Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Emanuelle Campbell Página 1 John Locke e o “Segundo Tratado Sobre o Governo Civil” - Resumo CONTRATUALISMO X LIBERALISMO X EMPIRISMO Três movimentos dos quais Locke foi também propulsor na idade moderna: Contratualismo → prega o surgimento do Estado a partir de um contrato no qual todos homens consentiram na sobreposição de um poder estatal através do qual a ordem e a paz entre si passou a ser mantida e garantida pelo referido poder. Liberalismo → movimento que teve como “eixo principal o desenvolvimento da liberdade pessoal e do progresso da sociedade”(à medida que a realização de um contrato entre todos indivíduos, dá ensejo ao direito destes requisitarem e fiscalizarem o poder estatal). Empirismo → conhecemos através das experiências que temos, e que os olhos são a principal porta de entrada das experiências → a visão nos proporciona mais conhecimentos do que todas as outras sensações. ENSAIO ACERCA DO ENTENDIMENTO HUMANO (1690) Fala sobre as formas e os modos de conhecimento empírico, fazendo a famosa menção à “tábula rasa”, ao sustentar que nascemos sem conhecimento algum (inato). Leva à tona sua teoria da razão empírica. CARTA ACERCA DA TOLERÂNCIA (1689) Prega a liberdade religiosa e a ruptura Estado/religião para a boa gestão estatal: “Não cabe ao magistrado civil o cuidado com as almas (…) isso não lhe foi outorgado por Deus.” PENSAMENTOS SOBRE A EDUCAÇÃO (1693) Teoria empírica do conhecimento → as crianças são totalmente maleáveis: “pode-se levar, facilmente, as almas das crianças numa ou noutra direção, como a própria água.” PRIMEIRO E SEGUNDO TRATADOS SOBRE O GOVERNO CIVIL (1690) Combate a tese do cientista político sir. Robert Filmer, proposta na obra “O Patriarca, na qual defende de forma convicta o absolutismo, que segundo ele, remontava suas origens e poder em Adão e Eva. Locke em contrapartida, afirmou a origem popular e consensual dos governos: “Adão não tinha, seja por direito natural de paternidade ou por doação positiva de Deus, autoridade de qualquer natureza ou domínio sobre o mundo, […] se os tivesse, nenhum direito a eles, contudo, teriam seus herdeiros.” RESENHA CRÍTICA DO “SEGUNDO TRATADO SOBRE O GOVERNO CIVIL” Capítulo I Volta a refutar no primeiro capítulo de seu tratado, as teses do filosofo Sir Robert Filmer, defensor assíduo do Absolutismo, alicerçado em bases divinas. Adão não tinha em qualquer hipótese ou por direito, ou por doação divina, a autoridade sobre seus filhos e sobre o mundo, e se o teve, isso é impossível de se estender e determinar até a atualidade. Locke busca o reiterado entendimento da legitimidade do domínio e poder de determinados indivíduos sobre outros. Emanuelle Campbell Página 2 Poder político → “Direito de fazer leis com pena de morte e, conseqüentemente, todas as penalidades menores para regular e preservar a propriedade, e de empregar a força da comunidade na execução de tais leis e na defesa da comunidade de dano exterior; e tudo isso tão-só em prol do bem público”. (Locke, 1978, p. 34) Capítulo II – DO ESTADO DE NATUREZA Pelas premissas de Hooker, Locke nos afirma novamente a assertiva de que no estado de natureza todos são iguais e providos das mesmas faculdades, subordinados apenas a Deus → não há a possibilidade de supor-se qualquer subordinação entre os homens. Dentro da perspectiva do estado de natureza, Locke reconhece o direito de qualquer um castigar a transgressão e perturbação de sua tranqüilidade por outrem, no intuito de cessar a violação de sua paz na medida em que esta foi infringida → ligação da mencionada faculdade à lei de Talião → “todos têm direito de castigar o ofensor, tornando-se executores da lei da natureza.” Sustenta que a pena deve também focar-se no ressarcimento do dano causado, na punição e conscientização da ilicitude do ato por parte do transgressor. Critica o Absolutismo ao sustentar ser melhor viver em estado de natureza, a viver sobre o domínio de um monarca com o poder centralizado em si e que manda nos outros da maneira que melhor → “todos os homens estão naturalmente naquele estado [de natureza] e nele permanecem, até que, pelo próprio consentimento, se tornem membros de alguma sociedade política.”( LOCKE, 1978, p.39.) Capítulo III - DO ESTADO DE GUERRA Este é um estado de inimizade e destruição advindo de desentendimento de indivíduos no estado de natureza que declaram guerra entre si. A tentativa de dominação ou escravização é algo que dá ensejo ao estado de guerra → uma vez que no estado de natureza todos são livres: “aquele que tenta colocar a outrem sob poder absoluto põe-se em estado de guerra com ele Locke faz a diferenciação entre estado de natureza e estado de guerra: Estado de natureza → Ocorre quando os homens vivem entre si em gozo de suas liberdades sem maiores problemas: “quando os homens vivem juntos conforme a razão, sem um superior na Terra que possua autoridade para julgar entre eles, verifica-se propriamente o estado de natureza.” Àquele que teve seu patrimônio dilapidado, cabe o direito de declarar guerra a seu agressor, devido à inexistência de quaisquer órgãos reguladores das atipicidades cometidas, o que não ocorre quando da existência de um pacto social que garanta a resolução do conflito de modo equânime. Capítulo IV – DA ESCRAVIDÃO “A liberdade natural do homem consiste em estar livre de qualquer poder superior na Terra ,e não sob a vontade ou autoridade legislativa do homem, tendo somente a lei da natureza como regra” → assim, podemos dizer que também no estado social, o homem deve se subordinar somente àquele poder cujo consensualmente anuiu. “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” Emanuelle Campbell Página 3 É mais do que clara a repulsa de Locke a tal modo de domínio → só existe uma possibilidade do mencionado modus vivendi: os casos em que a pessoa perde o seu direito à vida. → Exemplo de um cidadão que cometeu alguma falta gravíssima passível de pena de morte, casos em que Locke, reconhece a possibilidade de escravização: “aquele a quem a entregou [a vida] pode, quando o tem entre as mãos, demorar em tomá-la, empregando-o em seu próprio serviço”. Capítulo V - DA PROPRIEDADE “Embora a terra e todas as criaturas inferiores sejam comuns a todos os homens, cada homem tem uma propriedade em sua própria pessoa; a esta ninguém tem qualquer direito senão ele mesmo.” Em continuidade, Locke nos diz que aquele espaço ao qual o indivíduo incorporou para si através do trabalho é de sua propriedade exclusiva e não lhe pode ser contestada, pois se necessitássemos do consentimento de todos para apropriarmo-nos de uma macieira, por exemplo, morreríamos de fome. “A extensão de terra que um homem lavra, planta, melhora, cultiva, cujos produtos usa, constitui sua propriedade.” Max Weber afirma que a mencionada conduta (do trabalho como importante para a dignificação do homem) foi muito importante no âmbito do desenvolvimento do Capitalismo, à medida em que concorreu para o desenvolvimento econômico-social por ter o trabalho como base importante em sua doutrina. Locke nos chama a atenção não só para o acúmulo de propriedade, mas também para a sua valorização → o melhoramento devido ao trabalho constitui a maior parte do valor respectivo. Ao longo do tempo, com o crescimento populacional, a escassez passou a ser iminente, o que culminou em pactos e leis fixando os limites dos respectivos territórios, dando ênfase à legitimidade de sua posse. Locke nos explica o surgimento do dinheiro, advindo da necessidade de se acumular bens sem o problema da fungibilidade, ou seja, sem o perecimento de seus bens com o tempo. Tais desígniossão pertinentes da primeira leva de direitos a serem assegurados aos indivíduos ainda na idade Moderna. Capítulo VI - DO PÁTRIO PODER Locke critica a mencionada expressão (do nome do capítulo), nos dizendo que pode nos conduzir ao erro, pois parece atribuir totalmente ao pai o poder sobre os filhos, quando na verdade sabemos o quão é imprescindível o poder exercido pelas mães. Há algum diferencial mesmo quando em estado de natureza: a experiência, através da idade ou a virtude, pode atribuir ao homem maior domínio sobre os demais, e isso é de nossa natureza (inclusive da dos animais). Os únicos passíveis de jurisdição, porém temporária, são os filhos, que até atingirem a maturidade. O poder que os pais têm sobre os filhos resulta do dever que lhes incumbe – cuidar da progênie durante o estado imperfeito da infância. Em seguida Locke faz menção aos loucos e defeituosos que não atingem o grau de razão em que teriam o necessário discernimento, ensinando que estes jamais se libertam do governo dos pais. Após a maioridade, quando perde a jurisdição dos pais, o filho deve manter sempre a honra e o respeito por ambos. Emanuelle Campbell Página 4 Duas vertentes distintas: a primeira: Obediência, diz respeito ao dever dos filhos de respeitarem seus pais quando ainda incapazes, e reciprocamente, o dever dos pais de contribuírem para a formação do filho até o ápice de sua maturidade. Veneração, é referente ao respeito e atenção dos filhos para com os pais após o escopo de sua maturidade, haja vista a importância destes em sua formação anterior, apesar de não exercerem mais a total jurisdição sobre eles. Faculdade de se doar a herança → os pais tendo em vista o temperamento e veneração dos filhos após a maioridade, doa a herança da maneira que melhor lhes aprouver, o que de certo modo deixa os filhos co-obrigados a obedecer-lhos mesmo após a maioridade, visando sempre o recebimento da herança, o que faz com que o pai ainda tenha sobre eles um certo “reinado”, o que leva Locke a compara-los com monarcas políticos, que estabelecem sua sucessão após a morte. Capítulo VII - DA SOCIEDADE POLÍTICA OU CIVIL Aqueles que unem-se nesse intuito de estabelecer entre si um modus vivendi, com órgãos responsáveis pela resolução de controvérsias e punição dos infratores, encontram-se numa sociedade política ou civil. A criação dos poderes Legislativo e executivo, aos quais Locke delega o a faculdade da criação e execução das leis, sistema posteriormente aprimorado pelo francês Montesquieu → Só da forma retro- mencionada que se torna possível a existência de uma sociedade civil, coexistindo nos demais casos o estado de natureza; Assim Locke considera a monarquia, que não é constituída através de uma outorga consensual entre seus membros, "um grupo de pessoas que estarão no estado de natureza; e assim se encontra qualquer príncipe absoluto em relação aos que estão sob seu domínio.” Para que haja a modificação desses estados monárquicos, há a necessidade de um juiz imparcial, que decide de forma justa e sem inclinações (o que não aconteceu nas monarquias) os conflitos existentes. Ninguém em seu estado de natureza pode ser expulso de sua propriedade ou ser submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento, pois como já explicitado por Locke, todos são livres, iguais e independentes, e só através de um pacto civil visando maior tutela destas liberdades que ocorre o fim do tão estudado Estado, e a formação de um corpo político que representa a maioria. Locke nos explica que o governo precede à historia, e só após sua formação é que se iniciam relatos a seu respeito. Não tiveram, durante muito tempo, reis nem comunidades, vivendo em bandos, como o fazem até hoje na Flórida os Cheriquanas, os do Brasil e de muitas outras nações que não tem reis certos, mas quando se oferece a ocasião, na paz ou na guerra, escolhem os chefes conforme lhes convém. O porquê do surgimento das monarquias → Comete-se um enorme engano ao se considerar que o governo monárquico surgiu por natureza, vez que surgiu como ensinou Locke, pelo consentimento tácito, pois já acostumados com a autoridade paterna, os indivíduos verificaram-na como a melhor e mais segura. → Surgimento das monarquias de forma mais concisa como o era na época de Locke, se deu segundo ele, pela superioridade de determinados indivíduos na chefia de guerras e conflitos. Emanuelle Campbell Página 5 Questão relativa às formas de governo e sua aceitação → O individuo coobriga-se como membro de tal governo, porém o problema centra-se no consentimento tácito, que para Locke dá-se quando o individuo não manifesta sua vontade e interesse para com a manutenção da jurisdição, o que o vincula até que não queria mais manter-se sobre determinado poder, tendo a faculdade de retirar-se da comunidade, o que não ocorre com aquele que a aceitam de forma expressa. Capítulo IX - DOS FINS DA SOCIEDADE POLÍTICA E DO GOVERNO Locke nos fala que apesar dos homens terem total liberdade sobre suas posses, e não terem qualquer obrigação com qualquer outro no estado de natureza, estão expostos a inúmeros perigos que podem culminar na perda de sua propriedade e tranquilidade para terceiros, pois são vulneráveis. O surgimento das sociedades civis tem como escopo, a preservação da propriedade. Locke enumera várias condições inexistentes no estado de natureza: 1 – Uma lei firmada e reconhecida por todos, pela qual devem se pautar. 2 – Um juiz imparcial para a resolução de conflitos de acordo com a lei. 3 – Algo que assegure a devida execução da sentença imposta. Um grande motivador da saída dos indivíduos de seu estado de natureza, levando a se associarem aos demais, é a incerteza sobre o resultado de suas ações quando em estado de natureza. Capítulo X - DAS FORMAS DE UMA COMUNIDADE Locke aborda as diversas formas de governo que se tornam possíveis quando há a criação das sociedades civis. Se há a nomeação de pessoas de tempos em tempos para a elaboração das leis, deparamo-nos com uma democracia, segundo ele. Nos casos de dar-se tal faculdade nas mãos de alguns homens escolhidos, e a seus herdeiros e sucessores, deparamos-nos com uma oligarquia, podendo haver também as monarquias, que podem ser hereditárias ou eletivas. Por fim Locke nos dá a definição de Comunidade, que deve ser interpretada segundo ele com o significado de “civitas”, correspondente à forma de associação por ele mencionada, na qual vários indivíduos unem-se em torno de um mesmo objetivo, visando o bem comum.
Compartilhar