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RESUMO DE PROCESSO CIVIL ELABORADO POR BEATRIZ ARAUJO COM BASE NA DOUTRINA E AULAS EXECUÇÃO PROVISÓRIA O que é provisório não é o cumprimento da sentença, mas, sim, o título executivo que o fundamenta, já que dele pende de análise recurso sem efeito suspensivo. Tudo que acontece na execução definitiva (no sentido da aplicação de técnicas: penhora, leilão de bens, multas por descumprimento, adjudicação, métodos de coerção indireta, etc.) acontece na execução provisória. É uma execução que não pode ser revertida, os atos da execução em si não podem ser desfeitos, o que pode se desfazer são os resultados dos atos da execução. 1. Razão de ser do instituto. - É autorizada a propositura de execução provisória em face da interposição de recurso desprovido de efeito suspensivo. - A execução provisória permite que o vencedor (credor) efetive uma decisão que lhe foi favorável, ainda que tenha sido impugnada por recurso. Justifica-se como forma de compensá-lo pelo fato de o vencido (devedor) ter recorrido. Além disso, desestimula a interposição de recursos meramente protelatórios, no intuito de postergar indefinidamente o início da atividade executiva; sem o efeito suspensivo, o recurso não impede a realização de atividade executiva. 2. Execução definitiva e execução provisória. A execução de título extrajudicial é definitiva, como preceitua o enunciado n. 317 da súmula do STJ, com seguinte redação: "É definitiva a execução de título extrajudicial, ainda que pendente apelação contra sentença que julgue improcedentes os embargos". Já a execução de título judicial pode ser definitiva ou provisória. O art. 520 utiliza o termo "sentença" no sentido amplo de decisão judicial. Afinal, podem ser executados provisória ou definitivamente acórdãos, decisões interlocutórias ou até decisões de relator. Para que dê ensejo à execução provisória, o recurso pode estar pendente contra a decisão: i) que certifique um direito a uma prestação (condenatória ou meramente declaratória); ii) proferida em liquidação da decisão que certifica direito a uma prestação; iii) ou meramente homologatória de acordo judicial ou extrajudicial. Não há que falar-se em execução provisória de sentença penal condenatória (não transitada em julgado), de sentença arbitral, de sentença estrangeira, homologada pelo STJ. Existe a distinção pelo fato do grau de instabilidade tal, que o sistema que não comporta disponibilizar uma execução livre, como na execução penal. 2.1. De título executivo judicial (art. 520 + 297, p. 1º). ‘’Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime: I – corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II – fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos; III – se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução; IV – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. § 1º No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá apresentar impugnação, se quiser, nos termos do art. 525. § 2º A multa e os honorários a que se refere o § 1º do art. 523 são devidos no cumprimento provisório de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa. § 3º Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade de isentar-se da multa, o ato não será havido como incompatível com o recurso por ele interposto. § 4º A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado. RESUMO DE PROCESSO CIVIL ELABORADO POR BEATRIZ ARAUJO COM BASE NA DOUTRINA E AULAS § 5º Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de dar coisa aplica-se, no que couber, o disposto neste Capítulo.’’ Obs1: Título provisório é um título que não foi alcançado pela coisa julgada material. O grau de estabilidade é menor que o título definitivo. Todos os títulos são instáveis e estáveis. Obs2: Nos títulos provisórios existe uma programação para a sua substituição. Obs3: São títulos provisórios: a sentença com apelação pendente; decisão interlocutória com agravo pendente; a decisão interlocutória sem agravo pendente, mas com sentença confirmatória ou denegatória pendente, acordão com RE ou REsp pendente e etc. Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela provisória. Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas referentes ao cumprimento provisório da sentença, no que couber. 3. Regime jurídico da execução provisória. A execução provisória desenvolve-se da mesma forma que a execução definitiva. 3.1. Requerimento. a) Exige-se requerimento do credor em razão do risco de reversão da decisão em que se suporta a execução. A execução provisória sempre depende de requerimento do credor, é uma escolha deste. Art. 520, inc. I I - corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; Primeiro, cabe ao credor avaliar se a execução tem chances razoáveis de êxito - analisando, sobretudo, se existem bens penhoráveis; segundo, é prudente que considere as possibilidades de provimento do recurso pendente e a consequente anulação ou reforma do título; terceiro, deve o exeqüente ponderar que, se acaso seja extinta a execução, responderá objetivamente pelos danos causados ao devedor. b) Instrução do requerimento. Art. 522. O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo competente. Parágrafo único. Não sendo eletrônicos os autos, a petição será acompanhada de cópias das seguintes peças do processo, cuja autenticidade poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal: I - decisão exequenda; II - certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo; III - procurações outorgadas pelas partes; IV - decisão de habilitação, se for o caso; V - facultativamente, outras peças processuais consideradas necessárias para demonstrar a existência do crédito. Essas cópias não precisam ser autenticadas pelo escrivão ou tabelião. É suficiente que o advogado do credor as declare autênticas sob sua responsabilidade pessoal 3.2. Forma. a) Regra geral: autos apartados. Se desenvolve paralelamente ao processo de conhecimento que resultou na prolação da decisão exequenda - que ainda está sujeita à revisão, em grau de recurso (nos autos principais). Exceção: É o caso da execução de tutela antecipada. b) Obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa certa. Vai acontecer nos mesmos autos. RESUMO DE PROCESSO CIVIL ELABORADO POR BEATRIZ ARAUJO COM BASE NA DOUTRINA E AULAS Só existe regulação para pagamento de quantia, logo se adapta as regras para a obrigação de fazer, não fazer e entregar coisa certa. Se o juiz movimentar de oficio a execução, com ele ficaria a responsabilidade. O requerimento pode ser feito na petição inicial, diferente do pagamento de quantia que o requerimentosó é feito depois que a decisão que concedeu o crédito é dada. Ex: Pedido de obrigação de fazer sob pena de medidas coercitivas. 3.3. Efeitos da não confirmação do título. a) Retorno ao status quo ante. Retornar ao estado anterior à execução provisória. b) Liquidação de prejuízos sofridos pelo executado nos mesmos autos. Liquidados os danos, o valor resultante deverá ser cobrado nos mesmos autos, pelo procedimento incidental de execução da sentença que mais bem se adapte às circunstâncias - Caso seja o título, em grau de recurso, anulado ou reformado integralmente, a execução será extinta. - Caso seja anulado ou reformado parcialmente o título, a execução ficará, nesta parte, sem efeito - conforme o art. 520, III, sem correspondente no regime anterior, aplicando-se as disposições citadas. Na parte restante, continuará válida e eficaz, passando a transcorrer em definitivo, em virtude do trânsito em julgado. 3.4. Efeito da confirmação do título: a conversão da execução provisória em execução definitiva. Mantido o título, em grau de recurso, por decisão transitada em julgado, a execução provisória converte-se, de imediato, em execução definitiva. Operado o trânsito em julgado, a execução, que era provisória, transforma-se, automaticamente, em definitiva. Diante da superveniência do trânsito em julgado, não deve o credor ajuizar outra execução, de forma que passem a existir, simultaneamente, uma provisória e outra definitiva. Se isso ocorrer, haverá litispendência, devendo a segunda ser extinta. A execução provisória, com o trânsito em julgado do título judicial, transforma-se, automaticamente, em execução definitiva, não sendo necessário qualquer outro ajuizamento da execução. 3.5. Responsabilidade objetiva. O credor-exeqüente responderá, objetivamente, pelos prejuízos causados ao executado, se porventura o seu título for cassado ou alterado. Não interessa se este estava de boa-fé ou tinha certeza do resultado. - Garantia de reversibilidade e na atribuição de responsabilidade objetiva ao exeqüente, em razão da prática de atos executivos que ao final se mostrem indevidos. Art. 520, inc. I I - corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II - fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos; III - se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução; A forma de ressarcimento do devedor depende do tipo de prestação efetivada: a) Prestação de pagar quantia: devolução dos bens (caso tenham sido adjudicados pelo credor) e valores expropriados na execução, juntamente com o pagamento de uma indenização pelos prejuízos sofridos - em razão do período em que foi privado da fruição do bem ou com danos causados à coisa restituída. Se acaso os bens expropriados já tenham sido transferidos para terceiros, cabe ao credor indenizar o devedor pela perda do bem. b) Prestação de entregar coisa: restituição da coisa e com uma recompensa pecuniária por eventuais danos a ela causados. Caso já tenha sido transferida para terceiros (de forma legítima), restituir-se-á o valor pecuniário equivalente, sendo devida, ainda, uma indenização pelo período em que o credor não pode dela fruir. Em caso de imposição e pagamento de multa (medida coercitiva), seu valor deverá ser devolvido. RESUMO DE PROCESSO CIVIL ELABORADO POR BEATRIZ ARAUJO COM BASE NA DOUTRINA E AULAS c) Prestação de fazer: a parte responsável deve desfazer a prestação positiva por sua conta e risco, sempre que possível, retornando ao status quo ante, bem como pagar uma indenização por danos sofridos - como, por exemplo, pelos gastos com equipamento, material, contratação de pessoal. Caso não seja possível o retorno ao estado anterior, deverá reembolsar o devedor pelo equivalente pecuniário. Em caso de imposição e pagamento de multa (medida coercitiva), seu valor deverá ser devolvido. d) Prestação de não fazer: deve-se, na medida elo possível, eliminar os efeitos da conduta negativa do devedor, recompensando-o pecuniariamente por prejuízos experimentados. Em caso de imposição e pagamento de multa (medida coercitiva), seu valor deverá ser devolvido. Em qualquer dos casos, nada impede que se imponha ao credor o pagamento de uma indenização por danos morais eventualmente suportados pelo devedor, caso a execução tenha sido ruidosa a ponto de lhe lesar a honra. 3.6. A contracautela: exigência de caução ao exeqüente. "A caução constitui um legítimo instrumento de contrapeso, que tem o escopo de assegurar a responsabilidade patrimonial do causador do dano, dai ser destinada a funcionar como cautela contra o perigo derivante da execução provisória de um provimento judicial". É relevante pontuar que a própria execução provisória tem por fim acautelar o perigo resultante da demora inerente à obtenção de uma decisão definitiva transitada em julgado. Daí afirmar-se que a caução seria uma cautela da cautela ou uma contracautela. Exige-se, a título de contracautela, a prestação de uma caução pelo credor, para que possa: (a) levantar depósito em dinheiro, (b) praticar atos que importem alienação de propriedade (expropriação de seu patrimônio) ou (e) praticar atos cios quais possam resultar grave dano ao executado (CPC, 520, IV), como, por exemplo, a demolição de obras de grande envergadura ou a interdição de atividade econômica etc. Perceba que a caução, desde a reforma de 2002 (Lei n. 1 0.444/2002), não é exigida para a instauração da execução provisória, mas apenas para a prática de um desses atos. A caução, sempre suficiente e idônea, deverá ser fixada pelo juiz e prestada nos próprios autos da execução provisória. Poderá ser real (ex.: penhor, hipoteca, anticrese etc.) ou fidejussória (ex.: fiança, cessão de créditos ou direitos etc.). A exigência da caução, no entanto, é afastada (salvo quando a sua dispensa resultar manifesto risco de grave dano e de difícil ou incerta reparação) quando: (a) o crédito executado for de natureza alimentar, seja qual for a sua origem – v.g. parentesco, reparação por dano decorrente de ato ilícito, etc., (b) o credor demonstrar situação de necessidade, (c) houver agravo em recursos especial ou extraordinário pendente de julgamento e, (d) se a sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula de jurisprudência do STF ou STJ ou em conformidade com acordo proferido no julgamento de casos repetitivos. Para afastar a incidência de multa o executado poderá, no prazo de quinze dias, depositar o valor executado, sendo que este ato não será considerado como incompatível como recurso anteriormente interposto. Art. 521. A caução prevista no inciso IV do art. 520 poderá ser dispensada nos casos em que: I - o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem; II - o credor demonstrar situação de necessidade; III - pender o agravo fundado nos incisos II e III do art. 1.042; IV - a sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou em conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos. OBS. O caso em que o exeqüente não possui meios para prestar caução. Ex: beneficiário da gratuidade da justiça. Impedir que o credor "necessitado" tenha acesso a uma execução provisória efetiva, apta a lhe entregar o bem da vida devido, vai de encontro com os ditames constitucionais mais elementares (CF/88, art. 5°, XXXV e LIV, CF/88). Na verdade, não é pela simples circunstância de ostentar hipossuficiênciaeconômica ou financeira que o credor estará, na execução provisória, liberado de prestar caução. Afastar a exigência de caução apenas porque não há condições financeiras do credor, seria adotar medidas assistencialistas ou paternalistas em seu favor, com dinheiro do devedor, RESUMO DE PROCESSO CIVIL ELABORADO POR BEATRIZ ARAUJO COM BASE NA DOUTRINA E AULAS onerando-o com risco de prejuízo irreparável. É necessário, desse modo, aplicar, aqui, o postulado da proporcionalidade, verificando-se as chances de provável êxito ou não do recurso para, então, exigir ou dispensar a caução. Assim, cabe ao magistrado, à luz do postulado da proporcionalidade, ponderar os interesses em jogo: de um lado, o direito do credor a uma tutela efetiva (considerando suas chances de êxito final), ao acesso à justiça e ao devido processo legal; de outro, o direito do devedor à preservação de seu patrimônio material e à segurança jurídica. Só então, poderá decidir se dispensa ou não a caução. Dará, com isso, uma interpretação teleológica ao art. 520, IV, atentando para sua finalidade real.
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