogo a não ser que o interlocutor 
soubesse Libras com fluência, ou do surdo que não sabe Libras e a dificuldade de 
comunicação tanto na língua majoritária quanto em Libras. 
Desta maneira, as concepções de norma são importantes para a 
Sociolinguística porque é a partir da perspectiva de uso que a compreensão 
da variação linguística se estabelece, pois, é preciso ver as variações como modos 
diversos de se utilizar a língua e, a partir disso, procurar analisar quis as características 
sociais que estão relacionadas com as variações observadas. Dito de outro modo, é 
implícito ao estudo da variação o entendimento dos desvios da norma como uso e não 
como erro. Assim, o estudo da língua na perspectiva da Sociolinguística também está 
vinculado ao estudo do preconceito linguístico porque a visão da língua e dos falantes 
de dada variante da língua é perpassada pela visão linguística dos “erros” ou falares 
desprestigiados, ou seja, aqueles que estão ligados a variantes de menos prestígio social.
Acadêmico, neste subtópico debatemos as concepções de norma e sua relação 
com o uso queos usuários fazem durante a utilização da língua. Assim, percebemos 
que as noções sobre o conceito de norma variam entre a ideia de uso corrente ou 
de um regramento idealizado; ademais vimos como estes entendimentos opostos 
ocasionam visões contrárias sobre os fenômenos da língua, na ideia de uso corrente 
por dada comunidade linguística, acarreta a perspectiva da variação; já na visão de 
paradigma a ser seguido, a noção de norma acaba por sustentar o preconceito linguístico.
ESTUDOS FUTUROS
Na Unidade 2 também serão discutidos alguns aspectos vinculados ao 
debate sobre preconceito linguístico.
DICA
Você sabia que o professor Marcos Bagno escreveu um texto ficcional em 
que a ideia é escrever uma novela sociolinguística? O nome do livro é A 
Língua de Eulália, a seguir apresentamos a capa e a sinopse deste livro 
muito interessante!
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CAPA E SINOPSE DO LIVRO A LÍNGUA DE EULÁLIA, DE MARCOS BAGNO
FONTE: <https://bit.ly/3Sc7HBA>. Acesso em: 2 dez. 2021.
Nossa tradição educacional sempre negou a existência de uma pluralidade 
de normas linguísticas dentro do universo da língua portuguesa; a própria 
escola não reconhece que a norma padrão culta é apenas uma das muitas 
variedades possíveis no uso do português e rejeita de forma intolerante 
qualquer manifestação linguística diferente, tratando muitas vezes os alunos 
como "deficientes linguísticos". Marcos Bagno argumenta que falar diferente 
não é falar errado e o que pode parecer erro no português não padrão tem 
uma explicação lógica, científica (linguística, histórica, sociológica, psicológica). 
Para explicar essa problemática, o autor reúne então, em A LÍNGUA DE EULÁLIA, 
as universitárias Vera, Sílvia e a esperta Emília, que vão passar as férias na 
chácara da professora Irene. Sempre muito dedicada, Irene se reúne todos 
os dias com as três professoras do curso primário, transformando suas férias 
numa espécie de atualização pedagógica, em que as "alunas" reciclam seus 
conhecimentos linguísticos. Mais do que isso, Irene acaba criando um apoio 
para que as "meninas" passem a encarar de uma nova maneira as variedades 
não padrão da língua portuguesa. A novela flui em diálogos deliciosamente 
informativos. A LÍNGUA DE EULÁLIA trata a sociolinguística como ela deve ser 
tratada: com seriedade, mas sem sisudez.
FONTE: Amazon (s.d., s.p.)
39
3 O QUE É VARIAÇÃO LINGUÍSTICA?
Acadêmico, a palavra variação já traz em si a noção mudança, alteração e 
diversidade, e, ao fazermos a ligação com a Linguística, podemos depreender que a 
variação linguística está relacionada à diversidade de usos que os falantes/sinalizantes 
demonstram em sua utilização da língua. A fim de introduzir a discussão sobre variações 
linguísticas convidamos você a ler o verbete Variação Linguística do glossário on-
line do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE) reproduzido a seguir, pois ele 
apresenta uma síntese bastante interessante sobre o assunto:
Variação linguística
O termo variação se aplica a uma característica das línguas humanas que faz 
parte de sua própria natureza: a heterogeneidade. A palavra língua nos dá uma ilusão 
de uniformidade, de homogeneidade, que não corresponde aos fatos. Quando nos 
referimos ao português, ao francês, ao chinês, ao árabe etc., usamos um rótulo único 
para designar uma multiplicidade de modos de falar decorrente da multiplicidade das 
sociedades e das culturas em que as línguas são faladas. Cada um desses modos de 
falar recebe o nome de variedade linguística. Por isso, muitos autores definem língua 
como “um conjunto de variedades” e substituem a noção da língua como um sistema 
pela noção da língua como um polissistema, formado por essas múltiplas variedades.
A variação linguística se manifesta desde o nível mais elevado e coletivo – 
quando comparamos, por exemplo, o português falado em dois países diferentes (Brasil 
e Angola) – até o nível mais baixo e individual, quando observamos o modo de falar de 
uma única pessoa, a tal ponto que é possível dizer que o número de “línguas” num país 
é o mesmo de habitantes de seu território. Entre esses dois níveis extremos, a variação 
é observada em diversos outros níveis: grandes regiões, estados, regiões dentro 
dos estados, classes sociais, faixas etárias, níveis de renda, graus de escolarização, 
profissões, acesso às tecnologias de informação, usos escritos e usos falados.
A consciência de que a língua é variável remonta à Antiguidade, quando os 
primeiros estudiosos da língua grega tentaram sistematizá-la para o ensino e para 
a crítica literária. Eles, no entanto, fizeram uma avaliação negativa da variação, que 
viram como um obstáculo para a unificação territorial e para a difusão da língua. Foi 
nessa época (século III a.C.) que surgiu a disciplina chamada gramática, dedicada 
explicitamente a criar um modelo de língua que se elevasse acima da variação e 
servisse de instrumento de controle social por meio de um instrumento linguístico. 
A consequência cultural desse processo histórico é que o termo língua passou a 
ser usado, no senso comum, para rotular exclusivamente esse modelo idealizado, 
literário, enquanto todos os usos reais, principalmente falados, foram lançados à 
categoria do erro.
40
Com os avanços das ciências da linguagem, essa visão foi abandonada: o 
exame minucioso de cada variedade linguística revela que ela tem sua própria lógica 
gramatical, é tão regrada quanto a língua literária idealizada, e serve perfeitamente 
bem como recurso de interação e integração social para seus falantes. Diante 
disso, um novo projeto de educação linguística vem se formando: é preciso ampliar 
o repertório e a competência linguística dos aprendizes, levá-los a se apoderar da 
escrita e dos muitos gêneros discursivos associados a ela, sem [,] contudo, desprezar 
suas variedades linguísticas de origem, valorizando-as, ao contrário, como elementos 
formadores de sua identidade individual e social e como patrimônio cultural do país.
Verbetes associados: Dialeto, Gêneros do discurso, Língua,
FONTE: BAGNO (s.d., s.p.)
Neste texto, vemos uma síntese da noção de variação como parte inseparável 
do estudo das línguas, além disso, o autor chama atenção para a percepção de que 
o termo língua nos dá uma falsa sensação de uniformidade, mas dentro da realidade 
linguística cabem inúmeras variedades que estão no interior de uma língua. Após, 
Bagno (s.d.) nos apresenta que a variação pode ser desde o nível entre línguas até o 
estágio individual, a ponto de afirmar que existem tantas línguas quanto o número de 
usuários de determinada língua, a seguir, ele destaca que a percepção de que as línguas 
variam é antiga, mas que esta diversidade era vista como negativa, por isso, surgiram 
os estudos gramaticais que estabeleceram regras de uso da língua que acabaram por 
colocar todos os demais usos dentro da perspectiva do erro, por isso, serve até os dias 
de hoje como parâmetro de inserção social. Por fim, o autor apresenta a visão atual dos 
estudos linguísticos, aquela que percebe as variantes como formas válidas de utilização 
da língua, também, coloca que esta compreensão traz para o ensino da língua a 
perspectiva de aprendizagem das diferentes formas de uso da língua e da valorização da 
diversidade linguística dos aprendizes. Dessa forma, o verbete é bastante interessante 
por trazer uma visão ao mesmo tempo sintética e abrangente da compreensão sobre a 
variação linguística.
Tendo isso em vista, analisemos agora o conceito de variação linguística 
apresentado por Coelho et al. (2010, p. 23):
Variação [linguística] É o processo pelo qual duas formas podem 
ocorrer no mesmo contexto linguístico com o mesmo valor 
referencial, ou com o mesmo valor de verdade, i.e.[ou seja], com o 
mesmo significado. Dois requisitos devem, pois, ser cumpridos para 
que ocorra variação: as formas envolvidas precisam:
ser intercambiáveis no mesmo contexto e
manter o mesmo significado. 
Desta maneira, ao serem analisadas possibilidades de variação linguística 
devemos analisarse os usos observados podem ser trocados dentro do mesmo contexto 
sem acarretar alterações significativas de sentido. Para ilustrar isso, vamos observar o 
exemplo ESTUDAR apresentado por Machado e Weiniger (2018, p. 58):
41
FIGURA 5 – VARIAÇÃO FONOLÓGICA SINAL DE ESTUDAR EM LIBRAS
 VIDEOAULA YOUTUBE
FONTE: Machado e Weiniger (2018, p. 58)
Neste exemplo, os autores chamam a atenção para a realização do sinal ter 
sido feita de modo diferente quanto à locação, pois, no exemplo da videoaula, ESTUDAR 
está realizado na altura do peito e, no exemplo do YouTube, ele é feito na altura da 
boca, porém, esta variação não altera o significado do sinal nem possibilidade de uso, 
estando dentro daquilo que os autores chamam de variação livre do sinal realizada 
pelo indivíduo e que não afetam a compreensão do sinal realizado.
Agora que já debatemos sobre a compreensão de variação linguística, vamos 
estudar os tipos de variação linguística, de acordo com Dubois et al. (1973, p. 609): 
“Chama-se variação [linguística] o fenômeno no qual, na prática corrente, uma língua 
determinada não é jamais, numa época, num lugar e num grupo social dados, idêntica 
ao que ela é noutra época, em outro lugar e em outro grupo social”. Assim, o conceito 
de variação linguística está relacionado à diversidade dos usos da língua ligada ao 
período histórico, à localização geográfica e a fatores sociais relacionados aos grupos 
sociais observados.
Ainda sobre os tipos de variação linguística, Coelho et al (2010) colocam que 
estas podem ser divididas entre as provocadas por fatores internos à língua e aquelas 
que são geradas através de condições externas à língua. Ainda segundo os autores as 
variações internas podem ocorrem em todos os níveis linguísticos desde o nível 
mais básico das alterações entre os fonemas que compõem as palavras, à relação entre 
as palavras dentro das sentenças e das sentenças dentro de um texto; e as variações 
externas são aquelas vinculadas à fatores não linguísticos, mas que também 
influenciam nas variações que a língua apresenta, tais como o fator de localização 
geográfica. Ademais, destacam que a variação do léxico (palavras/sinais) é bastante 
estudada pela dialetologia e que o estudo da diversidade fonética está mais vinculado 
aos estudos da Sociolinguística.
Ainda, segundo Coelho et al. (2010), as variações vinculadas à categoria de 
alterações internas à língua são os estudos relativos às variações nos seguintes 
níveis listados a seguir e que foram adaptados para este material com base em 
Coelho et al. (2010):
42
Variação lexical: mudança de léxico de acordo com a região geográfica e 
escolhas vocabulares de acordo com a formalidade ou informalidade da situação, por 
exemplo, os diferentes sinais de MÃE em Libras, no sinal à Esquerda, a realização é feita 
com o dedo na configuração em D que toca a lateral do nariz duas vezes, já o sinal à 
Direita é formado pela junção dos sinais de MULHER + BENÇÃO;
FIGURA 6 – SINAIS DIFERENTES PARA A PALAVRA MÃE
FONTE: As autoras
• Variação fonológica: modificações entre fonemas nas palavras, com a troca de 
fonemas na realização das palavras/sinais, como o exemplo de OBRIGADO, que vimos 
anteriormente, em que uma parte do sinal foi suprimida.
• Variação morfofonológica, morfológica e morfossintática: estas são as 
alterações que envolvem a forma das palavras ou sinais, como no exemplo colocado 
acima do sinal de ESTUDAR em que o ponto de articulação (um dos parâmetros para 
formação de sinais) sofreu alteração.
• Variação sintática: são aquelas variações no nível da relação e da função das 
palavras dentro da sentença, por exemplo, as alterações dos usos dos pronomes 
ou da ordem das palavras/sinais dentro da frase, nas sentenças a seguir, podemos 
observar uma variação sintática em relação às sentenças apresentadas, na que está 
à Direita, vemos que a ordem SVO (Sujeito-Verbo-Objeto) é utilizada, já na que está à 
Esquerda, o verbo PERDER é repetido dando foco, ou seja, ênfase, ao que aconteceu 
através desta estratégia de repetição, numa ordem SVO(V).
FIGURA 7 – SETENÇAS EM LIBRAS
43
FONTE: Adaptada de Quadros e Karnopp (2004)
• Variação e discurso: são aquelas variações no nível da relação entre as sentenças 
e no encadeamento delas dentro no discurso, para exemplificar este fenômeno de 
variação discursiva em Libras recomendamos a leitura na íntegra do artigo elaborado 
por Anater e Passos (2009) presente no volume IV da Coleção Estudos Surdos, nele, 
os autores comparam a sinalização de uma história em quadrinhos feita por quatro 
sinalizantes diferentes, aqui, reproduziremos apenas a comparação entre dois dos 
sinalizantes das cenas 2 e 3 em que uma menina faz uma bola de neve.
FIGURA 8 – EXEMPLO DE VARIAÇÃO DE DISCURSO
[ela ou a menina] sentiu vontade de estar 
brincando e [ela] fez uma bolinha apertou 
[a bolinha] de vários modos [...] [ela] faz 
uma bola de neve e [a bola] precisa ficar 
bem compacta
[...] e até que [ela] viu aquela neve [ela] 
observou e [ela] começou a apertar 
fazendo uma bolinha [...] [ela] juntou uma 
bola de neve e [...] [ela] brincava fazendo 
bolinha de neve,
FONTE: Anater e Passos (2009, p. 63-65)
44
Observe que, de acordo com os autores, a partir da mesma imagem motivadora 
cada um dos sinalizantes organizou o discurso em Libras de modo diferente, 
demonstrando a variação discursiva possível a partir do discurso dado.
Em relação às variações externas, Coelho et al. (2010) colocam que elas estão 
vinculadas à fatores externos ao funcionamento da língua, ou seja, os fatores sociais 
estudados pela Sociolinguística que também trazem alterações nos usos da língua, é 
interessante destacar que as variações serão, normalmente, observáveis em relação 
aos fatores internos e aos fatores externo ao mesmo tempo, observemos a listagem a 
seguir foi adaptada dos autores citados no início deste parágrafo:
• Variação regional ou geográfica ou diatópica: é a variação que está relacionada 
ao local em que o usuário reside por ser característica geograficamente da região, 
por exemplo, quanto sinal de MÃE utilizado acima, a variação com apenas uma 
configuração de mão é característica do sul do Brasil;
• Variação social ou diastrática: são aquelas em que os elementos sociais estão 
envolvidos, segundo coelho et al. (2010, p. 78), “Os principais fatores sociais que 
condicionam a variação linguística são o grau de escolaridade, o nível socioeconômico, 
o sexo/gênero, a faixa etária e mesmo a profissão dos falantes”, assim, neste tipo 
de variação estão inseridos os sinais específicos de cada profissão, por exemplo, a 
variação do sinal de LÍNGUA, no sentido de linguístico e no sentido de parte do corpo, 
como podemos ver em Capovilla et al. (2017, p. 1683):
FIGURA 9 – SINAL DE LÍNGUA EM LIBRAS: LINGUÍSTICA E PARTE DO CORPO
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1388)
Observe que são sinais completamente diferentes, ou seja, a variação 
lexical, neste caso, também é uma variação diastrásica, ou seja, 
social; porque está vinculada ao jargão profissional específico.
• Variação estilística ou diafásica: está vinculada aos estilos de comunicação, mais 
formal, mais informal de acordo com a situação comunicativa e o falante, no exemplo 
colocado acima da narração das cenas da história em quadrinhos isso aparece como 
a variação do discurso de cada um dos sinalizantes pelo modo como se percebe 
participante de uma pesquisa e isso aparece na forma como sinalizam as cenas.
• Variação na fala e na escrita ou diamésica: esta variação procura perceber como 
são diferentes as formas como os usuários da língua a utilizam na fala e na escrita, em 
Libras, ainda é um pouco complexo se falar nessa variação devido ao pouco número 
45
de usuários que sinalizam e escrevem em língua de sinais através de um sistema 
de escrita, acreditamos, que, com o tempo talvez possamos enxergar um fenômeno 
semelhante ao que é visto entre a LP falada e a LP escrita, que é a fixidez maior do 
texto escrito, mas aindaé uma hipótese neste contexto.
Acadêmico, nesta subtópico debatemos o conceito de variação linguística, 
vimos como a própria palavra já traz em si a ideia de alteração e diversidade, além disso, 
vimos como pode ser compreendida a noção de variação no estudo das línguas e, por 
fim, estudamos as variações que acontecem nos níveis internos e externos à língua. Em 
seguida, veremos qual é o conceito de comunidade linguística e como ele se relaciona 
aos estudos da variação. 
DICA
Num vídeo bimodal a TV Unesp apresenta um UNESP 
notícias em que dois especialistas falam sobre a 
variedade linguística em Libras, o interessante é que 
os dois professores falam sobre os mesmos aspectos, 
mas cada um em uma modalidade. A professora 
Angélica Rodrigues é ouvinte e apresenta em LP oral, já o professor 
Rimar Segala apresenta, mesmo tempo, em Libras. Assim, além 
de estar relacionado a nossa discussão também é um vídeo bem 
interessante em relação à organização da apresentação em duas 
modalidades ao mesmo tempo.
4 COMUNIDADE LINGUÍSTICA E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Acadêmico, vimos que as variações linguísticas são os diferentes modos 
como a língua se modifica a partir de fatores que podem ser internos ou externos a 
ela, mas, para que possam ser observados as diferentes maneias como a língua se 
modifica, é necessário que haja a interação entre indivíduos que partilhem das mesmas 
normas linguísticas, no sentido de usos compartilhados da língua. Desta forma, para 
que variações sejam perceptíveis deve ser possível observar a língua em uso em um 
grupo de pessoas que sejam capazes de acessar as mesmas diretrizes linguísticas 
compartilhadas, assim, as comunidades linguísticas são o ambiente em que os falantes/
sinalizantes interagem através da língua e, por isso, são o âmbito em que podem ser 
observas as variações linguísticas.
Além disso, é interessante deixarmos claro que as comunidades linguísticas 
não são excludentes ou exclusivas, assim, um mesmo indivíduo pode fazer parte de 
diferentes comunidades linguísticas de acordo com os grupos sociais a que pertence, 
de acordo com Dubois et al. (1973), uma nação monolíngue pode ser considerada uma 
comunidade linguística, mas esta nunca será homogênea, pois é formada por diferentes 
46
outros grupos que têm especificidades linguísticas peculiares, por exemplo, uma pessoa 
que sabe português e Libras está inserida, minimamente, em duas comunidades 
linguísticas diferentes, neste caso, comunidade é igual a línguas diferentes, mas se esta 
pessoa também tem uma profissão específica, como ser médica, ela ainda compartilhará 
do jargão específico dos médicos e participará desta comunidade linguística. Dito de 
outro modo, assim como as línguas variam entre si, elas também variam e seu interior 
a partir de grupos de pessoas que interagem linguisticamente e compartilham das 
normas de uso específicas destas comunidades.
Para continuarmos nosso debate sobre a relação entre comunidade linguística 
e variação, podemos observar que Alkmim (2011, p. 31) coloca que “[...] objeto da 
Sociolinguística é o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu 
contexto social, isto é, em situações reais de uso”. Assim, não apenas os estudos 
sobre variação analisam o fenômeno linguístico através da observação das relações 
sociais estabelecida linguisticamente, mas toda a Sociolinguística tem como propósito 
observar as relações constituídas pela e através do uso da língua pelos indivíduos em 
seus grupos sociais. Isso ocorre porque “Seu [da Sociolinguística] ponto de partida é a 
comunidade linguística, um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e 
que compartilham um conjunto de normas com respeito aos usos linguísticos” 
(ALKMIM, 2011, p. 31, grifo nosso). Logo, as comunidades linguísticas não são, 
necessariamente, definidas regionalmente, mas de acordo com o compartilhamento 
a língua.
Ainda sobre a delimitação do conceito de comunidade linguística, “[...] uma 
comunidade de fala se caracteriza não pelo fato de se constituir de pessoas que 
falam do mesmo modo, mas de indivíduos que se relacionam, por meio de redes 
comunicativas diversas, e que orientam seu comportamento verbal por meio do 
mesmo conjunto de regras” (ALKMIM, 2011, p. 31, grifo nosso). Tendo isso em vista, 
observamos que uma comunidade linguística é o grupo de pessoas que utilizam a 
mesma coleção de regras específicas que fazem com que estes indivíduos se organizem 
através de códigos da língua que são socialmente compartilhados no interior deste 
grupo de falantes/sinalizantes.
Outro aspecto relevante para a discussão é o de que uma “[...] Comunidade 
linguística é todo e qualquer grupo humano que utiliza um código verbal comum, 
imposto pela impossibilidade de ser exclusivo. E tal imposição se dá mediante 
normas que atuam como solidariedade social e força de coesão do código linguístico” 
(BORIN, s.d., p. 8). Assim, os autores destacam que, no interior de uma comunidade 
linguística, existem forças que atuam para que, ao mesmo tempo que existe um código 
compartilhado comum que permite certas variações, estas também são controladas 
pelo mesmo conjunto de regras que permitem que elas existem. Dito de outro modo, 
ao mesmo tempo que as línguas variam, elas não variam de qualquer modo, mas 
apenas das maneiras que o próprio sistema permite, tendo em vista a necessidade 
de se manter uma conexão linguística proporcionada e controlada pelo próprio código 
verbal compartilhado.
47
Assim, neste subtópico, vimos que uma comunidade linguística é um grupo de 
indivíduos que compartilham de regras de uso de uma língua e se relacionam com as 
variações linguísticas e com a Sociolinguística por ser em seu interior que se realizam 
os fenômenos linguísticos observáveis que são objeto do estudo da Sociolinguística. A 
seguir, vamos debater as mudanças e variações linguísticas.
DICA
Na atualidade, as nossas relações linguísticas ganharam a dimensão digital, ainda 
mais depois do aumento formidável do uso das Tecnologias Digitais de Informação e 
Comunicação (TDICs) em nosso cotidiano. No artigo Comunidades Virtuais, Comunidades 
Linguísticas, Carmem Pimentel apresenta a compreensão de que as comunidades 
linguísticas têm, agora, uma dimensão virtual que se enquadra na concepção de 
comunidades linguísticas. A seguir, é colocado o Cr-code e link que que levam diretamente 
à página em que o trabalho está disponibilizado, bem como o resumo do artigo para você 
ter uma noção do que a autora apresenta. Vale a pena a leitura!
Acesse: http://www.institutodeletras.uerj.br/idioma/numeros/29/Idioma29_a05.pdf. 
COMUNIDADES VIRTUAIS, COMUNIDADES LINGUÍSTICAS
Carmen Pimentel
RESUMO
A era da informação ou a era do conhecimento é caracterizada pela mudança na maneira 
de comunicação da sociedade e pela valorização crescente da informação, que circula 
a velocidades e quantidades até então inimagináveis. Nesse contexto, que possibilita a 
comunicação mais ágil entre os indivíduos, independentemente da localização geográfica 
e em meio a um quadro de mudanças sociais confusas e incontroláveis, manifesta-se 
uma tendência nas pessoas de se reunirem em grupos sociais visando compartilhar 
interesses comuns. Passou-se a viver uma realidade diferente, em que as barreiras 
espaciais, temporais e geográficas já não são tão significativas, quando as redes globais 
de intercâmbios conectam e desconectam indivíduos, grupos, regiões e até países sob os 
efeitos globalizantes provenientes da pós-modernidade. O indivíduo, assim, desprovido 
de referências tradicionais saiu à procura de pessoas com as quais pudesse compartilhar 
interesses em comum, uma vez que é da natureza humana se relacionar socialmente. 
Nos últimos tempos, tal prática parece intensificar-se com a presença das redes mundiais 
de computadores, que aproximam os indivíduos e possibilitam o surgimento de novas 
formas de relações sociais: as comunidades virtuais, espécie de agrupamentos humanos 
constituídos no ciberespaço ou no ambientevirtual.
PALAVRAS-CHAVE: Comunidades virtuais. Comunidades linguísticas. Ciberespaço. 
FONTE: Pimentel (2015, p. 181-198)
http://www.institutodeletras.uerj.br/idioma/numeros/29/Idioma29_a05.pdf
48
5 DIFERENÇAS ENTRE VARIAÇÃO E MUDANÇAS 
LINGUÍSTICAS
Os conceitos de variação e mudanças linguísticas são relacionados porque “[...] 
a mudança linguística marca diferentes fases ou período na variação diacrónica. 
Por outro lado, a mudança constitui uma selecção das formas linguísticas em variação 
geográfica ou social, abandonando umas e generalizando outras à comunidade” (ROCHA, 
2008, s.p., grifo nosso). Assim, a variação que pode ser percebida ao longo do tempo dará 
origem às mudanças linguísticas, dito de outro modo, as variações ao longo da história de 
uma palavra ou sinal nos mostrarão como a mudança dele ocorreu na língua.
NOTA
Sincronia e diacronia são maneiras de se perceber e estudar o fenômeno 
linguístico, na sincronia, ele é estudado em um dado momento histórico, 
fazendo um recorte histórico; já na diacronia o objeto de pesquisa é 
estudado ao longo do tempo para perceber a evolução que sofreu ao longo 
da história. Para fins de compreensão dos tipos de estudos, podemos 
pensar que a sincronia é uma foto e a diacronia, um filme; na foto vemos 
um instante específico no tempo, já no filme, acompanhamos uma história 
ao longo de certo tempo.
De acordo com Diniz (2010, p. 44), as mudanças linguísticas ocorrem porque: 
Toda língua tem a sua vida própria e “alimenta-se” a partir da 
comunicação dos falantes, quando entram em contato com seus 
pares. Quando alimentada, a língua é transformada naturalmente, seja 
por fatores internos à própria língua (e.g. a fisiologia da articulação), 
seja por fatores externos (e.g. o contato com outras línguas).
Logo, a mudança é um processo natural das línguas, pois nasce da interação 
entre os usuários dela, além disso, a autora destaca que as mudanças podem acontecer 
através do uso que os falantes/sinalizantes fazem na comunidade linguística ou pelo 
contato entre diferentes grupos sociais que utilizam o mesmo código linguístico ou 
nas situações em que línguas diferentes entram em contato e, para a comunicação, 
necessitam estabelecer formas de entendimento, levando também a mudanças 
linguísticas que pode, inclusive, dar origem a outros sistemas linguísticos.
As mudanças que acarretam a transformação de uma língua em outra, 
demoram muito tempo, pois a estrutura de uma língua não se altera rapidamente. Já 
as mudanças lexicais são menos lentas e muito importantes para que a língua siga viva 
e se apropriando/elaborando vocabulários para as novas tecnologias que surgem no 
dia a dia, para as modificações das relações sociais e para a agilidade necessária para a 
comunicação (MCLEARY, 2009).
49
Ao observarmos o caso das línguas de sinais, podemos perceber que muitos dos 
vocábulos tiveram origem no contato com as línguas orais, por exemplo, o sinal de AZUL 
(STROBEL; FERNANDES, 1998, p. 3) demonstra claramente o processo de mudança de 
um léxico, inicialmente datilológico, em direção à simplificação e especificação mais 
adequada às línguas de sinais.
FIGURA 10 – EVOLUÇÃO DO SINAL DE AZUL
FONTE: Strobel e Fernandes (1998, p. 3)
Observe que o primeiro sinal registrado pelas autoras apresenta a palavra 
AZUL realizada através do alfabeto de sinais, após, existe uma fase intermediária em 
que se mantêm os sinais equivalentes às letras A e L, mas ainda com a movimentação 
lateral da Esquerda para a Direita com vai e volta no movimento, por fim, o terceiro 
sinal registrado pelas autoras apresenta ainda as letra A e L, mas agora com uma 
movimentação mais orgânica e simplificada, tendo em vista que passa ser apenas um 
deslocamento frontal com movimento reto. Logo, o sinal passou por uma mudança que 
partiu da datilologia vinculada à língua oral e passou a um sinal mais adaptado à Libras 
através de modificações linguísticas que se deram através do uso pelos sinalizantes.
Ainda sobre as mudanças linguísticas, podem ser observadas aquelas que 
acontecem devido à variação do sinal de acordo com o modo como um processo 
descrito pelo sinal é modificado socialmente, por exemplo, Diniz (2010, p. 44) apresenta 
a mudança ocorrida no sinal de CAFÉ, observe a comparação entre o primeiro e o 
segundo sinais:
FIGURA 11 – MUDANÇA NO SINAL DE CAFÉ
FONTE: Diniz (2010, p. 44)
50
Observe que o primeiro sinal faz referência direta à moagem do café, que era 
feita num pilão, já o sinal mais atual faz referência à xícara de cafezinho e ao movimento 
de tomar o café, esta diferença demonstra a capacidade da língua de se atualizar de 
acordo a forma como a sociedade também muda. Neste exemplo, vemos claramente 
uma modificação de comportamento social que aparece no uso da língua, pois, 
atualmente, raras são as pessoas que moem seu café em casa, muito menos com um 
pilão, logo, o sinal de 1875 não encontra mais referente na realidade e, talvez por isso, os 
usuários da língua adotaram, ao longo do tempo, um novo sinal que faz mais sentido na 
realidade vivenciada pelos indivíduos que utilizam a Libras.
Ainda Diniz (2010), chama a atenção para o fato de que as mudanças na 
língua são graduais, contínuas e regulares; assim, as modificações na língua ocorrem 
aos poucos e sempre seguem as regras estruturais da língua envolvidas. Por fim, 
observemos a evolução do sinal de e-mail, uma palavra emprestada da língua inglesa 
vinculada à tecnologia:
FIGURA 12 – EVOLUÇÃO DO SINAL DE E-MAIL EM LIBRAS
FONTE: Diniz (2010, p. 48)
Observe que o sinal inicial era formado pela sinalização das letras E e M, que 
faziam a referência às letras iniciais da palavra E-MAIL, na sua realização o sinal trazia o 
movimento em que o M era passado no meio do E para dar a ideia de envio. Já no sinal 
mais atual, a vinculação à escrita da palavra foi deixada de lado, dando mais ênfase ao 
sentido de comunicação por mensagem, utilizando a configuração em C e mantendo 
o movimento que é característico dos sinais que envolvem sentidos de algo que é por 
meio de ou através de. Assim, esta mudança fez com que o sinal de deslocasse de um 
vínculo com a escrita e passasse a ter um sinal mais adequado às regras estruturais e 
semânticas da Libras.
51
Acadêmico, neste subtópico, estudamos que as variações linguísticas ao longo 
da história acarretam as mudanças linguísticas que serão observadas através do estudo 
diacrônico da língua. Além disso, vimos que as mudanças estruturais das línguas são 
mais demoradas do que as mudanças lexicais e fonológicas, ou seja, as mudanças 
que modificam a gramaticais, que podem dar origem a outras línguas, são muito mais 
demoradas do que as mudanças que ocorrem em relação à criação e apropriação 
de palavras/sinais ou aquelas que modificam algum dos parâmetros fonológicos de 
sinalização, ou seja, que mudam partes dos sinais. A seguir iremos discutir os contatos 
linguísticos entre as línguas e a influência destes nas estruturações e reestruturações 
das línguas em contato.
DICA
A dissertação de Diniz (2010) é bastante pertinente 
para a discussão apresentada nesta seção, por isso, 
recomendamos a leitura na íntegra de “A história da Língua de 
Sinais Brasileira (Libras): um estudo descritivo de mudanças 
fonológicas e lexicais”. Acesse: Link: https://repositorio.
ufsc.br/bitstream/handle/123456789/93667/282673.
pdf?sequence=1&isAllowed=y.
ESTUDOS FUTUROS
No próximo tópico, estudaremos mais detidamente os contatos entre 
línguas diferentes e as mudanças linguísticas mais profundas que 
acarretam, inclusive a emergência de outros sistemas linguísticos que 
podem, oportunamente, serem reconhecidos como línguas diferentes. Dito 
de outro modo, quando a mudança atinge os níveis estruturais da língua ela 
dá origem a outros fenômenos que estudaremos mais adiante. 
INTERESSANTE
Conforme combinamos no final do Tópico 1, a seguir será disponibilizada 
a parte final do artigo Reflexões Sociolinguísticas sobre a Libras (Língua 
Brasileira de Sinais).Nela, os autores discutem a questão do contato 
linguístico, após debatem as noções de variação linguística e apresentam 
alguns argumentos quanto à existência ou não de uma língua dita 
“pura”. Por fim, tecem considerações finais em que retomam os pontos 
levantados durante o artigo. Boa leitura!
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/93667/282673.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/93667/282673.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/93667/282673.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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REFLEXÕES SOCIOLINGUÍSTICAS SOBRE A LIBRAS (LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS)
Angelica Rodrigues 
Anderson Almeida da Silva
[...]
Contato linguístico
A Libras existe no Brasil há pelo menos 159 anos, pois no ano de 1857 foi fundado 
no Rio de Janeiro o primeiro Instituto Nacional para Educação de pessoas Surdas, o 
INES. Anteriormente à criação do instituto, a língua já existia nas ruas, nas casas, com 
menor difusão e estabilidade, no seio das comunidades surdas. Somente a partir da 
institucionalização da educação de surdos, surgiram os primeiros registros lexicográficos 
da língua e o interesse de profissionais em garantir a sua sobrevivência e difusão. 
Atualmente, a Libras não é um idioma oficial da nação brasileira, mas é reconhecida 
oficialmente pela Lei 10.436/2002 e pelo Decreto 5.626/2005. Ela existe e pode ser 
utilizada ampla e indistintamente pelos surdos brasileiros, que tiveram, com a aprovação 
dessas leis, suas especificidades linguísticas reconhecidas.
A ideia equivocada de que o Brasil é um país monolíngue já foi rebatida em inúmeros 
trabalhos (LEITE; CALLOU, 2002) em que se discutem a realidade multilíngue e 
multidialetal do país, onde convivem, ao lado das variedades do português, as línguas 
nativas brasileiras, as línguas de imigrantes e as línguas de sinais. Uma vez que a língua 
oficial do país é o português, toda instrução formal é dada nessa língua, o que tem 
desdobramentos na realidade linguística dos falantes não-nativos do português ou 
bilíngues. Grande parte da população não falante de português acaba inevitavelmente 
tendo o português como língua de instrução unicamente, salvo raras exceções de escolas 
bilíngues. No que diz respeito à comunidade surda, o contato com o português pode se 
efetivar de duas maneiras. Os surdos oralizados aprendem apenas o português ou são 
bilíngues. Os surdos não oralizados usam o português somente na modalidade escrita, 
sendo a Libras considerada sua única língua materna.
Seja como for, o fato de os surdos estarem inseridos num contexto em que o português 
figura como língua majoritária faz com que a Libras, assim como outras línguas minorizadas, 
se constituam como uma ilha linguística num mar de português. Desse modo, o contato 
com o português é inevitável.
Segundo Thomason e Kaufman (1988), há duas pré-condições para que haja empréstimos 
entre línguas, quais sejam, contato social intenso e falantes bilíngues. Considerando 
que, além dos surdos, há também ouvintes usuários de Libras, podemos concluir que a 
situação sociolinguística da comunidade surda no Brasil é de bilinguismo, em maior ou 
menor grau. Como afirma Adam (2012), há consenso, atualmente, de que a comunidade 
surda é uma comunidade bilíngue com indivíduos surdos com vários graus de fluência 
na língua oral e de sinais da comunidade. Ainda segundo esse autor, em contextos 
sociolinguísticos similares, o efeito do contato entre línguas orais e sinalizadas é igual ao 
do contato entre línguas orais (ADAM, 2012).
O efeito principal do contato linguístico é o empréstimo (borrowing), que pode ter 
desdobramentos distintos em cada situação. Pensando especificamente no caso da 
Libras, podemos dizer que esses empréstimos se dão no nível lexical através, por exemplo, 
do uso de sinais soletrados e também no nível morfossintático com o empréstimo de 
preposições (para e em) e conjunções (se, mas e e).
53
Com relação ao uso da datilologia na Língua Americana de Sinais (daqui em diante, 
ASL) alguns trabalhos apresentam perspectivas diversas. Battison (1978), por exemplo, 
baseou-se no fato de que datilologia era inglês, não ASL. Outros pesquisadores, porém, 
como Davis (1989), argumentam que datilologia não é inglês. Davis sustenta que 
datilologia é ASL porque os morfemas em ASL nunca são emprestados de um contexto 
ortográfico do inglês, eles são usados para representar um contexto ortográfico. Valli 
e Lucas (1992) enfatizam que empréstimos de datilologia são reestruturados para se 
adequar à fonologia da língua de sinais. 
Evidências psicolinguísticas acerca desse fenômeno são oferecidas por Waters et al. 
(2007) que investigaram a ativação de zonas cerebrais (lateralidade) de palavras escritas, 
imagens, sinais e datilologia, buscando verificar se a datilologia era processada como 
escrita ou sinalização. Os autores observaram que a datilologia era processada em áreas 
do cérebro similares às usadas para os sinais da LS e distintas das envolvidas em escrita.
No que diz respeito à aquisição, Padden e LeMaster (1985), Akamatsu (1985) e Blumenthal-
Kelly (1995) apontam que crianças reconhecem palavras soletradas manualmente muito 
antes de aprenderem a “soletrar”, o que pode evidenciar que essas palavras soletradas 
são consideradas sinais e não palavras emprestadas da língua oral.
Ademais, itens lexicais podem ser criados, segundo Brentari e Padden (2001) e Sutton-
Spence (1994), através da composição de datilologia e sinais, como, por exemplo, 
soletrado manualmente como -P- C e o sinal de mouth (boca) para Portsmouth (nome 
de uma cidade).
Há também o que é chamado de processo de nacionalização da datilologia (KYLE; WOLL, 
1985; SUTTON-SPENCE, 1994; CORMIER; TYRONE; SCHEMBRI, 2008), através do qual um 
sinal com soletração manual se torna um sinal. Isso ocorre quando: (a) as formas se 
adéquam aos contornos fonológicos do léxico nativo; (b) parâmetros da forma ocorrem 
no léxico dos nativos; (c) elementos nativos são adicionados; (d) elementos não nativos 
são reduzidos (perda de letras); e (e) elementos nativos são integrados com elementos 
não nativos (CORMIER; TYRONE; SCHEMBRI, 2008 apud ADAM, 2012). Temos dois grupos 
de sinais soletrados em Libras, observando o comportamento descrito acima: sinais que 
continuam sendo soletrados ipsis literis a sua grafia na língua oral (por exemplo: C-D, 
L-I-X-O, O-U etc.) e sinais que sofreram algum tipo de redução fonológica ou alteração 
prosódica (por exemplo: N-U-N para “nunca”, V-I para “vai” e L-I-N-D-O que é soletrado 
com alterações prosódicas específicas). Essas mudanças não são previsíveis pela teoria 
para nenhum grupo de palavras e somente são implementadas pela aceitação da 
comunidade de fala da Libras.
Variação e mudança linguística
Um dos principais valores associados à língua está presente fortemente na escola e, por 
conta disso, é assumido pela grande maioria dos falantes como sendo verdadeiro. Esse 
pré-conceito prevê que a língua é uma entidade homogênea e pura e está representada 
completamente nas gramáticas tradicionais e na obra dos escritores clássicos da nossa 
literatura. Expressões e palavras que estejam em desacordo com a norma prevista nessas 
obras consistiriam em uma ameaça à pureza da língua. Essa ameaça pode se configurar 
tanto em estruturas observáveis na fala e na escrita de brasileiros e identificada como 
um erro ou desvio em relação àquilo que é convencionalmente chamado de norma 
culta, quanto em palavras e expressões estrangeiras. Nos dois casos, esses usos são 
condenados por gramáticos tradicionais, cabendo à escola a sua "correção".
54
Há uma associação forte entre língua e homogeneidade e pureza (língua pura), 
estando a língua sujeita a ameaças externas (estrangeirismos, empréstimos) e internas 
(variedades populares).
Por que dizemos que essa ideia é equivocada? O português é uma língua românica, 
descendendo, portanto, do latim. Embora muitas palavras da nossa língua tenhamorigem latina e grega, num exercício rápido de consulta aos dicionários de português, 
encontramos inúmeras palavras estrangeiras, cuja origem é ignorada pela maioria dos 
brasileiros. As palavras almofada, almoxarifado, alfaiate, por exemplo, são de origem árabe 
e representam o registro linguístico do período que os árabes dominaram a Península 
Ibérica entre os séculos VIII e XV d.C. As palavras cavalo, gato, cabana e cerveja são de 
origem celta. Já as palavras guerra, albergue, fralda e branco são de origem germânica. 
Apesar disso, nós como falantes não analisamos estes fatos no momento de fala, e 
eles somente interessam a uma pesquisa histórica da língua. Percebe-se, então, que 
os empréstimos linguísticos não ameaçam a existência de nenhuma língua no mundo, 
do contrário, dão sinais de sua vitalidade e constituem registros linguísticos da história 
externa de uma língua. 
Existe língua pura?
Um dos grandes mistérios da humanidade é o surgimento da primeira língua. 
Perguntas acerca da existência de uma língua original única e talvez divina permanecem 
incentivando respostas especulativas. As pesquisas em Linguística Histórica, através dos 
métodos comparativos e de reconstrução interna, possibilitaram a elaboração de árvores 
genealógicas de famílias linguísticas. Olhando para esses dados, parece impossível que 
sejamos capazes de encontrar uma origem comum entre as diversas línguas vivas ou 
mortas faladas no mundo. O que sabemos, no entanto, é que a capacidade da linguagem 
colocou o homem à frente na escala evolutiva e que a fala representa um marco na 
evolução da nossa espécie. Nesse processo de evolução, os gestos têm papel fundamental 
e alguns trabalhos discutem sua importância no desenvolvimento da comunicação 
humana (STOKOE, 1960).
Se, por um lado, não podemos encontrar evidências sobre a primeira ou primeiras 
línguas, por outro, temos descrições sobre o surgimento de novas línguas e a partir disso 
somos capazes de entender melhor como nasce uma língua.
Aquilo que identificamos como português, por exemplo, nasce no século XI, sendo sua 
história interna reflexo de sua história externa. A partir da instauração do Reino de 
Portugal por D. Afonso Henriques, a Língua Portuguesa começa a se configurar de modo, 
inclusive, a se distinguir da Língua Castelhana. A passagem do latim para o português 
não é, entretanto, abrupta. Até que o português fosse normatizado, no século XVI, com 
a publicação das primeiras gramáticas portuguesas, podemos entender que inúmeras 
variedades eram faladas na região de Portugal. Dessas variedades restaram algumas 
evidências, como as poesias trovadorescas, que apontam fortemente para um contato 
linguístico. Considerando os séculos iniciais da emergência do português, podemos 
concluir, desse modo, que essa língua nasce da mistura de diferentes línguas e variedades 
e que sua configuração lexical e morfossintática emerge num contexto sociocultural 
marcado pela diversidade linguística. Portanto, o português não tem uma origem "pura" 
como muitos defendem.
A história da emergência do português não é distinta da história de outras línguas. Para 
nos atermos ao contexto dessa língua, podemos citar o surgimento dos crioulos de base 
portuguesa, como o crioulo cabo-verdiano ou kauberdianu, por exemplo. Ao contrário do 
senso comum, não existe língua pura, pois toda língua surge do contato. Esse pressuposto 
55
vale tanto para as línguas orais quanto para as línguas sinalizadas. Souza e Segala (2009) 
fazem um histórico do surgimento de várias línguas de sinais, inclusive a Libras. O que 
todas essas línguas têm em comum considerando sua origem é o contexto multilingual e 
multidialetal que precederam sua emergência.
Suppalla (2008, p. 22) aponta que os estudos sobre a emergência e desenvolvimento 
(mudança) nas LS estiveram por muito tempo fora do escopo das pesquisas em linguística 
das LS em razão da percepção equivocada de que processos históricos "naturais", como 
empréstimos, por exemplo, serviram para assinalar uma perspectiva de que as LS são 
"impuras".
O contato linguístico, ou seja, o bilinguismo prolongado resulta em mudança linguística. 
O fato evidente é que todas as línguas, orais e sinalizadas, são constituídas de 
heterogeneidade, sendo a variação e a mudança propriedades inerentes em todos os 
casos. Portanto, se, por um lado, a origem da Libras remete à Língua de Sinais Francesa 
(LSF), a convivência permeada pelo bilinguismo em relação ao português aponta 
inevitavelmente para a configuração de uma língua heterogênea, como qualquer outra 
língua natural.
Ainda que se acredite que empréstimos, inovações (mudanças) linguísticas e contato 
linguístico constituam uma ameaça a determinada língua, nenhuma dessas situações põe 
em risco qualquer língua. Uma língua só morre quando morrem seus falantes ou se por 
algum fator sócio-histórico esses sejam impedidos ou deixem, com o tempo, de usar sua 
língua nativa. São situações extremas que levam à morte de uma língua, como guerras, 
processos de colonização e aculturação.
Considerações finais
A diversidade linguística tem diminuído no mundo e línguas minorizadas perdem espaço 
para as línguas de prestígio, de estado. Todavia, não é combatendo a diversidade que 
garantiremos a valorização de línguas minorizadas.
A partir desta exposição, pode-se afirmar que a fixação de quaisquer mudanças que 
tenham se iniciado por questões de contato entre línguas diferentes é de responsabilidade 
total da sua comunidade de fala.
Essa discussão é oportuna também para esclarecer aos profissionais da área de línguas 
de sinais sobre a intolerância que, muitas vezes, se fomenta sobre os diversos ‘falares’ 
da Libras no Brasil. Muitos sinalizadores, pautados na ideia de que a sua forma de falar 
é a correta, estimulam a intolerância às questões da variação, e acabam por impor um 
julgamento daquilo que seriam para eles sinais "certos", "errados", "melhores" e "piores". 
Esse processo é idêntico ao que vivenciamos nas línguas orais, identificado como 
preconceito linguístico.
Uma particularidade das questões sociolinguísticas envolvendo a Libras é que, geralmente, 
há uma resistência dos surdos aos sinais que são literalmente inventados (criados) em 
contextos educacionais, como termos específicos de área e, ainda, a variação apresentada 
por falantes mais escolarizados, a quem se atribui, por exemplo, uma versão da Libras mais 
parecida como uma tradução literal do português. Percebe-se, então, que o preconceito 
não se dá somente em relação aos grupos de menor prestígio social, mas também com 
os que muito ascendem e terminam por distanciarem-se do vernáculo urbano da Libras. 
A prova é que muitos surdos não escolarizados dizem não compreender os surdos mais 
escolarizados, e estes, a despeito da resistência dos demais, são tidos como os que mais 
sabem a língua. Esta é uma reflexão que pretendemos desenvolver futuramente em 
outro artigo.
56
Concluímos que reconhecer a realidade sociolinguística da Libras, atestando o que há de 
consenso e dissenso entre seus falantes, também é uma forma de legitimar a língua da 
comunidade surda brasileira como uma língua natural, sujeita, portanto, à variação e à 
mudança linguística. 
FONTE: Rodrigues e Silva (2017, p. 692-698)
57
RESUMO DO TÓPICO 2
 Neste tópico, você aprendeu:
• A tradição do estudo escolar sobre a língua nos deixa com a visão de que a norma 
determina o uso, assim, dá a entender que não sabemos aquilo que efetivamente é 
nosso: a língua. 
• As concepções de norma são estabelecidas a partir dos usos que a sociedade 
delimita do entendimento destas mesmas normas linguísticas, isso porque, de um 
lado a palavra norma pode estar vinculada à normalidade, de outro, a regras delimitas 
que devem ser seguidas.
• A noção de erro está vinculada à visão normativa, em que existe uma regra a partir da 
qual os usos são avaliados.
• Língua é poder, ou seja, o uso da língua também é uma forma de se estabelecer 
relações sociais hierarquias.• O preconceito pautado na diferença em relação aos surdos é aquele que estabelece 
o domínio da língua majoritária como parâmetro de êxito comunicativo.
• O preconceito pautado no uso da Libras é aquele em que aquelas pessoas que têm 
menor fluência na Libras, surdas ou ouvintes, sofrem ao serem excluídas devido a 
esta caraterística.
• As concepções de norma são importantes para a Sociolinguística porque é a partir 
da perspectiva de uso que a compreensão da variação linguística se estabelece, pois, 
é implícito ao estudo da variação o entendimento dos desvios da norma como uso e 
não como erro.
• A variação linguística está relacionada à diversidade de usos que os falantes/
sinalizantes demonstram em sua utilização da língua.
• Ao serem analisadas possibilidades de variação linguística devemos analisar se os 
usos observados podem ser trocados dentro do mesmo contexto sem acarretar 
alterações significativas de sentido.
• As variações linguísticas podem ser provocadas por fatore internos ou externos 
à língua.
• As variações internas da língua podem ser: lexicais, fonológicas, sintáticas 
ou discursivas.
58
• As variações externas podem ser regionais, sociais, estilísticas e na fala e na escrita.
• As comunidades linguísticas são o ambiente em que os falantes/sinalizantes 
interagem através da língua e, por isso, são o âmbito em que podem ser observas as 
variações linguísticas.
• As comunidades linguísticas não são excludentes ou exclusivas, assim sendo, um 
mesmo indivíduo pode fazer parte de diferentes comunidades linguísticas de acordo 
com os grupos sociais a que pertence.
• Assim como as línguas variam entre si, elas também variam e seu interior a partir de 
grupos de pessoas que interagem linguisticamente e compartilham das normas de 
uso específicas destas comunidades.
• Ao mesmo tempo que as línguas variam, elas não variam de qualquer modo, mas 
apenas das maneiras que o próprio sistema permite, tendo em vista a necessidade de 
se manter uma conexão linguística proporcionada e controlada pelo próprio código 
verbal compartilhado.
• A variação que pode ser percebida ao longo do tempo dará origem às mudanças 
linguísticas, dito de outro modo, as variações ao longo da história de uma palavra ou 
sinal nos mostrarão como a mudança dele ocorreu na língua.
• A mudança é um processo natural das línguas, pois nasce da interação entre os 
usuários dela, e aquelas que carretam a transformação de uma língua em outra, 
demoram muito tempo, pois a estrutura de uma língua não se altera rapidamente. 
• As mudanças lexicais são menos lentas e muito importantes para que a língua siga 
viva e se apropriando/elaborando vocabulários para as novas tecnologias que surgem 
no dia a dia, para as modificações das relações sociais e para a agilidade necessária 
para a comunicação.
• A língua se atualiza de acordo com o modo como a sociedade muda, pois são 
intrinsicamente ligadas. As modificações na língua ocorrem aos poucos, sempre e 
seguem as regras estruturais da língua envolvidas.
59
1 As discussões sobre norma linguística se estruturam em duas compreensões da 
noção da palavra norma, numa delas temos uma vinculação mais atrelada a regras 
e na outra temos uma maior valorização do modo como os usuários fazem uso da 
língua. Dentro destas discussões sobre as duas concepções de norma linguística, a 
forma como os falantes/sinalizantes se expressam é percebido dentro de qual delas?
2 O preconceito linguístico é aquele em que o modo como o falante/sinalizante 
utiliza a língua é utilizado como justificativa para sustentar percepções sociais que 
desvalorizam a pessoa. Assim, de acordo com o que foi estudado sobre norma e uso, 
explique a qual delas o preconceito linguístico está relacionado e por quê?
3 O modo como os sinais são feitos podem sofrer variações de acordo com diversos 
fatores externos e internos à língua. Observe a figura a seguir, retirada de Strobel e 
Fernandes (1998, p. 3) nela estão apresentados três sinais referentes à palavra VERDE:
COR VERDE SINAL
FONTE: Strobel e Fernandes (1998, p. 3)
Sobre os sinais apresentados são feitas as seguintes afirmações:
I- A variação externa observada é de caráter regional ou diatópica, pois a figura 
apresenta três sinais relacionados a três lugares.
II- Os sinais observados apresentam variação interna lexical, pois apresentam 
mudança de léxico de acordo com a região geográfica de uso do sinal.
III- A variação linguística dos sinais apresentados pode ser compreendida tanto como 
uma variação interna como uma variação externa à língua.
AUTOATIVIDADE
60
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
4 Observe a figura a seguir e marque a alternativa correta sobre o fenômeno linguístico 
observável nas etapas de alteração do sinal referente a BRANCO apresentadas 
através da numeração que evidencia o primeiro estágio, o segundo estágio e o 
terceiro estágio de modificação do sinal:
BRANCO SINAL
FONTE: Strobel e Fernandes (1998, p. 6)
a) ( ) A figura apresenta variações regionais do sinal BRANCO e suas mudanças regionais.
b) ( ) A figura apresenta etapas históricas da variação que levaram à mudança linguística.
c) ( ) A figura apresenta sinais da palavra BRANCO que são pouco utilizados.
d) ( ) A figura apresenta sinais vinculados à mudança lexical por simplificação de datilologia.
5 Os falantes de uma língua são agrupados de acordo com fatores sociais que 
estruturam comunidades linguísticas, sobre as Comunidades Linguísticas, classifique 
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) As comunidades linguísticas são o ambiente em que os usuários interagem através 
da língua.
( ) É no âmbito das comunidades linguísticas que podem ser observas as variações 
linguísticas.
( ) Um mesmo indivíduo pode fazer parte de um número limitado de comunidades 
linguísticas.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – V – F.
b) ( ) V – F – F.
c) ( ) V – V – V.
d) ( ) V – V – F.
61
TÓPICO 3 - 
CONTATO LINGUÍSTICO
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, nos tópicos anteriores, estudamos, inicialmente, o campo de 
estudos da Sociolinguística e como ele percebe a relação entre língua e sociedade. 
Além disso, debatemos sobre a história da delimitação e fixação da área de estudos 
que percebe o fenômeno linguístico relacionado às características sociais, por fim, 
estudamos alguns dos teóricos e das teorias que estudam essa perspectiva de análise 
da língua a partir da observação das características geográficas, das variações sociais e 
das teorias que percebe a interação entre discursos na língua.
Depois discutimos os sentidos de norma nos sentidos de uso e de regras, este 
último dando origem às visões que sustentam o preconceito linguístico, em relação às 
variações como uma característica das línguas naturais em que mais de uma forma de 
uso mantém o sentido em determinado contexto, também, vimos como as comunidades 
linguísticas se caracterizam.
Por fim, abordamos a relação entre variação e mudanças linguísticas, de modo 
a perceber que o estudo das variações observáveis ao longo da história (a pesquisa 
diacrônica) nos mostra o caminho percorrido para que uma mudança linguística 
ocorresse. Dito de outro modo, as diferentes variações observáveis em um determinado 
uso ao longo da história irão se estruturar de modo a alterar o uso corrente a ponto de 
deixarem de ser formas diversas de se utilizar uma mesma forma na língua e passarem 
a ser a forma reconhecida pela comunidade de usuários de uma dada língua.
Também vimos que as alterações estruturais demoram muito mais para 
acontecerem do que as modificações lexicais e fonológicas, ou seja, é mais fácil mudar 
as palavras/sinais do que a gramática de uma língua. Ainda vimos que as mudanças 
linguísticas podem ocorrer por diferentes fatores, mas que é necessárioo contato 
entre indivíduos que utilizam o mesmo código linguístico para que as variações e, 
consequentemente, as mudanças aconteçam. Além disso, podem ocorrer mudanças 
na língua devido à necessidade da criação de novas palavras para darem conta da 
evolução social que a tecnologia e as novas dinâmicas sociais trazem, bem como a 
mudança pode ocorrer devido à inadequação do vocábulo antigo para dar conta do 
processo atual. (Como o exemplo e CAFÉ trazido anteriormente).
Pois bem, agora, neste nosso último tópico da Unidade 1, iremos discutir alguns 
dos fenômenos linguísticos que ocorrem quando duas ou mais línguas entram em 
contato, ou seja, veremos como a Sociolinguística observa e conceitua a diversidade 
linguística que nasce do contato entre falantes de diferentes línguas em situações de 
tensão em que é necessário estabelecer uma forma de comunicação entre os envolvidos.
UNIDADE 1
62
Assim, esta é uma das características marcantes do contato linguístico, ele 
se faz entre indivíduos usuários de línguas diferentes que necessitam se comunicar, 
esta necessidade cria uma tensão comunicativa que irá ocasionar diferentes níveis 
de tensões e interações entre os indivíduos, logo, é uma situação de conflito que se 
estabelece na e através da língua. Isso não quer dizer que esteja ligado a situações de 
guerras, mas sim no sentido de que o contato linguístico ocorre em situações tensas 
em que o indivíduo é obrigado a encontrar modos de estabelecer formas que propiciem 
a comunicação com indivíduos que se comunicam através de outro código linguístico. 
Assim, por ser nascida da necessidade, esta é uma circunstância que envolve diferentes 
discussões sobre grupos humanos e comunidades linguísticas em contato que trazem 
pressões lexicais, semânticas e estruturais sobre as línguas e, consequentemente, 
sobre os usuários delas.
Para esclarecer esta noção de conflito ou embate linguístico, podemos tomar 
como exemplo a situação de um surdo usuário de Libras e que vive no Brasil, oras, ele 
acaba por sentir a pressão constante do uso majoritário da Língua Portuguesa (LP) no 
cotidiano, pois as linhas de transporte, os anúncios, os nomes das lojas, o processo de 
escolarização pensado para atender a ele é todo feito em LP, além disso, é provável que 
muitas pessoas em seu cotidiano apenas saibam LP e, talvez, um básico de Libras para se 
comunicar com ele. Deste modo, ele passa imerso em diferentes interações linguísticas 
em que é constantemente bombardeado com a LP, ou seja, o código linguístico que 
utiliza, a Libras internalizada por ele, é constantemente atravessado pelas estruturas 
do código linguístico da LP. Isso acontece porque ele está inserido em uma sociedade 
em que a língua majoritária é a LP, em que as políticas públicas são pensadas em LP, ou 
seja, que a realidade linguística do país é vivida majoritariamente em LP.
Assim, sua vivência como sinalizantes da Libras é, também, um constante 
estado de tensão entre a língua majoritária e a língua minoritária utilizada por ele em 
sua comunidade linguística. Esta pressão é vivenciada por todos e acaba por acarretar 
estabelecer situações em que a Libras é alterada pela LP, como na criação de sinais em 
que a datilologia é priorizada, ou em que a sinalização se estrutura como se em LP fosse, 
o que é conhecido como português sinalizado – estudaremos mais adiante, neste 
tópico, a conceituação específica para este uso da LP/Libras.
Neste exemplo, podemos perceber que os debates que se estabelecem sobre 
o contato linguístico estão relacionados com diferentes fatores sociais, tais como, 
políticas públicas, educação, consumo, inserção social e trabalhista e educação, dentre 
muitos outros.
Sobre os contextos em que as línguas são postas em contato, Dubois et al. 
(1973) elencam os seguintes: razões geográficas, deslocamento de uma comunidade 
linguística para o local de uma outra, como nas situações de guerras e conflitos que 
obrigam um grande grupo de pessoas a se inserirem em outros países, ou, de modo 
individual quando uma pessoa precisa se inserir em outra comunidade linguística. Como 
vimos, cabe incluir neste contexto de contacto linguístico as pessoas surdas, pois elas 
63
já nascem inseridas em uma comunidade linguística em que a modalidade da língua 
não é capaz de prover os elementos linguísticos adequados para a sua comunicação. 
É neste contexto que se origina um dos grandes dilemas quanto à inserção da língua 
de sinais no cotidiano da criança surda desde o nascimento, pois muitos são filhos 
de pais ouvintes e passam, muitas vezes, por diferentes profissionais, diagnósticos e 
estágios até, talvez, terem acesso à sua língua de sinais, aquela que deveria ser sua 
língua materna ou L1.
NOTA
Língua materna ou L1 é a língua de primeiro contato de uma pessoa, no caso dos 
surdos, a L1 deveria ser a língua de sinais, pois ela é aquela cuja modalidade é 
adequada para este indivíduo, porém fatore sociais, médicos, familiares, dentre 
outros, acabam por retardar ou impossibilitar a aprendizagem da língua de 
sinais, acabando por deixar várias pessoas em um limbo linguístico em que estabelecem 
a comunicação por meio de mímicas e gestos caseiros, ou até por arremedos de língua 
portuguesa e partes de oralização e leitura labial que são ineficientes e não são línguas, 
mas formas de se comunicar, mesmo que precariamente.
Desta maneira, é possível perceber que estas discussões sobre contato 
linguístico são relevantes para os debates sobre os direitos linguísticos do povo surdo 
e sua inserção social. Assim, neste tópico, estudaremos as bases linguísticas das 
compreensões dos diferentes modos de contato linguístico e as possiblidades de 
pesquisa na perspectiva da Sociolinguística, desta forma, estabeleceremos as bases 
linguísticas para a compreensão dos fenômenos envolvidos no estudo da língua a partir 
de seus atravessamentos sociais durante a interação entre línguas. Começaremos com 
os empréstimos e interferências linguísticas, após, veremos estratégias linguísticas, 
alternâncias e misturas, depois, debateremos pidgins e crioulos. Por fim, debateremos 
os contatos linguísticos e a emergência das línguas de sinais e, encerrando este tópico, 
discutiremos a pesquisa Sociolinguística na perspectiva dos Estudos Surdos.
ESTUDOS FUTUROS
As discussões sobre bilinguismo têm um lugar especial dentro das 
pesquisas sobre surdez devido à vivência surda ser, a priori, uma vivência 
bilíngue devido à prevalência da língua majoritária no contexto de inserção 
social dos surdos, por isso, os debates sobre plurilinguismo e bilinguismo 
serão tratados com mais detalhes mais adiante neste livro didático. Agora 
vamos compreender o indivíduo bilíngue como aquele que se apropriou 
do sistema linguístico de mais de uma comunidade, ou seja, aquelas 
pessoas que são capazes de utilizar com proficiência mais de uma língua.
64
NOTA
McLeary (2009) elenca uma espécie de glossário da língua que resume bem 
as mudanças linguísticas vistas ao longo desta unidade, por isso, ele será 
reproduzido a seguir:
Interferência: pessoas bilíngues introduzem a palavra estrangeira na sua fala em 
português.
Gírias e jargões: grupos de pessoas que convivem ou trabalham juntos começam a usar 
a palavra estrangeira regularmente na sua fala diária. A pronúncia começa a mudar para 
o padrão do português, mas a ortografia se mantém fiel ao original estrangeiro.
Estrangeirismo: a palavra começa a "vazar" para um público maior, nos jornais, TV e 
rádio. A pronúncia continua a mudar para o padrão brasileiro. Na escrita, aparece com a 
ortografia original, grafada em itálico. Começam a aparecer alternativas ortográficas mais 
próximas ao padrão do português.
Aportuguesamento: uma ortografia aportuguesada começa a aparecer com frequência 
nos meios de comunicação para competir com a ortografia original. A ortografia original 
perde a grafia em itálico. A palavra é usada por pessoas que desconhecem sua origem.
Empréstimo: a palavra é usada normalmente como qualquerpalavra no português, 
com ortografia aportuguesada. Ela começa a sofrer flexão e derivação pelas regras do 
português.
Dicionarização: a palavra começa a aparecer nos dicionários, ou com a grafia original 
(como estrangeirismo), ou com a grafia aportuguesada (como empréstimo) ou com as 
duas simultaneamente.
Absorção: a palavra perde sua identidade "estrangeira" completamente e começa a ser 
considerada simplesmente como mais uma palavra legítima do português, sem questão 
de origem.
2 INTERFERÊNCIAS E EMPRÉSTIMOS LINGUÌSTICOS
De acordo com Dubois et al. (1973), a diferença entre interferências 
e empréstimos linguísticos é que na primeira a troca de um traço fonético, 
morfológico ou lexical entre duas línguas acontece sempre de modo individual e 
involuntário, já no empréstimo, a troca destes traços acontece de modo integrado 
ao uso da língua, assim, são de uso social coletivo da comunidade linguística. Por 
isso, as interferências são mais oscilantes, sendo observáveis no nível individual, já os 
empréstimos são mais estáveis e observáveis em nível coletivo.
O nome empréstimo já nos dá a ideia do fenômeno observado, pois esta é uma 
forma de contato entre línguas em que uma língua passa a incorporar em seus usos 
traços linguísticos ou vocabulares que já faziam parte de outra língua. Para exemplificar 
isso, podemos observar o sinal de NUNCA, ele foi incorporado incialmente na Libras 
a partir de sua forma datilológica N-U-N-C-A e sofreu transformações que o fizeram 
mudar para um sinal mais enxuto, mas ainda datilológico:
65
FIGURA 13 – SINAL DE NUNCA
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1983-1984)
Ao observarmos o sinal, percebemos que ele é um empréstimo da forma 
lexical da palavra “nunca” em Língua Portuguesa e, mesmo tendo sofrido mudanças 
fonoarticulatórias, ele ainda apresenta os traços reconhecíveis da LP em sua forma. 
Sobre os empréstimos linguísticos nas línguas de sinais, Liberato (2010) coloca que eles 
podem os elencados a seguir, a fim de ilustrar melhor as exemplificações trazidas pelo 
autor, colocamos o desenho do sinal referente em Libras:
a) LEXICAIS: como o alfabeto Manual; [NUNCA, exemplo visto acima]
b) DE INICIALIZAÇÃO: onde a configuração de mão é representada pela letra inicial 
correspondente à palavra em português (GOIÁS > CM=G), e, [...] há também o 
empréstimo de itens lexicais.
FIGURA 14 – GOIÁS SINAL
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1402)
c) DE OUTRAS LÍNGUAS DE SINAIS: que se referem a sinais cuja origem é um sinal em 
outra língua, geralmente um sinal de mesmo valor semântico (ANO > ASL, VERMELHO 
> LSF), há empréstimos.
66
FIGURA 15 – ANO SINAL
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 209)
d) DE DOMÍNIO SEMÂNTICO: identificado na maioria dos sinais referentes a cores [são 
aqueles em que o sentido do sinal fica aparente na sinalização].
FIGURA 16 – VERMELHO SINAL
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 2851)
e) DE ORDEM FONÉTICA: que são obtidos pela tentativa de representação visual do som 
que constitui a palavra em português, tal como são percebidas pelo surdo. [Observe 
que o sinal SE é sinalizado como “si” o que nos permite pensar que a elaboração 
deste sinal foi baseada na percepção articulatória da palavra, tendo em vista que a 
vogal “e” em final de palavra se torna uma semivogal com o som semelhante ao “i].
FIGURA 17 – SE SINAL
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 2542)
Deste modo, podemos perceber que as línguas de sinais apresentam o 
fenômeno do empréstimo linguístico em vários de seus sinais, demonstrando o contato 
linguístico entre ela e a língua oral do país ou outras línguas de sinais. A seguir, veremos 
os conceitos de misturas, alternância e outras estratégias comunicativas que os 
indivíduos se utililizam nos contextos de contato linguístico.
67
DICA
O artigo de Machado e Quadros (2020) apresenta uma discussão bastante 
pertinente para o que discutimos nesta seção, por isso, colocaremos o resumo 
a seguir e recomendamos a leitura na íntegra.
CONTATO LINGUÍSTICO EM LIBRAS: UM ESTUDO DESCRITIVO DA INFLUÊNCIA DE 
OUTRAS LÍNGUAS DE SINAIS NA LIBRAS
Rodrigo Nogueira Machado
Ronice Muller de Quadros
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo descritivo sobre a ocorrência do 
fenômeno linguístico “empréstimos linguísticos” de diferentes línguas de sinais para a 
língua brasileira de sinais – Libras – em videoaulas de disciplinas do curso de Letras Libras 
(turma de 2006), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) baseado no estudo 
de Machado (2016). Como metodologia de pesquisa foi feita uma comparação dos sinais 
encontrados nas videoaulas com sinais extraídos de dicionários online de outras línguas 
de sinais, além de entrevistas realizadas com os sinalizantes dos DVDs e os sinalizantes 
estrangeiros para confirmar se havia alguma relação entre eles. O objetivo foi verificar 
quais sinais eram efetivamente empréstimos de outras línguas de sinais. A pesquisa 
compilou um corpus lexical de “empréstimos linguísticos entre línguas de sinais”. Esse 
corpus foi analisado com o suporte do programa Elan, utilizado nesta pesquisa para 
identificar os sinais, coletados nos vídeos. Como proposta teórica, seguimos a tipologia 
de empréstimos de línguas em contato proposto por Carvalho (2009). Os resultados 
evidenciam que o fenômeno estudado é produtivo na Libras, uma vez que apresenta 
vários empréstimos linguísticos de outras línguas de sinais.
PALAVRAS-CHAVE: Contato de línguas; Empréstimos linguísticos; Libras; Línguas de Sinais; 
Sociolinguística.
FONTE: Machado e Quadros (20202, p. 170)
Link do artigo completo: file:///C:/Users/maril/Downloads/33484-114943-1-PB.pdf.
3 ALTERNÂNCIAS (CODE-SWITCHING), MISTURAS 
(CODE-MIXING) E SOBREPOSIÇÕES (CODE-BLENDING) 
LINGUÍSTICAS
Neste subtópico, estudaremos os fenômenos de alternância (code-switching), 
mistura (code-mixing) e sobreposição (code-blending), estes são eventos em que 
as línguas em contato são alternadas, misturadas ou sobrepostas no discurso de um 
mesmo indivíduo, mas apenas em eventos específicos, ou seja, são diferentes dos 
empréstimos linguísticos, porque são momentos definidos em que ocorre o uso 
alternado, misturado ou sobreposto de duas línguas em contato, já no empréstimo, 
o contato gera a incorporação de elementos de um idioma no código linguístico de 
outra língua. Ou seja, as estratégias de alternância, misturas e sobreposição são 
pontuais e particulares, já os empréstimos, se tornam parte da língua e, por 
68
consequência, recorrentes e compartilhados socialmente pelos usuários. Para 
exemplificar, pense em um aprendiz ouvinte de língua de sinais, ele poderá utilizar a 
soletração manual para perguntar o sinal de algo no meio de um discurso em Libras, 
mas esta datilologia não passará a fazer parte da língua de sinais, já os sinais de AZUL 
e NUNCA, foram empréstimos da Língua Portuguesa que sofreram adaptação durante 
o uso e se tornaram mais adequados ao modo de sinalização da Libras, mesmo assim, 
ainda são reconhecidamente emprestados da grafia em LP. Neste exemplo, o primeiro 
uso é uma estratégia de mistura de códigos (code-mixing) em que soletração da palavra 
em LP foi inserida no meio do discurso em Libras e os sinais de AZUL e NUNCA são 
exemplos de empréstimos.
Além disso, para utilizar um sinal que foi emprestado de outra língua não 
é necessário que o indivíduo conheça a língua de onde veio a palavra, pois, existe 
uma infinidade de sinais e palavras das quais não sabemos a origem, mas que utilizamos 
sem problemas, pois elas passaram a fazer parte do léxico da língua. Porém, para ser 
capaz de utilizar estratégias linguísticas que alternam, misturam ou sobrepõem códigos 
é necessário saber utilizar mais de uma língua, ou seja, ser bilíngue em algum nível.
Quando dizemos que alguém é bilíngue, estamos afirmando que este é um 
indivíduo que tem o domínio de mais de uma língua, ou seja, ele é capaz de estabelecer 
um diálogo através de mais de uma estrutura linguística. Assim, durante a interação 
entre pessoas bilíngues,os indivíduos envolvidos podem se utilizar de estratégias 
linguísticas diversas para comunicar o que for necessário, estas estratégias discursivas 
são utilizadas de acordo com diferentes contextos sociais de enunciação. Como 
exemplo, pensemos em um professor de Libras para alunos ouvintes iniciantes, poderá 
se utilizar de simplificações estruturais, apoio no uso de LP em alguns momentos, uso 
de dactilologia, uso de discurso em que as palavras utilizadas sejam aquelas que ele 
trabalhou em aula, sinalização mais lenta e marcada para facilitar a compreensão, uso 
de alternância em a LP e a Libras para o ensino de vocabulário, mistura entre sinais e 
palavras escritas para tradução. Ou seja, neste exemplo, o professor/instrutor de Libras 
irá utilizar a LP e a Libras em contextos que elas possam ser intercambiáveis com o 
objetivo de ensinar a língua de sinais para seus aprendizes.
Assim, no exemplo dado, este é um contexto controlado em que as estratégias 
de comunicação têm como objetivo ensinar uma língua alvo a partir da língua que o 
público tem o domínio. Contudo, nem sempre o falante/sinalizante percebe as estratégias 
discursivas que utiliza, pois elas normalmente ocorrem de modo inconsciente durante a 
conversação, mesmo sendo não consciente, estes não são imotivados, pois estaria de 
acordo com o contexto social de interação (SOARES et al., 2012).
Sobre a motivação dos fenô menos de estratégias linguísticas que envolvem 
a alternância (code-switching) entre línguas diferentes em um mesmo discurso, de 
acordo com Soares et al. (2012), estas ocorrências até pouco tempo eram percebidas 
como aleatórias e características apenas dos indivíduos bilíngues imperfeitos, ou 
seja, aqueles que faziam misturas entre as línguas porque não tinham a proficiência 
69
necessária para utilizar as duas línguas de modo perfeito, deste modo, a alternância 
no discurso seria uma “[...] simples troca de vocábulos ou estruturas sintáticas, feita de 
maneira aleatória [...]”. Ou seja, o usuário alternaria entre a língua A e a língua B porque 
não saberia como comunicar o que pretendia na língua A.
Contudo, ainda, segundo Soares et al. (2012, p. 7):
[...] descobriram-se a existência de elementos motivacionais 
discursivos e/ou de natureza sociopragmática na realização dos 
enunciados híbridos. Isso quer dizer que o CS [code-switching 
– alternância] pode ser utilizado em contextos sociais para a 
transmissão de significados sutis – como identificação étnica e 
cultural, papéis/hierarquia dos participantes da interação, valores 
sociais e situacionais etc., – e ainda, no contexto da educação 
bilíngue como estratégias discursivas que desempenham diferentes 
funções – tais como ênfase, preenchimento lexical, objetivação, 
endurecimento da mensagem etc. 
Deste modo, a alternância (code-switching) entre línguas passou a ser 
percebida como um modo de o usuário da língua estabelecesse socialmente por e 
através da língua através do uso alternado e motivado discursiva e socialmente de 
dois códigos linguísticos. Assim, os autores colocam que “[...”] o fenômeno como uma 
alternância de códigos que não se restringe aos aspectos estruturais da língua, mas 
que é, antes de tudo, socialmente motivada [...]”. Assim, quando um falante alternar 
seu discurso entre duas ou mais línguas ele está realizando algo que tem origem em 
uma necessidade social de comunicação que pode ser motivada por diversos fatores 
pessoais ou situacionais que podem estar vinculados à necessidade de comunicação 
ou interação, por exemplo, demarcar um espaço linguístico enquanto pertencimento a 
uma comunidade, por exemplo, um ouvinte usuário da Libras que coloca em meio ao 
seu discurso em LP um discurso em língua de sinais para reforçar um argumento num 
debate sobre ensino de surdos.
Assim, a alternância (code-switching) é troca de um código linguístico 
para outro durante um discurso, já” [...] o code-mixing (mistura) é uma mistura de 
códigos que ocorre dentro de uma mesma sentença e que resulta em algum tipo de 
alteração de uma estrutura lexical” (SOARES et al., 2012, p. 9). Logo, a mistura (code-
mixing) é uma troca entre códigos linguísticos que se dá em um escopo menor, pois é 
um fenômeno que ocorre com a inserção de um elemento da língua B no interior 
da sentença em língua A. Por exemplo, um usuário de Libras e (ASL) American Sign 
Langue, que introduza uma palavra em ASL dentro da sentença em Libras e tenha que 
fazer alguma mudança estrutural na frase para acomodar este uso.
Em relação à sobreposição (code-blending), este é um tipo de estratégia 
em que as línguas em contato aparecem usadas ao mesmo tempo durante o discurso. 
De acordo com Xavier (2019), esta estratégia é a mais utilizada nas situações em que o 
contato se dá entre uma língua de sinais e uma língua oral porque “[...] as línguas de 
sinais e línguas orais fazem uso de articuladores diferentes e que, por essa 
70
razão, podem ser usados ao mesmo tempo”. Desta maneira, a sobreposição 
é um fenômeno linguístico observável, principalmente, no contato entre 
línguas de diferentes modalidades, tais como as línguas de sinais em contato 
com as línguas orais, pois uma é oral-auditiva e a outra visuoespacial, logo, 
é possível sobrepor partes do discurso quando utilizadas ao mesmo tempo.
Ainda segundo Xavier (2019, p. 51), o autor destaca que nas pesquisa sobre 
línguas de sinais, a maioria dos estudos se dedica a estudar a relação entre estas e 
as línguas orais devido ao contexto de bilinguismo bimodal em que os surdos estão 
inseridos, assim sendo, alternância, misturas e sobreposições são aquelas “[...] 
situações em que sinalizantes usam o vocabulário e/ou a gramática da língua 
oral durante a produção de enunciados em línguas de sinais (e vice-versa) de 
forma intersentencial, intrassentencial e simultânea, respectivamente. 
[...]”. Desta maneira, a alternância se dá entre sentenças, a mistura, no interior 
das sentenças e a sobreposição, por sua vez, acontece de modo paralelo nas 
duas línguas quando as características das línguas envolvidas permitem a 
realização ao mesmo tempo dos dois códigos linguísticos envolvidos.
Neste subtópico, debatemos sobre as estratégias discursivas e vimos que 
a alternância (code-switching), a mistura (code-mixing) e a sobreposição (code-
blending) são fenômenos linguísticos em que os indivíduos bilíngues alternam entre 
dois códigos linguísticos, misturam elementos de uma língua A dentro da sentença 
em uma língua B ou sobrepõe discurso em duas línguas de modo concomitante. Além 
disso, vimos que os empréstimos são diferentes às estratégias discursivas porque eles 
são incorporados à língua e independem de o usuário saber sua origem ou ter noções 
da língua de onde ele veio como empréstimo e as estratégias são utilizadas por usuários 
bilíngues, que utilizam alternância, mistura ou sobreposição de códigos linguísticos 
devido a contextos de transmissão de situações sociais demarcadas sutilmente ou para 
eventos de aprendizagem linguística. A seguir, trataremos dos contatos linguísticos 
que alteram mais drasticamente a estrutura das línguas envolvidas, a ponto de estas 
modificações poderem, com o tempo, o uso e o reconhecimento político darem origem 
a outras comunidades linguísticas.
4 PIDGINS, LÍNGUAS CRIOULAS E A EMERGÊNCIA DAS 
LÍNGUAS DE SINAIS
Acadêmico, neste subtópico, iremos discutir os fenômenos que alteram 
as estruturas das línguas e que, devido a isso, com o tempo, podem dar origem a 
comunidades linguísticas diversas daquelas envolvidas inicialmente. Neste contexto, 
estudaremos o pidging e a emergência das línguas crioulas.
71
O pidgin é uma estruturação linguística que é resultado de extenso contato 
entre, no mínimo, duas línguas que possuem valor socioeconômico distinto. Além 
disso, ele também tem a particularidade de ser aprendido por adultos em situações de 
emergência, ou seja, momentos em que a comunicação é necessária, mas as pessoas 
envolvidas não têm uma língua em comum. De acordo comMcCleary (2009, p. 21, grifo 
do autor):
Um pidgin não é uma língua natural, porque não existe ninguém 
que fale pidgin como primeira língua. Todo mundo que fala pidgin 
aprende por força de circunstâncias, já adulto, quando já tem uma 
outra língua materna. Todo mundo fala pidgin como segunda (ou 
terceira, ou quarta) língua. Um pidgin é uma língua emergencial 
porque aparece em situações extremas de barreiras à comunicação.
Por isso, o pidgin é um registro simplificado, precário, variável, sem 
gramática estabelecida e não natural, pois surge a partir da imposição da 
necessidade de uma forma de comunicação em contextos nos quais é urgente 
estabelecer algum modo linguisticamente compartilhado de comunicação. Assim, os 
usuários deste registro simplificado acabam por negociar linguisticamente um sistema 
muito simplificado de comunicação que evita figuras de linguagem, efeitos de sentido 
e ambiguidades, pois não é preciso falar “bonito ou corretamente, mas conseguir 
estabelecer uma comunicação” (McCLEARY, 2009, p. 21) Um exemplo de pidgin é o 
português sinalizado, pois é uma forma de comunicação que tem as características 
lexicais da Libras e a estruturação morfológica da LP, de acordo com Monteiro (2015, 
p. 100), o contexto de inserção dos surdos em um ambiente linguístico em que são 
expostos a contatos precários da língua “[...] favorece um alto nível de interferência do 
Português sobre a Libras e esse tipo de produção pidginizada [em processo de pidgin] 
costuma ser abordado na comunidade surda como ‘português sinalizado’” (MONTEIRO, 
2015, p. 100).
FIGURA 18 – MEU NOME É EM LP SINALIZADA E EM LIBRAS
FONTE: As autoras
 PORTUGUÊS SINALIZADO LIBRAS
72
Observe que na sentença feita em português sinalizado as palavras da 
LP são apenas convertidas para os sinais com a estrutura ainda em LP, sendo feito 
um sinal para cada palavra, o que não responde ao uso da Libras, já na sentença em 
Libras, temos o uso apenas do sinal de nome, pois os demais elementos das sentenças 
se encontram implícitos nas normas de uso da língua brasileira de sinais não sendo 
necessária a sinalização específica deles.
Estas características fazem do pidgin uma língua franca, ou seja, um idioma que 
é utilizado por pessoas que se utilizam de outros códigos linguísticos. Todo pidgin é uma 
língua franca, mas nem toda a língua franca é um pidgin, pois essa pode ser qualquer 
língua que pessoas que têm outras línguas maternas para a comunicação, tal como o 
latim na Idade Média, o francês no século XVIII e o inglês na atualidade (McCLEARY, 2009).
Quando uma comunidade linguística se estabelece a partir de um pidgin e as 
crianças começam a nascer e ter esta forma super simplificada como língua mãe, elas 
acabam por organizar a estrutura gramatical e regularizar as regras de uso de modo que 
uma nova língua é estruturada a partir deste processo. “Essas línguas que são faladas 
como primeira língua e que nascem em comunidades que usam pidgin como uma 
língua franca chamam-se línguas crioulas” (McCLEARY, 2009, p. 23). Desta forma, “A 
pidginização constitui o processo prévio à formação de uma língua crioula, ou seja, um 
pidgin transforma-se num crioulo quando os filhos de uma comunidade têm o pidgin 
como língua materna. A tendência do pidgin é, pois, a crioulização” (PORTO EDITORA, 
s.d., s.p., grifo nosso) Assim, o pidgin é um processo anterior ao do surgimento de uma 
língua crioula, pois não tem a organização e estrutura que caracteriza uma língua, mas 
permite a comunicação entre línguas diferentes e, este contato linguístico faz emergir 
uma comunidade linguística que se utiliza deste código, a partir do nascimento de 
crianças que terão o pidgin como vivência linguística este registro simplificado se torna 
língua ao ganhar alicerces linguísticos regulares se tornando uma língua que nasceu da 
simplificação de várias outras línguas.
Quanto ao caso da emergência das línguas de sinais, McCleary (2009) e Souza 
e Segala (2008) destacam que é necessário o contato do ente línguas de sinais para 
que seja possível o surgimento de uma língua. No caso do Brasil, os autores chamam a 
atenção para a criação do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), no Rio de 
Janeiro em 1857. Esta criação possibilitou o estabelecimento de uma comunidade surda 
e um grupo linguístico que possibilitou o surgimento de uma língua de sinais brasileira 
fortemente influenciada pela língua francesa de sinais, deste modo, quando em 1911, o 
oralismo se estabelece como política linguística para o ensino dos surdos, a Libras já 
havia se firmado como língua da comunidade surda e, por isso, seguiu utilizada, mesmo 
que clandestinamente, pelos surdos nos corredores da escola e na vida cotidiana.
73
Em contraponto, os autores destacam como se deu a emergência da língua de 
sinais na Nicarágua. Um caso curioso devido ao processo de escolarização dos surdos 
ter se dado a partir de 1946, em plena época de proibição da sinalização. Assim, é assunto 
de pesquisa como aconteceu o pidgin, que originou a língua nicaraguense de sinais, 
pois não existia a língua franca sinalizada, a conclusão das pesquisas apresentadas 
pelos autores é de que, ao serem colocados num mesmo espaço de aprendizagem, 
os surdos trouxeram seus sinais caseiros, sendo que estes são o início de “[...] uma 
comunicação simbólica. Quando as crianças surdas têm oportunidade de usar esses 
gestos na comunicação com outros surdos, eles sofrem elaborações que acabam 
resultando em uma língua natural, da mesma forma que uma língua crioula nasce de 
uma língua pidgin”. Assim, a língua se desenvolveu a partir da estruturação feita pelo 
contato entre crianças surdas e os sinais caseiros delas, mesmo num momento de 
proibição. Depois foi estabelecida uma associação de surdos em que a língua de sinais 
era utilizada de modo mais livre e menos gramatical pelos surdos mais velhos. Assim, na 
interação dos adultos e das crianças a estrutura da língua se estabeleceu e especializou, 
dando origem à língua de sinais nicaraguense.
Neste contexto de línguas de sinais naturais, línguas de contato e código 
manual, Xavier (2019, p. 51) apresenta um quadro comparativo em que destaca as 
características lexicais, morfológicas e sintáticas destes contextos. Observe o referido 
quadro reproduzido a seguir:
QUADRO 3 – DIFERENÇAS ENTRE AS LÍNGUAS DE SINAIS NATURAIS, LÍNGUAS DE SINAIS DE CONTATO 
E CÓDIGO MANUAL
Nível Língua de sinais 
natural
Língua de sinais 
de contato
Código manual
Lexical Forma Sinais e 
soletração 
manual com ou 
sem oralizações
Sinais e soletração 
com ou sem 
oralizações
Alguns sinais de 
uma língua de 
sinais, alguns 
sinais inventados, 
língua oral
Significado Próprio da língua 
de sinais
Da língua de sinais, 
da língua oral, 
idiossincráticos
Às vezes e, 
conflito com a 
língua de sinais
Morfológico Modificações 
de sinais e 
expressões não 
manuais
Modificações de 
sinais reduzidas, 
terminações 
da língua oral e 
poucas expressões 
não-manuais
Soletração 
para sufixos da 
língua oral e 
sinais artificias 
para palavras 
gramaticais
74
Sintático Ordem própria da 
língua de sinais, 
uso do espaço e 
das expressões 
não manuais
Versão simplificada 
da ordem da língua 
oral, uso reduzido 
do espaço e das 
expressões não 
manuais
Língua oral
FONTE: Xavier (2019, p. 51)
Ao analisarmos o quadro acima percebemos que as características das 
línguas de sinais naturais são bastante estruturadas, apresentando peculiaridades 
especificamente vinculadas à modalidade cinésico-visual das línguas de sinais, tais 
como as expressões não manuais e o estabelecimento dos significados próprios da 
língua de sinais. Já as línguas de contato apresentam as características intermediárias 
entre as línguas de sinais e as línguas orais; e o código manual é apenas a gestualização 
do código linguístico das línguas orais.
Deste modo, neste subtópico, estudamos o pidgin como um registro 
intermediário que pode se tornar língua franca e dar origema línguas crioulas, aquelas 
que nascem a partir da simplificação de muitas outras, mas que ganham estruturação 
e status de línguas naturais quando começam a existir falantes/sinalizantes que 
nascem num ambiente de pidgin e que transformam este registro simplificado em 
língua através da especialização e estruturação dos níveis da estrutura gramatical, 
léxico, significados, dentre outros. Depois vimos como se deu a emergência da Libras e 
debatemos sobre o caso da língua de sinais da Nicarágua, por fim, vimos o comparativo 
entre as línguas de sinais naturais, as línguas de sinais de contato e o código manual. A 
seguir, encerraremos este último tópico da Unidade 1, com uma breve discussão sobre 
a pesquisa em Sociolinguística.
5 PESQUISA SOBRE SURDEZ NA PERSPECTIVA 
DA SOCIOLINGUÍSTICA
Acadêmico, como vimos anteriormente, a Sociolinguística tem suas pesquisas 
numa área que relaciona os fenômenos da língua aos fenômenos da sociedade, de 
acordo com Mussalim e Bentes (2011, p. 16). 
[...] [A Sociolinguística] na tentativa de compreender a questão 
da relação entre linguagem e sociedade, postula o princípio da 
diversidade linguística. Além disso, a Sociolinguística inscreve-
se na corrente das orientações teóricas contextuais sobre o 
fenômeno linguístico, orientações teóricas estas que consideram as 
comunidades linguísticas não somente sob o ângulo das regras de 
linguagem, mas também sob o ângulo das relações de poder que se 
manifestam na e pela linguagem (MUSSALIM; BENTES, 2011, p. 16).
75
Assim, a área das relações entre a linguagem e sociedade é um local bastante 
interessante para os estudos sobre a Libras, pois entende a diversidade como 
constituinte do fenômeno linguístico e não dentro da noção de erro/acerto. Além disso, 
os conceitos e noções teóricos da Sociolinguística, que estudam as variações entre 
diferentes usos da língua e dos modos como a língua é lugar de poder e tensão entre os 
indivíduos e os demais sujeitos, os indivíduos e a própria língua, os indivíduos e a língua 
do outro, são bastante relevantes para a área dos estudos sobre as línguas de sinais, 
pois os usuários destas línguas acabam por viver em ambientes de tensão linguística 
deste o nascimento, tendo em vista as discussões sobre aquisição de língua materna 
e inserção da língua de sinais como um direito da pessoa surda desde seu nascimento.
Deste modo, o uso, o direito, a variação, as tensões, pressões e os 
desenvolvimentos que se dão na e pela língua fazem parte da Sociolinguística e são 
de importância para as pesquisas interdisciplinares que envolvam também a área dos 
Estudos Surdos, tendo em vista ser este o campo de pesquisas que dão destaque à 
surdez como característica identitária, cultural e linguística.
Para que estudos e pesquisas sejam realizados é necessário que seja 
determinado um método de obtenção de dados e de análise do corpus coletado, assim, 
uma das contribuições da Sociolinguística laboviana foi estruturar uma metodologia de 
pesquisa de campo com critérios claros para condução dos estudos sobre variação e 
mudança linguística. Inclusive, um dos aspectos que é muito importante nas pesquisas 
em Sociolinguística é a noção de que, para observar a língua em uso, é preciso registrar 
a fala/sinalização, tendo em vista que a escrita é muito mais engessada e muda muito 
mais lentamente. Contudo, na atualidade, vivemos uma época em que, mesmo a escrita 
está tendo variações muito ágeis devido a seu uso nas redes sociais e na internet. 
Segundo Coelho (2009), a metodologia da pesquisa laboviana tem os seguintes passos:
1) Seleção dos informantes: escolha de indivíduos representativos 
da comunidade de fala a ser observada, definição do tamanho e 
universo da amostra.
2) Metodologia de coleta de dados: dados que reflitam de forma 
fidedigna a fala/sinalização dos informantes, uso de entrevistas 
individuais com narrativas de experiências pessoais.
3) Envelope de variação: “[...] nome dado à descrição detalhada 
de uma variável, de suas variantes e dos contextos em que 
elas podem ou não ocorrer, ou seja, de como exatamente um 
fenômeno de variação está se manifestando na língua (COELHO, 
2019, p. 128).
4) Levantamento de questões e hipóteses: formulação das perguntas 
de pesquisa e levantamento de hipóteses sobre o fenômeno a 
ser observado.
5) Codificação de dados e análise estatística: atribuição de um 
código para cada fator de cada grupo, analisar estatisticamente 
como os fatores aparecem e se cruzam nos dados obtidos.
Deste modo, vemos que a pesquisa em Sociolinguística da variação apresenta 
uma metodologia bem estruturada e que prevê os passos a serem feitos deste a 
delimitação dos participantes até a análise dos dados obtidos. 
76
Neste contexto, temos então as orientações para a realização de uma pesquisa 
em Sociolinguística Variacionista. Agora, vamos retomar algo que discutimos lá no Tópico 
1, quando falamos sobre a fixação do campo de pesquisa da Sociolinguística e o texto 
inaugural de Bright (1966). De acordo com Alkmin (2011), o pesquisado estabelece que a 
Sociolinguística irá trabalhar com a diversidade linguística e, para delimitar o que seriam 
estudos vinculado à área de pesquisa ele elenca os fatores socialmente definidos com 
os quais se imagina que a diversidade linguística está relacionada. Pois bem, no quadro 
a seguir foram colocados novamente os fatores linguísticos socialmente determinados, 
as sugestões de estudos a partir da lista proposta por Bright (1966, apud Coelho, 2011), 
acrescidos de nossas sugestões para pesquisas em língua de sinais e exemplos (quando 
houver) de pesquisas para consulta.
77
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https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-10042018-132609/pt-br.php
https://repositorio.unb.br/handle/10482/39022
https://repositorio.unb.br/handle/10482/39022
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/194323
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https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/8426/2/arquivo total.pdf
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/8426/2/arquivo total.pdf
78
DICA
As pesquisas sobre as teses e dissertações que se encaixam nos estudos em 
Sociolinguística foram feitas na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações, o 
link da pesquisa feita por nós é o seguinte: https://bdtd.ibict.br/vufind/Search/
Results?lookfor=libras++sociolingu%C3%ADstica&type=AllFields&sort=year.
Caro acadêmico, com certeza, os exemplos e trabalhos citados acima tem 
cunho interdisciplinar e podem cruzar diferentes percepções sobre os estudos da 
Sociolinguística, porém todos apresentam o entendimento de que a língua e a sociedade 
são imbricadas de modo indissociável. Assim, neste subtópico, vimos brevemente os 
passos de uma pesquisa em Sociolinguística Variacionista, destacamos a necessidade 
da observação da língua em uso através de pesquisas que procurem captar a língua viva 
das conversas e da agilidade da comunicação. Por fim, sintetizamos em um quadro os 
fatores linguísticos socialmente determinados elencados no texto fundador do campo 
de pesquisa da Sociolinguística e sugerimos pesquisas em línguas de sinais, também, 
citamos trabalhos que retomam, de alguma forma, o que foi explicitado no quadro.
https://bdtd.ibict.br/vufind/Search/Results?lookfor=libras++sociolingu%C3%ADstica&type=AllFields&sort=year
https://bdtd.ibict.br/vufind/Search/Results?lookfor=libras++sociolingu%C3%ADstica&type=AllFields&sort=year
79
A VARIAÇÃO ARTICULATÓRIA EM LIBRAS E A ORIENTAÇÃO SEXUAL DO SURDO
Estudo sobre captura de movimentos e percepção linguística
Rogério Gonçalves de Oliveira
[...]
CONCLUSÃO
Buscamos, com este trabalho, dar o primeiro passo no sentido de verificar a 
existência de variação linguística relacionada à orientação sexual (heterossexual ou 
gay) de homens surdos sinalizantes. Para isso, empreendemos uma pesquisa que 
propõe a realização de três estudos: (i) a criação de um corpus linguístico com registro 
de sinalização de surdos gays e heterossexuais obtidos por sistema de captura de 
movimentos; (ii) análise da percepção linguística de surdos e ouvintes fluentes em libras 
sobre estímulos construídos com o sistema de captura de movimentos e (iii) análise dos 
dados do corpus linguístico criado. Os dois primeiros estudos foram apresentados nesta 
dissertação e o terceiro estudo será concluído no meu doutorado.
O arcabouço teórico que fundamenta esta pesquisa foi apresentado para que 
déssemos os primeiros passos à luz de recentes e relevantes estudos da sociolinguística, 
fonética e fonologia das línguas de sinais. Em seguida, explicamos os métodos utilizados 
nos dois estudos desenvolvidos nesta pesquisa, apresentamos os resultados obtidos e 
discutimos esses resultados embasados em estudos da área.
Retomamos, a seguir, os objetivos específicos previamente traçados para cada 
estudo e a conclusão a que chegamos, com base nos dados obtidos.
Estudo 1
• produzir relatórios descritivos com as medidas obtidas com a captura de movimento 
de surdos sinalizantes gays e heterossexuais. Por meio do programa Polygon, que 
faz parte do sistema Vicon de captura de movimentos, extraímos os valores dos 
ângulos formados em cada frame da sequência de localizações dos articuladores 
que compõem os movimentos bem, como os gráficos de ondas que representam 
esses movimentos [...]
LEITURA
COMPLEMENTAR
80
• organizar o corpus elaborado com os ângulos-alvo desta pesquisa, conforme o 
modelo proposto por Barbosa, Temoteo e Rizzo (2015). Identificamos, na lista de 
ângulos (Figura 10) gerados pelo programa Nexus (parte integrante do sistema Vicon), 
aqueles referentes aos cinco movimentos de interesse deste estudo: ShoulderAngles 
(eixos X Y e Z), ElbowAngles (eixo X) e WristAngles (eixo Z), conforme Quadro 3;
• quantificar os dados obtidos com o sistema de captura de movimento de surdos gays 
e heterossexuais. A partir do Estímulo 1 (composto por 80 itens lexicais), coletamos 
4000 dados (Tabela 1) e, a partir do Estímulo 2 (composto por 20 sentenças), 
coletamos 1000 dados (Tabela 2), considerando o total de cinco sujeitos (3 gays e 
2 heterossexuais), cinco movimentos de interesse do estudo e os dois membros 
superiores (esquerdo e direito) de cada sujeito.
Estudo 2
• verificar como a característica de feminilidade é identificada nas amostras. A pergunta 
do questionário de percepção sobre feminilidade foi respondida em todos os níveis 
(de 1 a 4) da escala de resposta ao menos uma vez para todos os sujeitos avaliados, 
ou seja, a todos os sujeitos foi atribuída a característica de feminilidadepelo menos 
por um participante avaliador.
• verificar se existe diferença na avaliação de feminilidade entre as amostras de surdos 
gays e heterossexuais. Os dados mostraram que os sujeitos gays foram percebidos 
como mais femininos do que os heterossexuais e a diferença na percepção é 
estatisticamente significante [...].
• verificar se a orientação sexual (gay) do sinalizante é percebida a partir do estímulo 
parcial produzido pelo sistema de captura de movimentos. A opção de resposta ³gay´ 
foi assinalada por apenas 8 dos 32 participantes do teste de percepção, sendo 5 para 
sujeitos gays e 3 para sujeitos heterossexuais. Os dados mostraram que não se trata 
de uma diferença significativa [...]
• verificar a existência de diferença de percepção entre surdos e ouvintes fluentes em 
libras sobre a sinalização de surdos gays e heterossexuais. Os dados mostraram que 
não há diferença estatisticamente significante entre as avaliações de feminilidade e 
da orientação sexual (gay) dos participantes surdos e ouvintes fluentes em libras [...]
• verificar se existe correlação entre a percepção de aspectos fonético-fonológicos 
da Libras e a percepção de características sociais da sinalização das amostras de 
surdos gays e heterossexuais. Os testes de correlação entre as quatro variáveis 
sociais (inteligência, formalidade, feminilidade e classe social) e as quatro variáveis 
linguísticas (movimentação corporal, ritmo, posição espacial dos sinais e uso do 
número de mãos) apontaram três correlações estatisticamente significantes: 
inteligência X movimentação corporal, inteligência X posição espacial dos sinais e 
inteligência X ritmo (todas envolvendo sujeitos gays e a variável inteligência).
81
A pesquisa que desenvolvemos partiu de algumas hipóteses que retomamos 
abaixo, com suas devidas conclusões:
• há variação articulatória relacionada à orientação sexual (gay e heterossexual) do 
surdo sinalizante. Como dissemos, nos propusemos a dar o primeiro passo no sentido 
de testar essa hipótese: criar um corpus linguístico composto por informações 
articulatórias coletadas por meio do sistema de captura de movimentos (Estudo 1). 
A análise desses dados e a consequente verificação da hipótese serão alvo do meu 
doutorado.
• surdos gays são percebidos como mais femininos quando comparados com surdos 
heterossexuais. Esta hipótese foi confirmada. Os dados mostraram que houve 
diferença estatisticamente significante na percepção de feminilidade entre os 
sujeitos gays (avaliados como mais femininos) e os sujeitos heterossexuais (avaliados 
como menos femininos).
• surdos gays são percebidos como gays quando comparados com surdos 
heterossexuais. Esta hipótese não foi confirmada. Os dados mostraram que não 
houve diferença significativa na seleção da opção de resposta gay´ entre os sujeitos 
gays e os heterossexuais.
Cabe ressaltar que a pesquisa que se iniciou com este trabalho busca contribuir 
para o conhecimento linguístico das línguas de sinais - sobretudo no que diz respeito 
ao fenômeno da variação linguística nesta modalidade de língua - e motivar futuras 
pesquisas a utilizarem novos recursos como a captura de movimentos.
Retomando as considerações Schembri e Lucas (2015), os argumentos que 
norteiam as pesquisas atuais e que devem influenciar futuras pesquisas já são diferentes 
daqueles que conduziram as pesquisas em sociolinguística das línguas de sinais no 
final do século passado. Os autores apontam que as pesquisas atuais e futuras devem, 
entre outras considerações, (i) incluir análises de variação em línguas de sinais além 
das tradicionais ASL, LIS, BSL, Auslan e NZSL, e começar a explorar como as chamadas 
segunda onda´ e terceira onda´ de abordagem dos estudos de variação (ECKERT, 2012) 
podem ser aplicadas de forma útil a uma compreensão do uso de línguas de sinais 
em comunidades surdas e (ii) explorar o efeito das novas tecnologias na estrutura 
do discurso e na metodologia de coleta de dados. Portanto, refletindo sobre essas 
considerações - que, de certa forma preveem parte do caminho que a sociolinguística 
das línguas de sinais deve seguir na esfera da produção científica -, nossa pesquisa se 
insere nesse novo caminho.
Por fim, cabe reforçar a importância dos estudos sociolinguísticos em 
comunidades surdas no sentido de empoderar pessoas surdas em todo o mundo e 
lembrar que língua, cultura e surdez trabalham juntas para formar comunidades únicas.
FONTE: Oliveira (2017, p. 97-101)
82
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• O contato linguístico se faz entre indivíduos usuários de línguas diferentes que 
necessitam se comunicar, esta necessidade cria uma tensão comunicativa que irá 
ocasionar diferentes níveis de tensões e interações entre os indivíduos, logo, é uma 
situação de conflito que se estabelece na e através da língua.
• Estas discussões sobre contato linguístico são relevantes para os debates sobre os 
direitos linguísticos do povo surdo e sua inserção social.
• A diferença entre interferências e empréstimos linguísticos é que na primeira a troca 
de um traço fonético, morfológico ou lexical entre duas línguas acontece sempre de 
modo individual e involuntário, já no empréstimo, a troca destes traços acontece de 
modo integrado ao uso da língua.
• Os empréstimos linguísticos nas línguas de sinais podem ser lexicais, de inicialização, 
de outras línguas de sinais, de domínio semântico e de ordem fonética.
• As estratégias de alternância, misturas e sobreposição são pontuais e particulares, já 
os empréstimos, se tornam parte da língua, por isso, são recorrentes e compartilhados 
socialmente pelos usuários.
• Uma pessoa bilíngue é um indivíduo que tem o domínio de mais de uma língua, 
ou seja, ele é capaz de estabelecer um diálogo através de mais de uma estrutura 
linguística.
• A alternância (code-switching) é troca de um código linguístico para outro durante 
um discurso.
• A mistura (code-mixing) é uma troca entre códigos linguísticos que se dá em um 
escopo menor, pois é um fenômeno que ocorre com a inserção de um elemento da 
língua B no interior da sentença em língua A.
• A sobreposição (code-blending) é um tipo de estratégia em que as línguas em contato 
aparecem usadas ao mesmo tempo durante o discurso, de acordo é a mais utilizada 
nas situações em que o contato se dá entre uma língua de sinais e uma língua oral, 
pois as modalidades diferentes permitem a sobreposição.
83
• O pidgin é um registro simplificado, precário, variável, sem gramática estabelecida 
e não natural, pois surge a partir da imposição da necessidade de uma forma 
de comunicação em contextos nos quais é urgente estabelecer algum modo 
linguisticamente compartilhado de comunicação.
• Um exemplo de pidgin é o português sinalizado, pois é uma forma de comunicação 
que tem as características lexicais da Libras e a estruturação morfológica da LP.
• A tendência do pidgin é a crioulização.
• O pidgin é um processo anterior ao do surgimento de uma língua crioula, pois não tem 
a organização e estrutura que caracteriza uma língua, mas permite a comunicação 
entre línguas diferentes e, este contato linguístico faz emergir uma comunidade 
linguística que se utiliza deste código, a partir do nascimento de crianças que terão o 
pidgin como vivência linguística este registro simplificado se torna língua ao ganhar 
alicerces linguísticos regulares se tornando uma língua que nasceu da simplificação 
de várias outras línguas.
• A emergência das línguas de sinais se dá através do contato entre línguas de sinais.
• A Sociolinguística é um local bastante interessante para os estudos sobre a Libras, 
pois entende a diversidade como constituinte do fenômeno linguístico e não dentro 
da noção de erro/acerto.
• O uso, o direito, a variação, as tensões, pressões e os desenvolvimentos que se dão 
na e pela língua fazem parte da Sociolinguística e são de extrema importância para 
as pesquisas interdisciplinares, que envolvam também a área dos Estudos Surdos, 
tendo em vistaser este o campo de pesquisas que dão destaque à surdez como 
característica identitária, cultural e linguística.
• Uma das contribuições da Sociolinguística laboviana foi o estruturar uma metodologia 
de pesquisa de campo com critérios claros para condução dos estudos sobre variação 
e mudança linguística.
84
1 Estão inseridas no contexto de contacto linguístico as pessoas surdas, pois elas já 
nascem inseridas em uma comunidade linguística em que a modalidade da língua 
não é capaz de prover os elementos linguísticos adequados para a sua comunicação. 
É neste contexto que se origina um dos grandes dilemas quanto à inserção da língua 
de sinais no cotidiano da criança surda desde o nascimento, pois muitos são filhos 
de pais ouvintes e passam, muitas vezes, por diferentes profissionais, diagnósticos e 
estágios até, talvez, terem acesso à sua língua de sinais, aquela que deveria ser sua 
língua materna ou L1. Avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
I- As discussões sobre contato linguístico são relevantes para os debates sobre os 
direitos do povo surdos e sua inserção social
PORQUE
II- Os surdos vivem em sociedade majoritariamente ouvintes e isso acarreta tensões 
linguísticas constantes.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa 
correta da primeira.
b) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma 
justificativa correta da primeira.
c) ( ) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda, uma proposição 
falsa.
d) ( ) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda, uma proposição 
verdadeira.
2 De acordo com o que foi estudado neste Tópico 3, pidgin são as línguas que surgem 
do contato entre duas línguas através das quais os usuários precisam se comunicar, 
por isso, não têm as características que estruturam uma língua. Assim, explique por 
que o chamado Português Sinalizado é um exemplo de pidgin?
3 O empréstimo linguístico é o fenômeno em que uma língua passa a incorporar em 
seus usos traços linguísticos ou vocabulares que já faziam parte de outra língua. 
O sinal de AZUL é um exemplo de léxico que foi incorporado à Libras a partir da 
soletração manual das palavras em Língua Portuguesa. Sobre este vocábulo, observe 
a evolução do sinal referente à cor AZUL e analise as sentenças a seguir:
AUTOATIVIDADE
85
COR AZUL SINAL
FONTE: Strobel e Fernandes (1998, p. 5)
I- Na primeira etapa, vemos que o sinal de AZUL foi um empréstimo direto da Língua 
Portuguesa através da datilologia.
II- Na segunda etapa, vemos que a realização do sinal de AZUL sofreu alterações 
que suprimiram parte das letras, mas mantiveram o movimento da Esquerda para 
a Direita.
III- Na terceira etapa, vemos que o sinal de AZUL foi ampliado em sua movimentação.
IV- Na terceira etapa, vemos que o sinal de AZUL mantém traços de ter sido um 
empréstimo do português.
Assinale a alternativa que apresenta a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença IV está correta.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.
4 A noção de variação linguística presente nas pesquisas em Sociolinguística é de grande 
importância para os estudos na área da surdez porque pressupõem a observação 
da língua em uso dentro da comunidade linguística e percebe as diferenças como 
variações e não como erros. Partindo do que foi estuado neste tópico e dos exemplos 
elencados, imagine um estudo que envolvesse a Sociolinguística e a Libras e coloque 
o esboço de sua pesquisa a seguir:
5 Sobre os fenômenos de alternância (code-switching), mistura (code-mixing) e 
sobreposição (code-blending), eventos em que as línguas em contato são alternadas, 
misturadas ou sobrepostas no discurso de um mesmo indivíduo bilíngue em eventos 
específicos. Assinale a alternativa CORRETA sobre as estratégias de alternância, 
mistura e sobreposição:
a) ( ) São utilizadas de modo recorrentes e socialmente compartilhados.
b) ( ) Dispensam o conhecimento das línguas envolvidas para seu uso.
c) ( ) Estabelecem um diálogo através de mais de uma estrutura linguística.
d) ( ) Tornam-se parte das estruturas fixas das línguas em contato.
86
REFERÊNCIAS
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ANATER, G. I. P.; PASSOS, G. Mecanismos de coesão textual visual em uma narrativa 
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https://publicacao.uniasselvi.com.br/index.php/LED_EaD/article/view/1197
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https://pt.slideshare.net/LucianaClaudiaZambillo/comunicao-37436579
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LINGUAGEM E 
SOCIOLINGUÍSTICA
UNIDADE 2 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• distinguir as diferentes concepções de linguagem presentes na sociedade;
• refletir sobre a relação entre língua, cultura e sociedade;
• compreender as particularidades das abordagens de ensino de uma língua adicional;
• diferenciar as visões ideológicas sobre os surdos a partir das filosofias de educação 
de surdos.
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de 
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
TÓPICO 2 – UM OLHAR SOCIOLÍNGUÍSTICO SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
TÓPICO 3 – LÍNGUAS EM CONTATO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
92
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 2!
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93
TÓPICO 1 — 
AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da leitura e dos estudos da Unidade 2, você perceberá que esta 
disciplina tem, como interesse, abordar o que a Sociolinguística estuda, direcionada 
para a Língua Brasileira de Sinais-Libras, por isso, o título da disciplina, Sociolinguística 
da Libras. É importante ressaltar que esse tema é perpassado por vários outros, os quais 
envolvem outras linguagens e diferentes visões e interlocutores presentes nas situações 
sociais. Daí a necessidade e a relevância de falarmos das concepções de linguagem, 
uma vez que elas regem a nossa constituição como sujeitos, as nossas visões do outro 
e do mundo, no qual interagimos cotidianamente.
Conhecer as diferentes concepções de linguagem é importante, também, para 
a própria constituição e atuação como acadêmico, como professor, como cidadão na 
sociedade contemporânea, e para a compreensão dos desdobramentos dos processos 
de ensino e aprendizagem de língua materna e/ou língua adicional.
A língua materna pode ser definida como a primeira língua que adquirimos, 
também, chamada de L1 (GORSKI, 2010). Ainda, é nomeada de língua de casa, a depender 
da visão de linguagem. No que se refere à língua adicional, envolve as línguas aprendidas 
após a língua materna. Não se trata, apenas, de um novo termo na área da educação 
linguística, mas de um novo olhar, o qual envolve práticas de ensino que consideram as 
outras línguas que o ser humano aprende (LEFFA; IRALA, 2014; SCHLATTER; GARCEZ, 
2012). Para tanto, para compreendermos melhor os papéis desses termos nas situações 
de ensino e aprendizagem de línguas, dedicaremos o próximo tópico às concepções de 
linguagem. Vamos lá?!
NOTA
Neste livro, o termo língua é usado como equivalente de linguagem, 
pois entendemos a linguagem como uma forma de comunicação, seja de 
modo verbal ou não verbal. Logo, no presente texto, a língua é estudada e 
compreendida no contexto de comunicação verbal, e, socialmente, situada.
94
IMPORTANTE
Neste livro, trazemos a concepção de língua materna como a primeira 
língua que aprendemos. No entanto, essa não é a realidade de muitos 
surdos em relação à Língua Brasileira de Sinais, visto que a maioria deles 
nasce em famílias de ouvintes, e acabam tendo contanto com a Libras de 
forma tardia.
Para explorar mais esse assunto, recomendamos a leitura, na íntegra, do artigo de Zilda 
Maria Gesueli, Língua(gem) e identidade: a surdez em questão. Para você ter uma 
ideia do que ele trata, segue o resumo do artigo.
RESUMO: Este trabalho discute o papel da língua de sinais 
na construção da identidade surda. Diferentes autores têm 
discutido a relação língua(gem) na construção da identidade, 
destacando-se que esta se constitui a partir da significação 
– ao significar, o sujeito se significa (Orlandi, 1998). Dessa 
forma, buscamos trazer essa discussão para o campo da 
surdez, levando em conta que o interlocutor privilegiado da 
criança surda é o próprio surdo, e o lugar de contato com 
essa língua se dá, para a maioria dos alunos, dentro das 
instituições, ou escolas especiais para surdos. Observamos 
que a inserção do professor surdo na sala de aula contribui 
para que os alunos, não somente, encontrem possibilidades 
de construção da narrativa em língua de sinais, mas, também, 
percebam-se como surdos, construindo uma identidade já 
na idade de 5-7 anos, assumindo e diferenciando papéis na 
interação, principalmente, em relação ao professor surdo e 
ao professor ouvinte. A perspectiva da educação bilíngue, na 
área da surdez, está antecipando a consciência dos próprios 
surdos sobre o significado da surdez, o que, há bem pouco 
tempo, acontecia, somente, na idade adulta.
Palavras-chave: Linguagem. Surdez. Identidade. Língua de sinais.
FONTE: Gesueli (2006, p. 277)
O artigo está disponível em http://www.scielo.br/pdf/es/v27n94/a14v27n94.pdf ou no Qr-
code inserido a seguir.
2 CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E SOCIOLINGUÍSTICA
A linguagem é utilizada em todo e qualquer momento da vida. Ela é a essência da 
comunicação, pois, por meio dela, ensinamos, aprendemos, trabalhamos, planejamos, 
construímos entendimentos e nos posicionamos no mundo. A linguagem (re)constrói a 
identidade e mostra as ideologias que ancoram nossas visões e ações presentes nas 
relações sociais.
http://www.scielo.br/pdf/es/v27n94/a14v27n94.pdf
95
A linguagem é o fundamento das sociedades. Ela constitui culturas, valores e 
histórias de grupos sociais; cria e amplia a tecnologia; e possibilita, ao indivíduo, dar 
significado ao mundo, transformar a visão sobre o universo, sobre si mesmo, ao perceber 
e interagir com a realidade, de acordo com a própria necessidade comunicativa.
Considerando que a linguagem é indissociável do ser humano, somos capazes 
de refletir sobre ela, inclusive,sobre o que concerne ao uso dela nas interações sociais, 
ao ensino e aprendizagem de línguas, sejam orais ou línguas de sinais. Assim, trataremos, 
a seguir, das concepções de linguagem.
Não falaremos das concepções de modo historiográfico, mas consideramos 
importante mencionar Saussure (2012), considerado o fundador da Linguística, 
que faz a abordagem da linguagem pelo viés do estruturalismo. Considera que ela 
se compartimenta em duas partes indissociáveis: a língua (langue), que existe no 
contexto social, e a fala (parole), de realização individual. Para Saussure (2012), a língua 
é compreendida como homogênea e organizada estruturalmente, enquanto a fala é 
concebida como algo diverso, por ser individual.
NOTA
De acordo com Porfírio (2018, s.p.), o estruturalismo é uma metodologia 
de análise utilizada nas ciências humanas, sendo que tem, como objetivo, 
“[...] entender o modo como uma estrutura geral perpetua em todos os 
graus de uma base. Ao se compreender essa base, é possível entender 
como o conhecimento se dá naquela área [...]”. Desse modo, a perspectiva 
estruturalista, na linguística, pretende compreender a estrutura através da 
qual a língua se organiza. 
Dito isso, apresentaremos três possibilidades distintas de conceber a 
linguagem, a saber: a linguagem como expressão do pensamento; a linguagem 
como instrumento de comunicação; e, por último, a linguagem como processo de 
interação. Falamos de possibilidades pois acreditamos que o mundo da interação com 
e na linguagem é dinâmico, assim, não consideramos as concepções como verdades 
estanques. Essas concepções podem nortear o ensino de Libras como língua materna 
para os surdos, e o ensino do Português como língua adicional.
Para abordarmos a concepção de linguagem como expressão do 
pensamento, inicialmente, traremos uma figura que se aproximará dessa visão de 
linguagem, com duas pessoas interagindo e os pensamentos delas sendo representados 
por meio de desenhos, como carta, e-mail, vídeo, notas de músicas, mensagens de 
texto, mensagens em áudio etc., como se a linguagem fosse um “espelho” que refletisse 
os pensamentos, ou seja, o indivíduo, para essa concepção, representa, por meio da 
linguagem, o que pensa.
96
FIGURA 1 – CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/funcoes-da-linguagem/>. Acesso em: 18 dez. 2021.
Nessa concepção, como podemos perceber pela figura anterior, a linguagem 
é um reflexo do pensamento, que, por sua vez, é produzido no âmbito psíquico do ser 
humano, e se correlaciona à capacidade do indivíduo de organizar as próprias ideias, 
o que exclui os fatores sociais para a organização do pensamento e a exposição da 
linguagem. Nessa visão de linguagem, Geraldi (2011a) destaca que as pessoas não 
se expressam “bem”, isto é, não falam ou escrevem “bem”, mostram ter algum tipo de 
organização das ideias, de modo que comprometem a produção de falas claras, corretas, 
de acordo com a norma padrão, o que se alinha à concepção inatista da língua.
Conforme Travaglia (2009), para as organizações lógicas do pensamento e 
da linguagem, é necessário seguir regras. Essas regras constituem e determinam o 
falar e o escrever do indivíduo como “certos” ou “errados”. Dessa concepção, resulta 
uma ideologia de que quem fala e escreve “bem” domina, com maestria, as normas 
gramaticais da língua, pois organiza, de modo lógico e claro, o pensamento. Assim, 
nessa concepção, a linguagem é concebida como um sistema de normas, organizada 
de modo que o aspecto social não tem relevância para a organização dela. 
Compreendemos que o ensino da língua materna, na escola, por meio dessa visão 
de linguagem, está pautado nas normas gramaticais, visto que a língua é considerada um 
sistema de regras imutável. Nesse sentido, a diversidade e a variação linguística não são 
fenômenos necessários e importantes para o ensino, já que conflitam com a regularidade 
da língua, que é tão marcada nessa concepção, o que abre espaço para o preconceito 
linguístico e para invisibilização das línguas minoritárias (CAVALCANTI, 2011). 
A segunda concepção, a linguagem como instrumento de comunicação, 
conforme Travaglia (2009), é concebida como um meio de comunicação. A língua é vista 
como um código, composto por um conjunto de signos que se combinam, de acordo com as 
regras gramaticais da língua, sem ser levado em conta o contexto social para a transmissão 
da mensagem de um emissor a um receptor, representada na figura a seguir. 
https://escolaeducacao.com.br/funcoes-da-linguagem/
97
FIGURA 2 – A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/elementos-da-comunicacao/>. Acesso em: 18 dez. 2021.
De acordo, ainda, com Travaglia (2009), e como podemos perceber na figura 
anterior, um emissor e um receptor devem dominar o código para que aconteça uma 
comunicação eficaz. Para essa concepção, o emissor tem, em mente, uma mensagem, 
um código a ser transmitido para o receptor, com foco na estrutura da língua, não 
no contexto social. Assim, as regras da estrutura da língua, organizadas nos níveis 
morfológico, fonológico e sintático, são os instrumentos usados para transmitir 
a mensagem. Assim como na primeira concepção de linguagem apresentada, as 
variedades não padrão não são consideradas relevantes para a comunicação.
NOTA
O termo minoritário tem um sentido ideológico, e não se refere à quantidade 
de falantes da língua. A língua minoritária não é falada por uma quantidade 
específica, ela é minoritarizada na sociedade, diante de ideologias que 
destacam um falante e uma língua ideal (CAVALCANTI, 2011).
A última concepção considera a linguagem como um processo de interação. 
Diferente das outras concepções apresentadas, nessa, as influências dos contextos 
social, histórico, cultural e ideológico, em uma determinada situação de comunicação, 
são aspectos relevantes. A língua é considerada heterogênea, mutável e dinâmica, e o 
falante da interação e as questões sociais dele, também, têm lugar de relevância nessa 
concepção de linguagem. Nesse sentido, Travaglia (2009, p. 23) pontua que “os usuários 
da língua, ou interlocutores, interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e 
“falam” e “ouvem” desses lugares, de acordo com formações imaginárias (imagens) que 
a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais”. 
Observe, na figura a seguir, as pessoas interagindo, e, notadamente, conversando, 
o que podemos perceber através das posições em que se encontram. Nessa figura, é 
possível perceber que a interação humana é caracterizada por aspectos que vão desde 
possíveis movimentos faciais até a orientação, a direção e a postura do corpo, o que 
influencia no comportamento interacional. 
https://www.todamateria.com.br/elementos-da-comunicacao/
98
FIGURA 3 – LINGUAGEM COMO UM PROCESSO DE INTERAÇÃO
FONTE: <https://bit.ly/3SDoyxp>. Acesso em: 18 dez. 2021.
O ensino da língua materna, na concepção da linguagem como modo de 
interação, prioriza não somente o conhecimento da gramática da língua, mas, sobretudo, 
os usos sociais. Essa visão de linguagem não descarta o ensino da gramática da língua, 
mas enfatiza a importância de que aluno use a língua de um modo que faça sentido, 
e que as experiências sociais dele sejam levadas em conta na interação. Desse modo, 
Zanini (1999, p. 84) afirma que “[...] isso não significa banir a gramática, ou seja, o 
conhecimento das normas que regem a língua materna. Significa lhes oportunizar [aos 
alunos] a aproximação com a modalidade padrão culta”.
Nesses termos, o ensino de uma língua materna, seja o Português, ou a Libras, 
nessa concepção, não separa o conteúdo gramatical do social, do ideológico, do 
cultural. O ensino da gramática deve ser feito de um modo contextualizado. Professores 
e alunos, como atores sociais importantes no processo de ensino e aprendizagem da 
língua, necessitam atuar de uma maneira colaborativa e com mais liberdade.
A fim de sintetizar o que vimos sobre as concepçõesda linguagem
QUADRO 1 – RESUMO DAS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
Linguagem
como expressão do 
pensamento
MENTE
Linguagem
como instrumento de 
comunicação
CÓDIGO
Linguagem
como um processo de 
interação
INTERAÇÃO
A língua é uma 
capacidade inata do ser 
humano que lhe permite 
reconhecer/espelhar 
as sentenças da língua 
estudada.
A língua é vista como um 
código, e a organização 
dela, para a comunicação 
entre emissor e receptor, 
independe do contexto 
situacional. 
A língua é um processo 
interacional e social, no 
qual estão presentes as 
ideologias, as culturas, as 
experiências dos falantes 
na interação. 
FONTE: Adaptado de Geraldi (2011a), Travaglia (2009) e Zanini (1999)
99
Ao analisarmos a síntese apresentada neste quadro, podemos compreender 
que as três concepções percebem a linguagem de maneira diferentes. Estes modos 
diversos de entender a linguagem estão relacionados à forma como cada uma das 
vertentes observa facetas diferentes do fenômeno linguístico, pois tentam explicar 
como se dá a estruturação a partir de visões que valorizam aspectos diversos. A seguir, 
falaremos do purismo linguístico, tema em destaque nas duas primeiras concepções. 
Faremos uma reflexão de o quanto essa ideologia de linguagem pode não corresponder 
à realidade, tão diversa, linguística, e, culturalmente, presente na sociedade.
DICA
Para aprofundar os seus conhecimentos de concepção 
de linguagem, assista ao vídeo Concepção de Linguagem, 
disponibilizado na plataforma YouTube, pelo link: https://
www.youtube.com/watch?v=xidEFjMrmes.
2.1 PURISMO LINGUÍSTICO
Antes de tecermos comentários a respeito do purismo linguístico, abordaremos o 
mito do monolinguismo no Brasil, uma visão de linguagem, historicamente, estabelecida, 
que tenta ressaltar que, no Brasil, fala-se uma única língua, e traz a ideia de que a 
unidade nacional só é possível em uma base unilíngue. Essa visão de linguagem, ao 
afirmar que o país é monolíngue, deixa de lado mais de 274 línguas indígenas; as línguas 
de fronteira, como o guarani; as de imigrantes; e a Língua Brasileira de Sinais (MOITA 
LOPES, 2013).
Além de não considerar as línguas mencionadas, essa visão de linguagem 
fomenta o preconceito linguístico em relação às variedades dessas línguas, pois, muitas 
vezes, a única diversidade considerada é a da língua portuguesa. Essa concepção vai na 
contramão das realidades social e linguística do país, visto que, na contemporaneidade, 
está cada mais visível um fluxo intenso de diferentes línguas e culturas.
De acordo com Bagno (2007), o preconceito linguístico está enraizado na 
cultura do Brasil. O autor destaca que esse preconceito é perigoso e perverso como 
qualquer outro, e que existem alguns meios que o fomentam, como os de comunicação, 
de rádio e TV, com o intuito de dicotomizar as falas dos indivíduos em certas e erradas. 
Nas palavras do autor:
[...] o que vemos é esse preconceito ser alimentado, diariamente, em 
programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, 
em livros e manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que 
é “errado”, sem falar, é claro, dos instrumentos tradicionais de ensino 
da língua: as gramáticas normativas e boa parte dos livros didáticos 
disponíveis no mercado (BAGNO, 2007, p. 23).
https://www.youtube.com/watch?v=xidEFjMrmes
https://www.youtube.com/watch?v=xidEFjMrmes
100
Segue um exemplo de preconceito linguístico em relação à Libras. Apesar 
do uso e da difusão da Língua Brasileira de Sinais, ainda, encontramos falas que 
relacionam a Libras à mímica. De acordo com Gesser (2009), essa ideia que permeia 
a sociedade tem a ver com a forma por meio da qual os ouvintes veem os surdos, 
tratando-os de forma exclusiva e pejorativa. Apresentaremos uma figura que fará 
referência à afirmação da autora, a de que Libras não é mímica, mas uma língua natural 
que emergiu da comunicação entre surdos, e que, assim como as línguas orais, possui 
uma gramática própria.
FIGURA 4 – LIBRAS NÃO É MÍMICA
FONTE: <http://librasitz.blogspot.com/2016/10/libras-nao-e.html>. Acesso em: 18 dez. 2021.
Ademais, Gesser (2009) faz reflexões e entrega alguns questionamentos e 
mitos relativos à surdez, à língua de sinais e aos surdos, mais propriamente, às relações 
dos ouvintes com esse tema. 
FIGURA 5 – LIVRO “LIBRAS? QUE LÍNGUA É ESSA?”, DE AUDREI GESSER
FONTE: <https://amzn.to/3UPRELV>. Acesso em: 18 dez. 2021
http://librasitz.blogspot.com/2016/10/libras-nao-e.html
101
Para Bagno (2007), o preconceito linguístico produz diferentes mitos. O autor 
pontua alguns mitos relacionado com a Língua Portuguesa, os quais podem ser, também, 
pensados em relação à Libras e ao ensino de Português para os surdos, a saber: o 
Português é uma língua muito difícil, pois se reduz ao ensino e à aprendizagem de regras 
gramaticais; saber gramática é essencial para escrever e falar bem; o domínio da norma 
culta é, extremamente, importante e necessário para a ascensão social. Esses mitos podem 
ser um grave entrave se reproduzidos no contexto de ensino de Português para surdos, 
visto que muitos deles, conforme já mencionado, aprendem a língua de sinais tardiamente, 
e isso traz consequências para a aprendizagem da língua portuguesa como língua adicional 
(GESSER, 2009). Desse modo, em um contexto de educação de surdos e/ou de pessoas 
ouvintes, é preciso repensar nesses mitos, pois se deve considerar a singularidade do aluno 
e as realidades social e educacional dele, para que o processo de escolarização não seja um 
ensino voltado ao padrão, à norma e ao purismo da língua.
De acordo com McCleary (2009, p. 39, grifos do autor), o purismo é:
[...] a atitude de que existe um estado "puro" da língua, e que é 
necessário zelar para manter esse estado, ou (mais comumente) 
voltar para um estado mais puro da língua que já existia, mas que se 
perdeu com as mudanças. Em geral, qualquer mudança, na língua, é 
vista como negativa. Purismo é uma atitude mais reacionária do que 
conservadora. Obviamente, do ponto de vista da sociolinguística, não 
existe um estágio melhor ou pior de uma língua, desde que ela esteja 
sendo usada, energeticamente, por uma comunidade de usuários, 
servindo todas as suas necessidades comunicativas e expressivas. 
Para o linguista, o único estado ruim, para uma língua, é quando ela 
começa a perder falantes nativos e entra em processo de extinção.
Sobre esta discussão podemos destacar que Milroy (2011) acrescenta que o uso 
da norma, com o intuito de padronizar a língua, com base em um purismo linguístico, 
evitando que ela se “misture” com outras línguas, é uma imposição que consiste em 
eleger determinadas estruturas, ou variedades da língua, como as únicas, corretas e 
aceitáveis. Nessa visão de língua, não existe a possibilidade de usar duas variedades 
da língua, pois, somente, uma está certa, e a língua deve manter o próprio purismo, 
deixando de lado os empréstimos linguísticos e os neologismos.
NOTA
Como vimos anteriormente na Unidade 1, os empréstimos linguísticos são 
palavras ou partes de palavras que são incorporadas em uma língua a partir 
do uso de palavras ou expressões pertencentes ao léxico de outra língua. Por 
exemplo, o uso da palavra o sinal referente à cor AZUL que carrega traços da Língua 
Portuguesa em sua configuração. 
Já os neologismos são palavras ou sinais novos criados a partir de palavras que existem 
na língua, de acordo com Rosa e Potin (2012) este seria um fenômeno observável no uso 
do sinal de passarinho para fazer referência ao Twitter, alterando a referência do sinal de 
acordo com o contexto para abarcar a necessidade de referência à rede social.
102
INTERESSANTE
Na leitura que apresentaremos a você a seguir, recortaremos um trecho 
do livro O Texto na Sala de Aula, de João Wanderley Geraldi. Nesse texto, 
o autor situa a linguagem como o lugar de constituição de relações 
sociais, onde os falantes se tornam sujeitos, e destaca a importância 
de a escola ser um espaço democrático para as diferentes variedades 
linguísticas presentesna Libras na Língua Portuguesa.
[...] 
A interação linguística
A língua só tem existência no jogo que se joga na sociedade, na interlocução. 
No interior desse funcionamento, pode-se procurar estabelecer as regras de 
tal jogo. Tomo um exemplo. Dado que alguém (Pedro) dirija, a outro (José), uma 
pergunta, como: “Você foi ao cinema ontem?” Tal fala de Pedro modifica as relações 
dele com José, ao estabelecer um jogo de compromissos. Para José, só há duas 
possibilidades: responder (sim ou não) ou colocar, em questão, o direito de Pedro de 
lhe dirigir tal pergunta (fazendo de conta que não ouviu ou respondendo “o que você 
tem a ver com isso?”) No primeiro caso, diríamos que José aceitou o jogo proposto 
por Pedro. No segundo caso, José não aceitou o jogo e colocou, em questão, o 
próprio direito de jogar, assumido por Pedro. Estudar a língua é, então, tentar 
detectar os compromissos que se criam por meio da fala e as condições que devem 
ser preenchidas por um falante para falar, de certa forma, em determinada situação, 
concreta de interação. Dentro de tal concepção, já é insuficiente fazer uma tipologia 
entre frases afirmativas, interrogativas, imperativas e optativas a que estamos 
habituados, seguindo manuais didáticos ou gramáticas escolares. No ensino da 
língua, nessa perspectiva, é muito mais importante estudar as relações que se 
constituem entre os sujeitos no momento em que falam do que, simplesmente, 
estabelecer classificações e denominar os tipos de sentenças. 
A democratização da escola
Tal perspectiva, ao nos jogarmos, diretamente, no estudo da linguagem em 
funcionamento, também, obriga-nos a uma posição, na sala de aula, em relação 
às variedades linguísticas. Refiro-me ao problema enfrentado, cotidianamente, pelo 
professor, das variedades, quer sociais, quer regionais. Afinal – dadas as diferenças 
dialetais e dado que sabemos, hoje, por menor que seja a nossa formação, que tais 
variedades correspondem a distintas gramáticas –, como agir no ensino? Parece-
me que um pouco da resposta à perplexidade de todos aqueles que, de uma forma 
ou de outra, estão envolvidos com o sistema escolar, em relação ao baixo nível 
de ensino contemporâneo, pode ser buscado no fato de que a escola, hoje, não 
recebe, apenas, alunos provenientes das camadas mais beneficiadas da população. 
103
A democratização da escola, ainda que falsa, trouxe, em seu bojo, outra clientela, 
e, com ela, diferenças dialetais bem acentuadas. De repente, não damos aulas 
só para aqueles que pertencem ao nosso grupo social. Representantes de outros 
grupos estão sentados nos bancos escolares, e eles falam diferente. Sabemos que 
a forma de fala que foi elevada à categoria de língua nada tem a ver com a qualidade 
intrínseca dessa forma. Fatos históricos (econômicos e políticos) determinaram 
a “eleição” de uma forma, como a língua portuguesa. As demais formas de falar, 
que não correspondem à forma “eleita”, são todas postas em um mesmo saco e 
qualificadas como “errôneas”, “deselegantes”, “inadequadas para a ocasião” etc., 
entretanto, uma “variedade linguística “vale” o que “valem”, na sociedade, os 
falantes dela, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas 
relações econômicas e sociais. Essa afirmação é válida, evidentemente, em termos 
internos, quando confrontamos variedades de uma mesma língua, e, em externos, 
pelo prestígio das línguas no plano internacional (GNERRE, 1978). A transformação 
de uma variedade linguística em “culta”, ou “padrão”, está associada a vários fatores, 
dentre os quais Gnerre aponta:
• • associação dessa variedade à modalidade escrita; 
• • associação dessa variedade à tradição gramatical; 
• • dicionarização dos signos dessa variedade;
• • consideração dessa variedade como portadora legítima de uma tradição cultural 
e de uma identidade nacional. 
Agora, dada a situação, de fato, em que estamos, qual poderia ser a atitude 
do professor de língua portuguesa? A separação entre a forma de fala dos alunos 
e a variedade linguística considerada “padrão” é evidente. Sabendo-se que tais 
diferenças são reveladoras de outras diferenças, e que a “língua padrão” resulta de 
uma imposição social que desclassifica os demais dialetos, qual é a postura a ser 
adotada pelo professor?
Dominar que forma de falar?
Parece-me que, simplesmente, valorizar as formas dialetais consideradas 
não cultas, mas, linguisticamente, válidas, tomando-as como o objeto do processo 
de ensino, é desconhecer que, “a começar do nível mais elementar de relações com 
o poder, a linguagem constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o 
acesso ao poder” (GNERRE, 1978).
Como aponta Magda Soares (1983), de um lado, há os que pretendem que 
a escola deva respeitar e preservar a variedade linguística das classes populares 
e a peculiar relação dela com a linguagem, consideradas tão válidas e eficientes 
para a comunicação e a variedade linguística, socialmente, privilegiada. Nesse 
caso, a escola deveria assumir a variedade linguística das classes populares como 
104
instrumento legítimo do discurso escolar (dos professores, dos alunos e do material 
didático). Por outro lado, há os que afirmam a necessidade de que as classes 
populares aprendam a usar a variedade linguística, socialmente, privilegiada, própria 
das classes dominantes, e aprendam a manter, com a linguagem, a relação que as 
classes dominantes, com ela, mantêm, pois a posse dessa variedade e dessa forma 
específica de relação com a linguagem é instrumento fundamental e indispensável 
na luta pela superação das desigualdades sociais.
Mais próximo à segunda posição, parece-me que cabe, ao professor de 
língua portuguesa, ter presente que as atividades de ensino deveriam oportunizar, 
aos alunos dele, o domínio de outra forma de falar, o dialeto padrão, sem que isso 
signifique a depreciação da forma de falar predominante da família, do grupo social 
ao qual pertence etc. Isso porque é preciso romper com o bloqueio de acesso ao 
poder, e a linguagem é um dos caminhos. Se ela serve para bloquear – e disso 
ninguém duvida –, também, serve para romper o bloqueio.
Não estou afirmando que, por meio das aulas de língua portuguesa, 
processar-se-á a modificação da estrutura social. Estou, tão e somente, querendo 
dizer que o princípio “quem não se comunica se trumbica” não pode servir de 
fundamento para o nosso ensino: afinal, nossos alunos se comunicam com o dialeto 
deles, mas têm se trumbicado que não é fácil... É claro que esse “se trumbicar” não 
se deve, apenas, à linguagem.
Ensino da língua e ensino da metalinguagem
Se o objetivo das aulas de língua portuguesa é oportunizar o domínio do 
dialeto padrão, devemos acrescentar outra questão: a dicotomia entre ensino da 
língua e ensino da metalinguagem. A opção de um ensino da língua, considerando 
as relações humanas pelas quais ela perpassa (concebendo a linguagem como 
lugar de um processo de interação), a partir da perspectiva de que, na escola, 
pode-se oportunizar o domínio de mais outra forma de expressão, exige que 
reconsideremos “o que” vamos ensinar, já que tal opção representa parte da 
resposta do “para que” ensinamos.
Nesse sentido, a alteração da situação atual do ensino de língua portuguesa 
não passa, apenas, por uma mudança nas técnicas e nos métodos empregados 
na sala de aula. Uma diferente concepção de linguagem constrói não só uma nova 
metodologia, mas, principalmente, um “novo conteúdo” de ensino. 
105
Parece-me que o mais caótico da atual situação de ensino de língua 
portuguesa, em escolas de primeiro grau, consiste, precisamente, no ensino para 
alunos que nem sequer dominam a variedade culta, uma metalinguagem de análise 
dessa variedade – com exercícios contínuos de descrição gramatical, estudo de 
regras e hipóteses de análise de problemas que, até mesmo, especialistas não estão 
seguros de como resolver.
Apenas para exemplificar: já tive a oportunidade de folhear cadernos 
de anotações de um aluno de quinta série. O “pobremenino” anotara que, para 
Saussure, a língua é um conjunto estruturado de signos linguísticos, arbitrários 
por natureza, mas que, para Chomsky (grafado Jonsqui), estudar uma língua era 
estabelecer “regras profundas” de competência dos falantes...
Um exemplo menos caótico, mas, nem por isso, menos triste, e, infelizmente, 
mais frequente, são páginas e páginas de conjugações verbais em todos os tempos 
e modos, sem que o aluno suspeite do que significa indicativo, subjuntivo ou mais-
que-perfeito.
Muito do tempo e do esforço gastos por professores e alunos, durante o 
processo escolar, serve para aprender a metalinguagem de análise da língua, com 
alguns exercícios, e eu me arriscaria a dizer “exercícios esporádicos” de língua, 
propriamente, ditos.
Uma coisa é saber a língua, isto é, dominar as habilidades de uso da língua 
em situações concretas de interação, entendendo e produzindo enunciados, 
percebendo as diferenças entre uma forma de expressão e outra. Outra é saber 
analisar uma língua, dominando conceitos e metalinguagens a partir dos quais se 
fala sobre a língua e se apresentam características estruturais e de uso.
Entre os dois tipos de atividades, é preciso optar pelo predomínio de um 
sobre o outro. Tradicionalmente, prevaleceu o ensino da descrição linguística – eu 
diria que nem sequer a descrição prevaleceu, mas o exemplário de descrições, 
previamente, feitas, pois, na escola, não se aprende a descrever fatos novos, 
formular hipóteses de descrição etc. O que se aprende, na verdade, é exemplificar 
descrições, previamente, feitas pela gramática. Mais modernamente, as descrições 
tradicionais foram substituídas por descrições da teoria da comunicação, e, hoje, o 
aluno sabe o que são emissor, receptor, mensagem etc. Na verdade, substituiu-se 
uma metalinguagem por outra.
Parece-me que, para o ensino de primeiro grau, as atividades devem girar 
em torno do ensino da língua, e, apenas, subsidiariamente, deve-se apelar para a 
metalinguagem, quando a descrição da língua se impõe como meio para alcançar o 
objetivo final de domínio nessa variedade padrão.
106
Gostaria de encerrar essas breves considerações de concepção de 
linguagem, variedades linguísticas e ensino de língua/ensino de metalinguagem, 
reafirmando que a reflexão a respeito do “para quê” do nosso ensino exige que 
pensemos no próprio fenômeno de que somos professores – no nosso caso, a 
linguagem –, pois tal reflexão, ainda que assistemática, ilumina toda a atuação do 
professor em sala de aula.
FONTE: GERALDI, J. W. et al. O texto na sala de aula. 5. ed. São Paulo: Ática, 2011, p. 35-37.
107
RESUMO DO TÓPICO 1
 Neste tópico, você aprendeu:
• Existem três possibilidades distintas de conceber a linguagem: linguagem como 
expressão do pensamento; linguagem como instrumento de comunicação; e 
linguagem como processo de interação.
• Na concepção da linguagem como expressão do pensamento, a língua é considerada 
uma capacidade inata do ser humano, o que permite, a ele, reconhecer/espelhar as 
sentenças da língua estudada.
• Na concepção de linguagem como instrumento de comunicação, a língua é vista 
como um código, e a organização dela, para a comunicação entre emissor e receptor, 
independe do contexto situacional.
• Na concepção de linguagem como processo de interação, a língua é um processo 
interacional e social, no qual estão presentes as ideologias, as culturas e as 
experiências dos falantes na interação.
• Existe uma visão de linguagem, historicamente, estabelecida no Brasil, que tenta 
ressaltar que, no nosso país, fala-se uma única língua. Essa visão de linguagem 
afirma que o país é monolíngue e deixa de lado mais de 274 línguas indígenas, as de 
fronteira como o guarani, as de imigrantes e a Língua Brasileira de Sinais.
• O preconceito linguístico produz diferentes mitos sobre a Libras e sobre a Língua 
Portuguesa.
• Libras não é mímica, é uma língua.
108
1 A linguagem pode ser compreendida a partir de três concepções que destacam 
modos diferentes de se conceber a linguagem: a linguagem como expressão do 
pensamento; a linguagem como instrumento de comunicação; e, por último, a 
linguagem como processo de interação. Essas concepções podem nortear o ensino 
de Libras como língua materna para os surdos, e o ensino do Português como língua 
adicional. Dentre estas concepções de linguagem, qual delas destaca a norma padrão 
e se alinha à visão inatista da língua?
a) ( ) Linguagem como expressão do pensamento.
b) ( ) Linguagem como instrumento de comunicação.
c) ( ) Linguagem como um processo de interação.
d) ( ) Linguagem como instrumento gramatical. 
2 Qual é a concepção de linguagem em que a língua é vista como um código, composto 
por um conjunto de signos que se combinam, de acordo com as regras gramaticais 
da língua, sem levar em conta o contexto social?
a) ( ) Linguagem como um processo de interação.
b) ( ) Linguagem como expressão do pensamento.
c) ( ) Linguagem como instrumento de comunicação.
d) ( ) Nenhuma das alternativas.
3 A linguagem, como um processo de interação, prioriza, não somente, o conhecimento 
da gramática da língua, mas, sobretudo, o uso social, situado e dinâmico da língua. 
Diante disso, analise as afirmações a seguir:
I- A importância de o aluno usar a língua de um modo que faça sentido.
II- As experiências sociais mediadas pela língua sejam levadas em conta na interação.
III- As regras gramaticais são mais relevantes do que o aspecto social, assim, falar bem 
é mais valorizado do que estabelecer a comunicação.
IV- O uso da língua é distanciado do contexto social, sendo priorizado o contexto ideológico.
V- A ênfase é dada ao uso da língua nas relações sociais.
Quais afirmações estão CORRETAS?
a) ( ) Apenas I, IV e V.
b) ( ) Apenas I, II e V.
c) ( ) Apenas III, IV e V.
d) ( ) Apenas I, III e IV.
e) ( ) Apenas II, III e IV.
AUTOATIVIDADE
109
4 Apesar da oficialização da Libras como língua da comunidade surda dos centros 
urbanos, do uso e da difusão, ainda, encontramos falas equivocadas que relacionam 
a Libras à mímica. Por que isso, ainda, acontece? 
5 De acordo com a definição apresentada no texto por McCleary (2009), o purismo 
linguístico é uma atitude que está relacionada a um estado "puro" da língua, a fim 
de zelar para manter esse estado, ou (mais comumente) voltar para um estado mais 
puro da língua que já existia, mas que se perdeu com as mudanças. O autor afirma 
que o purismo é uma atitude reacionária. De acordo com McCleary (2009), para a 
sociolinguística, não existe um estágio melhor ou pior de uma língua. O único estado 
ruim, para uma língua, é quando ela começa a perder falantes nativos e entra em 
processo de extinção. Nesta perspectiva, como pode ser compreendida a ideia do 
senso comum de que a língua, na atualidade, estaria cada vez mais pobre devido ao 
uso de gírias, às mudanças de estrutura e ao uso de palavras estrangeiras?
FONTE: MCCLEARY, L. Sociolinguística. Universidade Federal de Santa Catarina Licenciatura e Bacha-
relado em Letras-Libras na Modalidade a Distância. Florianópolis, 2009. Disponível em: https://www.libras.
ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoBasica/sociolinguistica/assets/547/TEXTO-BASE_Sociolinguisti-
ca.pdf. Acesso em: 6 jun. 2022.
110
111
UM OLHAR SOCIOLINGUÍSTICO SOBRE A 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
1 INTRODUÇÃO
A inclusão dos surdos, nas escolas, coloca diversos desafios aos sistemas de 
ensino, em virtude das mudanças que ocorreram desde a década de 1980. A história da 
educação de surdos foi marcada por diferentes momentos, os quais envolveram desde a 
invisibilização da Libras e dos surdos, pela sociedade, a uma fase de resgate dos direitos 
deles, momento em que a comunidade surda se posicionou a respeito do uso da língua 
de sinais e do reconhecimento como pessoas com direitos, a fim de mostrar as próprias 
culturas e identidades.
Em alguns espaços da sociedade, ainda, perpetua-se uma visão de surdez 
como patologia, como se o surdo precisasse ser“normalizado” para ser aceito pela 
sociedade e, com ela, interagir. Já em outros espaços, outras visões emergem, como 
a socioantropológica, incluindo práticas sociais voltadas ao reconhecimento da Língua 
Brasileira de Sinais como língua, que tem o estatuto linguístico próprio, que não descende e 
nem depende da Língua Portuguesa, além de reconhecer o surdo e os direitos linguísticos 
de comunicação, interação e posicionamentos cultural e identitário dele.
Neste tópico, abordaremos as concepções das pessoas surdas, a clínico-
terapêutica e a socioantropológica, para, em seguida, abordarmos a histórica da 
educação de surdos, com foco nas filosofias de educação desses sujeitos, a saber: 
oralismo, comunicação total e bilinguismo. Conhecer as concepções e as abordagens 
educacionais oportunizarão, a você, refletir, criticamente, em relação às visões sobre as 
pessoas surdas na sociedade brasileira.
2 AS CONCEPÇÕES SOBRE AS PESSOAS SURDAS
A literatura sobre a educação de surdos aponta que as concepções clínico-
terapêutica e socioantropológica de surdez e sobre as pessoas surdas mostram 
não somente o modo como a sociedade ouvinte concebe o surdo, mas também 
servem de base para conduzir a educação de surdos (CAPOVILLA, 2000; SKLIAR, 
2000). Tradicionalmente, essas concepções orientam de modo divergente as ações 
pedagógicas na educação da pessoa surda, dadas as diferenças presentes em cada 
uma delas.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 
112
A concepção clínico-terapêutica compreende a surdez como uma patologia, 
como déficit biológico. Esta concepção traz como mote a medicalização e esforços 
no sentido de “normalizar” a pessoa surda, isto é, ações que contemplam estratégias 
reparadoras e corretivas sobre o surdo, para que se assemelhe sócio e linguisticamente 
à pessoa ouvinte (SKLIAR, 2000).
Na concepção clínico-terapêutico, a surdez é vista como deficiência, sendo 
atribuído ao surdo a reponsabilidade pelas dificuldades e entraves presentes em seu 
desenvolvimento linguístico e educacional. Esta concepção define a surdez, como uma 
condição que impede o surdo de se desenvolver como um indivíduo, pois o surdo é 
visto como uma pessoa que necessita de intervenções que tratem e solucionem a sua 
condição de não poder ouvir.
 Para a visão clínico-terapêutica, o surdo é considerado uma pessoa incompleta, 
e por isso precisa ser normalizada por meio de técnicas fonoaudiológicas que possibilitem 
o surdo se aproximar do padrão ouvinte, para que ele aprenda a língua oral, pois desta 
forma estaria superando a deficiência.
 Já para a concepção socioantropológica, diferente da clínico-terapêutica, 
os surdos, suas culturas e identidades, podem ser manifestadas por meio da língua 
de sinais. Elas são valorizadas e respeitadas e subsidiam novas visões e ações que 
contemplam na educação de surdos o ensino e a aprendizagem da língua de sinais, 
como sua primeira de língua. Na visão socioantropológica, a educação de surdos 
proporciona o desenvolvimento do aluno surdo dentro de um contexto multilíngue e 
multicultural, abordando a surdez como diferença e como experiência visual (SKLIAR, 
2000). Nesse contexto, a língua de sinais é considerada o principal marcador identitário 
da cultura surda. Por meio dela, os surdos manifestam as suas produções culturais e 
aspectos identitários.
Segue um quadro-resumo com características das concepções clínico-
terapêutica e socioantropológica:
QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS DAS VISÕES CLÍNICO-TERAPÊUTICA E CULTURAL
FONTE: As autoras
Questões Clínico-terapêutica Socioantropológica
Práticas de Ensino 
para surdos
Métodos de reabilitação Linguística e cultural 
Papel do professor Ter uma visão clínica sobre a 
surdez e o surdo
Ter uma visão cultural, 
linguística e social 
Papel do aluno Assemelhar-se à pessoa ouvinte Mostrar suas identidades e 
culturas por meio da língua 
de sinais 
Língua de sinais Impede o aluno de se desenvolver 
enquanto o indivíduo 
Deve ser a primeira língua do 
surdo
113
As informações apresentadas no quadro acima mostram as características 
de duas concepções sobre os surdos que se destacam na literatura da história da 
educação de surdos. É importante ressaltar que podem existir outras visões sobre os 
surdos, considerando a dinamicidade social, ideológica, política e linguística presentes 
nas comunidades linguísticas. Observe que as duas visões apresentam compreensões 
bastante divergentes sobre todas as questões pertinentes ao ensino e aprendizagem 
da língua para os alunos surdos, tendo em vista que a perspectiva clínica tem como 
perspectiva norteadora a reabilitação auditiva, ou seja, é uma forma compreensão da 
surdez que inviabiliza o desenvolvimento pleno do estudante enquanto indivíduo, tendo 
em vista que não respeita as particularidades comunicativas dele. Por outro lado, a 
visão Socioantropológica percebe os sujeitos a partir de suas características pessoas 
de modo a compreender a surdez como uma peculiaridade que deve ser respeitada 
e compreendida dentro das possibilidades linguísticas do sinalizante, desta maneira, 
nesta visão a língua de sinais é percebida como a primeira língua dos surdos e a cultura 
surda como parte da identidade.
DICA
Para ampliar a visão sobre as concepções sobre a 
pessoa surda, sugerimos o filme “Filhos do silêncio”. 
Aproveite para perceber os modos de interação entre 
uma pessoa ouvinte e uma pessoa surda e a visão que 
emerge na relação. Acesse: Link: https://www.youtube.
com/watch?v=JnjIp4XYSeY. 
3 AS FILOSOFIAS DE EDUCAÇÃO DE SURDOS
Neste subtópico apresentaremos as três filosofias de educação de surdos: 
oralismo, comunicação total e bilinguismo. O oralismo visa à integração do surdo à 
sociedade ouvinte, de modo que a lhe oferecer condições de desenvolver a língua oral, 
no caso do Brasil, a língua portuguesa. A comunicação total, assim como o oralismo, se 
preocupa também com a aprendizagem da língua oral pela criança surda. A diferença 
entre ambas é que a filosofia da comunicação total considera que os aspectos cognitivos, 
emocionais e sociais não devem ser deixados de lado por causa da aprendizagem da 
língua oral. Além disso, a comunicação total incorpora modelos auditivos, manuais e 
orais para manter a comunicação entre surdos e surdos, e entre surdos e ouvintes.
Por fim, abordaremos o bilinguismo, que diferente das filosofias supracitadas, 
considera a língua de sinais importante e necessária para o desenvolvimento do surdo, 
em todas os campos de conhecimento. No bilinguismo, o ensino e a aprendizagem 
da língua de sinais propiciam não apenas a comunicação surdo-surdo, mas também 
oportuniza ao surdo reconhecer e construir a sua identidade.
https://www.youtube.com/watch?v=JnjIp4XYSeY
https://www.youtube.com/watch?v=JnjIp4XYSeY
114
FIGURA 6 – IMAGEM QUE FAZ ALUSÃO AO ORALISMO, COMUNICAÇÃO TOTAL E BILINGUISMO
FONTE: <http://blogdalibras.com.br/post3>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Ao analisarmos a imagem podemos perceber que, mais uma vez, estamos diante 
de duas compreensões antagônicas sobre a surdez, na primeira figura da esquerda, temos 
uma mão infantil remetendo a uma sinalização inicial do sinal referente à expressão 
Eu te amo, dando a entender o entendimento de que a aprendizagem da língua de 
sinais é um direito desde a primeira infância para que os indivíduos possam desenvolver 
as suas potencialidades linguísticas desde pequenos. Já na imagem da direita temos 
a referência a equipamentos e exames que determinam a aferição da audição, ou, 
no caso do aparelho, uma aparelhagem para melhora da recepção de sons. Neste 
contexto, os elementos apresentados na parte Direita da figura estão representados as 
filosofias que procuram valorizar a audição mesmo em relação à educação linguística 
de indivíduos surdos. A seguir comentaremos sobre o oralismo, comunicação total e 
bilinguismo. Conforme a imagem acima, destacaremos as características de cada 
abordagem educacional, com vistas a destacar as suas diferenças no que se refere ao 
desenvolvimento social, linguísticoe educacional da pessoa surda. 
3.1 O ORALISMO
Quando refletimos sobre a educação de surdos, historicamente percebemos 
que o olhar que se teve do surdo e da surdez esteve inicialmente voltado para práticas 
reparadoras e homogeneizantes de normalização, que baniram o uso da língua de sinais 
pelo surdo, para focar no ensino e uso da língua oral.
O oralismo ganhou espaço como abordagem de ensino, a partir do Congresso 
de Milão, que aconteceu em 1880, na Itália. Nesse congresso foi decidido sobre qual 
abordagem de ensino deveria ser adotada pelas escolas de surdos no mundo todo. Um 
grupo de pessoas surdas acreditava que os surdos tinham uma forma específica de 
interagir e que poderiam ser ensinados através dela – a língua de sinais –, entretanto, o 
outro grupo, formado por pessoas ouvintes, defendia que os surdos deveriam aprender 
a língua oral e que poderiam fazer uso da fala, da escrita e da leitura labial na educação.
http://blogdalibras.com.br/post3
115
Lamentavelmente, embora os surdos estivessem presente nesse congresso, 
apenas os ouvintes tiveram o direito de votar e decidir o destino dos surdos do mundo 
inteiro. Esse grupo de ouvintes defendia o oralismo, e naquele momento esta abordagem 
de ensino se tornou a filosofia de educação de surdos da época. Após a votação, a língua 
de sinais foi banida completamente da educação dos surdos, o que obrigando ao surdo 
se render à modalidade de comunicação oralista (GUARINELLO, 2007; SACKS, 2010).
Entretanto, a qualidade da educação ofertada aos surdos caiu, pois essa filosofia 
educacional foi considerada como um retrocesso na educação de surdos, uma vez que, 
segundo Strobel e Perlin (2008) teria que se evitar ao máximo o uso da língua de sinais 
para que o surdo tivesse êxito em seu aprendizado através do treinamento da fala oral, 
buscava integrar os surdos na comunidade de ouvintes por meio da fala oral, e priorizava 
a reabilitação em direção à normalidade exigida pela sociedade. 
Essa filosofia educacional busca a inserção do surdo na comunidade de ouvintes, 
como um único meio do surdo desenvolver a língua oral, já que o oralismo percebe a 
surdez como uma deficiência que deve ser minimizada por meio da estimulação auditiva 
(SACKS, 2010).
3.2 A COMUNICAÇÃO TOTAL 
Na década de 1970, emergiram muitas críticas à abordagem do oralismo. Essas 
críticas ocorreram devido à falta de bons resultados no desempenho educacional 
dos surdos. Juntamente com esta situação, surgiram as pesquisas de William Stokoe 
(1960), um linguista norte-americano, que comprovou o caráter linguístico das Línguas 
de Sinais, por meio de pesquisas sobre a língua de sinais americana (ASL). Desse 
modo, surgiu outra filosofia educacional, a comunicação total (CAPOVILLA, 2000), cuja 
abordagem faz o uso de vários recursos de linguagem, tais como fala, escrita, gestos, 
mímica, pantomima, sinais, leitura orofacial, entre outros.
Diferente do oralismo, a comunicação total inseriu a língua de sinais na 
comunicação com os surdos, bem como tudo que facilitasse e ampliasse a comunicação 
entre surdos e ouvintes (CAPOVILLA, 2000; SACKS, 2010). De acordo com Guarinello 
(2007), a comunicação total foi disseminada com rapidez, devido as suas caraterísticas 
de privilegiar diferentes linguagens na comunicação.
A comunicação total foi reconhecida como uma importante filosofia educacional, 
por incorporar a língua de sinais nas interações, e isso trouxe visibilidade para a língua de 
sinais que foi extremamente oprimida no oralismo (STROBEL; PERLIN, 2008). Segundo 
Ciccone (1990), essa filosofia não concebe a pessoa surda como alguém que tem uma 
patologia, mas como ser humano, que pode se comunicar de maneira mais ampla, por 
meio de diferentes recursos linguísticos.
116
Como o próprio nome sugere, essa filosofia educacional visa, sobretudo, a 
comunicação e a interação entre surdos e ouvintes. Nela, ocorre o uso da língua 
oral e da língua de sinais de modo concomitante, o que de certa forma trouxe certo 
desprestígio para essa filosofia educacional, por continuar trazendo práticas oralistas 
para as interações, não focando unicamente na comunicação em língua de sinais.
3.3 BILINGUISMO
Após o declínio da comunicação total, devido à insatisfação de educadores 
e surdos com os resultados educacionais da pessoa surda, ocorreu na década de 
1970 um movimento de reivindicação contra o modo como os surdos estavam sendo 
alfabetizados, que culminou com no surgimento da proposta de educação bilíngue. 
Diferente do oralismo e da comunicação total, a proposta de educação bilíngue tem 
como pressuposto que os surdos devem ser bilíngues, adquirindo a língua de sinais como 
primeira língua e a língua oral de seu país, como segunda língua, na sua modalidade 
escrita (CAPOVILLA, 2000).
Para muitos pesquisadores e estudiosos da área de estudos surdos (LACERDA, 
1998; SKLIAR, 2000) a proposta de educação bilíngue tem sido considerada a mais 
adequada para o ensino de crianças surdas, pois considera a língua de sinais como a 
língua natural do surdo, além de contemplar uma visão social e antropológica sobre o 
surdo. Nessa visão de educação, os surdos formam uma comunidade, com cultura e 
língua próprias, e a educação de crianças surdas deve ocorrer a partir do contato, o mais 
cedo possível, com pessoas surdas proficientes na língua de sinais. 
Conforme Brito (1993), na educação bilíngue de surdos, a língua de sinais é 
considerada a questão mais relevante para o desenvolvimento do surdo, em todas as 
esferas de conhecimento. Para a autora, esse modelo educacional, propicia não apenas 
uma interação comunicacional, mas também caminhos para o desempenho e estímulo 
do desenvolvimento social e cognitivo do surdo.
Quadros (1997) afirma que a educação bilíngue de surdos é uma proposta 
de ensino usada por escolas regulares e inclusiva que busca ofertar acessibilidade à 
criança surda às duas línguas no contexto escolar. A autora considera essa proposta 
como a mais adequada para o ensino das crianças surdas, já que a língua de sinais é 
vista como a primeira língua do surdo que dá suporte e viabilidade para o aprendizado 
para o conhecimento de mundo da pessoa surda. 
No que se refere a educação bilíngue para surdos, o Decreto nº 5.626/2005, 
que regulamenta a Lei de oficialização da Língua Brasileira de Sinais (nº 10.436/2002), 
orienta que:
Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação 
básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência 
auditiva, por meio da organização de:
117
I- escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e 
ouvintes, com professores bilíngues, na educação infantil e nos anos 
iniciais do ensino fundamental;
II- escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de ensino, 
abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino 
fundamental, ensino médio ou educação profissional, com docentes 
das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade 
linguística dos alunos surdos, bem como com a presença de 
tradutores e intérpretes de LIBRAS – Língua Portuguesa. 
§ 1º São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue 
aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa 
sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o 
processo educativo (BRASIL, 2005).
Podemos perceber que no Decreto nº 5.626/2005 o conceito de educação 
bilíngue traz como fundamento a diferença sociocultural e linguística do surdo e a língua 
de sinais no processo educacional dos surdos. Neste sentido, essa proposta difere das 
filosofias educacionais oralismo e comunicação total e da concepção clínico-patológica 
de surdez e de surdos. 
DICA
Para melhor compreender as características da Libras, bem como a 
importância da educação bilíngue na educação de surdos do Brasil, 
sugerimos que assista ao vídeo “Libras: o que é esta língua?”, publicado 
na revista Roseta, da Associação Brasileira de Linguística, cujas 
autoras são Ronice Müller de Quadros e MarianneRossi Stumpf e o 
vídeo “Minuto Libras Educação Bilíngue de Surdos”, produzido pela 
professora Ronice Müller de Quadros. 
Os links para acesso são: https://www.youtube.com/watch?v=Q6B-
6nm9VnE e https://www.youtube.com/watch?v=-Mr0kKQ_4Z8.
FIGURA 7 – LIBRAS – O QUE É ESTA LINGUA?
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=Q6B-6nm9VnE>. Acesso em: 22 ago. 2020.
https://www.youtube.com/watch?v=Q6B-6nm9VnE
https://www.youtube.com/watch?v=Q6B-6nm9VnE
https://www.youtube.com/watch?v=-Mr0kKQ_4Z8
https://www.youtube.com/watch?v=Q6B-6nm9VnE
118
FIGURA 8 – MINUTO LIBRAS EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE SURDOS
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=-Mr0kKQ_4Z8>. Acesso em: 13 jun. 2020.
https://www.youtube.com/watch?v=-Mr0kKQ_4Z8
119
RESUMO DO TÓPICO 2
 Neste tópico, você aprendeu:
• A literatura sobre a educação de surdos aponta que existem duas concepções sobre 
a surdez e os surdos: clínico-terapêutica e socioantropológica.
• Tradicionalmente, essas concepções orientam de modo divergente as ações 
pedagógicas na educação da pessoa surda, dadas as diferenças presentes em cada 
uma delas.
• A concepção clínico-terapêutica compreende a surdez como uma patologia, como 
déficit biológico. Esta concepção traz como mote a medicalização e esforços no 
sentido de “normalizar” a pessoa surda, isto é, ações que contemplam estratégias 
reparadoras e corretivas sobre o surdo, para que se assemelhe sócio e linguisticamente 
à pessoa ouvinte.
• A concepção socioantropológica, diferente da clínico-terapêutica, os surdos, suas 
culturas e identidades, podem ser manifestadas por meio da língua de sinais. Elas 
são valorizadas e respeitadas e subsidiam novas visões e ações que contemplam 
na educação de surdos o ensino e a aprendizagem da língua de sinais, como sua 
primeira língua. 
• Na visão socioantropológica, a educação de surdos proporciona o desenvolvimento 
do aluno surdo dentro de um contexto multilíngue e multicultural, abordando a 
surdez como diferença e como experiência visual. Nesse contexto, a língua de sinais 
é considerada o principal marcador identitário da cultura surda. Por meio dela, os 
surdos manifestam as suas produções culturais e aspectos identitários.
• A história da educação de surdos é marcada pelas filosofias educacionais, a saber: 
oralismo, comunicação total e bilinguismo.
• O oralismo busca a inserção do surdo na comunidade de ouvintes, como um único 
meio do surdo desenvolver a língua oral, já que o oralismo percebe a surdez como 
uma deficiência que deve ser minimizada por meio da estimulação auditiva.
• Diferente do oralismo, a comunicação total inseriu a língua de sinais na comunicação 
com os surdos, bem como tudo que facilitasse e ampliasse a comunicação entre 
surdos e ouvintes. A comunicação total foi reconhecida como uma importante filosofia 
educacional, por incorporar a língua de sinais nas interações, e isso trouxe visibilidade 
para a língua de sinais que foi extremamente oprimida no oralismo.
120
• Diferente do oralismo e da comunicação total, a proposta de educação bilíngue 
tem como pressuposto que os surdos devem ser bilíngues, adquirindo a língua de 
sinais como primeira língua e a língua oral de seu país, como segunda língua, na sua 
modalidade escrita.
• Na educação bilíngue de surdos, a língua de sinais é considerada a questão mais 
relevante para o desenvolvimento do surdo, em todas as esferas de conhecimento.
121
1 As concepções sobre a surdez podem oscilar entre dois polos principais, aquelas 
compreensões que procuram achar formas de solucioná-la através de métodos 
que priorizam os atendimentos clínico-terapêuticos e aqueles entendimentos que 
percebem a surdez como parte das características dos indivíduos. A partir disso, 
assinale a alternativa que melhor define a concepção clínico-terapêutica:
a) ( ) Visão de surdez que enfatiza o uso da língua de sinais e da língua oral.
b) ( ) Concepção que aborda o ensino da língua de sinais.
c) ( ) Concepção com foco no uso da língua oral, para que a pessoa surda se assemelhe 
à pessoa ouvinte.
d) ( ) Concepção que enfatiza a cultura e a identidade surdas.
2 Esta questão envolve o tema “filosofias de educação de surdos”, deste modo, devemos 
lembrar das discussões que apresentam os modos através dos quais a Educação dos 
Surdos é percebida numa perspectiva em que a língua oral majoritária da comunidade 
ou nas compreensões que evidenciam o respeito pela cultura e pela comunidade 
surdas, bem como a valorização da língua de sinais. Na figura a seguir, podemos 
ver duas pessoas com as mãos escondidas, perto de um cartaz que deixa clara a 
proibição da língua de sinais, além disso, estão claramente desenhadas as bocas 
que fazem um esforço fonológico para se manifestar oralmente, como os perdigotos 
voando deixam em evidência. Tendo em vista contextualização anterior, a descrição 
da Figura a observação da figura a seguir, escolha a alternativa que corresponda à 
Filosofia da Educação que a imagem procura deixar explícita: 
SURDOS TENTANDO SE COMUNICAR
AUTOATIVIDADE
FONTE: <http://fabiosellani.blogspot.com/>. Acesso em: 28 set. 2020.
http://fabiosellani.blogspot.com/
122
Essa imagem exemplifica:
a) ( ) A filosofia educacional oralista.
b) ( ) A concepção socioantropológica.
c) ( ) A comunicação total.
d) ( ) A comunicação bilíngue.
3 Dentre as perspectivas linguísticas sobre a surdez se destacam duas vertentes, uma 
delas é que considera o surdo um ouvinte imperfeito que necessita de instrumentos 
e técnicas que o auxiliem a se comunicar, mesmo que precariamente, através da 
língua oral majoritária (visão clínico-terapêutica) e a outra visão coloca o surdo como 
um indivíduo que pertence a um grupo específico de pessoas com características 
culturais e linguísticas específicas (visão Socioantropológica). Considerando a visão 
socioantropológica a respeito da pessoa surda, assinale a alternativa que corresponde 
à concepção socioantropológica com relação a educação de surdos.
a) ( ) O uso da fala oral é relevante na educação de surdos.
b) ( ) Cultura e identidade surdas não são aspectos relevantes na educação de surdos.
c) ( ) A língua de sinais, cultura e identidades são fundamentais na educação 
de surdos.
d) ( ) As práticas do oralismo é a característica dessa visão de surdez e de surdo.
4 Dentre as diferentes leis que regem a inserção da Libras no cotidiano nacional, o 
Decreto nº 5626/05 regulamenta a Lei de oficialização da Língua Brasileira de Sinais 
nº 10.436/0 e, por isso, utiliza como base vários conceitos e permite importantes 
reflexões acerca das noções que norteiam a Educação de surdos no Brasil. Dentre 
as conceituações utilizadas neste Decreto a Educação Bilíngue é uma das noções 
que permeia todo o documento. Deste modo, este conceito é muito importante para 
as delimitações que o Decreto propõe, assim sendo, como a Educação Bilíngue pode 
ser definida?
FONTE: QUADROS, R. M. de. Bilinguismo. In: Educação de surdos: aquisição da linguagem. Porto Alegre: 
Artmed, 1997. p. 21-43.
5 A Comunicação Total é uma dentre as filosofias utilizadas para a Educação de surdos 
ao longo da história da Educação. Nela se misturavam vários recursos com o objetivo 
de proporcionar a comunicação entre os interlocutores. Como a Comunicação Total 
pode ser caracterizada linguisticamente em comparação ao Oralismo?
123
TÓPICO 3 - 
LÍNGUAS EM CONTATO
1 INTRODUÇÃO
O cenário sociolinguístico brasileiro é marcado por uma diversidade linguística, 
social e cultural. No Brasil, estima-se que coexistem cerca de 330 línguas, destas, 274 
são línguas indígenas (IBGE, 2010) e 56 línguas de imigração (ALTENHOFEN, 2013). 
Além desses dados, destacamos ainda a Língua Brasileira de Sinais – Libras, além das 
línguas de sinais emergentes. Sabe-se que, além da Libras, oficializada pela Lei Federal 
Nº 10.436, de 24 de abril de 2002, o Brasil possui pelo menos duas línguas que já foram 
documentadas: a língua de sinais de Urubu-Kaapor no Estado do Maranhão e a língua 
de sinais conhecidacomo “Cena”, falada na cidade de Jaicós, no povoado de Várzea 
Queimada, no interior do Piauí, ambas na região Nordeste do Brasil.
Diante destes dados, percebemos que o Brasil é um país com uma ampla 
diversidade linguística, o que possibilidade a interação entre diferentes línguas, 
pessoas, em diferentes contextos sociais e culturais, possibilitando assim, um contato 
linguístico. De acordo com os autores, Raso, Mello e Altenhofen (2011, p. 47), “[...] todo 
uso da língua em interação pressupõe um contato linguístico, e que o que entra em 
contato são, antes de tudo, modos de falar individuais (idioletos) identificados com 
variedades linguísticas específicas”.
Assim, neste tópico, abordaremos o contato linguístico, focando inicialmente 
nas características da Libras, para em seguida falarmos sobre o contato linguístico e 
suas características. O objetivo é reiterar que o Brasil não é um país monolíngue, mas 
um país diverso de falares, culturas e pessoas, com suas histórias e vivências que 
caracterizam o país.
2 A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
As línguas de sinais são reconhecidas como de modalidade gestual-visual. 
Além disso, as línguas de sinais são também línguas naturais, pois surgiram da 
interação espontânea entre indivíduos. Quadros e Karnopp (2004, p. 30) conceituam 
língua natural como:
[....] uma realização específica da faculdade de linguagem que se 
dicotomiza num sistema abstrato de regras finitas, as quais permitem 
a produção de um número ilimitado de frase. Além disso, a utilização 
efetiva desse sistema, com fim social, permite a comunicação entre 
os usuários.
UNIDADE 2
124
Assim, Quadros e Karnopp (2004), destacam que as línguas naturais estão 
relacionadas à capacidade inata da mente humana compreender e de desenvolver a partir 
de uma organização que se divide em uma estrutura imaterial que apresenta normas, 
regras e delimitações amplas e, ao mesmo tempo, limitadas, ou seja, a língua permite 
que falemos ou sinalizemos muitas coisas de inúmeras maneiras, mas não de qualquer 
maneira. Dito de outro modo, mesmo que tenhamos diversas maneiras para formar 
frases, as línguas apresentam certas limitações para as sentenças que são adequadas 
ou não em relação aos parâmetros de cada língua específica. Ainda nesta citação, as 
autoras destacam que a língua tem a finalidade social de permitir a comunicação entre 
os usuários de um mesmo idioma, assim sendo, as línguas naturais surgem a partir 
da necessidade dos indivíduos em ter um sistema estruturado e compartilhado para 
comunicação entre si. 
Brito (1998, p. 19) faz a seguinte afirmação sobre considerar as línguas de sinais 
como naturais:
As línguas de sinais são línguas naturais porque como as línguas 
orais sugiram espontaneamente da interação entre pessoas e porque 
devido à sua estrutura permitem a expressão de qualquer conceito 
– descritivo, emotivo, racional, literal, metafórico, concreto, abstrato 
– enfim, permitem a expressão de qualquer significado decorrente da 
necessidade comunicativa e expressiva do ser humano.
Desta maneira, as línguas de sinais se apresentam como línguas naturais porque 
surgem da necessidade comunicativa dos indivíduos e têm a capacidade estrutural, 
organizacional e composicional de demonstrar todo e qualquer tido de concepção ou 
formulação, seja ela qual for. Logo, as línguas de sinais correspondem às demandas dos 
grupos de indivíduos que a utilizam.
Nesta mesma direção está a Língua Brasileira de Sinais-Libras, que por ser 
natural, possui todos os elementos necessários para se desenvolver e estruturar 
como língua natural, desta maneira tem todos os níveis linguísticos que precisa para 
a expressão plena dos sinalizantes, por exemplo, alfabeto manual próprio, conforme 
a imagem a seguir, gramática própria, não descende e nem depende da estrutura da 
língua portuguesa. Além disso, a língua de sinais não é universal, cada país possui a sua. 
Logo, cada língua de sinais em cada país possui sua própria estrutura gramatical.
FIGURA 7 – ALFABETO MANUAL DA LIBRAS
125
FONTE: <https://bit.ly/3fpwR1B>. Acesso em: 14 jul. 2020.
Podemos afirmar também que as línguas de sinais não são pantomimas e nem 
universais. Elas possuem gramática própria, além dos níveis linguísticos, fonológico, 
morfológico, semântico, sintático e pragmático, o que possibilita aos seus usuários 
expressarem diferentes tipos de significados, dependendo da necessidade comunicativa 
e expressiva do indivíduo. Além disso, as línguas de sinais não descendem e nem 
dependem das línguas orais, visto que possuem seus níveis linguísticos, fonologia, 
morfologia, semântica e sintaxe, tal como as línguas orais. 
Quanto à fonologia das línguas de sinais, Quadros e Karnoop (2004) afirmam que 
este nível linguístico determina quais são as unidades mínimas que formam os sinais, 
e estabelece quais são os padrões possíveis de combinação entre essas unidades e as 
variações possíveis no ambiente fonológico. Essas unidades mínimas, sem significado, 
são chamadas de fonemas e elas correspondem aos parâmetros da Libras. 
De acordo com Quadros e Karnoop (2004), os parâmetros são: configuração 
de mão, é definida como a forma assumida pela mão durante a articulação de um 
sinal, ponto de articulação, o lugar do corpo onde o sinal será realizado. O parâmetro 
movimento demonstra o deslocamento da mão durante a execução do sinal, possuindo 
diferentes formas e direções. O parâmetro orientação vem ser a direção que a palma da 
mão indica na realização do sinal. Os componentes não manuais, ou seja, as expressões 
faciais e corporais, distinguem significados entre sinais. Podem indicar afirmação, 
negação, interrogação e exclamação.
Além das características gramaticais da Libras, é importante ressaltar também 
que a oficialização, promoção, uso e a sua legalização foi historicamente constituída 
pelas reivindicações dos surdos brasileiros. A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que 
reconhece a Libras como oriunda das comunidades de pessoas surdas do Brasil e como 
meio legal de comunicação e expressão, significou um avanço aos direitos linguísticos 
dos surdos de se comunicarem e de se expressarem através da Libras, bem como uma 
importante ação política, dada a transformação social quanto à valorização e uso da 
Libras por pessoas surdas e as conquistas relacionadas a inclusão social e cultural 
dos surdos.
126
Conforme mencionamos no início do texto, além do Português e da Libras, 
são faladas, no Brasil, as línguas de sinais emergentes. Além dessas línguas, citamos 
também o contexto social de Roraima, Norte do Brasil, e sua diversidade linguística 
na qual, além do Português, em seu cenário sociolinguístico as línguas indígenas, de 
imigração e línguas de sinais também estão presentes nessa região. Quanto às línguas 
indígenas destacam-se: Carib, Aruaque e Yanomami, além das línguas de sinais: Libras 
e a Língua de Sinais Venezuelana-LSV (ARAÚJO; BENTES, 2020).
De acordo com Araújo e Bentes (2020), a LSV está presente em Roraima há um 
bom tempo, e vem sendo utilizada por surdos e ouvintes brasileiros. A presença da LSV 
neste cenário, deve-se à crise migratória venezuelana e seus efeitos no Brasil. Dentre 
esses efeitos, podemos destacar: a crise política e econômica na Venezuela em 2015, 
e a partir de então, o estado de Roraima começou a receber um grande número de 
migrantes, e com a migração de venezuelanos para este estado, a comunidade surda 
também passou a receber um número expressivo de surdos migrantes. 
Neste sentido, é possível perceber a interação e o contato entre diferentes 
línguas, que emergem de diferentes razões, sejam políticas, culturais ou sociais, 
conforme observamos no exemplo supracitado entre as línguas portuguesa, Libras e 
LSV, no estado de Roraima. 
A seguir comentaremos de modo mais específico sobre contato linguístico. 
Iniciaremos apresentando alguns conceitos de contato linguístico, destacando nesta 
situação sociolinguístico a relação intrínseca com o bilinguismo.
DICA
Paramelhor compreender a Língua de Sinais 
Venezuela sugerimos que assista ao vídeo, “Direitos 
Humanos e a Pessoa Surda Migrante”, organizado 
e apresentado pela Profa. Dra. Silvana Aguiar dos 
Santos – UFSC, pela Assistente Jurídica Angélica 
Ribeiro – PUC-SP e pelas discentes Lais Priscila 
Almeida – UFRR e Paula Bernardes – UFRGS. O 
link para acesso é: https://www.youtube.com/
watch?v=Dr6fnCcXkHY. 
https://www.youtube.com/watch?v=Dr6fnCcXkHY
https://www.youtube.com/watch?v=Dr6fnCcXkHY
127
3 CONTATO LINGUÍSTICO
Os comentários supracitados sobre a diversidade linguística brasileira reiteram 
que o país não é monolíngue, isto é, não possui apenas uma língua, no caso, o Português. 
Ao contrário disto, a discussão no tópico anterior mostra a existência de outras línguas 
em contato com o Português.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2014), o Brasil 
é reconhecido como um dos países com a maior diversidade linguística do mundo. Além 
de coexistirem cerca de 330 línguas, sendo que, 274 são línguas indígenas (IBGE, 2010) 
e 56 línguas de imigração (ALTENHOFEN, 2013), além das línguas de sinais, destacamos 
também que existem diferentes variedades do Português faladas no Brasil, sendo, 
portanto, possível o contato linguístico entre diferentes variedades de uma mesma 
língua e o contato linguístico entre diferentes línguas.
Esta realidade, portanto, invalida o mito de que existe uniformidade 
linguística brasileira. Nesta direção, sendo o Brasil um país diverso linguisticamente, 
consequentemente temos também que considerar a presença da diversidade de ideias, 
sociais, culturais e identitárias, mostrando que o que entra em contato não são somente 
as línguas, mas também situações políticas, sociais e culturais que caracterizam um 
cenário sociolinguístico (ALTENHOFEN, 2008). 
Além disso, consideramos que as línguas em contato estão ligadas ao conceito 
de bilinguismo. De acordo com Appel e Muysken (1987), o contato linguístico é visto 
como um fenômeno que, dada as suas características de interações entre línguas, 
inevitavelmente é levado ao bilinguismo. Quanto ao bilinguismo, este é definido por 
Grosjean (1996), como uma situação linguística que envolve um indivíduo que fala 
duas ou mais línguas, incluindo também nessa definição os dialetos. Segundo ele, os 
bilíngues, necessariamente, não são pessoas fluentes nas quatro habilidades de uma 
língua oral (i.e., falar, ouvir, escrever e ler):
Nós conceituamos bilíngues aquelas pessoas que usam duas (ou mais) 
línguas (ou dialetos) em suas vidas cotidianas. Assim, a nossa definição 
inclui pessoas que vão desde o trabalhador migrante que fala com 
alguma dificuldade a língua do país de acolhimento (e que não sabe ler 
e escrever), até o intérprete profissional, em uma situação totalmente 
distinta, que é plenamente fluente em dois idiomas. Encontramos entre 
nós o cônjuge estrangeiro que interage com os amigos em sua primeira 
língua, o cientista que lê e escreve artigos em uma segunda língua 
(mas que raramente fala a segunda língua), o membro de uma minoria 
linguística que usa a língua minoritária em casa e a majoritária em todos 
os outros espaços da vida, a pessoa surda que usa a língua de sinais 
com seus amigos, mas oraliza com uma pessoa ouvinte, etc. Apesar da 
grande diversidade que existe entre essas pessoas, todos compartilham 
uma característica comum: eles conduzem suas vidas com duas (ou 
mais) línguas (GROSJEAN, 1996, p. 1-2).
128
Assim, de acordo com o autor, ser bilíngue não significa ter domínio de modo 
idêntico das habilidades ler, ouvir, falar e escrever para as línguas orais, e as habilidades 
produzir e compreender relacionadas às línguas de sinais. Para Grosjean (1996), os 
indivíduos conduzem as suas vidas com duas ou mais línguas, e isso não significa 
que elas dominam as línguas de uma mesma maneira, e nem por isso, deixam de ser 
pessoas bilíngues. 
Outra questão relevante em relação ao contato linguístico são os seus tipos. 
Conforme Altenhofen (2008), existem pelo menos seis tipos de contato linguístico:
a) Português e línguas autóctones (indígenas), 
b) Português e línguas afro-brasileiras, 
c) Português e línguas alóctones (de imigração), 
d) Português como língua alóctone em contato com línguas oficiais, e) Português e 
línguas co-oficiais em contato,
f) contatos linguísticos de fronteira com países vizinhos e contatos entre falantes de 
variedades regionais do Português.
Essas variedades de contatos mostram que o Brasil é um país heterogêneo 
linguística, social e culturalmente. Esta diversidade mostra ainda que não existe 
uniformidade linguística no país, ou seja, não é um país monolíngue.
DICA
Para melhor compreender o assunto Contato linguístico 
sugerimos que assista ao vídeo, “Contato de línguas”, 
organizado e apresentado pela Parábola Editorial e com 
a fala de Marcos Bagno. O link para acesso é: https://
www.youtube.com/watch?v=L3KatEz2z0E.
INTERESSANTE
Outra sugestão que trazemos é a plataforma 
“Localingual”. Uma plataforma on-line que mostra 
sotaques de diferentes regiões. Através da “Localingual”, 
você pode ouvir e conhecer pronúncias de diferentes 
países e estados brasileiros. O link para acesso é: https://
localingual.com/?ISO=BR.
https://www.youtube.com/watch?v=L3KatEz2z0E
https://www.youtube.com/watch?v=L3KatEz2z0E
https://localingual.com/?ISO=BR
https://localingual.com/?ISO=BR
129
LEITURA
INTERESSANTE
A seguir, trazemos um trecho do artigo “Línguas de sinais de fronteiras: 
o caso da LSV no Brasil” de Paulo Jeferson Pilar Araújo e Thaisy Bentes. 
Neste texto, os autores abordam os estudos sobre a Língua de Sinais 
Venezuelana-LSV, propondo seu estatuto de língua de fronteira no 
Brasil, sendo um acréscimo interessante para as discussões efetuadas 
até este momento de nosso Tópico.
LÍNGUAS DE SINAIS DE FRONTEIRAS: O CASO DA LSV NO BRASIL
Paulo Jeferson Pilar Araújo e Thaisy Bentes
[...]
Para a caracterização de uma LS da fronteira, Quadros e Silva (2017, p. 143), 
dividem as comunidades surdas em três categorias, conforme segue:
as línguas de sinais nacionais, que desfrutam de algum 
reconhecimento e/ou políticas linguísticas que as colocam como 
língua oficial da comunidade surda de seus respectivos países; 
as línguas de sinais nativas, faladas em pequenas comunidades 
pouco ou nada urbanizadas, em geral distantes dos grandes 
centros, que apresentam grande incidência de surdez; e as 
línguas de sinais originais, que também eram faladas por 
pequenas comunidades de surdos previamente à instituição de 
uma língua de sinais nacional no país.
As categorias utilizadas pelas autoras são baseadas muito mais em 
termos geopolíticos, especialmente para distinguir as nacionais das nativas. 
Para a categoria de LSs originais depreende-se que haja um fator histórico que 
as colocam como antecessoras da inserção de alguma outra língua considerada 
majoritária. A classificação proposta pode servir didaticamente, no entanto, verifica-
se que a distinção entre línguas originais de nativas se dá apenas pelo fato de as 
primeiras serem encontradas em comunidades indígenas brasileiras, conforme 
quadro apresentado em uma série de publicações (QUADROS; SILVA, 2017; SILVA; 
QUADROS, 2019; QUADROS, 2019), nas quais são apresentadas cerca de seis LSs 
originais e seis nativas. O número de LSs originais pode aumentar à medida que 
pesquisadores e estudiosos, linguistas ou não, “descobrem” e se preocupam com a 
documentação de uma “nova” língua de sinais rural/de vila.
130
Na proposta original das Quadros e Silva (2017), as comunidades surdas 
contempladas são apenas aquelas consideradas como originárias do Brasil. Ficam 
de fora as possíveis situações de LSs de fronteira e migração. Compreende-se 
perfeitamente tal exclusão por focalizarem as línguas do Brasil e não no Brasil, 
além de ser de difícil informação a situação de LSs em contexto de fronteira ou 
migração tanto no contexto brasileiro como internacional. Por outro lado, entende-
se que atentar paraa existência de LSs exógenas no território brasileiro é justo 
para complementar o quadro de línguas de herança e de migração presentes no 
território brasileiro, a exemplo das línguas pomerana, talian e hunsrückisch, para 
mencionarmos as mais conhecidas. Como língua de fronteira podemos apontar 
o espanhol fronteiriço e sua variedade de contato mais conhecida: o portunhol 
(STURZA, 2019).
Defendemos neste artigo a categoria de língua de fronteira para a LSV por 
esta estar presente em Roraima há um tempo considerável e começar a ser utilizada 
também por surdos e ouvintes brasileiros. Com a dinâmica das populações nacionais 
no mundo globalizado, o fenômeno migratório deixa de ser encarado como marginal 
para mostrar-se como de importância para se entender as dinâmicas sociais. O 
exemplo a ser considerado neste trabalho é a crise migratória venezuelana e seus 
impactos no Brasil.
Desde o acirramento da crise política e econômica na Venezuela, a partir de 
2015, o estado de Roraima tem recebido um número expressivo de migrantes do país 
vizinho. No bojo dessa crise migratória, comunidades surdas são também atingidas. 
A partir de 2016 começamos a perceber a relação de surdos brasileiros com surdos 
venezuelanos de uma forma mais intensa. Logo em meados de 2017 foi possível 
assistir a eventos acadêmicos promovidos pela Universidade Federal de Roraima-
UFRR com uma participação considerável de surdos venezuelanos o que ensejou a 
participação de intérpretes não apenas de Libras-português, como também de LSV-
espanhol e Libras-LSV. Observar a interação entre as línguas portuguesa, espanhola, 
Libras e LSV em um mesmo ambiente levantou a questão de se conhecer melhor 
que LS era essa que alguns surdos brasileiros estavam aprendendo.
Esse processo de aprendizagem da LSV como L2 por parte de surdos 
brasileiros e a aprendizagem da Libras L2 por parte dos surdos venezuelanos 
provocou um fenômeno pouco descrito na literatura sobre contato de LSs: o contato 
entre duas línguas de sinais, ou seja, contato intermodal ou unimodal (ARAÚO; 
BENTES, 2018). Tal situação não é inédita na linguística das línguas de sinais, é 
o caso do contato entre a Língua de Sinais Mexicana-LSM e a Língua de Sinais 
Americana-ASL4 (QUINTO-POZOS, 2002), para ficarmos com um caso semelhante 
devido a questões migratórias. Encarar a LSV como língua de fronteira, e mais, 
língua de sinais da fronteira traz maior visibilidade para essa língua e para os seus 
131
sinalizantes, além de chamar a atenção dos estudiosos para a existência de línguas 
na modalidade visuoespacial na categoria de línguas de fronteira e imigração no 
Brasil. Tomando como premissa o estatuto de língua de fronteira e de migração 
para a LSV, nos detemos sobre a situação dessa língua em seu contexto nacional 
e transnacional.
O caso da LSV na Venezuela e no Brasil
Nesta seção, alguns pontos para contextualizar os movimentos e as 
fronteiras da LSV são apresentados, não de forma exaustiva, mas muito mais um 
panorama sobre essa língua entre Venezuela e Brasil. O primeiro desafio para quem 
se coloca na tarefa de conhecer a LSV fora da Venezuela é a pouca acessibilidade ao 
material acadêmico ou não, produzido sobre essa língua. No Brasil, contamos com 
uma publicação específica com um capítulo voltado para um panorama da situação 
educacional e linguística dos surdos da Venezuela (LUQUE; PÉREZ, 2017). Fora 
trabalhos esparsos e mais atuais como o de Luque e Pérez (2017), as informações 
sobre a comunidade surda venezuelana e a LSV são de difícil acesso. Boa parte 
dos trabalhos produzidos entre as décadas de 1980 e 1990 estão em formato 
mimeografado nas bibliotecas universitárias do país vizinho.
Praticamente toda informação mais acessível sobre a LSV se encontra 
no website6 organizado pelo linguista Alejandro Oviedo, além de suas próprias 
publicações, tornando-o uma das principais referências sobre essa LS. Tal fato é 
corroborado por Luque e Pérez (2017, p. 125) que apontam a decisão do referido 
linguista de residir na Alemanha como um dos fatores que deixou os estudos sobre 
a LSV mais escassos. Especificamente sobre os estudos linguísticos voltados para 
a LSV, Luque e Pérez (2017) dividem os trabalhos em dois períodos: de 1987 a 
1993 e de 1994 a 2016. Nesses dois períodos a presença de Oviedo é essencial. 
Na primeira, com o protagonismo de Lourdes Pietrosemoli, o grupo de linguistas 
por ela liderados conduzem as primeiras investigações sobre a LSV, se ocupando 
principalmente sobre a questão de a LSV ser ou não uma língua natural. Esse 
primeiro período foi marcado ainda pelo trabalho de linguistas e professores 
em escolas de Educação Básica nas quais havia a presença de alunos surdos. 
No segundo período compreendido entre 1994 e 2016 verifica-se o que parecer 
ser a consolidação dos estudos linguísticos da LSV, tendo investigações em 
praticamente todos os níveis de análise: fonética/fonologia, morfologia, sintaxe, 
semântica/pragmática e discurso. As autoras enumeram 11 pontos de análises dos 
quais se destacam: a análise de narrativas em LSV realizada por Oviedo no qual 
o autor faz uso do traço C+ “como marca gramatical que permite introduzir na 
narrativa informações que tem a ver com os participantes e não com eventos” 
(LUQUE; PÉREZ, 2017, p. 125); a classificação de verbos em não direcionais, 
subdivididos em verbos simples e demonstrativos. Estes últimos subdivididos 
ainda em ‘sinalizadores mediante deslocamento’ e reversíveis. A segunda categoria 
132
de verbos são os verbos espaciais, subdivididos ainda em verbos de trajetória, de 
ação-processo e de locação. Os classificadores da LSV receberam uma descrição 
de Oviedo (2004). A LSV conta possivelmente com cerca de 114 configurações de 
mão (CM) e 43 marcadores com diversas funções no discurso.
Conforme informações retiradas do site Cultura Sorda, não existe ainda 
uma padronização da LSV, dado confirmado por Pérez (2007) que defende o 
protagonismo dos próprios surdos na padronização da sua língua materna. No 
entanto, sabe-se que os processos de padronização sofrem grande influência 
dos trabalhos acadêmicos e nos processos de gramatização e dicionarização de 
línguas. Tal fato pode levar a uma possível norma eleita pelas variedades descritas 
e disseminadas nos estudos linguísticos ou por comunidades surdas venezuelanas 
detentoras de algum prestígio social.
Com o grande fluxo migratório de venezuelanos para o Brasil, passando pela 
cidade de Pacaraima a cerca de 200km de Boa Vista, o contato entre as comunidades 
surdas venezuelanas e brasileiras foi intensificado. Com uma população estimada 
em 605 mil em 2019, Roraima conta com cerca de 50 mil imigrantes venezuelanos, 
de acordo com dados da Prefeitura de Boa Vista. Esses números, porém, podem 
estar superados.
A cidade de Boa Vista possui abrigos voltados para a população de 
imigrantes, mas insuficientes, o que provoca o aumento no número de moradores 
de rua na capital. Dentre os diversos impactos decorrentes da imigração, o 
crescimento populacional e a diversificação da oferta de serviços são impactados 
diretamente. Para a população surda venezuelana que ingressou no país os dados 
são desconhecidos ou inexistentes. Sabe-se da presença dos surdos imigrantes 
principalmente via instituições religiosas como a Pastoral do Surdo ligada à Igreja 
Católica. A Pastoral chega a atender em média 20 surdos venezuelanos diretamente. 
Os surdos imigrantes são vistos geralmente na entrada de agências bancárias ou 
semáforas da cidade como pedintes. Em outros espaços, como o universitário, é 
comum a participação dos mesmos em eventos promovidos pelo Curso de Letras-
Libras da Universidade Federal de Roraima.
A interação entre a comunidade surda venezuelana com a comunidade 
surda brasileira é inevitável, o que não impede, infelizmente, a existência de 
eventos xenofóbicos contra surdos venezuelanos. É possível observar a presença 
de intérpretes de LSV em espaços religiosos como missas e eventos acadêmicos, 
porémem instituições como hospitais, cartórios etc., os surdos venezuelanos 
contam com o auxílio de amigos brasileiros que saibam Libras e português para 
se comunicarem. A posição da Libras como língua de uso faz com que os surdos 
133
venezuelanos busquem aprendê-la como L2. Portanto, o contato entre surdos das 
duas nacionalidades é também o contato entre a Libras e a LSV. Dessa forma, ambas 
as línguas estão propensas a passar por processos típicos do contato linguístico, 
como detalhamos na seção que se segue.
[...]
FONTE: ARAÚJO, P. J. P.; BENTES, T. Línguas de sinais de fronteiras: o caso da LSV no Brasil. Revista 
Humanidades e Inovação v. 7, n. 26, 2020. Disponível em: https://revista.unitins.br/index.php/hu-
manidadeseinovacao/article/view/3214. Acesso em: 6 jun. 2022.
NOTA
Apresentamos a você um trecho do livro “Ideias para ensinar português 
para alunos surdos”, das autoras Ronice Müller de Quadros e Magali L. P. 
Schmiedt. Nesse texto, as autoras focam nas línguas que fazem parte do 
cotidiano do aluno surdo, destacando a importância da língua de sinais na 
vida da pessoa surda, bem como da educação bilíngue. 
134
EDUCAÇÃO BILÍNGUE NO CONTEXTO DO ALUNO SURDO
Ronice Müller de Quadros
Magali L. P. Schmiedt
O que é afinal educação bilíngue
Educação bilíngue envolve, pelo menos, duas línguas no contexto educacional. 
As diferentes formas de proporcionar uma educação bilíngue a uma criança em uma 
escola dependem de decisões político-pedagógicas. Ao optar-se em oferecer uma 
educação bilíngue, a escola está assumindo uma política linguística em que duas 
línguas passarão a coexistir no espaço escolar, além disso, também será definido qual 
será a primeira língua e qual será a segunda língua, bem como as funções que cada 
língua irá representar no ambiente escolar. Pedagogicamente, a escola vai pensar em 
como estas línguas estarão acessíveis às crianças, além de desenvolver as demais 
atividades escolares. As línguas podem estar permeando as atividades escolares ou 
serem objetos de estudo em horários específicos dependendo da proposta da escola. 
Isso vai depender de “como”, “onde”, “quando” e “de que forma” as crianças utilizam as 
línguas na escola. Esse fator, provavelmente, será influenciado pelas funções que as 
línguas desempenham fora da escola.
No caso do aluno surdo, a educação bilíngue vai apresentar diferentes contextos 
dependendo das ações de cada munícipio e de cada estado brasileiro. Em alguns 
estados, há escolas bilíngues para surdos em que a língua de instrução é a língua de 
sinais e a língua portuguesa é ensinada como 2ª língua. Em outros estados, Libras é 
língua de instrução e o português é ensinado como segunda língua nas salas de aula 
das turmas das séries iniciais do ensino fundamental. 
Nas demais séries, a língua portuguesa é a língua de instrução, mas há a presença 
de intérpretes de língua de sinais nas salas de aula e o ensino de língua portuguesa, 
como segunda língua para os surdos, realiza-se na sala de recursos. Ainda há estados 
em que os serviços de intérprete de língua de sinais estão presentes desde o início da 
escolarização. Nesse contexto, nas séries iniciais, os intérpretes acabam assumindo a 
função de professores, utilizando a língua de sinais como língua de instrução.
Há, ainda, estados em que professores desconhecem libras e a escola não tem 
estrutura ou recursos humanos para garantir aos alunos surdos o direito à educação, à 
comunicação e à informação.
LEITURA
COMPLEMENTAR
135
Independentemente do contexto de cada estado, a educação bilíngue depende 
da presença de professores bilíngues. Assim, pensar em ensinar uma segunda língua, 
pressupõe a existência de uma primeira língua. O professor que assumir esta tarefa 
estará imbuído da necessidade de aprender a língua brasileira de sinais.
Aquisição das línguas e a criança surda
Quase que em paralelo com os estudos das línguas de sinais, iniciaram-se as 
pesquisas sobre o processo de aquisição da linguagem em crianças surdas filhas de 
pais surdos (Meier, 1980; Loew, 1984; Lillo-Martin, 1986; Petitto, 1987). Essas crianças 
apresentam o privilégio de terem acesso a uma língua de sinais em iguais condições ao 
acesso que as crianças ouvintes têm a uma língua oral-auditiva2. No Brasil, a língua de 
sinais começou a ser investigada na década de 80 (Ferreira-Brito, 1986) e a aquisição 
dessa língua, nos anos 90 (Karnopp, 1994; Quadros, 1995)3. Esses estudos concluíram 
que o processo das crianças surdas adquirindo língua de sinais ocorre em período 
análogo à aquisição da linguagem em crianças adquirindo uma língua oral-auditiva. 
O fato do processo de aquisição da linguagem ser concretizado por meio de línguas 
visuais-espaciais, exige uma mudança nas formas como essa questão vem sendo 
tratada na educação de surdos. As crianças com acesso a língua de sinais desde muito 
cedo, desfrutam da possibilidade de adentrar o mundo da linguagem com todas as 
suas nuanças.
A língua de sinais vai ser adquirida por crianças surdas que tiverem a experiência 
de interagir com usuários de língua de sinais. Se isso acontecer, por volta dos dois 
anos de idade, as crianças estarão produzindo sinais usando um número restrito de 
configurações de mão (sugere-se que tal número corresponda a sete configurações de 
mão), bem como simples combinações de sinais expressando fatos relacionados com o 
interesse imediato, com o “aqui” e o “agora”.
Configurações de mãos formam um conjunto de unidades fonológicas mínimas 
das línguas de sinais (poder-se-ia estabelecer uma relação com as unidades sonoras 
das línguas faladas).
As crianças nesta fase começam a marcar sentenças interrogativas com 
expressões faciais concomitantes com o uso de sinais (palavras) para expressar 
sentenças interrogativas (QUEM, O QUE e ONDE). Nesse período, também é verificado o 
início do uso da negação não manual através do movimento da cabeça para negar, bem 
como o uso de marcação não manual para confirmar expressões comuns na produção 
do adulto.
As expressões faciais são marcas não-manuais que pode apresentar funções 
gramaticais tornando-se obrigatórias. Nesses casos, menciono como exemplos, 
as expressões faciais associadas às interrogativas, às construções com foco, às 
construções relativas e condicionais (para mais detalhes, ver Quadros, 1999).
136
Também se observa que as crianças começam a introduzir classificadores nos 
seus vocabulários.
“Classificadores” são sinais que utilizam um conjunto específico de configurações 
de mãos para representar objetos incorporando ações. Tais classificadores são gerais e 
independem dos sinais que identificam tais objetos. É um recurso bastante produtivo 
que faz parte das línguas de sinais. Para a descrição de alguns classificadores na língua 
de sinais brasileira ver Ferreira-Brito (1995).
Por volta dos três anos de idade, as crianças tentam usar configurações mais 
complexas para a produção de sinais, mas frequentemente tais tentativas acabam 
sendo expressas através de configurações de mãos mais simples (processos de 
substituição). Os movimentos característicos dos sinais continuam sendo simplificados, 
embora já se observe o uso da direção dos movimentos com êxito em alguns contextos. 
Classificadores são usados para expressar formas de objetos, bem como o movimento 
e trajetórias percorridos por tais objetos. Aspecto começa a ser incorporado aos sinais 
para expressar diferenças entre ações (por exemplo, CORRER devagar, CORRER rápido). 
A criança começa a estender as marcas de negação sobre sentenças assim como os 
adultos fazem, inclusive omitindo o item lexical de negação. As crianças, também, 
já utilizam estruturas interrogativas de razão (POR QUE). Nesse período, as crianças 
começam a contar estórias que não necessariamente estejam relacionadas aos fatos 
do contexto imediato. Elas falam de algum fato ocorrido em casa, sobre o bichinho de 
estimação, sobre o brinquedo que ganhou etc., no entanto, às vezes, não fica claro o 
estabelecimento dos referentesno espaço, o que dificulta o entendimento das estórias.
Por volta dos quatro anos de idade, as crianças já apresentam condições de 
produzir configurações de mãos bem mais complexas, bem como o uso do espaço para 
expressar relações entre os argumentos, ou seja, as crianças exploram os movimentos 
incorporados aos sinais de forma estruturada. A partir desse período, elas começam 
a combinar unidades de significado menores para formar novas palavras de forma 
consistente. Nesse período, começam a ser observadas a produção de sentenças 
mais complexas incluindo topicalizações. As expressões faciais são usadas de acordo 
com a estrutura produzida, isto é, as produções não manuais das interrogativas, 
das topicalizações e negações são produzidas corretamente. As crianças ainda não 
conseguem conservar os pontos estabelecidos no espaço quando contam suas estórias, 
apesar de já serem observadas algumas tentativas com sucesso. Aos poucos, torna-se 
mais claro o uso da direção dos olhos para concordância com os argumentos, bem 
como o jogo de papéis desempenhado através da posição do corpo explorados para o 
relato de estórias.
Na verdade, nas análises da produção das crianças adquirindo a língua de sinais 
brasileira foi observado que a direção dos olhos é usada consistentemente por volta dos 
2 anos de idade. O uso da concordância verbal através do olhar é uma das informações 
137
que garante a compreensão do discurso da criança durante este período tão precoce. 
O contexto em que esse processo de aquisição acontece é aquele em que as crianças 
têm a chance de encontrar o outro surdo, ou seja, além de ver os sinais, ela precisará ter 
escutas em sinais (Souza, 2000).
A escola torna-se, portanto, um espaço linguístico fundamental, pois 
normalmente é o primeiro espaço que a criança surda entra em contato com a língua 
brasileira de sinais. Por meio da língua de sinais, a criança vai adquirir a linguagem. Isso 
significa que ela estará concebendo um mundo novo usando uma língua que é percebida 
e significada ao longo do seu processo. Todo esse processo possibilita a significação 
por meio da escrita que pode ser na própria língua de sinais, bem como, no português. 
Como diz Karnopp (2002), as pessoas não constroem significados em vácuo.
O português ainda é a língua significada por meio da escrita nos espaços 
educacionais que se apresentam a criança surda. A sua aquisição dependerá de sua 
representação enquanto língua com funções relacionadas ao acesso às informações 
e comunicação entre seus pares por meio da escrita. Entre os surdos fluentes em 
português, o uso da escrita faz parte do seu cotidiano por meio de diferentes tipos de 
produção textual, em especial, destaca-se a comunicação através do celular, de chats 
e e-mails.
No entanto, atualmente a aquisição do português escrito por crianças surdas 
ainda é baseada no ensino do português para crianças ouvintes que adquirem o 
português falado. A criança surda é colocada em contato com a escrita do português 
para ser alfabetizada em português seguindo os mesmos passos e materiais utilizados 
nas escolas com as crianças falantes de português. Várias tentativas de alfabetizar a 
criança surda por meio do português já foram realizadas, desde a utilização de métodos 
artificiais de estruturação de linguagem até o uso do português sinalizado.
No Brasil, os métodos artificiais de estruturação de linguagem mais difundidos 
foram a Chave de Fitzgerald e o de Perdoncini. Português sinalizado é um sistema 
artificial adotado por escolas especiais para surdos. Tal sistema toma sinais da língua de 
sinais e joga-os na estrutura do português. Há vários problemas com esse sistema no 
processo educacional de surdos, pois além de desconsiderar a complexidade linguística 
da língua de sinais brasileira, é utilizado como um meio de ensino do português.
A criança surda pode ter acesso a representação gráfica da língua portuguesa, 
processo psicolinguístico da alfabetização e a explicitação e construção das referências 
culturais da comunidade letrada. A tarefa de ensino da língua portuguesa tornar-se-á 
possível, se o processo for de alfabetização de segunda língua, sendo a língua de sinais 
reconhecida e efetivamente a primeira língua.
138
Nesse processo, há vários momentos em que se faz necessária a análise 
implícita e explícita das diferenças e semelhanças entre a língua de sinais brasileira e o 
português. Nesse sentido, há processos em que ocorre a tradução dos conhecimentos 
adquiridos na língua de sinais, dos conceitos, dos pensamentos e das ideias para 
o português.
Ao fazer a análise explícita entre as duas línguas, estamos utilizando a linguística 
contrastiva, ou seja, estamos comparando as semelhanças e diferenças entre as 
línguas em seus diferentes níveis de análise. Por exemplo, na língua portuguesa temos 
um conjunto de preposições que estabelecem algum tipo de relação entre o verbo e 
o resto da oração. Na língua de sinais, esta relação é estabelecida pelo uso do espaço 
incorporado ao verbo ou da indicação (apontação).
O ensino do português pressupõe a aquisição da língua de sinais brasileira – “a” 
língua da criança surda. A língua de sinais também apresenta um papel fundamental 
no processo de ensino-aprendizagem do português. A ideia não é simplesmente uma 
transferência de conhecimentos da primeira língua para a segunda língua, mas sim um 
processo paralelo de aquisição e aprendizagem em que cada língua apresenta seus 
papéis e valores sociais representados.
FONTE: QUADROS, R. M. de; SCHMIEDT, M. L. P. Ideias para ensinar português para alunos surdos. 
Brasília: MEC, SEESP, 2006. Págs. 18 a 24.
139
RESUMO DO TÓPICO 3
 Neste tópico, você aprendeu:
• O cenário sociolinguístico brasileiro é marcado por uma diversidade linguística, social 
e cultural. No Brasil, estima-se que coexistem cerca de 330 línguas, destas, 274 são 
línguas indígenas (IBGE, 2010) e 56 línguas de imigração.
• Além da Libras, oficializada pela Lei Federal Nº 10.436, de 24 de abril de 2002, o Brasil 
possui pelo menos duas línguas que já foram documentadas: a língua de sinais de 
Urubu-Kaapor no Estado do Maranhão e a língua de sinais conhecida como “Cena”, 
falada na cidade de Jaicós, no povoado de Várzea Queimada, no interior do Piauí, 
ambas na região Nordeste do Brasil.
• As línguas de sinais são reconhecidas como de modalidade gestual-visual. Além 
disso, as línguas de sinais são também línguas naturais, pois surgiram da interação 
espontânea entre indivíduos.
• As línguas de sinais não são pantomimas e nem universais. Elas possuem gramática 
própria, além dos níveis linguísticos, fonológico, morfológico, semântico, sintático 
e pragmático, o que possibilita aos seus usuários expressarem diferentes tipos de 
significados, dependendo da necessidade comunicativa e expressiva do indivíduo.
• Em Roraima, Norte do Brasil, além do Português, em seu cenário sociolinguístico 
destacam-se as línguas indígenas, de imigração e línguas de sinais também estão 
presentes nessa região. Quanto às línguas indígenas destacam-se: Carib, Aruaque e 
Yanomami, além das línguas de sinais: Libras e a Língua de Sinais Venezuelana-LSV
• De acordo com os autores, Raso, Mello e Altenhofen (2011, p. 47) “todo uso da língua 
em interação pressupõe um contato linguístico, e que o que entra em contato são, 
antes de tudo, modos de falar individuais (idioletos) identificados com variedades 
linguísticas específicas”.
• O Brasil é um país diverso linguisticamente, consequentemente temos também 
que considerar a presença da diversidade de ideias, sociais, culturais e identitárias, 
mostrando que o que entra em contato não são somente as línguas, mas também 
situações políticas, sociais e culturais que caracterizam um cenário sociolinguístico 
(ALTENHOFEN, 2008).
• O contato linguístico é visto como um fenômeno que, dada as suas características de 
interações entre línguas, inevitavelmente é lavado ao bilinguismo.
140
• Existem pelo menos seis tipos de contato linguístico:a) Português e línguas autóctones 
(indígenas), b) Português e língua afro-brasileiras, c) Português e línguas alóctones 
(de imigração), d) Português como língua alóctone em contato com línguas oficiais, 
e) Português e línguas co-oficiais em contato, f) contatos linguísticos de fronteira 
com países vizinhos e contatos entre falantes de variedades regionais do Português.
141
1 Nos debates sobre contato linguístico, estão inseridas as discussões que tratam das 
diferentes variedades relacionadas ao local em que os indivíduos vivem, tendo isso 
em mente, analise a história em quadrinhos abaixo em que o diálogo apresentado 
mostra uma situação de contato linguístico:
QUADRINHO SOBRE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
AUTOATIVIDADE
FONTE: <https://bit.ly/3LTfdPX>. Acesso em: 13 ago. 2021.
Marque a alternativa CORRETA sobre o tipo de contato em evidência nesta história 
em quadrinhos.
a) ( ) Português e línguas afro-brasileiras.
b) ( ) Português e línguas autóctones (indígenas).
c) ( ) Contato linguístico entre falantes de variedades regionais do Português.
d) ( ) Português e línguas alóctones (de imigração).
2 Os contatos linguísticos são delimitados a partir do momento em que indivíduos 
falantes ou sinalizantes de línguas diferentes se relacionam por e através da língua, 
deste modo, interagem linguisticamente. Contudo, este contato não se dá apenas 
em relação ao uso de expressões ou acréscimo de léxico, pois no conceito de contato 
linguístico pode ser delimitado como:
a) ( ) O conceito de contato linguístico exclui os aspectos políticos, culturais, 
identitários e sociais da língua.
b) ( ) As línguas de sinais estão em contato somente com outras línguas de sinais.
c) ( ) Não existe contato linguístico no Brasil, considerando que ele é um país monolíngue.
d) ( ) O que entra em contato não são somente as línguas, mas também situações 
políticas, sociais e culturais que caracterizam um cenário sociolinguístico.
3 As línguas naturais são aquelas que surgem a partir da capacidade inata da mente 
humana compreender e de desenvolver a partir de uma organização que se divide 
em uma estrutura imaterial que apresenta normas, regras e delimitações amplas e, 
142
ao mesmo tempo, limitadas, ou seja, a língua permite que falemos ou sinalizemos 
muitas coisas de inúmeras maneiras, mas não de qualquer maneira. Assim, DISSERTE 
sobre o porquê de as línguas de sinais serem consideradas línguas naturais.
4 O contato linguístico é a relação existente entre duas ou mais línguas que se dá 
através das relações comunicativas entre indivíduos. Deste modo, dadas as suas 
características de interações entre as línguas, é visto como um fenômeno que levará, 
inevitavelmente, a uma situação em que os sujeitos envolvidos neste contato serão 
capazes de utilizar duas ou mais línguas de acordo com o contexto comunicativo em 
que estiverem envolvidos. Assinale a alterativa em que está escrito o nome desta 
situação na qual os indivíduos são capazes de se movimentar comunicativamente 
em duas ou mais línguas:
a) ( ) Bilinguismo.
b) ( ) Monolinguismo.
c) ( ) Interlíngua.
d) ( ) Separação das línguas.
5 De acordo com os autores, Raso, Mello e Altenhofen (2011, p. 47), “todo uso da língua 
em interação pressupõe um contato linguístico, e que o que entra em contato são, 
antes de tudo, modos de falar individuais (idioletos) identificados com variedades 
linguísticas específicas”. Essa afirmação dos autores está relacionada às discussões 
sobre o contato entre as línguas, disserte sobre as questões referentes aos modos de 
sinalizar individuais em relação à Libras e à discussão sobre contato linguístico, tendo 
em vista as diferenças encontradas nas diferentes sinalizações para um mesmo 
referente, por exemplo, PAI que tem diferentes maneiras de ser realizado, conforme 
as sinalizações a seguir, retiradas de Silva (2015), p. 4-5:
 HOMEM + BÊNÇÃO PAI
FONTE: Adaptado de Silva, 2015, p. 4-5.
FONTES: RASO, T.; MELLO, H.; ALTENHOFEN, C. V. Os contatos linguísticos e o Brasil – Dinâmicas pré-histó-
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147
POLÍTICAS LINGUÍSTICAS, 
AQUISIÇÃO, LÍNGUA E LÉXICO
UNIDADE 3 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• reconhecer a importância das políticas públicas linguísticas para a garantia de direitos 
ao povo surdo;
• identificar elementos que exemplifiquem os fenômenos linguísticos vinculados à 
interferência e à intercorrência entre a LP e a Libras;
• relacionar a vivência da língua ao desenvolvimento e à compreensão das identidades 
surdas em contexto;
• diferenciar os fenômenos linguísticos relacionados ao bilinguismo e à diglossia;
• debater a respeito da aquisição da Libras por surdos e ouvintes sob uma perspectiva 
social;
• conectar as noções de língua, léxico e sociedade;• examinar o surgimento dos sinais internacionais nas dimensões políticas e sociais;
• diferenciar as noções de sinais internacionais, Gestuno e Esperanto, através de 
características linguísticas.
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de 
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – DIREITOS LINGUÍSTICOS: POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIOLINGUÍSTICA
TÓPICO 2 – PERTENCIMENTO SOCIAL MEDIADO PELA LÍNGUA NA FORMAÇÃO DA 
IDENTIDADE SURDA
TÓPICO 3 – SINAIS INTERNACIONAIS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
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148
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UNIDADE 3!
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149
TÓPICO 1 — 
DIREITOS LINGUÍSTICOS: POLÍTICAS 
PÚBLICAS E SOCIOLINGUÍSTICA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, veremos algumas das questões que envolvem os 
debates e os embates que ocorrem na relação da língua com a sociedade, a partir da 
perspectiva das políticas públicas. Inicialmente, debateremos a respeito de alguns dos 
aspectos relacionados ao modo através do qual as políticas públicas estão relacionadas 
ao planejamento linguístico. Dito de outro modo, procuraremos compreender as bases 
das discussões que envolvem políticas públicas e a compreensão linguística da relação 
que se estabelece através da presença de diferentes línguas em uma sociedade. Ainda, 
estudaremos como se dá o reconhecimento dessa ligação a partir da compreensão 
linguística presente nos documentos que norteiam as políticas públicas que versam 
sobre esse tema.
Após, elencaremos elementos relacionados ao impacto das políticas públicas na 
educação bilíngue de pessoas surdas, tendo em vista que o modo através do qual elas 
direcionam recursos e esforços públicos influencia, diretamente, no desenvolvimento, 
ou não, de programas e processos relacionados ao bilinguismo, e fomentam ou acabam 
como currículos e práticas das mais diferentes instituições. Veremos, também, aspectos 
relacionados à percepção do plurilinguismo pela perspectiva dialógica bakhtiniana, de 
maneira a compreendermos o diálogo como espaço de existência plurilíngue.
Encerraremos este tópico com os debates da presença e da interferência da 
Língua Portuguesa (LP) em relação à Língua Brasileira de Sinais (Libras), de modo a 
compreendermos como esse processo se estrutura pela relação entre as duas línguas. 
Neste momento, a ênfase do debate será dada ao entendimento da relação específica 
entre LP e Libras, procurando destacar como as políticas públicas contribuem para 
a forma através da qual essa relação se estabelece, ou seja, aqui, a proposta é que 
pensemos na interferência como um fenômeno linguístico e, ao mesmo tempo, 
político. Logo, isso acaba sendo complementar às discussões linguísticas estabelecidas 
anteriormente, neste livro didático.
A partir desses debates apresentados em vista, a meta do tópico é traçar uma 
rota que permeia as discussões apresentadas até agora, de maneira a conectar o que 
já vimos, pela perspectiva sociolinguística, à compreensão de que as políticas públicas 
existentes têm impacto nas percepções da língua que chegam aos falantes, através dos 
usos das línguas que estão em permanente contato na sociedade. Dito de outro modo, 
150
este tópico, e, de certo modo, esta unidade final do Livro Didático de Sociolinguística 
da Libras, pretende estabelecer um caminho teórico que relacionará tudo o que foi 
estudado até o momento, a fim de organizar as discussões que envolvem língua e 
sociedade, através de diferentes aspectos e elementos apresentados até aqui.
Acadêmico, desejamos um ótimo percurso de estudos!
2 POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO
Acadêmico, para compreender os principais aspectos referentes a políticas 
públicas, vamos observar o seguinte exemplo, trazido pelo site Todos pela Educação 
(2020, s. p., grifo nosso):
Imagine que você e seus vizinhos decidam adotar, conjuntamente, um cachorro 
que está passeando nas redondezas. Para evitar aquele velho ditado “cachorro com 
mais de um dono morre de fome”, todos vocês teriam de fazer alguns combinados: 
delegar responsabilidades (que envolvem dinheiro e regras), como quem dá alimento 
em quais dias, quem tem disponibilidade para vacinar o animal e castrá-lo, quem pode 
ofertar abrigo esporádico etc. Assim, toda essa organização e processo contribuem 
para que um objetivo comum seja atingido: o bem do cãozinho.
Esta situação, na qual um grupo de pessoas delimita as responsabilidades 
que serão compartilhadas, é semelhante ao modo através do qual podemos 
compreender as políticas públicas, tendo em vista que um grupo de pessoas se 
associa para delimitar o que é preciso para manter o cãozinho, observe as seguintes 
áreas de cuidados que o cãozinho precisaria elaborada por nós a partir do exemplo 
do site Todos pela Educação (2020):
Saúde: consultas veterinárias, vacinas, medicamentos necessários.
Recursos financeiros: manutenção de ração, água, medicamentos e consultas 
médicas, produtos de limpeza e manutenção do espaço e do bichinho.
Recursos físicos: casinha, local para a casinha, pratinhos de ração e água, produtos 
de limpeza do animal e do espaço.
Alimentação: ração, água, tipos de alimentos a serem oferecidos.
Recursos humanos: aquisição da ração, delimitação da água a ser ofertada, reposição 
de ração e água, cuidados de higiene com a casinha e com o animalzinho, leva e busca 
das consultas veterinárias, responsabilidade pelo banho do animal.
Educação: regras de adestramento, local de circulação, delimitação sobre ser solto na 
rua ou preso em algum tipo de corrente.
151
Assim, podemos perceber as necessidades de se delimitarem e gerirem os 
diferentes aspectos que envolvem o cuidado com um bichinho, de modo que ele 
tenha todas as necessidades dele identificadas e atendidas pelo grupo que o adotou. 
Também, conseguimos notar que, mesmo um exemplo simples como esse, permite-nos 
compreender que existem vários aspectos que precisam ser levados em consideração 
e que se entrelaçam para o atingimento do objetivo comum, que é cuidar do cachorro 
comunitário, pois, mesmo que a ração seja comprada, se não houver uma pessoa 
responsável por servi-la ao cão, o alimento será desperdiçado e o animal ficará com 
fome. Assim, com o exemplo do cãozinho adotado coletivamente, percebemos que 
existe todo um apanhado de combinados, processos e recursos que precisam ser 
estruturados, de maneira adequada, para que todas as partes que compõem a meta 
comum sejam organizadas, satisfatoriamente, para o cão e os donos dele.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado à compreensão a respeito de como 
funcionam as políticas públicas, pois o conceito de políticas públicas está 
relacionado às decisões que o poder público toma em relação a todos os 
aspectos relativos à vida em sociedade. Desse modo, “[...] a política pública é um 
processo (com uma série de etapas e regras) que tem, como objetivo, resolver um 
problema público” (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020, s. p.). Assim, quando falamos de 
políticas públicas no sentido amplo de sociedade, temos uma infinidade de fatores que 
tornam, ainda mais complexa, a organização necessária para o atingimento de metas 
sociais que estejam relacionadas a necessidades da população. Para exemplificar os 
fatores envolvidos em um contexto de políticas públicas a nível nacional, o seguinte 
esquema demonstra alguns dos principais elementos a serem levados em consideração 
ao se pensar no objetivo de erradicar o analfabetismo:
FIGURA 1 - ESQUEMA DE ASPECTOS RELATIVOS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ERRADICAÇÃO 
DO ANALFABETISMO
FONTE: Adaptada de Toda Matéria (2020, s.p.)
152
Assim, ao observarmos o esquema anterior, podemos perceber que existem 
diferentes fatores envolvidos para que metas complexas, do contexto social, sejam 
percebidas e atingidas. Mesmo assim, a noção das políticas públicas permanece 
semelhante ao que vimos em relação ao cãozinho compartilhado, sendo um complexode processos que tem em vista a solução de uma necessidade social, e, para isso, 
precisa abarcar o maior número de possibilidades, compreensões e recursos.
Nesse contexto, é interessante compreender que tudo que envolve a vida em 
sociedade está relacionado à política, no sentido mais básico da palavra, tendo em vista 
que a base do conceito dessa palavra está centrada na vida da pólis, ou seja, nos modos 
através dos quais as cidades se organizavam. Assim, ao conectarmos os conceitos de 
língua e política, estamos estabelecendo a compreensão de uma organização da vida 
em cidades, aqui, com o sentido de sociedade, o que tem, como objetivo, estabelecer 
as estruturas sociais mediadas por e através da língua. Logo, as políticas públicas 
têm influência sobre o modo através do qual as línguas se relacionam no interior das 
sociedades, e são elas que delimitam as regras a partir das quais elas terão maiores ou 
menores poderes político e cultural.
Tendo isso em vista, podemos compreender que as políticas públicas, quando 
pensadas em relação ao planejamento linguístico, envolvem todas as decisões que se 
relacionam à língua oficial do país e que línguas serão aceitas como um meio legal de 
comunicação, expressão, válidas para o país. Ainda, é preciso levar em consideração o 
tipo de ensino de línguas que será proporcionado pelas instituições públicas e privadas 
de ensino, os fomentos que serão dados para que tipos de materiais de ensino, a língua 
dos documentos oficiais e os tipos de auxílio dados às pessoas que são usuárias de 
outras línguas no interior do país. Assim, as políticas públicas se relacionam com todos 
os aspectos da vida pública e englobam leis específicas de línguas e todas as demais 
relações que se manifestam por e através da língua.
3 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO BILÍNGUE 
PARA SURDOS
Acadêmico, no contexto das políticas públicas para a educação bilíngue de 
surdos, um marco, extremamente, importante é o reconhecimento da Libras como um 
meio legal de comunicação e expressão, válido em território nacional, através da Lei nº 
10.436, de 24 de abril de 2002 (BRASIL, 2002). Essa lei, não apenas, reconhece a Língua 
Brasileira de Sinais, como delimita que o uso dela
Art. 2º Deve ser garantido por parte do poder público, em geral, 
e empresas concessionárias de serviços públicos, formas 
institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de 
Sinais – Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização 
corrente das comunidades surdas do Brasil (BRASIL, 2002).
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Além disso, são elencados pontos que deverão ser desenvolvidos como parte 
da Política Linguística, como o fomento para o atendimento adequado aos surdos e 
deficientes auditivos, e estabelecidos pontos a serem observados pelos sistemas 
educacionais. No seguinte artigo, veremos que a Libras passa a compor os currículos 
para a formação de profissionais de Educação Especial, Fonoaudiologia e Magistério:
Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais 
estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a 
inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de 
Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, 
do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras, como parte 
integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, conforme 
legislação vigente (BRASIL, 2002).
Observe que a lei delimita a obrigatoriedade da inserção da Libras nos cursos, 
contudo, foi preciso o estabelecimento de normas específicas para a regulamentação 
de como as bases estabelecidas pela Lei nº 10.436/2002 seriam colocadas em prática 
(BRASIL, 2002). Com essa finalidade, o Decreto nº 5.626/2005 delimita como seriam 
aplicados os artigos da legislação que tornou a Libras uma das línguas reconhecidas 
como meio legal de comunicação e expressão (BRASIL, 2005). Nesse decreto, são 
regulamentados os aspectos referentes ao reconhecimento da Libras como meio 
legal de expressão. Tem nove capítulos, os quais abordam aspectos relevantes para a 
compreensão do direcionamento a ser dado a políticas linguísticas que visem à inserção 
da Libras no cotidiano das instituições. Isso quer dizer que é um dos documentos básicos 
para que compreendamos o papel das políticas públicas linguísticas para a educação 
de surdos, tendo em vista que ele estabelece as normas basilares para a inserção da 
Libras na sociedade, como forma legitimada de comunicação. Os nove capítulos serão 
destacados a seguir:
QUADRO 1 – SÍNTESE DO DECRETO Nº 5.626/2005
CAPÍTULO SÍNTESE
I - Das disposições preliminares
Delimita a compreensão de surdez a partir do 
uso da Libras e da vivência da cultura surda, 
bem como define os parâmetros audiométricos 
para deficiência auditiva.
II - Da inclusão da Libras como 
disciplina curricular
Reforça a Libras como disciplina curricular 
obrigatória nos cursos de licenciatura e 
fonoaudiologia, delimita quais cursos são 
compreendidos nestes grupos e coloca a 
disciplina como opcional nos demais cursos.
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III - Da formação do professor de 
libras e do instrutor de libras
Delimita as normas específicas para a formação 
de professores de Libras, determina a criação 
de cursos superiores para licenciatura em 
Letras/Libras, destaca a formação bilíngue para 
o curso de licenciatura, destaca a diferenciação 
entre as modalidades falada e escrita da LP 
em relação ao público surdo, evidencia a LP 
como segunda língua ou língua de instrução, 
dando ênfase à necessidade da formação 
de profissionais docentes surdos e/ou que 
reconheçam as necessidades linguísticas 
específicas do público surdo. Delimita a 
prioridade do público surdo nos cargos de 
professor e instrutor de Libras.
IV - Do uso e da difusão da Libras 
e da língua portuguesa para o 
acesso das pessoas surdas à 
educação
Delimita os modos como as instituições de ensino 
deverão promover “[...] acesso à comunicação, à 
informação e à educação nos processos seletivos, 
nas atividades e nos conteúdos curriculares 
desenvolvidos em todos os níveis, etapas e 
modalidades de educação, desde a educação 
infantil até à superior” (BRASIL, 2005, s.p.).
V - Da formação do tradutor 
e intérprete de libras – língua 
portuguesa
Determina a formação superior para o tradutor 
intérprete de Libras e delimita as estratégias 
que deverão ser utilizadas pelo período de 
dez anos a fim de suprir a necessidade de 
profissionais enquanto os cursos superiores são 
estruturados, autorizados e cursados. Define 
o período de um ano para que as instituições 
tenham tradutor intérprete de Libras.
VI - Da garantia do direito à 
educação das pessoas surdas ou 
com deficiência auditiva
Determina as regras para inclusão de alunos 
surdos nas instituições de ensino a partir de 
escolas e classes bilíngues para alunos surdos 
e ouvintes em todos os níveis de ensino e com 
o suporte de profissionais especialistas da área, 
bem como o direito ao Atendimento Educacional 
Especializado. Também são citadas a literatura, a 
cultura e os direitos linguísticos surdos.
VII - Da garantia do direito à 
saúde das pessoas surdas ou com 
deficiência auditiva
Priorização dos alunos matriculados na rede 
de educação básica nos serviços públicos 
de atendimento em saúde, de modo a sanar 
as necessidades de diagnóstico, tratamento 
e acolhimento das pessoas com deficiência 
auditiva.
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VIII - Do papel do poder público 
e das empresas que detêm 
concessão ou permissão de 
serviços públicos, no apoio ao uso 
e difusão da Libras
Garantia às pessoas surdas do atendimento em 
Libras e tradução/interpretação em LP/Libras.
IX - Das disposições finais
Inclusão de verbas para políticas púbicas que 
visem à difusão e utilização da Libras nos 
orçamentos em todos os níveis de governo.
FONTE: Adaptado de BRASIL (2005)
Desse modo, o Decreto nº 5626/2005 estabelece como deve ser posta em 
prática a Lei nº 10.436/2002, através da delimitação de prazos para inserção da Libras 
nas diferentes instituições públicas ou vinculadas ao serviço público, e determinaque os 
Estados e municípios destinem parte da verba para difusão, utilização e atendimento ao 
público surdo, ainda, com ênfase nos atendimentos de saúde e educação. O documento 
serve como norteador das políticas públicas que se desenvolveram no país, e causa 
uma revolução na difusão, no uso, nas pesquisas e na presença da Libras em todas as 
mídias, com níveis de interação e reconhecimento no país como um todo. Então, mesmo 
que, ainda, tenha-se muito a desenvolver em relação às políticas públicas, é preciso 
reconhecer que muito se desenvolveu nos cenários do uso da Libras e do acesso às 
instituições em todos os níveis e modalidades da educação (BRASIL, 2002; 2005).
Nesse mesmo decreto, percebe-se o entendimento linguístico do bilinguismo 
como meta a ser buscada em direção à inserção das pessoas surdas nas diferentes 
esferas da sociedade, de maneira que seja alcançado o uso da Libras como língua 
materna das pessoas surdas e, a Língua Portuguesa, como língua de instrução e língua 
oficial do Brasil (BRASIL, 2005). Nesse sentido, a Lei nº 14.191/2021 trouxe alterações na 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), ao alterar o texto de artigos da 
legislação máxima da Educação Nacional (BRASIL, 2021).
Inicialmente, a Lei nº 14.191/2021 delimita a compreensão de bilinguismo que 
será adotada na perspectiva da legislação (BRASIL, 2021, s. p., grifo nosso):
Art. 60-A. Entende-se, por educação bilíngue de surdos, para os 
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida 
em Língua Brasileira de Sinais (Libras), como primeira língua, e em 
português escrito, como segunda língua, em escolas bilíngues 
de surdos, classes bilíngues de surdos, escolas comuns ou em 
polos de educação bilíngue de surdos, para educandos surdos, 
surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas 
habilidades ou superdotação ou com outras deficiências associadas, 
optantes pela modalidade de educação bilíngue de surdos.
156
Observe que, neste artigo, as escolas bilíngues de surdos estão em primeira 
posição na listagem de locais citados, assim, reconhece e valida o impacto de outras 
legislações, mesmo aquelas que causaram polêmica, como a Política Nacional de 
Educação Especial, instituída pelo Decreto nº 10.502/2020, para uma mudança de foco, 
que coloca a educação especial e, por consequência, os debates do ensino de surdos 
como parte do sistema de ensino que não mais irá priorizar a matrícula em escolas 
regulares (BRASIL, 2020; 2021).
A alteração da LDB combina com a perspectiva linguística que promove o 
ensino da Libras, especificamente, para o público surdo que optar pela “[...] modalidade 
de educação bilíngue para surdos” (BRASIL, 2021, s. p.). Dito de outro modo, caso não 
seja feita a opção pelo ensino bilíngue, esse público poderá ser inserido em classes 
regulares, nas quais a língua oficial, o Português, será prioridade, sem que essa inserção 
específica, na LDB, faça qualquer menção à presença de tradutores e intérpretes de 
Língua de Sinais em classes regulares; fala, apenas, de tecnologias assistivas para 
surdos oralizados. Assim, embora não revogue o Decreto nº 5.626/2005, ao deixar 
de fora, da lei máxima da educação, a presença de intérpretes em classes regulares, 
reforça a inserção do público surdo em escolas e classes bilíngues, mesmo que coloque 
as escolas regulares como parte da política (BRASIL, 2005).
Assim, a alteração, na LDB, colocou a educação bilíngue como foco das políticas 
públicas linguísticas do ensino e aprendizagem para o público surdo, surdo-cego e 
deficiente-auditivo que utilizam a língua de sinais. Contudo, como vimos anteriormente, 
neste subtópico, é, apenas, um dos passos da proposta bilíngue para a educação de 
surdos, tendo em vista a necessidade de uma normatização semelhante àquela feita 
pelo Decreto nº 5.626/2005, em relação à Libras como língua, legalmente, utilizada 
com meio de comunicação e expressão (BRASIL, 2005). Desse modo, ainda, deverão 
ser elaborados outros documentos norteadores dessa proposta para que tenhamos 
uma visão mais clara do rumo que a educação bilíngue de surdos tomará a partir dessa 
alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Entretanto, é possível 
perceber que essa alteração, com certeza, também, terá impactos interessantes para a 
inserção, cada vez maior, da língua de sinais nos debates acadêmicos e sociais, os quais 
envolvem a educação que se dá através das línguas que estão em jogo nesse contexto: 
a Libras e a LP.
4 SOCIOLINGUÍSTICA, PLURILINGUÍSMO E LÍNGUA 
DE SINAIS
Acadêmico, talvez, você esteja pensando em que medida essas legislações 
estão envolvidas nas discussões que a Sociolinguística propõe como área de estudo 
e pesquisa, tendo em vista que este é o Livro Didático de Sociolinguística da Libras, 
não é verdade?!
157
Com relação às políticas públicas, estamos falando de para onde serão 
destinados os recursos limitados que existem para as instituições públicas de todas 
as instâncias. Assim, ao existir uma legislação que deu ênfase à Libras como língua 
válida no território nacional, e que a inseriu nos cotidianos administrativo e escolar, 
tivemos um destaque que gerou a inclusão da Língua de Sinais nos debates de língua 
e sociedade, os quais a área da Sociolinguística estuda, e se permitiu que tivéssemos, 
cada vez mais, estudos que pretendem compreender o modo através do qual a Libras 
se insere na sociedade a partir de usuários, incluindo a percepção da necessidade de 
entendermos como ela se estrutura internamente, em relação à variação e aos demais 
aspectos estudados pela Sociolinguística.
Nesse contexto, os debates a respeito do bilinguismo são relacionados ao 
domínio de mais de uma língua pelo mesmo indivíduo, sendo que alguns autores o 
utilizam, apenas, para fazer referência à coexistência de duas línguas, e outros o 
estabelecem de maneira mais ampla, independentemente da quantidade de 
idiomas utilizados por um mesmo indivíduo. Ainda, nesses debates, existem os 
termos trilíngue, para fazer referência às pessoas que interagem através de três 
línguas; plurilíngue, para indivíduos que utilizam mais de três línguas; e multilíngue, 
para contextos nos quais mais de uma língua é utilizada em uma país ou instituição, de 
modo oficial (IBANZES, 2021).
Dentro das diferentes perspectivas linguísticas que mesclaram língua e 
sociedade, temos a visão de Bakhtin, apresentada por Di Fanti (2003) e Faraco (2009), 
a partir da qual o plurilinguismo é compreendido pela perspectiva dialógica do 
discurso: “[...] ao contrário de abordagens conservadoras, não se restringe à diversidade 
de “línguas nacionais”, mas preserva a diversidade de vozes discursivas – posições 
que constituem o discurso – como característica fundamental para a concepção de 
linguagem” (DI FANTI, 2003, p. 102). Desse modo, é uma compreensão que percebe o 
plurilinguismo como a relação entre discursos diferentes que se misturam a partir de 
diferentes experiências e perspectivas linguísticas dos usuários da (s) língua (s) que 
tece (m) os discursos, a partir das diferentes vivências linguísticas.
Assim, podemos compreender que, mais do que a fluência em LP e Libras, 
as pessoas se relacionam através dos discursos produzidos nas diferentes línguas e 
através das infinitas experiências discursivas vivenciadas pelos indivíduos envolvidos 
em um diálogo. Para exemplificar, em uma conversa entre duas pessoas, mais do que 
uma língua compartilhada, como LP ou Libras, está em jogo, também, expectativas, 
experiências e vivências compartilhadas ou não, que dão origem aos significados que 
emergem dessa relação. Assim, em uma conversa entre dois surdos sinalizantes, está 
em contato muito mais do que a Libras como língua autônoma, pois se conectam, 
também, por e através da forma como cada um deles compreende e utiliza a língua, 
incluindo vários fatores linguísticos e culturais que influenciam o modo como a língua 
é utilizada. Alguns aspectos que podem fazer isso são: a fluênciade cada um deles, a 
região dos sinais que utilizam, o modo como estabelecem os referentes no espaço de 
158
enunciação, ou a forma através da qual a estrutura da língua portuguesa é mais ou 
menos presente na sinalização. Logo, ainda, podemos perceber elementos referentes 
ao grau de surdez, à experiência de sinalização, ao contato com outros surdos e ao 
maior ou menor contato com a língua portuguesa escrita ou oralizada.
Na perspectiva apresentada pela compreensão bakthiniana, o plurilinguismo 
é sinônimo de heteroglossia e pluralismo linguístico. “O plurilinguismo dialogizado 
pressupõe uma variedade de línguas/linguagens, e, com isso, diferentes estruturas 
enunciativas se confrontam, tendo em vista a diversidade de coerções nas relações 
sociais” (DI FANTI, 2003, p. 102). Dito de outro modo, o plurilinguismo se manifesta 
na interação pelo diálogo, que se dá através das línguas e do modo como estas se 
manifestam, e das linguagens, ou seja, dos modos de compreensão dos diferentes 
elementos que se relacionam em um diálogo. Ainda, neste momento de interação, várias 
organizações dialógicas (sejam sociais, linguísticas, culturais ou de outros tipos) são 
colocadas em debate a partir de inúmeras possibilidades que reprimem ou destacam 
aspectos específicos através das relações sociais.
Com um exemplo singelo dessas forças em contato em um discurso, imagine 
que você é um tradutor-intérprete de Libras que está fazendo uma entrevista para 
trabalhar, a gravação de materiais para uma grande editora. Você, por mais que conheça 
termos técnicos e saiba várias formas de dizer uma mesma sentença em Libras, ao 
perceber que o entrevistador tem, apenas, um conhecimento superficial da Língua de 
Sinais, terá que ajustar a sua tradução/interpretação de maneira que o entrevistador 
compreenda a sentença sinalizada, a fim de conferir os conhecimentos em Libras, 
mesmo que a partir de uma fluência menor do que a sua. Ou seja, a partir das leituras 
feitas por você, da situação, das pessoas envolvidas, da tarefa dada e da profundidade 
do conhecimento linguístico no embate, você precisaria ajustar o seu discurso a partir 
do que espera obter através da língua.
5 PRESENÇA E INTERFERÊNCIAS LP E LIBRAS
Acadêmico, para encerrar este tópico, destacaremos alguns pontos referentes 
à relação sociolinguística entre a Língua Portuguesa e a Libras. Neste momento, 
enfatizaremos a compreensão de como as políticas públicas são importantes para o 
estabelecimento dessa relação entre a LP e a Libras. Logo, a visão que permeia este 
subtópico tem, como norte, a compreensão de que a presença e a interferência da 
língua majoritária, na Libras, são fenômenos linguísticos e políticos.
Como vimos anteriormente, neste tópico, as políticas públicas influenciam o 
modo por meio do qual as línguas interagem na sociedade, isso porque, através dos 
investimentos feitos pelas diferentes esferas do poder público, o uso da Libras se tornou 
obrigatório em vários contextos. Assim, as políticas públicas criaram condições para 
que a língua de sinais se tornasse parte das discussões sociais e acadêmicas, e para 
que ganhasse relevância em diferentes contextos educacionais, culturais e sociais.
159
É necessário compreender que, se as leis, sozinhas, não mudam nada, sem elas, 
tampouco, as situações mudam, quando pensamos na história das línguas de sinais. 
Isso fica ainda mais relevante, tendo em vista que as principais discussões a respeito 
da educação de surdos, ao longo da história, pautaram-se, principalmente, no debate 
entre a permissão, ou não, do uso das línguas de sinais, ou seja, se a política vigente iria, 
ou não, proibir, ignorar ou fomentar o uso de uma língua, especificamente, estruturada, 
a partir do uso feito pelas pessoas surdas. Cabe destacar que, independentemente das 
leis ou das políticas públicas específicas, as línguas existem em função da necessidade 
enunciativa dos falantes/sinalizantes dessa língua, ou seja, a existência das línguas de 
sinais (ou quaisquer outras) não está relacionada a leis, mas a pessoas que a utilizam, 
independentemente das leis vigentes.
É relevante destacar que as leis e as políticas públicas envolvidas podem 
dificultar ou facilitar o conhecimento, o acesso e o uso das línguas a partir do modo 
por meio do qual os recursos são destinados e as visões educacionais e sociais são 
divulgadas. Acadêmico, você já tem uma certa caminhada dentro do curso, por isso, já 
deve ter visto, em outros momentos, que a possibilidade de utilizar a língua de sinais, 
em contextos institucionais, é bem recente na história linguística dos surdos, tendo em 
vista que eles passaram por várias compreensões, as quais os tratavam desde seres 
especiais, que intercederiam junto aos deuses, até seres incapazes de raciocínio e 
que não tinham direito à herança, a não ser que conseguissem oralizar. Ainda, fazem 
parte, dessa história, diferentes compreensões de educação das pessoas surdas, 
que iam desde o entendimento de que seria impossível ensiná-los; depois, de que 
se poderia, apenas, aprender a língua oral, sendo proibida a língua de sinais; ou, mais 
recentemente, surgiu o uso da língua de sinais como meio de comunicação, mas, ainda, 
com ênfase na língua oral. Por fim, na atualidade, a compreensão da língua de sinais, 
pelas perspectivas bilíngue e bicultural, percebe o surdo como um sujeito que está em 
um lugar de sinalização da língua de sinais, inserido em um mundo no qual a LP escrita 
continua sendo necessária para as vivências em sociedade, tendo em vista que a língua 
oficial do Brasil é a língua oral majoritária.
Assim, a língua de sinais permanece como um bem cultural e linguístico 
do povo surdo, independentemente do modo através do qual as políticas públicas 
a percebem. Entretanto, a legislação e o fomento públicos trouxeram o foco e os 
investimentos necessários para que a Libras se tornasse um meio de comunicação 
relevante socialmente, a ponto de termos a inserção social dos tradutores-intérpretes 
nos mais diferentes contextos públicos e privados, presenciais e on-line, como vimos 
nas diversas lives e shows de música ao longo dos últimos anos.
Portanto, as políticas públicas têm as importâncias de criar contextos, 
estabelecer prazos e reforçar a presença da Libras na sociedade do nosso país, a fim de 
aumentar a circulação da língua e, com isso, criar espaços nos quais a língua é, cada 
vez mais, utilizada e conhecida. Dessa forma, ocorrem mais trocas entre usos regionais 
da língua de sinais e criação de sinais novos para novos contextos e usos, como ocorre 
160
no ambiente acadêmico, no qual a presença, cada vez maior, de alunos e professores 
surdos faz com que sejam necessárias novas formas de se organizarem reuniões, de 
se pensarem em políticas internas das instituições, em adaptações dos espaços, e, 
exatamente por isso, ocorrem, também, maiores contextos, nos quais a interferência 
entre as duas línguas é latente, posto que estão em contato frequente.
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RESUMO DO TÓPICO 1
 Neste tópico, você aprendeu:
• O conceito de políticas públicas está relacionado às decisões que o poder público 
toma em relação a todos os aspectos relativos à vida em sociedade.
• Quando falamos em Políticas Públicas no sentido amplo de sociedade, teremos uma 
infinidade de fatores que tornam ainda mais complexa a organização necessária 
para o atingimento de metas sociais que estejam relacionadas a necessidades 
da população.
• Ao conectarmos os conceitos de Língua e Política estamos estabelecendo a 
compreensão de uma organização da vida na sociedade.
• As políticas públicas têm influência sobre o modo como as línguas se relacionam no 
interior das sociedades, bem como são elas que delimitam as regras a partir das quais 
elas terão maior ou menor poder político e cultural.
• As políticas públicas se relacionam com todos os aspectos da vida pública e 
englobam tanto a leis específicas sobre as línguas, mas todas as demais relações que 
se manifestam por e através da língua.• No contexto das Políticas Públicas para a Educação Bilíngue de Surdos, um marco 
extremamente importante, é o reconhecimento da Libras como meio legal de 
comunicação e expressão válido em território nacional, através da Lei nº 10.436, de 
24 de abril de 2002.
• O Decreto nº 5.626/2005 tornou a Libras uma das línguas reconhecidas como meio 
legal de comunicação e expressão, sendo um dos documentos básicos para que 
compreendamos o papel das Políticas Públicas Linguísticas para a Educação de Surdos.
• Nesse mesmo decreto, se percebe o entendimento linguístico do bilinguismo como 
meta a ser buscada em direção à inserção das pessoas surdas nas diferentes esferas 
da sociedade.
• A Lei nº 14.191, de agosto de 2021, trouxe alterações na Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional (LDB) ao alterar o texto de artigos da legislação máxima da 
Educação Nacional.
• A alteração na LDB colocou a Educação Bilíngue como foco das Políticas Públicas 
linguísticas do ensino e aprendizagem para o público surdo, surdo-cego e deficiente-
auditivo que utiliza a língua de sinais.
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• O plurilinguismo como a relação entre discursos diferentes que se misturam a partir 
das diferentes experiências e perspectivas linguísticas dos usuários da(s) língua(s) 
que tecem os discursos a partir das diferentes vivências linguísticas.
• Mais do que a fluência em LP e Libras, as pessoas se relacionam através dos discursos 
produzidos nas diferentes línguas e através das infinitas experiências discursivas 
vivenciadas pelos indivíduos envolvidos em um diálogo.
• O plurilinguismo se manifesta na interação pelo diálogo que se dá através tanto das 
línguas e do modo como estas se manifestam, quanto das linguagens.
• A presença e a interferência da língua majoritária na Libras são fenômenos linguísticos 
e político.
• É através dos investimentos feitos pelas diferentes esferas do poder público que o 
uso da Libras se tornou obrigatório em vários contextos.
• As Políticas Públicas criaram condições para que a língua de sinais se tornasse parte 
das discussões sociais e acadêmicas bem como para que ganhasse relevância em 
diferentes contextos educacionais, culturais e sociais.
• A existência das línguas de sinais (ou quaisquer outras) não está relacionada a leis, 
mas sim às pessoas que a utilizam independentemente das leis vigentes.
• As leis e as políticas públicas envolvidas podem dificultar ou facilitar o conhecimento, 
o acesso e o uso das línguas a partir do modo como os recursos são destinados e as 
visões educacionais e sociais são divulgadas.
• A língua de sinais permanece como um bem cultural e linguístico do povo surdo, 
independentemente do modo como as Políticas Públicas as percebem.
163
1 As políticas públicas têm influência sobre o modo como as línguas se relacionam 
no interior das sociedades, bem como são elas que delimitam as regras a partir das 
quais terão maior ou menor poder político e cultural. A partir disso, cite três questões 
linguísticas relacionadas às Políticas Públicas sobre planejamento linguístico.
2 O Decreto nº 5.626/2005 delimita como seriam aplicados os artigos da legislação 
que tornou a Libras uma das línguas reconhecidas como meio legal de comunicação 
e expressão, este documento é composto por nove artigos, dentre estes cinco são 
relativos à Educação de Surdos, marque a alternativa que apresenta a junção correta 
entre o número do artigo sobre Educação e o que ele delimita:
a) ( ) Artigo II - Da formação do tradutor e intérprete de libras – língua portuguesa.
b) ( ) Artigo III - Do uso e da difusão da Libras e da língua portuguesa para o acesso 
das pessoas surdas à educação.
c) ( ) Artigo IV - Da formação do professor de libras e do instrutor de libras.
d) ( ) Artigo V - Da inclusão da Libras como disciplina curricular.
e) ( ) Artigo VI - Da garantia do direito à educação das pessoas surdas ou com 
deficiência auditiva.
3 Ao falarmos Políticas Públicas estamos falando para onde serão destinados os 
recursos limitados que existem para as instituições públicas de todas as instâncias. 
Assim, ao existir uma legislação que deu ênfase à Libras como língua válida no território 
nacional e a inseriu no cotidiano administrativo e escolar, tivemos um destaque que 
resultou na inclusão da Língua de sinais nos debates de Língua e Sociedade que a 
área da Sociolinguística estuda e permitiu que tivéssemos cada vez mais estudos que 
pretendem compreender o modo como a Libras se insere na Sociedade a partir de 
seus usuários, bem como a percepção da necessidade de entendermos como ela se 
estrutura internamente em relação à variação e os demais aspectos estudados pela 
Sociolinguística. A partir dos debates referidos anteriormente, analise as afirmações 
a seguir:
I- Os debates sobre bilinguismo são relacionados ao domínio de mais de uma língua 
pelo mesmo indivíduo sendo que este termo faz referência ao domínio de apenas 
duas línguas orais sem contar as línguas de sinais.
II- Na perspectiva dialógica, o plurilinguismo é percebido como a relação entre 
discursos diferentes que se misturam a partir das diferentes experiências e 
perspectivas linguísticas dos usuários da(s) língua(s) que tecem os discursos a 
partir das diferentes vivências linguísticas.
AUTOATIVIDADE
164
III- As pessoas se relacionam através dos discursos produzidos nas diferentes línguas 
e através das infinitas experiências discursivas vivenciadas pelos indivíduos 
envolvidos em um diálogo.
IV- O plurilinguismo se manifesta na interação pelo diálogo que se dá através tanto das 
línguas e quanto do modo como estas se manifestam.
Marque a alternativa CORRETA:
a) ( ) I, II e III.
b) ( ) II, III e IV.
c) ( ) I, III e IV.
d) ( ) I, II e IV.
e) ( ) II e IV.
4 A presença e a interferência da língua majoritária na Libras são fenômenos linguísticos 
e políticos. Sobre isso, julgue as afirmações a seguir colocando V para as afirmações 
verdadeiras e F para as sentenças falsas:
( ) As Políticas Públicas criaram condições para que a língua de sinais se tornasse 
parte das discussões sociais e acadêmicas.
( ) A Libras já tinha grande relevância em contextos educacionais, culturais e sociais 
antes que as Políticas Públicas em relação a ela fossem criadas.
( ) As leis sozinhas não mudam nada, sem elas tampouco as situações mudam.
( ) As principais discussões sobre Educação de Surdos ao longo da História se 
pautaram, principalmente no debate entre a permissão ou não do uso das línguas 
de sinais.
a) ( ) V, F, F, F.
b) ( ) V, F, V, F.
c) ( ) V, F, V, V.
d) ( ) F, V, F, F.
e) ( ) V, F, F, V.
5 O conceito de políticas públicas está relacionado às decisões que o poder público 
toma em relação a todos os aspectos relativos à vida em sociedade, por isso, o 
impacto das políticas públicas está relacionado diretamente à vida dos indivíduos 
em sociedade. A partir disso, observe o seguinte caso, tendo em vista os anos de 
promulgação da Lei nº 10.436/2002 e do Decreto nº 5.626/2005 e as datas que 
aparecem no relato sobre Carlos:
Carlos nasceu em 1960, ele era o único surdo em uma família de ouvintes, por isso, até 
os 39 anos não havia tido contato com a Libras, dependia de sua mãe para se deslocar 
pela cidade, se comunicar com pessoas fora de sua família e poder realizar qualquer 
interação ele utilizava-se de sinais caseiros ou de um bloquinho em que rascunhava 
as poucas palavras que havia aprendido em casa, tendo em vista que não conseguiu 
se adaptar à escola regular e a única escola para surdos da cidade era longe de sua
165
casa. Porém, quando estava com 39 anos, ele conheceu a Libras em uma igreja que 
a família havia começado a frequentar e se encantou com a possibilidade de poder se 
expressar em uma língua que fazia sentido para ele. A partir daí, ele não parou mais de 
aprender a língua de sinais e ganhar cada vez mais independência, inclusive, com a 
inserção de Sala de Recursos na escola mais perto de casa, conseguiu fazer o Ensino 
Fundamental e Médio, após,cursou Pedagogia e, em, 2009 estava cursando o mestrado 
em Pedagogia pela Universidade Federal mais próxima de sua casa, era instrutor de 
Libras em uma grande empresa e havia tirado a sua carteira de motorista com o suporte 
do intérprete e o aval da quantidade de avaliadores específica para seu caso.
Ao relacionarmos o caso de Carlos ao surgimento das Políticas Públicas relativas à 
Libras, às reservas de vagas para surdos e a presença de Atendimento Educacional 
nas escolas, como você destaca a importância das Políticas Públicas para a autonomia, 
independência e qualidade de vida dos surdos?
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PERTENCIMENTO SOCIAL MEDIADO PELA 
LÍNGUA NA FORMAÇÃO DA 
IDENTIDADE SURDA
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, para dar seguimento aos debates que abarcam a sociolinguística, em 
geral, e em relação às questões, especificamente, relacionadas aos estudos que envolvem 
a Língua de Sinais Brasileira e a presença dela na sociedade, iniciaremos este tópico 
destacando as noções de macro e microssociolinguística, de modo a compreendermos 
esses termos nos contextos dos estudos de Linguística e Sociolinguística. Ainda, neste 
trecho, veremos a comparação conceitual entre os termos Diglossia e Bilinguismo.
Após, debateremos, brevemente, a respeito do modo através do qual a 
Linguística se insere nas questões que relacionam os contextos sociais e históricos para 
a constituição dos sujeitos. Dito de outro modo, procuraremos apresentar reflexões que 
relacionam a aplicação da visão linguística para a compreensão de como os indivíduos 
se percebem no interior dos grupos sociais.
Em seguida, daremos continuidade ao desenvolvimento das noções debatidas, 
com observações referentes à língua, como modo de constituição dos sujeitos surdos 
como habitantes de situações de fronteiras linguísticas que se estabelecem no interior 
de uma sociedade compartilhada entre surdos e ouvintes, assim, serão traçadas 
algumas das características linguísticas relevantes para o entendimento de como a 
língua é parte relevante da constituição das identidades surdas. 
Por fim, traremos algumas reflexões das contribuições da Sociolinguística 
para o ensino de surdos e ao Letramento em LP, no contexto da surdez, de modo a 
relacionarmos a percepção bilíngue e os conceitos de eventos e práticas de letramento.
Acadêmico, desse modo, o objetivo principal deste tópico é delimitar os debates 
que envolvem as questões identitárias, relacionadas à língua em uso na sociedade, 
logo, as discussões terão, como meta, compreender como a Sociolinguística percebe o 
fenômeno linguístico no que diz respeito às noções de pertencimento social, mediada 
pela língua para a formação da identidade surda, isso porque a língua é a maneira 
através da qual os indivíduos se relacionam, são atravessados por ela e estabelecem 
relações através dela.
Bons estudos!
UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 
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2 MACRO E MICROSSOCIOLINGUÍSTICA: BILINGUISMO 
E DIGLOSSIA
Acadêmico, iniciaremos o nosso debate com o entendimento de que os 
estudos linguísticos podem ser divididos, didaticamente, em dois grandes grupos. Essa 
classificação é pautada no enfoque dado para a análise dos fenômenos linguísticos 
observados pelos estudiosos. Desse modo, a macro e a microlinguística não são 
correntes de estudos, ou teorias, pois são agrupamentos destas a partir da estrutura da 
língua. Caso o enfoque dado pretenda perceber e analisar o aspecto estrutural, será um 
estudo micro, ou seja, levará em consideração os detalhes organizacionais da língua. 
Já em uma pesquisa na qual a estrutura seja o ponto de partida para a compreensão 
de um quadro mais geral das relações que se estabelecem através da língua, aí, serão 
percebidas pesquisas no grupo da macrolinguística (BARBOSA, 2022). Observe o 
esquema a seguir, no qual aparecerão as principais áreas de pesquisa da linguística:
FIGURA 2 – CATEGORIZAÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO
FONTE: <https://ppgl.in/pesquisa-e-ensino/cepelin-laboratorios/>. Acesso em: 2 jul. 2022.
Observe que temos um esquema que se estabelece a partir de duas partes: 
núcleo e elementos que estão ao redor dele. Assim, podemos perceber que existem 
áreas que compõem o cerne das questões linguísticas, e que tratam dos elementos no 
microcosmo da língua. Já os campos de estudo que compõem o entorno do centro são 
aqueles que partem da estrutura básica, mas que têm, como objetivo, compreender de 
que modo esta se relaciona entre diferentes contextos. Assim, o esquema demonstra 
como a macrolinguística categoriza as áreas de estudo da língua que se preocupam em 
entender como as estruturas do interior da língua se estruturam entre si em situações 
textuais, sociais, históricas, discursivas, enunciativas, psicológicas, relativas às 
circunstâncias de uso e às estruturas neurológicas, dentre outras possibilidades. Para 
exemplificar essa explicação, analisaremos o sinal de GATO em Libras:
https://ppgl.in/pesquisa-e-ensino/cepelin-laboratorios/
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FIGURA 3 – SINAL GATO, VARIAÇÃO UTILIZADA NO RIO GRANDE DO SUL
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1382)
• Microlinguística: um estudo fonético estabeleceria as partes que compõem esse 
sinal: configuração de mãos, movimento, ponto de articulação, orientação de palma 
e expressão facial.
• Macrolinguística: um estudo de variações regionais, pela perspectiva da 
Sociolinguística desse sinal, encontrou cinco formas diferentes para o mesmo 
referente, de acordo com Capovilla et al. (2017, p. 1382). A seguir, colocaremos os 
demais modos de sinalização do léxico GATO:
FIGURA 4 – VARIAÇÕES REGIONAIS PARA O SINAL DE GATO
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1382)
Assim, podemos compreender que o entendimento das partes que constituem 
um sinal é parte dos estudos que procuram entender como se dá a formação estrutural 
dos sinais para perceber o conjunto de parâmetros que, ao ser utilizado, deve formar o 
léxico específico, assim, são intrínsecos (relativos ao interior) ao fenômeno linguístico. Já 
os estudos nos quais são comparados os modos através dos quais um mesmo referente 
pode variar, a depender da região na qual é utilizado, são relacionados às formas de se 
perceber a língua em uso a partir da estrutura, mas a nível de interação entre fatores que 
são extrínsecos (relativos à relação com o exterior) à estrutura linguística.
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Acadêmico, agora que já vimos as noções de macro e microlinguística, 
podemos transpor um raciocínio semelhante para a área específica da sociolinguística 
que, também, “[...] pode ser compreendida a partir de duas perspectivas diferentes 
de estudo: a macrossociolinguística e a microssociolinguística” (MONTEIRO, 2000 
apud EWALD; SOUSA, 2019, p. 68). Assim, com relação à área da linguística na qual 
pretendemos estudar as relações entre língua e sociedade, as noções de micro e 
macro, também, são formas de se categorizarem os diferentes pontos de vista da 
conexão entre língua e sociedade. De acordo com Santos (1999, p. 36-37, grifo nosso), 
“a distinção dos dois níveis, micro e macrossociolinguística, levou a Sociolinguística 
a buscar caminhos teóricos alternativos, embora esses dois níveis se inter-relacionem 
por apresentar aspectos diversos da mesma realidade”. Assim, ao se categorizarem os 
estudos da Sociolinguística em relação a aspectos da realidade sociolinguística, foram 
desenvolvidos modos diversos de se explicarem os mesmos fenômenos linguísticos, 
que demonstram diferentes ângulos da mesma realidade linguística. 
A fim de estruturarmos as características e os conceitos relacionados a cada 
um dos níveis de estudo da Sociolinguística, elaboramos o seguinte quadro:
QUADRO 2 – COMPARAÇÃO ENTRE ELEMENTOS RELACIONADOS À MICRO E MACROSSOCIOLINGUÍSTICA
Microssociolinguística Macrossociolinguística
Relações face a face
Relações socialmente 
constituídas
Variedades faladas por 
diferentes comunidades
Políticas Públicas
Fatores sociais Multilinguismo
Significado sócio simbólico do 
uso linguístico
Conflitos linguísticos
Língua materna Planificação linguística
Indivíduo bilíngue

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