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livro TEORIA DA HISTORIA I Rodrigo Simões

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Teoria da História I
Rodrigo Lemos Simões
Teoria da História I
Sumário
Capítulo 1 - Teoria da História: noções preliminares ......................5
Capítulo 2 - Situando o trabalho do historiador ...........................23
Capítulo 3 - Ainda situando o trabalho ........................................42
Capítulo 4 - História: campo epistemológico e conceitual ............61
Capítulo 5 - Os locais de pesquisa e as fontes .............................80
Capítulo 6 - A interação entre a teoria e a metodologia ..............99
Capítulo 7 - Pensar a história: das origens ao século XVIII .........116
Capítulo 8 - Das filosofias da história à história ciência ..............135
Capítulo 9 - Reflexos do romantismo e do historicismo...............153
Capítulo 10 - O marxismo e a história .......................................174
Teoria da História: 
noções preliminares
Rodrigo Lemos Simões
Capítulo 1
6 Teoria da História I
História: o que é e qual sua finalidade
História é uma palavra de origem grega – ιστορία – com signi-
ficado relacionado à investigação, averiguação. Atribui-se ao 
historiador grego chamado Heródoto, que viveu no século V 
a. C., o emprego desse termo com o sentido que lhe damos 
ainda hoje. Conhecido como o “pai da história”, seu trabalho 
distinguiu-se dos que lhe antecederam pelo fato de levar a 
cabo uma atividade de indagação, averiguação e investiga-
ção a respeito da veracidade dos acontecimentos passados. 
Desde as origens a palavra história, teve diferentes formas 
de ser empregada, servindo tanto para designar as ações hu-
manas ocorridas no passado e os seus desdobramentos em um 
dado contexto, sendo também entendida como o resultado dos 
questionamentos feitos sobre o passado e o relato dos mesmos. 
No rol das ciências, a história ocupa, segundo o historia-
dor inglês Keith Jenkins (2001, p. 23), um lugar bem específi-
co. Para ele:
[...] a história constitui um dentre uma série de discursos 
a respeito do mundo. Embora esses discursos não criem 
o mundo (aquela coisa física na qual aparentemente vive-
mos), eles se apropriam do mundo e lhe dão todos os sig-
nificados que têm. O pedacinho de mundo que é objeto 
(pretendido) de investigação da história é o passado.
Algumas das diferentes formas de interpretação do passa-
do, bem como do entendimento que temos na contemporanei-
Capítulo 1 Teoria da História: noções preliminares 7
dade a respeito do significado e do sentido atribuído à palavra 
história, fazem parte deste livro e serão vistos no decorrer de 
sua leitura. Por ora, cabe salientarmos que os historiadores fi-
zeram – e fazem – diferentes interpretações do que é a história 
e de sua finalidade. 
Se para Heródoto, cinco séculos antes da era cristã, a his-
tória era a busca de motivos e a exposição dos resultados de 
investigações que tinham como objetivo evitar que os feitos 
humanos fossem esquecidos, para Eusébio de Cesarea, na 
transição da antiguidade para o medievo, a história prestava-
-se à narrativa do triunfo do cristianismo ao longo do tempo.
No século XIX, o historiador alemão Leopold Von Ranke 
(2010) argumenta que a história interessa-se pelos eventos, 
além de como viveram e pensaram os homens em um determi-
nado tempo, sendo possível a obtenção de certezas a respeito 
da história universal. No limiar do século XX, Jenkins (2001) 
adverte-nos sobre a impossibilidade de atuação do historiador 
em todos os flancos do passado bem como sobre a multiplici-
dade de interpretações possíveis a respeito dos mesmos fatos 
ou processos, “um só passado, muitos historiadores”.
História acontecimento e a história 
conhecimento
“Papai, então me explica para que serve a história”. Assim, um 
garoto, de quem gosto muito, interrogava há poucos anos um 
pai historiador (BLOCH, 2001, p. 41). Essas frases iniciais do 
8 Teoria da História I
livro póstumo de Marc Bloch, publicado no ano de 1949 por 
Lucien Febvre, ainda que possam ser consideradas por alguns 
como demasiado singelas, podem nos conduzir por caminhos 
interessantes a respeito dos significados e do sentido em que a 
história foi pensada e efetivamente desenvolvida por diferentes 
tipos de pensadores ao longo do tempo.
Dois pontos importantes a serem destacados neste mo-
mento, e que podem ajudar-nos a compreender de uma 
forma mais ampla a história e o trabalho dos historiadores, 
dizem respeito à concepção de história “acontecimento” e a 
história “conhecimento”.
A história, enquanto “acontecimento”, remete-nos ao en-
tendimento de que somos seres sociais, que atuamos na trans-
formação do mundo em que vivemos e que essas transfor-
mações refletem de diferentes maneiras no nosso cotidiano. 
Ainda que tenhamos um olhar bastante objetivo sobre os im-
pactos causados pelo nosso potencial transformador em rela-
ção à natureza ou à sociedade, essas transformações também 
podem ser pensadas de uma maneira mais abrangente. 
Nossas ações, enquanto seres humanos, dotados de razão, 
consciência, desejos e interesses diversos, repercutem em dife-
rentes níveis espaciais e temporais, podendo configurar trans-
formações e rupturas com determinados modelos, como, por 
exemplo, a transição de um tipo de relação socioeconômica 
ou política para outra, em que novos agentes passam a atuar 
no sentido de ultrapassar os padrões pré-existentes, muitas ve-
zes impostos ou tidos como naturais. 
Capítulo 1 Teoria da História: noções preliminares 9
Por outro lado, também agimos no sentido de perpetuar 
determinadas formas de compreender e proceder em relação 
à sociedade da qual fazemos parte, estabelecendo como re-
gra, por exemplo, a continuidade de certos valores que irão 
balizar aquilo que consideramos bom ou ruim, belo ou feio, 
aceitável ou não. Nesse caso, também podemos encontrar in-
teresses diversos entre aqueles que empreendem o esforço de 
manutenção de uma ordem existente, bem como entre os que 
se empenham na transformação da sociedade, na mudança 
dos valores ou, mais objetivamente, na superação de certos 
componentes explícita ou implicitamente atribuídos a determi-
nados grupos ou à realidade em que se encontram.
Desde aqueles mais simples acontecimentos do nosso dia 
a dia, como de que e como nos alimentamos, como nos rela-
cionamos em casa, com os nossos familiares, ou na rua com 
pessoas que conhecemos ou não, o tipo de escolarização ou 
o de trabalho que desempenhamos, tudo isso está impregna-
do de significados que podem ser compreendidos por meio 
da história. 
A noção muito difundida ao longo do tempo de que ape-
nas os grandes acontecimentos do passado e os seus persona-
gens ilustres é que importavam à história foi a muito tempo ul-
trapassada, cedendo espaço para novas e variadas formas de 
concepção a respeito do que é ou não relevante ao trabalho 
do historiador. Sem perder a perspectiva dos grandes proces-
sos ou acontecimentos, abriram-se as portas do passado para 
que nele fossem buscados todo o tipo de pessoas, grupos ou 
situações considerados importantes no entendimento de um 
determinado local ou época. 
10 Teoria da História I
É aqui que damos início ao segundo sentido atribuído à 
história, a história “conhecimento”. Nessa perspectiva, torna-
-se importante levarmos em consideração que, assim como o 
passado foi feito pelos homens, a história ou, em outras pala-
vras, a concepção que temos a respeito do passado, também 
é uma construção humana, portanto, eivada de significados e 
interesses diversos. 
Conforme argumenta Jenkins (2001), o que temos na re-
alidade a respeito do passado são “histórias”, no sentido que 
existem múltiplas formas de se interpretar o que passou. Tem-
-se, então, que passado e história são coisas diferentes e estão 
distantes entre si no tempo e no espaço. Conforme esse autor 
(p. 24-25):
[...]a história, embora seja um discurso sobre o passado, 
está numa categoria diferente dele. Isso pode lhe parecer 
estranho, porque talvez você não tenha notado essa distin-
ção antes ou, do contrário, talvez ainda não tenha se preo-
cupado muito com ela. Uma das razões para que isso acon-
teça – ou seja, para que em geral a distinção seja deixada 
de lado – é que temos a perder de vista o fato de que real-
mente existe essa distinção entre história – entendida como 
o que foi escrito/registrado sobre o passado – e o próprio 
passado, pois a palavra “história” cobre ambas as coisas. 
Portanto, o preferível seria sempre marcar essa diferença 
usando o termo “o passado” para tudo que se passou an-
tes em todos os lugares e a palavra “historiografia” para a 
história; aqui, “historiografia” se refere aos escritos dos his-
toriadores. Também seria um bom critério (o passado como 
objeto da atenção dos historiadores, a historiografia como 
Capítulo 1 Teoria da História: noções preliminares 11
a maneira pela qual os historiadores o abordam) deixar a 
palavra “História” (com H maiúsculo) para indicar o todo.
O próprio Jenkins admite a dificuldade de nos desvenci-
lharmos do hábito tão arraigado de se generalizar o conceito 
de história tanto para a designação do passado como para o 
que dele se escreve. Ainda assim, e fazendo uso das suas pa-
lavras, o que nos cabe neste ponto é reforçar que “o passado 
já passou, e a história é o que os historiadores fazem com ele 
quando põem suas “mãos à obra”. A história é o ofício dos 
historiadores”. (JEKINS, 2001, p. 25)
Levando em consideração o que foi exposto acima, não 
se torna difícil compreender que, em se tratando de história, 
existem diferentes tipos de interpretações a respeito dos mes-
mos processos ou acontecimentos. Para Paul Veine (1995), a 
apreensão que os historiadores fazem do passado é sempre 
incompleta, acontecendo por intermédio de documentos, tes-
temunhos e indícios que possibilitam uma visão parcial a res-
peito do ocorrido. Soma-se a isso o fato de que a importância 
atribuída a determinados fatos depende dos critérios adotados 
por cada historiador, não tendo uma grandeza absoluta. 
Ao contrário disso, o autor argumenta que:
Os fatos não existem isoladamente, nesse sentido de que 
o tecido da história é o que chamaremos de uma trama, 
de uma mistura muito humana e muito pouco “científica” 
de causas materiais, de fins e de acasos; de um corte de 
vida que o historiador tomou, segundo sua conveniência, 
12 Teoria da História I
em que os fatos têm seus laços objetivos e sua importância 
relativa. [...]. A trama pode se apresentar como um corte 
transversal dos diferentes ritmos temporais, como uma aná-
lise espectral: ela será sempre trama porque será humana, 
porque não será um fragmento de determinismo. (VEYNE, 
1995, p. 28)
Nesse caso, assim como em outros tantos em que os his-
toriadores falam a respeito do trabalho que desenvolvem, po-
demos observar que se atribui constantemente significados ao 
passado. Este, por sua vez, nada tem a dizer, até que alguém, 
geralmente um historiador, chegue até ele por meio de suas 
fontes e lhe retire aquilo que se quer dado a saber. Portanto, 
a história enquanto “conhecimento” nos faz compreender sob 
um determinado ponto de vista, os diferentes aspectos do pas-
sado. Estes adquirem sentido em relação ao tempo histórico 
ao qual se vinculam, ao mesmo tempo em que são em relação 
à história, elementos passíveis das inquietações e interpreta-
ções do presente. 
O presente e o passado
A reciprocidade entre o passado e o presente no trabalho do 
historiador é um dos temas centrais da disciplina. No começo 
da década de 1960, o historiador Inglês E.W. Carr (2002, 
p.65), ilustra o trabalho historiográfico como um “diálogo in-
terminável entre o presente e o passado”. Nesse ponto, cabe 
Capítulo 1 Teoria da História: noções preliminares 13
esclarecermos uma diferença importante. Trata-se do que po-
demos chamar do “equivoco do anacronismo”, que consiste 
em atribuir ao passado formas de pensar ou agir caracterís-
ticas do presente, e, por outro lado, a compreensão correta 
de onde partem os historiadores em seus estudos, de que as 
questões feitas ao passado adquirem sentido e, portanto, são 
coerentes à época em que eles, os historiadores vivem. 
A esse respeito, Arlette Farge (2011, p. 11) acrescenta:
Certamente não é novidade para um historiador preocupar-
-se com os laços de seu discurso com a sociedade em que 
o inscreve: “quando falam da história, estão sempre na his-
tória”, escrevia Michel de Certeau. Bem antes dele, Marc 
Bloch tinha sublinhado reiteradas vezes a necessidade de 
ser curioso quanto aos problemas que agitam o mundo, de 
colocar questões pertinentes para a comunidade científica, 
de “unir o estudo dos mortos ao tempo dos vivos”. Podería-
mos citar ainda muitos exemplos sobre este ponto, bastante 
discutido, da ciência histórica.
Isto posto, podemos concluir que o passado, na forma 
como o conhecemos, está condicionado pelas formas como 
entendemos o presente. Ou seja, os historiadores, quando es-
crevem a respeito do passado, assim o fazem levando a efeito 
suas concepções de mundo, os aspectos teóricos que conside-
ram mais coerentes ou interessantes, suas ideologias e outros 
tantos conhecimentos. Dessa forma: “Para explicarem o passa-
do, os historiadores vão além do efetivamente registrado e for-
14 Teoria da História I
mulam hipóteses seguindo os modos de pensar do presente”. 
(JENKINS, 2001, p. 33)
Não existe, portanto, uma objetividade absoluta no traba-
lho do historiador. Ele opta por diferentes sistemas de interpre-
tação histórica, escolhe e faz uso de certos documentos em 
detrimento de outros, prioriza certos fatos ou processos, e, por 
mais que se esforce no sentido de uma imparcialidade, isso 
não seria suficiente para abstrair por completo sua crítica a 
respeito do passado. 
Levando-se em consideração as circunstâncias da época 
em que vivem, temos que os historiadores fazem diferentes 
perguntas ao passado, logo, diferentes serão as possíveis for-
mas de interpretá-lo. Isso irá transparecer ao longo de todo o 
processo de sua pesquisa, até o produto final do seu trabalho. 
Nesse sentido, Jean Glénisson (1977, p. 202), argumenta que:
Durante o longo período preparatório da pesquisa das fon-
tes, da crítica, esforçou-se ele no sentido da imparcialidade, 
talvez tenha pensado ser suficiente “deixar falar os textos”. 
Mas os textos só falam pela boca do historiador. Se quisés-
semos deixar que se exprimissem por si mesmos, uma só 
ordem seria possível – a ordem estritamente cronológica – e 
a história não existiria: não conheceríamos outros gêneros 
além da crônica e da publicação integral dos documentos. 
Toda a história é uma encenação pela qual o historiador 
é responsável: seu talento, suas tendências profundas, sua 
concepção do mundo aí se exprimem, a despeito dela mes-
ma, através da escolha que precisou fazer na massa de do-
cumentos que submerge; através da adoção de uma certa 
Capítulo 1 Teoria da História: noções preliminares 15
ordem de exposição; através dos juízos de valor – menos 
implícitos – que ele não pode deixar de formular, acerca 
dos homens e dos acontecimentos.
Ao contrário do que se propunha, o trabalho do historiador 
não pode ser entendido como uma mera descrição do passa-
do. Ele reconstrói parte do passado por meio da pesquisa que 
realiza, levando a efeito possibilidades de entendimento e in-
terpretação crítica das fontes que dispõe. Depreende-se disso 
a impossibilidade do historiador colocar-se à parte do texto 
que produz, sendo a subjetividade um componente intrínseco 
ao seu trabalho. 
O real e a verdade 
É possível que a história seja posta em dúvida quanto ao seu 
conteúdo de verdade? Afinal de contas, existeobjetividade em 
história? Que tipo de realidade encontramos quando lemos 
um trabalho de história? Qual o peso dessas questões no/
sobre o trabalho dos historiadores? 
Esses são alguns dos questionamentos feitos por leigos, es-
pecialistas de outras áreas e até mesmo pelos próprios histo-
riadores a respeito do seu métier. Por mais que já tenha sido 
visto e revisto, tal debate ainda fomenta boas discussões e po-
sicionamentos distintos.
16 Teoria da História I
Certamente, e esse é o primeiro pensamento que nos é sus-
citado quando pensamos a respeito do conteúdo de um livro 
de história, os historiadores não estão a escrever mentiras. A 
questão acerca da possibilidade de se chegar a uma verdade 
em história vai muito além disso, e, de certa forma, já come-
çamos a tratar dela nos parágrafos anteriores, quando fizemos 
referência ao seu caráter subjetivo.
Vejamos o que o mesmo Glénisson (1977, p. 190-191), 
nos fala a esse respeito:
De fato, como persistir acreditando na possibilidade atual 
de uma estrita objetividade histórica, quando somos obri-
gados a admitir que a história permanece em estado de 
“perpétua gestação”? [...] Sem necessidade de apelar à 
filosofia da história, os historiadores universitários, melhor 
do que ninguém, sabem com que rapidez saem da moda e 
devem ser substituídas as obras mais metódica e escrupu-
losamente compostas: Não mais se admite o pensamento 
histórico que as perpassa e impôs-se a todos uma nova 
maneira de ver e de explicar. Forçoso é constatarmos, en-
tão, para retomar uma fórmula célebre, que – a despeito de 
todos os nossos esforços – a história continua a ser “filha 
do seu tempo”.
Uma vez que relaciona o passado e o presente, o conheci-
mento histórico implica subjetividade e objetividade. O histo-
riador chega ao passado por meio de suas fontes. Estas, não 
lhes apresentam o passado por completo, são lacunares, ou 
se abrem a diferentes tipos de interpretação. Por seu turno, 
Capítulo 1 Teoria da História: noções preliminares 17
o historiador parte do presente munido de procedimentos e 
objetivos a serem exercitados sobre o material que dispõe a 
respeito do passado, alvo do seu estudo.
Ainda assim, e mesmo que consideremos a interpretação 
como um dos elementos imprescindíveis no trabalho do histo-
riador, não podemos deixar de levar em consideração que os 
fatos nos levam a determinados caminhos, argumenta Carr 
(2002, p. 62). A verdade, ou o que é considerado real no tra-
balho do historiador, repousa no fato deste conseguir estabe-
lecer, da melhor forma possível, um diálogo com suas fontes, 
alicerçando-a em certos princípios teóricos e metodológicos 
reconhecidos pelos seus interlocutores. 
Nas palavras de Certeau (1982, p. 44), podemos dizer que:
[...] a situação da historiografia faz surgir a interrogação 
sobre o real em duas posições bem diferentes do procedi-
mento científico: o real enquanto é o conhecido (aquilo que 
o historiador estuda, compreende ou "ressuscita" de uma 
sociedade passada) e o real enquanto implicado pela ope-
ração científica (a sociedade presente a qual se refere a 
problemática do historiador, seus procedimentos, seus mo-
dos de compreensão e, finalmente, uma prática do sentido). 
De um lado o real é o resultado da análise e, de outro, é o 
seu postulado. Estas duas formas da realidade não podem 
ser nem eliminadas nem reduzidas uma a outra. A ciência 
histórica existe, precisamente, na sua relação. Ela tem como 
objetivo próprio desenvolvê-la em um discurso.
18 Teoria da História I
Nesse sentido, e já encaminhando o encerramento deste 
capítulo, podemos dizer que os historiadores têm em mente 
que, o que escrevem é de certa forma datado – outas épo-
cas, outros questionamentos, o mesmo passado. Não existem 
verdades acabadas, absolutas e eternas na história, pois se 
isso fosse possível, por que continuaríamos a pesquisar sobre 
o passado? O caráter provisório atribuído às explicações his-
tóricas em nada diminui o seu papel em termos de ciência. 
Ao contrário, reforçam a ideia de que a própria ciência não 
pode ser pensada única e exclusivamente sob determinados 
paradigmas, e que a multiplicidade do devir humano exige 
novas formas de pensar e compreender sua atuação diante 
do mundo.
Referências
BLOCH, Marc. Apologia da história, ou O ofício do histo-
riador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
CARR, Edward Hallet. O que é história? 4. Ed. Rio de Janei-
ro: Paz e Terra, 2002.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: 
Forense Universitária, 1982.
FARGE, Arlette. Lugares para a história. Belo Horizonte: Edi-
tora Autêntica, 2011.
GLÉNISSON, Jean. Iniciação aos estudos históricos. 2. ed. 
Rio de Janeiro-São Paulo: DIFEL, 1977.
Capítulo 1 Teoria da História: noções preliminares 19
JENKINS, Keith. A história repensada. São Paulo: Contexto, 
2001.
RANKE, Leopold Von. Sobre o caráter da ciência histórica. In: 
MALERBA, Jurandir (Org.). Lições de história: o caminho 
da ciência ao longo do século XIX. Rio de Janeiro: Editora 
FGV, 2010.
VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a história. 3. ed. Edi-
tora Universidade de Brasília, 1995.
Atividades
1. História é uma palavra de origem grega – ιστορία – com 
significado relacionado à:
a) Invenção.
b) Deturpação.
c) Imaginação.
d) Segregação.
e) Investigação.
2. A respeito da concepção de história “acontecimento” e de 
história “conhecimento” é correto afirmar que:
20 Teoria da História I
(I). Enquanto “acontecimento”, a história reporta-nos ao 
entendimento de que somos seres sociais, que agimos 
na transformação do mundo em que vivemos e que es-
sas transformações repercutem de diferentes modos no 
nosso cotidiano.
(II). Na perspectiva da história “conhecimento” é impor-
tante considerar que, assim como o passado foi feito pe-
los homens, a história também é uma construção humana, 
portanto, eivada de significados e interesses diversos. 
(III). Em se tratando de história, não podem existir diferentes 
tipos de interpretações a respeito dos mesmos processos ou 
acontecimentos. 
(IV). A importância atribuída a determinados fatos depende 
dos critérios adotados por cada historiador, não tendo uma 
grandeza absoluta. 
Estão corretas as afirmações:
a) I e II.
b) I, II e III.
c) I, II e IV.
d) II, III e IV.
e) Todas as afirmações estão corretas.
3. Em relação à história enquanto “conhecimento”, é correto 
afirmar que:
Capítulo 1 Teoria da História: noções preliminares 21
a) A história enquanto “conhecimento” nos faz compreen-
der, sob um determinado ponto de vista, os diferentes as-
pectos do passado.
b) Não há dificuldade de nos desprendermos do costu-
me tão arraigado de se generalizar o conceito de histó-
ria tanto para a designação do passado como para o 
que dele se escreve.
c) O que temos a respeito do passado são “histórias”, 
no entanto, existe apenas uma forma de se interpretar o 
que passou.
d) Passado e história são a mesma coisa, não estando dis-
tantes entre si, no tempo e no espaço.
e) A apreensão que os historiadores fazem do passado é 
sempre total, acontecendo por intermédio de documentos, 
testemunhos e indícios que possibilitam uma visão comple-
ta a respeito do ocorrido.
4. No trabalho historiográfico, pode existir aquilo que chama-
mos de “equívoco do anacronismo”, o qual consiste em:
a) Atribuir ao presente formas de pensar e agir característi-
cas do passado.
b) Atribuir ao passado formas de pensar ou agir caracterís-
ticas do presente.
c) Atribuir ao presente formas de pensar e agir característi-
cas do presente.
22 Teoria da História I
d) Atribuir ao passado formas de pensar e agir característi-
cas do passado.
e) Atribuir ao passado nenhuma forma de pensar ou agir.
5. A verdade ou o que é considerado real no trabalho dohistoriador, apoia-se no fato deste conseguir estabelecer, 
da melhor forma possível, um diálogo com suas fontes, 
consolidando-o em:
a) certos princípios teóricos e metodológicos reconhecidos 
pelos seus interlocutores. 
b) certos princípios teóricos e metodológicos não reconhe-
cidos pelos seus interlocutores.
c) certos princípios teóricos e de suposição reconhecidos 
pelos seus interlocutores.
d) certos princípios metodológicos e de suposição não re-
conhecidos pelos seus interlocutores.
e) certos princípios teóricos, metodológicos e de suposição 
reconhecidos pelos seus interlocutores.
Gabarito:
1.e; 2.c; 3.a; 4b; 5.a.
Situando o trabalho 
do historiador
Rodrigo Lemos Simões
Capítulo 2
24 Teoria da História I
Os fatos e as tramas
Perguntar-se sobre o que é um fato histórico é inevitável quan-
do lidamos com as questões epistemológicas do campo histo-
riográfico. Todos os acontecimentos do passado estão abertos 
ao tipo de abordagem que interessa ao historiador, ou, ao 
contrário disso, somente alguns eventos são dignos de serem 
tratados como fatos históricos?
Podemos iniciar a resposta a esses questionamentos sa-
lientando que, de um modo geral, existem alguns fatos que 
formam a espinha dorsal do trabalho dos historiadores, como, 
por exemplo, uma batalha, o inicio de um reinado, um golpe 
contra a democracia etc. Contudo, convém lembrar que não 
são esses fatos propriamente ditos que interessam ao historia-
dor. Saber situar em relação a um dado evento é matéria bá-
sica em seu trabalho, o que irá fazer em termos de pesquisa a 
partir do conhecimento desses eventos é o que faz a diferença.
Segundo Carr (2002, p. 47), é um equívoco pensar que os 
fatos falam por si. “Os fatos falam apenas quando o historia-
dor os aborda: e é ele quem decide quais os fatos que vêm à 
cena e em que ordem ou contexto”. 
O mesmo ato pode ser repetido inúmeras vezes pelos mais 
variados personagens do passado e, ainda assim, só será dig-
no de estudo se alguém decidir que ele tem interesse histórico. 
Em tempo, cabe ressaltarmos que não estamos falando de um 
evento excepcional, de grandes desdobramentos numa socie-
dade. Até mesmo essa colocação, feita nesses termos, pode 
causar algum embaraço, uma vez que a dimensão do fato 
Capítulo 2 Situando o trabalho do historiador 25
pode ter tanto um significado extensivo a todo um grupo ou 
época ou, por outro lado, fazer sentido a uma única pessoa ou 
poucas delas, e ainda assim ser eleito como algo significativo 
para o estudo histórico. 
O historiador é um selecionador diz Carr (2002, p. 48), “[...] 
a convicção num núcleo sólido de fatos históricos que existem 
objetiva e independentemente da interpretação do historiador é 
uma falácia absurda, mas que é muito difícil de erradicar”.
Soma-se a isso o fato de que, em se tratando de certos pe-
ríodos do passado, nossa possibilidade de compreensão fica 
bastante limitada pelo local de onde nos falam as nossas fon-
tes. Não temos a visão de todos os ângulos, todos os pontos 
de vista, mas, sim, um rastro de significados a respeito de um 
determinado acontecimento que nos foi legado por alguém ou 
grupo do passado. Estes, por sua vez, colocam-se sob um de-
terminado ponto de vista, normalmente daqueles que tem con-
dições de narrar ou preservar a memória de certos aconteci-
mentos. Mas, e quanto ao ponto de vista de todos os demais?
Segundo Paul Veyne (1995, p. 12):
[...] em nenhum caso, o que os historiadores chamam um 
evento é apreendido de uma maneira direta e completa, 
mas, sempre, incompleta e literalmente, por documentos e 
testemunhos, ou seja, por tekmeria, por indícios. Ainda que 
eu tivesse sido contemporâneo e testemunha de Waterloo, 
ainda que tivesse sido seu principal ator, Napoleão em pes-
soa, teria apenas uma perspectiva sobre o que os historia-
dores chamarão o evento Waterloo; só poderia deixar para 
a posteridade o meu depoimento que, se chegasse até ela, 
26 Teoria da História I
seria chamado indício. [...] Desse modo, a narração his-
tórica situa-se para além de todos os documentos, já que 
nenhum deles pode ser o próprio evento; ela não é um do-
cumentário em fotomontagem e não mostra o passado vivo 
“como se você estivesse lá”. 
Nesse ponto, já não é difícil para nós percebermos, por 
exemplo, que a concepção feita por um nobre, um burguês 
ou um operário a respeito, digamos, de uma hipotética crise 
sobre os preços, o da farinha ou do pão, teria diferentes tipos 
de repercussão na vida de cada um deles. Agora, como essas 
diferentes perspectivas chegarão até nós, historiadores do sé-
culo XXI? Talvez sequer nos cheguem, por serem insignificantes 
demais para uns e difíceis de serem descritas e registradas pe-
los demais.
Mas imaginemos que essas informações nos chegaram, e 
isso só foi possível devido aos registros feitos por um burguês 
que desenvolvia suas atividades nesse setor. Mesmo que esse 
nosso hipotético narrador nos fale sobre como sua indústria 
sofreu com os efeitos do aumento dos preços, ou que ele nos 
conte sobre a dificuldade das pessoas comuns, dos diversos 
grupos de trabalhadores da cidade em adquirir tais produtos, 
teremos apenas, e tão somente, a percepção de um desses 
diferentes segmentos, seu olhar sobre os demais, e não uma 
visão completa sobre o fenômeno.
Mas vamos mais longe. Ainda que dispuséssemos dos rela-
tos de pessoas dos três grupos citados, e que cada um deles ti-
vesse legado à posteridade longos discursos a respeito da alta 
Capítulo 2 Situando o trabalho do historiador 27
dos preços sobre a farinha e o pão. Ainda assim a atribuição 
da relevância a respeito do que se passou, de como se passou 
e de como foi narrado, só tornou-se possível na medida em 
que algum historiador elegeu esse fato em especial como algo 
interessante e significativo ao ponto de ser estudado.
Normalmente, o historiador inicia seu trabalho selecionan-
do alguns fatos e interpretando-os, tudo de forma ainda muito 
provisória. Ele não detém todas as fontes e informações que 
necessita, ou ainda não sabe ao certo onde todo o trabalho 
despendido nesses primeiros momentos da pesquisa irão lhe 
levar. Uma vez que avança na pesquisa, consegue estabele-
cer certas ligações entre fatos que anteriormente não lhe eram 
perceptíveis. Passa então a imergir em um processo de con-
textualização, vislumbra processos, e tanto mais se apropria 
do tema proposto, mais chances terá de ousar nas suas inter-
pretações do passado. Uma troca, um “processo contínuo de 
interação”, isso porque:
O historiador não é um escravo humilde nem um senhor 
tirânico de seus fatos. A relação entre o historiador e seus 
fatos é de igualdade e de reciprocidade. Como qualquer 
historiador ativo sabe, se ele para para avaliar o que está 
fazendo enquanto pensa e escreve, o historiador entra num 
processo contínuo de moldar seus fatos segundo sua inter-
pretação e sua interpretação segundo seus fatos. É impos-
sível determinar a primazia de um sobre o outro. (CARR, 
2002, p. 65)
28 Teoria da História I
Cabe salientarmos que não é a quantidade dos fatos que 
satisfaz o bom historiador, mas como esses fatos podem sus-
citar possíveis entendimentos a respeito do passado. Pesqui-
sas históricas que se tornaram célebres partiram de um único 
acontecimento, como é o caso dos livros de Carlo Ginzburg, 
O queijo e os vermes, que conta a história do julgamento de 
um moleiro de Montereale, zona italiana do Friuli, feito pela 
inquisição no século XVI, ou a obra O carnaval de Romans, 
de Emmanuel Le Roy Ladurie, que narra um episódio sangren-
to ocorrido no ano de 1580, e que colocou em confronto os 
habitantes desse povoado Francês.
Em ambos os casos, a inspiração inicial dos historiadores 
foi um fato bem específico e, por sorte, fartamente documen-
tado. Contudo, os fatos por si sónão nos levam ao entendi-
mento do que se passava de uma forma mais ampla naqueles 
locais do passado, cabe aos historiadores encontrar a “trama” 
possível de organizá-los.
Conforme Veyne (1995), a história interessa-se por aconte-
cimentos individualizados ainda que não seja sua própria indi-
vidualidade que a interesse. Nesse sentido, o que se procura é 
compreender o que neles existe de geral e também específico. 
Para esse autor, os fatos tem uma organização natural, cabendo 
ao historiador “reencontrar” essa organização. Noutras pala-
vras, o que ele quer nos dizer é que os fatos não existem isola-
damente, e que, dentro de um determinado assunto eleito pelo 
historiador, existem ligações objetivas a serem apreendidas.
A esse respeito (p. 28), acrescenta que:
Capítulo 2 Situando o trabalho do historiador 29
Os fatos não existem isoladamente, nesse sentido de que o 
tecido da história é o que chamaremos de uma trama, de 
uma mistura muito humana e muito pouco “científica” de 
causas materiais, de fins e de acasos; de um corte de vida 
que o historiador tomou, segundo sua conveniência, em que 
os fatos têm seus laços objetivos e sua importância relativa; 
a gênese da sociedade feudal, a política mediterrânea de 
Felipe I ou somente um episódio dessa política, a revolução 
galileia. A palavra trama tem a vantagem de lembrar que 
o objeto de estudo do historiador é tão humano quanto um 
drama ou um romance, Guerra e Paz ou Antônio e Cle-
ópatra. Essa trama não se organiza, necessariamente, em 
uma sequência cronológica: como um drama interior, ela 
pode passar de um plano para outro; a trama da revolução 
galileia colocará Galileu em choque com os esquemas de 
pensamento da física, no começo do século XVII, com as 
aspirações que sentia em si próprio, com os problemas e 
referências à moda, platonismo e aristotelismo etc. A trama 
pode se apresentar como um corte transversal dos diferen-
tes ritmos temporais, como uma análise espectral: ela será 
sempre trama porque será humana, porque não será um 
fragmento de determinismo.
O trabalho de contextualização e recontextualização são 
inerentes ao ofício do historiador. Os fatos, ainda que impor-
tantes e “verdadeiros”, vistos de forma descontínua, de nada 
lhe servem. Conforme Jenkins (2001, p. 60), os historiadores 
têm outras ambições, desejam descobrir não apenas o que 
aconteceu, mas também como e porque aconteceu e o que 
30 Teoria da História I
as coisas significavam e significam. O que se pretende com 
esse tipo de abordagem sobre o passado é justamente de-
monstrar que não são os fatos por si, independentemente uns 
dos outros, mas o que significaram num contexto mais amplo 
e complexo. 
Os tempos da história
Conforme o historiador francês Jacques Heers (1994, p. 32), 
não há história, nem investigação, nem obra, nem ensino, sem 
nos situarmos no tempo, sem tomarmos consciência do con-
texto. De um modo geral, podemos dizer que o tempo é apre-
endido de diferentes maneiras, dependendo do contexto e de 
quem está a abordá-lo. Pode ser tomado de forma objetiva, a 
partir de certos tipos de verificação mensuráveis em intervalos 
e durações, mas também pode ser trabalhado a partir das nar-
rativas, estas inscritas nas mais variadas formas de expressão 
oral ou textual, que serão alvo das diferentes especialidades 
do conhecimento, entre elas, o conhecimento histórico.
Temos, portanto, a possibilidade de pensarmos em um tem-
po cronológico, na medida em que situamos os acontecimen-
tos em determinados momentos do passado. Nesse sentido, 
os calendários nos servem como referência de localização no 
passado. Diferentes sociedades do passado adotaram, e ainda 
hoje adotam medidas diferentes para a marcação do tempo. 
O calendário gregoriano, utilizado atualmente na maioria dos 
países, é uma construção do século XVI. Ele substituiu o calen-
dário juliano, implantado por Júlio César no ano de 46 a.C.. 
Capítulo 2 Situando o trabalho do historiador 31
O marco inicial da cronologia cristã tem como data o ano do 
nascimento de Cristo, já o calendário judaico começa com a 
criação da 'neshamá' (estrutura espiritual/alma) de Adão, o 
primeiro homem dentro da crença judaica, há cerca de 5770 
anos. No mundo islãmico, a contagem do tempo começa com 
a Hégira, ou seja, a saída de Maomé de Meca e sua fixação 
em Medina, no ano de 622.
Porém, outra possibilidade de se pensar a dimensão do 
tempo em se tratando de história, é a sua concepção a partir 
de durações, ou seja, períodos que dizem respeito às formas 
de organização social, política e econômica das sociedades 
do passado.
O tempo entendido enquanto duração possibilita a identifi-
cação de mudanças e permanências na forma como as socie-
dades organizam-se nos mais variados sentidos. Por exemplo, 
quando estudamos a história do Brasil, costumamos falar em 
momentos diferentes segundo uma delimitação temporal que 
leva em consideração o aspecto político. Nesse sentido, temos 
a história do Brasil colônia, a história do Brasil império e a 
história do Brasil república.
Não obstante a essa forma de mensuração do tempo histó-
rico, podemos acrescentar outras formas de divisão temporal 
quando da análise desse mesmo passado. Assim, uma das 
nossas alternativas seria falar a partir dos aspectos econômi-
cos, como, por exemplo, a economia açucareira ou cafeei-
ra, ou ainda sob um enfoque socioeconômico que levasse em 
consederação um modelo de organização baseado na mão 
de obra escrava e outro no trabalho assalariado. 
32 Teoria da História I
O mesmo diz respeito à forma como habitualmente divi-
dimos a história em antiga, medieval, moderna e contempo-
rânea. Quem propôs pela primeira vez esse tipo de divisão 
(a noção de contemporaneidade só é incorporada posterior-
mente) foi o alemão Christophe Keller, no século XVII. Tal re-
particão em períodos bem distintos obedece a preocupações 
pedagógicas, visando expor as mudanças e permanências que 
auxiliem a identificar as continuidades e descontinuidades nas 
coletividades em que nossos estudos se debruçam. Contudo, 
tais recortes merecem reflexão.
Nesse caso, podemos acrescentar que toda a forma de di-
visão da história é uma arbitrariedade, no sentido de que par-
timos sempre de certos parâmetros ou necessidades expressas 
em um tempo posterior ao que nos propomos a classificar. 
Noutras palavras, e para tornarmos claro ao que nos referi-
mos, vejamos o que diz o historiador brasileiro Hilário Franco 
Júnior (1992, p. 17) que, a título de exemplificação, utiliza-se 
do termo Idade Média:
Se utilizásse-mos numa conversa com homens medievais a 
expressão Idade Média, eles não teriam ideia do que isso 
poderia significar. Eles, como todos os homens de todos os 
períodos históricos, se viam vivendo na época contempo-
rânea. De fato, falarmos em Idade Antiga ou Média repre-
senta uma rotulação a posteriori, uma satisfação da neces-
sidade de se dar nome aos momentos passados. No caso 
do que chamamos de Idade Média, foi o século XVI que 
elaborou tal conceito. Ou melhor, tal preconceito, pois o 
termo expressava um desprezo indiscriminado pelos séculos 
localizados entre a antiguidade clássica e o próprio século 
Capítulo 2 Situando o trabalho do historiador 33
XVI. Este se via como o Renascimento da civilização greco-
-latina, e portanto tudo que estivesse entre esses picos de 
criatividade artístico-literária (de seu próprio ponto de vista, 
é claro) não passava de um hiato, de um intervalo. Logo, de 
um tempo intermediário, de uma idade média.
 
Seja como for, essas periodizações da história são unani-
memente aceitas, não havendo, na opinião da maioria dos 
historiadores, a necessidade de mudanças uma vez que a pro-
posição de outros formatos cairia inevitavelmente noutras for-
mas de classificação. 
Conforme Heers (1994, p. 35), devemoslevar em consi-
deração que:
A verdadeira questão não está aí. Não se trata de reformar, 
de reconstruir sobre destroços, de ligar o nome de uma es-
cola a um novo calendário de estudos, mas simplesmente 
de tomar consciência destes artifícios. Convirá verdadeira-
mente erigir estes cortes em postulados, dar força de verda-
de e insuflar vida própria àquilo que não passa do resultado 
de uma escolha, entre tantas outras igualmente arbitrárias, 
igualmente discutíveis, de vários pontos de vista? Inscrever-
-se forçosamente num quadro, aceitar uma divisão cômo-
da, é uma coisa. Acreditar na realidade intrínseca de uma 
abstração nascida de especulações intelectuais, numa ima-
gem forjada, é outra.
34 Teoria da História I
Também podemos identificar nesse esforço de pensar-
mos as diferentes possibilidades de apreensão do tempo 
no estudo do passado, aquelas condições adotadas ou im-
postas a fim de dividirem o tempo conforme certos ritmos 
previamente estabelecidos.
Nesse sentido, podemos dizer que o ritmo do trabalho do 
camponês medieval, por exemplo, está orientado pelos ciclos 
naturais, as épocas do ano de plantar ou colher. Como toda 
a sociedade agrária, acrescenta Franco Júnior (1992, p. 22), 
a sociedade medieval guiava-se pelo ritmo mais visível da na-
tureza, o sol, a lua, as estações. Por outro lado, e levando-se 
em consideração uma série de questões litúrgicas, as ordens 
religiosas adotavam um sistema de quantificação e controle 
sobre as horas mais rigoroso, contando-as de três em três a 
partir da meia noite. 
O sino no campanário das igrejas medievais também 
serviu ao controle do tempo, isso se pode dizer no que se 
refere tanto aos monastérios como na vida mundana das 
cidades e vilarejos. 
Doutra forma, o tempo é também medido pelo tempo de 
vida das pessoas, uma vez que elas sentem sua presença por 
meio dos nascimentos, do crescimento, da vida adulta, da ve-
lhice e da morte. Acrescenta-se, a isso, o fato de que cada so-
ciedade experiencia diferentes concepções sobre o que é típico 
ou aceitável nos diferentes ciclos da vida de seus membros. A 
idade do casamento, da inserção na escola ou no mundo do 
trabalho, e outras tantas formas de expressão dos sujeitos na 
vida cotidiana, variam conforme a época e o local estudado. 
Capítulo 2 Situando o trabalho do historiador 35
O historiador Francês Philippe Ariès (1981) destaca que, 
no século XVII, muitos jovens filhos da nobreza abriam mão 
da escolarização e muito cedo ingressavam no exército. Con-
forme o autor, no fim do reinado de Luís XVI, portanto, no 
final do século XVIII, havia tenentes de quatorze anos em seu 
exército, e soldados que aderiam às tropas aos onze anos de 
idade. O mesmo pode-se dizer em relação às meninas em 
termos de precocidade.
Conforme o autor (ARIÈS, 1981, p. 125): 
Desde que completei meus 12 anos, graças a Deus cuja vida 
é eterna, casei-me cinco vezes no pórtico da igreja”. Assim 
falava uma das mulheres de Chaucer, no século XIV. Mas no 
fim do século XVI, Catherine Marion casou-se com Antoine 
Arnauld aos 13 anos. [...] Catherine Lemaître, tinha-se ca-
sado aos 14 anos de idade. As pessoas falavam em casar 
sua irmã Anne aos 12 anos, e só a vocação religiosa da 
menina fez com que esses planos fracassassem. [...] Aliás, a 
partir dos 10 anos, as meninas já eram mulherzinhas como 
essa mesma Anne Arnauld, uma precocidade explicada por 
uma educação que treinava as meninas para que se com-
portassem desde muito cedo como adultas. “Desde os 10 
anos de idade essa pequena tinha o espírito tão avançado 
que governava toda a casa de Mme Arnauld, a qual a fazia 
agir assim deliberadamente, para formá-la nos exercícios 
de uma mãe de família, já que este deveria ser seu futuro.
Com o advento do relógio mecânico, uma outra possibi-
lidade de mensuração do tempo, foi introduzida no cotidiano 
36 Teoria da História I
das pessoas. Os diferentes momentos da vida passaram a ser 
regidos pela contagem das horas de uma forma mais preci-
sa. Se tomarmos como exemplo o período conhecido como o 
da primeira Revolução Industrial, cada vez mais a jornada de 
trabalho de homens, mulheres e crianças, era aumentada, po-
dendo chegar a 17 horas diárias de trabalhos exaustivos nas 
fábricas e em outros locais.
Nas palavras do pensador alemão Karl Marx (2003, p. 320):
O Capital levou séculos, antes de surgir a indústria moder-
na, para prolongar a jornada de trabalho até seu limite má-
ximo normal e, ultrapassando-o, até o limite do dia natural 
de 12 horas. A partir do nascimento da indústria moderna, 
no último terço do século XVIII, essa tendência transformou-
-se num processo que se desencadeou desmesurado e vio-
lento como uma avalanche. Todas as fronteiras estabeleci-
das pela moral e pela natureza, pela idade ou pelo sexo, 
pelo dia e pela noite foram destruídas. 
A essa altura, não é difícil para nós compreendermos que o 
advento de novas tecnologias fez com que a noção das pesso-
as a respeito do tempo mudasse consideravelmente. Cruzar o 
oceano nas naus dos séculos XV e XVII era algo extremamente 
demorado e dispendioso se considerado em relação ao tempo 
necessário para fazermos a mesma viagem em um avião nos 
dias de hoje. O tempo necessário para obtermos informações 
de locais distantes até poucas décadas atrás estava condicio-
nado ao sistema de correio ou as ligações telefônicas, difíceis 
e dispendiosas na maioria dos casos. Hoje, através de e-mails, 
Capítulo 2 Situando o trabalho do historiador 37
dos satélites e dos cabos de fibra ótica, conseguimos nos co-
municar com praticamente todos os locais do nosso planeta 
em tempo real. 
Portanto, como pudemos observar ao longo dessa etapa 
do nosso estudo, as questões relativas à forma como o tempo 
é medido e vivido pelas pessoas irá variar conforme a época 
e o local. Cada momento do passado teve suas próprias ca-
racterísticas e formas de se relacionar com o tempo. O uso 
da tecnologia fez com que a concepção a respeito do tempo, 
do que está longe e do que está perto, do que é considerado 
rápido ou demorado, fosse mudando constantemente.
Referências 
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. 
ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1981.
CARR, Edward Hallet. O que é história? 4. ed. Rio de Janei-
ro: Paz e Terra, 2002. 
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do 
ocidente. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. 
HEERS, Jacques. A idade Média, uma impostura. Lisboa: 
Edições Asa, 1994. 
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Vol. 1. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a história. 3. ed. Bra-
sília: Editora Universidade de Brasília, 1995.
38 Teoria da História I
Atividades:
1) A respeito do que é fato histórico, marque V ou F:
( ) É um equívoco pensar que os fatos falam por si.
( ) O mesmo ato sendo repetido inúmeras vezes pelos mais 
variados personagens do passado será digno de estudo, 
mesmo se ninguém decidir que ele tem interesse histórico.
( ) Em se tratando de certos períodos do passado, nossa 
possibilidade de compreensão fica bastante limitada pelo 
local de onde nos falam as nossas fontes.
( ) O que temos do passado é um rastro de significados 
a respeito de um determinado acontecimento que nos foi 
legado por alguém ou grupo.
A alternativa que corresponde à sequência correta é:
a) V-V-F-V
b) F-F-V-V
c) F-V-V- F
d) V-F-V-V
e) V-F-V-F
2. Sobre o trabalho do historiador, podemos afirmar que: 
I – O historiador começa seu trabalho elegendo alguns fatos 
e interpretando-os, tudo de forma ainda muito provisória.
Capítulo 2 Situando o trabalho do historiador 39
II – Mesmo não possuindo todas as fontes e informações de 
que necessita, o historiador já sabe ao certo onde todo o 
trabalho despendidonos primeiros momentos da pesquisa 
irão lhe levar.
III – Com o avanço da pesquisa, o historiador estabele-
ce certas ligações entre fatos que anteriormente não lhe 
eram perceptíveis.
IV – À medida que imerge em um processo de contextua-
lização, o historiador vislumbra processos, e tanto mais se 
apropria do tema proposto, mais chances terá de ousar nas 
suas interpretações do passado.
Estão corretas as afirmações:
a) Apenas I, II e III.
b) Apenas I, III e IV.
c) Apenas II, III e IV.
d) Apenas I, II e IV.
e) Todas as afirmações estão corretas.
3. Assinale a alternativa que traz informações incorretas a res-
peito dos acontecimentos históricos:
a) Não é a quantidade dos fatos que satisfaz o bom histo-
riador, e sim como esses fatos podem provocar possíveis 
entendimentos a respeito do passado.
b) À história interessa acontecimentos coletivos, embora 
não seja sua própria coletividade que a interesse.
40 Teoria da História I
c) Os fatos não existem isoladamente, dentro de um de-
terminado assunto eleito pelo historiador, existem ligações 
objetivas a serem apreendidas.
d) O trabalho de contextualização e recontextualização são 
inerentes ao ofício do historiador.
e) O que interessa para o historiador não são os fatos por 
si, independentemente uns dos outros, mas o que significa-
ram em um contexto mais amplo e complexo. 
4. Assinale a alternativa que melhor completa a frase: “Toda 
a forma de divisão da história é uma arbitrariedade, po
is..._____________________________”.
a) ...partimos sempre de certos parâmetros ou necessida-
des expressas em um tempo posterior ao que nos propo-
mos a classificar.
b) ...partimos sempre de certos parâmetros ou necessida-
des expressas em um tempo anterior ao que nos propomos 
a classificar.
c) ...partimos sempre de certos parâmetros ou necessi-
dades expressas em um tempo atual ao que nos propo-
mos a classificar.
d) ...partimos sempre de certos parâmetros ou necessida-
des expressas em um tempo qualquer ao que nos propo-
mos a classificar.
Capítulo 2 Situando o trabalho do historiador 41
e) ...partimos sempre de certos parâmetros ou necessida-
des expressas em um tempo transpassado ao que nos pro-
pomos a classificar.
5. Em relação à forma como o tempo é medido e vivido pelas 
pessoas, podemos entender que:
I – Varia conforme a época e o local.
II – Cada momento do passado teve suas próprias caracte-
rísticas e formas de se relacionar com o tempo.
III – O uso da tecnologia fez com que a concepção a 
respeito do tempo, do que está longe e do que está per-
to, do que é considerado rápido ou demorado, fosse 
mudando constantemente.
Quais alternativas estão corretas?
a) Somente as alternativas I e II estão corretas.
b) Somente as alternativas I e III estão corretas.
c) Somente as alternativas II e III estão corretas.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
Gabarito:
1.d; 2. b; 3. b; 4. a; 5. d. 
Ainda situando o 
trabalho
Rodrigo Lemos Simões
Capítulo 3
Capítulo 3 Ainda situando o trabalho 43
Algo mais sobre o tempo: as durações
Conforme o historiador francês Fernand Braudel (apud Gléni-
son, 1977, p. 233), para o historiador, tudo começa, tudo ter-
mina pelo tempo. Nesse sentido, nunca é demais retomarmos 
essa discussão a fim de apreendermos da melhor forma pos-
sível as diferentes concepções que os historiadores têm sobre 
esse ponto crucial do seu trabalho.
Podemos partir de diferentes possibilidades que levem em 
consideração as questões espaço temporais quando analisa-
mos uma obra de história ou mesmo quando damos início a 
uma pesquisa. Trata-se, em ambos os casos, de identificarmos 
o tipo da duração que está sendo ou será proposta no trabalho. 
A essa altura, você deve estar se perguntando: mas como, 
ou por meio de que parâmetros podemos pensar em diferentes 
tipos de duração numa abordagem histórica? Vejamos o que 
o historiador espanhol Enrique Moradiellos (1999, p. 47) fala 
a respeito disso quando analisa o livro de Braudel O medi-
terrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Felipe II, obra 
essa considerada um marco nesse tipo de abordagem sobre 
o passado:
[...] Seu livro estudava esse amplo espaço geográfico no sé-
culo XVI atendendo a três tempos/níveis distintos: na base, 
o tempo da “longa duração” que corresponde às estruturas 
da história (certos marcos geográficos, certas realidades 
biológicas, certos limites de produtividade, e até certas coa-
ções espirituais); por cima, o tempo da média duração que 
corresponde a conjuntura, entendendo como tal os proces-
44 Teoria da História I
sos sociais, econômicos e culturais que se revelam em ci-
clos: “uma curva de preços, uma progressão demográfica, 
o movimento dos salários, as variações das taxas de juros” 
etc.; finalmente, no “terceiro nível”, o tempo curto e breve 
dos “indivíduos e dos acontecimentos”, a história “episódi-
ca” que basicamente era uma história política tradicional. 
[...] os acontecimentos (meras “espumas superficiais”, “a 
crista das ondas que animam superficialmente o potente 
movimento respiratório de uma massa oceânica”).
Isso posto, temos que, em história, o tempo pode ser traba-
lhado nos diferentes tipos de duração propostos acima. Uma 
história estrutural, ou de “longa duração”, quase imóvel em 
suas transformações, onde se sobressai a relação entre o ho-
mem e o meio que o cerca. Em um segundo plano, a história 
conjuntural, ou a “média duração”. Uma história de transfor-
mações lentas, das instituições políticas, das mudanças sociais 
e econômicas, das transições na cultura e nas mentalidades. 
Finalmente, a história dos acontecimentos, ou a “curta dura-
ção”. A história dos indivíduos, rica em interesse humano, e 
que situa homens e eventos em um dado contexto. 
Para Glénison (1977, p. 236), temos então:
[...] a história transformada numa “dialética da duração”. 
Concebemos facilmente que as consequências não sejam 
apenas de ordem teórica, mas influam diretamente até 
mesmo na gênese das obras históricas. Pois é possível na 
prática, realizar “uma recomposição da história em planos 
dispostos em degraus”, conceder lugar, num mesmo estu-
Capítulo 3 Ainda situando o trabalho 45
do, “ao tempo geográfico, o tempo social, ao tempo indi-
vidual”. Agindo pelo exemplo, F. Braudel distribuiu segundo 
um plano desta natureza seu grande trabalho sobre O me-
diterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Felipe II. 
O instantâneo, o duradouro, o permanente aí encontram 
respectivamente seu domínio, para se recomporem no fim e 
articularem-se sem dificuldade.
Nesse ponto, cabe ressaltarmos que a distinção de dife-
rentes tipos de duração foi e ainda é algo comum no trabalho 
dos historiadores. Porém, a combinação desses diferentes tipos 
de apreensão do tempo em um único trabalho, visando àquilo 
que Braudel chamava de uma “história total” é algo incomum. 
Portanto, e fazendo uso do que disse Peter Burke (1991) a esse 
respeito, podemos finalizar dizendo que poucos historiadores 
desejariam imitar o que Braudel fez na obra O mediterrâneo, 
e um número ainda maior deles conseguiria sequer fazê-lo.
A interdisciplinaridade
Foi-se o tempo em que as diferentes áreas do conhecimento 
aspiravam algum tipo de supremacia sobre as demais. A his-
tória, em dado momento do passado, tentou atrair para si tal 
protagonismo, e não raras vezes ouvimos falar, por exemplo, 
que o século XIX foi o século da história. 
O correto seria dizer que, na atualidade, existe uma infini-
dade de combinações possíveis de entrecruzamentos onde a 
46 Teoria da História I
história irá dialogar de igual para igual com as demais áreas 
do conhecimento, a sociologia, a antropologia, a economia 
etc. Uma verdadeira interdisciplinaridade sem qualquer tipo 
de pretensões“imperialistas” de uma dessas disciplinas sobre 
as demais.
Por interdisciplinaridade, entendemos essa troca de experi-
ências, saberes e conhecimentos que caracterizam cada ciên-
cia. Não se trata, portanto, de diluir uma área de conhecimento 
em outra, mas, sim, de integrá-las para a melhor compreensão 
possível dos processos e fenômenos relacionados ao objeto da 
pesquisa. Nesse sentido, concordamos com Japiassu (1976, 
p. 74), quando afirma que a interdisciplinaridade caracteriza-
-se pela intensidade das trocas entre especialistas e pelo grau 
de interação real das disciplinas no interior de um mesmo pro-
jeto de pesquisa.
Para exemplificar esse necessário processo de interação 
entre a história e as outras áreas do conhecimento, vejamos 
o que falam os especialistas. Primeiro, uma fala do histo-
riador Peter Burke (2002, p. 12-13) a respeito das possíveis 
relações entre o trabalho dos historiadores e dos sociólogos. 
Para o autor: 
Sociologia pode ser definida como o estudo da sociedade 
humana com ênfase em generalizações sobre sua estrutura 
de desenvolvimento. História é mais bem definida como o 
estudo de sociedades humanas no plural, destacando as di-
ferenças entre elas e as mudanças ocorridas em cada uma 
com o passar do tempo. Por vezes, as duas abordagens têm 
sido consideradas contraditórias, porém é mais útil tratá-las 
Capítulo 3 Ainda situando o trabalho 47
como complementares. Apenas mediante a comparação 
da história com as outras disciplinas podemos descobrir em 
que aspectos determinada sociedade é única.
Em seu texto, Burke (2002) ressalta a importância de criar-
mos o hábito de dialogarmos com as outras ciências, de am-
pliarmos nosso rol de possibilidades de entendimento do pas-
sado a partir do que essas outras disciplinas têm a nos oferecer.
Vejamos agora o que um profissional ligado à antropolo-
gia fala sobre o trabalho interdisciplinar, mais especificamente 
da relação dessa área de conhecimento com a história. Trata-
-se do antropólogo estadunidense Clifford Geertz, uma das 
principais referências na antropologia da segunda metade do 
século XX, e cuja obra ultrapassou as barreiras disciplinares. 
Para Geertz (2001, p. 123):
A onda recente de interesse dos antropólogos não apenas 
pelo passado (sempre nos interessamos por ele), mas pela 
maneira como os historiadores lhe dão um sentido atual, e 
dos historiadores não apenas pela estranheza cultural (coi-
sa que Heródoto já exibia), mas também pelas maneiras 
como os antropólogos a trazem para perto de nós, não é 
um simples modismo; sobreviverá ao entusiasmo que gera, 
aos medos que desperta e às confusões que cria. Bem me-
nos claro é a que levará essa onda, ao sobreviver.
Geertz destaca em seu texto que nem sempre essa re-
lação é dada como tranquila. Contudo, trata-se de algo 
48 Teoria da História I
inevitável, não apenas em relação às trocas feitas entre a 
história e a antropologia, mas dessas e das demais ciências 
umas com as outras, uma vez que tomamos consciência de 
que os fenômenos, sejam eles do passado ou do presente, 
necessitam de diferentes formas de apreensão para que se-
jam melhor compreendidos. 
Há muito tempo os historiadores têm se proposto a fazer 
incursões noutras disciplinas quando pretendem realizar seus 
trabalhos de pesquisa. Assim foi, por exemplo, os casos dos 
historiadores franceses Lucien Febvre e Marc Bloch, que já no 
início do século XX estabeleceram fortuitos diálogos e trocas 
com a geografia, a psicologia, a sociologia e a antropologia.
Conforme relata Burke (1991), o encontro dos dois histo-
riadores na Universidade de Estrasburgo e o trabalho realizado 
por ambos entre os anos de 1920 e 1933, valeu-se muito do 
ambiente interdisciplinar em que atuavam, sendo esse propício 
às trocas com especialistas das mais diversas áreas do conhe-
cimento. Nesse sentido, salienta que (p. 27 – 28):
Quando Febvre e Bloch se encontraram em 1920, logo 
após as suas nomeações como professor e maître de con-
férences respectivamente, rapidamente tornaram-se ami-
gos. Suas salas de trabalho eram contíguas, e as portas 
permaneciam abertas. Em suas infindáveis discussões parti-
cipavam colegas como o psicólogo social Charles Blondel, 
cujas ideias eram importantes para Febvre, e o sociólogo 
Maurice Halbwachs, cujo estudo sobre a estrutura social da 
memória, publicado em 1925, causou profunda impressão 
em Bloch.
Capítulo 3 Ainda situando o trabalho 49
Mais recentemente, historiadores de diferentes matizes têm 
utilizado em seus trabalhos referências oriundas de especia-
listas das mais diversas áreas. Carlo Ginzburg (1987), por 
exemplo, buscou nos trabalhos de Mikhail Bakhtin, um filó-
sofo russo, teórico da cultura e da linguagem, os elementos 
necessários para o entendimento do ambiente cultural em que 
viveu Menóquio, o protagonista do livro O queijo e os vermes. 
Conforme esse autor, o que existe é uma influência recíproca 
entre a cultura das classes subalternas e a cultura das classes 
dominantes e não a mera sobreposição de uma sobre a outra.
Em seu livro Os excluídos da história, Michelle Perrot 
(1988) baseia sua interpretação a respeito da imposição de 
uma ordem disciplinar na indústria francesa do século XIX nos 
trabalhos do filósofo francês Michael Foucault. Conforme a 
autora (1988, p. 53), a disciplina industrial é uma entre outras, 
podendo ser observada também na escola, no exército, na pri-
são etc., sendo a obra de Foucault, “[...] um convite à história 
detalhada dessas redes de malhas cada vez mais densas [...]”. 
(PERROT, 1988, p. 53)
Já Jean-Pierre Vernant, no livro Trabalho e escravidão na 
Grécia antiga (1989), utiliza-se dos escritos do filólogo fran-
cês Georges Dumézil, a respeito dos temas lendários relativos 
aos trabalhos técnicos para explicar as representações feitas 
a respeito desses trabalhadores. O medievalista Jacques Le 
Goff (1989), no livro O homem medieval, cita o sociólogo 
alemão Norbert Elias como uma de suas referências para a 
compreensão do processo de constituição e institucionalização 
50 Teoria da História I
da cultura cavalheiresca na Europa feudal. Conforme o autor 
(p. 16), as instituições e a cultura cavalheiresca, com seu ima-
ginário de caráter “mítico-folclórico”, foram um dos principais 
motores do “processo de civilização” descrito por Elias.
Historia e memória
Segundo o historiador Peter Burke (1992), foi o sociólogo fran-
cês Maurice Halbwachs que primeiro abordou de uma forma 
mais consistente o conceito de memória, propondo em seus 
estudos o uso do termo “quadro social da memória” para de-
signar o caráter social a ela atribuído. 
Opondo-se às noções mais superficiais a respeito da rela-
ção entre história e memória, os historiadores contemporâne-
os passam a problematizar com maior ênfase tais conceitos. 
Para Burke (1992, p. 236):
Lembrar o passado e escrever sobre ele já não parecem 
poder ser consideradas atividades inocentes. Nem as re-
cordações nem as histórias nos parecem objetivas. Em am-
bos os casos estamos a aprender a estar atentos a seleção 
consciente ou inconsciente à interpretação e à distorção. 
Nos dois casos esta seleção, interpretação e distorção são 
fenômenos socialmente condicionados. Não se trata do tra-
balho de indivíduos isolados.
Capítulo 3 Ainda situando o trabalho 51
Isso posto, temos que não apenas os indivíduos recor-
dam, mas que os grupos sociais determinam aquilo que é 
digno de memória bem como a forma como irão proceder a 
respeito desta. 
Conforme Le Goff (1982), o estudo da memória social é 
um dos modos fundamentais de enfrentar os problemas do 
tempo e da história. Nesse sentido, recordar ou esquecer diz 
respeito a manipulações conscientes ou inconscientes exerci-
das sobre a memória individual, ao passo que, de modo aná-
logo, a memória coletiva é postaem jogo nas lutas pelo poder 
que são conduzidas por diferentes forças sociais. Apoderar-se 
da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupa-
ções das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram 
e dominam as sociedades históricas, logo, os esquecimentos 
e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos 
de manipulação da memória coletiva. (LE GOFF, 1982, p. 12)
Povos sem escrita acumularam na memória elementos sig-
nificativos dos modos de fazer e proceder de suas sociedades, 
normalmente cabendo às etnias ou famílias a manutenção dos 
mitos, das técnicas e das tradições estabelecidas. 
Le Goff (1982, p. 14) destaca ainda que:
Nestas sociedades sem escrita há especialistas da memó-
ria, homens-memória: “genealogistas”, guardiões dos có-
digos reais, historiadores da corte, “tradicionalistas”, dos 
quais Balandier diz que são “a memória da sociedade” e 
que são simultaneamente os depositários da história “obje-
tiva” e da história “ideológica”. [...] Mas também “chefes 
de família idosos, trovadores, sacerdotes”, segundo a lista 
52 Teoria da História I
de Leroi-Gourhan, que reconhece a esses personagens “na 
humanidade tradicional, o importantíssimo papel de manter 
a coesão do grupo”.
Temos, portanto, que nessas sociedades a oralidade exerce 
um papel fundamental na transmissão dos saberes técnicos, 
como também na construção de uma identidade coletiva do 
grupo e na manutenção do prestígio de certas famílias. Com 
o aparecimento da escrita, novas formas de memória serão 
desenvolvidas. Ela passa a estar ligada aos monumentos cele-
brativos e aos documentos, que tem por finalidade armazenar 
informações diversas, assegurando que as mesmas estejam 
resguardadas para o conhecimento presente e futuro. 
Le Goff irá referenciar o historiador francês Pierre Nora 
quando este diz que a história é feita a partir do estudo dos 
“lugares” da memória coletiva. Temos, então, os “lugares to-
pográficos”, como os arquivos, bibliotecas e museus, os “lu-
gares monumentais”, como os cemitérios e as obras arquite-
tônicas, os “lugares simbólicos”, expressos, por exemplo, por 
meio das festas, aniversários e peregrinações, e os “lugares 
funcionais”, representados por meio dos manuais, das biogra-
fias e das associações. 
Soma-se a isso, o que o autor chama dos “lugares da his-
tória”, no sentido de conseguirmos identificar de onde vem a 
elaboração dos diferentes tipos de memória coletiva, seus cria-
dores e dominadores. Estados, meios sociais e políticos, comu-
nidades de experiência histórica ou de divulgação dispostos a 
Capítulo 3 Ainda situando o trabalho 53
construir os seus arquivos em função dos usos diferentes que 
fazem da memória (p. 55).
A memória coletiva é, sem dúvida, um dos elementos mais 
importantes das sociedades. Le Goff (1982, p. 54-55) volta a 
Nora e, a esse respeito, destacando que:
Pierre Nora nota que a memória coletiva – definida como 
“o que fica do passado no vivido dos grupos, ou o que estes 
grupos fazem do passado” – pode, à primeira vista, opor-
-se quase palavra a palavra, à memória histórica, tal como 
antes se opunha a memória afetiva à memória intelectual. 
Até aos nossos dias “história e memória” confundiram-se 
praticamente e a história parece ter-se desenvolvido “sobre 
o modelo de rememorização, da anamnese e da memoriza-
ção”. Os historiadores davam a formula das “grandes mito-
logias coletivas”, ia-se da história à memória coletiva. Mas 
toda a evolução do mundo contemporâneo, sob a pressão 
da história imediata em grande parte fabricada ao acaso 
pelos meios de comunicação de massa, caminha para a 
fabricação de um número cada vez maior de memórias co-
letivas e a história escreve-se, muito mais do que antes, sob 
a pressão destas memórias coletivas. A história dita “nova”, 
que se esforça por criar uma história científica a partir da 
memória coletiva, pode ser interpretada como “uma revo-
lução da memória” que leva esta a efetuar uma “rotação” 
em torno de alguns eixos fundamentais: uma problemática 
abertamente contemporânea... e um procedimento decidi-
damente retrospectivo”, “a renúncia a uma temporalidade 
linear” em proveito dos múltiplos tempos vividos “nos níveis 
54 Teoria da História I
em que o individual se enraíza no social e no coletivo” (lin-
guística, demografia, economia, biologia, cultura).
Poderíamos, nesse ponto, começar a falar não em “memó-
ria”, mas em “memórias”, no sentido de que diferentes tipos 
de manutenção e organização da memória coletiva serão de-
senvolvidos pelos diversos grupos que tomam parte de uma 
sociedade. Cada qual elege seus interesses e necessidades 
a respeito do que deve ser preservado, rememorado, ou es-
quecido. Tratam-se dos momentos considerados significativos 
para a coesão e a manutenção de uma identidade comum aos 
seus membros.
A memória está ligada, portanto, a construção da própria 
realidade de uma dada sociedade ou de um grupo. Tem uma 
relação direta com o conjunto dos seus valores, suas regras 
e padrões de expressão e convívio, servindo como elemento 
aglutinador e definidor das identidades. 
Memória e esquecimento andam juntas nesse processo. 
Noutras palavras, podemos dizer que a organização da me-
mória estipula certos princípios, modelos, “tradições”, que 
devem ser perseguidas, mantidas e preservadas, ao mesmo 
tempo em que seleciona outras tantas a serem esquecidas. 
Importante seria, então, que nos perguntássemos o que está 
sendo lembrado, por que está sendo lembrado, quem propõe 
tais lembranças, a que e a quem servem essas lembranças e o 
que “não lembramos” quando nos lembramos de algo.
Capítulo 3 Ainda situando o trabalho 55
Lembranças oficiais, por exemplo, podem servir aos interes-
ses dos Estados que, por mais legítimos que possam parecer, 
também podem servir como instrumento de manipulação das 
massas para os mais diversos fins. No prelúdio das guerras, 
por exemplo, foi e ainda é muito comum que se insuflem os 
ânimos evocando a memória da nação, do povo, as institui-
ções sociais, e a lembrança de tudo que está em jogo naquele 
momento tão delicado. 
Animosidades entre grupos dentro de uma mesma socie-
dade podem vir à tona pelo uso ideológico da memória. Não 
são poucos os exemplos do passado que nos mostram como 
pessoas e grupos que viviam dentro de certo limite de respeito 
e convívio social, estabeleceram verdadeiras cruzadas contra 
aquilo que passou a ser identificado como um perigo para os 
que detinham o poder de manipular a memória.
Lembramos e associamos tal afirmação, trazendo como um 
exemplo quase que imediato, o advento da Alemanha nazista 
e tudo o que ela causou aos grupos considerados inaptos, 
incapazes, inumanos e inconcebíveis de serem mantidos no 
convívio social. Mas também não seria difícil pensarmos como 
hoje em dia a memória é, em certos momentos, manipulada 
para justificar atitudes coercitivas apesentadas não raras vezes 
como tradições, e que, na maioria das vezes, não passam de 
construções muito recentes e que servem a determinados fins 
ou interesses de pessoas ou grupos muito precisos.
56 Teoria da História I
Referências
BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a 
Escola dos Annales, 1929-1989. 2. ed. São Paulo: Editora 
da Universidade Estadual Paulista, 1991.
______. O mundo como teatro: estudos de antropologia 
histórica. Lisboa: DIFEL, 1992.
______. História e teoria social. São Paulo: Editora UNESP, 
2002.
GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. GLÉNISSON, Jean. Ini-
ciação aos estudos históricos. 2. ed. Rio de Janeiro-São 
Paulo: DIFEL, 1977.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 1987.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e Patologia do sa-
ber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
LE GOFF, Jacques.História e memória. Lisboa: Edições 70, 
1982. V.2.
______. O homem medieval. Lisboa: Editorial Presença, 
1989.
MORADIELLOS, Henrique. El oficio de historiador. 3. ed. 
Madrid: Siglo Veintiuno de Espanha Editores, 1999.
PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mu-
lheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
Capítulo 3 Ainda situando o trabalho 57
VERNANT, Jean-Pierre. Trabalho e escravidão na Grécia 
antiga. Campinas: Papirus, 1989.
Atividades
1. Marque Verdadeiro (V) ou Falso (F) nas considerações abaixo 
a respeito do tempo e as durações na pesquisa histórica:
( ) Ao analisarmos uma obra de história, podemos partir 
de diferentes possibilidades que levem em consideração as 
questões espaço temporais.
( ) Em uma abordagem histórica, o tempo pode ser traba-
lhado em diferentes tipos de duração.
( ) Distinguir diferentes tipos de duração foi e continua 
sendo algo comum no trabalho dos historiadores.
2. Sobre a disciplina de História e a interdisciplinaridade, é 
correto afirmar que:
a) A disciplina de História conquistou uma supremacia so-
bre as demais disciplinas. 
b) Os historiadores não se propõem a fazer incursões nou-
tras disciplinas quando pretendem realizar seus trabalhos 
de pesquisa.
c) Há uma infinidade de combinações possíveis de en-
trecruzamentos onde a história irá dialogar de igual para 
igual com as demais áreas do conhecimento.
58 Teoria da História I
d) Há uma infinidade de combinações possíveis de entre-
cruzamentos para a História dialogar com as demais áreas 
do conhecimento, mas nunca será de igual para igual.
e) Não há como a História dialogar com as demais áreas 
do conhecimento.
3. Quais alternativas trazem informações corretas a respeito 
de História e memória?
I – Os grupos sociais determinam aquilo que é digno de me-
mória, mas não a forma como irão proceder a respeito desta.
II – O estudo da memória social é irrelevante para se en-
frentar os problemas do tempo e da história.
III – Apoderar-se da memória e do esquecimento nunca 
foi uma das grandes preocupações das classes, dos gru-
pos, dos indivíduos que dominaram e dominam as socie-
dades históricas.
IV – Os esquecimentos e os silêncios da história nada revelam 
sobre os mecanismos de manipulação da memória coletiva.
a) Apenas as alternativas I, II e III.
b) Apenas as alternativas II, III e IV.
c) Apenas as alternativas II e IV.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) Todas as alternativas estão erradas.
Capítulo 3 Ainda situando o trabalho 59
4. Marque a alternativa que não traz uma afirmação verdadei-
ra sobre a memória:
a) A memória não apresenta nenhuma ligação com a cons-
trução da própria realidade de uma dada sociedade ou de 
um grupo.
b) Poderíamos falar não em “memória”, mas em “memó-
rias”, no sentido de que diferentes tipos de manutenção e 
organização da memória coletiva serão desenvolvidos por 
diferentes grupos que tomam parte de uma sociedade.
c) A organização da memória estipula certos princípios, 
modelos, “tradições”, que devem ser perseguidas, man-
tidas e preservadas, ao mesmo tempo em que seleciona 
outras tantas a serem esquecidas. 
d) A memória coletiva é, sem dúvida, um dos elementos 
mais importantes das sociedades.
e) A história é feita a partir do estudo dos “lugares” da 
memória coletiva.
5. Assinale a alternativa que melhor expõe um dos usos da 
memória:
a) A memória sempre é manipulada para justificar atitudes 
coercitivas apesentadas não raras vezes como tradições, 
e que, na maioria das vezes, não passam de construções 
muito recentes e que servem a determinados fins ou interes-
ses de pessoas ou grupos muito precisos.
b) A memória nunca é manipulada para justificar atitudes 
coercitivas apesentadas não raras vezes como tradições, 
60 Teoria da História I
e que, na maioria das vezes, não passam de construções 
muito recentes e que servem a determinados fins ou interes-
ses de pessoas ou grupos muito precisos.
c) A memória é, em certos momentos, manipulada para 
justificar atitudes coercitivas apesentadas não raras vezes 
como tradições, e que, na maioria das vezes, não passam 
de construções muito recentes e que servem a determina-
dos fins ou interesses de pessoas ou grupos muito precisos 
comprometidos com a veracidade dos fatos.
d) A memória é em certos momentos manipulada para ne-
gar atitudes coercitivas apesentadas não raras vezes como 
tradições, e que, na maioria das vezes, não passam de 
construções muito recentes e que servem a determinados 
fins ou interesses de pessoas ou grupos muito precisos.
e) A memória é, em certos momentos, manipulada para 
justificar atitudes coercitivas apesentadas não raras vezes 
como tradições, e que, na maioria das vezes, não passam 
de construções muito recentes e que servem a determina-
dos fins ou interesses de pessoas ou grupos muito precisos.
Gabarito:
1.V – V – V; 2. c; 3. e; 4. a; 5. e.
História: campo 
epistemológico 
e conceitual
Rodrigo Lemos Simões
Capítulo 4
62 Teoria da História I
História e ciência
A melhor prova de que a história é e deve ser uma ciência é 
construída pelo fato de que necessita de técnicas, de métodos, 
e que é ensinada, disse Le Goff (1982 a, p. 100) ao tratar da 
velha e já desgastada questão a respeito de que se pode ou 
não considerar a história uma ciência. 
Quando falamos em ciência, logo nos vem à mente uma 
série de referências culturalmente construídas sobre tudo o 
quanto podemos considerar como tal. Em primeiro lugar, po-
demos dizer que a ciência – ou as ciências –, ao contrário da 
arte ou da literatura, tem o compromisso com a verdade, ao 
passo que as demais estão livres para criar obras ficcionais a 
respeito de um tema qualquer. Ao contrário das crenças, dos 
dogmas ou opiniões, as ciências buscam verdades objetivas, 
passíveis de verificação, reprodução e generalização.
Mas como isso seria possível em uma disciplina como a 
história, considerada por Jenkins (2001), de frágil base episte-
mológica, inevitavelmente interpretativa, relativa conforme os 
diferentes ângulos por que está sendo analisada e inacessível 
ao historiador em termos de observação direta?
Vejamos o que diz sobre essa questão o filósofo e historia-
dor Henri Berr (apud GLÉNISON, 1977, p. 190):
A questão durante tanto tempo debatida: se a história é 
uma arte ou uma ciência, está definitivamente resolvida. A 
história é uma das formas de pesquisa da verdade: ela não 
é um gênero literário. À semelhança de um tratado de bio-
logia ou de psicologia, uma obra de história não comporta 
Capítulo 4 História: campo epistemológico e conceitual 63
preocupações estéticas. Se acontece de ser belo um livro 
que contribui para o estabelecimento da verdade, temos aí 
um feliz acaso, e também uma espécie de luxo.
Berr esforça-se em distinguir o tipo de conhecimento pro-
duzido pela história de outros como, no caso citado, o da li-
teratura. Para ele, questões relacionadas à estética, por exem-
plo, não interessam ao trabalho do historiador, que deve estar 
focado no estabelecimento da verdade. 
Bloch (2001) lembra que a história não apenas é uma ci-
ência, mas uma ciência em marcha, no sentido de que na 
primeira metade do século XX seus métodos e enfoques ainda 
estavam – e porque não dizer, ainda estão – em constante pro-
cesso de mudanças, acréscimos e reorganizações. A “história 
ciência do passado”, um equívoco, dizia (p. 52). Como se des-
se passado, por si só pudéssemos tornar matéria de conheci-
mento racional. Será possível imaginar, em contrapartida, uma 
ciência total do Universo, em seu estado presente? 
Não, diria Febvre (1989, p. 30). A história, não como ciên-
cia – soma de resultados –, mas como “estudo cientificamente 
conduzido”, social por definição. História das diversas

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