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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAZONAS APOSTILA LIBRAS APLICADA A EDUCAÇÃO FÍSICA (PROFESSORES MARIA DAS GRAÇAS ABRAHIM E KEEGAN BEZERRA PONCE) Manaus 2016 3 Sumário Aula 01 - História, identidade e cultura surda 05 01.1 Representações mascaradas das identidades surdas 05 01.2 Comunidade Surda no Brasil 12 Aula 02- Educação de Surdos: 16 02.1 Nomenclatura na área da surdez 16 02.2Abordagens que influenciaram na educação de Surdos: 23 Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo 02.3Fique atento a terminologia 24 Aula 03- Libras básico 25 03.1 História da Libras 25 03.2 O reconhecimento da Língua de Sinais 27 03.3Abordagens da Educação de Surdos 30 03.4bilinguismo: reconhecendo a diferença linguística e cultural 31 Aula 04 – Libras básico 36 04.1 Sistema de Transcrição 04.2 Classificadores de formas Aula 05 – Libras básico 59 05.1 Libras na prática 05.2 situações do cotidiano (sinais e diálogos) Aula 06 - O desporto de Surdos 93 Aula 07 - Libras aplicada a Educação física Referências Bibliográficas 104 4 Karin Lilian Ströbel* Nós éramos chamados de surdos-mudos, mudos, objetos de piedade, surdos e estúpidos, dos semimudos, objetos de uso e agora, ouvidos danificados. Nós éramos descritos como “um dos filhos dos homens mal compreendidos entre os filhos do homem” Alguns de nós são surdos e alguns de nós são Surdos. Alguns de nós usamos a Língua de Sinais Americana e alguns de nós não. A nossa presença não é revelada e a maior parte da história é desconhecida. Esta é a história americana... Através dos “olhos” surdos. Jack R. Gannon 5 AULA 01 – História, Identidade e Cultura Surda 01.1 - História dos surdos: representações “mascaradas” das identidades surdas Este artigo analisa as identidades e representações do surdo produzidas na história de surdos e estabelece relações entre os discursos ouvintistas e os discursos do povo surdo. Existe um tipo de “jogo de espelhos” nas representações do surdo que forma redes de forças e estratégias de poderes de ambos os lados, e se refere às práticas dos sujeitos famosos, sobre as suas percepções cotidianas nos vestígios históricos da sociedade, envolvendo identidades surdas camufladas, isto é, mascaradas. Estes seres famosos são sujeitos conhecidos através de vários discursos oficiais por meio de feitos que marcaram a história da humanidade, por exemplo, a invenção da luz, em performances nos cinemas e televisões, participação na política e outros. No entanto, estes registros nada referem a respeito de que estes mesmos famosos são surdos. Faço uma reflexão sobre o porquê e de como se dá esta representação exonerada edisfarçada da identidade surda dos discursos oficiais, tais como os registros históricos em vários livros, enciclopédias, jornais, artigos, etc. nas atividades e vidas de sujeitos famosos no seu cotidiano. As representações sociais, de modo geral, analisam a forma discursiva da linguagem na qual se estimulam as identidades imaginárias, isto é, sendo concebidos como seres ouvintes, emuma dimensão histórica, no contexto agradável e aceitável para a sociedade. Sobre a representação, PESAVENTO diz: A força das representações se dá não pelo seu valor de verdade, ou seja, o da correspondência dos discursos e das imagens com o real, mesmo que a representação comporte a exibição de elementos evocadores e miméticos. Tal pressuposto implica eliminar do campo de análise a tradicional clivagem entre real e não real, uma vez que a representação tem a capacidade de se substituir à realidade querepresenta, construindo o mundo paralelo de sinais no qual as pessoas vivem. (2005, p.41) Nas representações diferenciadas acerca de surdos que se destacaram e tiveram influências ao longo da história, cada sujeito surdo torna-se participante obrigatório em 6 umacompetição que vai determinar se vai ser estereotipado ou não, porque se não “falar” ou “ouvir” como o esperado pela sociedade, poderá ser definido como possuidor de uma incapacidade ou de incompetência, como explica Grigorenko (apud STERNB ERG e GRIGO RENKO): “Rotular alguém como possuidor de uma aptidão ou de dificuldade de aprendizagem é o resultado de uma interação entre o indivíduo e a sociedade em que ele vive” (2003, p.16). LANE (1992) comenta que o povo ouvinte, quando questiona “quem são os surdos”, levanta algumas suposições sobre as representações dos mesmos através de leituras restringidas sobre o mundo de surdos. Não tendo onde se basear, podem ocorrer algumassuposições distorcidas e errôneas. Também explica WRIGLEY “(...) Se usarmos o modelo médico do corpo, herdado do século XIX, a surdez é comumente vista como uma simples ‘condição’” (1996, p.11). (...) na realidade, os membros da comunidade dos surdosamericanos não são tipicamente isolados, incomunicáveis,desprovidos de inteligência, não tem comportamentos decriança, nem são necessitados, não lhes falta “nada”, aocontrário do que poderíamos imaginar. Então porque razãopensamos que lhes falta tudo? Estes pensamentos incorretossurgem do nosso egocentrismo. Ao imaginar como é a surdez,eu imagino o meu mundo sem som – um pensamentoaterrorizador e que se ajusta razoavelmente ao estereótipoque projetamos para os membros da comunidade dos surdos(...) (LANE, 1992, p.26) A sociedade não conhece nada sobre povo surdo e, na maioriadas vezes, fica com receio e apreensiva, sem saber como se relacionarcom os sujeitos surdos, ou tratam-nos de forma paternal,como “coitadinhos”, “que pena”, ou lida como se tivessem “umadoença contagiosa” ou de forma preconceituosa e outros estereótiposcausados pela falta de conhecimento. Faço menção de umacontecimento na infância de uma surda: Os meus colegas não me aceitavam porque tinham receioque a surdez pegasse como uma doença contagiosa, elestinham medo de falar comigo, achando que eu não iriacompreender, sempre que estava na fila por ordem de chegada,às vezes a primeira, por morar próximo à escola, elesme puxavam pelos meus longos cabelos negros que estavamtrançados como uma índia, me arrastavam e colocavamcomo última da fila; sem entender muito bem, eu aceitavaas imposições. (VILHALVA, 2001, p.19)O povo ouvinte, por falta de acesso a informações, nomeiaerroneamente as representações de surdos, como relata a experiênciade Carol, surda: 7 Como acontece com muita gente hoje em dia, ao se depararemcom um surdo, ficam com impressão de sermosdiferentes delas. Pois elas não conhecem profundamente ossurdos, como também nunca tiveram oportunidade paratrocarem umas palavrinhas com os surdos, por isso que naprimeira vez que nos vêem, precipitam-se tomando- nospor estranhos, tratando-nos de outro modo (...), digo quetive um pouco dessa culpa, porque em vez de reagir, deixeique eles me tomassem por estranha (...) se não fosse por isto,não teria tomado conhecimento das palavras: “preconceito”e “marginalização”, nem mesmo das dificuldades que nóssurdos passamos no dia-a-dia. (Ströbel, 2006, p.34) De acordo com LANE “(...) porque a linguagem e a inteligênciaestão muito interligadas, quando tentamos classificar umapessoa (...), a surdez surge como deficiência do intelecto. (..) O“mudo” do “surdo e mudo” surge não só para fazer referência àmudez, como também à fraqueza da mente”. (1992, p.24). Temos as variações de representações no decorrer de históriade surdos e ao lado destas representações, baseadas nos discursosouvintistas, encontramos os vários estereótipos negativos acercade surdos, tais como o mudo, deficiente,anormal, doente eoutros. Talvez, a mais “sofrida” de todas as representações no decorrerda história dos surdos é a de “modelar” os surdos a partir dasrepresentações ouvintes. WRIGLEY reflete sobre esta afirmação:“(...) para o oralista, convencionalização tem o objetivo mais amplo:as crianças surdas “passarão” por ouvintes, tornando-se assim“aceitáveis” como pessoas que parecem ouvir” (1996, p.47). Estarepresentação ouvintista ainda está presente atualmente, muitasvezes a sociedade quer que os surdos sejam “curados”, direcionando- os para a ilusão da esperança da “normalização”. Relata uma surda:O ortofonista nos havia dito para não nos inquietarmosporque você iria falar. Deu-nos uma esperança. Com reeducaçãoe os aparelhos auditivos, você se tornaria uma ouvinte.Atrasada, certamente, mas você chegaria lá. Esperávamostambém, mas era completamente ilógico que você um diafosse, por fim, escutar. Como uma mágica. Era tão difícilaceitar que você havia nascido em um mundo diferente donosso. (1994, p.24) Voltando a Wrigley, ele explica que a política ouvintista predominouhistoricamente dentro do modelo clínico e demonstraas táticas de caráter reparador e corretivo da surdez, considerado-a como defeito e doença, sendo necessários tratamentos para“normalizá-la”: 8 (...) surdos são pessoas que ouvem com ouvidos defeituosos.Se pudéssemos consertar os ouvidos, eles estariamouvindo. Esta lógica comum na verdade é comum, masnãonecessariamente lógica. Os negros são pessoas brancasque possuem pele escura. Se pudéssemos consertar a pele,eles seriam brancos. As mulheres são homens com genitáriaerrada...; e por aí vai. Essas transposições cruas revelamum tecido social de práticas pelas quais nós sabemos quaisidentidades são tanto disponíveis quanto aceitáveis. (WRIGLEY,1996, p.71) MOSCO VICI analisa a representação social como uma“formação de um outro tipo de conhecimento adaptado a outrasnecessidades, obedecendo a outros critérios, num contexto socialpreciso” (1978, p. 24). Para este autor, as “representações sociais”se formam principalmente quando as pessoas estão expostas àsinstituições, aos meios de comunicação de massa e à herançahistórico-cultural da sociedade. A trajetória histórica dos surdos faz referência a atendimentossobre como as representaçõesos surdos seguem um padrão porparte dos educadores, médicos, fonoaudiólogos, entre outros,que atuam com estes sujeitos. Como diz PERLIN, em sua tese de doutorado,(...) discurso constituído tem sua historicidade, teve seusinícios diretamente com os profissionais que trabalharamdiretamente com os surdos. Os profissionais se apresentaramem campos distintos: escola e clínica. As representaçõespara os surdos na escola e na clínica foram produzidas emarticulações discursivas que os representam, nomeiam,definem, limitam, explicam, normalizam e mesmo alteramsua identidade. ( 2003, pg 38) Neste discurso,o sujeito surdo, para estar bem integrado àsociedade, deveria aprender a falar, porque somente assim poderiaviver “normalmente”. Se não conseguir, é considerado “desvio”,como ressalta LOPES: Os movimentos de educar e de normalizar as pessoas surdaseram feitos pela escola deslocando da representação de invalidezas alunas surdas para uma outra representação quetrazia rupturas para o projeto definido pela modernidade delugares destinados às diferenças tidas como problemáticas.(2004, p.41) Com isto, brotou a necessidade de aperfeiçoar a “qualidadede vida” dos sujeitos surdos, realçada pelos princípios que norteiama inclusão e a “normalização” e pela evolução do conceitode promoção de saúde. Por exemplo, estimular para que ossujeitos surdos 9 aprendam a falar e a ouvir, fazendo com queaparentem ser “ouvintes”, isto é, usarem identidade mascarada de“ouvintes”, tendo a surdez fingida ou negada. Cito o exemplo dofamoso inventor do telefone, Alexander Graham Bell, cuja mãee sua esposa eram surdas. Segundo SAC KS(1990), elas tinham aidentidade da surdez negada. Sabe-se que, de modo geral, a representação social respinga aaversão ou vem de forma “paternalista” sobre quem é “deficiente”.Houve um tempo em que o sujeito surdo era tratado como um ser“doente” ou “anormal” e “defeituoso” (LAN E: 1990, p. 479). LANE esclarece, a respeito das representações dos surdos, quea surdez não é um privilégio para a sociedade, porque os surdosnão podem apreciar músicas, nem participar de uma conversa, nãoouvem anúncios ou utilizam o telefone; “o sujeito surdo anda àtoa, parece que está numa redoma; existe uma barreira entre nós,por isto o surdo está isolado” (1992, p.23). Esta visão ouvintista incapacita o sujeito surdo e não respeitaa sua língua de sinais e sua cultura. A falta de audição tem umimpacto enorme para a comunidade ouvinte, que estereotipa ossurdos como “deficientes”, pois a fala e audição desempenham opapel de destaque na vida “normal” desta sociedade. O povo surdo tem a cultura surda, que é representada pelo seumundo visual. No entanto, a sociedade em geral não a conhecee por isso nada deve ser dito sobre ela. Para representação socialprecisamos nos submeter à cultura do colonizador, neste caso acultura ouvinte, na forma de como ela é. Segundo a sociedadecolonizadora, nascemos num mundo que já existia antes de depararcom a existência de povo surdo, e deste modo, devemos nos adaptar a este mundo e aprender com ele. Esse mundo colonizador sobreviverá com a nossa estadia, sendo só permitido ao povosurdo o esforço na tentativa de se igualar aos colonizadores, istoé, aos sujeitos ouvintes, procurando agradar a sociedade usandoas identidades mascaradas. A representação está associada à identidade pessoal decada sujeito, assim como afirma SILVA: “(...) a representaçãoconcentra-se em sua expressão material como ‘significante’: umtexto, uma pintura, um filme, uma fotografia. (...) as conexõesentre identidade cultural e representação, com base no pressupostode que não existe identidade fora da representação.”(2000-a, p.97). 10 A aceitação do termo surdo como mais apropriado (...)representa também uma tentativa de minimizar o processode estigmatização dessas pessoas, (...) através do qual a audiênciareduz o indivíduo ao atributo gerador do descréditosocial. A expressão surdo, como vem sendo empregada, temfavorecido identificar a pessoa como diferente, sendo estadiferença particularizada por ser decisiva para o desempenho.(DORZIAT, 2002,p.2) SILVA afirma que a identidade e a diferença estão estreitamenteconectadas aos sistemas de significação no qual é um significadocultural e socialmente atribuído. A identidade e a diferença estãoestreitamente condicionadas à representação, que dá o poder dedefinir e determiná-las: “(...) é por isto que a representação ocupaum lugar tão central na teorização contemporânea sobre identidadee nos movimentos sociais à identidade” (2005, p.91). Antigamente, os sujeitos surdos eram aprisionados pela representaçãosocial com muitos estereótipos negativos, como foi vistoacima. Entretanto, no presente, aprisionamo-nos para tentar nosafastar deles, construindo cada vez mais o respeito pela culturasurda através da construção de identidades surdas. Representação social Representação de povo surdo Deficiente “Ser surdo” A surdez é deficiência na audição ena fala Ser surdo é uma experiência visual A educação dos surdos deve ter um caráter clínico-terapêutico e de reabilitação A educação dos surdos deve terrespeito pela diferença linguística cultural Surdos são categorizados em grausde audição: leves, moderados,severos e profundos As identidades surdas são múltiplas e multifacetadas A língua de sinais é prejudicial aos surdos A língua de sinais é a manifestação da diferença lingüística relativa aos povos surdos. Antigamente, os sujeitos surdos eramaprisionados pela representaçãosocial com muitos estereótipos negativos, como foi vistoacima. Entretanto, no presente, aprisionamo-nos para tentar nosafastar deles, construindo cada vez mais o respeito pela culturasurda 11 através da construção de identidades surdas.O povo surdo cresceu a tal ponto que já não é mais possível“tampar o sol com a peneira”, como assegura MCCLEARY sobreo povo surdo: (...) não é só o orgulho que eles têm da sua língua e da suacultura. É o próprio orgulho de ser surdo, (...) diga paraum ouvinte “Eu tenho orgulho de usar a língua de sinaisbrasileira”. Qual pode ser a reação dele? Ele pode pensar,“Sim, claro! Os gestos são muito bonitos e expressivos!” Mas não é por isso que você tem orgulho! Você tem orgulhoporque quando você usa a língua de sinais, você pode sersurdo e feliz ao mesmo tempo. (2003, p.1)Os povos surdos não são obrigados a ter a normalidade. A máscaranão esconde o ser que é o surdo, o ser surdo que é humano...Quando a sociedade deixa o surdo ser ele mesmo, carece tirar asmáscaras e assim chega o momento de o povo surdo enfrentar aprática ouvintista, resgatar-se e transformar-se no que é de direito:partes de nós mesmos, de termos orgulho de ser surdo! MCCLEARY (2003) alega que o orgulho de ter identidadesurda é um ato político. É porque o sujeito surdo começa a agitaro mundo do ouvinte. O ouvinte começa a ter menos controlesobre o povo surdo. O povo surdo se auto-identifica como “surdo” que forma umgrupo com características lingüísticas, cognitivas e culturais específicas,sendo considerado como diferença. Refletem PERLIN EMIRANDA “(...) ser surdo, a diferença que vai desde o ser líderativo nos movimentos e embates que envolvem uma determinadafunção ativa, até daqueles outros que iniciam contatos nos contornosde fronteiras9” (2003, p.217). Concluindo, a representação “surda” tem procurado abrirum espaço igualitário para o povo surdo, procurando respeitarsuas identidades e sua legitimação como grupo com diferencial linguístico e cultural. FERNANDES (1998) descreve o comoventemomento especialde povo surdo:(...) resistindo às pressões da concepção etnocêntrica dosouvintes, organizou-se em todo o mundo e levantou bandeirasem defesa de uma língua e cultura próprias, voltandoa protagonizar sua história. A princípio, as mudanças iniciaisvêm sendo percebidas no espaço educacional, através de alternativasmetodológicas que transformam em realidade o direitodo surdo de ser educado em sua língua natural. (p.21) 12 Os povos surdos estão cada vez mais motivados pela valorizaçãode suas “diferenças” e assim respiram com mais orgulho ariqueza de suas condições culturais e temos orgulho de sermossimplesmente autênticos “surdos”! Sou surdo! O meu jeito de ser já marca a diferença! Nesteponto devia começar a dissertação. Ser surdo, viver nasdiferentes comunidades dos surdos, conhecer a cultura,a língua, a história e a representação que atua simbolicamentedistinguindo a nós surdos e à comunidade surda éuma marcação para sustentar o tema em questão. A idéiade comunidade surda contestada e continuamente sendoreconstituída, particularmente diante da diferença defendidapor poucos surdos e ouvintes de extrema esquerda, seapresenta mais como uma ameaça à representação do outrosurdo. (MIRANDA, 2001,p.8) 01.2 Comunidade Surda do Brasil Comunidade e Cultura Surda do Brasil As comunidades surdas estão espalhadas pelo país, e como o Brasil é muito grande e diversificado, as pessoas possuem diferenças regionais em relação a hábitos alimentares, vestuários e situação socioeconômica, entre outras. Estes fatores geraram também algumas variações linguísticas regionais. As escolas de surdos, de surdos, mesmo sem uma proposta bilíngue (língua portuguesa e língua de sinais), propiciam o encontro do surdo com outro surdo, favorecendo que as crianças, jovens e adultos possam adquirir e usar a LIBRAS. Em muitas escolas de surdos há vários professores que já sabem ou estão aprendendo com “professores surdos” a língua de sinais, além de oferecer cursos também para os pais destas crianças. Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo. Descreve a pesquisadora surda: [...] As identidades surdas são construídas dentro das representações possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com maior ou menor receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa receptividade cultural, também surge aquela luta política ou consciência oposicional pela qual o individuo representa a si mesmo, se 13 defende da homogeneização, dos aspectos que o tornam corpo menos habitável, da sensação de invalidez, de inclusão entre os deficientes, de menos valia social.(PERLIN, 2004, p. 77-78) Fonte: STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis. Editora UFSC. 2008. (p.24) Continuando com os mesmos autores, Padden e Humphires (2000, p. n5) estabeleceram uma diferença entre cultura e comunidade: [...] uma cultura é um conjunto de comportamentos apreendidos de um grupo de pessoas que possuem sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradições; uma comunidade é um sistema social geral, no qual um grupo de pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras. Fonte: STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis. Editora UFSC. 2008. (p.30-31) Então entendermos que a comunidade surda de fato não é só de sujeitos surdos, há também sujeitos ouvintes – membros de família, intérpretes, professores, amigos e outros – que participam em compartilham os mesmos interesses em comuns em uma determinada localização. Fonte: STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis. Editora UFSC. 2008. (p.31) A Fita Azul Tornou-se parte da cultura surda usar uma fita azul Sentimento azul? Celebrem! Com todas as fitas, alfinetes, pulseiras e Camisetas. - Uma conhecida fita azul representa um motivo: ela engloba uma história, uma cultura, uma língua, um povo. - A fita azul representa a opressão enfrentada pelas pessoas surdas ao longo da história. - Hoje em dia ela representa as suas silenciosas vozes em um mar de línguas faladas. 14 - A fita azul foi introduzida em Brisbane, na Austrália, em julho de 1999, no Congresso Mundial da Federação Mundial de Surdos. Durante o evento foi feita a sensibilização da luta dos Surdos e suas famílias ouvintes, através dos tempos. - A cor azul foi escolhida para representar "O Orgulho Surdo", para homenagear todos os que morreram depois de serem classificados como "surdo" durante o reinado da Alemanha nazista. -Ao recordarmos a opressão dos Surdos no passado e hoje, está se tornando claro para um número maior de pessoas que os Surdos podem fazer qualquer coisa, exceto ouvir. - Aqueles que usam a fita azul têm orgulho em mostrar um pouco de sua própria cultura: A Cultura surda. Surdez não é uma deficiência, mas uma cultura. FONTE: http://www.fcee.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=274& Itemid=176 Outra orgulhosa conquista feita pelo povo surdo é a comemoração de seu dia, o “Dia do Surdo”. Esta data é comemorada em muitos países, na maioria no mês de setembro com variação de dias. Aqui no Brasil comemoramos o Dia do Surdo em 26 de setembro, 15 porque nesta data foi um marco histórico importante – foi fundada a primeira escola de surdos noBrasil1 . Nesta data o povo surdo comemora com muito orgulho tendo sua cidadania reconhecida sem precisar se esconder embaixo de braços de sujeitos ouvintistas, assim como reforça a Lopes (2000, p.11): O dia do Surdo tem um significado simbólico muito importante. Ele representa o reconhecimento de todo um movimento que teve inicio há poucos anos no Brasil quando o Surdo passou a lutar pelo direito de ter sua língua e sua cultura reconhecidas como uma língua e uma cultura de um grupo minoritário e não de um grupo de “deficientes”. Fonte: STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis. Editora UFSC. 2008. (p.75-76) Foi fundada a primeira escola de surdos no Brasil, o atual INES – Instituto Nacional de Educação dos Surdos, em Rio de Janeiro no dia 26 de setembro de 1857 pelo prof. Francês surdo Eduard Huet. Os defensores da língua de sinais para os povos surdos asseguram que é na posse desta língua que o sujeito surdo construirá a identidade surda, já que ele não é sujeito ouvinte. A maioria das narrativas tem como base a idéia de que a identidade surda está relacionada a uma questão de uso da língua. Fonte: STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis. Editora UFSC. 2008. (p.89) Antes a história cultural dos povos surdos não era reconhecida, os sujeitos surdos eram vistos como deficientes, anormais, doentes ou marginais. Somente depois do reconhecimento da língua de sinais, das identidades surdas e, na percepção da construção de subjetividade, motivada pelos Estudos Culturais, é que começaram a ganhar força as consciências político-culturais. Em determinados momentos, quando a luta por posições de poder ou pela imposição de idéias revela o manifesto política cultural dos povos surdos. Fonte: STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis. Editora UFSC. 2008. (p.90) “A LEITURA DO MUNDO PRECEDE A LEITURA DA PALAVRA” Paulo Freire 16 AULA02– Educação de Surdos 02.1 -Nomenclatura na área da surdez Romeu KazumiSassaki Texto retirado do endereço http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/sicorde/Nomenclatura%20na%20%C3%A1re a%20da%20surdez.doc Quanto à pessoa do surdo Como chamaremos esta pessoa? Como nos referiremos a ela? Surda? Pessoa surda? Deficiente auditiva? Pessoa com deficiência auditiva? Portadora de deficiência auditiva? Pessoa portadora de deficiência auditiva? Portadora de surdez? Pessoa portadora de surdez? Em primeiro lugar, vamos parar de dizer ou escrever a palavra “portadora” (como substantivo e como adjetivo). A condição de ter uma deficiência faz parte dapessoa e esta pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo “portar” como o substantivo ou adjetivo “portadora” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que está presente na pessoa. Uma pessoa só porta algo que ela possa não portar, deliberada ou casualmente. Por exemplo, uma pessoa pode portar um guarda-chuva se houver necessidade e deixá-lo em algum lugar por esquecimento ou por assim decidir. Não se pode fazer isto com uma deficiência, é claro. 17 Um outro motivo para descartarmos as palavras “portar” e “portadora” decorre da universalização do conhecimento pela internet, processo este que está nos conectando em tempo real com o mundo inteiro. Assim, por exemplo, ficamos sabendo que em todos os lugares do mundo as pessoas com deficiência desejam ser chamadas pelo nome equivalente, em cada idioma, ao termo “pessoas com deficiência”. Exemplos: personswith a disabilityou peoplewithdisabilities(em países onde se fala a língua inglesa). personascondiscapacidad(em países de fala espanhola). pessoa com deficiência (No Brasil, em Portugal e em outros países onde se fala a língua portuguesa). Por extensão, naqueles países fala-se e escreve-se assim: persons with a hearing impairment, persons with deafness, deaf people. personasconsordera, personas condiscapacidad auditiva, personas sordas. pessoas com deficiência auditiva, pessoas com surdez, pessoas surdas. Em outros países não se usa uma palavra equivalente a “portadora de” para sereferir à pessoa com deficiência. Já aconteceu em mais de uma ocasião um fato lamentável se não cômico. Brasileiros vertendo para o inglês um texto de palestra, lei ou livro escrito em português, cometeram a seguinte barbaridade: carriers of disabilities. persons carrying a disability. Entenda-se: “carriersof” e “carrying” seriam a versão inglesa de “portadores de” e “que portam”, respectivamente. Quando os americanos leram o texto assim vertido para oinglês, eles não entenderam por qual motivo as pessoas eram portadoras (carregadoras) dedeficiência.ou por qual razão elas estavam portando (carregando) uma deficiência. Resolvido o problema dos termos “portar” e “portadora de”, passemos à deficiência em si. Todos conhecem o fato de que alguns surdos não gostam de ser consideradosdeficientes auditivos e o fato de que algumas pessoas deficientes auditivas 18 não gostam deser consideradas surdas. Também existem pessoas surdas ou com deficiência auditiva quesão indiferentes quanto a serem consideradas surdas ou deficientes auditivas. A origem dessa diversidade de preferências está no grau da audição afetada.No plano pessoal, a decisão quanto a usar o termo “pessoa com deficiência auditiva”ou os termos “pessoa surda” e ”surda”, fica por conta de cada pessoa. Geralmente, pessoascom perda parcial da audição referem-se a si mesmas com tendo uma deficiência auditiva.Já as que têm perda total da audição preferem ser consideradas surdas. Tecnicamente, considera-se que a deficiência auditiva é a “perda parcial ou totalbilateral, de 25 (vinte e cinco) decibéis (db) ou mais, resultante da média aritmética doaudiograma, aferida nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz” (art. 3º,Resolução nº 17, de 8/10/03, do Conade – Conselho Nacional dos Direitos da PessoaPortadora de Deficiência). Esta resolução alterou o art. 4º do Decreto nº 3.298/99, por causado “inadequado dimensionamento das deficiências auditiva e visual” estabelecido nessedecreto federal. Em 2/12/04, o Decreto nº 5.296, de 2/12/04, alterou o art. 4º do citadoDecreto nº 3.298, passando de 25 decibéis para 41 decibéis, obedecendo a Resolução doConade, conforme segue: Art. 70. O art. 4o do Decreto no 3.298, de 20 de dezembro de 1999, passavigorar com as seguintes alterações:"Art. 4o (...), II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, dequarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nasfreqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz”. Mas no plano formal, estatístico, convencionou-se mundialmente adotar a seguinte classificação; deficiência física deficiência intelectual deficiência auditiva deficiência visual deficiência múltipla 19 Por esta classificação, entendemos que, não obstante tenha a “deficiência auditiva” omesmo significado de “surdez”, ficaria confuso trocar apenas esses dois termos um pelooutro. O mesmo acontece com “deficiência visual” e “cegueira”. Se a troca fosse feita, aclassificação das deficiências ficaria, por exemplo, assim: deficiência física deficiência intelectual surdez cegueira deficiência múltipla Nada justifica especificarmos a surdez e a cegueira, se não especificarmos cada umdos inúmeros tipos de deficiência física e de deficiência múltipla, além de cada um dosvariados tipos de apoio dos quais dependem as pessoas com deficiência intelectual (nãomais classificada em leve, moderada, severa e profunda, a partir de 1992). Concluindo, devemos utilizar criteriosamente cada um dos termos. Num contexto formal, estatístico, falaremos em pessoas com deficiência auditiva referindo-nosao grupocomo um todo, especificando ou não os graus de perda auditiva e a quantidade de pessoasexistentes em cada nível de surdez. E, em situações pessoais, informais, coloquiais,diremos e escreveremos surdos, pessoas surdas, comunidade surda, comunidade dossurdos, quantidade de pessoas por nível de surdez, comunicação entre os surdos,comunicação com os surdos, comunicação dos surdos, os sinais que os surdos utilizam etc. Quanto à língua de sinais Quais são os termos corretos? linguagem de sinais? Linguagem Brasileira de Sinais? língua de sinais? língua dos sinais? 20 Língua Brasileira de Sinais? Língua de Sinais Brasileira? Libras? LIBRAS? Em primeiro lugar, trata-se de uma língua e não de uma linguagem. Assim, ficam descartados os termos “linguagem de sinais” e “Linguagem Brasileira de Sinais”. De acordocom Fernando Capovilla, “Língua define um povo. Linguagem, um indivíduo. Assim, domesmo modo como o povo brasileiro é definido por uma língua ou idioma em comum, oPortuguês (que o distingue dos povos de todos os países com os quais o nosso fazfronteira), a comunidade surda brasileira é definida por uma língua em comum, a Língua deSinais Brasileira. Assim, em Psicologia e Educação, quando falamos em desenvolvimentoda linguagem (quer oral, escrita ou de sinais) e em distúrbios da linguagem (e.g., afasias,alexias, agrafias), estamos nos referindo ao nível do indivíduo”. (Capovilla, comunicaçãopessoal, em 8/6/01) Em segundo lugar, o correto é “língua de sinais” porque se trata de uma língua vivae, portanto, a quantidade de sinais está em aberto, podendo ser acrescentados novossinais. Quando se diz “língua dos sinais”, fica implícito que a quantidade de sinais já estáfechada. Em terceiro lugar, o nome correto é “Língua de Sinais Brasileira” (ou “Língua desinais brasileira”), pois Língua Brasileira não existe. O termo “língua de sinais” constitui umaunidade vocabular, ou seja, funciona como se as três palavras (língua, de e sinais) fossemuma só. Então, adjetivamos cada “língua de sinais” existente no mundo. Língua de SinaisBrasileira, Língua de Sinais Americana, Língua de Sinais Mexicana, Língua de SinaisFrancesa etc. Conforme Fernando Capovilla, “Língua de Sinais é uma unidade, que se refere a uma modalidade lingüísticaquiroarticulatória-visual e não oroarticulatória-auditiva. Assim, háLíngua de Sinais Brasileira (porque é a Língua de Sinais desenvolvida e empregada pelacomunidade surda brasileira, há Língua de Sinais Americana, Francesa, Inglesa, e assimpor diante. Não existe uma Língua Brasileira (de sinais ou falada). Sei disso porque quandofazia uso destes termos TODOS os benditos redatores de revistas e 21 jornais riscavam oBrasileira e trocavam pelo Portuguesa, produzindo um monstrengo conceitual de proporçõese conseqüências desastrosas... Além disso, a propósito, se traduzirmos American SignLanguage obteremos Língua de Sinais Americana e não Língua Americana de Sinais”. (Capovilla, comunicação pessoal, em 8/6/01). Em quarto lugar, a sigla correta é “Libras” e não “LIBRAS” (ver explicação no próximoparágrafo). Quando foi divulgado o uso da sigla “LIBRAS”, explicava-se esta sigla daseguinte forma: LI de Língua, BRA de Brasileira, e S de Sinais. Com a grafia “Libras”, asigla significa: Li de Língua de Sinais, e brasde Brasileira. De acordo com Fernando Capovilla, “o Dicionário de Libras (Capovilla& Raphael,2001) adotou a norma do Português, segundo a qual se uma sigla for pronunciávelcomo sefosse uma palavra (e.g., Fapesp, Feneis) ela deve ser escrita com apenas a inicialmaiúscula; e se ela não for pronunciável como uma palavra, mas apenas como uma série deletras (e.g., CNPq, BNDES), ela deve ser escrita em maiúsculas. Por isso, o Dicionário deLibras de Capovilla e Raphael (2001) escreve Libras e Feneis com apenas as iniciaismaiúsculas, como deve ser em bom Português. Libras é um termo consagrado pelacomunidade surda brasileira, e com o qual ela se identifica. Ele é consagrado pela tradição eé extremamente querido por ela. A manutenção deste termo indica nosso profundo respeitopara com as tradições deste povo a quem desejamos ajudar e promover, tanto por razõeshumanitárias quanto de consciência social e cidadania. Finalmente, quando se trata depublicação menos técnica em Português, recomendo o uso de Libras. Como é um termocurto, prescinde de abreviatura. Além disso, tem forte apelo emocional para os leitoressurdos que, então, saberão que estamos nos referindo à língua deles. E como temosprofundo respeito pela comunidade surda brasileira e pela sua língua, o mínimo que nós,ouvintes, podemos e devemos fazer é usar o mesmo termo que essa comunidade usaquando se refere à sua língua em nossa língua, o Português. Além disso, é uma forma deprocurar engajar o leitor surdo em tudo o que se refere à sua língua para que ele possaparticipar ativamente” (Capovilla, comunicação pessoal, em 8/6/01). 22 Quantos Surdos no Brasil? "A população surda global está estimada em torno de quinze milhões de pessoas (Wrigley, 1996, p. 13), que compartilham o fato de serem linguística e culturalmente diferentes em diversas partes do mundo. No Brasil, estima-se que, em relação à surdez, haja um total aproximado de mais de cinco milhões, setecentos e cinqüenta mil casos (conforme Censo Demográfico de 2000), sendo que a maioria das pessoas surdas utiliza a língua brasileira de sinais (LIBRAS).” (Karnopp, 2008, p. 16, Manual da disciplina de Libras EDU 3071) Deficiente auditivo, surdo ou surdo-mudo? O surdo-mudo é a mais antiga e inadequada denominação atribuída ao surdo, e infelizmente ainda utilizada em certas áreas e divulgada nos meios de comunicação. Para eles, o fato de uma pessoa ser surda não significa que ela seja muda. A mudez significa que a pessoa não emite sons vocais. Para a comunidade surda, o deficiente auditivo não participa de Associações e não sabe Libras. O surdo é aquele que tem a Libras como sua língua. Compreendendo o mundo surdo Por anos, muitos têm avaliado de forma depreciativa o conhecimento pessoal dos surdos. Alguns acham que os surdos não sabem praticamente nada, porque não ouvem nada. Há pais que super protegem seus filhos surdos ou temem integrá-los no mundo dos ouvintes ou mesmo no mundo dos surdos. Outros encaram a língua de sinais como primitiva, ou inferior, à língua falada. Não é de admirar que, com tal desconhecimento, alguns surdos se sintam oprimidos e incompreendidos. Em contraste, muitos surdos consideram-se “capacitados”. Comunicam-se fluentemente entre si, desenvolvem auto-estima e têm bom desempenho acadêmico, social e espiritual. Infelizmente, os maus-tratos que muitos surdos sofrem levam alguns deles a suspeitar dos ouvintes. Contudo, quando os ouvintes interessam-se sinceramente em entender a cultura surda e a língua de sinais, e encaram os surdos como pessoas “capacitadas”, todos se beneficiam. 23 Comunicação visual Para estabelecer uma boa comunicação com uma pessoa surda é importante o claro e apropriado contato visual entre as pessoas. É uma necessidade, quando os surdos se comunicam. De fato, quando duas pessoas conversam em língua de sinais é considerado rude desviar o olhar e interromper o contato visual. E como captar a atenção de um surdo? Em vez de gritar ou falar o nome da pessoa é melhor chamar sua atenção através de um leve toque no ombro ou no braço dela, acenar se a pessoa estiver perto ou se estiver distante. Dependendo da situação, pode-se dar umas batidinhas no chão (ele poderá sentir a vibração através do corpo) ou fazer piscar a luz. Então, converse com o surdo olhando em seus olhos. Para se fazer entender, não se envergonhe de apontar, desenhar, escrever ou dramatizar. Utilizemuito suas expressões faciais e corporais. Tais recursos são importantes quando não há ainda domínio da língua de sinais. Esses e outros métodos apropriados de captar a atenção dão reconhecimento à experiência visual dos Surdos e fazem parte da cultura surda. Aprender uma língua de sinais não é simplesmente aprender sinais de um dicionário. Muitos aprendem diretamente com os que usam a língua de sinais no seu dia-a-dia — os surdos. Em todo o mundo, os surdos expandem seus horizontes usando uma rica língua de sinais. 02.2 Abordagens que influenciaram na educação de Surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo No quadro a seguir apresentaremos três abordagens que, conforme Lima (2006) influenciou significativamente a educação dos surdos. A primeira fase apresentava uma abordagem oralista, a segunda apresentava uma abordagem de comunicação total e a terceira, que se encontra em processo de construção, é a abordagem bilíngue. 24 Abordagem oralista É o processo pelo qual se pretende capacitar o surdo na compreensão e na produção de linguagem oral e que parte do principio de que o individuo surdo, mesmo não possuindo um nível de audição para receber os sons da fala, pode se constituir em interlocutor por meio da linguagem oral esta abordagem ainda vem sendo utilizada em alguns educandários no mundo todo. Ela tem por objetivo fazer com que o aluno surdo assimile a linguagem oral tornando o surdo um “falante”, buscando superar as diferenças que separa os ouvinte dos não ouvintes. Nesta abordagem o espaço escolar torna-se um laboratório de fonética, nos quais são utilizados técnicas de terapia da fala para que o aluno supere seu déficit (surdez). O professor atua mais como terapeuta do que como educador. Abordagem da comunicação total Nesta abordagem admite-se a utilização de uma língua gestual, porem vista somente como passo de transição para a língua oral. Abordagem bilíngue Surge como uma metodologia de ensino que tem sido utilizada por escolas que se propõe torna acessíveis aos surdos duas línguas, no espaço escolar: a Língua de Sinais (L1) e a Lingua Portuguesa (L2) em sua modalidade oral- escrita. 02.3 - Fique atento a terminologia LIBRAS – Lingua Brasileira de Sinais, Linguagem Brasileira de Sinais. Trata-se de uma língua e não de uma linguagem. Há a tendência de se achar que a Libras é uma linguagem, pois se acredita que a Lingua de Sinais são apenas “gestos” sem nenhuma estrutura linguística. A linguagem é a capacidade que o homem tem para expressar-se e, paratanto, ele pode usar meios não verbais, como gestos, desenhos, cores, não necessariamente a língua (a linguagem verbal). Uma pessoa que não conhece língua alguma ainda assim possui uma linguagem, já que tem a capacidade de expressar-se. 25 Aula – 03 Libras Básico 03.1 A HISTÓRIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS Com base nas pesquisas já realizadas, não se sabe ao certo onde e como surgiram as línguas de sinais das comunidades surdas, mas consideramos que elas são criadas por homens que tentam resgatar o funcionamento comunicativo através dos demais canais, por terem um impedimento sensorial auditivo. Contudo a sua origem remonta possivelmente à mesma época ou a épocas anteriores àquelas em que foram sendo desenvolvidas as línguas orais. Os pesquisadores observam que as escolas (especialmente os internatos) foram (e continuam sendo) espaços importantes para o uso e a aprendizagem da língua, mas, geralmente, as línguas de sinais eram proibidas. E por esse motivo, movimentos de resistências sempre surgiram no intuito de reconhecer o uso e a difusão das línguas de sinais. De acordo com Soares (1999) e Moura, Lodi, Harison (1997), a verdadeira educação de surdos iniciou-se com Pedro Ponce De Leon (1520-1584), na Europa, ainda dirigida à educação de filhos de nobres. Leon era da Ordem Beneditina e, em um mosteiro, tinha muitos alunos surdos, onde se dedicava ao ensino da fala, leitura e escrita. Denis Diderot, na França, produziu também a Carta sobre os surdos-mudos para uso dos que ouvem e falam (1751), texto este destinado a um professor de retórica e filosofia antiga, em que questiona os métodos até então utilizados com surdos, ressalva a complexidade das línguas de sinais e analisa, linguisticamente, a produção de signos por meio de gestos. Em 1756, Abbé de L´Epée cria, em Paris, a primeira escola para surdos, o Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris, com uma filosofia manualista e oralista. “Foi a primeira vez na história, que os surdos adquiriram o direito ao uso de uma língua própria” (ALBRES apud GREMION, 2005, p. 47). Outros espaços observados são as fábricas, que tiveram seu início com a Revolução Industrial. No ambiente de trabalho, os surdos, mesmo sem educação, vindos de províncias distantes, aprendiam a língua de sinais. 26 A pesquisadora Neiva Aquino Albres (2005) observa que, no Brasil, o atendimento escolar especial às pessoasdeficientes teve seu início na década de cinquenta do século XIX. A primeira escola de surdos no Brasil foi criada pela Lei nº 839, de 26 de setembro de 1857, por Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, chamada de Imperial Instituto dos Surdos- Mudos (IISM), ainda existente nos dias de hoje com o nome Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), voltado à educação literária e ensino profissionalizante de meninos com idade entre 7 e 14 anos. Teve como primeiro professor Ernesto Huet, cidadão surdo francês, trazendo consigo a Língua de Sinais Francesa. Conforme Goldfeld (1997), em 1911, o IISM segue a tendência mundial e estabelece o oralismo puro como filosofia de educação. Entretanto a língua de sinais sobreviveu na sala de aula, até 1957, e nos pátios e corredores da escola a partir desta data, quando foi severamente proibida. Neste Instituto, os alunos educados pela língua escrita dactológica e de sinais conseguiram ser recuperados na comunicação expressiva, dos seus sentimentos, para poderem conviver com as pessoas ouvintes. Ainda hoje existem muitos sinais que eram usados nos primeiros tempos do INES. O alfabeto manual, de origem francesa, foi difundido por todo o Brasil pelos próprios alunos do IISM que, naquela época, eram trazidos pelos pais para o Rio de Janeiro, vindos de todas as partes do país. Mazzota (1999) descreve que, em 1929, é fundado o Instituto Santa Teresinha na cidade de Campinas-SP, depois de duas freiras passarem quatro anos no Instituto de Bourgla- Reine, em Paris – França, a fim de ter uma formação especializada no ensino de crianças surdas. Funcionava em regime de internato, só para meninas surdas. Para Albres (2005, p. 3) Os principais Institutos de Educação de Surdos tiveram como modelo a educação francesa e conseqüentemente, independente da contradição entre ensino oralidade ou Língua de Sinais, carregam consigo a Língua Francesa de Sinais. Por isso a escola tem relação direta com o desenvolvimento da Língua de Sinais em nosso país, pois é nesse espaço que os surdos se encontram quando crianças. Em 1957, o IISM passa a denominar-se Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, através da Lei nº 3.198 de 06 de julho de 1957. No ano de 1864, foi criada a primeira instituição superior para surdos, a GallaudetUniversity, reconhecida como a única faculdade de ciências humanas do mundo para alunos surdos. 27 O uso da língua de sinais justificava-se, na época, para o ensino do surdo a escrever e a falar. A comunicação era presencial e importantíssima como instrumento de relações interculturais. Como o método não atendeu aos objetivos, pois para os surdos é muito mais fácil gestualizar do que desprender energia e tempo para estimular e produzir som vocal, desviava-se o foco da oralidade. Até que, no Congresso deMilão, ocorre a proibição do uso da língua de sinais. No período de 1970 a 1992, os surdos se fortaleceram e reivindicaram os seus direitos. Desde aquela época, as escolas tradicionais existentes no método oral de filosofia e, até hoje, boa parte delas vem adotando o modelo inclusivo em que a língua de sinais se constitui elemento primordial para o atendimento educacional dos alunos surdos. Em 2002, foi promulgada uma lei que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio de comunicação objetiva e de utilização das comunidades surdas no Brasil. Em 2005, foi promulgado um decreto que tornou obrigatória a inserção da disciplina de Língua Brasileira de Sinais nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério em nível médio (curso normal) e superior (Pedagogia, Educação Especial, Fonoaudiologia e Letras). Desde então, as instituições de ensino vêm procurando se adequar a esses regimentos legais. Assim, a Libras assume um papel linguístico em destaque no cenário nacional da educação, permitido pela realidade da comunicação, dentro de um modelo multicultural, como uma perspectiva humanizadora, oportunizando, nos espaços sociais, uma leitura de mudo que respeita a diversidade. 03.2 - O RECONHECIMENTO DA LÍNGUA DE SINAIS A Língua Brasileira de Sinais, graças à luta sistemáticae persistente das comunidades surdas, foi reconhecidano Brasil como a Língua Oficial da Pessoa Surda, coma publicação da Lei nº 10.436 de 24 de abril, de 2002 e odecreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005. A conquista deste direito traz significados na vidasocial e política da nação brasileira. O provimento dascondições básicas e fundamentais de acesso à Libras sefaz indispensável. Requer o seu ensino, a formação deinstrutores e intérpretes, a presença de intérpretes nos locaispúblicos e a sua inserção nas políticas de saúde, 28 educação,trabalho, esporte e lazer, turismo e, finalmente, nos meiosde comunicação e nas relações cotidianas entre pessoassurdas e ouvintes. Tais conquistas, decorrentes destas lutas sociais,constroem novas oportunidades para que o surdo possaintegrar-se à luta pelo seu próprio desenvolvimento e pelavalorização de sua condição sociocultural. Abaixo, vamos observar a lei e o decreto citados ecompreender a dinâmica estrutural pela qual os ambientesescolares e não escolares precisam se adaptar pensando apromoção da inserção social dos surdos: LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dáoutras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que oCongresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicaçãoe expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outrosrecursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira deSinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que osistema linguístico de natureza visual-motora, com estruturagramatical própria, constituem um sistema linguístico detransmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades depessoas surdas do Brasil. Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público emgeral e empresas concessionárias de serviços públicos, formasinstitucionalizadas de apoiar o uso e difusão da LínguaBrasileira de Sinais - Libras como meio de comunicaçãoobjetiva e de utilização corrente das comunidades surdas doBrasil. Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionáriasde serviços públicos de assistência à saúde devem garantiratendimento e tratamento adequado aos portadores dedeficiência auditiva, de acordo com as normas legais emvigor. Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemaseducacionais estaduais, municipais e do Distrito Federaldevem garantir a inclusão nos cursos de formação deEducação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, emseus níveis médio e superior, do ensino 29 da Língua Brasileirade Sinais - Libras, como parte integrante dos ParâmetrosCurriculares Nacionais - PCNs, conforme legislaçãovigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras nãopoderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e 114º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza Texto publicado no D.O.U. de 25.4.2002 DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuiçõesque lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendoem vista o disposto na Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002,e no art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, DECRETA: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei no 10.436, de 24 deabril de 2002, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembrode 2000. Art. 2º Para os fins deste Decreto, considera-se pessoasurda aquela que, por ter perda auditiva, compreende einterage com o mundo por meio de experiências visuais,manifestando sua cultura principalmente pelo uso da LínguaBrasileira de Sinais - Libras. Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perdabilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB)ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz,1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. 30 CAPÍTULO II DA INCLUSÃO DA LIBRAS COMO DISCIPLINA CURRICULAR Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricularobrigatória nos cursos de formação de professores para oexercício do magistério, em nível médio e superior, e noscursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicase privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas deensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. § 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreasdo conhecimento, o curso normal de nível médio, o cursonormal superior, o curso de Pedagogia e o curso de EducaçãoEspecial são considerados cursos de formação de professorese profissionais da educação para o exercício do magistério. § 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativanos demais cursos de educação superior e na educaçãoprofissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto. 03.3 - Abordagens da Educação de Surdos É de fundamental importância a todos os professores, tanto os de línguas como os de outras áreas do conhecimento, compreender o processo de aquisição da Língua Portuguesa escrita por indivíduos surdos, a fim de que possam refletir sobre a maneira mais adequada de ensinar, de forma que aescrita seja significativa a seus alunos. É relevante salientartambém que a escola e os educadores são os responsáveispela inclusão dos surdos no ambiente escolar e social epela garantia de serviço de apoio especializado, currículos,técnicas e recursos específicos para atender suas necessidadeseducativas especiais, conforme regulamentado pela Lei deDiretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996). No entanto, muitos professores desconhecem ahistória da educação e a cultura surda, a Libras (LínguaBrasileira de Sinais), a forma como os surdos aprendema escrita da língua oral e também o fato de que essesconhecimentos poderiam facilitar a organização de suasestratégias de ensino.Alguns estudiosos, como Farias (2006), realizarampesquisas sobre a aquisição da Língua Portuguesa escrita porsurdos, com o objetivo principal de conhecer a cultura surda,a fim de identificar as características de sua língua própria,Libras, e de verificar como ocorre o processo de aquisiçãode sua 31 segunda língua, a Língua Portuguesa escrita. Assim,podemos identificar alguns aspectos nestes estudos: • uma breve explanação da história da educaçãodos surdos, focalizando as três filosofias quecaracterizam o ensino no país; • descriçãosobre a língua de sinais; • abordagem dos aspectos relacionados à aquisição dalíngua própria dos surdos; • pesquisas sobre a alfabetização na forma escrita dalíngua de sinais e da Língua Portuguesa. BILINGUISMO: RECONHECENDO A DIFERENÇALINGUÍSTICA E CULTURAL Quando nos remetemos à história das civilizações,constatamos a não existência de escolas para os surdos, poiseles eram considerados incapazes e, portanto, excluídos dasociedade. Somente a partir do século XVIII, surgiram osprimeiros educadores nessa área, que divergiam quanto aométodo de ensino mais apropriado. Segundo Quadros (1997a), ao pensarmos a históriada educação de surdos no Brasil, é possível destacar duasfases claramente delineadas, bem como vimos na unidadeanterior, e uma terceira, a atual, que configura um processode transição e de quebra de paradigmas. Fernandes e Rios (1998), Correia e Fernandes(2005), Quadros (1997a, 2005),Góes (1996) e Salles et al. (2002) são unanimes ao destacar que o bilinguismo é umaproposta de ensino que considera a língua de sinais comolíngua própria da criança surda, ou seja, como sua primeiralíngua, que deve ser aprendida o mais cedo possível, e a línguaportuguesa escrita, como língua de acesso ao conhecimento,que deve ser ensinada a partir da língua de sinais, baseando-se em técnicas de ensino de segunda língua. Já a propostabicultural, por sua vez, permite ao surdo o seu acesso rápidoà comunidade ouvinte e faz com que ele se reconheça como parte de uma comunidade surda. Dessa forma, o bilinguismo busca captar os direitosda pessoa surda, pois propiciar a ela a “aquisição da línguade sinais como primeira língua é a forma de oferecer-lhe ummeio natural de aquisição linguística, visto que se apresenta como língua de modalidade espaço-visual, não dependendo,portanto, da audição para ser adquirida” (FERNANDES,2003, p. 30-31). Além disso, a Libras é um sistema quepossui todos os elementos pertinentes às línguas naturais,como fonologia, fonética, 32 semântica, sintaxe, morfologia,preenchendo, assim, os requisitos linguísticos para serconsiderada o meio de comunicação da comunidade surda,assim como já vimos nas unidades anteriores. Sendo a língua um dos principais instrumentos deidentidade das pessoas, em seu sentido cultural e psicossocial,pode-se afirmar que a língua de sinais é essencial aos surdos,pois ela identifica a sua comunidade, além de permitir-lhes a aquisição de conhecimentos sobre o mundo e defornecer-lhes toda a base linguística para a aprendizagemde qualquer outra língua. Dessa forma, “privar um alunosurdo da aquisição de uma língua, é privá-lo de seu naturaldesenvolvimento” (Fernandes, 2003, p. 149). Em finais da década de 1970, com base em conceitos sociológicos, filosóficos e políticos, surgiu a “Proposta Bilíngue de Educação do Surdo”. Essa proposta reconhece e baseia-se no fato de que o Surdo vive numa condição bilíngue e bicultural, isto é, convive no dia a dia com duas línguas e duas cultura: a língua gestual e cultura da comunidade surda do seu país; a língua oral e cultura ouvinte de seu país. Numa abordagem educacional, o bilinguismo baseia-se no reconhecimento do fato de que as crianças surdas são interlocutoras naturais de uma língua adaptada à sua capacidade de expressão. Assim sendo, a comunidade surda propõe que a língua de sinais oficial do seu país de origem lhes seja ensinada, desde a infância, como primeira língua. Reconhece ainda o fato de que a língua oral oficial do seu país não deve ser por ela ignorada, pelo que lhe deve ser ensinada, como segunda língua. Os bilinguístas defendem que a língua de sinais deve ser adquirida, preferencialmente, pelo convívio com outros surdos mais velhos, que dominem a língua de sinais. Somado a isso, Quadros (1997a, p. 28) cita ainda adeclaração dos direitos humanos linguísticos, segundo aqual[...] todos os seres humanos têm o direitode identificarem-se com uma línguamaterna e de serem aceitos e respeitadospor isso; todos têm o direito de aprendera língua materna(s) completamente, nassuas formas oral (quando fisiologicamentepossível) e escrita; todos têm o direitode usar sua língua materna em 33 todas assituações oficiais (inclusive na escola); todos os utentes de uma língua maternanão-oficial em um país tem o direito deserem bilíngües, isto é, o direito de teremacesso a sua língua materna e à línguaoficial do país. Na Lei Federal no 10.436, de 24 de abril de 2002, de acordo com Salles et al. (2002) e Karnopp (2005), as garantias individuais do surdo alcançaram respaldoinstitucional, e a Língua Brasileira de Sinais foi reconhecidacomo língua oficial da comunidade surda. Contudo, noparágrafo único desta lei, consta que “a Língua Brasileira deSinais não poderá substituir a modalidade escrita da línguaportuguesa” (BRASIL in SALLES, 2002, p. 63). Assimsendo, deve ser proporcionado aos alunos surdos um ensinobilíngue, que considere a língua de sinais como sua línguaprópria e a língua portuguesa como sua segunda língua. Primeiramente, é imprescindível mencionar que aproposta educacional bilíngue e bicultural, defendida pordiversos autores (FERNANDES; RIOS, 1998; CORREIA;FERNANDES, 2005; QUADROS, 1997a, 2005; GÓES,1996; SALLES et al., 2002) e referida na declaração dosdireitos humanos linguísticos e na Constituição Federal,ainda hoje, segundo os próprios estudiosos, se encontraem fase de implementação nas instituições de ensino queatendem os surdos. A língua de sinais que, de acordo comessa proposta de ensino, constitui a língua própria dossurdos e, portanto, deve ser ensinada desde o mais cedopossível, no contexto escolar, não deve ser mais inferiorizadae descaracterizada, sendo “utilizada apenas como umaferramenta para o aprendizado do português” (KARNOPP,2003, p. 57) e considerada “como uma mera facilitadora decomunicação e não como um objeto de estudo” (STUMPF,2004, p. 146). Muitos surdos ainda chegam às escolas sem umalíngua constituída, ou seja, apenas com uma linguagemgestual desenvolvida na relação com os familiares. Noentanto, é no ambiente escolar, então, que essas criançasencontram oportunidade, no início da primeira série, aterem contato com a Libras: recebem de outro surdo umsinal para seu nome, criam sinais para as pessoas da suafamília, aprendem as configurações das letras do alfabeto econhecem palavras e expressões, em Libras, mais usadas noconvívio diário.Para Lebedeff (2004), uma das maiores dificuldadesenfrentadas pelos alunos ao ingressarem na escola refere-seao fato de os surdos serem levados a aprender, ao mesmotempo, aspectos da língua de sinais e da estrutura linguísticada língua oral (leitura e escrita). Quadros (1997a) salienta que os pais dos alunossurdos deveriam ter acesso à língua e sinais o mais cedopossível, para que pudessem comunicar-se eficazmentee auxiliar as crianças na aquisição de sua L1. Entretanto,é comum que os pais conheçam somente as 34 palavras e asexpressões mais usadas pelas crianças e utilizem, em casa,uma mistura da língua de sinais com a gestualização manual.Muitas famílias não aceitam a condição física dos filhos erejeitam o uso da Libras, dificultando, assim, a aquisiçãoda língua própria. Segundo Lebedeff (2004), essa barreirade comunicação entre a família ouvinte e o filho surdodificulta a realização das práticas sociais de letramento edescaracteriza a língua de sinais, reduzindo-a a uma formausada apenas para fins escolares. Quanto à instituição de ensino, Quadros (1997a) eKarnopp (2005) afirmam que ela tem um papel fundamentalna aquisição da língua de sinais pelos alunos e seus familiares.Cabe a ela criar um ambiente linguístico apropriado, queconsidere o desenvolvimento cognitivo e as condiçõesfísicas das crianças surdas, e que garanta a elas atendimentopor profissionais que dominem Libras, preferencialmentepessoassurdas. De acordo com o exposto por Giordani (2004, p.78), “os professores ouvintes, nas escolas de surdos, sãoestrangeiros que se aproximam da língua de sinais e dacultura visual, mas privilegiam, pelo hábito e pela própriacultura, a modalidade oral-auditiva”. Devido a isso, Giordani (2004) ressalta a importânciados profissionais surdos, com um perfil bilíngue bicultural,no ensino de surdos, enfatizando que esses, além deinterlocutores que compreendem sua língua, são modeloslinguísticos que desempenham papel de liderança perante ascrianças. Considerando que a Libras é a língua em que oprocesso de aquisição da linguagem dos surdos ocorrenaturalmente, Quadros (1997a, 2006), Karnopp (2004),Rangel e Stumpf (2004) e Stumpf (2001, 2003, 2004)sugerem que as crianças devem adquirir, primeiramente,a escrita da língua de sinais, que representa as formas e osmovimentos num espaço definido e possibilita ao surdoaprender a leitura e a escrita própria de sua comunidade. As autoras ressaltam que qualquer estudo sobre aaquisição da leitura e da escrita em uma L2, principalmentequando envolve línguas de modalidades diferentes,pressupõe que os alunos já estejam alfabetizados na formaescrita da L1. Portanto, somente após as crianças surdasestarem alfabetizadas na escrita da Libras, recomenda-se oinício da aquisição formal da Língua Portuguesa, nesse caso,da sua segunda língua. A Libras é a língua da comunidade surda brasileira. Tem suas regras gramaticais próprias, possibilitando assim, o desenvolvimento linguístico da pessoa surda, favorecendo o seu acesso aos conhecimentos existentes na sociedade. 35 Os sinais são formados a partir de parâmetros, como a combinação do movimento das mãos com um determinado formato num determinado lugar, podendo este lugar, ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Os parâmetros da LIBRAS são: - Configuração das mãos; - Locação; - Movimentos; - Orientação das mãos; - Expressão facial e/ou corporal. Nesta combinação se obtém o sinal. Portanto, produzir sinais é combinar esses parâmetros para a formação das frases e textos num determinado contexto. Há uma grande confusão e discussão em torno da aceitação ou não da Libras por alguns ouvintes, devido às influências e preconceitos sociais, mas pode-se verificar alguns pontos importantes que devem ser considerados: - A Libras é a língua das comunidades surdas: foi criada e é usada pelos surdos no Brasil; - O desenvolvimento lingüístico, cognitivo, afetivo, sociocultural e acadêmico não dependem da audição, mas sim da aquisição e desenvolvimento da língua de sinais; - A Libras propicia o desenvolvimento lingüístico e cognitivo da criança surda, favorecendo a produção escrita, servindo de apoio para a leitura e compreensão dos textos. Aula 04 – Libras básico 36 ALFABETO DE LIBRAS O alfabeto de Libras (Língua Brasileira de Sinais) teve sua origem ainda no Império. Em 1856, o conde francês Ernest Huet desembarcou no Rio de Janeiro com o alfabeto manual francês e alguns sinais. O material trazido pelo conde, que era surdo, foi adaptado e deu origem à Libras. Este sistema foi amplamente difundido e assimilado no Brasil. No entanto, a oficialização em lei de Libras só ocorreu um século e meio depois, em abril de 2002 – nesse período, o Brasil trocou a monarquia pela república, teve seis Constituições e viveu a ditadura Militar. O longo intervalo deve-se a uma decisão tomada no Congresso Mundial de Surdos, na cidade italiana de Milão em 1880. No evento, ficou decidido que a língua de sinais deveria ser abolida, ação que o Brasil programou em 1881. A Libras quase mudou o nome e só voltou a vigorar em 1991, no Estado de Minas Gerais, com uma lei estadual. Só em agosto de 2001, com o Programa Nacional de Apoio à Educação do Surdo, os primeiros 80 professores foram preparados para lecionar a língua brasileira de sinais. A regulamentação da Libras em âmbito federal só se deu em 24 de abril de 2002, com a lei nº. 10.436. 37 EX: Antonio SAUDAÇÕES BOA TARDE! QUAL É SEU NOME? BEM VINDO! BOM DIA! 38 NUMERAIS CARDINAIS As línguas podem ter formas diferentes para apresentar os numerais quando utilizados como cardinais, ordinais, quantidade, medida, idade, dias da semana ou mês, horas e valores monetários. Isso também acontece na LIBRAS. Nesta unidade e nas seguintes, serão apresentados os numerais em relação às situações mencionadas acima. É erro o uso de uma determinada configuração de mão para o numeral cardinal sendo utilizada em um contexto onde o numeral é ordinal ou quantidade, por exemplo: o numeral cardinal é diferente da quantidade 1, que é diferente do ordinal PRIMEIR@, que é diferente de que é diferente de PRIMEIRO-GRAU, que é diferente de MÊS-1. QUAL É O SEU SINAL? ESTOU BEM! OLÁ PRAZER EM CONHECER! TCHAU! LEGAL! COMO VAI QUAL É SUA IDADE? BOA SORTE! OI! 39 O Número Cardinal é usado em: número do telefone, número da caixa postal, número da casa, número da conta no banco...etc. Ex: 1) Número seu telefone qual? 2) Ônibus ir cidade número qual? 3) Depender aonde você ir. 1) Ir perto DB! 2) Ônibus número 423. NUMERAIS QUANTIDADE Há diferenças na configuração de mão e no posicionamento dos números de 1 a 4. 40 Quantidade de canetas na mesa, quantidade de pessoas presentes, quantidade de ônibus....etc. Ex: 1) Sala de aula ter alunos 43 2) Eu ter canetas 2 3) Em cima da mesa ter pratos 5 4) Faltar aula ontem alunos 3 NUMERAIS ORDINAIS (movimento de tremular) 1) Eu morar apartamento andar 3°. 2) Conseguir corrida lugar 6°. 3) Fila banco eu 11° CONFIGURAÇÃO DE MÃOS As Configurações de mãos são as formas em que elas se apresentam, a partir de uma configuração específica dentro da tabela, podemos fazer um sinal. Nem sempre as configurações são letras ou números do alfabeto manual, portanto, os sinais só poderão ser criados a partir de tais configurações de mãos. Serve para dar forma aos sinais todo sinal tem uma cofiguração de mão correspondente, mas não precisa se preocupar porque na prática você não se prende a isso é só uma forma de ajudar melhor no aprendizado. PARÂMETROS Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. 41 Nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros: Configuração de mãos: são formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros) ou pelas duas mãos do emissor ou pelo sinalizador. Os sinais APRENDER, FORÇAR/COAGIR, ODIAR e GOSTAR tem a mesma configuração de mãos que são realizadas em diferentespontos de articulação; Ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até a cabeça) e horizontal (à frente do emissor). Os sinais COMO?, ONDE? São feitos no espaço neutro e o sinal TER, é feito no centro do peito. Movimento: os sinais podem ter movimento ou não. Os sinais citados abaixo não têm movimento. CARAMBOLA, ABACAXI e CAJÚ. APRENDER FORÇAR/COAGIR ODIAR GOSTAR COMO? ONDE? TER CARAMBOLA ABACAXÍ CAJU 42 Orientação / direcionalidade: os sinais têm uma direção da palma da mão com relação aos parâmetros acima. Ex. a palma pode estar voltada para os lados (direito ou esquerdo); para cima ou para baixo; para frente ou para o emissor do sinal e a direcionalidade é de onde parte o SINAL, seguindo uma respectiva direção. Expressão facial e / ou corporal: muitos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados acima, em sua configuração têm como traço diferenciador também a expressão facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e CHORAR e TRISTE. Há sinais feitos somente com a bochecha como LADRÃO, ATO-SEXUAL. Na combinação destes cinco parâmetros, tem-se o sinal. Falar com as mãos é, portanto, combinar estes elementos para formarem as palavras e estas formarem as frases em um contexto. EU ESTOU BEM ME-ENSINAR IR ALEGRE TRISTE ATO-SEXUAL LADRÃO CHORAR EXPRESSÕES 43 Atividades: 1) Mostrar três sinais com a configuração de mãos igual? R: LARANJA, APRENDER e GOSTAR. 2) Mostrar três sinais com o ponto de articulação no espaço neutro? R: TRABALHAR, BRINCAR e TELEVISÃO. 3) Mostrar três sinais com o ponto de articulação em pontos diferentes do espaço neutro? R: ALUNO, SENTIR e MANGA. 4) Apresente quatro sinais com movimento? R: PULAR, FALAR, COMEÇAR e ENSINAR. 5) Apresente dois sinais sem movimento? R: AJOELHAR e EM-PÉ 6) Apresente três sinais com a palma da Mão voltada para baixo? R: PORTUGUÊS, DEPENDER e PASSEAR. 7) Mostrar três sinais com as palmas das mãos em sentido diferente? R: AJUDAR, COMEÇAR e ATÉ. 8) Apresente quatro sinais com expressão? R: TRISTE, ALEGRE, CHORAR e PERGUNTAR. 9) Apresente três sinais com expressão neutra? R: CASA, HOTEL e CARRO. HORAS (espaço de tempo) 44 Ex: Diálogo (Libras) 1) Boa Noite! Meu nome é .......... 2) Boa noite! 1) Ter curso de LIBRAS aqui? 2) Desculpe, vaga não ter. 1) Posso telefonar mês futuro? 2) Sim! Poder 1) Numero daqui qual? 2) 3642-4148, tudo bem! Ligar poder! 1) Curso horas quantas? 2) Horas 2, começar 6 horas noite e acabar 8 horas noite. Três dias semana (segunda, quarta e sexta). 1) Obrigado! 2) De nada! 1) Boa noite! Tchau. 2) Boa noite. HORAS (duração do dia) 1 HORA MEIA- HORA 1 HORA 2 HORAS 3 HORAS 4 HORAS 1 HORA Diálogo (português) 1) Boa noite! Meu nome é... 2) Boa noite! 1) Aqui tem curso de Libras? 2) Não tem vaga, desculpe. 1) Mês que vem posso telefonar? 2) sim! Pode! 1) Qual é o número daqui? 2) 3646-3239, tudo bem, pode ligar! 1) Quantas horas de curso? 2) 2 horas, começa ás 6 da noite e acaba ás 8 da noite. 3 dias na semana (segunda, quarta e sexta). 1) Obrigado! 2) De nada! 1) Boa noite! Tchau. 2) Boa noite! 45 Ex: Diálogo (Libras) 1) Olá! Tudo bem! 2) Sim! Tudo bem! 1) Ônibus demorar... 2) Verdade! Tempo eu aqui. 1) (tempo) ônibus, hora você esperar? 2) 2 da tarde... 1) Ônibus atrasar. 2) Olhar... Ônibus lá! 1) Sim! Tchau! 2) Tchau. 2 HORAS 3 HORAS 4 HORAS MANHÃ NOITE TARDE MADRUGADA Diálogo (português) 1) Olá! Tudo bem! 2) Sim!Tudo bem! 1) O ônibus está demorando... 2) É verdade, faz tempo que estou aqui. 1) (Tempo) desde que horas você espera o ônibus? 2) Desde 2 da tarde... 1) O ônibus está atrasado! 2) Olha...lá vem o ônibus! 1) Sim!Tchau! 2) Tchau. 46 PAI MÂE SOBRINHO (A) TIO (A) PRIMO (A) HOMEM MULHER FAMILIA FILHO (A) IRMÃO (Ã) 47 ESTADO CIVIL CASADO (A) NOIVO (A) AFILHADO (A) PADRASTO BISAVÔ (Ó) CUNHADO (A) SOGRO (A) FILHO ADOTIVO (A) TRIGÊMEOS MADRASTA VOVÔ/Ó HOMOSSEXUAL/GAY 48 DIAS DA SEMANA SEPARADO DESQUITADO DIVORCIADO RECONCILIADO AMANTE SOLTEIRO SOZINHO NAMORANDO VIÚVO/VIÚVA SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA 49 Ex: Diálogo (Libras) 1) Olá... Tudo bem! 2) Tudo bem! 1) Meu nome é...... Seu nome? 2) Meu nome é.......... 1)Prazer conhecer você. (sorrindo) 2) Igualmente... 1) Tchau! 2) tchau! DOMINGO QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA SÁBADO MESES DO ANO Diálogo (Português) 1) Olá... Tudo bem! 2) Tudo bem! 1) Meu nome é......Seu nome? 2) Meu nome é...... 1) Prazer em conhecer você! 2) Igualmente... 1) Tchau! 2) Tchau! 50 JANEIRO FEVEREIRO MARÇO MAIO JUNHO JULHO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO ABRIL AGOSTO 51 Ex: Diálogo (Libras) 1) Que ano você nascer? 2) Eu nascer ano 1986 mês julho! 2) E você nascer ano...? 1) Eu nascer 1989 mês dezembro 2) Bom... Agora para casa, eu ir! 1) Tchau... Abraços! 2) Abraços! CORES Diálogo (português) 1) Em que ano você nasceu? 2) Eu nasci no mês de julho, no ano de 1986! 2) Em que ano você nasceu? 1) Eu nasci no mês de dezembro no
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