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O conceito de linguística (do francês linguistique) refere-se àquilo que pertence ou que é relativo à linguagem. A palavra também permite fazer alusão à ciência cujo objecto de estudo seja a língua. Desta forma, a linguística, enquanto ciência, dedica-se à análise da natureza e às leis que regem a linguagem. Ao contrário da filologia, a qual se interessa pelo desenvolvimento histórico das línguas em textos escritos e no contexto da literatura e da cultura associada, a linguística procura explicar como funcionam as línguas a uma determinada altura com o intuito de compreender o seu funcionamento geral. A linguística moderna desenvolveu-se a partir do século XIX. Com a publicação póstuma de “Curso de linguística geral” (1916), de Ferdinand de Saussure, a linguística tornou-se numa ciência integrada à semiologia. Começou por suscitar alguma polémica relativamente à distinção entre língua (o sistema) e a fala (o uso) e na definição de signo linguístico (significado e significante). No século XX, Noam Chomsky desenvolveu a corrente do generativismo com a gramática generativa tramsformacional, que se centra na língua enquanto processo da mente do falante e na capacidade inata (genética) em adquirir e usar uma língua. O estudo da língua enquanto sistema aplica-se em vários níveis: o fonético-fonológico (fonologia e fonética), o morfológico (morfologia), o sintáctico (sintaxe), o léxico (lexicologia e lexicografia) e o semântico (semântica). Do ponto de vista da fala, em contrapartida, pode-se considerar o texto como sendo a unidade superior de comunicação e a pragmática, aquela que estuda a enunciação e o enunciado. Dicotomias de Saussure Método dominante de fazer lingüística no século dezenove é o chamado método histórico comparativo. Um dos teóricos mais importantes dessa época é sem dúvida Ferdinand de Saussure. Através do método histórico comparativo é possível fazer observações como a semelhança do Francês para o Português, que nos aponta a origem dessas duas línguas, ambas vieram do latim. Saussure definiu um novo objeto de estudos para a lingüística, as dicotomias. No curso de lingüística geral de Saussure não aparece o termo dicotomia, más há quatro pares de conceitos que fazem uma síntese da analise de Saussure, esses conceitos ou dicotomias são: diacronia VS sincronia, língua VS fala, significante VS significado e paradigma VS sintagma. A palavra dicotomia deriva do grego dichotomia, que significa dividir em partes iguais. Sincronia VS diacronia. Saussure não foi o inventor da lingüística, ale estabeleceu um objeto de estudo para ela. Antes de Saussure se usava o método histórico comparativo, que Saussure denominou diacronia. Doiacronia vem do grego dia que significa através e kronos que significa tempo. O estudo diacrônico estuda as mudanças que a língua sofreu através do tempo. Enquanto a diacronia estuda as mudanças que a língua sofreu através do tempo, o estudo sincrônico é o estudo da língua num determinado período do tempo. A palavra sincronia vem do grego sin que significa juntamente, e kronos que significa tempo. A partir da dicotomia sincronia VS diacronia Saussure determina uma distinção entre fatos sincrônicos e fatos diacrônicos, os fatos sincrônicos estabelecem períodos de regularidade num tempo da língua, a diacronia é a sucessão dessas sincronias. Língua VS fala. Para Saussure a língua se opõe a fala, sendo que a língua é coletiva e a fala é individual. A língua é um sistema de signos estruturados, ela é sistemática, enquanto a fala é individual. Enquanto a língua é um dado social, a fala é particular. A fala é a forma como um indivíduo utiliza a língua. Os fatos de língua podem ser estudados separadamente dos fatos de fala. Em algumas partes do nosso país as pessoas pronunciam mulé ao invés de mulher, num fato como esse a língua não é alterada, pois lá também é usada a forma mulher, a fala só altera a língua quando a estrutura é alterada. A língua é um sistema organizado enquanto a fala é a forma particular de usar esse sistema. Significante VS significado. Signo segundo Saussure é a junção de um significante com um significado. A língua não é uma mera nomenclatura, mas sim a relação de uma imagem acústica com um conceito, isto é, um significante e um significado, que juntos formam um signo. Um signo ganha valor em sua relação com outros signos. A semiologia é a ciência dos signos gerais, enquanto a lingüística é a ciência dos signos verbais. Paradigma VS sintagma Para Saussure as relações com os elementos lingüísticos são estabelecidas em dois domínios distintos: um eixo de seleção (paradigmático), e um eixo de combinação (sintagmático). Os signos sendo alinhados um após o outro formam uma relação chamada sintagmática, sintagma no grego quer dizer coisa posta em ordem. A relação baseada nos elementos que são combinados se chama paradigmática, paradigma vem do grego paradéigma que quer dizer modelo, exemplo. A dicotomia paradigma VS sintagma está no domínio da língua e não da fala, isso porque pertence ao sistema estruturado, enquanto a fala é a realização desse sistema pelo ato individual. Tantos as relações paradigmáticas quanto as sintagmáticas ocorrem em todos os níveis da língua: o dos sons, o dos morfemas e o das palavras. Langue e Parole - Ferdinand de Saussure Vou estabelecer a postagem a partir de trechos do texto "As dicotomias Saussurianas" de Castelar de Carvalho e anotações feitas durante as aulas que, provavelmente, estarão entre parênteses. Primeira dicotomia: Langue e Parole "Fundamentada na oposição social / individual revelou-se com o tempo extremamente profícua (útil). O que é fato da langue está no campo social; o que é fato da parole situa-se na esfera do individual." "Saussure afirma e adverte ao mesmo tempo: 'a linguagem tem um lado individual (parole) e um lado social (langue), sendo impossível conceber um sem o outro.' " (Temos então, que a langue é a língua e a parole é a fala.) (A langue é necessária para que a parole seja clara e compreensível. A parole estabelece as futuras mudanças da langue.) "É tal a interdependência entre a langue e a parole que Saussure considera a langue, ao mesmo tempo, instrumento e produto da parole." A Langue *como acervo linguístico* É o lado mental da langue. "A langue, como acervo linguístico, ' é o conjunto de hábitos linguísticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compreender' e ' as associações ratificadas pelo consentimento coletivo e cujo conjunto constitui a langue, são realidades que têm sua sede no cérebro'. Guarda consigo toda a experiência histórica acumulada por um povo durante a sua existência. A langue é "uma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos." *como realidade sistemática e funcional* É a capacidade lógica da gramática. É um sistema de signos que exprimem ideias. "Nenhum indivíduo tem a faculdade de criar a langue, nem de modificá-la conscientemente. Ela é como uma armadura dentro da qual nos movimentamos no dia-a-dia da interação humana." *como instituição social* "Como qualquer outra instituição social, a langue se impõe ao indivíduo coercitivamente. Por isso, ela se constitui um elemento de coesão e organização social." "A parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que por si só, não pode criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude de uma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade." A Parole Ao contrário da langue, se constitui de atos individuais, e, por isso, torna-se múltipla, imprevisível, irredutível a uma sistematização.Ora, a Linguística só estuda aquilo que é recorrente, constante. Assim, a heterogeneidade da parole não permite que se haja um estudo sistemático."É a fala (parole) que faz evoluir a língua (langue): são impressões recebidas dos outros que modificam nossos hábitos linguísticos." Conclusão: "A feliz dicotomia língua / fala é o ponto de partida para Saussure postular uma Linguística da língua e uma Linguística da fala (...) sendo que, para o mestre genebrino, a Linguística propriamente dita é aquela cujo único objeto é a langue." Linguística é a ciência que estuda a linguagem verbal humana. Como toda a ciência, ela baseia-se em observações conduzidas através de métodos, com fundamentação em uma teoria. Portanto, a função de um linguista é estudar toda e qualquer manifestação linguística como um fato merecedor de descrição e explicação dentro de um quadro científico adequado. Para um linguista é muito mais interessante uma passagem do tipo: Cumé qui é? a outra: Como é que é? pois as variações linguísticas e seus motivos socio-culturais são, cientificamente, muito mais relevantes do que a norma padrão da língua, isto é, o jeito “correto” de falar. O linguista quer descobrir como a língua funciona, estudando várias dessas línguas, de forma empírica (através de dados baseados na experiência), dando preferência às variações populares faladas em diversas comunidades. Os critérios de coleta, organização, seleção e análise dos dados linguísticos obedecem a uma teoria linguística expressamente formulada para esse fim. Divisões da Linguística 1. Considerando o foco da análise: Linguística Descritiva (ou sincrônica): Fala de uma língua, descrevendo-a simultaneamente no tempo, analisa as relações existentes entre os fatos linguísticos em um estado da língua, além de fornecer dados que confirmam ou não as hipóteses. Modernamente, ela cede lugar à Linguística Teórica, que constrói modelos teóricos, mais do que descreve; Linguística História (ou diacrônica): Analisa as mudanças que a língua sofre através dos tempos, preocupando-se, principalmente, com as transformações ocorridas; Linguística Teórica: Procura estudar questões sobre como as pessoas, usando suas linguagens, conseguem comunicar- se; quais propriedades todas as linguagens têm em comum; qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade linguística é adquirida pelas crianças; Linguística Aplicada: Utiliza conhecimentos da linguística para solucionar problemas, geralmente referentes ao ensino de línguas, à tradução ou aos distúrbios de linguagem. Linguística Geral: Engloba todas as áreas, sem um detalhamento profundo. Fornece modelos e conceitos que fundamentarão a análise das línguas. Signo, Ícone, Índice e Símbolo O SIGNO Um signo intenta representar pelo menos em parte um objeto (referente). O objeto é a causa e o determinante do signo que é sempre: * parcial, incompleto, quer representar o objeto, mas não é o objeto. É algo que está por outra coisa. É uma coisa que representa uma outra coisa. Exemplo seu objeto (mas mão é o objeto). O signo está no lugar do objeto. EXEMPLO: Objeto: casa Signo do objeto casa: Fotografia da casa, planta baixa, palavra casa, desenho da casa, pintura etc... ÍCONE Signo que representa o objeto por similaridade (semelhança), possui as mesmas características que o objeto. Mantém o significado mesmo que o objeto desapareça. É uma signo revelador. Revelação da coisa na coisa é como um eco do objeto. Exemplos de ícones: * Um quadro abstrato (cheio de qualidades: cores, luminosidade, texturas, volumes) * A escultura de um homem * Desenho de uma mulher *Uma fotografia de uma paisagem * A metáfora verbal (por analogia, comparação) é ícone ÍNDICE É um signo que FUNCIONA INDICANDO UMA OUTRA COISA COM A QUAL ESTÁ LIGADO (NÃO POR SEMELHANÇA, MAS POR CONTIGUIDADE (PROXIMIDADE). É como uma marca.. Exemplos: * Um dedo apontando alguma coisa * Uma batida no porta * Fumaça (indica fogo, alguém fumando, etc. ) * Um cata-vento (indica a direção do vento), * Um relâmpago violento, SÍMBOLO Proposta artificial. Signo por convenção, lei. Tem caráter arbitrário. É signo mental. O símbolo está no campo da Terceiridade que refere- se à mente, ao pensamento, isto é, à razão. Não tem relação com a coisa representada. Tem um índice como parte dele e um ícone também. O símbolo se refere ao objeto denotado por associação de ideias produzidas por uma convenção. Exemplos: * A cor verde como símbolo da esperança * A cor vermelha significando paixão * Todas as palavras, frases, livres * Uma senha * Uma entrada de teatro ou cinema SAUSSURE E A LÍNGUA PORTUGUESA Castelar de Carvalho (UFRJ, ABF) A vitalidade do pensamento saussuriano, com o passar do tempo, só tem feito renovar sua atualidade. Nos últimos anos, tem se multiplicado a bibliografia sobre sua doutrina, difundida a partir da publicação do livro clássico Curso de lingüística geral (CLG). As repercussões de suas idéias motrizes, assim como as escolas delas decorrentes, criaram uma metodologia prática e funcional de abordagem dos fatos lingüísticos. Tal metodologia pode ser aplicada com sucesso ao estudo e ao ensino de português, como demonstra o nosso livro Para compreender Saussure, hoje na 12ª edição, contendo os fundamentos e uma visão crítica das iluminadas idéias do genial fundador da Lingüística moderna, além de exercícios com questões relativas à língua portuguesa. Neste artigo, apresentaremos uma síntese de suas célebres dicotomias: semiologia / lingüística, signo: significado / significante, arbitrariedade / linearidade, linguagem: língua / fala (norma), sincronia / diacronia, sintagma / paradigma e o corolário de tudo isso: a noção de valor. Semiologia / Lingüística A Semiologia (ou Semiótica) é a teoria geral dos sinais. Ela difere da Lingüística por sua maior abrangência: enquanto a Lingüística é o estudo científico da linguagem humana, a Semiologia preocupa-se não apenas com a linguagem humana e verbal, mas também com a dos animais e de todo e qualquer sistema de comunicação, seja ele natural ou convencional. Desse modo, a Lingüística insere-se como uma parte da Semiologia. Semiologia e Semiótica são termos permutáveis. A primeira surgiu na Europa, com Saussure, e a segunda, nos Estados Unidos, com o filósofo Charles Sanders Peirce. O signo lingüístico arbitrariedade / linearidade Saussure define o signo como a união do sentido e da imagem acústica. O que ele chama de “sentido” é a mesma coisa que conceito ou idéia, isto é, a representação mental de um objeto ou da realidade social em que nos situamos, representação essa condicionada pela formação sociocultural que nos cerca desde o berço. Em outras palavras, para Saussure, conceito é sinônimo de significado (plano das idéias), algo como o lado espiritual da palavra, sua contraparte inteligível, em oposição ao significante (plano da expressão), que é sua parte sensível. Por outro lado, a imagem acústica “não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som” (CLG, p. 80). Melhor dizendo, a imagem acústica é o significante. Com isso, temos que o signo lingüístico é “uma entidade psíquica de duas faces” (p. 80), semelhante a uma moeda. Mais tarde, Jakobson e a Escola Fonológica de Praga irão estabelecer definitivamente a distinção entre som material e imagem acústica. Ao primeiro chamaram de fone, objeto de estudo da Fonética. À imagem acústica denominaram de fonema, conceito amplamente aceito e consagrado pela Fonologia. Os dois elementos – significante e significado– constituem o signo “estão intimamente unidos e um reclama o outro” (p. 80). São interdependentes e inseparáveis, pois sem significante não há significado e sem significado não existe significante. Exemplificando, diríamos que quando um falante de português recebe a impressão psíquica que lhe é transmitida pela imagem acústica ou significante / kaza /, graças à qual se manifesta fonicamente o signo casa, essa imagem acústica, de imediato, evoca-lhe psiquicamente a idéia de abrigo, de lugar para viver, estudar, fazer suas refeições, descansar, etc. Figurativamente, diríamos que o falante associa o significante / kaza / ao significado domus (tomando-se o termo latino como ponto de referência para o conceito). Quanto ao princípio da arbitrariedade, Saussure (p. 83) esclarece que arbitrário ... não deve dar a idéia de que o significado dependa da livre escolha do que fala, [porque] não está ao alcance do indivíduo trocar coisa alguma num signo, uma vez esteja ele estabelecido num grupo lingüístico; queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade. (grifo nosso) Desse modo, compreendemos por que Saussure afirma que a idéia (ou conceito ou significado) de mar não tem nenhuma relação necessária e “interior” com a seqüência de sons, ou imagem acústica ou significante /mar/. Em outras palavras, o significado mar poderia ser representado perfeitamente por qualquer outro significante. E Saussure argumenta, para provar seu ponto de vista, com as diferenças entre as línguas. Tanto assim que a idéia de mar é representada em inglês pelo significante “sea” /si / e em francês, por “mer” /mér/. Um exemplo bastante representativo da ausência de vínculo natural entre o significante e o significado é o dos verbos depoentes latinos. Nestes, a forma é passiva, entretanto, o sentido é ativo: sequor “sigo” (e não “sou seguido”), utor “uso” (e não “sou usado”). Nestes signos, o grau de arbitrariedade é extremo, não havendo sequer coerência morfossemântica entre o significante e o significado. Na verdade, existem dois sentidos para arbitrário: a) o significante em relação ao significado: livro, book, livre, Buch, liber, biblion, etc. (significantes diferentes para um mesmo significado); b) o significado como parcela semântica (em oposição à totalidade de um campo semântico): ingl. teacher / professor port. professor ingl. sheep / mutton port. carneiro Apesar de haver postulado que o signo lingüístico é, em sua origem, arbitrário, Saussure não deixa de reconhecer a possibilidade de existência de certos graus de motivação entre significante e significado. Em coerência com seu ponto de vista dicotômico, propõe a existência de um “arbitrário absoluto” e de um “arbitrário relativo”. Como exemplo de arbitrário absoluto, o mestre de Genebra cita os números dez e nove, tomados individualmente, e nos quais a relação entre o significante e o significado seria totalmente arbitrária, isto é, essa relação não é necessária, é imotivada. Já na combinação de dez com nove para formar um terceiro signo, a dezena dezenove, Saussure acha que a arbitrariedade absoluta original dos dois numerais se apresenta relativamente atenuada, dando lugar àquilo que ele classificou como arbitrariedade relativa, pois do conhecimento da significação das partes pode-se chegar à significação do todo. O mesmo acontece no par pera / pereira, em que pera, enquanto palavra primitiva, serviria como exemplo de arbitrário absoluto (signo imotivado). Por sua vez, pereira, forma derivada de pera, seria um caso de arbitrário relativo (signo motivado), devido à relação sintagmática pera (morfema lexical) + -eira (morfema sufixal, com a noção de “árvore”) e à relação paradigmática estabelecida a partir da associação de pereira a laranjeira, bananeira, etc., uma vez que é conhecida a significação dos elementos formadores. A respeito da linearidade, este é um princípio que se aplica às unidades do plano da expressão (fonemas, sílabas, palavras), por serem estas emitidas em ordem linear ou sucessiva na cadeia da fala. Esse princípio é a base das relações sintagmáticas, assunto que abordaremos mais adiante. Língua / Fala (norma) Esta é sua dicotomia básica e, juntamente com o par sincronia / diacronia, constitui uma das mais fecundas. Fundamentada na oposição social / individual, revelou-se com o tempo extremamente profícua. O que é fato da língua (langue) está no campo social; o que é ato da fala ou discurso (parole) situa-se na esfera do individual. Repousando sua dicotomia na Sociologia, ciência nascente e já de grande prestígio então, Saussure (p. 16) afirma e adverte ao mesmo tempo: “A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”. Vale lembrar que, para Saussure, a linguagem é a faculdade natural de usar uma língua, “ao passo que a língua constitui algo adquirido e convencional” (p. 17). Do exame exaustivo do Curso, depreendemos três concepções para língua: acervo lingüístico, instituição social e realidade sistemática e funcional. Analisemo-las à luz do CLG. A língua, como acervo lingüístico, é “o conjunto dos hábitos lingüísticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compreender” (p. 92). A língua é “uma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos” (p. 27). E, com todo o respeito a Saussure, acrescentaríamos nós: um dicionário e uma gramática, cuja extensão será proporcional ao conhecimento e à percepção lingüística do falante. Na condição de acervo, a língua guarda consigo toda a experiência histórica acumulada por um povo durante a sua existência. Disso nos dá testemunho o latim, símbolo permanente da cultura e das instituições romanas. Também o português, nos seus oito séculos de existência, acumulou um rico e notável acervo lingüístico e literário. Importante língua de cultura, constitui tesouro comum dos povos irmanados pela lusofonia. Como instituição social, a língua “não está completa em nenhum [indivíduo], e só na massa ela existe de modo completo” (p. 21), por isso, ela é, simultaneamente, realidade psíquica e instituição social. Para Saussure, a língua “é, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (p. 17); é “a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude de uma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade” (p. 22). A visão da língua como realidade sistemática e funcional é o conteúdo mais importante da concepção saussuriana. Para o mestre de Genebra, a língua é, antes de tudo, “um sistema de signos distintos correspondentes a idéias distintas” (p. 18); é um código, um sistema onde, “de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica” (p. 23). Saussure vê a língua como um objeto de “natureza homogênea” (p. 23) e que, portanto, se enquadra perfeitamente na sua definição basilar: “a língua é um sistema de signos que exprimem idéias” (p. 24). Essa concepção da língua como sistema funcional está imbricada com a noção de valor (v. conclusão). A fala, ao contrário da língua, por se constituir de atos individuais, torna-se múltipla, imprevisível, irredutível a uma pauta sistemática. Os atos lingüísticos individuais são ilimitados, não formam um sistema. Os fatos lingüísticos sociais, bem diferentemente, formam um sistema, pela sua própria natureza homogênea. Vale ressaltar, no entanto,que tanto o funcionamento quanto a exploração da faculdade da linguagem estão intimamente ligados às implicações mútuas existentes entre os elementos língua (virtualidade) e fala (realidade). Quanto ao conceito de norma, trata-se de uma contribuição do lingüista romeno Eugenio Coseriu, que propôs um acréscimo à dicotomia saussuriana. Sua tricotomia vai do mais concreto (fala, uso individual da norma) ao mais abstrato (língua, sistema funcional), passando por um grau intermediário: a norma (uso coletivo da língua). Em outras palavras, há realizações consagradas pelo uso e que, portanto, são normais em determinadas circunstâncias lingüísticas, previstas pelo sistema funcional. É à norma que nos prendemos de forma imediata, conforme o grupo social de que fazemos parte e a região onde vivemos. A norma seria assim um primeiro grau de abstração da fala. Considerando-se a língua (o sistema) um conjunto de possibilidades abstratas, a norma seria então um conjunto de realizações concretas e de caráter coletivo da língua. Vejamos alguns exemplos da oposição norma / sistema no português do Brasil. O conhecido [š], chiante pós-vocálica, variante de [s], é norma no Rio de Janeiro em todas as classes sociais: gás [gaš], mês [meš], basta [bašta]. Já no Sul, a pronúncia sancionada pelo uso (ou norma) é marcadamente alveolar: [basta], [mês], [gás]. No campo da Morfologia, o sistema dispõe dos sufixos -ada e -edo, ambos com o sentido de coleção. Enquanto, para designar grande quantidade de bichos, a norma culta prefere o primeiro (bicharada), a norma geral no falar gaúcho consagrou o segundo: bicharedo. O mesmo acontece com os sufixos diminutivos -inho e -ito, ambos disponíveis no sistema funcional: a norma fora do Rio Grande do Sul é dizer-se salaminho; já em terras gaúchas o uso sancionou salamito. No plano sintático, a língua (sistema) portuguesa dispõe dos advérbios já e mais, que, quando usados numa frase negativa, indicam a cessação de um fato ou de uma ação. A norma brasileira preferiu o segundo: “Eu não vou mais”; “Não chove mais”. A portuguesa optou pelo primeiro: “Eu já não vou”; “Já não chove”. O português do Brasil prefere descrever um fato em progressão dizendo: “Estou estudando” (aux. + gerúndio); já em Portugal, a norma é usar-se aux. + infinitivo: “Estou a estudar”. Ainda com relação à norma brasileira, não podemos deixar de mencionar o uso consagrado do verbo ter no lugar de haver, com o sentido de “existir”, uso inclusive já referendado por vários autores brasileiros de peso, como Carlos Drummond de Andrade (“No meio do caminho tinha uma pedra”) e Manuel Bandeira (“Em Pasárgada tem tudo”), dentre outros. Nesse sentido, cabe ressaltar que certos deslocamentos da norma, constantes e repetidos, podem, com o tempo, fazer evoluir (mudar) a língua. É o que vem ocorrendo, por exemplo, com a pronúncia do adjetivo “ruim”. A norma gramatical em vigor recomenda pronunciá-lo como hiato: ruím. Entretanto, a norma geral no português do Brasil é a sua realização como ditongo: rúim, malgrado os esforços da escola. É possível que no futuro seja esta a única pronúncia em vigor, tanto no sistema (língua) quanto na norma (uso). Tipos de Norma As variantes coletivas (ou subcódigos) dentro de um mesmo domínio lingüístico dividem-se em dois tipos principais: diatópicas (variantes ou normas regionais ) e diastráticas (variantes culturais ou registros). As variantes diatópicas caracterizam as diversas normas regionais existentes dentro de um mesmo país e até dentro de um mesmo estado, como o falar gaúcho, o falar mineiro, etc. Por exemplo, “cair um tombo”, no Rio Grande do Sul; “levar um tombo”, no Rio de Janeiro. As variantes diastráticas, intimamente ligadas à estratificação social, evidenciam a variedade de diferenças culturais dentro de uma comunidade e podem subdividir-se em norma culta padrão (ou nacional), norma coloquial (tensa ou distensa) e norma popular (também chamada de vulgar). A norma culta é a modalidade escrita empregada na escola, nos textos oficiais, científicos e literários. Baseada na tradição gramatical, é a variante de maior prestígio sociocultural. Ex.: Há muito tempo não o vejo. Vendem-se carros. Havia dez alunos em sala. A norma coloquial é aquela empregada oralmente pelas classes médias escolarizadas. Viva e espontânea, seu grau de desvio em relação à norma culta pode variar conforme as circunstâncias de uso. Ex.: Tem muito tempo que não lhe vejo / não vejo ele. Vende-se carros. Tinha dez alunos em sala. A norma popular caracteriza a fala das classes populares semi-escolarizadas ou não-escolarizadas. Nessa modalidade, o desvio em relação à norma gramatical é maior, caracterizando o chamado “erro”. Ex.: A gente fomos na praia. Dois cachorro-quente custa três real. Há também as variantes diafásicas, que dizem respeito aos diversos tipos de modalidade expressiva (familiar, estilística, de faixa etária, etc.). Constatamos assim a pertinência da divisão tripartida de Coseriu. Todos os exemplos citados, quer caracterizando o falar de uma região, quer identificando o próprio português do Brasil, mostram a propriedade e a conveniência do fator intermediário norma entre a fala e a língua, fator este que tem por princípio realizar e dinamizar o sistema funcional (língua). Ressalve-se, contudo, que a concepção saussuriana da língua como instituição social se aproxima, de certo modo, da teoria da norma de Coseriu. Sincronia / Diacronia A sincronia é o eixo das simultaneidades, no qual devem ser estudadas as relações entre os fatos existentes ao mesmo tempo num determinado momento do sistema lingüístico, que pode ser tanto no presente quanto no passado. Em outras palavras, sincronia é sinônimo de descrição, de estudo do funcionamento da língua. Por outro lado, no eixo das sucessividades ou diacronia, o lingüista tem por objeto de estudo a relação entre um determinado fato e outros anteriores ou posteriores, que o precederam ou lhe sucederam. E Saussure adverte que tais fatos (diacrônicos) “não têm relação alguma com os sistemas, apesar de os condicionarem” (p. 101). Em outras palavras, o funcionamento sincrônico da língua pode conviver harmoniosamente com seus condicionamentos diacrônicos. Acrescente-se ainda que a diacronia divide-se em história externa (estudo das relações existentes entre os fatores socioculturais e a evolução lingüística) e história interna (trata da evolução estrutural – fonológica e morfossintática – da língua). Saussure considera prioritário o estudo sincrônico porque o falante nativo não tem consciência da sucessão dos fatos da língua no tempo. Para o indivíduo que usa a língua como veículo de comunicação e interação social, essa sucessão não existe. A única e verdadeira realidade tangível que se lhe apresenta de forma imediata é a do estado sincrônico da língua. Além disso, como a relação entre o significante e o significado é arbitrária, estará continuamente sendo afetada pelo tempo, daí a necessidade de o estudo da língua ser prioritariamente sincrônico. Sirva de exemplo o substantivo romaria, que significava originalmente “peregrinação a Roma para ver o Papa”. Hoje, no entanto, é usado unicamente para designar “peregrinação religiosa em geral”. Entre nós, por exemplo, são muito comuns as romarias a Aparecida do Norte, em São Paulo. Advirta-se, contudo, o seguinte: Saussure postula a prioridade da sincronia e, convém lembrar, prioridade não significa exclusividade. De nossa parte, entendemos a distinção sincronia / diacronia unicamente como procedimentos metodológicos de análise lingüística. A esse respeito, ouçamos as ponderações, até certo ponto premonitórias, do próprio Saussure (p. 16): A cada instante, a linguagemimplica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela é uma instituição atual e um produto do passado. A língua, portanto, será sempre sincronia E diacronia em qualquer momento de sua existência. O ponto de vista da ciência lingüística é que poderá ser OU sincrônico OU diacrônico, dependendo do fim que se pretende atingir. E há determinados casos, por exemplo, em que a descrição sincrônica pode perfeitamente ser conjugada com a explicação diacrônica, enriquecendo-se, desse modo, a análise feita pelo lingüista. Por exemplo, podemos descrever o verbo pôr como pertencente à segunda conjugação, apelando para as formas sincrônicas atuais pões, põe, puseste, etc., além dos adjetivos poente e poedeira, nos quais o -e- medial aí existente (ou remanescente) funciona estruturalmente como vogal temática. Ao mesmo tempo, podemos enriquecer a descrição sincrônica, complementando-a com a explicação diacrônica: o atual verbo pôr já foi representado pelo infinitivo arcaico poer, que, por sua vez, se vincula ao latim vulgar ponere, com a seguinte cadeia evolutiva: poněre > ponēre > poner > põer > poer > pôr. Encarados sob essa perspectiva, os pontos de vista sincrônico e diacrônico não são excludentes, ao contrário, são complementares. Seja como for, vale registrar que Saussure, deixando de se preocupar com o processo pelo qual as línguas se modificam, para tentar saber o modo como elas funcionam, deu, coerentemente, primazia ao estudo sincrônico, ponto de partida para a Lingüística Geral e o chamado método estruturalista de análise da língua. Sintagma / Paradigma Para Saussure, tudo na sincronia se prende a dois eixos: o associativo (= paradigmático) e o sintagmático. As relações sintagmáticas baseiam-se no caráter linear do signo lingüístico, “que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo” (p. 142). A língua é formada de elementos que se sucedem um após outro linearmente, isto é, “na cadeia da fala” (p. 142). À relação entre esses elementos Saussure (p. 142) chama de sintagma: O sintagma se compõe sempre de duas ou mais unidades consecutivas: re-ler, contra todos, a vida humana, Deus é bom, se fizer bom tempo, sairemos, etc. Colocado na cadeia sintagmática, um termo passa a ter valor em virtude do contraste que estabelece com aquele que o precede ou lhe sucede, “ou a ambos”, visto que um termo não pode aparecer ao mesmo tempo que outro, em virtude do seu caráter linear. Em “Hoje fez calor”, por exemplo, não podemos pronunciar a sílaba je antes da sílaba ho, nem ho ao mesmo tempo que je; lor antes de ca, ou ca simultaneamente com lor é impossível. É essa cadeia fônica que faz com que se estabeleçam relações sintagmáticas entre os elementos que a compõem. Como a relação sintagmática se estabelece em função da presença dos termos precedente e subseqüente no discurso, Saussure a chama também de relação in præsentia. Por outro lado, fora do discurso, isto é, fora do plano sintagmático, se, em “Hoje fez calor”, dizemos hoje pensando opô-lo a outro advérbio, ontem, por exemplo, ou fez em oposição a faz, e calor a frio, estabelecemos uma relação paradigmática associativa ou in absentia, porque os termos ontem, faz e frio não estão presentes no discurso. São elementos que se encontram na nossa memória de falante “numa série mnemônica virtual”, conforme esclarece Saussure na pág. 143 do CLG. O paradigma é assim uma espécie de “banco de reservas” da língua, um conjunto de unidades suscetíveis de aparecer num mesmo contexto. Desse modo, as unidades do paradigma se opõem, pois uma exclui a outra: se uma está presente, as outras estão ausentes. É a chamada oposição distintiva, que estabelece a diferença entre signos como gado e gato ou entre formas verbais como estudava e estudara, formados respectivamente a partir da oposição sonoridade / não-sonoridade e pretérito imperfeito / mais-que-perfeito. A noção de paradigma suscita, pois, a idéia de relação entre unidades alternativas. É uma espécie de reserva virtual da língua. Define-se o sintagma como “a combinação de formas mínimas numa unidade lingüística superior”. Trata-se, portanto, de relações (relação = dependência, função) onde o que existe, em essência, é a reciprocidade, a coexistência ou solidariedade entre os elementos presentes na cadeia da fala. Essas relações sintagmáticas ou de reciprocidade existem, a nosso ver, em todos os planos da língua: fônico, mórfico e sintático, ao contrário do que deixa entrever a definição do próprio Saussure, que nos induz a conceber o sintagma apenas nos planos mórfico e sintático. Sendo assim, o sintagma, em sentido lato, é toda e qualquer combinação de unidades lingüísticas na seqüência de sons da fala, a serviço da rede de relações da língua. Por exemplo, no plano fônico, a relação entre uma vogal e uma semivogal para formar o ditongo (ai /ay/); no nível mórfico, a própria palavra, com seus constituintes imediatos, é um sintagma lexical (am + a + va + s); sintaticamente, a relação sujeito + predicado caracteriza o sintagma oracional (Pedro / estudou a lição.). Uma Visão Estilística No plano da expressão, as relações paradigmáticas operam com base na similaridade de sons. É o caso das rimas (“Mas que dizer do poeta / numa prova escolar? / Que ele é meio pateta / e não sabe rimar?”, Carlos Drummond de Andrade), aliterações (“Vozes veladas, veludosas vozes”, Cruz e Sousa), assonâncias (“Tíbios flautins finíssimos gritavam”, Olavo Bilac), homoteleutos [ou homeoteleutos] (“Rita não tem cultura, mas tem finura”, Machado de Assis). No plano do conteúdo, as relações paradigmáticas baseiam-se na similaridade de sentido, na associação entre o termo presente na frase e a simbologia que ele desperta em nossa mente. É o caso da metáfora: “O pavão é um arco-íris de plumas.” (Rubem Braga), ou seja, arco-íris = semicírculo ou arco multicor. Embora presente no texto em prosa, a metáfora é mais usual na poesia. Já a metonímia, mais comum na prosa, por basear-se numa relação de contigüidade de sentido, atua no eixo sintagmático. Ex.: O autor pela obra: “Gosto de ler Machado de Assis”; a parte pelo todo: “Os desabrigados ficaram sem teto” (= casa); o continente pelo conteúdo: “Tomei um copo de vinho” (o vinho contido no copo), etc. Conclusão A visão saussuriana da língua como um sistema de valores está intimamente associada à sua célebre frase: “na língua só existem diferenças”, ou seja , ela funciona sincronicamente e com base em relações opositivas (paradigmáticas) no sistema e contrastivas (sintagmáticas) no discurso. Tendo como ponto de partida as idéias motrizes contidas no Curso de lingüística geral, formaram-se várias escolas estruturalistas (fonológica de Praga, estilística de Genebra, funcionalista de Paris, glossemática de Copenhague), que deram conseqüência e continuidade ao pensamento infelizmente inacabado do genial fundador da Lingüística moderna. A visão da língua como um sistema semiológico, a teoria do signo, com seus dois princípios fundamentais: arbitrariedade / linearidade, a diferença entre sincronia (funcionamento) e diacronia (evolução), a distinção fonética / fonologia, fone / fonema, a dupla articulação da linguagem (1ª = plano do conteúdo ou morfossintaxe; 2ª = plano da expressão ou fonologia), as noções de morfema e gramema, a tricotomia língua / fala / norma são categorias lingüísticas extremamente férteis, todas decorrentes do pensamento de Saussure e hoje definitivamente incorporadas às ciências da linguagem. A linguagem, uma eficiente forma de comunicação, é elemento fundamental para estabelecermos comunicação com outras pessoas. Por ser múltipla e apresentar peculiaridades de acordo com a intenção do falante, divide-se em seis funções: Funçãoreferencial ou denotativa: transmite uma informação objetiva, expõe dados da realidade de modo objetivo, não faz comentários, nem avaliação. Geralmente, o texto apresenta-se na terceira pessoa do singular ou plural, pois transmite impessoalidade. A linguagem é denotativa, ou seja, não há possibilidades de outra interpretação além da que está exposta. Em alguns textos é mais predominante essa função, como: científicos, jornalísticos, técnicos, didáticos ou em correspondências comerciais. Por exemplo: “Bancos terão novas regras para acesso de deficientes”. O Popular, 16 out. 2008. Função emotiva ou expressiva: o objetivo do emissor é transmitir suas emoções e anseios. A realidade é transmitida sob o ponto de vista do emissor, a mensagem é subjetiva e centrada no emitente e, portanto, apresenta-se na primeira pessoa. A pontuação (ponto de exclamação, interrogação e reticências) é uma característica da função emotiva, pois transmite a subjetividade da mensagem e reforça a entonação emotiva. Essa função é comum em poemas ou narrativas de teor dramático ou romântico. Por exemplo: “Porém meus olhos não perguntam nada./ O homem atrás do bigode é sério, simples e forte./Quase não conversa./Tem poucos, raros amigos/o homem atrás dos óculos e do bigode.” (Poema de sete faces, Carlos Drummond de Andrade) Função conativa ou apelativa: O objetivo é de influenciar, convencer o receptor de alguma coisa por meio de uma ordem (uso de vocativos), sugestão, convite ou apelo (daí o nome da função). Os verbos costumam estar no imperativo (Compre! Faça!) ou conjugados na 2ª ou 3ª pessoa (Você não pode perder! Ele vai melhorar seu desempenho!). Esse tipo de função é muito comum em textos publicitários, em discursos políticos ou de autoridade. Por exemplo: Não perca a chance de ir ao cinema pagando menos! Função metalinguística: Essa função refere-se à metalinguagem, que é quando o emissor explica um código usando o próprio código. Quando um poema fala da própria ação de se fazer um poema, por exemplo. Veja: “Pegue um jornal Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo.” Este trecho da poesia, intitulada “Para fazer um poema dadaísta” utiliza o código (poema) para explicar o próprio ato de fazer um poema. Função fática: O objetivo dessa função é estabelecer uma relação com o emissor, um contato para verificar se a mensagem está sendo transmitida ou para dilatar a conversa. Quando estamos em um diálogo, por exemplo, e dizemos ao nosso receptor “Está entendendo?”, estamos utilizando este tipo de função ou quando atendemos o celular e dizemos “Oi” ou “Alô”. Função poética: O objetivo do emissor é expressar seus sentimentos através de textos que podem ser enfatizados por meio das formas das palavras, da sonoridade, do ritmo, além de elaborar novas possibilidades de combinações dos signos lingüísticos. É presente em textos literários, publicitários e em letras de música. Por exemplo: negócio/ego/ócio/cio/0 Na poesia acima “Epitáfio para um banqueiro”, José de Paulo Paes faz uma combinação de palavras que passa a ideia do dia a dia de um banqueiro, de acordo com o poeta. Durante este período de ausência de post no blog estive analisando as entradas para ele. Mais de 80% delas advêm de pesquisas google feitas no Brasil e em Portugal, pelas quais sou muito agradecida. Tal análise me permitiu verificar quais os temas que mais freqüentemente motivaram essas buscas, e no que se refere aos assuntos já tratados, pude perceber que, sobre os signos, faltou esclarecer um pouco mais sobre a arbitrariedade, uma vez que não se falou sobre arbitrariedade absoluta e arbitrariedade relativa. Bem, condição de arbitrariedade, como vimos, está diretamente ligada ao fato de o signo ser ou não motivado. Quando se fala arbitrariedade absoluta diz-se total falta de motivação, e, quando se diz arbitrariedade relativa, diz-se, também, motivação relativa ou, considera-se ter havido aí alguma ligação motivada entre significado e significante. Mas, para que fiquem bem claros estes conceitos, e sobre eles não paire a menor dúvida, faz-se necessária à compreensão precisa do termo motivação dentro da perspectiva saussuriana. Nós temos alguns elementos que nos servem de sinal; de representatividade de algo mais que não está explícito totalmente no elemento que o representa. Estes elementos representativos; sinais, tanto podem ser de caráter natural, quanto convencional. Os sinais de caráter natural são aqueles que nos servem de indícios dos fenômenos naturais, como, por exemplo, a fumaça, que nos indica a presença do fogo, ou o trovão, que nos aponta para a possibilidade de chuva. Os sinais de caráter convencional são aqueles que a sociedade contratou, concordou, a partir de algum momento, que seria o que melhor representaria, dentro daquela realidade de fala, uma idéia tal. O ícone, o símbolo e o signo são esses sinais criados dentro da coletividade de fala. Por ser totalmente imagístico, o ícone é totalmente motivado, isto porque só se faz uma imagem a partir de um dado elemento. A foto de Maria deve consistir na impressão da imagem de Maria. O mesmo ocorre com a estatueta de um pássaro, ela deve consistir num conjunto de características inerentes àquele pássaro que pretende representar. O ícone deve impressionar os sentidos de forma tal que não permita confusão alguma no momento de identificá-lo e saber o que ele representa. Ele é motivado por aquilo que representa. O símbolo é menos motivado, isto porque não tem que representar uma idéia exclusiva, mas uma idéia genérica. Dessa forma, uma pomba branca pode trazer a idéia de paz, seja lá o que for que a paz signifique para quem a percebe. De igual modo têm-se uma balança para representar a justiça, independente do conceito que cada indivíduo tenha deste termo. Assim, qualquer balança serve para trazer a idéia de justiça, mas, nem toda imagem de ave serve para representar um falcão. Por isso diz-se do símbolo que é relativamente motivado. O signo não possui motivação nenhuma, por isso é totalmente arbitrário, porque o nome em nada está ligado ao objeto nomeado. Uma criança pode ser, ao mesmo tempo, um menino, uma garota, um guri ou um piá. Todos esses signos representam bem a idéia de infante. E, poderíamos, ainda, considerar que, cada idioma tem seu conjunto próprio de signos para designar a mesma idéia. Isto prova que o signo não está ligado ao que representa de forma motivada, mas imotivada. Porém, quando temos o numeral dez e o numeral nove, temos dois signos absolutamente arbitrários. Mas, quando temos o numeral dezenove, a arbitrariedade torna-se relativa, isto porque dezenove é a junção de dois conceitos distintos que são representados por signos diferentes. O signo que surge dessa junção é fiel às idéias contidas nos signos anteriormente separados, e aí está a motivação.
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