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RAÍZES URBANAS DAS CRISES CAPITALISTAS (1)

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RAÍZES URBANAS DAS CRISES CAPITALISTAS1 
 
Profª. Dra. Magda Valéria da Silva 
 
 
Introdução 
 
Compreender que as crises que acometem o sistema capitalista tem origem 
nas cidades é uma questão não muito fácil do ponto de vista de sua digressão 
histórico-geográfica. Se as causas são urbanas e estão presentes nas cidades, isso 
significa que os equipamentos e empreendimentos abrigados nas cidades, assim 
como a população urbana são os primeiros a sentir e vivenciar os impactos iniciais 
dessas crises. 
O recorte temporal para algumas ponderações são as crises ocorridas são o 
século XX e o século XXI e o recorte espacial apontará especialmente para os 
impactos destas sobre o Brasil. 
 
As crises do sistema capitalista no século XX e XXI 
 
Para tanto, é importante dizer que o sistema capitalista baseia-se na 
maximização dos lucros através de vários vieses como: a exploração da força de 
trabalho, representado pelo trabalho assalariado; produção de mercadorias colocadas 
para o mercado de consumo. O capitalismo está presente em todos os interstícios da 
vida econômica, social e cultural, está no cotidiano da humanidade. 
Para Harvey (2011, p. 37) 
 
Se as crises são momentos de reconfiguração radical do desenvolvimento 
capitalista, então o fato de os Estados Unidos terem de financiar por meio 
de déficit sua saída das dificuldades financeiras em uma escala tão grande 
e de os déficits serem em grande parte cobertos por países com 
excedentes poupados [...] sugerem que esta pode ser a ocasião para tal 
mudança. 
 
 
1 Texto preparado para o Concurso Público da Carreira do Magistério Superior da Universidade 
Federal de Goiás, área Geografia Humana, conforme Edital de abertura de Concurs Públioc nº 
84/2013 
A questão das crises reside principalmente no endividamento de alguns 
países, que em muitos casos ficam dependente de empréstimos oriundos do FMI 
(Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial. 
Ainda para David Harvey (2011) na obra “O enigma do capital” as crises do 
sistema capitalista inicia-se em um setor da economia, mas migra para outro, ou seja, 
o sistema está em uma crise constante e crônica, porém algumas ganham notoriedade 
mundial devido à capacidade que tem em impactar e economia mundial. 
Sobre as crises enfrentadas pelo sistema capitalista, algumas tiveram maior 
impacto na vida da população, pois envolveram aspectos políticos, econômicos e 
sociais, dentre elas destacam-se: 
 
A crise de 1920 - CRASH 
 
Iniciada no mês de outubro de 1929 é marcada pelo fato de as ações de Wall 
Street começaram a acumular sucessivas e violentas quedas. 
Esse processo perdurou até 1932 e as ações de Wall Street no mercado 
americano perderam 90% de seu valor e um terço da população estava 
desempregada. Foi a maior crise financeira da história dos EUA e até hoje 
economistas teorizam a respeito das reais causas da quebra da bolsa. O maior efeito 
sobre o Brasil foi a queda do preço do café, então um dos principais produtos de 
exportação do País. 
Nesse momento, a indústria estava passando por um processo de 
reorganização no sistema de produção, passando a adotar o fordismo como base para 
a produção em massa. Essa possibilidade elevou a produção e o consumo, porém 
contribuiu para que aumentasse a precarização no trabalho, em que o trabalhador 
executa uma função específica junto à linha de produção (esteira). O sistema fordista 
de produção inicia-se na indústria automotiva nos Estados Unidos, mas estende para 
os demais setores da economia e em escala mundial. 
No Brasil os reflexos foram desastrosos, a principal fonte da economia 
nacional advinha da exportação de café para os USA, o principal comprador. Os 
cafeicultores aumentaram a produção acreditando no potencial do mercado 
consumidor, que em virtude da crise de 1929, deixou de comprar parte dessa 
produção, promovendo a falência de muitos cafeicultores, com nefastos impactos 
sobre a economia nacional, promovendo o desemprego de milhares de trabalhadores 
rurais, estagnando o comércio e o setor de serviços locais, que consequentemente 
enfrentaram um influxo na sua economia. 
Desde então o sistema capitalista está em constante transformação que 
redundaram em mudanças no processo de produção e consumo, com a proeminência 
do modo de produção fordista, a indústria cresce significativamente nos Estados 
Unidos e Europa. 
A tecnologia é aplicada a indústria com o objetivo de aprimorar a produção 
industrial, apesar de a indústria eletrônica tenha iniciado seu desenvolvimento entre a 
década de 1940 e 1960, por intermédio do financiamento militar e dos mercados. A 
constituição deste desenvolvimento relaciona-se ao progresso tecnológico e à cultura 
da liberdade, da inovação individual e iniciativa empreendedora oriunda da cultura 
dos campi norte-americanos de 1960. 
Os Trintas Gloriosos (1945-1973), conhecido como um período em que as 
políticas econômicas e os avanços na estrutura produtiva (fordismo/taylorismo) 
contribuíram para um avanço significativo no processo de acumulação capitalista. 
Esse padrão de acumulação fordista/taylorisa racionalizou a produção, a exploração 
sobre o trabalho somado ao incremento de novas técnicas aumentou a extração da 
mais-valia fez aumentar os lucros. Nesse período houve um salto quantitativo, 
principalmente na Inglaterra, Alemanha e França, além de os EUA. O resultado dessa 
reestruturação produtiva ficou conhecida na forma do welfare state. 
No entanto, a partir dos anos de 1960 se revelam fragilizados diante da 
acumulação capitalista, perca da eficácia do modo de “regulação” fordista, entrando 
em crise. Para tanto, adotam-se estratégias de “saída” do fordismo e tendência à 
experimentação flexível do trabalho, e ainda do processo de robotização do sistema 
produtivo. Entretanto, essas estratégias capitalistas de racionalização/flexibilização 
remodelam a totalidade das práticas de socialização fordistas. 
Ainda diante desse desenvolvimento tecnológico é importante dizer que a 
ênfase nos dispositivos personalizados, na interatividade, na formação de redes e na 
busca de novas descobertas tecnológicas, não combinavam com a tradição cautelosa 
e rígida do mundo corporativo fordista. 
Os impactos da crise fordista e a chegada a reestruturação capitalista 
associada a flexibilidade do trabalho promove impactos nefastos sobre o consumo, o 
trabalho e o cotidiano da população. As cidades aderem em seu cotidiano 
paulatinamente as essas questões, seja no consumo de bens duráveis e bens não 
duráveis. O mercado por meio do marketing induz ao consumo de produtos 
personalizados, por sua vez, aumenta a produção, e quem ganha com isso são os 
grupos industriais e inclusive os financeiros, mas o processo de 
automação/robotização da produção promove o desemprego. 
A década de 1970, além de ser um marco no desenvolvimento tecnológico 
(Paradigma Tecnológico – Vale do Silício-USA), devido aos investimentos em 
tecnologia da informação especialmente pelo Estado (DARPA) que logo em seguida 
passam a ser utilizadas pelas empresas, com o fim de elevar a produção, aumentar a 
eficiência no sistema de comunicação e na circulação de bens industrializados ou de 
serviços, de forma a permitir um maior alcance escalar de atuação destas empresas. 
Essa revolução tecnológica originou-se e difundiu-se, em um período 
histórico de reestruturação global do capitalismo, para qual foi ferramenta 
fundamental. Portanto, a nova sociedade emergente dessa transformação capitalista e 
informacional apresenta variações históricas, culturais, institucionais e relações 
específicas, conformeo país de origem, porém associa-se ao capitalismo global e a 
tecnologia informacional. 
Juntamente com toda essa conquista tecnológica que é posta a serviço do 
capital mesmo diante de uma reestruturação produtiva do capitalismo, o sistema 
ainda continua a enfrentar crises. Outra crise de forte impacto mundial foi à crise do 
petróleo. 
 
A Crise do Petróleo 
 
A crise foi desencadeada num contexto de déficit de oferta de petróleo, com o 
início do processo de nacionalizações e de uma série de conflitos envolvendo os 
produtores árabes da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), 
como a Guerra dos Seis Dias (1967), a Guerra do Yom Kippur (1973), a Revolução 
Islâmica no Irã (1979) e a Guerra Irã-Iraque (a partir de 1980). 
Mas o estopim foi a Guerra do Yom Kippur, pois a OPEP decidiu cancelar a 
exportação de petróleo para países que apoiaram Israel no conflito com o Egito e a 
Síria. A OPEP é formada pelos principais países produtores de petróleo do mundo 
(Iraque, Irã, Kuwait, Venezuela, Equador, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Angola, 
Argélia etc.). 
Como resultado dessa guerra, os preços do produto disparam e atingem a casa 
dos US$ 12 em 1974, quatro vezes maior do que no ano anterior, o que provocou 
prolongada recessão nos Estados Unidos e na Europa e desestabilizou a economia 
mundial. 
Em meio à Revolução Islâmica Iraniana (1979), Ayatollah Khomeini assume 
o poder do país e passa a controlar a produção de petróleo, causando uma segunda 
disparada nos preços do produto, potencializada pelos temores de racionamento 
energético nos EUA. O valor do barril chegou perto dos US$ 40, o pico da década. 
No Brasil, houve aumento no custo dos combustíveis e racionamento. A dívida do 
país inchou com os crescentes custos da importação do petróleo, além disso, o 
aumento dos juros nos EUA contribuiu para elevar ainda mais a dívida. 
Para o Brasil, o efeito mais notável foi à desaceleração do crescimento 
econômico iniciado com o chamado 'milagre econômico' período de 1969 a 1973, em 
que o Brasil teve um crescimento do PIB entre 7% e 13% ao ano; Melhorais 
significativas na infraestrutura do país; Aumento do nível de emprego 
proporcionado, principalmente, pelos investimentos nos setores de infraestrutura e 
indústria. Significativo desenvolvimento industrial, alavancado pelos investimentos 
nos setores de siderurgia, geração de eletricidade e indústria petroquímica. O setor 
foi puxado, principalmente, pelo crescimento e fortalecimento das empresas estatais. 
Em contrapartida, o país enfrentava uma inflação elevada, que ficou entre 
15% e 20% ao ano; aumento da dívida externa, cujo desenvolvimento econômico foi 
bancado, principalmente, com empréstimos no exterior. Esta dívida prejudicou o 
desenvolvimento do Brasil nos anos futuros, pois criou uma dependência com 
relação aos credores e ao FMI (Fundo Monetário Internacional), além de 
comprometer uma significativa fatia do orçamento para pagamento de juros da 
dívida; e embora a economia tenha crescido consideravelmente, não houve 
distribuição de renda e, portanto, aumentou ainda mais as desigualdades sociais no 
país com o aumento da concentração de renda nas mãos dos mais ricos. 
 
Moratória Mexicana em 1982 
 
O México atola-se em uma crise que culmina com a surpreendente moratória 
do governo mexicano em agosto de 1982. No entanto, é importante dizer que essa 
crise se inicia em meados de 1970 em Nova York a partir de uma crise fiscal, e 
estendeu-se internacionalmente. 
Mais de 40 países recorreram ao FMI, incluindo o Brasil, que viu a retração 
de seu PIB em 5% e a inflação ultrapassar os 200%. Em 19 de outubro de 1987, o 
índice Down Jones sofre uma queda histórica em um único dia: 22,6%. A 
combinação de temores com os empréstimos bancários, a desaceleração da economia 
e a desvalorização da moeda americana injetou pânico nos mercados americanos e o 
temor se alastrou pela Europa e pelo Japão. 
O México viu o padrão de vida de vida de sua população diminuir de um 
quarto em quatro anos após o socorro econômico de 1982 e ameaçou ir a falência. A 
ideia do Estado era proteger as instituições financeiras da crise a todo custo para 
tanto a política era: privatizar os lucros e socializar os riscos; salvar os bancos e 
colocar os sacrifícios nas pessoas. O Resultado ficou conhecido como “risco moral” 
sistêmico, e o socorro bancário foi concedido para os países em crise pelos Estados 
Unidos, especialmente ao FMI-Fundo Monetário Internacional. (HARVEY, 2011, p. 
16). 
Nessa crise, o Brasil quebrou novamente, suspendendo o pagamento da 
dívida. Na ocasião, o FED (Federal Reserve System) e outros BCs do mundo 
rapidamente intervieram, baixando taxas de juros. Na prática, foi à primeira crise que 
demonstrou o potencial de rápido contágio do pânico num mercado financeiro 
globalizado. 
Na década de 1980, no Brasil houve tentativas de combate à inflação, redução 
de investimentos estatais em áreas prioritárias, redução do investimento industrial, 
desemprego, uma recessão de ordem econômica nacional, aumento da dívida externa, 
redução no PIB, portanto, este período ficou conhecido como a “década perdida”. 
Nos Estados Unidos essa crise é emblemática, pois os anos de 1980 é 
marcado por um endividamento do trabalhador, ele gasta mais do que ganha, e isso 
abre brechas para que o sistema financeiro de cartões de crédito entre nesse nicho, 
ofertando a possibilidades de transações em crédito. Em 1980 a dívida agregada 
familiar média era em torno de 40 mil dólares, já na primeira década do século XXI é 
de 130 mil. (HARVEY, 2011). 
 
Crise da Ásia 
 
De 1997 a 1998, a crise financeira do Leste e Sudeste Asiático viu um fluxo 
de riqueza voltar de forma breve, mas forte, a Wall Street e bancos europeus e 
japoneses. Em um rápido processo de fuga de capitais e desvalorização cambial 
entre os chamados Tigres Asiáticos - Tailândia, Malásia, Coréia do Sul, Hong Kong, 
Indonésia e Filipinas - espalha medo nos mercados internacionais, em grande parte 
pela surpresa de ver mercados supostamente sólidos e confiáveis sucumbirem a uma 
crise financeira. 
Países como a Tailândia adquiriu uma enorme dívida externa que acabou por 
deixar o país falido logo após esse colapso monetário. A drástica redução das 
importações resultante da desvalorização tornou a reabilitação das reservas cambiais 
impossíveis a longo e médio prazo sem uma audaciosa intervenção internacional. 
Após o agravamento da situação, a crise se espalhou para o Sudeste Asiático e 
o Japão, afundando cotações monetárias, desvalorizando mercados de ações, e 
precipitando a dívida privada. 
O que parecia ser uma crise regional com o tempo se converteu-se em uma 
crise mundial. O mercado dos países emergentes foi afetado pela primeira vez, mas o 
Brasil conseguiu passar. 
 
Crise da Rússia 
 
Com a crise asiática, o preço d commodities caiu em todo mundo e a Rússia, 
cuja economia depende largamente da exportação de commodities como gás natural e 
petróleo, declarou calote de sua dívida externa privada de curto prazo. A manobra 
acendeu a luz de alerta entre os investidores, que passaram a evitar mercados 
emergentes. Após ter passado quase sem sentir os efeitos da crise da Ásia, o Brasil 
foi afetado, enfrentando forte fuga de dólares. O governo reagiu elevando a taxa de 
juros, que chegou ao pico de 45% no início de 1999, e desvalorizando o Real, que até 
então mantinha a paridade com o dólar. 
 
Setembro de 2001: as consequências econômicas do terrorismo 
 
Os ataques terroristas cometidos contra as torres do World Trade Center, em 
Nova York, e contra o Pentágono, em Washington, no dia 11 de setembro de2011, 
encontraram a economia americana já tecnicamente em situação de recessão. As 
consequências imediatas dos ataques foram o fechamento dos mercados financeiros, 
de valores e de futuros operando a partir de Wall Street, a interrupção das bolsas de 
mercadorias de Nova York e de Chicago e, pela primeira vez em mais de setenta 
anos de aviação comercial, a suspensão das operações em todos os aeroportos dos 
EUA. As consequências econômicas mais graves apontavam para o recrudescimento 
das tendências recessivas da economia dos EUA e para uma retração geral nos 
mercados financeiros, agregando dramaticidade ao quadro de desaceleração já 
experimentado na Europa e de virtual estagnação da economia do Japão. (Paulo 
Roberto de ALMEIDA, 2001, p. 104-105). 
O cenário da depressão dos anos trinta despontou no horizonte. Na abertura 
dos mercados, com uma queda dos valores negociados estimada em 14%, Wall Street 
viveu a sua pior semana em 68 anos, desde julho de 1933, quando os valores também 
tinham caído em níveis assustadores. Relativamente ao pico alcançado em março de 
2000, o índice Dow Jones declinou cerca de 30%, ao passo que o índice Nasdaq 
(com ênfase na chamada ‘nova economia’) caiu 72%. Os empregos perdidos se 
situavam na faixa de dezenas de milhares, sobretudo, nas empresas de aviação, de 
turismo, aeroespaciais), com um aumento previsto na taxa de desemprego de 4,9% 
(agosto de 2001) para perto de 7% no primeiro trimestre de 2002. Consciente do 
desafio enfrentado, o governo conservador do presidente George Bush decidiu 
colocar de lado suas conhecidas restrições ideológicas à intervenção do Estado na 
economia em troca de um pacote de medidas de inspiração keynesianos, que se 
aproximava de um estímulo financeiro estimado em 100 bilhões de dólares. (Paulo 
Roberto de ALMEIDA, 2001, p. 105). 
Os atentados de setembro de 2001 não resultaram em uma crise financeira 
como as demais analisadas, mas representaram um declínio temporário dos 
mercados, tendência agravada pela ruptura súbita das praças financeiras de Nova 
York e pelo aprofundamento da crise setorial em certas indústrias e serviços. As 
tendências recessivas nas economias globais provocam efeitos nefastos nas 
economias emergentes, em proporção de sua dependência direta desses mercados. 
Países como o México (80% das exportações para os EUA) ou a Venezuela são mais 
suscetíveis de sentir o impacto da recessão, ao passo que para o Brasil, a Argentina 
ou a Turquia as consequências são de ordem financeira, dada a fragilidade externa. 
(Paulo Roberto de ALMEIDA, 2001, p. 105). 
Os mercados financeiros devem passar por mudanças, com a venda de ativos 
e o desvio, por parte dos fundos de pensão e investidores institucionais, para papéis 
de menor risco, como os títulos do Tesouro americano. Nesse sentido, as 
perspectivas para o Brasil apareciam como bastante negativas nas semanas seguintes 
aos atentados, uma vez que não apenas diminuiriam os fluxos de investimento direto 
para as economias emergentes, como se tornariam mais difíceis, e mais caras, as 
opções nos mercados de títulos e de emissões soberanas. A volatilidade dos 
mercados financeiros se acrescentaria, pois, à diminuição das perspectivas de 
crescimento econômico nessas economias (agravada, no caso brasileiro, pela crise 
energética), com um possível aumento dos índices de ‘risco-país’ e das 
possibilidades de inadimplência temporária, em vista do nível anormalmente elevado 
das obrigações externas, em termos de juros, lucros e amortizações. (Paulo Roberto 
de ALMEIDA, 2001, p. 105). 
 
 
Crise Imobiliária em 2008 
 
A crise que afeta o mercado financeiro nos EUA e arrasta os negócios no 
mundo todo, teve origem nas hipotecas americanas. A situação se resume segundo 
Harvey (2011, p. 9) da seguinte forma: houve um incentivo ao processo de 
suburbanização (incentivo a construção das casas e aquisição de bens e utensílios) 
que vem acontecendo desde a Segunda Guerra Mundial, houve um incentivo do 
governo americano, portanto, se antes da guerra construíam de 300 a 500 mil 
unidades habitacionais por ano, pós esse período o índice ultrapassava 1 milhão. Esse 
processo é incrementado com o consumo de bens de produção duráveis e não 
duráveis. Portanto, o USA é urbanizado dessa forma, através do incentivo a compra 
da casa própria, principalmente para pessoas de média e baixa renda. Algo que 
precisa ser reforçado é que para a construção dessas unidades habitacionais houve a 
liberação de financiamentos, e muitas foram construídas por grandes corporações 
imobiliárias, que as financiavam. 
As incorporadoras ao venderem essas unidades a população, este também a 
financiava, pois não possuía crédito suficiente para comprar a vista, ai entra a 
intervenção do Estado e do sistema financeiro ao oferecer facilidades no 
financiamento e juros baixos ao comprador (morador). 
Com o decorrer do tempo, com o achatamento dos salários, esses mesmos 
proprietários passaram a refinanciar seus imóveis, ou seja, se ela valia 200 mil 
dólares, dois anos depois, valeria 300 mil, então as refinanciava por 300 mil dólares, 
e ficava com 100 mil para consumo diversos, assim, as casas ficavam hipotecadas 
pelo sistema financeiro, ou seja, elas não eram das pessoas e sim dos bancos. Essa 
uma situação ficou num certo momento insustentável. E foi justamente entre 
2006/2007 que observou-se que 2/3 das hipotecas foram refinanciadas, ou seja, além 
de dever a casa os proprietários, deviam os 100 mil a mais. 
Vale dizer, que tudo isso aconteceu por que houve um achatamento salarial, o 
poder de compra do norte-americano diminui para o seu estilo de vida, os juros 
subiram, a economia desaqueceu e a inadimplência aumentou. E os bancos que 
emprestaram dinheiro começaram a mostrar o rombo. Além disso, o preço dos 
imóveis caiu, e as prestações eram altas e com o valor do bem menor, os norte-
americanos reduziram o consumo, dessa forma, o efeito é cascata e inicia-se no 
processo de urbanização. 
A questão sai da responsabilidade da população e passa para o sistema 
financeiro, pois a população estava deixando de pagar as prestações, e o rombo no 
sistema apareceu, enfim, muitas instituições bancárias pediram falência e o Estado 
intervém comprando parte dessas dívidas, oferecendo ajudas aos bancos, mas como a 
economia americana já estava em recessão, a coisa se avoluma. 
Parte dessas instituições bancárias era de capital europeu, portanto, a crise 
atinge a Europa também, mas é agravada, por que muitos bancos compraram essas 
dividas acreditando estar fazendo um bom investimento, que na realidade não era, 
portanto, os desdobramentos são diversos. 
 
Relações das crises capitalistas com as questões urbanas 
 
O processo de urbanização, a infraestrutura das cidades, o mercado 
imobiliário, os fluxos, o comércio e serviços, a cultura urbana são condições 
presentes nas cidades urbanas e que são acirradas ou estagnadas conforme o processo 
de desenvolvimento do sistema capitalista. 
 As raízes urbanas de parte das crises capitalistas do século XX e século XXI 
tem relações diretas ou indiretas com os processos urbanos, dentre eles o processo de 
urbanização é um dos que possui uma relação mais direta. A urbanização é 
intensificada ou não, pois depende em muitos casos das modificações promovidas no 
campo pelo desenvolvimento de técnicas modernas de produção agrícola que leva ao 
homem do campo ao êxodo rural, assim como pela industrialização que atrai as 
pessoas a residirem nas áreas urbanas, e/ou até mesmo os fluxos migratórios. No 
entanto, é importante dizer que atividades como comércio e serviços também 
contribuem para a intensificação do processo de urbanização.Observa-se que o desenvolvimento capitalista traz uma nova dinâmica para as 
cidades, e a aqueles que possuem condições de receber infraestruturas sofrem 
modificações maiores e trazem as desigualdades sociais capitalistas materializadas 
em sua paisagem urbana. 
Na formação da paisagem urbana citadina, o setor imobiliário desempenha 
papel relevante, pois o capital imobiliário atua modificando essa paisagem, que em 
muitos casos está associado aos promotores imobiliários que atuam promovendo a 
especulação imobiliária, as instituições financeiras também são importantes, pois elas 
promovem o financiamento da casa própria e isso leva a uma maior circulação de 
capitais e transações financeiras para estas instituições. 
Para David Harvey existe sim uma relação entre urbanização e formação da 
crise. Para o geógrafo, “nas décadas de 1950 e 1960, o capitalismo se estabilizou 
com uma forma de suburbanização massiva: estradas, automóveis, um estilo de 
vida”. Condição que ela acredita que não seja sustentável ao longo prazo, e cita o 
exemplo norte-americano: “No sul da Califórnia e na Flórida, que são epicentros da 
crise, estamos vendo que este modelo de suburbanização não serve mais. Alguns 
querem falar da crise do subprime; eu quero falar das crises urbanas”. 
O autor acredita que as crises capitalistas existentes a partir da década de 
1950 possuem raízes e origem nas cidades. Nesse caso as cidades devem ser 
consideradas como um palco de conflito de interesses antagônicos entre capitalistas e 
trabalhadores. É justamente desse desajuste econômicos, devido às crassas 
disparidades sociais existentes entre as classes sociais é que as crises tem base para 
se desenvolverem. De um lado, tem-se os capitalistas com ânsia de exploração, de 
outros os trabalhadores que não tem a dar para ser explorado, com exceção de sua 
força de trabalho e a remuneração de sua venda. 
As crises do petróleo, dos países asiáticos, do México, da Rússia e a de 2008, 
possuem base inicial nas cidades, especialmente em seu mercado imobiliário, que em 
geral é financiado pelo sistema financeiro, e que devido a inadimplência leva as 
instituições bancários a falência e o Estado busca alternativas para ajudar o sistema 
financeiro e o desdobramento ocorre também em outros setores da economia, 
inclusive com desdobramentos mundiais, pois em geral o sistema é mundializado, ou 
seja, são grupos financeiros internacionais. Nota-se que a crise não é estática, ela 
move de um setor para outro e nesse processo ela ultrapassa as fronteiras do país de 
origem e torna-se mundial, global. 
Se a crise tem gênese no setor produtivo e industrial também afetar as 
cidades, pois é nesta que ocorrem o consumo da maior porte dos produtos 
industrializados, que são consumidos pela população. Se diminuir a produção, o 
consumo continua estável, isso levara a falta de produtos no mercado, que eleva seu 
preço no mercado, inclusive com reflexos que podem gerar índices inflacionários. É 
uma questão da lei de oferta e procura. 
David Harvey (2011)2 afirma que: 
 
Na década de 80 se pensava que o Japão era uma potência e essa crença 
sucumbiu nos anos 90 pela crise dos preços da terra. Desde então, não se 
recuperou mais. Também existe uma preocupação nos Estados Unidos de 
que a crise imobiliária impeça a recuperação, apesar de todas as tentativas 
que vêm sendo feitas para isso. Outra questão é que a forma de uso 
intensivo da energia exigiria muitas extensões de terra, o que criaria um 
estilo de vida de lugares dispersos. Isso está estabelecendo, justamente, 
um novo tipo de urbanização. O que chama a atenção é que a China está 
copiando os EUA, o que é muito estúpido. Isso não é sustentável sob a 
situação de crise ambiental. Existe uma alta conexão entre 
desenvolvimento capitalista, crise capitalista e urbanização. 
 
Harvey (2011) afirma ainda que a transformação do mercado imobiliário influiu 
na crise da urbanização, pois: 
 
Onde as pessoas ricas colocaram seu dinheiro nos últimos 30 anos. Até os 
80, colocar dinheiro na produção dava mais dinheiro que colocá-lo no 
negócio imobiliário. A partir dali, começou-se a pensar onde colocar o 
dinheiro para obter uma taxa de retorno mais alta. Os mercados 
imobiliários e da terra são muito interessantes: se eu invisto, o preço sobe, 
como o preço sobe, mais gente investe e, então, o preço segue subindo. 
Em meados da década de 70, em Manhattan (Nova York), podia-se 
vender por 200 mil dólares um tipo de edifício que agora custa 2 milhões 
de dólares. Desde então, houve bolhas de diferentes tipos, que tem 
estourado uma a uma. Os mercados financeiros enlouqueceram nos anos 
90. Se observamos a participação dos distintos setores no Produto Interno 
Bruto dos EUA, em 1994, o mercado acionário tinha uma participação de 
50% do PIB. Em 2000, subiu para 120% e começou a cair com a crise das 
 
2 ARUGUETE, Natalia. Entrevista com David Harvey: A crise capitalista também é de urbanização. 
Tradução de Katarina Peixoto. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/-
A-crise-capitalista-tambem-e-de-urbanizacao-/7/16219#>. Acesso em: nov. 2013. 
 
empresas ponto com. Enquanto que a participação do mercado imobiliário 
no PIB começou a crescer, e passou de 90 para 130% no mesmo período. 
 
O autor afirma que a partir de 1980 os ricos passam a investir seu dinheiro no 
mercado imobiliário, devido o processo de valorização crescente dos imóveis, enfim, 
a especulação imobiliária. Nos anos de 1990 a situação se apresenta, devido o peso 
financeiro que o mercado de ações estava tendo no PIB dos USA, em 1994, foi de 
50%, muito alto, para o um setor que estava associado a um capital volátil e não 
certeiro, que é o de ações. Em 2000 a participação cresce 120% em relação o período 
anterior. 
Na Europa, a crise financeira inicia com a Grécia, em 2009 devido a uma 
dívida fiscal, com altos juros, alto gastos e baixa arrecadação, o déficit fiscal chegou 
a mais de 13% em 2009. O país resiste à ajuda financeira do FMI, tenta um sistema 
de privatização e semiprivatização de empresas estatais e redução salarial que 
compromete o consumo interno. A Grécia acredita que a situação deveria ser 
resolvida pela União Europeia – zona do euro, quem empresta 30 bilhões de euros e 
o FMI mais 15 bilhões, essas medidas demoraram a serem aceitas e o país continua 
em recessão econômica. 
A Espanha até 2007 tinha um superávit no PIB superior ao da Alemanha, 
assim como sua e uma dívida pública era inferior. No país, ocorre processo 
semelhante ao dos USA muitos imóveis habitacionais são hipotecados e passados ao 
sistema financeiro. Um acordo entre os sistemas financeiros espanhol e alemão 
envolvendo o mercado imobiliário, o setor que mais cresce economicamente nos 
últimos anos, criou-se uma ‘bolha imobiliária’ dá início a uma crise da economia 
espanhola, devido a quebra de empresas imobiliárias e na construção civil. O país 
enfrenta uma de suas maiores crises, com um alto índice de desemprego, baixo 
crescimento da economia nacional, diminuição nos salários, alta nos impostos, 
aumento da dívida interna, enfim, o sistema financeiro é atingido em cheio e o país 
que seria um dos mais promissores da Europa. 
Portanto, parte das crises capitalistas ocorridas pós a segunda guerra mundial 
estão associada a questões urbanas, tendo como foco o mercado imobiliário, e o ideal 
da casa própria, que leva a população a fazer dividas de médio longo prazo, 
comprometendo sua renda mensal, que em caso de algum problema de congelamento 
salarial, reduz o poder de compra e pagamento das pessoas, e as consequências se 
desdobramna inadimplência junto os bancos assim como na diminuição do consumo 
de bens. 
 
Referências: 
ALMEIDA, Paulo Roberto de. O Brasil e as crises financeiras internacionais, 1929-
2001. Revista Cena Internacional, Brasília, v. 3, n. 2, p. 89-114, 2001. 
 
HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo. Tradução de 
João Alexandre Peschanski. Boitempo: São Paulo, 2011. 
 
ARUGUETE, Natalia. Entrevista com David Harvey: A crise capitalista também é 
de urbanização. Tradução de Katarina Peixoto. Disponível em: 
<http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/-A-crise-capitalista-tambem-e-
de-urbanizacao-/7/16219#>. Acesso em: nov. 2013.

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