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SOCIOLINGUÍSTICA 1 SUMÁRIO 2 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 5 2.1 Funcionalismo e sua ligação com o formalismo .................................................... 5 2.2 Domínios de fatos linguísticos .............................................................................. 9 3 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS ....................................... 13 3.1 Modalidade linguísticas e variações ................................................................... 15 3.2 Diatópica: variações regionais ou geográficas .................................................... 16 3.3 Diacrônica: variações de linguística histórica ...................................................... 17 3.4 Diastrática: variações de linguística social .......................................................... 18 3.5 Variação de registro, estilística ou diafásica ....................................................... 19 3.6 Diferentes níveis de linguagem ........................................................................... 19 3.6.1 Linguagem informal ...................................................................... 19 3.6.2 Linguagem formal ......................................................................... 20 3.7 Preconceito linguístico ........................................................................................ 21 3.8 Conceitos básicos de morfologia ........................................................................ 22 3.9 Contribuições históricas dos estudos morfológicos ............................................ 23 3.10 Estrutura das palavras ................................................................................. 25 4 AS PALAVRAS E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS .................................... 29 4.1 Elementos básicos e significativos – Raiz, Radical e Tema ................................ 29 4.2 Elementos constitutivo das palavras – prefixo, sufixo e afixo ............................. 35 5 ETNOMETOLOGIA ................................................................................................. 38 5.1 Análise da conversação no Brasil ....................................................................... 39 5.2 Perspectiva da Análise da Conversação............................................................. 40 5.2 Sistemas de turnos de fala .................................................................................. 41 5.3 Princípio da alternância....................................................................................... 42 5.4 Mudança de turno ............................................................................................... 44 5.5 Sobre a ordem do “sucessor” .............................................................................. 45 6 SUBJETIVIDADE DA LINGUAGEM ........................................................................ 47 6.1 Sujeito e Discurso ............................................................................................... 48 6.2 Sujeito e discurso segundo Foucault .................................................................. 48 6.3 Sujeito e discurso segundo Pêcheux .................................................................. 50 6.4 Análise do Discurso ............................................................................................ 51 7 O NOME E SUAS FUNÇÕES ................................................................................. 55 7.1 O substantivo ...................................................................................................... 55 7.2 Substantivos Uniformes em Gênero ................................................................... 58 7.3 Adjetivos ............................................................................................................. 60 8 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 63 8.1 Predicação verbal ............................................................................................... 63 8.2 Verbo transitivo e seus objetos ........................................................................... 65 8.3 Verbos de ligação e o predicativo ....................................................................... 66 8.4 Tipos de predicado ............................................................................................. 67 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 71 Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 2 INTRODUÇÃO Na linguística, há muito debate sobre qual abordagem teórica é melhor para entender os fenômenos da linguagem. Estudiosos formalistas e funcionalistas sempre enfrentaram argumentos e tentaram defender suas propostas. A linguística como ciência evoluiu do debate e conflito de teorias sobre ideias. Nesta unidade, aprenderemos sobre a perspectiva teórica do funcionalismo, suas diferenças em relação ao formalismo e as complementaridades entre esses paradigmas. O campo funcionalista examina a relação entre pronúncia, raciocínio e ensino. Além disso, também são explorados os conceitos de iconografia, marcação, transitividade, informacionalidade, gramaticalização e discurso. 2.1 Funcionalismo e sua ligação com o formalismo O funcionalismo na linguística é um movimento caracterizado pela crença de que as estruturas fonológicas, gramaticais e semânticas da linguagem são determinadas pelas funções que a linguagem desempenha na sociedade. Comum a várias terapias funcionalistas é a crença de que a estrutura da fala é determinada pela aplicação em que é usada e pelo contexto comunicativo em que ocorre. Segundo Trask (2004, p. 120-121), o funcionalismo é “[…] qualquer abordagem na descrição da estrutura linguística que dá importância aos propósitos para os quais a linguagem é empregada”. Muitas abordagens se concentram nas características puramente estruturais das línguas, negligenciando suas funções potenciais. Na atualidade, muitos linguistas escolhem associar a pesquisa da estrutura com investigação da função. Um exemplo de abordagens funcionalista é a role and reference grammar, elaborada por William Foley e Robert Van Valin, que faz uma descrição linguística e pergunta quais objetivos comunicativos devem ser abordados e quais meios gramaticais estão disponíveis para isso; e a linguística sistêmica, desenvolvida por Michael Halliday, que estuda a estrutura de uma grande unidade de linguagem, texto ou discurso. Para Jakobson (2005), a linguagem denota uma variedade de funções, e devemos levar em consideração os elementos constitutivos do ato de comunicação, como ilustra a Figura 1. Figura 1 – Elementos constitutivos da comunicação Fonte:Brandão (2023), documento on-line. Para haver comunicação eficiente é necessário que a mensagem preencha as condições a seguir: - Ter uma conjuntura na qual o destinatário entenda o contexto, por exemplo, o conteúdo de uma mensagem que se refere a informações da realidade. Para que o destinatário entenda a mensagem, deve saber a quantidade de informação dos elementos e a informação relativa ao momento de retorno da mensagem, que está relacionado com o conhecimento do assunto em questão. Para este grupo, são informações que podemos chamar de contexto. - Conter um código que seja conhecido pelo remetente e pelo destinatário como sinais ou signos que foram convencionados para promover a comunicação (português, língua de sinais, sinalização de trânsito, por exemplo). - Conter um canal físico e uma conexão psicológica entre remetente e destinatário que permitam a troca de informações. Por exemplo: como o meio pelo qual a mensagem é transmitida (telefone e e-mail). Existem seis funções da linguagem estabelecidas por Jakobson (1991): 1. Função referencial: transmissão de informações do remetente ao destinatário. Um recurso orientado ao contexto, como nas notícias apresentadas nos jornais. 2. Função emotiva: também chamada de expressiva, concentra-se no remetente para a manifestação dos sentimentos do remetente, sendo que o sentimento é refletido na mensagem. Isso se expressa por interjeições, adjetivos, advérbios, pontuação, como, por exemplo, na narração de uma partida de futebol. 3. Função conotativa: É centralizada no destinatário, que se expressa de modo a influenciar o comportamento desse destinatário por meio de uma orientação. Representada pelos imperativos, vocativos pela segunda pessoa. A exemplo disso são os casos de discurso publicitário. 4. Função fática: centrado no canal, consiste em iniciar, continuar ou parar um ato de comunicação. A função fática também está presente em todo o texto publicitário, pois o objetivo é manter contato com o leitor, outro exemplo é o “alô” no telefone. 5. Função metalinguística: refere-se ao próprio código usado, usa linguagem para se referir ao próprio idioma, como os verbetes de dicionário. O código vai além da linguagem em si, geralmente inclui linguagens que organizam os sinais em uma mensagem que se move pelo canal entre o envio e o recebimento. 6. Função poética: centrada na mensagem, enfoca a mensagem e sua forma. Não se resume à poesia, apesar de esta ser sua principal representante. Reforça a expressividade e a eficácia da mensagem. Por exemplo: “O cravo brigou com a rosa/ defronte de uma sacada/ — Ai! Cantigas esquecidas, / crianças de mãos trançadas” (FENSKE, 2015, documento on-line). Para os funcionalistas, a linguagem é um instrumento de interação social. E seus interesses estão na pesquisa. “[…] vai além da estrutura gramatical, buscando na situação comunicativa – que envolve os interlocutores, seus propósitos e o contexto discursivo – a motivação para os fatos da língua” (MARTELOTTA, 2011, p. 157). Na análise funcionalista, enunciados e textos referem-se às funções que desempenham na comunicação, trabalhando com fala real ou dados escritos. Segundo Martelotta (2011, p. 158) destaca que as características do funcionalismo é a de que a visão de linguagem não constitui um conhecimento específico, mas um complexo conjunto de atividades comunicativas, sociais e cognitivas. O modelo funcionalista caracteriza-se por duas propostas básicas: a língua desempenha funções que são externas ao sistema linguístico em si; e as funções externas influenciam a organização interna do sistema linguístico. Na sua origem, funcionalismo emerge como um movimento particular no estruturalismo, enfatizando o papel da função das unidades linguísticas. Atribui-se aos membros do Círculo linguístico de Praga os primeiros estudos na linha funcionalista. Eles enfatizaram o caráter multifuncional da linguagem. O funcionalismo também teve representações em outras correntes, como a Escola de Genebra, a Escola de Londres e o Grupo Holandês. De acordo com Martelotta, (2011) a linha funcionalista linguística norte- americana teve como iniciador Dwight Bolinger, que impulsionou o funcionalismo com suas análises de fenômenos particulares, como em seu estudo pioneiro sobre a pragmática da ordenação das palavras na cláusula. Já anos 1970, o funcionalismo busca explicar a língua com base no contexto linguístico e na situação extralinguística. Isto é percebido na vinculação entre discurso e gramática: [...] as regras da gramática são modificadas pelo uso (isto é, as línguas variam e mudam) e, portanto, é necessário observar a língua como ela é falada. Dessa forma, a análise dos processos de variação e mudança linguística consiste em uma das áreas de interesse preferido da linguística funcional (MARTELOTTA, 2011, p. 164). As duas correntes de pensamento linguístico, funcionalismo e formalismo, diferem porque no funcionalismo a função das formas linguísticas desempenha um papel dominante, e no formalismo a análise da forma domina em detrimento dos interesses funcionais. O funcionalismo difere das abordagens formalistas porque entende a linguagem como um meio de comunicação social e está interessado nos fatos e motivações do uso da linguagem em um contexto linguístico. No funcionalismo, é possível explicar o uso interativo da linguagem analisando as condições discursivas em que esse uso ocorre. Além da descrição sintática, visa investigar as condições discursivas que envolvem as estruturas linguísticas. Portanto, os usos da linguagem formam um sistema. O formalismo estuda a autonomia da linguagem, sintaxe, com função independente de sua semântica e pragmática. Por outro lado, os funcionalistas consideram as formas linguísticas não autônomas porque se originam de processos reais de comunicação. Os formalistas não estão preocupados com a relação entre a linguagem e seu ambiente; a operação visa destacar as relações entre as formas linguísticas e a interação social. Ao analisar a linguagem, os formalistas abordam a gramática tradicional concentrando-se nos níveis: fonética, fonologia, morfologia e sintaxe. Os funcionalistas analisam como as necessidades sociais influenciam a construção da sintaxe, como a entonação. Segundo Neves (1997, p. 43) "[...] essas sub-regiões não estão relacionadas entre si por tamanho e estrutura, mas por características mutuamente controladas, como curvas de entonação típicas de certos padrões gramaticais em certas regiões do discurso. Por exemplo, discursos políticos". Apesar de suas diferenças, eles são complementares porque os dois fluxos não examinam objetos diferentes, mas escolhem diferentes fenômenos do mesmo objeto. 2.2 Domínios de fatos linguísticos De acordo com Fiorin (2010), o sistema de linguagem tem opções semânticas e fônicas, bem como regras combinatórias. A pragmática nasceu da necessidade de estudar o uso da linguagem. A pragmática estuda a prática e a estrutura da linguagem e a relação entre seu uso. O ponto de partida nesta área foram os trabalhos de John Austin e Paul Grice. Conforme Jacques Moeschler e Anne Reboul (1994), há três domínios de fatos linguísticos que requerem a introdução de uma dimensão pragmática nos estudos da linguagem: fatos de enunciação, inferências e instrução. É fundamental estudar o uso, pois quando existe a troca verbal, comunica-se muito mais do que as palavras significam. Enunciação A enunciação apresenta enunciados (realizações linguísticas concretas). Certos enunciados não designam um objeto ou evento, mas fazem referência a si, o que é denominado de função autorreferencial. Portanto, isso significa dizer que há fatos linguísticos que só são entendidos em função do ato de enunciar, como os relacionados a seguir: • Dêiticos: indica o lugar ou o tempo em que um enunciado é produzidoou então os participantes de uma enunciação. São dêiticos os pronomes que indicam os participantes da comunicação; os marcadores de espaço, como os advérbios de lugar e os pronomes demonstrativos; e os marcadores de tempo. Com os dêiticos, é preciso conhecer a situação de uso. • Enunciados performativos: são os que realizam a ação por eles nomeada, como promessas, ordens, juramentos. A enunciação faz parte da significação. • Conectores: conectam ou explicam os atos enunciativos, como em “Joana pedirá aposentadoria, mas é segredo”. • Certas negações: quando se diz “Não gosto de balas, adoro-as”, a negação incide sobre sua acertabilidade, sobre a possibilidade de sua afirmação. É a enunciação dos termos posta em questão. • Advérbios de enunciação: no exemplo “Infelizmente, não posso fazer nada”, o advérbio não modifica o verbo, mas qualifica o ato de dizer como infeliz. Inferência Na inferência, vemos enunciados que desencadeiam uma sequência de implicações. As implicações não existem fisicamente, mas imbuem as declarações de significado. O orador é capaz de entender uma determinada afirmação e raciocinar nas entrelinhas. Quando falo “Joana é minha sobrinha”, o enunciado implica “Sou tia de Joana”. Em outros casos, a comunicação não é literal e só pode ser entendida dentro do contexto: é quando os falantes comunicam mais do que as palavras significam. Por exemplo, quando a mãe diz para o filho “A lata de lixo está cheia!”, ela não está fazendo uma constatação, mas indicando que ele deve levar o lixo para fora. Instrução Na instrução trata-se de palavras do discurso, conectores, conjunções, preposições, advérbios e outros que, conforme aparecem nos enunciados, instruem sobre a maneira de interpretá-los. Veja os exemplos de que o “mas” dá a instrução de oposição ou restrição ao que foi dito. As aulas acabaram, mas vou estudar nas férias. As aulas acabaram, mas a biblioteca está funcionando. As aulas acabaram, mas por que ainda estamos na escola? Entre os princípios e as categorias centrais do funcionalismo norte-americano estão: iconicidade, marcação, transitividade, informatividade, gramaticalização e discursivização. Nós nos expressamos através da linguagem na vida cotidiana. A estrutura gramatical que produzimos para funcionar é motivada pela situação comunicativa, havendo uma correlação entre o código linguístico (expressão) e seu conteúdo. Essa relação entre forma e função é chamada de iconicidade. Conforme os linguistas Cunha, Oliveira e Martelotta (2003, p. 30), “Os linguistas funcionais defendem a ideia de que a estrutura da língua reflete, de algum modo, a estrutura da experiência. Como a linguagem é uma faculdade humana, a suposição geral é que a estrutura linguística revela as propriedades da conceitualização humana do mundo ou as propriedades da mente humana”. A iconicidade manifesta-se em três subprincípios, relacionados à quantidade de informação, ao grau de integração dos constituintes da expressão e do conteúdo, e à ordenação linear dos segmentos. Por isso, permite investigar detalhadamente as condições que orientam os usos dos recursos de codificação morfossintática da língua. Subprincípio da quantidade Subprincípio da quantidade indica que quanto mais informações houver, maior será a quantidade da forma. A complexidade do pensamento se reflete na complexidade da expressão. Neste exemplo a seguir, temos a repetição do verbo; é como o falante expressa a intensidade da ação descrita (CUNHA, 2003): …o gato correu da sua dona… fugiu… e a dona atrás dele… correram… correram… correram. Subprincípio da integração Isso denota que o conteúdo cognitivamente mais próximo é melhor integrado na codificação. O que é mentalmente próximo é sintaticamente próximo. Esse subprincípio pode ser percebido no grau de integração que o verbo da subordinada apresenta em relação à oração principal. Vejamos o exemplo a seguir (CUNHA, 2003): Maria ordenou: fique aqui. Maria fez a filha ficar ali. A filha não queria ficar ali. Subprincípio da ordenação linear A ordenação das orações no discurso apresenta a sequência temporal em que os eventos descritos ocorreram. No exemplo a seguir, a ordenação das orações reflete a sequência temporal em que a receita é preparada (CUNHA, 2003): Sabe como faz um molho de tomates… corta os tomates… corta as carnes… cozinha o molho… Marcação Marcado e não marcado são termos desenvolvidos pela Escola de Praga. Esse princípio designa três critérios principais em um contraste gramatical binário: a complexidade estrutural, a distribuição de frequência e a complexidade cognitiva. Por exemplo, no nível sintático, o conceito de marcação expõe as consequências no uso da língua. Como no exemplo a seguir (CUNHA, 2003). Eu uso esta sandália. Esta sandália eu uso. A segunda sentença é mais marcada, por ser menos comum que a primeira no que se refere à ordenação: sujeito, verbo, objeto. Transitividade A transitividade é pertinente a uma função pragmática A maneira como o falante organiza seu texto também é determinada por seus objetivos comunicativos e pela percepção das necessidades do interlocutor. Assim, o texto distingue entre centrais e periféricos. Segundo Cunha, Oliveira e Martelotta (2003, p. 39), o grau de transitividade de uma oração reflete sua função discursiva característica, de modo que orações com alta transitividade assinalam porções centrais do texto, correspondentes à figura, enquanto orações com baixa transitividade marcam as porções periféricas, correspondentes ao fundo. Existe, portanto, uma correlação forte entre a marcação gramatical dos parâmetros da transitividade e a distinção entre figura e fundo. Informatividade Informatividade trata-se do que os interlocutores compartilham, ou acham que compartilham, na interação verbal. Uma pessoa comunica-se para informar outra sobre alguma coisa, que pode ser do mundo externo ou do seu mundo interno. Um sintagma nominal pode ser classificado como dado, novo, disponível e inferível. Referente dado Refere-se a uma informação já mencionada no texto. “Aí o coroinha da igreja falou que… (//) não sabia quem tinha levado a imagem”. Neste exemplo, o sujeito do verbo “saber” (símbolo //) foi mencionado na primeira cláusula, sendo um caso de referente anteriormente dado: “o coroinha”. Referente novo (informação nova) Trata-se de uma informação que o falante acredita não ser conhecida pelo ouvinte. Isto é, foi introduzida pela primeira vez no discurso: Comprei um carro semana passada. Referente inferível A entidade do discurso é inferível se o falante supõe que o ouvinte pode inferi- la, por razões lógicas, de outra entidade já mencionada. Ex: “Eu peguei um avião ontem e o piloto* estava embriagado”. (* Entidade inferível) Na oração, a entidade “o piloto‟ pode ser inferível da entidade “um avião‟, pois podemos, a partir do conhecimento sobre o avião, inferir que o veículo tem piloto. Logo, neste caso, o referente não é dado e nem novo, é inferível. 3 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS São chamadas de variações linguísticas as diferentes formas de falar o idioma de uma nação, visto que a língua padrão de um país não é homogênea. O sistema de línguas é formado por um conjunto de variantes que podem ser socioculturais, estilísticos, regionais, etários e ocupacionais. Isso faz com que cada grupo social, de diferentes ocupações, faixas etárias e regiões, crie o seu próprio dialeto, o qual é a sua forma de comunicação coloquial. Desta maneira, é possível perceber que as variações linguísticas estão presentes nas comunicações verbais das pessoas, em diferentes partes do mundo. Elas ocorrem sob influências dos contextos social, regional e histórico, em que tais processos de construção da fala ajudam a caracterizar como o sujeito vai se comunicar com oseu grupo. Segundo Faraco (2008), uma língua viva sempre apresenta variações, isso significa que, enquanto uma língua tiver falantes nativos, ela será dinâmica e heterogênea. De acordo com Cecato (2017), a língua muda para se conservar e é exatamente isso que ocorre. Para entender de maneira mais concreta essa afirmação, é possível comparar a língua a uma construção: sem revisões periódicas, ela desmorona. Pode parecer paradoxal afirmar que a língua muda para se conservar, mas é exatamente o que acontece. Esse é um cenário que nos ajuda a entender o processo de mudança de maneira geral. No âmbito das mudanças linguísticas, é importante exemplificar as causas mais evidentes e como a mudança pode ser percebida no cotidiano. Para tornar a compreensão desses aspectos mais clara, podemos empregar como exemplo as hipóteses para descrever as mudanças ocorridas no português brasileiro (PB): A hipótese evolucionista, que trabalha com a pressuposição de que a língua se comporta como um ser biológico, obedecendo a um determinismo linguístico (o meio determinaria a mudança). A hipótese crioulista, que fundamenta o contato entre a língua do colonizador (português) e as línguas dos colonizados (africanos e ameríndios) como criador de certas particularidades da nossa língua; E a internalista (muito mais difundida que as outras), que propõe uma explicação interna ao sistema da língua para as mudanças ocorridas (CECATO, 2017). Segundo Cecato (2017), os estudiosos desses aspectos da língua costumam dividir as mudanças em dois grupos: mudança linguística e mudança gramatical ou lexical. O importante, nesse caso, é estar atento ao fato de que, dependendo do estágio dos estudos linguísticos, uma ou outra explicação receberá maior crédito. Também é interessante compreender que as leis que explicam as mudanças sonoras são um resumo do que aconteceu em determinada área e em determinado grupo de falantes, assim como a explicação com base em analogia e empréstimo recobre apenas determinado conjunto de mudanças. Outro conceito importante a ser abordado em relação às mudanças na língua é a variação linguística, condicionada por: mudança gramatical ou lexical. Essa mudança se dá quando um item lexical (palavra) ganha ou perde valor de uso na própria língua. Afirma-se, por exemplo, que ele passa por processos de gramaticalização quando assume outras funções que não desempenhava antes. Podemos dividir os estudos relacionados à variação linguística entre duas disciplinas essenciais: a dialetologia e a sociolinguística. Os dialetólogos selecionam um recorte geográfico, aplicam métodos de estudo para levantamento de características e, com base nos resultados obtidos, são responsáveis por elaborar os atlas linguísticos, que contém o mapeamento de sotaques e dialetos de determinado local. No Brasil, temos o Atlas Linguístico do Brasil (Alib). Enquanto a sociolinguística faz um recorte um pouco diferente da comunidade de falantes a ser pesquisada: a extensão territorial abarcada é bem menor do que aquela utilizada para compor um atlas. Além disso, há o emprego de outros métodos de pesquisa, os quais procuram descrever se os falantes mudam o registro utilizado conforme o gênero, a faixa etária, o nível sociocultural e o grau de formalidade. A partir dos resultados obtidos, costuma-se fazer análises descrevendo regras que promovem a variação do sistema, considerando fatores linguísticos e extralinguísticos. 3.1 Modalidade linguísticas e variações A linguagem é a ferramenta que nos permite comunicar, expressar sentimentos, conhecimentos, expor nossas opiniões e, principalmente, nos insere no convívio social. A língua é um mecanismo mutável e sofre variações segundo o contexto social, histórico, geográfico e cultural em que é utilizada. Em um mesmo país, com um único idioma oficial, a língua é passível de alterações feitas através do uso por seus falantes. Essas variações conseguem conferir identidade ao determinado grupo que as provocou, seja através do passar do tempo, nos diferentes locais ou de acordo com fatores sociais e culturais. Segundo Neves, (2023) a variação linguística é a mudança que a língua apresenta devido à sua capacidade de transformação e adaptação. As línguas apresentam variações porque são utilizadas por falantes inseridos em sociedades complexas formadas por diferentes grupos sociais com diferentes práticas culturais e níveis de escolaridade. Trata-se, pois, de objeto de estudo da Sociolinguística, ramo que estuda como a divisão da sociedade em grupos – com diversas culturas e costumes – dá origem a diferentes formas de expressão da língua, as quais, embora se baseiem nas normas impostas pela gramática prescritiva, adquirem regras e características próprias. As variações linguísticas ocorrem nos âmbitos geográficos, temporais, sociais e situacionais como, por exemplo: • Variações diatópicas (regional ou geográfica): São variações da língua que existem em diferentes lugares e regiões. • Variações diacrônicas (históricas): Variações linguísticas que existiram em diferentes épocas, das mais antigas às mais modernas. Estão ligadas à dinâmica da língua, que sofre transformações através do tempo. Esses tipos de transformações podem se dar no âmbito da ortografia, como, por exemplo, a palavra farmácia, que antigamente era escrita com ph em vez do f. Outro exemplo é no caso de palavras e expressões, como “janota” e “arrastar a asa”, estas caíram em desuso com o passar do tempo e hoje são consideradas obsoletas. As gírias e expressões utilizadas pelos jovens ou determinados grupos sociais vão sendo também substituídas por outras com o passar do tempo. • Variações diafásicas (situacionais): variações linguísticas existentes conforme a situação, ou o contexto do ato comunicativo, do mais informal ao mais informal (NEVES, 2023). 3.2 Diatópica: variações regionais ou geográficas Neves (2023) exemplifica o conceito sobre as variações de diatópica, que também são conhecidas como variações regionais ou geográficas. São influenciadas pelo local de residência do falante e variam conforme a região. Esse tipo de diferença ocorre porque diferentes regiões possuem diferentes culturas, costumes e tradições, bem como estruturas linguísticas. Existem palavras diferentes para o mesmo conceito em variações diatópicas como: • Aipim, mandioca, macaxeira; • Abóbora, jerimum, moranga; • Sacolé, chup-chup, geladinho; • Totó, pebolim, matraquilhos; • Fruta-do-conde, pinha, ata, anoma. Diferentes sotaques, dialetos e falares: • caipira; • gaúcho; • baino; • carioca; • montanhês • nordestino. Reduções de palavras e perda ou troca de fonemas: • véio (velho); • oiá (olhar); • muié (mulher); • cantá (cantar); • enxovar (enxoval); • pertim (pertinho); • vambora (vamos embora). 3.3 Diacrônica: variações de linguística histórica Variações diacrônicas também são conhecidas como variações históricas. Estas variações ocorrem conforme as diferentes épocas vividas pelos falantes e permitem distinguir o português antigo do moderno e algumas palavras que já estão em desuso. A seguir, exemplos de variações diacrônicas (NEVES, 2023): Palavras que caíram em desuso: • Vossemecê/vosmecê; • botica; • comprir; • anóveas; • asinha; • sisa; • suso. Grafias que caíram em desuso • flôr; • pingüim • pharmácia; • therapeutico: • annos; • alliar; • analyse. Vocabulário e expressões típicas de uma determinada faixa etária: • Você é um chato de galocha! • Ele é maior barbeiro • Vai catar coquinho • Este quindim está supimpa! • Acho que tem uma marmota aí... • Ele deu uns tabefes no primo. 3.4 Diastrática: variações de linguística social Variações diastráticas, também classificada como variação social, é a variação que ocorre conforme oscostumes e culturas de diferentes grupos sociais. Distinções desse tipo surgem porque diferentes grupos sociais têm diversos sistemas de conhecimento, comportamento e comunicação. São exemplos (NEVES, 2023): Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como skatistas: • Prefiro freetyle. • O gringo tem um carrinho irado. • O silk do skate tá insano. Jargões próprios de um grupo profissional, como policiais e militares: • Ele deu sopa na crista. • Vamos na rota dele. • Não mexe com meu peixe. Linguajar compartilhado por determinado grupo, como a comunidade LGBTQIA+: • Tô sem aqué, querida! Não posso ir ao show! • Então saiu de casa para vir aqui me gongar! • Este menino só sabe fazer Alice, vive no mundo da lua! 3.5 Variação de registro, estilística ou diafásica A variação de registro, estilística ou diafásica mostra a condição de um mesmo falante usar formas diferentes dependendo da situação de comunicação em que se encontra, ou seja, suas escolhas são feitas durante o processo de interação com o outro. E podem ser caracterizados pelos meios usados para a comunicação como a própria fala, o e-mail, o jornal, a carta, etc. (PAULISTA, 2016). 3.6 Diferentes níveis de linguagem Se considerarmos que linguagem pode ser todo e qualquer tipo de mensagem que conduza uma comunicação (verbal, visual, auditiva, etc.), podemos começar a compreender que a linguagem se manifesta e ocorre em diferentes níveis. Dentro da mesma lógica, também sabemos que existem variações na língua para que ela se adéque a determinados contextos e que essas variações são de diferentes classes. As variáveis a respeito da forma de produção linguística e as apresentadas pela língua constituem os níveis de linguagem. Alguns linguistas consideram níveis de linguagem apenas a diferença que se dá entre a forma material que a língua é produzida (de forma oral ou escrita); outros, contudo, caracterizam como níveis de linguagem as diferentes variações linguísticas numa mesma língua. Nesta seção, portanto, consideraremos como níveis de linguagem as duas acepções, de forma que compreenda as concordâncias entre emissor e receptor para que uma mensagem seja compreendida, considerando tanto o meio de produção linguística como as variações dela (CORTINA, 2018). 3.6.1 Linguagem informal É o tipo de linguagem mais natural e espontânea, uma vez que não há, necessariamente, uma preocupação em seguir uma norma culta da língua. Esse nível de linguagem é utilizado quando a função da linguagem é mais importante do que sua forma, de modo que a estruturação e as escolhas lexicais não seguem, à risca, normas de formação. Exemplo desse nível são as conversas informais entre amigos e qualquer outro tipo de linguagem utilizada de forma espontânea. Geralmente, o nível coloquial de linguagem (que também é conhecido como popular (ou informal) é de apropriação de todos os falantes de uma língua, o que não ocorre no nível formal (do qual somente alguns falantes se apropriam). Como exemplo do nível coloquial, temos as gírias, expressões utilizadas por determinados grupos sociais, em um certo recorte de tempo, mas não são aceitas pelo nível da linguagem formal. • Fala, garoto! Beleza? • Rola um cineminha hoje? • Cadê Pedro? Cê viu ele? • Tá olhando pra onde? • Valeu, Luísa! 3.6.2 Linguagem formal Cortina (2018) ressalta que a linguagem culta é aquela considerada canônica e ensinada nas escolas, respeitando regras gramaticais, formulações, padrões, etc. Utilizada por pessoas consideradas “mais instruídas”, sendo necessário o conhecimento de normas, regras e convenções. Por ser uma língua que respeita regras e padrões, pode ser considerada rebuscada. Esse tipo de língua é comumente encontrada na literatura e na grande maioria dos textos escritos. O nível da linguagem culta diz respeito não somente às escolhas lexicais, mas a toda e qualquer norma de formação dentro da língua. A utilização da norma culta se torna um filtro social, uma vez que seu uso é limitado apenas por pessoas com grau de instrução formal. Em consequência disso, pode haver situações comunicacionais que sejam mais complexas para um grupo de pessoas sem a apropriação da norma culta. É por essa razão que alguns textos e situações comunicativas se tornam complexos para falantes que não se apropriam da linguagem culta. No que se refere ao sentido, a norma culta pode se tornar um fator complicador em situações comunicacionais entre alguém que a utilizou em uma determinada situação na qual seu receptor não conhece esse tipo de língua. Um exemplo é a linguagem jurídica ou médica, bastante rebuscada e confusa para quem não tem instrução formal. • Bom dia! Tudo bom com você? • Querem ir ao cinema hoje? • Onde está a Srª Cláudia? Você viu-a? • Nós gostamos dele. • Está olhando para onde? • Muito obrigada, Luísa! 3.7 Preconceito linguístico A área encarregada de estudar as variações linguísticas é a sociolinguística, que não só analisa e estuda os diferentes tipos de variação como também questiona as consequências culturais e sociais provenientes de variações. Entre essas consequências, está o preconceito linguístico, que julga que uma variação linguística é superior a outra. Sobre esse preconceito é que surge o mito de que "existem formas erradas de se falar", o que não é, puramente, verdade (CORTINA, 2018). Existem, obviamente, formas diferentes de se falar; contudo, o objetivo da fala é criar um contexto comunicativo e transmitir uma mensagem. O modo de transmiti-la pode variar e, de acordo com convenções, pode ser mais ou menos apropriado para um determinado contexto. Entretanto, julgar que uma pessoa "fala errado" porque ela se apropria de uma variação linguística diferente da que estamos acostumados é um erro muito grande, pois cada variação é consequência de fatores históricos e culturais distintos. O conhecimento acerca dos processos de formação de palavras (que pode ocorrer através da reflexão sobre o funcionamento da nossa língua portuguesa) possibilita que os indivíduos percebam que a língua existe como meio de comunicação entre homens; sendo que as significações linguísticas estão na base dessa comunicação. Quanto mais se compreende o funcionamento da língua como um sistema vivo e mutante, mais habilitados os sujeitos estarão para compreender o contexto no qual estão inseridos e aumentam-se assim as possibilidades de interpretação. A partir disso amplia-se a noção do certo e do errado e passamos então a perceber a língua como algo que demarca historicamente um povo e um tempo. Sabe-se que vivemos na sociedade da comunicação e da informação, na qual a palavra dita e, sobretudo, escrita, é utilizada com grande intensidade. As redes sociais modificaram as relações dos indivíduos com o uso da palavra, o domínio dela, por conseguinte, a possibilidade de ocupar diferentes espaços de forma adequada e fazendo uso da riqueza que a língua oferece (FREITAS; AREÁN-GARCÍA, 2010). 3.8 Conceitos básicos de morfologia O processo de formação de palavras traz implicações, uma vez que é preciso constante atualização e contextualização para que não se limite o espaço do aprendizado. Se você parar para pensar, podemos citar inúmeras novas palavras na nossa língua: agito, xingo, desmate, carreata, entre outras (ROCHA, 1998). A partir dessas criações, podemos nos perguntar: por que algumas causam estranheza e outras não? Por exemplo, a palavra desmorrer, já que a forma desmerecer é aceita. Por que razão a palavra atingimento não é considerada uma palavra existente na língua, mas possível de ser criada? Por que uma palavra proferida por uma figura pública causa tanto comentário? Pense na palavra imexível e o que ela gerou após ter sido pronunciada por um ministro do Estado. Por que no Rio Grande do Sul temos como formaconsagrada ‘lavagem’ e em Santa Catarina ‘lavação’? Essas e outras questões devem ser discutidas no contexto da morfologia. No decorrer da aprendizagem, é necessário fazer algumas perguntas como: para que serve formar novas palavras? Como formamos novas palavras? Quando parece ocorrer a aquisição de novas palavras ou palavras de outras línguas? Quais são as partes integrantes de uma palavra? A partir de que critério(s) podemos dizer que uma palavra existe em uma língua? Portanto, o objetivo da teoria morfológica da linguagem é definir como e quais novas palavras podem ser adquiridas para processos de ensino e aprendizagem. Assim, um falante que ouve uma palavra ou pela primeira vez pode reconhecê-la como uma palavra em sua própria língua e, de tal forma, permite a intuição sobre sua estrutura e possíveis significados. Assim, a teoria morfológica descreve esses fatos, especialmente os mecanismos formais que criam novas palavras e a análise de palavras já existentes permite a intuição sobre a estruturação dela e de seus possíveis significados. Portanto, descreve esses fatos, especialmente os mecanismos formais que criam novas palavras e a análise de palavras que já transitam nessa língua. 3.9 Contribuições históricas dos estudos morfológicos Cada autor dedica um capítulo ao estudo da morfologia no estudo das gramáticas normativas. No contexto da linguística, ou seja, no que se refere ao estudo científico do funcionamento da linguagem, a morfologia como campo de estudo tem, historicamente, dias de valorização e de esquecimento. No período da gramática estrutural, ela foi centro de atenção e, portanto, alcançou um progresso. Já no período da linguística gerativo-transformacional, a morfologia ficou esquecida se comparada à sintaxe e à fonologia. No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo, de tal forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a sua própria teoria e procedimentos à medida que caminham. De acordo com Bauer (1983 apud ROCHA, 1998, p. 7): No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo, de tal forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a sua própria teoria e procedimentos à medida que caminham. Entretanto, com o desenvolvimento histórico das sociedades e a tentativa cada vez maior de entender os fenômenos que ocorrem no mundo, essa ideia deu lugar a um estudo cada vez mais aprofundado da morfologia. No contexto da língua portuguesa, os autores da área se consagram e isso aumenta a visibilidade e a importância da pesquisa linguística. Margarida Basílio, por exemplo, tem uma relevante obra publicada no Brasil, com o título: Estruturas Lexicais do Português: uma abordagem gerativa, evidenciando assim o interesse crescente pela disciplina. São quatro as escolas que estudam e analisam os componentes morfológicos da língua: o descritivismo, o historicismo, o estruturalismo e o gerativismo. Para as gramáticas tradicionais, este tema é de menor relevância. No entanto, no período de influência do estruturalismo houve um maior interesse, este logo ultrapassado pela teoria gerativista (Quadro 1). Quadro 1 - Descrição do componente morfológico das línguas pelas quatro grandes escolas Descritivismo Historicismo Estruturalismo Gerativismo Relação entre lógica e linguagem Filologia românica; filologia germânica Ferdinand Saussure — estruturalismo europeu Noam Chomsky Regularidades vs. irregularidades Língua: português, francês, espanhol e italiano com suas origens no latim vulgar O arbitrário do signo: a língua é um sistema de valores constituído por diferenças puras Língua inerente à condição humana Fixar paradigma Filologia: um estudo histórico Língua inerente à condição humana Capacidade criadora de um ser pensante Elemento e paradigma Estudos linguísticos com abordagem diacrônica A oposição forma as estruturas da língua Instrumento para livre expressão do pensamento A oposição forma as estruturas da língua Instrumento para livre expressão do pensamento Descrição e fixação Evolução na morfologia histórica Leonard Bloomfield — estruturalismo norte- americano Linguagem não é mero instrumento de comunicação Aristóteles — partes do discurso Privou o estudo da língua em uso Preocupação com a filosofia da linguagem Estrutura profunda e superficial Estoicos — casos nominais Gramática histórica ou comparativa: preocupada com a evolução da palavra como um todo Caráter prático e utilitarista — morfema (= menor unidade da palavra); uma visão procedimental Regras morfológicas que operam dentro do componente lexical Trabalhos desenvolvidos pelo estudioso Mattoso Câmara Júnior (1970, 1971), em meados da década de 1970, destaca que a morfologia volta a ser legitimada como objeto de estudo na Teoria Gerativa, destacando-se o nome de Noam Chomsky (1970). Durante este período de consolidação, o estudo das estruturas internas da palavra, a morfologia se confronta com dificuldades de definição do seu objeto de estudo. Com o transcorrer das pesquisas em torno dessa temática, melhores definições são estabelecidas. Passa-se a trabalhar com regras de formação de palavras. A partir dessa interpretação, historicamente, consolida-se o foco na competência linguística. Ou seja, parte-se da possibilidade de pensar não apenas nas formas existentes das formas lexicais, mas potencializar o estudo da ciência linguística a partir da valorização da potencialidade das línguas para a formação do novo, com o objetivo principal de atender as necessidades comunicativas. 3.10 Estrutura das palavras O conjunto das palavras e expressões de uma língua é denominado léxico. A noção de léxico é abstrata, visto que não se consegue saber exatamente qual é o total de palavras em uso. Como a língua está em constante mudança, ora surgem palavras novas, ora palavras caem em desuso (CARVALHO, 2023). O léxico é tradicionalmente definido como a coleção de palavras de um determinado idioma. Segundo a abordagem clássica, o estudo do léxico busca ampliar o conhecimento sobre os traços e características de cada palavra. Isso está no passado e no presente, pois as mudanças ocorrem conforme a história do espaço, do tempo e da formação da linguagem, pois ela não é estática, ela se movimenta conforme a sociedade evolui. Por exemplo, palavras como: internet, imprimir, escanear, tuitar. Houve inserção delas no vocabulário de língua portuguesa pelo senso comum — algumas ainda sem registro formal, por enquanto (ROCHA, 1998). Na tradição dos estudos gramaticais, a morfologia se concentra no estudo da flexão. Vários processos de derivação e modificação, bem como a expansão de palavras, desempenham funções reatribuídas que se transformam em estruturas morfológicas lexicais. A morfologia não existe por acaso, ela é historicamente a subdivisão mais antiga da gramática, mas reconhecida como tal apenas na segunda metade do século XIX. Os linguistas que iniciaram os estudos sobre morfologia não se percebiam, até então, como morfologistas. Dessa forma, o léxico representa um depósito de elementos de designação, pois fornece unidades básicas para a construção de enunciados e também comporta os processos de formação das palavras (ROCHA, 1998). Segundo Basílio (2006, p. 10), o léxico é “ecologicamente correto”, pois tem um banco de dados em permanente extensão, mas utilizando material já existente, assim, reduzindo a dependência de memória e garantindo a comunicação automática. A exemplo disso, são palavras como: computacional, globalização, etc., onde percebe- se novas formas de palavras já existentes. Overbo computar, por exemplo, já existia, e serviu de base para a formação de computador; o sufixo ‘ção’, também já existente, possibilita a construção da palavra computação, e assim por diante. Para melhor compreensão, observe a Figura 1: Figura 1 - Abordagens da morfologia, da semântica e da sintaxe Classes de palavras As classes de palavras, ou categorias lexicais, envolvidas em processos de formação de palavras são: • Substantivo • Adjetivo • Artigo • Pronome • Numeral • Verbo • Advérbio • Conjunção • Preposição A classe das palavras denominadas substantivos é determinada por um traço morfológico que apresenta e determina o caso de gênero e número; sua propriedade semântica indicando seres ou entes; e sua característica sintática é a ocupação do núcleo do sujeito e os complementos (BASÍLIO, 2006). A classe dos adjetivos é definida pela propriedade de caracterizar ou qualificar os seres designados pelos substantivos e desta forma concordar em gênero e número com eles. Agora os verbos, são definidos como aquela classe de palavras que representa ações e relações (eventos, estados, etc.) no tempo, tendo como função a predicação e apresentando flexões de tempo e de modo (BASÍLIO, 2006). Os advérbios configuram a classe de palavras invariáveis com função de modificar verbos, adjetivos e também outros advérbios e enunciados. O artigo é denominado como aquele que antecede o substantivo e funciona como determinante ou indeterminante deste último. Os artigos podem ser flexionados em número e gênero. A classe de palavras denominada pronome contempla aquelas palavras que identificam o indivíduo no momento comunicacional, ou seja, evidencia as pessoas do discurso. Já, o numeral é um conjunto representado por palavras com função de quantificar numericamente ou indicar ordem de sequência para aquilo a que faz referência na construção da comunicação. A conjunção tem a função de ligar elementos dentro da construção dos enunciados. Essa função também é a das preposições, ou seja, para que se tenha clareza no discurso, uma palavra deve estar ligada à outra. Os processos de formação de palavras apresentam funções gramaticais e funções semânticas; e os seus produtos, ou seja, as palavras formadas, apresentam propriedades morfológicas, sintáticas e semânticas (CÂMARA, 1977). É possível dividir as palavras como variáveis e invariáveis: Variáveis As palavras variáveis podem ser flexionadas em gênero e número (algumas, inclusive, em grau). São exemplos: • Adjetivo • Artigo • Pronome • Substantivo • Verbo Invariáveis Agora, as palavras tidas como invariáveis são aquelas que não se modificam em gênero ou número. Ou seja, independentemente da construção enunciada, elas mantêm o mesmo formato. O contexto não interfere e, da mesma forma, o arranjo textual não as modifica. Como, por exemplo: • Advérbio • Conjunção • Preposição Segue exemplo no quadro 2: A colaboradora psicóloga ficou muito estressada Artigo Feminino singular Substantivo Feminino singular Adjetivo Feminino singular Verbo Conjugado no feminino singular Advérbio invariável Adjetivo Feminino singular Pode-se perceber neste exemplo que todas as palavras que compõem o enunciado concordam em gênero e número, isto é, estão no feminino singular conforme o núcleo do sujeito (colaboradora), com exceção apenas para o advérbio de intensidade muito. Conforme visto anteriormente, este é invariável. Enfim, o processo de formação de palavras pode ocorrer por derivação sufixal ou prefixal; parassintética, conversiva, siglada, grafêmica, silábica, fortuita, por composição e onomatopei 4 AS PALAVRAS E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS Alguns autores estudam a morfologia em separado de outras partes da gramática, como a sintaxe e fonologia, por exemplo; enquanto autores como Bechara (2009) e Peixoto Filho (2021) preferem estudar a parte da gramática descritiva/normativa sob o nome de Morfossintaxe (grafada aqui com primeira letra em maiúscula para realçar seu valor semântico e lexical). Assim, podemos considerar que morfologia “ocupa-se da estrutura e da classificação das palavras” (CEGALLA, 2008, p. 90). A primeira parte da morfologia é a estrutura da palavra, mais especificamente (a) elementos básicos e significativos; (b) elementos modificadores da significação e (c) elementos de ligação ou eufônicos. 4.1 Elementos básicos e significativos – Raiz, Radical e Tema Raiz - Nas palavras de Peixoto Filho (2021), os estudos de morfologia, na perspectiva tradicional, é o estudo dos vocábulos tomados isoladamente. Nesse sentido, quando nos propomos a estudar um vocábulo em perspectiva morfológica estamos aproximando-nos desse vocábulo para estabelecer seus elementos básicos que dão a ele uma significação a partir de sua apresentação de forma, a partir do seu formato. Os estudos morfológicos estritos sensos abrange os elementos mórficos (morfemas) e sua estruturação na formação dos vocábulos. O objeto mínimo de estudo da morfologia (sem entrar em pormenores terminológicos) é o morfema: unidade formadora (lexemas, afixos, morfemas de gênero e número). Na correlação entre esses morfemas é que se estuda o vocábulo, considerado isoladamente (PEIXOTO FILHO, 2021, p. 29) Podemos ainda considerar, por seu turno, que existem unidades menores de significação, como acontece com os radicais, por exemplo. Entre esses elementos mínimos de significação está a “raiz”, também chamado de “radical primários”. Nas palavras de Cegalla (2008, p. 90) a raiz “é o elemento originário e irredutível em que se concentra a significação das palavras, consideradas do ângulo histórico. Geralmente monossilábica, a raiz encerra sentido lato e geral, comum às palavras da mesma família etimológica”. A compreensão de Bechara (2009, p. 285) amplia a difere, ainda que ligeiramente, da conceituação empregada acima. Segundo ele “chama-se raiz, em gramática descritiva, ao radical primário ou irredutível a que se chega dentro da língua portuguesa e comum a todas as palavras de uma mesma família”. Quando falamos de família de palavras, estamos nos referindo aquelas palavras que possuem alguma semelhança, seja de gênero ou de forma. Nas gramáticas históricas, o elemento na palavra chamado de “raiz” só pode ser aplicado se uma palavra tem uma origem em outra língua e se nessa outra língua esse vocábulo básico for usado em outras palavras da mesma família, ou seja, se uma palavra tem sua origem no latim, as gramáticas históricas vão dizer que só existe um vocábulo raiz no termo em latim, nunca na palavra em língua portuguesa; mas na gramática descritiva, como acabamos de observar, essa distinção não se opera. • Em um primeiro exemplo, temos a raiz noc (do latim nocere = prejudicar) tem a significação geral de causar dano, e a ela se prendem, pela origem comum, as palavras: Nocivo / Nocivas / Nocividade / Inocente / Inocentar / Inócuo, etc. • Uma raiz pode apresentar-se alterada como nas seguintes palavras: Ag-ir / Ag-ente / re-Ag-ir * Ex-ig-ir / Ex-ig-ência * At-o / At-or / At-oa, etc. É preciso dizer que o estudo das raízes muitas vezes foge à finalidade da gramática normativa (como vimos acima), muitas vezes e por características próprias, esses estudos só interessa à gramática histórica ou, mais precisamente, à etimologia. Numa análise morfológica elementar das palavras portuguesas, deve-se preterir a raiz e partir do radical, considerado como radical em língua portuguesa. O elemento central da raiz da palavra em língua portuguesa é que ela (a raiz) dá instabilidade e regularidade à palavra. Para não confundirmos raiz com radical, que parece ser coisas iguais, mas que tecnicamente são diferentes, é necessário ter em conta que a raiz é o elemento originário da palavra, relacionando-se com a sua significaçãohistórica, ou seja, ao seu estudo diacrônico, seu estudo no tempo. Levando em conta essa diferença, podemos dizer que em algumas palavras ou família de palavras, o que vemos não é a raiz e sim o radical, que também funciona como elemento significativo, mas que não carrega o aspecto histórico; o radical relaciona-se com o aspecto sincrônico. Abaixo algumas palavras formadas com radicais gregos e que são estudados com maior atenção pela gramática histórica: Quadro 1 – Palavras com radicais gregos Radical Exemplos Significado Aéros- Aeronave Ar Ánthropos- Antropófago homem Autós- Autobiografia De si mesmo Biblion- Biblioteca Livro Bíos- Biologia Vida Chroma- Cromático Cor Chrónos- Cronômetro Tempo Dáktyllos- Dactilografia Dedo Déka- Decassílabo Dez Démos- Democracia Povo Eléktron- Eletricidade Eletroímã (âmbar) Ethnos- Etnia Raça Géo- Geografia Terra Héteros- Heterogêneo Outro Hexa- Hexágono Seis Hippos- Hipopótamo Cavalo Ichthýs- Ictiografia Peixe Isos- Isósceles Igual Makrós- Macróbio Grande, longo Mónos- Monocultura Um só Nekrós- Necrotério Morto Radical Exemplos Significado Néos- Neolatino Novo Odóntos- Odontologia Dente Ophthalmós- Oftalmologia Olho Ónoma- Onomatopeia Nome Radical Exemplos Significado Orthós- Ortografia Reto, justo Pan- Pan-americano Todos, tudo Páthos- Patologia Doença Penta- Pentágono Cinco Polýs- Poliglota Muito Pótamos- Potamologia Rio Pséudos- Pseudônimo Falso Psiché- Psicologia Mente Riza- Rizotônico Raiz Techné- Tecnográfica Arte Thermóg- Térmico Quente Tetra- Tetraedro Quatro Týpos- Tipografia Figura, marca Tópos- Topografia Lugar Zóon- Zoologia Animal Fonte: Adaptado de CEGALLA, 2008, p. 113. Radical – Embasados nas informações com as quais lidamos acima, podemos acompanhar Cegalla (2008) quando tenta simplificar sua compreensão sobre o que seria um radical. Segundo ele, um radical é “o elemento básico e significativo das palavras, consideradas sob o aspecto gramaticai e prático, dentro da língua portuguesa atual” (CEGALLA, 2008, p. 91). Sob essa perspectiva é notória a ênfase dada pelo autor quando considera que o radical só pode ser entendido por um prisma “atual”, sincrônico. A propósito é preciso lembrar que em certas palavras da língua portuguesa só existe o radical. Ao sabermos sobre a função da raiz em uma palavra, podemos então fazer diferenciações de outras unidades morfológicas de uma palavra e analisar as estruturas morfológicas que constituem palavras e sua formação de forma. O radical é, em algumas gramáticas, chamado de “semantema". Observe as seguintes palavras com um radical comum: • Livr – o • Livr – inho • Livr – eiro • Livr – eco • Livr - asso É preciso lembrar que a língua portuguesa é considerada uma língua “neolatina”, cuja ascendência originária remonta ao Latim (notadamente o latim vulgar e não o latim clássico), falado pelas altas autoridades. Quando olhamos uma lista de palavras que apresentam em seus radicais de palavras latinas, é comum observarmos que essas palavras aparecem em léxicos classificando essas palavras como “palavras clássicas do latim”; isso acontece porque essas mesmas palavras apesar de em sua maioria serem faladas pelas pessoas comuns, em sua forma escrita, elas mantiveram sua forma culta de escrita e de pronúncia. Vejamos uma lista de palavras em cujo radical é uma palavra latina. • agri – campo: agricultura • ambi – ambos: ambidestro • api – abelha: apicultor • arbori – árvore: arborizar • beli – guerra: bélico • cado – que cai: cadente, decadência, decadente • cola – que habita: silvícola • fico – que faz ou produz: benéfico • fide – fé: fidelidade • frater – irmão: fraternal, fraternidade • gero – que contém ou produz: lanífero • ludo – jogo: ludoterapia, ludíco • mater – mãe: maternidade, maternal • multi – muitos: multinacional • opera – obra: operário • pluri – muitos: pluricelular • silva – floresta: silvícola • vídeo – que vê: vidente • volo – bem: benévolo • voro – que come: carnívoro Cognatos – É preciso lembrar que não se deve confundir palavras cognatas, que por definição são aquelas palavras ou vocábulos que procedem de uma raiz comum, com aquelas palavras que apenas aparentam ter o mesmo radical e que são denominadas de falsos cognatos. Um exemplo: À raiz da palavra latina anima (= espírito), por exemplo, prendem-se os seguintes cognatos: alma, animal, alimária, animar, animador, desanimar, animação, almejar, ânimo, desalmado, etc. Em virtude das alterações que algumas palavras sofrem em seus usos e em sua história gráfica, às vezes torna-se difícil discernir a raiz (ou radical) daquela palavra em virtude das alterações sofridas por ela. Vejamos, na tabela abaixo, exemplo de palavras que são cognatas do verbo latino facio (= fazer). Quadro 1 – Palavras cognatas FACção FÁCil FATor inFECção conFECção FACcioso FACilitar FATurar diFíCil eFETuar FACínora FAÇanha FATo artíFICe ouriVES Fonte: Adaptado de CEGALLA, 2008, p. 93. Tema – Em sentido mais simples, podemos dizer que o tema é o radical acrescido de uma vogal, que por esse acréscimo recebe o nome de vogal temática, ou em palavras de Bechara (2009, p. 282), podemos definir tema como “o radical acrescido da vogal temática e que constitui a parte da palavra pronta para funcionar no discurso e para receber a desinência ou sufixo. São exemplos de temas: livro-, trabalha-. A vogal temática pode ocorrer num tema simples (livr- o) ou derivado (livr- eir- o) ”. A representação de uma vogal temática pode ser exercida por uma vogal ou por uma semivogal, dependendo do caso. A vogal temática também pode, dependendo da conjugação da palavra, passar de uma vogal para uma semivogal, como no caso da palavra “afeto” que, quando conjugada, pode aparecer com a variação “afetuoso”. Temos também as palavras atemáticas que, por terminarem em uma vogal tónica (fé, por exemplo), não possuem uma vogal temática. Como explica Lima (2011, p. 247), “tema é, portanto, o radical ampliado por uma vogal temática […] Ao tema assim constituído agregam-se-lhe desinências e sufixos, para assinalar as flexões da palavra ou para a formação de termos derivados”. 4.2 Elementos constitutivo das palavras – prefixo, sufixo e afixo Quando se fala em elementos constitutivos da palavra, nos referimos aqueles elementos que são intrínsecos a cada palavra, seja em língua portuguesa seja em outro idioma. Nesse sentido, tudo aquilo que não é intrínseco à palavra pode ser classificado como acessório a ela. Sob tal compreensão, podemos dizer que quando acrescentamos um “s” para marcar, nas palavras que aceitam essa flexão, o plural, estamos acrescendo àquela palavra um elemento que não faz parte da sua constituição primeira; aquela marcação foi acrescentada ao vocábulo para marcar uma flexão na palavra fazendo com que ela deixe a categoria de singular para a categoria de plural. Novas ideias e novas realidades contextuais, de acordo com Cegalla (2008), são responsáveis pela criação de novas palavras e vocábulos em nosso idioma; esses vocábulos e palavras novos são chamados comumente de neologismos (novas palavras que nascem para expressar novas ideias). É preciso dizer ainda que algumas palavras da língua portuguesa têm sua formação por processos que podem ser definidos de duas maneiras: (a) o processo de derivação e (b) o processo de composição; tanto em um como em outro processo a dinâmica de formação da palavra pode ser por prefixo; por sufixo (ou ambos, como no caso da parassíntese), de todo modo eles recebem o nome técnico de afixo, pois agregam-se no final ou no início de um radical. Falando especificamente sobre o neologismo e seu contrário, o arcaísmo, Bechara ensina que: As múltiplas atividades dos falantes no comércio da vida em sociedade favorecema criação de palavras para atender às necessidades culturais, científicas e da comunicação de um modo geral. As palavras que vêm ao encontro dessas necessidades renovadoras chamam-se neologismos, que têm, do lado oposto ao movimento criador, os arcaísmos, representados por palavras e expressões que, por diversas razões, saem de uso e acabam esquecidas por uma comunidade linguística, embora permaneçam em comunidades mais conservadoras, ou lembrados em formações deles originados. (BECHARA, 2009, p. 293) Considerando, ainda, os mecanismos de adição, seja por prefixo ou sufixo, Bechara (2009, p. 283) afirma que “do ponto de vista formal, há ainda para notar que os sufixos derivativos são em geral mais longos que as desinências gramaticais, além de serem estas quase sempre átonas, enquanto aqueles são normalmente tônicos”. Outra distinção importante apontada pelo autor é que os sufixos vêm imediatamente após o núcleo (a palavra central ou primitiva), enquanto que as desinências geralmente vêm após os sufixos. Nesse sentido, podemos considerar de forma resumida as seguintes definições. Prefixo – São aqueles radicais que antecedem o núcleo das palavras. E como nos ensina Cegalla (2008, p. 110), “os prefixos ocorrentes em palavras portuguesas provieram do latim e do grego, línguas em que funcionavam como preposições ou advérbios, portanto como vocábulos autônomos. Por isso, têm significação bem mais precisa que os sufixos e exprimem, geralmente, circunstâncias (lugar, modo, tempo, etc)”. Abaixo, exemplo de prefixos e seus significados: • Infra - abaixo, na parte inferior: infravermelho, infraestrutura, infra-renal, infrassom. • inter-, entre - posição ou ação intermediária, ação recíproca ou incompleta: interstício, intercomunicação, entreter, entrelinha, entreamar-se, entreabrir. • intra-, intro - dentro, movimento para dentro: intramuscular, introspectivo, introduzir, introvertido. • Justa - proximidade, posição ao lado: justa fluvial, justapor, justalinear. • male-, mal - opõem-se a bene: malevolência, mal-educado, mal-estar, maldizer. Sufixo – São aqueles radicais que vão depois do núcleo das palavras. Olhando por esse prisma, Cunha e Cintra (2017, p. 97) refletem que “os sufixos, como as desinências, unem-se à parte final do radical. Mas, enquanto estas caracterizam apenas o gênero, o número ou a pessoa da palavra, sem lhe alterar o sentido lexical ou a classe, os sufixos transformam substancialmente o radical a que se juntam”. A maioria dos sufixos da nossa língua são herdados do latim ou do grego e podem ser classificados de três formas diferentes. A saber: • Nominais, os que formam substantivos e adjetivos: dentista, gostoso; • Verbais, os que formam verbos: gotejar, cabecear; • Adverbial, o sufixo -mente, formador de advérbios: rapidamente. Ao exemplificar de forma gráfica a dinâmica dos afixos, Cegalla (2008) coloca os elementos da frase em sentido horizontal uma frase para que se perceba como se implementa o a ideia de afixo. E completa dizendo que os afixos são elementos secundários na construção da palavra, geralmente sem vida autônoma, que se agregam a um radical ou tema, quando postos juntos desses. Vejamos o esquema apresentado pelo autor: Figura 2 - Exemplo de afixos Fonte: CEGALLA, 2008, p. 92 Como indicado por Rio-Torto (2016, p. 24), “as unidades envolvidas na formação de palavras são os afixos, os radicais e os temas que, combinando-se entre si, na base de relações genolexicais de hierarquia e de sucessividade, dão origem a unidades lexicais complexas”, ou seja, sempre que nos propomos a estudar a formação das palavras, devemos observar as muitas construções possíveis para as quais as palavras são sucessivas; não levar em conta essas possibilidades de variações implicará, quase que obrigatoriamente, em uma observação incompleta da construção das palavras em língua portuguesa. 5 ETNOMETOLOGIA A etnometodologia é um campo de pesquisa que causou impacto no mundo da sociologia entre a segunda metade dos anos 1960 e o princípio dos anos 1970, mas que logo foi relegado a uma posição relativamente marginal. Tanto o sucesso inicial como o posterior obscurecimento podem ser explicados pela posição radical com que a etnometodologia enxergava a sociologia que era produzida até o momento. Se por um lado esse radicalismo combinava com o ambiente de “arejamento” por qual passavam as ciências sociais dos anos 1960, por outro parecia ir longe demais (BRAGA, 2019). A etnometodologia se originou com os estudos de Harold Garfinkel quando ele ainda estava nas décadas de 1940 e 1950 no Departamento Interdisciplinar de Estudos Sociais em Ciências Sociais de Harvard. Mas seu maior desenvolvimento ocorreu durante o tempo de Garfinkel como professor da Universidade da Califórnia, quando publicou Studies in Ethnomethodology em 1967, considerado o fundamento desse novo tipo de pesquisa sociológica. Também na Califórnia, Garfinkel encontrou seus mais importantes colaboradores, como Aaron Cicorel, Harvey Sacks e David Sudnow, que participaram do estudo da etnometodologia em vários campos de pesquisa (BRAGA, 2019). A etnometodologia também é oriunda dos enfoques etnossociológicos cuja maior contribuição para os estudos da Análise da Conversação (AC) foi ter observado que as pessoas compartilham conhecimentos e práticas sociais e que somente com base no mundo compartilhado o sentido social é construído (etnométodo) (FRAZÃO; LIMA, 2017). Frazão e Lima (2017) ressaltam que [...] apesar de ser uma vertente da etnometodologia, a AC erigiu-se gradativamente como domínio autônomo de pesquisa, sob o impulso de Harvey Sacks, Emanuel Schegloff e Gail Jefferson (1974), que propõem um modelo de análise do texto conversacional a partir do estudo da tomada ou troca de turnos. 5.1 Análise da conversação no Brasil Marcuschi (1986), em seu trabalho inaugural da Análise da Conversação no Brasil, afirma que o princípio básico que norteou esse campo de estudos foi que “todos os aspectos da ação e interação social poderiam ser examinados e descritos em termos de organização estrutural convencionalizada ou institucionalizada pela sociedade”. Segundo Frazão e Lima (2017), inicialmente a AC ocupou-se da “descrição das estruturas da conversação e seus mecanismos organizadores [...]. Atualmente, tende se a observar outros aspectos envolvidos na atividade conversacional [...]” (MARCUSCHI, 1986, p. 6). Para Leite e Negreiros (2014), há um número considerável de pesquisas que, a partir de corpora gravados e criteriosamente transcritos, tomam a conversação e o texto oral como objeto de análise. Esses autores citam, como o corpus mais relevante, o coletado pelos pesquisadores do projeto NURC, na década de 70 do século XX, em cinco capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Porto Alegre). Assim, a AC no Brasil tomou dois rumos: O que partiu de pressupostos da AC etnometodológica, mas que deles se afastaram para estudar a oralidade, a fala, a escrita, a relação fala e escrita, e tudo o que concerne ao texto e é decorrente de situações discursivas de fala, em relação direta, ou não, com a escrita; ii) a que é mais fiel aos princípios teóricos e metodológicos da AC fundada por Garfinkel na década de 1960, com as extensões oferecidas pelas teorias interacionistas (LEITE; NEGREIROS, 2014, p. 117). Portanto, nas perspectivas teóricas e metodológicas que ensejam esses dois rumos, nascem duas vertentes que hoje configuram a AC no Brasil, que Leite e Negreiros (2014) denominam de Análise da Conversação Etnometodológica e Análise da Conversação Textual e Discursiva (FRAZÃO; LIMA, 2017). O foco da pesquisa brasileira nesse sentido está na interpretação da relação da linguagem com o mundo, estudada por meio da influência da linguagem no comportamentosocial. “Dessa forma, a Análise da Conversa examina como os enunciados e outros comportamentos de um participante afetam o outro, de acordo com sequências organizadas na fala” (LEITE; NEGREIROS, 2014, p. 125). 5.2 Perspectiva da Análise da Conversação Marcusci (2006, p. 15) afirma que o propósito da AC é um processo conversacional centrado na prática diária humana. Para os autores, a conversação é considerada "a interação linguística central que se desenvolve ao longo do tempo quando dois ou mais interlocutores direcionam sua atenção visual e cognitiva para uma tarefa comum". Por esse motivo, o foco está na chamada fala natural e em fatores como entonação, paralinguísticos e contextuais, bem como na linguagem verbal. Suas cinco práticas que compõem sua organização são, portanto, os elementos característicos da conversa. Portanto, são cinco as práticas que compõem organização da conversação (MARCUSCI, 2006, p. 15): a. Interação entre pelo menos dois falantes; b. Ocorrência de pelo menos uma troca de falantes; c. Presença de uma sequência de ações coordenadas; d. Execução em uma identidade temporal; e. Envolvimento numa interação ‘centrada’. A citação de Koch (1992) destaca que os fenômenos da fala são organizados na ordem em que cada interlocutor intervém durante o ato de fala, o que pode sinalizar uma categorização das interações. Com base nessa perspectiva, a autora sugere a ocorrência de interações simétricas e assimétricas. Interações simétricas: Nesse tipo de interação, todos os sujeitos envolvidos têm o direito de falar e contribuir igualmente para a conversa. Não há uma hierarquia clara entre os participantes, e o poder de fala é distribuído de maneira mais equitativa. Isso pode levar a uma dinâmica de conversa mais igualitária, em que as vozes de todos são ouvidas e respeitadas. Interações assimétricas: Nessas interações, um dos sujeitos detém o poder da palavra e concede momentos de fala aos outros. Pode haver uma diferença de autoridade, posição social, conhecimento ou poder entre os participantes, resultando em uma dinâmica de conversa desigual. O participante que tem mais poder de fala pode dominar a conversa, interromper ou ignorar as contribuições dos outros, levando a uma assimetria na distribuição do tempo e do controle da fala. É importante observar que a categorização das interações em simétricas ou assimétricas pode variar dependendo do contexto cultural, social e situacional. Além disso, é fundamental promover a comunicação respeitosa e empática em todas as interações, independentemente do tipo, para garantir uma troca efetiva de ideias e opiniões. 5.2 Sistemas de turnos de fala De acordo com Koch (1992), a conversação é organizada em turnos, são as intervenções de cada interlocutor durante o ato da fala. A forma como esses turnos são definidos pode indicar uma classificação das interações. A autora menciona a ocorrência de interações simétricas – em que todos os sujeitos têm direito à voz – e interações assimétricas – em que um dos sujeitos detém o poder da palavra e concede momentos de fala aos outros (MACIEL, 2023). Os turnos podem ser tomados por concessão ou aproveitando-se os espaços de transição, mas nem sempre a regra conversacional de "fale um de cada vez" é respeitada. Nesses casos, ocorre o que é chamado de assalto ao turno, em que os locutores falam ao mesmo tempo. A máxima é restabelecida quando um deles desiste da posse do turno (MACIEL, 2023). Em relação à estrutura da conversação em termos de organização tópica, Koch (1992) afirma que, durante uma interação, os parceiros têm sua atenção centrada em um ou vários assuntos. Esses assuntos são delimitáveis no texto conversacional. Essa análise destaca a importância dos turnos na conversação, a distinção entre interações simétricas e assimétricas, e a presença de tópicos delimitáveis na estrutura da conversa. O respeito pelos turnos e a atenção aos assuntos discutidos são elementos essenciais para uma comunicação efetiva. Na sua totalidade, as práticas comunicativas, e mesmos as conversações, a despeito de seu aparente descompromisso, são condutas ordenadas, que se desenvolvem segundo alguns esquemas preestabelecidos e obedecem a algumas regras de procedimento. Essas regras que regem as interações verbais são de naturezas muito variadas. Destacam-se nelas três importantes categorias que operam em níveis diferentes: 1. Regras que permitem a gestão da alternância dos turnos de fala, ou seja, a construção dessas unidades formais que são os “turnos”. 2. Regras que regem a organização estrutural da interação. 3. Regras que intervêm no nível da relação interpessoal. 5.3 Princípio da alternância Para haver diálogo, é necessário ter pelo menos dois interlocutores que falem alternadamente. A interação verbal é vista como uma sucessão de "turnos de fala", em que os participantes têm direitos e deveres. O falante de turno tem o direito de falar por um certo período, mas também tem o dever de ceder o turno em algum momento. O sucessor potencial tem o dever de ouvir o falante de turno e o direito de reivindicar o turno de fala após um determinado tempo. A atividade dialogal é fundamentada no princípio da alternância, em que os diferentes atores devem ocupar sucessivamente a função de locutor. Além disso, idealmente, uma conversa se caracteriza por (ORECCHIONI, 2006): • Equilíbrio na participação: Os participantes têm a oportunidade de falar e ouvir de forma equilibrada, evitando que uma pessoa monopolize a conversa ou que alguém seja excluído. • Respeito aos turnos: Os participantes respeitam os turnos de fala e aguardam sua vez para contribuir, evitando interrupções excessivas ou falar simultaneamente. • Escuta ativa: Os interlocutores estão engajados na conversa, ouvindo e compreendendo as contribuições dos outros participantes, demonstrando interesse e receptividade. Esses elementos são importantes para promover uma conversa saudável, em que todas as vozes são ouvidas e ocorre uma troca efetiva de ideias e opiniões entre os participantes. Elementos importantes para a organização da conversa • Equilíbrio relativo da duração dos turnos: É desejável que os turnos de fala sejam equilibrados em termos de duração. Isso significa que nenhum participante deve monopolizar a palavra por um período excessivamente longo, permitindo que os outros também tenham a oportunidade de se expressar. • Equilíbrio relativo da "focalização" do discurso: O discurso deve ser focado de forma relativa, alternando entre os participantes. É considerado negativo quando alguém monopoliza a conversa ou mantém um discurso excessivamente autocentrado, que se concentra exclusivamente em si. • Uma única pessoa fala por vez: Embora casos de sobreposição de fala possam ocorrer ocasionalmente em conversas espontâneas, eles não devem se repetir com muita frequência nem se prolongar por muito tempo. É necessário ocorrer uma negociação entre os falantes em competição para determinar quem permanecerá como falante de turno. Essa negociação pode ser explícita, através de enunciados metacomunicativos, ou implícita, em que um dos falantes abdica em favor do outro. Na conversação, quando há uma situação de sobreposição de fala ou competição pelo turno de fala, podem ocorrer negociações explícitas ou implícitas entre os participantes. Essas negociações têm o objetivo de resolver o conflito e determinar quem terá o direito de falar (ORECCHIONI, 2006). Aqui estão alguns exemplos das duas formas de negociação mencionadas (ORECCHIONI, 2006): • Negociação explícita: Nesse caso, os participantes recorrem a enunciados metacomunicativos para expressar a necessidade de tomar a palavra ou interromper o outro participante. Alguns exemplos de enunciados metacomunicativos são: "Deixe me falar, por favor", "Espere, eu ainda não acabei"
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