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Controle Social - Sociedade e Crime - Prof. Thais Teixeira Rodrigues

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DO CONTROLE SOCIAL
 Thais Teixeira Rodrigues		
A moderna criminologia se preocupa com o controle social da violência e da criminalidade por sua orientação cada vez mais sociológica, dinâmica e complexa.
O controle social, para o pensamento sociológico tradicional, corresponde a um conjunto de recursos concretos e simbólicos que um grupo social dispõe para garantir a conformidade dos comportamentos dos seus integrantes a normas e preceitos pré-determinados. Assim o controle social corresponde a um “conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover e garantir referida subordinação do individuo aos modelos e normas comunitários. Para alcançar a conformidade ou a adaptação do indivíduo aos seus postulados normativos”. (MOLINA, 2008, p.126)
Os primeiros a empregarem o termo controle social foram os sociólogos americanos no inicio do século XX, que passa a ser utilizado para apreender, sobretudo os mecanismos de cooperação e de coesão voluntária. Após Segunda Guerra Mundial a expressão controle social começa a apontar para questões macrossociológicas, como a da relação do Estado com os mecanismos sociais e na consideração de que “a coesão social não será mais vista como o resultado da solidariedade e da integração social, mas sim como resultado de práticas de dominação organizadas pelo Estado ou pelas ‘classes dominantes’”.(Marcos Cezar Alvarez – São Paulo em perspectiva, 18(1), 168-176 – 2004).
Os laços sociais, em nome da harmonia e bem comum, tornaram-se não só comum na sociologia como em qualquer área que trate do fenômeno da conduta desviante.
A necessidade de paz, ordem e do bem comum, leva a sociedade à criação de um organismo responsável pela instrumentalização e regência desses valores, que é assim a missão precípua do Direito, mas não exclusivamente e tampouco como instância mais importante. Os indivíduos que formam grupos sociais se relacionam na busca de seus objetivos. As interações sociais correspondem a esses processos que constituem relações interindividuais e intergrupais que se formam sob a força de múltiplos interesses (NADER, 2005, p.19-25).
A NORMATIZAÇÃO DAS CONDUTAS COMO FORMA DE CONTROLE
Desde o princípio da história humana, verifica-se que o homem sempre foi envolvido pela necessidade de convivência em sociedade, correlacionando-se constantemente com seus semelhantes. Para Zaffaroni (2003), o homem sempre aparece em sociedade interagindo de maneira muito estreita com outros homens. Agrupam-se dentro da sociedade em grupos permanentes, alternativos, eventualmente coincidentes ou antagônicos em seus interesses e expectativas. Os conflitos entre grupos se resolvem de forma que, embora sempre dinâmica, logra certa estabilização que vai configurando a estrutura de poder de uma sociedade, que em parte é institucionalizada e em parte é difusa.
A vida em sociedade e as conseqüentes interrelações sociais e pessoais exigem a formulação de regras de conduta que disciplinem a interação entre as pessoas, com o objetivo de alcançar o bem comum e a organização social. Tais regras, chamadas normas éticas ou de conduta, podem ser de natureza moral, religiosa e/ou jurídica. (TREVES, 2004). Assim, é correto dizer que 
toda sociedade apresenta uma estrutura de poder, com grupos que dominam e grupos que são dominados, com setores mais próximos ou mais afastados dos centros de decisão. De acordo com esta estrutura, se controla socialmente a conduta dos homens, controle que não só se exerce sobre os grupos mais distantes do centro do poder, como também sobre os grupos mais próximos a ele, aos quais se impõe controlar sua própria conduta para não debilitar-se, [...](ZAFFARONI, 2003).
E assim, através de uma classificação tradicional, o controle social se vale desde meios difusos e encobertos até meios específicos, como é o sistema penal (polícia, juízes, agentes penitenciários), de duas classes, as instâncias informais e formais. Assim, também esclarece Molina, que “as instâncias informais do controle social são: a família, a escola, a profissão, a opinião publica, etc. E os agentes formais são: a polícia, a justiça e a administração penitenciária” (MOLINA, 2008, p.127). 
Qualquer instituição social tem uma parte de controle social que é inerente a sua essência, ainda que também possa ser instrumentalizada muito além do que corresponde a essa essência. “O controle social se exerce, pois, através da família, da educação, da medicina, da religião, dos partidos políticos, dos meios de massa, da atividade artística, da investigação cientifica etc.” (ZAFFARONI, 2003, p. 62).
Ainda preceitua Zaffaroni (2003, p. 61-68) que a enorme extensão e a complexidade do fenômeno do controle social demonstra que uma sociedade é mais ou menos autoritária ou mais ou menos democrática, segundo se oriente em um ou outro sentido a totalidade do fenômeno e não unicamente a parte do controle social institucionalizado ou explícito. Para avaliar o controle social em um determinado contexto, o observador não deve deter-se no sistema penal, e menos ainda na mera letra da lei penal, mas é mister analisar a estrutura familiar a educação, a medicina e muitos outros aspectos que tornam complicadíssimo o tecido social.
Portanto, o controle social, conforme Molina (2008, p. 127), dispõe de numerosos meios ou sistemas normativos (a religião, o costume, o direito etc), de diversos órgãos ou portadores (a família, a igreja, os partidos, as organizações etc), de distintas estratégias ou respostas (prevenção, repressão, socialização etc), de diferentes modalidades de sanções (positivas, negativas, etc), e de particulares destinatários. 
Essas instituições de controle social condicionam o indivíduo através de um disciplinamento que inicia nos núcleos primários (família), escola, profissão, local de trabalho e culmina com a obtenção de sua aptidão conformista, interiorizando no indivíduo as pautas de conduta transmitidas e aprendidas (processo de socialização) (MOLINA, 2008, p.127).
No caso do fracasso das instâncias informais do controle social deve entrar em funcionamento os mecanismos de controle formais, que de forma coercitiva impõem sanções diversas das sociais, as figuras punitivas e de definição do sujeito desviado.
O processo de determinação de punibilidade que se demonstra através da criação de figuras de delito pela lei penal, a fixação das conseqüências punitivas que alcançam seus atores, e a descrição das formas em que se concreta a intervenção punitiva do Estado, é o que se denomina como sistema penal.
Assim, o sistema penal é a parte do controle social que resulta institucionalizado em forma punitiva e com discurso punitivo, que abarca desde que se detecta ou supõe detectar-se uma suspeita de delito até que se impõe e executa uma pena, pressupondo uma atividade normativa que cria a lei que institucionaliza o procedimento, a atuação dos funcionários e define os casos e condições para esta atuação. Entretanto em um sentindo mais amplo, entendendo o sistema penal como “controle social institucionalizado”, nele se inclui ações controladoras e repressoras que aparentemente nada tem a ver com o sistema penal (ZAFFARONI, 2003, p. 69).
“O controle social penal é um subsistema dentro do sistema global do controle social; difere deste último por seus fins (prevenção ou repressão do delito), pelos meios dos quais se serve (penas ou medidas de segurança) e pelo grau de formalização que exige” (MOLINA, 2008, p.127).
Para Andrade (2003), o sistema penal não se reduz ao conjunto de normas penais, mas é concebido como um processo articulado ao qual concorrem todas as agências do controle social formal, desde o Legislador, por meio do mecanismo de produção das normas (criminalização primária), passando pela Polícia, a Justiça e o Ministério Público, ou seja, o processo penal e os mecanismos de aplicação das normas (criminalização secundária) e culminando com o sistema penitenciário. O sistema penal estáconfigurado, então, mediante processos de criação de um ordenamento jurídico específico, constituído por leis de fundo penal e de formas processuais. Mas, assim mesmo, devem necessariamente existir instâncias de aplicação do aparato legislativo, com a missão de concretizar em situações, comportamentos e atores quando se comete um delito e como este se controla.
A descrição de tipos delitivos pelo código penal e a maneira em que terão lugar os processos penais ou a determinação de formas de atuar que se prevê para as instâncias de aplicação do controle penal (policia, jurisdição, ministério público, prisão) nas respectivas leis, não se preenchem de conteúdo até que efetivamente uma pessoa, ou várias, são imputadas, incriminadas ou acusadas de uma conduta punível. Esse último é o que coloca em funcionamento as instâncias de aplicação do sistema penal e o produto de suas atividades não necessariamente coincide sempre com as previsões abstratas do ordenamento jurídico, pelo qual necessariamente deve corrigir-se caso não se queira infringir as margens da forma estado de direito. O sistema penal das sociedades modernas está previsto como conjunto de meios e instrumentos para levar a cabo um efetivo controle social formalizado da criminalidade que se manifesta nas sociedades. Portanto, descrevendo e analisando o funcionamento real das instâncias que o conformam é possível entender que tipo de estratégia de controle social se pretende desenhar desde o Estado (ANDRADE, 2003). Dessa maneira, o direito estatal e, em conseqüência, o sistema penal, é objeto de conhecimento sociológico quando se expõe como mecanismo de controle social, analisar o sistema penal em nível de sua produção e em relação as conseqüências que provocam as normas jurídicas que o constituem, respeito aos indivíduos ou ao conjunto social sobre as que se projetam. Entretanto, o sistema penal dada sua seletividade, parece indicar mais qualidades pessoais do que ações, porque a ação filtradora o leva a funcionar desta maneira. Na realidade, em que pese o discurso jurídico, o sistema penal se dirige quase sempre contra certas pessoas mais que contra certas ações (ZAFFARONI, 2003).
Esse é o paradigma da teoria do labeling approch, que sustenta que não há como compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal, que a define e reage contra ela, começando pelas normas abstratas até a ação das instâncias oficiais. O status de delinqüente pressupõe o efeito da atividade das instancias oficiais de controle da conduta desviada enquanto não adquire esse status àquele que mesmo não tenha realizado o comportamento punível, não é alcançado pela ação daquelas instâncias (BARATTA, 2002, p. 86).
A criminalização corresponde a três níveis de investigação realizados pela teoria do labeling approach, conforme explica Andrade (2003, p. 208): 
a investigação do processo de definição da conduta desviante (criminalização primária) e o estudo da distribuição do poder social dessa definição;
a investigação do processo de atribuição do status criminal (processo de seleção ou criminalização secundária;
a investigação do impacto da atribuição do status de criminoso na identidade do desviante.
Portanto, o processo de criminalização primária representa a primeira fase da distribuição seletiva e desigual do status de criminoso, que se realiza pela escolha dos bens jurídicos que a sociedade pretende defender, por meio da criação de normas penais e, pré-selecionando os indivíduos criminalizáveis, ainda que abstratamente. O segundo nível de investigação corresponde ao processo de criminalização secundária, realizado por meio da aplicação das normas penais pela polícia, o poder judiciário e o sistema carcerário, e a atribuição da etiqueta de desviante à conduta ou ao indivíduo selecionado (ZAFFARONI, 2003).
Em qualquer sistema penal, pode-se distinguir seguimentos. Os segmentos básicos dos sistemas penais atuais são a polícia, o poder judiciário e o sistema penitenciário, os quais compõem os mecanismos de aplicação do controle social formal.
Em geral, aplicar as normas jurídicas é uma tarefa que compete a diferentes operadores jurídicos no marco do Estado Democrático de Direito, mas os operadores jurídicos no marco do Estado, de cuja aplicação depende em ultima instância a eficácia das normas, são aqueles que detém a cargo da jurisdição. A jurisdição, por sua vez, corresponde dizer o direito, a aplicação da norma jurídica na resolução de conflitos, supõe a manifestação de um comportamento, mas tal aplicação também provoca a colocação de outros comportamentos por quem resultam ser sujeitos de tal aplicação e nisto consiste a essência desse segundo nível da sociologia jurídica contemporânea, isto é, a de tratar de conhecer e poder assim explicar os comportamentos humanos que produzem a aplicação das normas jurídicas. Em síntese, o que se trata de averiguar é qual o nível de eficácia de um determinado ordenamento jurídico ao descrever se o comportamento que se quer motivar são efetivamente os que produziram a aplicação desse comportamento e ai também está o componente de controle social da jurisdição (Treves, 2004).
Todavia, a aplicação do direito desprovida de análise abrangente do meio social e da possibilidade de interpretação fundamentada na realidade material observada é discurso sustentado com o objetivo de limitar cada vez mais a esfera de atuação do Magistrado para propiciar o aumento, nas mesmas proporções, da esfera de dominação do Poder Estatal (BOBBIO, 2006 p. 174).
Uma vez conhecido, então, como nascem as formas de expressões normativas do poder racional-legal, próprio do modo de produção e distribuição capitalista, é importante explicar as razões pelas quais tais expressões são obedecidas: em poucas palavras, saber como as normas são eficazes para alcançar os comportamentos pretendidos mediante os mandatos e proibições que fixam os ordenamentos jurídicos. A definição da autoria e condenação pela atuação do poder judiciário também implica na aplicação da pena, punição, para tal conduta antissocial.
O surgimento e a consolidação do direito penal e a pena estão relacionados com a estrutura social e, portanto, com o controle social peculiar em cada época. Uma análise do pensamento penal necessita ter em conta as estruturas e a função que os elementos presentes em cada momento histórico cumpriam na ideologia de justificação ou crítica de sua existência. Além disso, é importante abordar o nascimento da pena privativa de liberdade como pena principal, tentando situar histórica, política, econômica e culturalmente abordando as diversas teorias sobre o tema com a finalidade de responder ao questionamento de porque a prisão se converteu na pena principal das sociedades contemporâneas. Isto é porque essa particular forma de confinamento em lugar de qualquer outro tipo de punição domina a execução das penas a partir dos séculos XVII e XVIII até hoje em dia.
O direito penal, o processo penal e o sistema de justiça criminal constituem, no âmbito de um Estado de Direito, mecanismos normativos e institucionalizados para minimizar e controlar o poder punitivo estatal, de tal forma que o objetivo de proteção dos cidadãos contra o crime seja ponderado com o interesse de proteção dos direitos fundamentais do acusado (AZEVEDO, p. 95)
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Vera Pereira. Ilusão de segurança jurídica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. Rio de janeiro: Freitas Bastos, 2002.
DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem delinquente e a sociedade criminógena. Coimbra: Coimbra, 1997.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2000.
MOLINA, Antonio García-Pablos de. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. São Paulo: Forense, 2005.
TREVES, Renato. Sociologia do direito: origens, pesquisas e problemas, São Paulo: Manole, 2004
YOUNG, Jock. A sociedade excludente:exclusão social, criminalidade e diferença na modernidade recente. Rio de Janeiro: Revan, Instituto Carioca de Criminologia, 2002.
ZAFFARONI, Eugenio, Raul. Manual de direito penal brasileiro. São Paulo: RT, 2003.

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