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Lição 02 / 1 Índice 1.Introdução 2. Consideração Sobre o Método Científico 3. Tipos de Métodos Científicos 3.1. Método Indutivo 3.2. Método Dedutivo 3.3. Método Hipotético-dedutivo 3.4. Método Dialético 3.5. Método Fenomenológico 4. Métodos Auxiliares 4.1. Método Experimental 4.2. Método Estatístico 4.3. Método Histórico 4.4. Método Comparativo 4.5. Método Clínico 4.6. Método Observacional 5. Diferença entre Método e Técnica 6. Texto Complementar 7. Conclusão 8. Notas complementares Metodologia Científica Lição 02 Técnicas e Métodos Científicos Lição 02 / 2 9.Referências Lição 02 / 3 1. Introdução O método se constitui no caminho de construção do discurso científico. Ele é a trajetória que o pesquisador percorre para conhecer o objeto (fenômeno/fato investigado) em busca de construir um conhecimento racional e sistemático, conforme visto na aula anterior. O método enquanto construção, resultante de um processo por meio do qual o homem procura conhecer a natureza e a sociedade, deve ser compreendido e explicado como resultado de relações entre homens em contextos históricos particulares e singulares. Diante disso, ele se altera refletindo o desenvolvimento e as rupturas nos diferentes momentos da história. Nesta lição, você vai conhecer os tipos de métodos criados no processo de desenvolvimento do homem em busca do conhecimento, partindo-se da relação que se estabelece entre sujeito e objeto do conhecimento. E a diferença entre o método e a técnica, onde você entenderá melhor essa relação com a ciência. Percebendo o mundo, o homem constrói trajetórias para conhecer e explicar os fenômenos... Pense nisto!!! O homem cria diversos caminhos para apreender, compreender e explicar o que o cerca. Esses caminhos podem ser percorridos por pontos diferentes, ora pela razão, ora pela percepção, ou então, pela convergência entre esses pontos. No nosso dia a dia associamos método com ordem e organização. Pois bem, na esfera do conhecimento, da investigação (pesquisa) ou de qualquer atividade intelectual, o vocábulo método está associado ao termo metodologia, que é o estudo dos métodos utilizados no processo de conhecimento. Mas, afinal, qual a importância do método para uma investigação científica? Será que o método é determinante para um trabalho científico? Quais são as características do método? Quais são os tipos de métodos de que dispomos para realizar uma investigação científica? Veremos isso tudo a seguir... Lição 02 / 4 2. Consideração Sobre o Método Científico Você já viu que, como conhecimento metódico, sistemático, programado, a Ciência tem como principal objetivo a busca da verdade sobre as coisas, os fatos, as ideias. Este, no entanto, também é o objetivo das demais formas de conhecimento. Pergunta: O que distingue, então, o conhecimento científico dos outros conhecimentos? Resposta: A possibilidade da verificação de seus resultados. O conhecimento científico tem uma característica especial: os raciocínios e as técnicas que utiliza podem ser claramente identificados. Quando sabemos exatamente qual foi o caminho seguido, poderemos proceder com exatidão à verificação dos passos percorridos até o resultado final. Esse caminho seguido, o roteiro seguro que guia o cientista em suas investigações, é o método por ele utilizado. Vamos então definir de forma provisória e geral o método como o caminho que adotamos para alcançar determinado fim. Então, fica fácil para você deduzir que o método científico é o caminho seguido pelo cientista na persecução de seus resultados investigativos almejados. Veja bem, é necessário que você compreenda com clareza que ...sem método científico, não se faz ciência!!! Mario Bunge (1987), com muita precisão, destaca que o método científico é a teoria da investigação. Assim, para que a investigação alcance os seus objetivos de forma científica, é necessário que ela cumpra ou se proponha a cumprir algumas etapas básicas, tais como: ETAPA 1: Descobrimento do problema ou lacuna num conjunto de Lição 02 / 5 conhecimentos. A partir de então, caso o problema não esteja enunciado com clareza e precisão, passa-se à etapa 2; se estiver, passa- se à etapa 3; ETAPA 2: Colocação precisa do problema. Nesta etapa o problema deve ser recolocado à luz dos novos conhecimentos já articulados ou em processo de articulação; ETAPA 3: Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema. Neste momento o pesquisador deverá levar em consideração às teorias, os dados empíricos, as tecnologias existentes, para, a partir do conhecimento, tentar resolver o problema; ETAPA 4: Tentativa de solução do problema com o auxílio dos meios identificados. Se a tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa 5; do contrário passa-se à etapa 6. ETAPA 5: Invenção de novas ideias (hipóteses, teorias ou técnicas) ou produção de novos dados empíricos que possibilitem uma solução razoável ao problema; ETAPA 6: Obtenção de uma solução próxima ou exata para o problema a partir dos instrumentos conceituais ou empíricos disponíveis; ETAPA 7: Investigação das consequências da solução obtida. No caso de uma teoria devem-se procurar os prognósticos que possam ser feitos com o seu auxílio. No caso de novos dados, devem-se examinar as consequências que possam ter para as teorias existentes e relevantes; ETAPA 8: Prova (comprovação) da solução. A solução encontrada deve ser confrontada com a totalidade das teorias e das informações empíricas pertinentes. Caso o resultado seja satisfatório, a pesquisa pode ser dada por concluída até que novos problemas surjam. Caso contrário, deve-se passar para a etapa 9. ETAPA 9: Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta. Caso isto venha a ocorrer, estaremos diante do começo de um novo ciclo de investigação, caminho natural de qualquer indivíduo que queira buscar novos conhecimentos. Lição 02 / 6 As etapas assim se apresentam, de forma esquemática: Das etapas mencionadas acima podemos verificar que nenhuma é suficientemente específica e precisa para nos permitir, por si só, executar o passo correspondente na pesquisa, por exemplo: para que posamos levar adiante qualquer investigação, é necessário que entremos no assunto. É preciso adquirir determinados conhecimentos, Lição 02 / 7 atentar para tudo aquilo que ignoramos, escolher o tema que se quer averiguar, planejar a melhor maneira de fazê-lo, além de outros aspectos que devem ser observados. Você já pode entender que a ciência é constituída de um conhecimento racional [1] , metódico [2] e sistemático [3] , capaz de ser submetido à verificação [4] , buscado através de métodos e técnicas diversas, ou seja, por passos nos quais se descobrem novas relações entre fenômenos que interessam a um determinado ramo científico ou aspectos ainda não revelados de um determinado fenômeno (GALLIANO, 1986, p. 28). Agora que você leu as considerações sobre o método científico, apresentaremos uma situação interessante, descrita por Galliano (1986, p.4-5). O autor afirma que qualquer pessoa vive diariamente cercada por métodos, ainda que não os perceba. Ao limpar a casa, você não passa, primeiro, o pano molhado, para, depois, varrer o chão; ao fazer um churrasco, você não assa a carne antes de colocar o sal e os temperos; ao comer uma laranja, você não a corta em pedaços para depois tirar a casca; tem de usar o método adequado para atingir um objetivo tão simples. Galliano cita um exemplo, o de estar calçado com meia e sapato, que deixa ainda mais clara a explicação. Se não seguir a ordem correta das ações, primeiro você calçará o sapato, depois verificará que não é possível pôr a meia, já calçado com o sapato, assim, terá de descalçá-lo, para então colocar a meia e novamente calçá-lo. O que o autor quis demonstrar com o exemplo? Que, aodeixar de seguir a ordem correta das ações no emprego do método, o resultado não é alcançado na primeira tentativa. Para chegar ao resultado esperado, você deve voltar ao início da sequência e fazê-la de forma correta, ou seja, observar o método, já que quando o método não é observado, você gasta tempo e energia inutilmente. O autor complementa: o método nada mais é do que o caminho para chegarmos a um fim. Reflita um pouco!!! Lição 02 / 8 Você consegue lembrar de outros métodos que estão presentes na sua vida cotidiana? Analise o que existe de comum entre eles, assim, poderá fazer sua própria definição sobre método. Lição 02 / 9 3. Tipos de Métodos Científicos Afirmamos que a observação dos métodos científicos é estritamente necessária para que sua pesquisa seja considerada científica. Agora, veja bem, ainda que esses métodos sejam chamados científicos, isso não significa que sejam utilizados apenas para fazer Ciência. Muito pelo contrário, se você é um pensador da área da Filosofia, deverá aplicar em suas investigações um método de sua escolha ou desenvolvimento que lhe possibilite o tratamento rigoroso e o resultado eficiente de seu trabalho. Esses métodos científicos de que vamos tratar agora pressupõem ao menos um das formas de organização do raciocínio que poderá ser empregado na pesquisa. A partir delas o pesquisador poderá optar pelo alcance de sua investigação, pelas premissas que explicarão os fatos, as coisas, os objetos, e pela validade de suas generalizações. Portanto, quando falamos em raciocínio, estamos nos referindo a um modo de pensar ordenado, coerente e lógico. Considerando as formas de organizaçãodo raciocínio, podemos classificar os métodos científicos em: indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico. Além desses métodos científicos considerados como primordiais e reciprocamente excludentes na atividade investigativa, temos outros métodos que podem ser igualmente empregados de forma concomitante com os primeiros, de acordo com as condições e os objetivos finais a serem alcançados. Esses métodos auxiliares cumprem, por conseguinte, uma função técnica estratégica. 3.1. Método Indutivo O método indutivo permite que possamos analisar nosso objeto para tirarmos conclusões gerais ou universais. Assim, a partir, por exemplo, da observação de um ou de alguns fenômenos particulares, uma proposição mais geral é estabelecida para, por sua vez, ser aplicada a outros fenômenos. É, portanto, um procedimento generalizador. EXEMPLOS: Lição 02 / 10 O método indutivo realiza-se em três etapas: a) Observação dos fenômenos: nessa etapa observamos os fatos ou fenômenos e os analisamos, com a finalidade de descobrir as causas de sua manifestação; b) Descoberta da relação entre eles: na segunda etapa procuramos, por intermédio da comparação, aproximar os fatos ou fenômenos, com a finalidade de descobrir a relação constante existente entre eles; c)Generalização da relação: nesta última etapa generalizamos a relação encontrada na precedente, entre os fenômenos e fatos semelhantes, muitos dos quais ainda não observamos (e muitos inclusive inobserváveis). Exemplo: Observo que Pedro, José, João, etc. são mortais; verifico a relação entre ser homem e ser mortal; generalizo dizendo que todos os homens são mortais. EXEMPLOS: A utilização de indução leva à formulação de duas perguntas: Lição 02 / 11 Qual a justificativa para as inferências indutivas? A resposta é: temos expectativas e acreditamos que exista certa regularidade nas coisas, e, por este motivo, o futuro será como o passado. Qual a justificativa para a crença de que o futuro será como o passado? São, principalmente, as observações feitas no passado. Exemplo: se o sol vem “nascendo” há milhões de anos, pressupõe-se que “nascerá” amanhã. Portanto, as observações repetidas, feitas no passado, geram em nós a expectativa de certa regularidade no mundo, no que se refere a fatos e fenômenos. Por este motivo, analisando-se vários casos singulares do mesmo gênero, entendem-se a todos (do mesmo gênero) as conclusões baseadas nas observações do primeiro, através da “constância das leis da natureza” ou do “princípio do determinismo”. Principal crítica ao Método Indutivo: A indução não pode transmitir a certeza e a evidência. O salto de um para todos exigiria uma observação infinita. Podemos concluir que o método indutivo é uma forma de organizar o raciocínio da pesquisa, que é o pressuposto básico para a existência de qualquer tipo de Ciência experimental, pois sem a existência do método indutivo a concepção de Ciência estaria limitada a um conhecimento sem possibilidade de comprovação ou de verificação. Lição 02 / 12 3.2. Método Dedutivo O método dedutivo parte de argumentos gerais para argumentos particulares. Primeiramente, são apresentados os argumentos que se consideram verdadeiros e inquestionáveis para, em seguida, chegar a conclusões formais, já que essas conclusões ficam restritas única e exclusivamente à lógica das premissas estabelecidas. A questão fundamental da dedução está na relação lógica que deve ser estabelecida entre as proposições apresentadas, a fim de não comprometer a validade da conclusão. Se, por um lado, o método dedutivo possibilita levar o investigador do conhecido para o desconhecido com uma margem pequena de erro, por outro, esse mesmo método tem seu alcance bastante limitado, já que sua conclusão não pode em hipótese alguma ultrapassar o conteúdo enunciado nas premissas. O raciocínio dedutivo fundamenta-se em um silogismo, uma operação típica da Lógica em que, a partir de uma premissa maior e mais genérica e uma menor e mais específica pode-se chegar a um resultado necessário que é a conclusão. Exemplo de raciocínio dedutivo: Premissa maior: o ser humano é mortal. Premissa menor: “X” é um ser humano. Conclusão: Logo, “X” é mortal. Cabe esclarecer, por fim, que muitas vezes o método dedutivo e o indutivo não se apresentam de forma muito clara, isto porque ambos estão fundamentados no processo observacional. Ressalta-se, no entanto, que, se por um lado, o método dedutivo pode nos levar à construção de novas teorias e novas leis, por outro, o método indutivo só nos possibilita chegar a generalizações empíricas de observações. Lição 02 / 13 Para que você possa compreender melhor, veja os seguintes exemplos: Dedutivo: Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração. Indutivo: Todos os cães que foram observados tinham um coração. Logo, todos os cães têm um coração. Segundo Salmon (1978), as duas características básicas que distinguem os argumentos dedutivos dos indutivos são: Lição 02 / 14 DEDUTIVOS INDUTIVOS I.Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira. I.Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provavelmente verdadeira, mas não necessariamente verdadeira. II.Toda a informação ou conteúdo fatual da conclusão já estava, pelo menos implicitamente, nas premissas. II. A conclusão encerra informação que não estava, nem implicitamente, nas premissas. Característica I. No argumento dedutivo, para que a conclusão “todos os cães têm um coração” fosse falsa, uma das ou as duas premissas teriam de ser falsas: ou nem todos os cães são mamíferos ou nem todos os mamíferos têm um coração. Por outro lado, no argumento indutivo é possível que a premissa seja verdadeira e a conclusão falsa: o fato de não se ter, até o presente, encontrado um cão sem coração, não é garantia de que todos os cães têm um coração. Característica II. Quando a conclusão do argumento dedutivo afirma que todos os cães têm um coração, está dizendo alguma coisa que, na verdade, já tinha sido dita nas premissas; portanto, como todo argumento dedutivo, reformula ou enuncia de modo explícito a informaçãojá contida nas premissas. Dessa forma, se a conclusão, a rigor, não diz mais que as premissas, ela tem de ser verdadeira se as premissas o forem. Por sua vez, no argumento indutivo, a premissa refere-se apenas aos cães já observados, ao passo que a conclusão diz respeito a cães ainda não observados; portanto, a conclusão enuncia algo não contigo na premissa. É por este motivo que a conclusão pode ser falsa – pois pode ser falso o conteúdo adicional que encerra -, mesmo que a premissa seja verdadeira. Conclui Fachin (2003, p. 31) que os métodos indutivo e dedutivo não se opõem e constituem uma única cadeia de raciocínio. Cita, ainda, como exemplo: a varíola é curável com a vacina X; ora, um paciente tal é portador de varíola, logo, é Lição 02 / 15 curado com a vacina X. Houve uma intuição para estabelecer a ordem geral do conhecimento quanto ao medicamento, por meio do raciocínio dedutivo, com o aproveitamento de uma experiência conhecida e induzida anteriormente. O método indutivo é uma fase meramente científica, é o espírito experimental da ciência, que oferece probabilidades, enquanto o dedutivo é a fase da realização da atividade, oferecendo certezas. Oliveira (2002, p. 63) complementa, sobre os métodos indutivo e dedutivo, quando observa que: A dedução e a indução, tal como a síntese e análise, generalizações e abstrações, não são métodos isolados de raciocínio de pesquisa. Eles se completam [...]; a conclusão estabelecida pela indução pode servir de princípio – premissa maior - para a dedução, mas a conclusão da dedução pode também servir de princípio da indução seguinte – premissa menor –, e assim sucessivamente. 3.3. Método Hipotético-dedutivo Vamos nos ocupar agora de um método científico que possui características comuns aos dois anteriores: o método hipotético-dedutivo. Ele tem em comum com o método dedutivo o procedimento racional que transita do geral para o particular, e com o método indutivo, o procedimento experimental como sua condição fundante. Vamos ver como isso funciona? Tal método, proposto pelo filósofo austríaco Karl Popper, tem uma abordagem que busca a eliminação dos erros de uma hipótese. Faz isso a partir da ideia de testar a falsidade de uma proposição, ou seja, a partir de uma hipótese, estabelece-se que situação ou resultado experimental nega essa hipótese e tenta-se realizar experimentos para negá-la. Assim, a abordagem do método hipotético-dedutivo é a de buscar a verdade eliminando tudo o que é falso. Para Karl R. Popper, o método científico parte de um problema (P1), ao qual se oferecesse uma espécie de solução provisória, uma teoria-tentativa (TT), passando-se depois a criticar a solução, com vista à eliminação do erro (EE) e, tal como no caso da dialética, esse processo se renovaria a si mesmo, dando Lição 02 / 16 surgimento a novos problemas (P2). Posteriormente, diz o autor, “condensei o exposto no seguinte esquema: P1__________TT__________EE__________P2 (…) Eu gostaria de resumir este esquema, dizendo que a ciência começa e termina com problemas” (1977:140-1). Já tinha escrito em outro lugar: “eu tenho tentado desenvolver a tese de que o método científico consiste na escolha de problemas interessantes e na crítica de nossas permanentes tentativas experimentais e provisórias de solucioná-los” (1975: 14). O esquema apresentado por Popper anteriormente poderá ser expresso da seguinte maneira: Portanto, Popper defende estes momentos no processo investigatório: 1. Problema: formulação de uma ou mais hipóteses a partir das teorias existentes; 2. Solução: dedução de conseqüências na forma de proposições; 3. Testes de falseamento: tentativas de refutação, entre outros meios, pela observação e experimentação. É um método de tentativas e eliminação de erros, que não leva à certeza, pois o conhecimento absolutamente certo e demonstrável não é alcançado. 3.4. Método Dialético O método dialético é uma possibilidade de caminho na construção do saber Lição 02 / 17 científico no campo das ciências humanas. Ele torna-se a trajetória percorrida pelo sujeito (pesquisador) na busca de conhecer e perceber-se na construção desse conhecimento do objeto (fenômeno/fato investigado) que se constrói e (des) constrói nas interações entre o sujeito e o objeto. Nesse modo de conhecer o homem se constrói enquanto homem na produção de sua vida material. Ao estabelecer uma relação com a natureza na qual ele a humaniza, transformando-a em natureza morta pela negação de sua condição, o homem a torna um fenômeno social pela significação que ele dá a essa interação; no entanto, ao modificá-la ele também se transforma, mudando a sua percepção sobre a natureza e ao retornar sobre si se percebe como sujeito criado nessa interação. O exercício dialético nos permite compreender que o homem enquanto ser histórico na produção de uma vida material estabelece relações de negação com o mundo e com ele próprio, criando contradições e gerando conflitos nas relações que se tornam a base da organização de sua vida social. Pense nisto!!! Os conflitos sociais criam possibilidades reflexivas sobre a forma como o homem se organiza para viver em sociedade. Esses conflitos podem ser pensados pela dialética das contradições de uma vida organizada, a partir dos conflitos de classe. Fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, na qual as contradições se transcendem dando origem a novas contradições que passam a requerer solução. É um método de interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Considera que os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social, político, econômico, etc. Empregado em pesquisa qualitativa (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). Lição 02 / 18 Na Dialética, o pensamento passa necessariamente por uma afirmação ou tese inicial, a construção de sua contradição, ou antítese dela, para se chegar a uma síntese. 3.5. Método Fenomenológico Preconizado por Husserl, o método fenomenológico não é dedutivo nem indutivo. Preocupa-se com a descrição direta da experiência tal como ela é. A realidade é construída socialmente e entendida como o compreendido, o interpretado, o comunicado. Então, a realidade não é única: existem tantas quantas forem as suas interpretações e comunicações. O sujeito/ator é reconhecidamente importante no processo de construção do conhecimento (GIL, 1999; TRIVIÑOS, 1992). Lição 02 / 19 Fases do Método Fenomenológico Fonte: Disponível em: //www.filosofiaonline.com/filosofia/?p=427 Lição 02 / 20 4. Métodos Auxiliares Deter-nos-emos agora em alguns métodos que podem ser considerados auxiliares daqueles métodos científicos que acabamos de estudar. Ainda que tenha caráter instrumental secundário, a utilização desses métodos pode vir a operacionalizar, de forma muito eficiente, aquilo que você gostaria de externar com seu trabalho. Elegemos aqui apenas alguns, dentre aqueles mais frequentemente aplicados nas investigações em Ciências Humanas e Sociais. Vamos lá! 4.1. Método Experimental O método experimental ou empírico é aquele fundado na experiência, que é um tipo de ensaio científico em que o objeto de pesquisa é submetido a um quadro totalmente controlado destinado à verificação de seus atributos. Pela aplicação desse método é possível pôr à prova determinado fenômeno, testando-o sob condições ideais, que são reproduzidas, por exemplo, em laboratório (mas não necessariamente). O emprego do método experimental pressupõe a eleição de certas hipóteses a serem verificadas durante a experiência. Assim, tais hipóteses poderão ser confirmadas ou prejudicadas pelos efeitos alcançados. Lição 02 / 21 Regras da experimentação Estender a experiência, intensificando a suposta causa para ver se proporcionalmente intensifica-se o suposto efeito. Variar a experiência, tentando relacionar a suposta causa com outros elementospara ver se o resultado varia ou não; Inverter a experiência – depois de feita a análise do fato, pela decomposição de seus elementos, recompô-lo para buscar a verificação da suposição. (BASTOS; KELLER, 1999, p. 86). 4.2. Método Estatístico Este método, desenvolvido por Quetelet, permite a transformação dos dados qualitativos em resultados quantitativos, através de representações que demonstram a constatação de relações entre os fenômenos, objetivando generalizações sobre sua natureza, ocorrência e significado. Fundamenta-se na aplicação da teoria estatística da probabilidade e constitui um importante auxílio para as investigações sociais. Suas conclusões, embora admitam certa margem de erro, apresentam grandes possibilidades de serem verdadeiras. A manipulação estatística permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado. EXEMPLOS Verificar a correlação entre nível de escolaridade e número de filhos; Pesquisar as classes sociais dos estudantes universitários e o tipo de lazer preferido pelos estudantes de 1o e 2o graus. Lição 02 / 22 4.3. Método Histórico Elaborado por Franz Boas, preocupa-se em estudar o passado das atuais formas de vida social, as instituições e os costumes para compreender o passado, entender o presente e predizer o futuro, verificando, não apenas a influência do fato e do fenômeno, como também sua formação, modificação e Lição 02 / 23 transformação durante determinado espaço de tempo. Consiste em investigar os acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar sua influência na sociedade de hoje. EXEMPLOS Para compreender a noção atual de família e parentesco, pesquisam-se no passado os diferentes elementos constitutivos dos vários tipos de família e as fases de sua evolução social; Para descobrir as causas da decadência da aristocracia cafeeira, investigam-se os fatores socioeconômicos do passado. 4.4. Método Comparativo Este método procura identificar semelhanças e explicar diferenças entre grupos, pessoas, sociedades, culturas, sistemas e organizações políticas, padrões de comportamento familiar ou religioso etc. Seu objetivo é entender o comportamento humano, não só no presente, como também no passado. Ele se propõe a explicar o fenômeno por meio da análise completa de seus elementos. Lição 02 / 24 EXEMPLOS Modo de vida rural e urbano no Estado de São Paulo; Características sociais da colonização portuguesa e espanhola na América Latina; Classes sociais no Brasil, na época colonial e atualmente; Organização de empresas norte-americanas e japonesas; A educação entre os povos ágrafos e os tecnologicamente desenvolvidos. Lição 02 / 25 Sequencia de fotos tiradas com câmera digital para o acompanhamento do escurecimento dos tecidos de maçã, banana e pera em diferentes condições: maçã, em tempos de 0, 2 e 4 h a 50 oC, banana, em tempos de 0, 4 e 8 h, a 50 oC e pera em tempos de o, 4 e 8 h 50 oC. Fonte: (LUPETTI, CARVALHO, MOURA & FATIBELLO, 2005). 4.5. Método Clínico Este método, aplicado em estudos de caso, é útil no contexto da intervenção psicopedagogia. Pode ser utilizado tanto sob o aspecto qualitativo quanto o quantitativo, uma vez que pode incluir intenção, significados, valores etc. O pesquisador pode valer-se das técnicas de entrevista, história de vida, observação, psicanálise e outras de relação pessoa, dentro desse método. O importante no método clínico é deixar o pesquisado falar livremente e descobrir as tendências espontâneas do mesmo. Segundo Triviños (1987), a “flexibilidade do método clínico depende precisamente da capacidade do pesquisador nessas duas condições fundamentais: apoio teórico e domínio do contexto”. Lição 02 / 26 O pesquisador deve saber o que procura, fazendo perguntas adequadas, certas, evitando ambiguidade e não deixando nada sem esclarecimentos. EXEMPLOS Análise de pacientes; estudantes etc. 4.6. Método Observacional Trata-se de um dos métodos mais utilizados nas ciências sociais. De um lado, pode ser considerado o mais primitivo e, portanto, o mais impreciso dos métodos, mas, por outro lado, pode ser tido como um dos mais modernos, uma vez que permite o mais elevado grau de precisão nas ciências sociais. Difere do método experimental em um aspecto: nos experimentos, existe a interferência do pesquisador, enquanto o observacional, o cientista apenas observa algo que acontece ou já aconteceu. Lição 02 / 27 Lição 02 / 28 5. Diferença entre Método e Técnica A técnica da pesquisa trata dos procedimentos práticos que devem ser adotados para realizar um trabalho científico, qualquer que seja o método aplicado, é o que escreve Miranda Neto (2005, p. 39). A técnica serve para registrar e quantificar os dados observados, ordená-los e classificá-los. A técnica especifica como fazer (OLIVEIRA, 2002, p. 58). Para a realização de uma pesquisa, é necessário o uso de técnicas adequadas, capazes de coletar dados suficientes, de modo que deem conta dos objetivos traçados, quando da sua projeção. Para determinar o tipo de instrumento, é necessário observar o que será estudado, a que irá reportar. Na realização de uma pesquisa, segundo Oliveira (2003, p. 66), depois de definidas as fontes de dados e o tipo de pesquisa, que pode ser de campo ou de laboratório, devemos levantar as técnicas a serem utilizadas para a coleta de dados, destacando-se: questionários, entrevistas, observação, formulários e discussão em grupo. E então, como podemos diferenciar método e técnica? Veja o que Fachin (2003, p. 29) escreve: “Vale a pena salientar que métodos e técnicas se relacionam, mas são distintos. O método é um conjunto de etapas ordenadamente dispostas, destinadas a realizar e antecipar uma atividade na busca de uma realidade; enquanto a técnica está ligada ao modo de se realizar a atividade de forma mais hábil, mais perfeita. [...] O método se refere ao atendimento de um objetivo, enquanto a técnica operacionaliza o método”. Lição 02 / 29 6. Texto Complementar A ciência procura certezas (ACHINSTEIN, 2005) No que toca a este critério, a ciência parece-se com a matemática e é diferente da metafísica, da teologia e da astrologia, as quais, alegadamente, nunca poderão ser senão especulativas. Nas Regulae ad Directionem Ingenii (Regras para a Direção do Espírito, 1628) a segunda regra de Descartes diz-nos que “importa lidar apenas com aqueles objetos para cujo conhecimento certo e indubitável os nossos espíritos parecem ser suficientes”. Os empiristas encontram-se mais divididos. Newton, que rejeitou a ideia de Descartes de que a ciência deveria procurar proposições indubitáveis, reconhece na sua quarta regra do método científico que qualquer proposição, por muito sustentada que seja, está sujeita a confrontar-se com exceções, à medida que novos fenômenos vão sendo observados. Ainda assim, os cientistas deveriam sempre se esforçar por procurar as maiores certezas que as suas investigações empíricas lhes permitissem. Essas certezas podem ser obtidas “deduzindo proposições a partir dos fenômenos e generalizando-as através da indução”. Entre os empiristas, no outro extremo oposto a Newton, estão Popper e Laudan. Para Popper, a ciência não pode ter um elevado grau de certeza, uma vez que a utilização de quaisquer generalizações indutivas que poderia gerar essa certeza carece de justificação. Tampouco é desejável, uma vez que os cientistas fariam as generalizações mais fortes possíveis, logo, as mais improváveis. Para Laudan (1977) a ciência procura oferecer soluções “adequadas” para problemas “interessantes”, para os quais as questões da verdade, da certeza ou mesmo da probabilidade são irrelevantes. Uma perspectiva empirista que se situa entre estes dois extremos é a de Carnap e de outros probabilistas. Os cientistasdevem procurar provas empíricas que sustentem uma dada teoria, aumentando a sua probabilidade, mas sem que necessariamente esta probabilidade seja elevada (para uma crítica, veja-se Achinstein, 1983). Os cientistas seguem um método científico Os praticantes das não-ciências não o fazem. Um método científico é um conjunto de regras que os cientistas deveriam seguir para descobrir e testar leis e teorias. Se tais regras existem e, assim sendo, qual é a sua formulação, se são universais para todas as ciências ou dentro de uma dada ciência, se mudam de uma época para a outra, são questões calorosamente disputadas. Lição 02 / 30 De acordo com uma perspectiva, existem regras destinadas a testar as teorias científicas que se aplicam a toda a ciência em todas as épocas. Esta perspectiva foi abraçada por Descartes, que propôs 21 dessas regras; foi também defendida por Newton (1687), que propôs quatro regras de pensamento para a filosofia (natural), consistindo em duas para inferir causas de coisas, e duas para produzir generalizações indutivas a partir de fenômenos observados. As duas mais importantes posições empiristas empenhadas num método científico universal são o hipotético-dedutivismo e o indutivismo. Perante os dados e os problemas, o cientista começa por propor uma hipótese, a qual não é indutiva ou dedutivamente inferida a partir dos dados ou de qualquer outra coisa, mas simplesmente apresentada como uma conjectura. Partindo dela e, possivelmente, de outras suposições, são deduzidas conclusões observáveis, geradas por via dedutiva, utilizando a lógica e, frequentemente, a matemática. Se as conclusões são confirmadas pela observação, a hipótese é provisoriamente aceita. Se descobrir-se que são falsas, a hipótese é rejeitada e é proposta outra nova hipótese. Esta é a perspectiva de Popper. Contrastando com ela, os indutivistas exigem mais um passo: um argumento indutivo que dê um apoio independente à hipótese ou à teoria. Este consiste em aplicar aquilo que se observou num número limitado de casos a todos os casos abrangidos por uma dada lei, ou em procurar causas semelhantes para efeitos semelhantes. Indutivistas como Newton ou Mill rejeitaram o método hipotético- dedutivo com a justificação de que diferentes hipóteses incompatíveis podem implicar os mesmos dados. Aquilo de que se necessita é que uma delas tenha um suporte indutivo independente. A existência de um método científico universal tem sido contestada por vários autores do século X, especialmente a partir dos anos 1960. Thomas Kuhn (1962), defendendo uma abordagem histórica e relativista, afirma que numa dada época os cientistas trabalham dentro de um paradigma, o qual consiste num conjunto de conceitos, práticas, parâmetros de avaliação, regras de pensamento e métodos de observação que variam consideravelmente de uma ciência e de uma época para outra. O paradigma define os problemas que têm que ser resolvidos e os métodos para o fazer. Não há um método científico comum a todos os paradigmas. Para terminar, foi advogada uma abordagem sociológica da ciência (veja- -se, por exemplo, Pinch, 1986), da qual existe uma versão forte que rejeita que se recorra às regras metodológicas para explicar os procedimentos dos cientistas. As teorias, sendo subdeterminadas pelos dados, não podem ser inferidas desses dados através de regras. Dever-se-ia, em vez disso, observar dentro da comunidade científica os fatores sociais que explicam a forma como uma teoria científica se desenvolve e o grupo “negocia” a sua aceitação. Lição 02 / 31 7. Conclusão O método científico é um conjunto de regras básicas para desenvolver uma experiência a fim de produzir conhecimento, bem como corrigir e integrar conhecimentos pré-existentes. É baseado na junção de evidências observáveis, empíricas, e mensuráveis, com o uso do raciocínio lógico. Primeiramente propõem-se hipóteses para explicar certos fenômenos. As hipóteses são usadas para prever novos fenômenos. Então desenvolvem-se experimentos que testam essas previsões. Então teorias são formadas juntando-se hipóteses de certa área, em uma estrutura coerente de conhecimento. Isto ajuda na formulação de novas hipóteses, bem como coloca as hipóteses em um conjunto de conhecimento maior. Lição 02 / 32 8. Notas complementares 1. Racional constituído por conceitos, tendo como ponto de partida e ponto de chegada apenas ideias (hipóteses), não os fatos. 2. Metódico segue etapas, normas e técnicas, cuja aplicação obedece a um método preestabelecido. 3. Sistemático constitui-se de um sistema de ideias interligadas logicamente que se apresentam como um conjunto de princípios fundamentais, adequados a uma classe de fatos, que compõem uma teoria. 4. Verificação o conhecimento é válido, quando passa pela prova da experiência ou, da demonstração. Lição 02 / 33 9.Referências GALLIANO, A. Guilherme. O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra, 1986. CERVO, A.L.; BREVIAN, P.A; DA SILVA, R. Metodologia científica. São Paulo: McGraw-Hill, 2007 e edições anteriores. LAKATOS, E.M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010 e edições anteriores. MEZZAROBA, O.; MONTEIRO, C. S. Manual de metodologia da pesquisa no direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21 ed. São Paulo: Cortez, 2000. TRUJILLO FERRARI, A. Metodologia da ciência. 2.ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.
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