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SOCIOLINGUÍSTICA 
 
 
1 SUMÁRIO 
2 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 5 
2.1 Funcionalismo e sua ligação com o formalismo .................................................... 5 
2.2 Domínios de fatos linguísticos .............................................................................. 9 
3 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS ....................................... 13 
3.1 Modalidade linguísticas e variações ................................................................... 15 
3.2 Diatópica: variações regionais ou geográficas .................................................... 16 
3.3 Diacrônica: variações de linguística histórica ...................................................... 17 
3.4 Diastrática: variações de linguística social .......................................................... 18 
3.5 Variação de registro, estilística ou diafásica ....................................................... 19 
3.6 Diferentes níveis de linguagem ........................................................................... 19 
3.6.1 Linguagem informal ...................................................................... 19 
3.6.2 Linguagem formal ......................................................................... 20 
3.7 Preconceito linguístico ........................................................................................ 21 
3.8 Conceitos básicos de morfologia ........................................................................ 22 
3.9 Contribuições históricas dos estudos morfológicos ............................................ 23 
3.10 Estrutura das palavras ................................................................................. 25 
4 AS PALAVRAS E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS .................................... 29 
4.1 Elementos básicos e significativos – Raiz, Radical e Tema ................................ 29 
4.2 Elementos constitutivo das palavras – prefixo, sufixo e afixo ............................. 35 
5 ETNOMETOLOGIA ................................................................................................. 38 
5.1 Análise da conversação no Brasil ....................................................................... 39 
5.2 Perspectiva da Análise da Conversação............................................................. 40 
5.2 Sistemas de turnos de fala .................................................................................. 41 
5.3 Princípio da alternância....................................................................................... 42 
5.4 Mudança de turno ............................................................................................... 44 
 
 
5.5 Sobre a ordem do “sucessor” .............................................................................. 45 
6 SUBJETIVIDADE DA LINGUAGEM ........................................................................ 47 
6.1 Sujeito e Discurso ............................................................................................... 48 
6.2 Sujeito e discurso segundo Foucault .................................................................. 48 
6.3 Sujeito e discurso segundo Pêcheux .................................................................. 50 
6.4 Análise do Discurso ............................................................................................ 51 
7 O NOME E SUAS FUNÇÕES ................................................................................. 55 
7.1 O substantivo ...................................................................................................... 55 
7.2 Substantivos Uniformes em Gênero ................................................................... 58 
7.3 Adjetivos ............................................................................................................. 60 
8 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 63 
8.1 Predicação verbal ............................................................................................... 63 
8.2 Verbo transitivo e seus objetos ........................................................................... 65 
8.3 Verbos de ligação e o predicativo ....................................................................... 66 
8.4 Tipos de predicado ............................................................................................. 67 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 INTRODUÇÃO 
Na linguística, há muito debate sobre qual abordagem teórica é melhor para 
entender os fenômenos da linguagem. Estudiosos formalistas e funcionalistas sempre 
enfrentaram argumentos e tentaram defender suas propostas. A linguística como 
ciência evoluiu do debate e conflito de teorias sobre ideias. Nesta unidade, 
aprenderemos sobre a perspectiva teórica do funcionalismo, suas diferenças em 
relação ao formalismo e as complementaridades entre esses paradigmas. O campo 
funcionalista examina a relação entre pronúncia, raciocínio e ensino. Além disso, 
também são explorados os conceitos de iconografia, marcação, transitividade, 
informacionalidade, gramaticalização e discurso. 
2.1 Funcionalismo e sua ligação com o formalismo 
O funcionalismo na linguística é um movimento caracterizado pela crença de 
que as estruturas fonológicas, gramaticais e semânticas da linguagem são 
determinadas pelas funções que a linguagem desempenha na sociedade. Comum a 
várias terapias funcionalistas é a crença de que a estrutura da fala é determinada pela 
aplicação em que é usada e pelo contexto comunicativo em que ocorre. 
Segundo Trask (2004, p. 120-121), o funcionalismo é “[…] qualquer abordagem 
na descrição da estrutura linguística que dá importância aos propósitos para os quais 
a linguagem é empregada”. Muitas abordagens se concentram nas características 
puramente estruturais das línguas, negligenciando suas funções potenciais. Na 
atualidade, muitos linguistas escolhem associar a pesquisa da estrutura com 
investigação da função. Um exemplo de abordagens funcionalista é a role and 
reference grammar, elaborada por William Foley e Robert Van Valin, que faz uma 
descrição linguística e pergunta quais objetivos comunicativos devem ser abordados 
e quais meios gramaticais estão disponíveis para isso; e a linguística sistêmica, 
desenvolvida por Michael Halliday, que estuda a estrutura de uma grande unidade de 
linguagem, texto ou discurso. 
Para Jakobson (2005), a linguagem denota uma variedade de funções, e 
devemos levar em consideração os elementos constitutivos do ato de comunicação, 
como ilustra a Figura 1. 
 
 
Figura 1 – Elementos constitutivos da comunicação 
Fonte:Brandão (2023), documento on-line. 
Para haver comunicação eficiente é necessário que a mensagem preencha as 
condições a seguir: 
- Ter uma conjuntura na qual o destinatário entenda o contexto, por exemplo, o 
conteúdo de uma mensagem que se refere a informações da realidade. Para que o 
destinatário entenda a mensagem, deve saber a quantidade de informação dos 
elementos e a informação relativa ao momento de retorno da mensagem, que está 
relacionado com o conhecimento do assunto em questão. Para este grupo, são 
informações que podemos chamar de contexto. 
- Conter um código que seja conhecido pelo remetente e pelo destinatário como sinais 
ou signos que foram convencionados para promover a comunicação (português, 
língua de sinais, sinalização de trânsito, por exemplo). 
- Conter um canal físico e uma conexão psicológica entre remetente e destinatário que 
permitam a troca de informações. Por exemplo: como o meio pelo qual a mensagem 
é transmitida (telefone e e-mail). 
Existem seis funções da linguagem estabelecidas por Jakobson (1991): 
1. Função referencial: transmissão de informações do remetente ao destinatário. 
Um recurso orientado ao contexto, como nas notícias apresentadas nos jornais. 
2. Função emotiva: também chamada de expressiva, concentra-se no remetente 
para a manifestação dos sentimentos do remetente, sendo que o sentimento é 
 
 
refletido na mensagem. Isso se expressa por interjeições, adjetivos, advérbios, 
pontuação, como, por exemplo, na narração de uma partida de futebol. 
3. Função conotativa: É centralizada no destinatário, que se expressa de modo 
a influenciar o comportamento desse destinatário por meio de uma orientação. 
Representada pelos imperativos, vocativos pela segunda pessoa. A exemplo 
disso são os casos de discurso publicitário. 
4. Função fática: centrado no canal, consiste em iniciar, continuar ou parar um 
ato de comunicação. A função fática também está presente em todo o texto 
publicitário, pois o objetivo é manter contato com o leitor, outro exemplo é o 
“alô” no telefone. 
5. Função metalinguística: refere-se ao próprio código usado, usa linguagem 
para se referir ao próprio idioma, como os verbetes de dicionário. O código vai 
além da linguagem em si, geralmente inclui linguagens que organizam os sinais 
em uma mensagem que se move pelo canal entre o envio e o recebimento. 
6. Função poética: centrada na mensagem, enfoca a mensagem e sua forma. 
Não se resume à poesia, apesar de esta ser sua principal representante. 
Reforça a expressividade e a eficácia da mensagem. Por exemplo: “O cravo 
brigou com a rosa/ defronte de uma sacada/ — Ai! Cantigas esquecidas, / 
crianças de mãos trançadas” (FENSKE, 2015, documento on-line). 
 
Para os funcionalistas, a linguagem é um instrumento de interação social. E 
seus interesses estão na pesquisa. “[…] vai além da estrutura gramatical, buscando 
na situação comunicativa – que envolve os interlocutores, seus propósitos e o 
contexto discursivo – a motivação para os fatos da língua” (MARTELOTTA, 2011, p. 
157). Na análise funcionalista, enunciados e textos referem-se às funções que 
desempenham na comunicação, trabalhando com fala real ou dados escritos. 
Segundo Martelotta (2011, p. 158) destaca que as características do 
funcionalismo é a de que a visão de linguagem não constitui um conhecimento 
específico, mas um complexo conjunto de atividades comunicativas, sociais e 
cognitivas. O modelo funcionalista caracteriza-se por duas propostas básicas: a língua 
desempenha funções que são externas ao sistema linguístico em si; e as funções 
externas influenciam a organização interna do sistema linguístico. 
Na sua origem, funcionalismo emerge como um movimento particular no 
 
 
estruturalismo, enfatizando o papel da função das unidades linguísticas. Atribui-se aos 
membros do Círculo linguístico de Praga os primeiros estudos na linha funcionalista. 
Eles enfatizaram o caráter multifuncional da linguagem. O funcionalismo também teve 
representações em outras correntes, como a Escola de Genebra, a Escola de Londres 
e o Grupo Holandês. 
De acordo com Martelotta, (2011) a linha funcionalista linguística norte-
americana teve como iniciador Dwight Bolinger, que impulsionou o funcionalismo com 
suas análises de fenômenos particulares, como em seu estudo pioneiro sobre a 
pragmática da ordenação das palavras na cláusula. Já anos 1970, o funcionalismo 
busca explicar a língua com base no contexto linguístico e na situação extralinguística. 
Isto é percebido na vinculação entre discurso e gramática: 
[...] as regras da gramática são modificadas pelo uso (isto é, as línguas variam 
e mudam) e, portanto, é necessário observar a língua como ela é falada. 
Dessa forma, a análise dos processos de variação e mudança linguística 
consiste em uma das áreas de interesse preferido da linguística funcional 
(MARTELOTTA, 2011, p. 164). 
As duas correntes de pensamento linguístico, funcionalismo e formalismo, 
diferem porque no funcionalismo a função das formas linguísticas desempenha um 
papel dominante, e no formalismo a análise da forma domina em detrimento dos 
interesses funcionais. O funcionalismo difere das abordagens formalistas porque 
entende a linguagem como um meio de comunicação social e está interessado nos 
fatos e motivações do uso da linguagem em um contexto linguístico. No funcionalismo, 
é possível explicar o uso interativo da linguagem analisando as condições discursivas 
em que esse uso ocorre. Além da descrição sintática, visa investigar as condições 
discursivas que envolvem as estruturas linguísticas. Portanto, os usos da linguagem 
formam um sistema. 
O formalismo estuda a autonomia da linguagem, sintaxe, com função 
independente de sua semântica e pragmática. Por outro lado, os funcionalistas 
consideram as formas linguísticas não autônomas porque se originam de processos 
reais de comunicação. Os formalistas não estão preocupados com a relação entre a 
linguagem e seu ambiente; a operação visa destacar as relações entre as formas 
linguísticas e a interação social. Ao analisar a linguagem, os formalistas abordam a 
gramática tradicional concentrando-se nos níveis: fonética, fonologia, morfologia e 
sintaxe. Os funcionalistas analisam como as necessidades sociais influenciam a 
 
 
construção da sintaxe, como a entonação. Segundo Neves (1997, p. 43) "[...] essas 
sub-regiões não estão relacionadas entre si por tamanho e estrutura, mas por 
características mutuamente controladas, como curvas de entonação típicas de certos 
padrões gramaticais em certas regiões do discurso. Por exemplo, discursos políticos". 
Apesar de suas diferenças, eles são complementares porque os dois fluxos não 
examinam objetos diferentes, mas escolhem diferentes fenômenos do mesmo objeto. 
2.2 Domínios de fatos linguísticos 
De acordo com Fiorin (2010), o sistema de linguagem tem opções semânticas 
e fônicas, bem como regras combinatórias. A pragmática nasceu da necessidade de 
estudar o uso da linguagem. A pragmática estuda a prática e a estrutura da linguagem 
e a relação entre seu uso. O ponto de partida nesta área foram os trabalhos de John 
Austin e Paul Grice. 
Conforme Jacques Moeschler e Anne Reboul (1994), há três domínios de fatos 
linguísticos que requerem a introdução de uma dimensão pragmática nos estudos da 
linguagem: fatos de enunciação, inferências e instrução. É fundamental estudar o uso, 
pois quando existe a troca verbal, comunica-se muito mais do que as palavras 
significam. 
 
Enunciação 
A enunciação apresenta enunciados (realizações linguísticas concretas). 
Certos enunciados não designam um objeto ou evento, mas fazem referência 
a si, o que é denominado de função autorreferencial. Portanto, isso significa dizer que 
há fatos linguísticos que só são entendidos em função do ato de enunciar, como os 
relacionados a seguir: 
• Dêiticos: indica o lugar ou o tempo em que um enunciado é produzidoou então 
os participantes de uma enunciação. São dêiticos os pronomes que indicam os 
participantes da comunicação; os marcadores de espaço, como os advérbios 
de lugar e os pronomes demonstrativos; e os marcadores de tempo. Com os 
dêiticos, é preciso conhecer a situação de uso. 
• Enunciados performativos: são os que realizam a ação por eles nomeada, 
como promessas, ordens, juramentos. A enunciação faz parte da significação. 
 
 
• Conectores: conectam ou explicam os atos enunciativos, como em “Joana 
pedirá aposentadoria, mas é segredo”. 
• Certas negações: quando se diz “Não gosto de balas, adoro-as”, a negação 
incide sobre sua acertabilidade, sobre a possibilidade de sua afirmação. É a 
enunciação dos termos posta em questão. 
• Advérbios de enunciação: no exemplo “Infelizmente, não posso fazer nada”, 
o advérbio não modifica o verbo, mas qualifica o ato de dizer como infeliz. 
Inferência 
Na inferência, vemos enunciados que desencadeiam uma sequência de 
implicações. As implicações não existem fisicamente, mas imbuem as declarações de 
significado. O orador é capaz de entender uma determinada afirmação e raciocinar 
nas entrelinhas. Quando falo “Joana é minha sobrinha”, o enunciado implica “Sou tia 
de Joana”. Em outros casos, a comunicação não é literal e só pode ser entendida 
dentro do contexto: é quando os falantes comunicam mais do que as palavras 
significam. Por exemplo, quando a mãe diz para o filho “A lata de lixo está cheia!”, ela 
não está fazendo uma constatação, mas indicando que ele deve levar o lixo para fora. 
Instrução 
Na instrução trata-se de palavras do discurso, conectores, conjunções, 
preposições, advérbios e outros que, conforme aparecem nos enunciados, instruem 
sobre a maneira de interpretá-los. Veja os exemplos de que o “mas” dá a instrução de 
oposição ou restrição ao que foi dito. 
As aulas acabaram, mas vou estudar nas férias. 
As aulas acabaram, mas a biblioteca está funcionando. 
As aulas acabaram, mas por que ainda estamos na escola? 
Entre os princípios e as categorias centrais do funcionalismo norte-americano 
estão: iconicidade, marcação, transitividade, informatividade, gramaticalização e 
discursivização. 
Nós nos expressamos através da linguagem na vida cotidiana. A estrutura 
gramatical que produzimos para funcionar é motivada pela situação comunicativa, 
havendo uma correlação entre o código linguístico (expressão) e seu conteúdo. Essa 
relação entre forma e função é chamada de iconicidade. Conforme os linguistas 
 
 
Cunha, Oliveira e Martelotta (2003, p. 30), “Os linguistas funcionais defendem a ideia 
de que a estrutura da língua reflete, de algum modo, a estrutura da experiência. Como 
a linguagem é uma faculdade humana, a suposição geral é que a estrutura linguística 
revela as propriedades da conceitualização humana do mundo ou as propriedades da 
mente humana”. A iconicidade manifesta-se em três subprincípios, relacionados à 
quantidade de informação, ao grau de integração dos constituintes da expressão e do 
conteúdo, e à ordenação linear dos segmentos. Por isso, permite investigar 
detalhadamente as condições que orientam os usos dos recursos de codificação 
morfossintática da língua. 
Subprincípio da quantidade 
Subprincípio da quantidade indica que quanto mais informações houver, maior 
será a quantidade da forma. A complexidade do pensamento se reflete na 
complexidade da expressão. Neste exemplo a seguir, temos a repetição do verbo; é 
como o falante expressa a intensidade da ação descrita (CUNHA, 2003): 
…o gato correu da sua dona… fugiu… e a dona atrás dele… correram… 
correram… correram. 
Subprincípio da integração 
Isso denota que o conteúdo cognitivamente mais próximo é melhor integrado 
na codificação. O que é mentalmente próximo é sintaticamente próximo. Esse 
subprincípio pode ser percebido no grau de integração que o verbo da subordinada 
apresenta em relação à oração principal. Vejamos o exemplo a seguir (CUNHA, 2003): 
Maria ordenou: fique aqui. 
Maria fez a filha ficar ali. 
A filha não queria ficar ali. 
Subprincípio da ordenação linear 
A ordenação das orações no discurso apresenta a sequência temporal em que 
os eventos descritos ocorreram. No exemplo a seguir, a ordenação das orações reflete 
a sequência temporal em que a receita é preparada (CUNHA, 2003): 
Sabe como faz um molho de tomates… corta os tomates… corta as carnes… 
cozinha o molho… 
 
 
 
Marcação 
Marcado e não marcado são termos desenvolvidos pela Escola de Praga. Esse 
princípio designa três critérios principais em um contraste gramatical binário: a 
complexidade estrutural, a distribuição de frequência e a complexidade cognitiva. Por 
exemplo, no nível sintático, o conceito de marcação expõe as consequências no uso 
da língua. Como no exemplo a seguir (CUNHA, 2003). 
Eu uso esta sandália. 
Esta sandália eu uso. 
A segunda sentença é mais marcada, por ser menos comum que a primeira no 
que se refere à ordenação: sujeito, verbo, objeto. 
Transitividade 
A transitividade é pertinente a uma função pragmática A maneira como o falante 
organiza seu texto também é determinada por seus objetivos comunicativos e pela 
percepção das necessidades do interlocutor. Assim, o texto distingue entre centrais e 
periféricos. Segundo Cunha, Oliveira e Martelotta (2003, p. 39), o grau de 
transitividade de uma oração reflete sua função discursiva característica, de modo que 
orações com alta transitividade assinalam porções centrais do texto, correspondentes 
à figura, enquanto orações com baixa transitividade marcam as porções periféricas, 
correspondentes ao fundo. Existe, portanto, uma correlação forte entre a marcação 
gramatical dos parâmetros da transitividade e a distinção entre figura e fundo. 
Informatividade 
Informatividade trata-se do que os interlocutores compartilham, ou acham que 
compartilham, na interação verbal. Uma pessoa comunica-se para informar outra 
sobre alguma coisa, que pode ser do mundo externo ou do seu mundo interno. Um 
sintagma nominal pode ser classificado como dado, novo, disponível e inferível. 
Referente dado 
Refere-se a uma informação já mencionada no texto. “Aí o coroinha da igreja 
falou que… (//) não sabia quem tinha levado a imagem”. Neste exemplo, o sujeito do 
verbo “saber” (símbolo //) foi mencionado na primeira cláusula, sendo um caso de 
referente anteriormente dado: “o coroinha”. 
 
 
 
Referente novo (informação nova) 
Trata-se de uma informação que o falante acredita não ser conhecida pelo 
ouvinte. Isto é, foi introduzida pela primeira vez no discurso: Comprei um carro semana 
passada. 
Referente inferível 
A entidade do discurso é inferível se o falante supõe que o ouvinte pode inferi-
la, por razões lógicas, de outra entidade já mencionada. Ex: “Eu peguei um avião 
ontem e o piloto* estava embriagado”. (* Entidade inferível) 
Na oração, a entidade “o piloto‟ pode ser inferível da entidade “um avião‟, pois 
podemos, a partir do conhecimento sobre o avião, inferir que o veículo tem piloto. 
Logo, neste caso, o referente não é dado e nem novo, é inferível. 
 
 
3 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS 
São chamadas de variações linguísticas as diferentes formas de falar o idioma 
de uma nação, visto que a língua padrão de um país não é homogênea. O sistema de 
línguas é formado por um conjunto de variantes que podem ser socioculturais, 
estilísticos, regionais, etários e ocupacionais. Isso faz com que cada grupo social, de 
diferentes ocupações, faixas etárias e regiões, crie o seu próprio dialeto, o qual é a 
sua forma de comunicação coloquial. 
Desta maneira, é possível perceber que as variações linguísticas estão 
presentes nas comunicações verbais das pessoas, em diferentes partes do mundo. 
Elas ocorrem sob influências dos contextos social, regional e histórico, em que tais 
processos de construção da fala ajudam a caracterizar como o sujeito vai se 
comunicar com oseu grupo. 
Segundo Faraco (2008), uma língua viva sempre apresenta variações, isso 
significa que, enquanto uma língua tiver falantes nativos, ela será dinâmica e 
heterogênea. 
De acordo com Cecato (2017), a língua muda para se conservar e é exatamente 
isso que ocorre. Para entender de maneira mais concreta essa afirmação, é possível 
 
 
comparar a língua a uma construção: sem revisões periódicas, ela desmorona. Pode 
parecer paradoxal afirmar que a língua muda para se conservar, mas é exatamente o 
que acontece. 
Esse é um cenário que nos ajuda a entender o processo de mudança de 
maneira geral. No âmbito das mudanças linguísticas, é importante exemplificar as 
causas mais evidentes e como a mudança pode ser percebida no cotidiano. 
 Para tornar a compreensão desses aspectos mais clara, podemos empregar 
como exemplo as hipóteses para descrever as mudanças ocorridas no português 
brasileiro (PB): A hipótese evolucionista, que trabalha com a pressuposição de que a 
língua se comporta como um ser biológico, obedecendo a um determinismo linguístico 
(o meio determinaria a mudança). A hipótese crioulista, que fundamenta o contato 
entre a língua do colonizador (português) e as línguas dos colonizados (africanos e 
ameríndios) como criador de certas particularidades da nossa língua; E a internalista 
(muito mais difundida que as outras), que propõe uma explicação interna ao sistema 
da língua para as mudanças ocorridas (CECATO, 2017). 
Segundo Cecato (2017), os estudiosos desses aspectos da língua costumam 
dividir as mudanças em dois grupos: mudança linguística e mudança gramatical ou 
lexical. O importante, nesse caso, é estar atento ao fato de que, dependendo do 
estágio dos estudos linguísticos, uma ou outra explicação receberá maior crédito. 
Também é interessante compreender que as leis que explicam as mudanças sonoras 
são um resumo do que aconteceu em determinada área e em determinado grupo de 
falantes, assim como a explicação com base em analogia e empréstimo recobre 
apenas determinado conjunto de mudanças. 
Outro conceito importante a ser abordado em relação às mudanças na língua 
é a variação linguística, condicionada por: mudança gramatical ou lexical. Essa 
mudança se dá quando um item lexical (palavra) ganha ou perde valor de uso na 
própria língua. Afirma-se, por exemplo, que ele passa por processos de 
gramaticalização quando assume outras funções que não desempenhava antes. 
Podemos dividir os estudos relacionados à variação linguística entre duas disciplinas 
essenciais: a dialetologia e a sociolinguística. Os dialetólogos selecionam um recorte 
geográfico, aplicam métodos de estudo para levantamento de características e, com 
base nos resultados obtidos, são responsáveis por elaborar os atlas linguísticos, que 
contém o mapeamento de sotaques e dialetos de determinado local. No Brasil, temos 
 
 
o Atlas Linguístico do Brasil (Alib). 
Enquanto a sociolinguística faz um recorte um pouco diferente da comunidade 
de falantes a ser pesquisada: a extensão territorial abarcada é bem menor do que 
aquela utilizada para compor um atlas. Além disso, há o emprego de outros métodos 
de pesquisa, os quais procuram descrever se os falantes mudam o registro utilizado 
conforme o gênero, a faixa etária, o nível sociocultural e o grau de formalidade. A partir 
dos resultados obtidos, costuma-se fazer análises descrevendo regras que promovem 
a variação do sistema, considerando fatores linguísticos e extralinguísticos. 
3.1 Modalidade linguísticas e variações 
A linguagem é a ferramenta que nos permite comunicar, expressar 
sentimentos, conhecimentos, expor nossas opiniões e, principalmente, nos insere no 
convívio social. A língua é um mecanismo mutável e sofre variações segundo o 
contexto social, histórico, geográfico e cultural em que é utilizada. Em um mesmo país, 
com um único idioma oficial, a língua é passível de alterações feitas através do uso 
por seus falantes. Essas variações conseguem conferir identidade ao determinado 
grupo que as provocou, seja através do passar do tempo, nos diferentes locais ou de 
acordo com fatores sociais e culturais. 
Segundo Neves, (2023) a variação linguística é a mudança que a língua 
apresenta devido à sua capacidade de transformação e adaptação. As línguas 
apresentam variações porque são utilizadas por falantes inseridos em sociedades 
complexas formadas por diferentes grupos sociais com diferentes práticas culturais e 
níveis de escolaridade. Trata-se, pois, de objeto de estudo da Sociolinguística, ramo 
que estuda como a divisão da sociedade em grupos – com diversas culturas e 
costumes – dá origem a diferentes formas de expressão da língua, as quais, embora 
se baseiem nas normas impostas pela gramática prescritiva, adquirem regras e 
características próprias. 
As variações linguísticas ocorrem nos âmbitos geográficos, temporais, sociais 
e situacionais como, por exemplo: 
• Variações diatópicas (regional ou geográfica): São variações da língua que 
existem em diferentes lugares e regiões. 
• Variações diacrônicas (históricas): Variações linguísticas que existiram em 
 
 
diferentes épocas, das mais antigas às mais modernas. Estão ligadas à 
dinâmica da língua, que sofre transformações através do tempo. Esses tipos 
de transformações podem se dar no âmbito da ortografia, como, por exemplo, 
a palavra farmácia, que antigamente era escrita com ph em vez do f. Outro 
exemplo é no caso de palavras e expressões, como “janota” e “arrastar a asa”, 
estas caíram em desuso com o passar do tempo e hoje são consideradas 
obsoletas. As gírias e expressões utilizadas pelos jovens ou determinados 
grupos sociais vão sendo também substituídas por outras com o passar do 
tempo. 
• Variações diafásicas (situacionais): variações linguísticas existentes conforme 
a situação, ou o contexto do ato comunicativo, do mais informal ao mais 
informal (NEVES, 2023). 
 
3.2 Diatópica: variações regionais ou geográficas 
Neves (2023) exemplifica o conceito sobre as variações de diatópica, que 
também são conhecidas como variações regionais ou geográficas. São influenciadas 
pelo local de residência do falante e variam conforme a região. Esse tipo de diferença 
ocorre porque diferentes regiões possuem diferentes culturas, costumes e tradições, 
bem como estruturas linguísticas. Existem palavras diferentes para o mesmo conceito 
em variações diatópicas como: 
• Aipim, mandioca, macaxeira; 
• Abóbora, jerimum, moranga; 
• Sacolé, chup-chup, geladinho; 
• Totó, pebolim, matraquilhos; 
• Fruta-do-conde, pinha, ata, anoma. 
 
Diferentes sotaques, dialetos e falares: 
• caipira; 
• gaúcho; 
• baino; 
• carioca; 
 
 
• montanhês 
• nordestino. 
Reduções de palavras e perda ou troca de fonemas: 
• véio (velho); 
• oiá (olhar); 
• muié (mulher); 
• cantá (cantar); 
• enxovar (enxoval); 
• pertim (pertinho); 
• vambora (vamos embora). 
 
3.3 Diacrônica: variações de linguística histórica 
Variações diacrônicas também são conhecidas como variações históricas. 
Estas variações ocorrem conforme as diferentes épocas vividas pelos falantes e 
permitem distinguir o português antigo do moderno e algumas palavras que já estão 
em desuso. A seguir, exemplos de variações diacrônicas (NEVES, 2023): 
Palavras que caíram em desuso: 
• Vossemecê/vosmecê; 
• botica; 
• comprir; 
• anóveas; 
• asinha; 
• sisa; 
• suso. 
 
Grafias que caíram em desuso 
• flôr; 
• pingüim 
• pharmácia; 
 
 
• therapeutico: 
• annos; 
• alliar; 
• analyse. 
 
Vocabulário e expressões típicas de uma determinada faixa etária: 
• Você é um chato de galocha! 
• Ele é maior barbeiro 
• Vai catar coquinho 
• Este quindim está supimpa! 
• Acho que tem uma marmota aí... 
• Ele deu uns tabefes no primo. 
3.4 Diastrática: variações de linguística social 
Variações diastráticas, também classificada como variação social, é a variação 
que ocorre conforme oscostumes e culturas de diferentes grupos sociais. Distinções 
desse tipo surgem porque diferentes grupos sociais têm diversos sistemas de 
conhecimento, comportamento e comunicação. São exemplos (NEVES, 2023): 
Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como skatistas: 
• Prefiro freetyle. 
• O gringo tem um carrinho irado. 
• O silk do skate tá insano. 
Jargões próprios de um grupo profissional, como policiais e militares: 
• Ele deu sopa na crista. 
• Vamos na rota dele. 
• Não mexe com meu peixe. 
Linguajar compartilhado por determinado grupo, como a comunidade 
LGBTQIA+: 
• Tô sem aqué, querida! Não posso ir ao show! 
• Então saiu de casa para vir aqui me gongar! 
 
 
• Este menino só sabe fazer Alice, vive no mundo da lua! 
3.5 Variação de registro, estilística ou diafásica 
A variação de registro, estilística ou diafásica mostra a condição de um mesmo 
falante usar formas diferentes dependendo da situação de comunicação em que se 
encontra, ou seja, suas escolhas são feitas durante o processo de interação com o 
outro. E podem ser caracterizados pelos meios usados para a comunicação como a 
própria fala, o e-mail, o jornal, a carta, etc. (PAULISTA, 2016). 
 
3.6 Diferentes níveis de linguagem 
Se considerarmos que linguagem pode ser todo e qualquer tipo de mensagem 
que conduza uma comunicação (verbal, visual, auditiva, etc.), podemos começar a 
compreender que a linguagem se manifesta e ocorre em diferentes níveis. Dentro da 
mesma lógica, também sabemos que existem variações na língua para que ela se 
adéque a determinados contextos e que essas variações são de diferentes classes. 
As variáveis a respeito da forma de produção linguística e as apresentadas pela língua 
constituem os níveis de linguagem. Alguns linguistas consideram níveis de linguagem 
apenas a diferença que se dá entre a forma material que a língua é produzida (de 
forma oral ou escrita); outros, contudo, caracterizam como níveis de linguagem as 
diferentes variações linguísticas numa mesma língua. Nesta seção, portanto, 
consideraremos como níveis de linguagem as duas acepções, de forma que 
compreenda as concordâncias entre emissor e receptor para que uma mensagem seja 
compreendida, considerando tanto o meio de produção linguística como as variações 
dela (CORTINA, 2018). 
3.6.1 Linguagem informal 
 
É o tipo de linguagem mais natural e espontânea, uma vez que não há, 
necessariamente, uma preocupação em seguir uma norma culta da língua. Esse nível 
de linguagem é utilizado quando a função da linguagem é mais importante do que sua 
forma, de modo que a estruturação e as escolhas lexicais não seguem, à risca, normas 
 
 
de formação. Exemplo desse nível são as conversas informais entre amigos e 
qualquer outro tipo de linguagem utilizada de forma espontânea. 
Geralmente, o nível coloquial de linguagem (que também é conhecido como 
popular (ou informal) é de apropriação de todos os falantes de uma língua, o que não 
ocorre no nível formal (do qual somente alguns falantes se apropriam). 
Como exemplo do nível coloquial, temos as gírias, expressões utilizadas por 
determinados grupos sociais, em um certo recorte de tempo, mas não são aceitas 
pelo nível da linguagem formal. 
• Fala, garoto! Beleza? 
• Rola um cineminha hoje? 
• Cadê Pedro? Cê viu ele? 
• Tá olhando pra onde? 
• Valeu, Luísa! 
3.6.2 Linguagem formal 
 
Cortina (2018) ressalta que a linguagem culta é aquela considerada canônica 
e ensinada nas escolas, respeitando regras gramaticais, formulações, padrões, etc. 
Utilizada por pessoas consideradas “mais instruídas”, sendo necessário o 
conhecimento de normas, regras e convenções. 
Por ser uma língua que respeita regras e padrões, pode ser considerada 
rebuscada. Esse tipo de língua é comumente encontrada na literatura e na grande 
maioria dos textos escritos. O nível da linguagem culta diz respeito não somente às 
escolhas lexicais, mas a toda e qualquer norma de formação dentro da língua. 
A utilização da norma culta se torna um filtro social, uma vez que seu uso 
é limitado apenas por pessoas com grau de instrução formal. Em consequência disso, 
pode haver situações comunicacionais que sejam mais complexas para um grupo de 
pessoas sem a apropriação da norma culta. 
É por essa razão que alguns textos e situações comunicativas se tornam 
complexos para falantes que não se apropriam da linguagem culta. No que se refere 
ao sentido, a norma culta pode se tornar um fator complicador em situações 
comunicacionais entre alguém que a utilizou em uma determinada situação na qual 
seu receptor não conhece esse tipo de língua. Um exemplo é a linguagem jurídica ou 
 
 
médica, bastante rebuscada e confusa para quem não tem instrução formal. 
 
• Bom dia! Tudo bom com você? 
• Querem ir ao cinema hoje? 
• Onde está a Srª Cláudia? Você viu-a? 
• Nós gostamos dele. 
• Está olhando para onde? 
• Muito obrigada, Luísa! 
 
3.7 Preconceito linguístico 
 A área encarregada de estudar as variações linguísticas é a sociolinguística, 
que não só analisa e estuda os diferentes tipos de variação como também 
questiona as consequências culturais e sociais provenientes de variações. 
Entre essas consequências, está o preconceito linguístico, que julga que uma 
variação linguística é superior a outra. Sobre esse preconceito é que surge o mito 
de que "existem formas erradas de se falar", o que não é, puramente, verdade 
(CORTINA, 2018). 
Existem, obviamente, formas diferentes de se falar; contudo, o objetivo da fala 
é criar um contexto comunicativo e transmitir uma mensagem. O modo de 
transmiti-la pode variar e, de acordo com convenções, pode ser mais ou menos 
apropriado para um determinado contexto. Entretanto, julgar que uma pessoa 
"fala errado" porque ela se apropria de uma variação linguística diferente 
da que estamos acostumados é um erro muito grande, pois cada variação é 
consequência de fatores históricos e culturais distintos. 
 
 
 
 
 
 
O conhecimento acerca dos processos de formação de palavras (que pode 
 
 
ocorrer através da reflexão sobre o funcionamento da nossa língua portuguesa) 
possibilita que os indivíduos percebam que a língua existe como meio de comunicação 
entre homens; sendo que as significações linguísticas estão na base dessa 
comunicação. Quanto mais se compreende o funcionamento da língua como um 
sistema vivo e mutante, mais habilitados os sujeitos estarão para compreender o 
contexto no qual estão inseridos e aumentam-se assim as possibilidades de 
interpretação. A partir disso amplia-se a noção do certo e do errado e passamos então 
a perceber a língua como algo que demarca historicamente um povo e um tempo. 
Sabe-se que vivemos na sociedade da comunicação e da informação, na qual a 
palavra dita e, sobretudo, escrita, é utilizada com grande intensidade. As redes sociais 
modificaram as relações dos indivíduos com o uso da palavra, o domínio dela, por 
conseguinte, a possibilidade de ocupar diferentes espaços de forma adequada e 
fazendo uso da riqueza que a língua oferece (FREITAS; AREÁN-GARCÍA, 2010). 
3.8 Conceitos básicos de morfologia 
O processo de formação de palavras traz implicações, uma vez que é preciso 
constante atualização e contextualização para que não se limite o espaço do 
aprendizado. Se você parar para pensar, podemos citar inúmeras novas palavras na 
nossa língua: agito, xingo, desmate, carreata, entre outras (ROCHA, 1998). A partir 
dessas criações, podemos nos perguntar: por que algumas causam estranheza e 
outras não? Por exemplo, a palavra desmorrer, já que a forma desmerecer é aceita. 
Por que razão a palavra atingimento não é considerada uma palavra existente na 
língua, mas possível de ser criada? Por que uma palavra proferida por uma figura 
pública causa tanto comentário? Pense na palavra imexível e o que ela gerou após 
ter sido pronunciada por um ministro do Estado. Por que no Rio Grande do Sul temos 
como formaconsagrada ‘lavagem’ e em Santa Catarina ‘lavação’? 
Essas e outras questões devem ser discutidas no contexto da morfologia. No 
decorrer da aprendizagem, é necessário fazer algumas perguntas como: para que 
serve formar novas palavras? Como formamos novas palavras? Quando parece 
ocorrer a aquisição de novas palavras ou palavras de outras línguas? Quais são as 
partes integrantes de uma palavra? A partir de que critério(s) podemos dizer que uma 
palavra existe em uma língua? 
 
 
Portanto, o objetivo da teoria morfológica da linguagem é definir como e quais 
novas palavras podem ser adquiridas para processos de ensino e aprendizagem. 
Assim, um falante que ouve uma palavra ou pela primeira vez pode reconhecê-la como 
uma palavra em sua própria língua e, de tal forma, permite a intuição sobre sua 
estrutura e possíveis significados. 
 Assim, a teoria morfológica descreve esses fatos, especialmente os 
mecanismos formais que criam novas palavras e a análise de palavras já existentes 
permite a intuição sobre a estruturação dela e de seus possíveis significados. 
Portanto, descreve esses fatos, especialmente os mecanismos formais que criam 
novas palavras e a análise de palavras que já transitam nessa língua. 
3.9 Contribuições históricas dos estudos morfológicos 
Cada autor dedica um capítulo ao estudo da morfologia no estudo das 
gramáticas normativas. No contexto da linguística, ou seja, no que se refere ao estudo 
científico do funcionamento da linguagem, a morfologia como campo de estudo tem, 
historicamente, dias de valorização e de esquecimento. No período da gramática 
estrutural, ela foi centro de atenção e, portanto, alcançou um progresso. Já no período 
da linguística gerativo-transformacional, a morfologia ficou esquecida se comparada 
à sintaxe e à fonologia. 
No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações 
frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo, de tal 
forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a sua própria teoria 
e procedimentos à medida que caminham. De acordo com Bauer (1983 apud ROCHA, 
1998, p. 7): 
No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações 
frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo, 
de tal forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a 
sua própria teoria e procedimentos à medida que caminham. 
Entretanto, com o desenvolvimento histórico das sociedades e a tentativa cada 
vez maior de entender os fenômenos que ocorrem no mundo, essa ideia deu lugar a 
um estudo cada vez mais aprofundado da morfologia. 
No contexto da língua portuguesa, os autores da área se consagram e isso 
aumenta a visibilidade e a importância da pesquisa linguística. Margarida Basílio, por 
 
 
exemplo, tem uma relevante obra publicada no Brasil, com o título: Estruturas Lexicais 
do Português: uma abordagem gerativa, evidenciando assim o interesse crescente 
pela disciplina. 
São quatro as escolas que estudam e analisam os componentes morfológicos 
da língua: o descritivismo, o historicismo, o estruturalismo e o gerativismo. Para as 
gramáticas tradicionais, este tema é de menor relevância. No entanto, no período de 
influência do estruturalismo houve um maior interesse, este logo ultrapassado pela 
teoria gerativista (Quadro 1). 
Quadro 1 - Descrição do componente morfológico das línguas pelas quatro grandes 
escolas 
Descritivismo Historicismo Estruturalismo Gerativismo 
Relação entre lógica 
e linguagem 
Filologia românica; 
filologia germânica 
Ferdinand Saussure — 
estruturalismo europeu 
Noam Chomsky 
Regularidades vs. 
irregularidades 
Língua: português, 
francês, espanhol e 
italiano com suas 
origens no latim vulgar 
O arbitrário do signo: a 
língua é um sistema de 
valores constituído por 
diferenças puras 
Língua inerente à 
condição humana 
Fixar paradigma Filologia: um estudo 
histórico 
Língua inerente à 
condição humana 
Capacidade criadora 
de um ser pensante 
Elemento e 
paradigma 
Estudos linguísticos com 
abordagem diacrônica A 
oposição forma as 
estruturas da língua 
Instrumento para livre 
expressão do 
pensamento 
A oposição forma as 
estruturas da língua 
Instrumento para livre 
expressão do 
pensamento 
Descrição e fixação Evolução na morfologia 
histórica 
Leonard Bloomfield — 
estruturalismo norte-
americano 
Linguagem não é mero 
instrumento de 
comunicação 
Aristóteles — partes 
do discurso 
Privou o estudo da 
língua em uso 
Preocupação com a 
filosofia da linguagem 
Estrutura profunda e 
superficial 
Estoicos — casos 
nominais 
Gramática histórica ou 
comparativa: 
preocupada com a 
evolução da palavra 
como um todo 
Caráter prático e 
utilitarista — morfema 
(= menor unidade da 
palavra); uma visão 
procedimental 
Regras morfológicas 
que operam dentro do 
componente lexical 
 
Trabalhos desenvolvidos pelo estudioso Mattoso Câmara Júnior (1970, 1971), 
em meados da década de 1970, destaca que a morfologia volta a ser legitimada como 
objeto de estudo na Teoria Gerativa, destacando-se o nome de Noam Chomsky 
(1970). Durante este período de consolidação, o estudo das estruturas internas da 
 
 
palavra, a morfologia se confronta com dificuldades de definição do seu objeto de 
estudo. Com o transcorrer das pesquisas em torno dessa temática, melhores 
definições são estabelecidas. Passa-se a trabalhar com regras de formação de 
palavras. A partir dessa interpretação, historicamente, consolida-se o foco na 
competência linguística. Ou seja, parte-se da possibilidade de pensar não apenas nas 
formas existentes das formas lexicais, mas potencializar o estudo da ciência 
linguística a partir da valorização da potencialidade das línguas para a formação do 
novo, com o objetivo principal de atender as necessidades comunicativas. 
3.10 Estrutura das palavras 
O conjunto das palavras e expressões de uma língua é denominado léxico. A 
noção de léxico é abstrata, visto que não se consegue saber exatamente qual é o total 
de palavras em uso. Como a língua está em constante mudança, ora surgem palavras 
novas, ora palavras caem em desuso (CARVALHO, 2023). O léxico é tradicionalmente 
definido como a coleção de palavras de um determinado idioma. Segundo a 
abordagem clássica, o estudo do léxico busca ampliar o conhecimento sobre os traços 
e características de cada palavra. Isso está no passado e no presente, pois as 
mudanças ocorrem conforme a história do espaço, do tempo e da formação da 
linguagem, pois ela não é estática, ela se movimenta conforme a sociedade evolui. 
Por exemplo, palavras como: internet, imprimir, escanear, tuitar. Houve inserção delas 
no vocabulário de língua portuguesa pelo senso comum — algumas ainda sem 
registro formal, por enquanto (ROCHA, 1998). 
Na tradição dos estudos gramaticais, a morfologia se concentra no estudo da 
flexão. Vários processos de derivação e modificação, bem como a expansão de 
palavras, desempenham funções reatribuídas que se transformam em estruturas 
morfológicas lexicais. 
A morfologia não existe por acaso, ela é historicamente a subdivisão mais 
antiga da gramática, mas reconhecida como tal apenas na segunda metade do século 
XIX. Os linguistas que iniciaram os estudos sobre morfologia não se percebiam, até 
então, como morfologistas. Dessa forma, o léxico representa um depósito de 
elementos de designação, pois fornece unidades básicas para a construção de 
enunciados e também comporta os processos de formação das palavras (ROCHA, 
 
 
1998). 
Segundo Basílio (2006, p. 10), o léxico é “ecologicamente correto”, pois tem um 
banco de dados em permanente extensão, mas utilizando material já existente, assim, 
reduzindo a dependência de memória e garantindo a comunicação automática. A 
exemplo disso, são palavras como: computacional, globalização, etc., onde percebe-
se novas formas de palavras já existentes. Overbo computar, por exemplo, já existia, 
e serviu de base para a formação de computador; o sufixo ‘ção’, também já existente, 
possibilita a construção da palavra computação, e assim por diante. Para melhor 
compreensão, observe a Figura 1: 
Figura 1 - Abordagens da morfologia, da semântica e da sintaxe 
 
Classes de palavras 
As classes de palavras, ou categorias lexicais, envolvidas em processos de 
formação de palavras são: 
• Substantivo 
• Adjetivo 
• Artigo 
• Pronome 
• Numeral 
 
 
• Verbo 
• Advérbio 
• Conjunção 
• Preposição 
A classe das palavras denominadas substantivos é determinada por um traço 
morfológico que apresenta e determina o caso de gênero e número; sua propriedade 
semântica indicando seres ou entes; e sua característica sintática é a ocupação do 
núcleo do sujeito e os complementos (BASÍLIO, 2006). 
A classe dos adjetivos é definida pela propriedade de caracterizar ou qualificar 
os seres designados pelos substantivos e desta forma concordar em gênero e número 
com eles. Agora os verbos, são definidos como aquela classe de palavras que 
representa ações e relações (eventos, estados, etc.) no tempo, tendo como função a 
predicação e apresentando flexões de tempo e de modo (BASÍLIO, 2006). 
Os advérbios configuram a classe de palavras invariáveis com função de 
modificar verbos, adjetivos e também outros advérbios e enunciados. 
O artigo é denominado como aquele que antecede o substantivo e funciona 
como determinante ou indeterminante deste último. Os artigos podem ser flexionados 
em número e gênero. A classe de palavras denominada pronome contempla aquelas 
palavras que identificam o indivíduo no momento comunicacional, ou seja, evidencia 
as pessoas do discurso. 
Já, o numeral é um conjunto representado por palavras com função de 
quantificar numericamente ou indicar ordem de sequência para aquilo a que faz 
referência na construção da comunicação. A conjunção tem a função de ligar 
elementos dentro da construção dos enunciados. Essa função também é a das 
preposições, ou seja, para que se tenha clareza no discurso, uma palavra deve estar 
ligada à outra. 
Os processos de formação de palavras apresentam funções gramaticais e 
funções semânticas; e os seus produtos, ou seja, as palavras formadas, apresentam 
propriedades morfológicas, sintáticas e semânticas (CÂMARA, 1977). 
É possível dividir as palavras como variáveis e invariáveis: 
Variáveis 
As palavras variáveis podem ser flexionadas em gênero e número (algumas, 
 
 
inclusive, em grau). São exemplos: 
• Adjetivo 
• Artigo 
• Pronome 
• Substantivo 
• Verbo 
Invariáveis 
Agora, as palavras tidas como invariáveis são aquelas que não se modificam 
em gênero ou número. Ou seja, independentemente da construção enunciada, elas 
mantêm o mesmo formato. O contexto não interfere e, da mesma forma, o arranjo 
textual não as modifica. Como, por exemplo: 
• Advérbio 
• Conjunção 
• Preposição 
Segue exemplo no quadro 2: 
 A colaboradora psicóloga ficou muito estressada 
Artigo 
Feminino 
singular 
Substantivo 
Feminino 
singular 
Adjetivo 
Feminino 
singular 
Verbo 
Conjugado no 
feminino 
singular 
Advérbio 
invariável 
Adjetivo 
Feminino 
singular 
 
Pode-se perceber neste exemplo que todas as palavras que compõem o 
enunciado concordam em gênero e número, isto é, estão no feminino singular 
conforme o núcleo do sujeito (colaboradora), com exceção apenas para o advérbio de 
intensidade muito. Conforme visto anteriormente, este é invariável. Enfim, o processo 
de formação de palavras pode ocorrer por derivação sufixal ou prefixal; parassintética, 
conversiva, siglada, grafêmica, silábica, fortuita, por composição e onomatopei
4 AS PALAVRAS E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
 Alguns autores estudam a morfologia em separado de outras partes da 
gramática, como a sintaxe e fonologia, por exemplo; enquanto autores como Bechara 
(2009) e Peixoto Filho (2021) preferem estudar a parte da gramática 
descritiva/normativa sob o nome de Morfossintaxe (grafada aqui com primeira letra 
em maiúscula para realçar seu valor semântico e lexical). Assim, podemos considerar 
que morfologia “ocupa-se da estrutura e da classificação das palavras” (CEGALLA, 
2008, p. 90). A primeira parte da morfologia é a estrutura da palavra, mais 
especificamente (a) elementos básicos e significativos; (b) elementos modificadores 
da significação e (c) elementos de ligação ou eufônicos. 
4.1 Elementos básicos e significativos – Raiz, Radical e Tema 
Raiz - Nas palavras de Peixoto Filho (2021), os estudos de morfologia, na perspectiva 
tradicional, é o estudo dos vocábulos tomados isoladamente. Nesse sentido, quando 
nos propomos a estudar um vocábulo em perspectiva morfológica estamos 
aproximando-nos desse vocábulo para estabelecer seus elementos básicos que dão 
a ele uma significação a partir de sua apresentação de forma, a partir do seu formato. 
Os estudos morfológicos estritos sensos abrange os elementos mórficos 
(morfemas) e sua estruturação na formação dos vocábulos. O objeto mínimo 
de estudo da morfologia (sem entrar em pormenores terminológicos) é o 
morfema: unidade formadora (lexemas, afixos, morfemas de gênero e 
número). Na correlação entre esses morfemas é que se estuda o vocábulo, 
considerado isoladamente (PEIXOTO FILHO, 2021, p. 29) 
 Podemos ainda considerar, por seu turno, que existem unidades menores de 
significação, como acontece com os radicais, por exemplo. Entre esses elementos 
mínimos de significação está a “raiz”, também chamado de “radical primários”. Nas 
palavras de Cegalla (2008, p. 90) a raiz “é o elemento originário e irredutível em que 
se concentra a significação das palavras, consideradas do ângulo histórico. 
Geralmente monossilábica, a raiz encerra sentido lato e geral, comum às palavras da 
mesma família etimológica”. 
A compreensão de Bechara (2009, p. 285) amplia a difere, ainda que 
ligeiramente, da conceituação empregada acima. Segundo ele “chama-se raiz, em 
gramática descritiva, ao radical primário ou irredutível a que se chega dentro da língua 
 
 
portuguesa e comum a todas as palavras de uma mesma família”. Quando falamos 
de família de palavras, estamos nos referindo aquelas palavras que possuem alguma 
semelhança, seja de gênero ou de forma. 
Nas gramáticas históricas, o elemento na palavra chamado de “raiz” só pode 
ser aplicado se uma palavra tem uma origem em outra língua e se nessa outra língua 
esse vocábulo básico for usado em outras palavras da mesma família, ou seja, se uma 
palavra tem sua origem no latim, as gramáticas históricas vão dizer que só existe um 
vocábulo raiz no termo em latim, nunca na palavra em língua portuguesa; mas na 
gramática descritiva, como acabamos de observar, essa distinção não se opera. 
• Em um primeiro exemplo, temos a raiz noc (do latim nocere = prejudicar) tem 
a significação geral de causar dano, e a ela se prendem, pela origem comum, 
as palavras: Nocivo / Nocivas / Nocividade / Inocente / Inocentar / Inócuo, etc. 
• Uma raiz pode apresentar-se alterada como nas seguintes palavras: 
Ag-ir / Ag-ente / re-Ag-ir * Ex-ig-ir / Ex-ig-ência * At-o / At-or / At-oa, etc. 
É preciso dizer que o estudo das raízes muitas vezes foge à finalidade da 
gramática normativa (como vimos acima), muitas vezes e por características próprias, 
esses estudos só interessa à gramática histórica ou, mais precisamente, à etimologia. 
Numa análise morfológica elementar das palavras portuguesas, deve-se preterir a raiz 
e partir do radical, considerado como radical em língua portuguesa. 
O elemento central da raiz da palavra em língua portuguesa é que ela (a raiz) 
dá instabilidade e regularidade à palavra. Para não confundirmos raiz com radical, que 
parece ser coisas iguais, mas que tecnicamente são diferentes, é necessário ter em 
conta que a raiz é o elemento originário da palavra, relacionando-se com a 
sua significaçãohistórica, ou seja, ao seu estudo diacrônico, seu estudo no tempo. 
Levando em conta essa diferença, podemos dizer que em algumas palavras ou 
família de palavras, o que vemos não é a raiz e sim o radical, que também funciona 
como elemento significativo, mas que não carrega o aspecto histórico; o radical 
relaciona-se com o aspecto sincrônico. Abaixo algumas palavras formadas com 
radicais gregos e que são estudados com maior atenção pela gramática histórica: 
 
 
 
 
 Quadro 1 – Palavras com radicais gregos 
Radical Exemplos Significado 
Aéros- Aeronave Ar 
Ánthropos- Antropófago homem 
Autós- Autobiografia De si mesmo 
Biblion- Biblioteca Livro 
Bíos- Biologia Vida 
Chroma- Cromático Cor 
Chrónos- Cronômetro Tempo 
Dáktyllos- Dactilografia Dedo 
Déka- Decassílabo Dez 
Démos- Democracia Povo 
Eléktron- Eletricidade Eletroímã (âmbar) 
Ethnos- Etnia Raça 
Géo- Geografia Terra 
Héteros- Heterogêneo Outro 
Hexa- Hexágono Seis 
Hippos- Hipopótamo Cavalo 
Ichthýs- Ictiografia Peixe 
Isos- Isósceles Igual 
Makrós- Macróbio Grande, longo 
Mónos- Monocultura Um só 
Nekrós- Necrotério Morto 
Radical Exemplos Significado 
Néos- Neolatino Novo 
Odóntos- Odontologia Dente 
Ophthalmós- Oftalmologia Olho 
Ónoma- Onomatopeia Nome 
 
 
Radical Exemplos Significado 
Orthós- Ortografia Reto, justo 
Pan- Pan-americano Todos, tudo 
Páthos- Patologia Doença 
Penta- Pentágono Cinco 
Polýs- Poliglota Muito 
Pótamos- Potamologia Rio 
Pséudos- Pseudônimo Falso 
Psiché- Psicologia Mente 
Riza- Rizotônico Raiz 
Techné- Tecnográfica Arte 
Thermóg- Térmico Quente 
Tetra- Tetraedro Quatro 
Týpos- Tipografia Figura, marca 
Tópos- Topografia Lugar 
Zóon- Zoologia Animal 
Fonte: Adaptado de CEGALLA, 2008, p. 113. 
Radical – Embasados nas informações com as quais lidamos acima, podemos 
acompanhar Cegalla (2008) quando tenta simplificar sua compreensão sobre o que 
seria um radical. Segundo ele, um radical é “o elemento básico e significativo das 
palavras, consideradas sob o aspecto gramaticai e prático, dentro da língua 
portuguesa atual” (CEGALLA, 2008, p. 91). Sob essa perspectiva é notória a ênfase 
dada pelo autor quando considera que o radical só pode ser entendido por um prisma 
“atual”, sincrônico. 
A propósito é preciso lembrar que em certas palavras da língua portuguesa só 
existe o radical. Ao sabermos sobre a função da raiz em uma palavra, podemos então 
fazer diferenciações de outras unidades morfológicas de uma palavra e analisar as 
estruturas morfológicas que constituem palavras e sua formação de forma. O radical 
é, em algumas gramáticas, chamado de “semantema". Observe as seguintes palavras 
com um radical comum: 
 
 
• Livr – o 
• Livr – inho 
• Livr – eiro 
• Livr – eco 
• Livr - asso 
É preciso lembrar que a língua portuguesa é considerada uma língua 
“neolatina”, cuja ascendência originária remonta ao Latim (notadamente o latim vulgar 
e não o latim clássico), falado pelas altas autoridades. Quando olhamos uma lista de 
palavras que apresentam em seus radicais de palavras latinas, é comum observarmos 
que essas palavras aparecem em léxicos classificando essas palavras como “palavras 
clássicas do latim”; isso acontece porque essas mesmas palavras apesar de em sua 
maioria serem faladas pelas pessoas comuns, em sua forma escrita, elas mantiveram 
sua forma culta de escrita e de pronúncia. Vejamos uma lista de palavras em cujo 
radical é uma palavra latina. 
• agri – campo: agricultura 
• ambi – ambos: ambidestro 
• api – abelha: apicultor 
• arbori – árvore: arborizar 
• beli – guerra: bélico 
• cado – que cai: cadente, decadência, decadente 
• cola – que habita: silvícola 
• fico – que faz ou produz: benéfico 
• fide – fé: fidelidade 
• frater – irmão: fraternal, fraternidade 
 
 
• gero – que contém ou produz: lanífero 
• ludo – jogo: ludoterapia, ludíco 
• mater – mãe: maternidade, maternal 
• multi – muitos: multinacional 
• opera – obra: operário 
• pluri – muitos: pluricelular 
• silva – floresta: silvícola 
• vídeo – que vê: vidente 
• volo – bem: benévolo 
• voro – que come: carnívoro 
Cognatos – É preciso lembrar que não se deve confundir palavras cognatas, que por 
definição são aquelas palavras ou vocábulos que procedem de uma raiz comum, 
com aquelas palavras que apenas aparentam ter o mesmo radical e que são 
denominadas de falsos cognatos. Um exemplo: À raiz da palavra latina anima (= 
espírito), por exemplo, prendem-se os seguintes cognatos: alma, animal, alimária, 
animar, animador, desanimar, animação, almejar, ânimo, desalmado, etc. 
Em virtude das alterações que algumas palavras sofrem em seus usos e em 
sua história gráfica, às vezes torna-se difícil discernir a raiz (ou radical) daquela 
palavra em virtude das alterações sofridas por ela. Vejamos, na tabela abaixo, 
exemplo de palavras que são cognatas do verbo latino facio (= fazer). 
Quadro 1 – Palavras cognatas 
FACção FÁCil FATor inFECção conFECção 
FACcioso FACilitar FATurar diFíCil eFETuar 
 
 
FACínora FAÇanha FATo artíFICe ouriVES 
Fonte: Adaptado de CEGALLA, 2008, p. 93. 
Tema – Em sentido mais simples, podemos dizer que o tema é o radical acrescido de 
uma vogal, que por esse acréscimo recebe o nome de vogal temática, ou em palavras 
de Bechara (2009, p. 282), podemos definir tema como “o radical acrescido da vogal 
temática e que constitui a parte da palavra pronta para funcionar no discurso e para 
receber a desinência ou sufixo. São exemplos de temas: livro-, trabalha-. A vogal 
temática pode ocorrer num tema simples (livr- o) ou derivado (livr- eir- o) ”. A 
representação de uma vogal temática pode ser exercida por uma vogal ou por uma 
semivogal, dependendo do caso. 
A vogal temática também pode, dependendo da conjugação da palavra, passar 
de uma vogal para uma semivogal, como no caso da palavra “afeto” que, quando 
conjugada, pode aparecer com a variação “afetuoso”. Temos também as palavras 
atemáticas que, por terminarem em uma vogal tónica (fé, por exemplo), não possuem 
uma vogal temática. Como explica Lima (2011, p. 247), “tema é, portanto, o radical 
ampliado por uma vogal temática […] Ao tema assim constituído agregam-se-lhe 
desinências e sufixos, para assinalar as flexões da palavra ou para a formação de 
termos derivados”. 
4.2 Elementos constitutivo das palavras – prefixo, sufixo e afixo 
Quando se fala em elementos constitutivos da palavra, nos referimos aqueles 
elementos que são intrínsecos a cada palavra, seja em língua portuguesa seja em 
outro idioma. Nesse sentido, tudo aquilo que não é intrínseco à palavra pode ser 
classificado como acessório a ela. Sob tal compreensão, podemos dizer que quando 
acrescentamos um “s” para marcar, nas palavras que aceitam essa flexão, o plural, 
estamos acrescendo àquela palavra um elemento que não faz parte da sua 
constituição primeira; aquela marcação foi acrescentada ao vocábulo para marcar 
uma flexão na palavra fazendo com que ela deixe a categoria de singular para a 
categoria de plural. 
Novas ideias e novas realidades contextuais, de acordo com Cegalla (2008), 
são responsáveis pela criação de novas palavras e vocábulos em nosso idioma; esses 
 
 
vocábulos e palavras novos são chamados comumente de neologismos (novas 
palavras que nascem para expressar novas ideias). É preciso dizer ainda que algumas 
palavras da língua portuguesa têm sua formação por processos que podem ser 
definidos de duas maneiras: (a) o processo de derivação e (b) o processo de 
composição; tanto em um como em outro processo a dinâmica de formação da palavra 
pode ser por prefixo; por sufixo (ou ambos, como no caso da parassíntese), de todo 
modo eles recebem o nome técnico de afixo, pois agregam-se no final ou no início de 
um radical. Falando especificamente sobre o neologismo e seu contrário, o arcaísmo, 
Bechara ensina que: 
As múltiplas atividades dos falantes no comércio da vida em sociedade 
favorecema criação de palavras para atender às necessidades culturais, 
científicas e da comunicação de um modo geral. As palavras que vêm ao 
encontro dessas necessidades renovadoras chamam-se neologismos, que 
têm, do lado oposto ao movimento criador, os arcaísmos, representados por 
palavras e expressões que, por diversas razões, saem de uso e acabam 
esquecidas por uma comunidade linguística, embora permaneçam em 
comunidades mais conservadoras, ou lembrados em formações deles 
originados. (BECHARA, 2009, p. 293) 
Considerando, ainda, os mecanismos de adição, seja por prefixo ou sufixo, 
Bechara (2009, p. 283) afirma que “do ponto de vista formal, há ainda para notar que 
os sufixos derivativos são em geral mais longos que as desinências gramaticais, além 
de serem estas quase sempre átonas, enquanto aqueles são normalmente tônicos”. 
Outra distinção importante apontada pelo autor é que os sufixos vêm imediatamente 
após o núcleo (a palavra central ou primitiva), enquanto que as desinências 
geralmente vêm após os sufixos. Nesse sentido, podemos considerar de forma 
resumida as seguintes definições. 
Prefixo – São aqueles radicais que antecedem o núcleo das palavras. E como nos 
ensina Cegalla (2008, p. 110), “os prefixos ocorrentes em palavras portuguesas 
provieram do latim e do grego, línguas em que funcionavam como preposições ou 
advérbios, portanto como vocábulos autônomos. Por isso, têm significação bem mais 
precisa que os sufixos e exprimem, geralmente, circunstâncias (lugar, modo, tempo, 
etc)”. Abaixo, exemplo de prefixos e seus significados: 
• Infra - abaixo, na parte inferior: infravermelho, infraestrutura, infra-renal, 
infrassom. 
• inter-, entre - posição ou ação intermediária, ação recíproca ou incompleta: 
interstício, intercomunicação, entreter, entrelinha, entreamar-se, entreabrir. 
• intra-, intro - dentro, movimento para dentro: intramuscular, introspectivo, 
 
 
introduzir, introvertido. 
• Justa - proximidade, posição ao lado: justa fluvial, justapor, justalinear. 
• male-, mal - opõem-se a bene: malevolência, mal-educado, mal-estar, 
maldizer. 
Sufixo – São aqueles radicais que vão depois do núcleo das palavras. Olhando 
por esse prisma, Cunha e Cintra (2017, p. 97) refletem que “os sufixos, como as 
desinências, unem-se à parte final do radical. Mas, enquanto estas caracterizam 
apenas o gênero, o número ou a pessoa da palavra, sem lhe alterar o sentido lexical 
ou a classe, os sufixos transformam substancialmente o radical a que se juntam”. A 
maioria dos sufixos da nossa língua são herdados do latim ou do grego e podem ser 
classificados de três formas diferentes. A saber: 
• Nominais, os que formam substantivos e adjetivos: dentista, gostoso; 
• Verbais, os que formam verbos: gotejar, cabecear; 
• Adverbial, o sufixo -mente, formador de advérbios: rapidamente. 
Ao exemplificar de forma gráfica a dinâmica dos afixos, Cegalla (2008) coloca 
os elementos da frase em sentido horizontal uma frase para que se perceba como se 
implementa o a ideia de afixo. E completa dizendo que os afixos são elementos 
secundários na construção da palavra, geralmente sem vida autônoma, que se 
agregam a um radical ou tema, quando postos juntos desses. Vejamos o esquema 
apresentado pelo autor: 
Figura 2 - Exemplo de afixos 
Fonte: CEGALLA, 2008, p. 92 
 
Como indicado por Rio-Torto (2016, p. 24), “as unidades envolvidas na 
 
 
formação de palavras são os afixos, os radicais e os temas que, combinando-se entre 
si, na base de relações genolexicais de hierarquia e de sucessividade, dão origem a 
unidades lexicais complexas”, ou seja, sempre que nos propomos a estudar a 
formação das palavras, devemos observar as muitas construções possíveis para as 
quais as palavras são sucessivas; não levar em conta essas possibilidades de 
variações implicará, quase que obrigatoriamente, em uma observação incompleta da 
construção das palavras em língua portuguesa. 
 
5 ETNOMETOLOGIA 
A etnometodologia é um campo de pesquisa que causou impacto no mundo da 
sociologia entre a segunda metade dos anos 1960 e o princípio dos anos 1970, mas 
que logo foi relegado a uma posição relativamente marginal. Tanto o sucesso inicial 
como o posterior obscurecimento podem ser explicados pela posição radical com que 
a etnometodologia enxergava a sociologia que era produzida até o momento. Se por 
um lado esse radicalismo combinava com o ambiente de “arejamento” por qual 
passavam as ciências sociais dos anos 1960, por outro parecia ir longe demais 
(BRAGA, 2019). 
A etnometodologia se originou com os estudos de Harold Garfinkel quando ele 
ainda estava nas décadas de 1940 e 1950 no Departamento Interdisciplinar de 
Estudos Sociais em Ciências Sociais de Harvard. Mas seu maior desenvolvimento 
ocorreu durante o tempo de Garfinkel como professor da Universidade da Califórnia, 
quando publicou Studies in Ethnomethodology em 1967, considerado o fundamento 
desse novo tipo de pesquisa sociológica. Também na Califórnia, Garfinkel encontrou 
seus mais importantes colaboradores, como Aaron Cicorel, Harvey Sacks e David 
Sudnow, que participaram do estudo da etnometodologia em vários campos de 
pesquisa (BRAGA, 2019). 
A etnometodologia também é oriunda dos enfoques etnossociológicos cuja 
maior contribuição para os estudos da Análise da Conversação (AC) foi ter observado 
que as pessoas compartilham conhecimentos e práticas sociais e que somente com 
base no mundo compartilhado o sentido social é construído (etnométodo) (FRAZÃO; 
LIMA, 2017). 
 
 
Frazão e Lima (2017) ressaltam que 
[...] apesar de ser uma vertente da etnometodologia, a AC erigiu-se 
gradativamente como domínio autônomo de pesquisa, sob o impulso de 
Harvey Sacks, Emanuel Schegloff e Gail Jefferson (1974), que propõem um 
modelo de análise do texto conversacional a partir do estudo da tomada ou 
troca de turnos. 
 
5.1 Análise da conversação no Brasil 
Marcuschi (1986), em seu trabalho inaugural da Análise da Conversação no 
Brasil, afirma que o princípio básico que norteou esse campo de estudos foi que “todos 
os aspectos da ação e interação social poderiam ser examinados e descritos em 
termos de organização estrutural convencionalizada ou institucionalizada pela 
sociedade”. 
Segundo Frazão e Lima (2017), inicialmente a AC ocupou-se da “descrição das 
estruturas da conversação e seus mecanismos organizadores [...]. Atualmente, tende 
se a observar outros aspectos envolvidos na atividade conversacional [...]” 
(MARCUSCHI, 1986, p. 6). Para Leite e Negreiros (2014), há um número considerável 
de pesquisas que, a partir de corpora gravados e criteriosamente transcritos, tomam 
a conversação e o texto oral como objeto de análise. Esses autores citam, como o 
corpus mais relevante, o coletado pelos pesquisadores do projeto NURC, na década 
de 70 do século XX, em cinco capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, 
Recife e Porto Alegre). Assim, a AC no Brasil tomou dois rumos: 
O que partiu de pressupostos da AC etnometodológica, mas que deles se 
afastaram para estudar a oralidade, a fala, a escrita, a relação fala e escrita, 
e tudo o que concerne ao texto e é decorrente de situações discursivas de 
fala, em relação direta, ou não, com a escrita; ii) a que é mais fiel aos 
princípios teóricos e metodológicos da AC fundada por Garfinkel na década 
de 1960, com as extensões oferecidas pelas teorias interacionistas (LEITE; 
NEGREIROS, 2014, p. 117). 
Portanto, nas perspectivas teóricas e metodológicas que ensejam esses dois 
rumos, nascem duas vertentes que hoje configuram a AC no Brasil, que Leite e 
Negreiros (2014) denominam de Análise da Conversação Etnometodológica e Análise 
da Conversação Textual e Discursiva (FRAZÃO; LIMA, 2017). 
O foco da pesquisa brasileira nesse sentido está na interpretação da relação 
 
 
da linguagem com o mundo, estudada por meio da influência da linguagem no 
comportamentosocial. “Dessa forma, a Análise da Conversa examina como os 
enunciados e outros comportamentos de um participante afetam o outro, de acordo 
com sequências organizadas na fala” (LEITE; NEGREIROS, 2014, p. 125). 
5.2 Perspectiva da Análise da Conversação 
Marcusci (2006, p. 15) afirma que o propósito da AC é um processo 
conversacional centrado na prática diária humana. Para os autores, a conversação é 
considerada "a interação linguística central que se desenvolve ao longo do tempo 
quando dois ou mais interlocutores direcionam sua atenção visual e cognitiva para 
uma tarefa comum". 
Por esse motivo, o foco está na chamada fala natural e em fatores como 
entonação, paralinguísticos e contextuais, bem como na linguagem verbal. Suas cinco 
práticas que compõem sua organização são, portanto, os elementos característicos 
da conversa. Portanto, são cinco as práticas que compõem organização da 
conversação (MARCUSCI, 2006, p. 15): 
a. Interação entre pelo menos dois falantes; 
b. Ocorrência de pelo menos uma troca de falantes; 
c. Presença de uma sequência de ações coordenadas; 
d. Execução em uma identidade temporal; 
e. Envolvimento numa interação ‘centrada’. 
A citação de Koch (1992) destaca que os fenômenos da fala são organizados 
na ordem em que cada interlocutor intervém durante o ato de fala, o que pode sinalizar 
uma categorização das interações. Com base nessa perspectiva, a autora sugere a 
ocorrência de interações simétricas e assimétricas. 
Interações simétricas: Nesse tipo de interação, todos os sujeitos envolvidos têm o 
direito de falar e contribuir igualmente para a conversa. Não há uma hierarquia clara 
entre os participantes, e o poder de fala é distribuído de maneira mais equitativa. Isso 
pode levar a uma dinâmica de conversa mais igualitária, em que as vozes de todos 
são ouvidas e respeitadas. 
Interações assimétricas: Nessas interações, um dos sujeitos detém o poder da 
 
 
palavra e concede momentos de fala aos outros. Pode haver uma diferença de 
autoridade, posição social, conhecimento ou poder entre os participantes, resultando 
em uma dinâmica de conversa desigual. O participante que tem mais poder de fala 
pode dominar a conversa, interromper ou ignorar as contribuições dos outros, levando 
a uma assimetria na distribuição do tempo e do controle da fala. 
É importante observar que a categorização das interações em simétricas ou 
assimétricas pode variar dependendo do contexto cultural, social e situacional. Além 
disso, é fundamental promover a comunicação respeitosa e empática em todas as 
interações, independentemente do tipo, para garantir uma troca efetiva de ideias e 
opiniões. 
5.2 Sistemas de turnos de fala 
De acordo com Koch (1992), a conversação é organizada em turnos, são as 
intervenções de cada interlocutor durante o ato da fala. A forma como esses turnos 
são definidos pode indicar uma classificação das interações. A autora menciona a 
ocorrência de interações simétricas – em que todos os sujeitos têm direito à voz – e 
interações assimétricas – em que um dos sujeitos detém o poder da palavra e concede 
momentos de fala aos outros (MACIEL, 2023). 
Os turnos podem ser tomados por concessão ou aproveitando-se os espaços 
de transição, mas nem sempre a regra conversacional de "fale um de cada vez" é 
respeitada. Nesses casos, ocorre o que é chamado de assalto ao turno, em que os 
locutores falam ao mesmo tempo. A máxima é restabelecida quando um deles desiste 
da posse do turno (MACIEL, 2023). 
Em relação à estrutura da conversação em termos de organização tópica, Koch 
(1992) afirma que, durante uma interação, os parceiros têm sua atenção centrada em 
um ou vários assuntos. Esses assuntos são delimitáveis no texto conversacional. 
Essa análise destaca a importância dos turnos na conversação, a distinção 
entre interações simétricas e assimétricas, e a presença de tópicos delimitáveis na 
estrutura da conversa. O respeito pelos turnos e a atenção aos assuntos discutidos 
são elementos essenciais para uma comunicação efetiva. 
Na sua totalidade, as práticas comunicativas, e mesmos as conversações, a 
despeito de seu aparente descompromisso, são condutas ordenadas, que se 
 
 
desenvolvem segundo alguns esquemas preestabelecidos e obedecem a algumas 
regras de procedimento. 
Essas regras que regem as interações verbais são de naturezas muito 
variadas. Destacam-se nelas três importantes categorias que operam em níveis 
diferentes: 
1. Regras que permitem a gestão da alternância dos turnos de fala, ou seja, 
a construção dessas unidades formais que são os “turnos”. 
2. Regras que regem a organização estrutural da interação. 
3. Regras que intervêm no nível da relação interpessoal. 
5.3 Princípio da alternância 
Para haver diálogo, é necessário ter pelo menos dois interlocutores que falem 
alternadamente. A interação verbal é vista como uma sucessão de "turnos de fala", 
em que os participantes têm direitos e deveres. O falante de turno tem o direito de 
falar por um certo período, mas também tem o dever de ceder o turno em algum 
momento. O sucessor potencial tem o dever de ouvir o falante de turno e o direito de 
reivindicar o turno de fala após um determinado tempo. 
A atividade dialogal é fundamentada no princípio da alternância, em que os 
diferentes atores devem ocupar sucessivamente a função de locutor. Além disso, 
idealmente, uma conversa se caracteriza por (ORECCHIONI, 2006): 
• Equilíbrio na participação: Os participantes têm a oportunidade de falar e 
ouvir de forma equilibrada, evitando que uma pessoa monopolize a conversa 
ou que alguém seja excluído. 
• Respeito aos turnos: Os participantes respeitam os turnos de fala e 
aguardam sua vez para contribuir, evitando interrupções excessivas ou falar 
simultaneamente. 
• Escuta ativa: Os interlocutores estão engajados na conversa, ouvindo e 
compreendendo as contribuições dos outros participantes, demonstrando 
interesse e receptividade. 
Esses elementos são importantes para promover uma conversa saudável, em 
que todas as vozes são ouvidas e ocorre uma troca efetiva de ideias e opiniões entre 
 
 
os participantes. 
Elementos importantes para a organização da conversa 
• Equilíbrio relativo da duração dos turnos: É desejável que os turnos de 
fala sejam equilibrados em termos de duração. Isso significa que nenhum 
participante deve monopolizar a palavra por um período excessivamente 
longo, permitindo que os outros também tenham a oportunidade de se 
expressar. 
• Equilíbrio relativo da "focalização" do discurso: O discurso deve ser 
focado de forma relativa, alternando entre os participantes. É considerado 
negativo quando alguém monopoliza a conversa ou mantém um discurso 
excessivamente autocentrado, que se concentra exclusivamente em si. 
• Uma única pessoa fala por vez: Embora casos de sobreposição de fala 
possam ocorrer ocasionalmente em conversas espontâneas, eles não 
devem se repetir com muita frequência nem se prolongar por muito tempo. 
É necessário ocorrer uma negociação entre os falantes em competição para 
determinar quem permanecerá como falante de turno. 
Essa negociação pode ser explícita, através de enunciados 
metacomunicativos, ou implícita, em que um dos falantes abdica em favor do outro. 
Na conversação, quando há uma situação de sobreposição de fala ou 
competição pelo turno de fala, podem ocorrer negociações explícitas ou implícitas 
entre os participantes. Essas negociações têm o objetivo de resolver o conflito e 
determinar quem terá o direito de falar (ORECCHIONI, 2006). 
Aqui estão alguns exemplos das duas formas de negociação mencionadas 
(ORECCHIONI, 2006): 
• Negociação explícita: Nesse caso, os participantes recorrem a enunciados 
metacomunicativos para expressar a necessidade de tomar a palavra ou 
interromper o outro participante. Alguns exemplos de enunciados 
metacomunicativos são: "Deixe me falar, por favor", "Espere, eu ainda não 
acabei"ou "Desculpe-me, não quero interrompê-lo". Essas expressões 
diretas visam comunicar explicitamente a intenção de assumir o turno de fala 
ou solicitar espaço para se expressar. 
 
 
• Negociação implícita: Nessa forma de negociação, um dos falantes em 
competição abdica em favor do outro, permitindo que ele continue ou retome 
o turno de fala. As estratégias utilizadas para se destacar em caso de 
sobreposição de fala incluem a repetição do segmento encoberto, ou seja, 
repetir a última parte do discurso que foi interrompida, e o aumento da 
intensidade vocal para tentar se sobressair e retomar a atenção dos demais 
participantes. 
Essas negociações, tanto explícitas quanto implícitas, são mecanismos 
utilizados na interação verbal para resolver conflitos de turno e estabelecer a ordem 
na conversa. Elas são fundamentais para manter a fluidez e o equilíbrio na 
comunicação entre os participantes. 
5.4 Mudança de turno 
A alternância entre os participantes na conversação ocorre de maneira fluida e 
sem dificuldades por meio de mecanismos que permitem a transição de um turno para 
o próximo. A forma como essa transição é estabelecida é fundamental para evitar 
sobreposições ou silêncios prolongados. Existem duas questões-chave nesse 
processo (ORECCHIONI, 2006): 
1. Momento da mudança de turno: É necessário determinar em qual 
momento exato ocorrerá a transição do turno. Conforme os especialistas em 
análise da conversação, essa mudança deve ocorrer em um "ponto de 
transição possível". Esse ponto de transição é identificado por meio de pistas 
deixadas pelo falante atual, utilizando os "sinais de fim de turno" permitidos 
pelo sistema de interação. 
2. Identificação do sucessor: Outra questão importante é determinar quem 
será o próximo a assumir o turno de fala. Em situações informais de 
conversação, essa decisão é negociada entre os próprios participantes. Não 
há um sistema hierárquico fixo para determinar o sucessor. Geralmente, é 
uma escolha feita de forma colaborativa, levando em consideração fatores 
como interesse, relevância do tópico, respeito mútuo e outros aspectos 
contextuais. 
 
 
A instauração da mudança de turno pode ser sinalizada por meio de diferentes 
elementos, tais como (ORECCHIONI, 2006): 
• Sinais verbais: Completenes sintático-semântica do enunciado, natureza 
do ato de fala (alguns atos, como perguntas, têm uma tendência maior de 
solicitar uma resposta imediata), uso de palavras ou expressões que indicam 
a conclusão, como "bom", "é isso", expressões fáticas como "hein?", "não?", 
entre outros. 
• Sinais prosódicos: Mudanças na entonação marcada, redução da 
velocidade da fala, diminuição da intensidade vocal e, por fim, uma pausa na 
fala. 
• Sinais mimico-gestuais: olhar fixo direcionado ao próximo interlocutor no 
final do turno, interrupção da gesticulação em andamento e relaxamento 
geral da tensão muscular. 
Esses sinais verbais, prosódicos e mimico-gestuais são utilizados pelos 
participantes para indicar que estão encerrando seu turno de fala, permitindo assim 
que o próximo interlocutor assuma a palavra de forma suave e natural. Esses 
mecanismos facilitam a fluidez e a coordenação da conversação, garantindo que 
todos os participantes tenham a oportunidade de se expressar de maneira ordenada. 
5.5 Sobre a ordem do “sucessor” 
Após o falante (F) atual manifestar seu desejo de passar a palavra, surge a 
questão de quem será o próximo a assumir o turno. Essa questão se torna relevante 
quando há mais de dois participantes na conversação. Existem duas técnicas de 
seleção do sucessor (ORECCHIONI, 2006): 
Seleção explícita por parte de F: Nesse caso, F1 seleciona explicitamente F2, 
utilizando procedimentos verbais, como a nomeação direta do próximo falante, ou 
através do conteúdo de suas sentenças. Também podem ocorrer indicações não-
verbais, como a orientação do corpo e a direção do olhar: o participante em que F fixa 
o olhar no final de seu turno torna-se um sucessor privilegiado. 
Auto seleção de F: Quando a seleção explícita não ocorre, F2 pode se posicionar 
como sucessor de F1, encadeando-se diretamente ao primeiro, assumindo o turno de 
 
 
fala por conta própria. 
Observações adicionais: 
Pode ocorrer que nenhum candidato se apresente para assumir o turno. Nesse 
caso, a intervenção de F2 é seguida por um silêncio mais ou menos prolongado, 
conhecido como "gap". 
Por outro lado, pode acontecer que vários candidatos se apresentem ao mesmo 
tempo, resultando em sobreposição de fala. 
É importante ressaltar que a alternância dos turnos nem sempre ocorre de 
maneira fácil e harmoniosa. Existem situações em que surgem disfunções nesse 
sistema de regras. No entanto, quando as regras funcionam normalmente, o processo 
de alternância se dá da seguinte maneira: 
F1 cede a palavra, sinalizando o fim de seu turno por meio de indicadores. 
F2, então, assume a palavra, seja porque foi selecionado por F1, seja porque 
se auto selecionou como sucessor. 
No sistema de turnos em uma conversa, podem ocorrer falhas que resultam em 
violações das regras de alternância. Essas falhas podem ser classificadas como 
involuntárias, devido a sinais de fim de turno pouco claros ou negligenciados, ou como 
violações deliberadas, quando os participantes escolhem não seguir os sinais de 
alternância. As falhas podem ser causadas por silêncios prolongados entre os turnos, 
falta de percepção dos sinais ou interrupções intencionais. Essas disfunções afetam 
o fluxo da conversa, mas é importante reconhecer que nem todas as interrupções são 
ofensivas, e algumas podem ser cooperativas ou lisonjeiras, oferecendo ajuda mútua, 
(ORECCHIONI, 2006). 
Portanto, a organização dos turnos de fala em uma conversa segue uma 
sistemática baseada na aplicação de regras. No entanto, essas regras são pouco 
coercitivas e têm um caráter probabilístico, o que significa que sua aplicação pode ser 
flexível. Violando essas regras é comum e geralmente tolerado, desde que não 
exceda um certo limite de tolerância. As regras são baseadas em indicadores sutis e 
fluidos, o que leva a negociações constantes entre os participantes da conversa. As 
violações das regras são consideradas desvios em relação à aplicação normal, e se 
ocorrem em excesso, podem ter efeitos negativos na interação. 
6 SUBJETIVIDADE DA LINGUAGEM 
Ao pensar sobre a noção de sujeito na Análise do Discurso, é relevante retornar 
a Ferdinand de Saussure (1997) e Émile Benveniste (1976), dois importantes 
linguistas que contribuíram para o entendimento do papel do sujeito na linguagem 
(FERNANDES, 2008). 
Saussure, em sua teoria estruturalista da linguagem, estabeleceu a dicotomia 
entre língua e fala. Ele focou na língua, considerada um sistema abstrato de regras e 
convenções compartilhadas pela comunidade linguística. A fala, por sua vez, refere-
se às manifestações individuais e concretas da língua. Saussure não abordou 
diretamente a questão do sujeito em sua teoria, deixando-a mais no âmbito da fala 
(FISCHER, 2013). 
No entanto, Émile Benveniste, em sua Teoria da Enunciação, trouxe 
contribuições importantes para compreender a subjetividade na linguagem. Segundo 
Benveniste, a língua apresenta em sua própria estrutura elementos que testemunham 
a subjetividade como constitutiva. Ele propôs que a enunciação, como ato individual 
de produção da fala, é o momento em que a subjetividade do sujeito se manifesta. 
Dessa forma, a Teoria da Enunciação de Benveniste foi um marco na 
introdução da subjetividade nos Estudos da Linguagem. Ao considerar que a 
subjetividade está presente na própria estrutura da língua e na sua realização 
individual, Benveniste abriu caminho para a análise do sujeito na Análise do Discurso 
(BENVENISTE, 2005). 
É importante revisar a Teoria da Enunciação de Benveniste antes de abordar o 
sujeito na Análise do Discurso, uma vez que ela proporciona uma base teórica 
fundamental para compreendercomo a subjetividade se manifesta na linguagem e 
como os discursos são construídos pelos sujeitos em interação social (BENVENISTE, 
2005). 
A Teoria da Enunciação de Benveniste pode ser considerada um marco 
importante na introdução da subjetividade nos estudos da linguagem. Antes de 
abordar o sujeito na Análise do Discurso, é essencial revisar essa teoria. Benveniste 
defende que a linguagem não pode ser equiparada a uma simples ferramenta utilizada 
pelo homem, pois ela está intrinsecamente ligada à natureza humana. Segundo o 
 
 
autor, é através da linguagem que o homem se constitui como sujeito. Cada locutor, 
ao se referir a si como "eu", apresenta-se como sujeito do seu próprio discurso. Essas 
características únicas da linguagem fazem com que a condição do homem nesse 
aspecto seja singular e sem paralelos (BENVENISTE, 2005, p. 286). 
6.1 Sujeito e Discurso 
Na Análise do Discurso, o conceito de sujeito difere do que é abordado na 
Teoria da Enunciação. Como a Análise do Discurso é uma disciplina heterogênea, 
diferentes autores trabalham com diferentes noções de sujeito e discurso. No entanto, 
é possível identificar algumas semelhanças entre elas. Uma delas é que o sujeito é 
uma noção que influencia o sentido dos enunciados e dos discursos, o que é 
característico da Análise do Discurso na totalidade. Além disso, essa abordagem 
também considera a relação entre os enunciados e suas condições de produção 
(CHARAUDEAU, 2012). 
6.2 Sujeito e discurso segundo Foucault 
Conforme Fischer (2013), uma das dificuldades ao estudar a obra de Foucault 
é analisar suas noções de forma isolada, pois o próprio autor articula diferentes 
campos de pensamento. Não é possível separar as concepções de discurso, sujeito 
e relações de poder na visão de Foucault. Por isso, é necessário estudar essas noções 
de forma articulada. 
Foucault (2004) entende o discurso como controlado por regras minuciosas, 
que determinam quem pode acessar determinados discursos ou entrar na ordem do 
discurso. O autor enxerga os discursos como práticas que constroem os objetos sobre 
os quais falam enquanto estão falando. 
Isso significa que, na concepção de Foucault, não há uma essência ou uma 
verdade universal pré-existente à construção discursiva. O discurso é visto como uma 
luta, uma batalha, e não como um reflexo ou uma expressão de algo já dado. 
E como o sujeito se relaciona com ele? A constituição dos sujeitos se dá 
justamente nesses jogos constantes entre o desejo de “ter” a verdade e o poder de 
afirmá-la (FISCHER, 2013). 
 
 
Ao considerarmos o enunciado "É preciso escovar os dentes após cada 
refeição", podemos perceber como sua interpretação pode variar dependendo do 
contexto e da posição do sujeito que o enuncia. Por exemplo, se esse enunciado for 
proferido por um dentista, é provável ser aceito como uma verdade, dada a autoridade 
profissional do dentista. No entanto, se a mesma afirmação for feita por um paciente 
com Transtorno Obsessivo Compulsivo, que escova os dentes excessivamente, ou 
por um representante de uma marca de produtos para higiene bucal, sua validade 
pode ser questionada. 
É exatamente essa multiplicidade de sujeitos em relação a um discurso que 
Foucault aborda em sua teoria. Para ele, o sujeito não se limita a uma pessoa 
específica, mas é uma posição assumida diante de um determinado discurso. Nesse 
contexto, o termo "discurso" refere-se ao conjunto de enunciados em um campo de 
conhecimento específico. Ao falar sobre o sujeito do discurso, Foucault enfatiza a 
multiplicidade de sujeitos e suas possibilidades. Isso implica que o sujeito não é fixo 
ou unívoco, mas está sujeito a variações e diferentes interpretações dentro do 
contexto discursivo em que se insere (FOUCALT, 2004). 
Fischer (2013) explora ainda mais a noção de subjetividade em uma 
perspectiva foucaultiana ao apresentar questões importantes que complexificam o 
papel do sujeito. Essas perguntas incluem: Quem fala neste texto? De qual posição o 
falante está se expressando? Com que autoridade alguém se investe para falar aqui 
e não em outro espaço? Quem tem o direito de falar sobre esse assunto? Quais são 
as regras que permitem que alguém faça certas afirmações em um contexto 
específico? 
De acordo com Fischer (2013), essas posições não são fixas, e por isso o 
sujeito não deve ser pensado como uma entidade unificada, mas sim como disperso. 
A posição do sujeito em relação ao discurso não é constante, e para ilustrar isso, 
Fischer dá o exemplo da sala de aula. Em um ambiente escolar, assume-se que o 
professor ocupe a posição de autoridade, explicação e definição. No entanto, essa 
posição está sempre sujeita a ser desestabilizada pelos alunos, que podem contestá-
la ou desacreditá-la. 
Em resumo, o sujeito em uma perspectiva foucaultiana não é uma entidade fixa 
e unificada, mas sim uma posição que os indivíduos assumem em um discurso 
específico. Essa posição está sujeita a mudanças e contestações, destacando a 
 
 
natureza complexa e dinâmica da subjetividade dentro do discurso. 
6.3 Sujeito e discurso segundo Pêcheux 
Pêcheux (2009), com base na perspectiva marxista-althusseriana, aborda o 
sujeito a partir do conceito de "efeito ideológico elementar" proposto por Althusser, e 
argumenta que a constituição do sentido está intrinsecamente ligada à constituição do 
sujeito. Como consequência dessa interpelação ideológica, Pêcheux identifica dois 
esquecimentos essenciais no discurso: 
O primeiro esquecimento refere-se ao inconsciente, indicando que o sujeito não 
pode se posicionar fora de sua Formação Discursiva, ou seja, ele está 
necessariamente inserido em um contexto ideológico e discursivo específico. 
O segundo esquecimento diz respeito à capacidade do sujeito de selecionar, 
dentro de sua Formação Discursiva, discursos e enunciados que estão em relação 
parafástica. Isso significa que o sujeito pode optar por um discurso em detrimento de 
outro, mesmo que ambos estejam presentes dentro do campo dos discursos 
autorizados por aquela Formação Discursiva. 
É a partir de Althusser que Pêcheux desenvolve a noção de forma-sujeito. A 
forma-sujeito representa os conhecimentos centrais de uma determinada Formação 
Discursiva e é por meio dela que o sujeito se identifica com essa Formação Discursiva. 
No entanto, essa identificação não ocorre sempre da mesma maneira, e Pêcheux 
propõe diferentes modalidades de posicionamento do sujeito para explicá-la 
(PÊCHEUX, 2010): 
• Identificação plena: Caracteriza o discurso do "bom sujeito", que reproduz os 
saberes da Formação Discursiva sem questioná-los. 
• Contrai identificação: Caracteriza o discurso do "mau sujeito", que contesta, 
duvida e se distancia dos saberes da Formação Discursiva com a qual está 
identificado. 
• Desidentificação: Ocorre quando o sujeito se desloca de uma Formação 
Discursiva para outra, deixando de se identificar com os saberes da formação 
anterior e passando a se identificar com os da nova formação. 
Dessa forma, Pêcheux busca compreender as diferentes formas de 
 
 
posicionamento do sujeito em relação aos saberes e discursos presentes em uma 
Formação Discursiva, considerando tanto a identificação quanto a contestação e o 
deslocamento. 
6.4 Análise do Discurso 
A Análise do Discurso se dedica ao estudo do discurso como seu objeto de 
análise. Para uma compreensão rigorosa desse objeto, é necessário adotar um rigor 
teórico. A palavra "discurso" é comumente usada no cotidiano para se referir a 
diversos contextos, como pronunciamentos políticos, textos estilisticamente 
elaborados, discursos eloquentes, retórica, entre outros. No entanto, ao analisar o 
discurso como objeto de estudo científico, é preciso superar essas concepções do 
senso comum e compreendê-lo com base em abordagens teóricas e métodos de 
análise (ORLANDI, 1994). 
O discurso, enquanto objeto da Análise do Discurso, não se resume à língua, 
aotexto ou à fala isoladamente. Embora dependa de elementos linguísticos para 
existir materialmente, ele vai, além disso, pois está inserido no contexto social e 
envolve questões de natureza social e ideológica. Nas diferentes situações do 
cotidiano, podemos observar sujeitos em debates e divergências, expressando 
posições socioideológicas distintas sobre um mesmo tema. A linguagem é a forma 
concreta de expressão desses lugares sociais. Portanto, o discurso não se limita à 
língua em si, mas depende dela para ter existência material e real (FOUCALT, 2004). 
Em revistas e jornais, o uso dos substantivos "ocupação" e "invasão" em 
relação aos movimentos dos trabalhadores rurais Sem-Terra revela discursos 
opostos. Os próprios Sem-Terra e seus apoiadores utilizam o termo "ocupação" para 
descrever a utilização de terras não utilizadas, enquanto aqueles que se opõem aos 
Sem-Terra empregam o termo "invasão", considerando a ação como ilegal. Essas 
escolhas lexicais refletem ideologias em conflito e expressam a posição dos diferentes 
grupos de sujeitos sobre o tema. 
A noção de sentido no discurso envolve o efeito de sentidos entre os sujeitos 
em interação. Assim, as palavras "ocupação" e "invasão" adquirem significados 
peculiares para cada grupo de sujeitos, além de seus significados tradicionais nos 
dicionários. Esses sentidos são produzidos de acordo com a ideologia dos sujeitos e 
 
 
sua compreensão da realidade política e social em que estão inseridos. 
Os discursos não são fixos, mas estão em constante transformação, 
acompanhando as mudanças sociais, políticas e históricas que fazem parte da vida 
humana. 
Acerca do discurso observado como ação social, Orlandi (1994, p. 15) 
argumenta: a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de 
percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, 
prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando. 
A análise do discurso envolve a interpretação dos sujeitos que falam, 
considerando a produção de sentidos como parte de suas atividades sociais. A 
ideologia se materializa no discurso, que por sua vez é materializado pela linguagem, 
seja em forma de texto ou imagens. No discurso, os sentidos das palavras não são 
fixos ou imanentes, como sugerem os dicionários. Eles são produzidos em relação 
aos lugares ocupados pelos sujeitos em interação. Assim, uma mesma palavra pode 
ter diferentes sentidos de acordo com o lugar socioideológico dos indivíduos que a 
utilizam. Por exemplo, o substantivo "terra" pode ter diferentes significados quando é 
enunciado pelos Sem-Terra e pelos fazendeiros da UDR, uma vez que representam 
perspectivas opostas. Além disso, os sentidos da palavra "terra" na Bíblia e aqueles 
produzidos pelos indígenas também contribuem para uma pluralidade de significados 
que estão presentes e derivam de diferentes discursos (ORLANDI, 1994). 
Essas reflexões afirmam que a língua está inserida na história e contribui para 
a produção de sentidos. O estudo do discurso foca na língua materializada em forma 
de texto, uma forma linguístico-histórica, tendo o discurso como objeto de análise. O 
objetivo da análise é revelar os sentidos do discurso considerando suas condições 
socio-históricas e ideológicas de produção. As condições de produção incluem 
principalmente os sujeitos envolvidos e a situação social em que ocorre o discurso. As 
palavras adquirem sentido de acordo com as formações ideológicas nas quais os 
sujeitos (interlocutores) estão inseridos. 
O sentido de uma palavra, de uma expressão, de uma proposição, etc., não 
existe “em si mesmo” [...], mas, ao contrário, é determinado pelas posições 
ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico no qual as 
palavras, expressões e proposições são produzidas (PÊCHEUX, 2010). 
A noção de discurso implica considerar as condições histórico-sociais de sua 
produção, onde a escolha das palavras e sua interpretação dependem da posição 
 
 
social e ideológica dos sujeitos que as enunciam. O discurso é uma exterioridade à 
língua e à fala, mas depende delas para existir materialmente. Ele se realiza por meio 
de uma materialidade linguística, verbal ou não verbal, baseada em sistemas 
estruturados linguísticos e/ou semióticos. O estudo do discurso requer romper as 
estruturas linguísticas para compreender essa exterioridade e identificar os conflitos 
sociais que a constituem (ORLANDI, 1994). 
A ideologia desempenha um papel essencial no discurso, pois marca as 
diferentes posições e embates entre os sujeitos e grupos sociais. Na sociedade, 
coexistem discursos diversos que refletem diferenças ideológicas e sociais, resultando 
em conflitos e contradições. O discurso e sua inscrição ideológica estão 
intrinsecamente ligados à História e aos processos histórico-sociais de constituição. 
A unidade do discurso consiste em um conjunto de enunciados efetivamente 
produzidos em diferentes contextos discursivos. A pergunta de Foucault (2004) sobre 
como um determinado enunciado aparece em seu lugar nos leva a compreender a 
produção dos discursos como parte integrante da História. Ao analisar o uso dos 
termos "invasão" e "ocupação" nos textos midiáticos, percebemos as condições de 
produção do discurso e os aspectos históricos e socioideológicos envolvidos 
(PÊCHEUX, 2009). 
Antes do surgimento dos movimentos dos Sem-Terra, esses termos não 
circulavam na mídia, pois não existia um espaço histórico-social que os possibilitasse. 
É necessário compreender a singularidade de cada enunciado e suas condições de 
produção para analisar o discurso. A compreensão dos sentidos está intrinsecamente 
ligada à inscrição ideológica da enunciação e ao contexto histórico-social em que é 
proferida, envolvendo os sujeitos em interlocução. Dependendo das posições dos 
sujeitos envolvidos, a enunciação assume um sentido específico, como exemplificado 
pelo uso de "invasão" e "ocupação" (FERNANDES, 2008). 
O sentido é um efeito resultante da interação entre dois sujeitos em 
interlocução, representados por A e B. Cada sujeito possui sua própria inscrição 
socioideológica, ou seja, sua posição e perspectiva no contexto social e ideológico. O 
sentido é produzido pela enunciação do enunciado nesse contexto específico de 
interação entre os sujeitos. Portanto, o sentido não é fixo ou determinado apenas pelo 
enunciado em si, mas é influenciado pela posição e perspectiva dos sujeitos 
envolvidos na interlocução (FERNANDES, 2008). 
 
 
O sentido de uma sequência só é materialmente concebido enquanto se 
concebe esta sequência como pertencente necessariamente a esta ou àquela 
formação discursiva [...] Trata-se de um “efeito de sentidos” entre os pontos A e B. [...] 
Os elementos A e B designam algo diferente da presença física de organismos 
humanos individuais. [...] A e B designam lugares determinados na estrutura de uma 
formação social (PÊCHEUX; FUCHS, 2010, p. 169). 
O lugar histórico-social em que os sujeitos enunciadores se encontram não se 
refere apenas à realidade física, mas sim a um objeto imaginário socioideológico. O 
discurso existe na exterioridade do linguístico, no âmbito social, e é marcado pela sua 
inserção socio-histórico-ideológica. Nessa exterioridade, diferentes discursos 
coexistem devido às divergências nas inscrições ideológicas dos sujeitos e grupos 
sociais. Isso leva a conflitos e contradições, uma vez que cada sujeito se inscreve em 
um espaço socioideológico específico ao se mostrar e enuncia a partir dessa inscrição. 
Os discursos, portanto, surgem das vozes dos sujeitos e sua existência está além das 
estruturas linguísticas enunciadas. 
Em resumo, na Análise do Discurso, é importante compreender os seguintes 
conceitos (FERNANDES, 2008): 
- Sentido: refere-se ao efeito de sentido produzido entre os sujeitos em interação, 
negando a ideia de um significado fixo e imanente. 
- Enunciação: representaa posição ideológica do sujeito ao realizar um ato de 
enunciar, incorporando o lugar sócio-histórico-ideológico de onde os sujeitos falam. 
- Ideologia: trata-se da concepção de mundo do sujeito inserido em um determinado 
grupo social e circunstância histórica. A ideologia se materializa na linguagem e está 
presente em todos os signos. Ao analisar uma palavra enunciada, é importante 
investigar quais ideologias a permeiam. 
- Condições de produção: são os aspectos históricos, sociais e ideológicos que 
envolvem o discurso e que possibilitam ou determinam sua produção. 
- Sujeito discursivo: é constituído na interação social e não é o único centro de seu 
discurso. Em sua voz, manifestam-se múltiplas vozes heterogêneas, tornando o 
sujeito polifônico e composto por uma diversidade de discursos. 
Esses conceitos estão inter-relacionados e se complementam. A noção de 
sujeito discursivo, por exemplo, exige reflexões sobre polifonia, heterogeneidade e 
 
 
identidade. 
 
 
7 O NOME E SUAS FUNÇÕES 
7.1 O substantivo 
É comum usarmos o termo classe de palavra de forma discriminada, mas como 
explica-nos Bechara (2009), o termo palavra pode ser usado de forma diversificada, 
dependendo do contexto em que ela é colocada ou apresentada didaticamente. 
Seguindo ainda o autor, podemos dizer que esses usos podem ser diversificados, mas 
não obscuros, ou seja, ainda que não saibamos explicar, usamos todas essas 
conformações do termo palavra para nos comunicar. 
O termo palavra se nos apresenta com aplicações diferentes, que devem ser 
distinguidas e, portanto, classificadas de maneira diversa. Podemos ver a 
palavra habilidade sob três prismas diferentes: a) o seu aspecto material, 
fônico, como significante ou expressão; b) a sua significação gramatical como 
uma classe de palavra que se apresenta sob forma de um substantivo 
feminino singular; c) a sua significação lexical, isto é, o que significa a palavra 
habilidade em relação, por exemplo, a caridade ou amabilidade (BECHARA, 
2009, p. 306). 
Como ensinam Cunha e Cintra (2017), os substantivos são o grupo de palavras 
que usamos para nomear os seres ou os designamos de forma geral. Observando do 
ponto de vista funcional, podemos dizer que os substantivos servem de núcleo do 
sujeito, de objeto direto, de objeto indireto ou ainda de agente da passiva. Nesse 
sentido, todas as palavras de outras classes que desempenham essas mesmas 
funções, podem tomar o lugar de equivalente de adjetivo. Seguindo esse raciocínio, 
podemos dizer que são substantivos: 
• Os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de um gênero, de uma 
espécie ou de um dos seus representantes. Exemplos: Homem, Cidade, 
Velhice, Cedro, Brasil, etc; 
• Os nomes de nações, de ações, estados e qualidades, tomados 
semanticamente como seres. Exemplos: Justiça, Viagem, Otimismo, Limpeza, 
Doçura, Opinião, Verdade, etc. 
 
 
Existem ainda, outros substantivos que são, por assim dizer, importados de 
outras línguas – línguas essas que historicamente acabaram por influenciar a língua 
portuguesa – é o caso daqueles substantivos usados na variação da fala culta que, 
por serem pouco vistos, tiveram o seu uso restrito a círculos específicos dos usuários 
da língua, em especial aos documentos oficiais ou na linguagem de cunho literária. 
Na Figura 1, há exemplos de substantivos bem conhecidos cuja flexão no 
diminutivo ainda é pouco conhecida pela maioria das pessoas: 
Figura 1 – Substantivos raros modulados pelo latim 
Fonte: CUNHA; CINTRA, 2017, p. 108. 
De acordo com Cegalla (2008), nos coloca diante do fato modalizador de 
organização das palavras a partir dos quais os substantivos podem ser classificados 
ou categorizados, a saber, os substantivos comuns; os substantivos próprios; 
substantivos concretos; substantivos abstratos; substantivos simples; substantivos 
compostos; substantivos primitivos; substantivos derivados; substantivos coletivos e, 
menos visto e mais praticado na variação popular da língua, substantivos coletivos 
indeterminados. Os substantivos podem variar em gênero, número e grau. 
• Substantivos comuns – são aqueles que designam os seres da mesma 
espécie: menino, galo, mesa; 
• Substantivos próprios – são aqueles que se aplicam a um ser especial: Deus, 
Brasil, São Paulo, Tiradentes (eles podem ser antropônimos, que designam 
uma pessoa, topônimos, que designam um lugar ou patronímico, que designam 
uma filiação ou nome de família). São sempre grifados com a primeira letra em 
maiúsculo. 
• Substantivos concretos – são aqueles usados para designar seres de 
existência real ou aqueles que o imaginário apresenta como reais: pedra, leão, 
 
 
fada, lobisomem. 
• Substantivos abstratos – são aqueles usados para descrever qualidades, 
sentimentos, ações ou estados dos seres: beleza, coragem, saudade, alegria, 
frio. 
• Substantivos simples – são aqueles formados por uma só palavra ou radical: 
lobo, chuva. 
• Substantivos compostos – são aqueles formados por mais de um radical ou 
palavra, separados ou não por hífen: guarda-chuva, passatempo, beija-flor. 
• Substantivos primitivos – são aqueles que dão origem a outros substantivos 
na língua portuguesa: pedra, ferro, trovão. 
• Substantivos derivados – são aqueles que derivam de outras palavras, 
inclusive palavras de outras línguas: pedreiro, ferreiro, trovoada. 
• Substantivos coletivos – são aqueles que exprimem um conjunto de seres da 
mesma espécie: exército, rebanho, constelação. 
Como nos ensinam Cunha e Cintra (2017, p. 193), “costuma-se também incluir 
entre os coletivos os nomes de corporações sociais, culturais e religiosas, como 
assembleia, congresso, congregação, concílio, conclave e consistório”. É preciso 
lembrar, porém, que esse uso e denominação afasta-se dos tipos normais de 
substantivos coletivos, pois o que temos aí são simples ajuntamento de seres que 
representam instituições de uma natureza especial, organizada sob uma entidade 
superior com determinada finalidade. 
 
 
 
 
 
Figura 2 – Substantivos coletivo de contagem de tempo 
Fonte: shre.ink/aqJR 
Levando em consideração os ensinamentos de Neves (1999), é possível dizer 
que a maioria dos substantivos podem se referir a diferentes tipos de entidades, já 
que é frequente a flutuação de categorias entre as palavras. A autora lembra-nos 
também de que a maioria das gramáticas não citam as subcategorias dos substantivos 
(que pode ser definidas como as subcategorias de substantivos contáveis e 
substantivos não-contáveis). Apesar de frequente, o uso dos substantivos ainda é 
repleto de variações que estudos mais acurados podem organizar e disciplinar; um 
trabalho que os estudos das classes de palavras precisam fazer de forma eficiente. 
7.2 Substantivos Uniformes em Gênero 
Como nos explica Cegalla (2008), “há um tipo de substantivos - denominativos 
 
 
de pessoas e animais - refratários à flexão de gênero. Uns (os epicenos e 
sobrecomuns) só têm um gênero; outros, pelo contrário, têm os dois gêneros e 
chamam-se, por isso, comuns de dois gêneros”. Esses substantivos aqui citados 
tratam, portanto, da flexão em gênero, característica dos substantivos no que diz 
respeito a sua variação semântica. 
• Os substantivos epicenos – são aqueles que designam certos animais e tem 
um só gênero: o jacaré (macho ou fêmea) ou a cobra (macho ou fêmea), a onça 
(macho ou fêmea). 
• Os substantivos sobrecomuns – são aqueles que designam pessoas e tem um 
só gênero: a criança (macho ou fêmea), a testemunha (macho ou fêmea), o 
cônjuge (marido ou mulher). 
• Os substantivos de dois gêneros – são aqueles que, embora tenham a mesma 
estrutura, designam tanto indivíduos masculinos quanto femininos, os 
diferenciando pelo artigo que o acompanha: ‘o’, ‘a’. 
Figura 3 – Substantivos de dois gêneros 
Fonte: CEGALLA, 2008, p. 138. 
Além dessas peculiaridades, há ainda (dentre outras) a questão da flexão dos 
substantivose, nesse sentido, algumas regras básicas precisam ser vistas para 
fornecer parâmetros a partir dos quais se poderá operar na flexão dos substantivos. 
No que diz respeito à forma plural dos substantivos, coloca-se no plural os 
substantivos formados por dois elementos quando eles forem ligados por hífen 
respeitando a seguinte dinâmica: 
• Substantivo + substantivo: Tia-avó = Tias-avós, Abelha-mestra = abelhas-
mestras; 
• Substantivo + adjetivo: Amor-perfeito = Amores-perfeitos; carro-forte = carros-
 
 
fortes; 
• Adjetivo + substantivos: Boa-vinda = Boas-vindas; Livre-pensador = Livres-
pensadores; 
• Numeral-substantivo: Segunda-feira = Segundas-feiras; meia-palavra = meias-
palavras; 
Existe plurais de substantivos em que a variação ou flexão ocorre somente com 
o segundo termo, mesmo que eles sejam ligados por hífen. Vejamos alguns exemplos: 
• Verbo + substantivo: os guarda-roupas; os guarda-louças, os beija-flores; 
• Elemento invariável + palavra variável: as sempre-vivas; os recém-casados; os 
alto-falantes, as ave-marias; 
• Palavras repetidas: os quero-queros; os tico-ticos; os reco-recos; os corre-
corres. 
As palavras que são classificadas como substantivos tem uma grande variação 
de flexões. Colocamos ainda que, como nos lembra Cegalla (2008, p. 148) “as 
palavras substantivadas, isto é, palavras de outras classes gramaticais usadas como 
substantivos, apresentam, no plural, as flexões próprias” dos substantivos. Assim, 
mesmo que essas palavras tenham mudado de classificação, seguem a pluralização 
das palavras ou classe de palavras para as quais migraram. 
7.3 Adjetivos 
Conforme Cegalla (2008, p. 259), “adjetivos são palavras que expressam as 
qualidades ou características dos seres”. Assim, enquanto os substantivos nomeiam 
os seres, os adjetivos dão a esses seres algumas qualidades que lhes podem ser 
intrínsecas ou atribuídas (que não são deles, mas alguém os atribuiu). Os adjetivos 
em suas subclassificações e formação podem ser ditos como: adjetivos primitivos 
adjetivos derivados, adjetivos simples e adjetivos compostos. Abaixo um exemplo de 
cada um deles: 
• Bom, forte, feliz (não derivam de outra palavra); 
• Famoso, amado (deriva de outra palavra); 
• Brasileiro, escuro (formado de um só elemento); 
 
 
• Luso-brasileiro; castanho-escuro (formado por mais de um elemento). 
Como acontece com outras classes de palavras, temos também as locuções 
adjetivas, ou seja, uma expressão (portanto duas palavras) que tem valor, que 
equivale a um adjetivo. Observemos alguns exemplos de locuções adjetivas, de 
acordo com exemplos fornecido por Cegalla (2008): gente de fora; floresta a perder 
de vista; rapaz sem-vergonha; produtos de primeira; olhar de espanto; homem à toa; 
estar com fome; desculpa sem pés nem cabeça. Observemos outros exemplos: 
• presente de rei = presente régio 
• amor de filho = amor filial 
• paixões sem freio = paixões desenfreadas ou infrenes 
• confiança sem limites = confiança ilimitada 
• pescoço de touro = pescoço taurino 
• as margens do Nilo = as margens nilóticas 
• aves da noite = aves noturnas 
• alimento sem sabor = alimento insípido 
Ainda segundo Cegalla (2008), são numerosos os adjetivos chamados de 
“adjetivos eruditos”, palavras que em sua formação recebem um radical latino ou ainda 
aquelas que em uma locução implica significado “equivale a”, “relativo a”; “próprio de”, 
“semelhante a”, etc. Esses adjetivos eruditos aparecem com menos frequência na 
linguagem popular, mas sua existência precisa ser notada como uma variação dos 
adjetivos. Vejamos, de acordo com Cegalla (2008, p. 161-162), alguns dos mais 
frequentes desses adjetivos ao lado daquelas palavras substantivas às quais eles são 
equivalentes: 
• De abelha = apícola 
• De abóbora = cucurbitáceo 
• De fábrica = fabril 
• De abutre = vulturino 
• De açúcar = sacarino 
• De águia = aquilino 
• De aluno = discente 
 
 
• De fera = beluíno, feroz, ferino 
• Da chuva = pluvial 
• Do lago = lacustre 
• Amor de mãe = amor materno 
• Comportamento de criança = comportamento infantil 
• Objetos de decoração = objetos decorativos 
• Plano de governo = plano governamental 
Os adjetivos podem apresentar-se ainda em seu grau superlativo. Os 
superlativos são aquelas expressões que denotam um grau muito elevado de 
determinada palavra, ou que expressa determinado adjetivo em grau máximo. Dessa 
forma, os substantivos podem ser absolutos ou relativos dependendo daquilo que se 
propõem a dizer, referentes a essa ou aquela coisa. Como nos ensina Lima (2011) 
em seus exemplos sobre os adjetivos: 
• O superlativo absoluto analítico é expresso por meio dos advérbios muito, 
extremamente, excepcionalmente, etc., antepostos ao adjetivo. Exemplo: 
Pedro era um assaltante muito (ou extremamente) mau; 
• O superlativo absoluto sintético apresenta-se sob duas formas em bom número 
de adjetivos: uma erudita, de origem latina, outra popular, de origem vernácula. 
A forma erudita é constituída pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos –
íssimo, imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo, minutíssimo (muito 
miúdo); 
• Em vez dos superlativos normais seriíssimo, sumariíssimo, ordinariíssimo, 
precariíssimo, primariíssimo, necessariíssimo, preferem-se, na língua atual, as 
formas seríssimo, sumaríssimo, ordinaríssimo, precaríssimo, primaríssimo, 
necessaríssimo. 
No português brasileiro, entre as desinências está a marca de gradação, ou 
seja, o grau absoluto ou relativo com um aspecto de qualidade e, segundo Bechara 
(2009, p. 121), a “estrutura interna ou constitucional do adjetivo consiste, nas línguas 
flexivas, na combinação de um signo lexical expresso pelo radical com signos 
morfológicos expressos por desinências e alternâncias”. Nesse sentido, podemos 
dizer que o adjetivo é um delimitador, por caracterizar as possibilidades designativas 
 
 
8 INTRODUÇÃO 
A comunicação efetiva entre as partes envolvidas em um processo 
comunicativo requer o pleno entendimento mútuo. Para alcançar isso, é essencial que 
as combinações de palavras sejam apresentadas de maneira correta. Sem um bom 
manejo da língua por parte do emissor e uma boa compreensão por parte do receptor, 
o diálogo se torna inviável. Como afirmam Cunha e Altgott (2004), a correta 
organização das palavras é fundamental para transmitir significados completos e 
compreensíveis. 
No estudo da língua portuguesa, a sintaxe desempenha um papel crucial ao 
investigar a organização e a combinação das palavras nos diversos contextos 
situacionais de uso do discurso. A sintaxe analisa a relação lógica entre as possíveis 
combinações de termos utilizadas pelo falante para construir significados completos e 
compreensíveis. Assim, é como se o falante dispusesse de ingredientes linguísticos 
para comunicar aquilo que deseja. Neste capítulo, nosso foco será a predicação verbal 
e como os elementos do predicado de uma oração se relacionam e se combinam entre 
si, com o propósito de construir discursos inteligíveis que atendam efetivamente ao 
objetivo comunicativo. 
8.1 Predicação verbal 
Predicação Verbal é o resultado da interligação entre o sujeito e o verbo, bem 
como entre os verbos e seus complementos. O predicado, por sua vez, é o termo que 
contém o verbo e expressa o enunciado verbal da oração, transmitindo informações 
sobre o sujeito. Ao eliminar o sujeito, tudo o que resta na oração constitui o predicado. 
Vejamos alguns exemplos (CUNHA, 2001): 
O padre saiu de casa ontem. 
Encontrei provas irrefutáveis. 
Houve tumulto nos protestos. 
Ao abordar a predicação verbal, é importante mencionar a tipificação verbal. 
Quanto à predicação, os verbos podem ser classificados como intransitivos, transitivos 
ou de ligação, conforme como se relacionam com seus complementos. 
 
 
Os verbos intransitivos e transitivos fazem parte de um grupo maior de verbos 
chamados verbos significativosou verbos nocionais. Esses verbos têm carga 
semântica própria e introduzem uma ideia nova ao sujeito da oração. 
Esses verbos são os núcleos da oração, ou seja, são essenciais para a 
estrutura da frase. Se eles forem retirados da oração, a comunicabilidade se perde e 
o enunciado deixa de fazer sentido, consistindo apenas em palavras dispostas 
aleatoriamente (ALMEIDA, 2009). Exemplo: 
"As freiras jogavam futebol como craques." 
O verbo "jogavam" é um verbo transitivo e significativo, pois possui carga 
semântica e introduz a ideia de que as freiras estavam praticando a atividade de jogar 
futebol de forma habilidosa, como craques. Agora, se retirarmos o verbo da oração, 
temos: 
"As freiras futebol como craques." 
Nesse caso, a frase perde sua comunicabilidade, pois não há um verbo 
significativo para transmitir a ação ou a ideia principal da oração. As palavras restantes 
não formam mais um enunciado coerente e compreensível (CUNHA, 2001). Vejamos 
exemplo na Figura 1. 
 Figura 1 - Verbos intransitivos e transitivos 
Verbo intransitivo 
É aquele que expressa uma ação completa em si, sem a necessidade de outros 
termos para complementar o seu sentido. Isso significa que a ação expressa pelo 
 
 
verbo intransitivo não requer a transição para complementos para completar o sentido 
da oração (CEGALLA, 2004). Exemplos: 
"Marcelo caiu." 
O verbo "caiu" é intransitivo, pois expressa a ação de cair de forma completa. 
Não é necessário um complemento para que a ideia seja compreendida. A oração 
transmite a informação de que Marcelo caiu. 
"As meninas gritaram." 
O verbo "gritaram" também é intransitivo, pois expressa a ação de gritar de 
forma completa. Novamente, não é necessário um complemento para entender a 
ação. A oração comunica que as meninas gritaram. 
Em ambos os casos, os verbos intransitivos têm sentido completo por si, não 
dependendo de complementos para transmitir a ideia principal da ação. 
8.2 Verbo transitivo e seus objetos 
O verbo transitivo é aquele que precisa de um complemento para completar 
seu significado na comunicação. Esse tipo de verbo "transita" em direção aos 
complementos, associando-se a eles para adquirir um sentido completo e construir a 
significação desejada pelo emissor. Por isso, são chamados de transitivos, e os 
complementos são denominados objetos (LIMA, 2011). Vejamos os exemplos das 
orações: 
"Josy sentiu as dores do parto”. 
No verbo "sentiu", notamos que "quem sente, sente algo", ou seja, o verbo 
necessita de complementação. Nesse caso, as dores do parto são o objeto direto que 
se associa diretamente ao verbo sem o uso de preposição. 
"A mulher revelou toda a verdade aos seus filhos. ” 
No verbo "revelou", também podemos observar que "quem revela, revela algo 
a alguém". Aqui, o verbo necessita de complementação. 
“Toda a verdade” é o objeto direto que se associa diretamente ao verbo, 
 
 
enquanto “aos seus filhos” é o objeto indireto, ligado ao verbo por meio da preposição 
"a". 
Dessa forma, temos o verbo transitivo direto, que ocorre quando o 
complemento se associa diretamente ao verbo, sem o uso obrigatório de preposição, 
como no exemplo (LIMA, 2011): 
"Nós adoramos chocolate". 
Também temos o verbo transitivo indireto, no qual o complemento só pode se 
associar ao verbo indiretamente, com o uso de uma preposição obrigatória, como em: 
"Eu gosto de sorvete". 
Além disso, existe o verbo que admite dupla transitividade, sendo transitivo 
direto e transitivo indireto ao mesmo tempo, exigindo dois complementos. No exemplo: 
 "A moça deu frutas ao namorado". 
O verbo "deu" possui tanto o objeto direto "frutas" (ligado diretamente ao verbo) 
quanto o objeto indireto "ao namorado" (ligado por meio da preposição "a"). 
Assim, a classificação dos verbos como transitivos diretos, transitivos indiretos 
ou com dupla transitividade depende da forma como eles se ligam aos seus 
complementos na estrutura da oração. 
8.3 Verbos de ligação e o predicativo 
Os verbos de ligação são aqueles que servem como uma ponte entre o sujeito 
e um nome que atribui características a ele. Sintaticamente, esse nome desempenha 
a função de predicativo do sujeito. 
O predicativo do sujeito é o termo que atribui particularidades ao sujeito por 
meio de um verbo de ligação. Pode ser um adjetivo ou locução adjetiva, substantivo 
ou palavra substantivada, pronome substantivo ou numeral. 
Ao contrário dos verbos intransitivos e transitivos, os verbos de ligação não 
constituem o núcleo essencial de significação do predicado que os contém. O núcleo 
de significação é o predicativo do sujeito. Aqui estão alguns exemplos (ALMEIDA, 
2009): 
 
 
"Davi está preocupado." 
Nesse caso, o verbo "está" é um verbo de ligação que une o sujeito "Davi" ao 
predicativo do sujeito "preocupado". 
O predicativo do sujeito atribui a característica de estar preocupado a Davi. 
"O professor ficou nervoso." 
Nessa frase, o verbo "ficou" é um verbo de ligação que liga o sujeito "o 
professor" ao predicativo do sujeito "nervoso". O predicativo do sujeito descreve o 
estado do professor, que está nervoso. 
8.4 Tipos de predicado 
Ao estudar o predicado, é fundamental analisar o verbo em primeiro lugar. 
Devemos determinar se o núcleo significativo da predicação está no verbo, no 
predicativo ou em ambos. 
A classificação do predicado é feita com base em seu núcleo semântico 
principal, sendo a palavra essencial para manter a capacidade comunicativa da 
oração (LIMA, 2011). Em outras palavras, mesmo que o predicado seja composto por 
várias palavras, apenas uma delas se refere diretamente ao sujeito, e essa palavra é 
o núcleo do predicado. 
Quando o núcleo é um verbo, o predicado é verbal; por outro lado, quando o 
núcleo é um predicativo do sujeito, o predicado é nominal. Além disso, existe o 
predicado verbo-nominal, que apresenta dois núcleos: um verbo e um predicativo do 
sujeito. Essa classificação auxilia na compreensão da estrutura e função das palavras 
na oração, contribuindo para a análise e interpretação dos elementos da sentença. 
Predicado verbal 
O predicado verbal é aquele formado por um verbo significativo que pode ser 
intransitivo, transitivo direto ou transitivo indireto. O verbo é o núcleo do predicado e 
expressa uma ação ou estado do sujeito. Exemplos (LIMA, 2011): 
 
Sua cunhada partiu ontem. 
Há algo estranho nas pirâmides. 
 
 
Precisamos de cuidados. 
O predicado verbal pode apresentar diferentes complementos, dependendo do 
tipo de verbo utilizado. Pode ser transitivo direto, transitivo indireto ou transitivo direto 
e indireto ao mesmo tempo, conforme exemplificado a seguir (ALMEIDA, 2009): 
“O menino acarinhou o cão.” 
É importante observar que um mesmo verbo pode se comportar de maneiras 
diferentes em diferentes contextos, podendo ser intransitivo, transitivo direto ou 
transitivo indireto. A classificação do predicado verbal ajuda a identificar a relação do 
verbo com seus complementos, contribuindo para a compreensão da estrutura da 
oração. 
Predicado nominal 
Quando o predicado é composto por um verbo de ligação, ele é chamado de 
predicado nominal. Nesse caso, o núcleo do predicado não é o verbo, mas sim o 
predicativo do sujeito, que atribui características ou estados ao sujeito (LIMA, 2011). 
Exemplo: 
“José parecia tenso.” 
Verbo de ligação: parecia. Predicativo do sujeito: tenso. O bispo se tornou 
cardeal. Verbo de ligação: tornou. Predicativo do sujeito: cardeal. 
No predicado nominal, o verbo de ligação estabelece uma ligação entre o 
sujeito e o predicativo do sujeito, que expressa uma qualidade, estado ou atributo do 
sujeito. É importante ressaltar que o predicativo do sujeito não realiza uma ação, mas 
sim descreve ou qualifica o sujeito (LIMA, 2011). 
Essa classificação do predicado é fundamental para entendermos a estrutura e 
a função das palavras na oração, permitindo uma análise mais precisadas relações 
entre os elementos da sentença. 
Predicado verbo-nominal 
O predicado verbo-nominal ocorre quando o predicado possui dois núcleos: um 
verbal (verbo significativo) e um nominal (predicativo do sujeito ou predicativo do 
objeto). Esses dois núcleos se relacionam diretamente com o sujeito, resultando em 
 
 
um predicado com dois núcleos: um verbo e um nome (CEGALLA, 2004). 
Na prática, é possível identificar o predicado verbo-nominal por meio de seus 
núcleos, sendo um que indica a "ação" realizada pelo sujeito e outro que expressa o 
estado do sujeito no momento em que ocorre o processo verbal, ou que atribui uma 
característica ao objeto (direto ou indireto). É importante observar que os predicados 
verbo-nominais podem ser desdobrados em dois outros predicados separados, um 
verbal e um nominal. Exemplo (CEGALLA, 2004): 
“Pedro beijou sua esposa melancólico.” 
Desdobrando os núcleos significativos da oração, temos: 
 
• Pedro beijou sua esposa. (Predicado verbal transitivo direto); 
• Pedro estava melancólico. (Predicado nominal); 
• O termo "melancólico" caracteriza Pedro, o sujeito simples, portanto, temos um 
predicativo do sujeito. 
Essa estrutura do predicado verbo nominal permite uma maior expressividade 
e riqueza de informações na construção da mensagem, relacionando tanto a ação 
quanto o estado ou atributo do sujeito. 
Nem sempre o predicativo se refere ao sujeito. No caso de um predicado verbo-
nominal, pode ocorrer a presença do predicativo do objeto, que atribui características 
não ao sujeito, mas sim ao complemento verbal (objeto). Exemplo: 
“O menino chamou os pais de irresponsáveis.” 
Desdobrando os núcleos significativos da oração, temos: 
• O menino chamou os pais. (Predicado verbal transitivo direto) 
• Os pais do menino eram irresponsáveis. (Predicado nominal) 
 
O termo "irresponsáveis" caracteriza os pais, sendo o objeto indireto da ação 
de chamar. Portanto, temos um predicativo do objeto, e não um predicativo do sujeito 
(CEGALLA, 2004). 
Nesse caso, o predicativo do objeto descreve ou atribui uma característica ao 
 
 
objeto da ação verbal, ampliando o sentido da mensagem. É importante destacar que, 
em uma mesma oração, podem ocorrer predicativos do sujeito e predicativos do 
objeto, cada um exercendo sua função específica. 
Em suma, os tipos de predicado desempenham papéis importantes na estrutura 
das orações, determinando a forma como a informação é transmitida. O predicado 
verbal é composto por um verbo significativo, intransitivo, transitivo direto ou transitivo 
indireto, sendo o verbo o núcleo principal do predicado (LIMA, 2011). 
 Já o predicado nominal é formado por um verbo de ligação e um predicativo 
do sujeito, que atribui características ao sujeito da oração. Por fim, o predicado verbo 
nominal apresenta dois núcleos, um verbal e um nominal, que se relacionam 
diretamente ao sujeito, podendo também incluir o predicativo do objeto, que atribui 
características ao complemento verbal (LIMA, 2011). 
Essas classificações do predicado nos permitem compreender melhor a 
estrutura e a semântica das orações, possibilitando uma análise mais precisa das 
relações entre os elementos linguísticos (CEGALLA, 2004). 
Cada tipo de predicado desempenha um papel específico na construção do 
sentido da mensagem, contribuindo para a expressão de ações, estados ou atributos. 
É importante observar o contexto e a função de cada termo na oração para identificar 
corretamente o tipo de predicado utilizado (LIMA, 2011). 
O estudo dos predicados nos auxilia a entender a forma como as informações 
são organizadas e transmitidas nas frases, enriquecendo nossa compreensão da 
língua e aprimorando nossa capacidade de comunicação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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