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APOSTILA-COMPLETA-SOCIOLINGUÍSTICA

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SOCIOLINGUÍSTICA 
 
 
1 SUMÁRIO 
2 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 5 
2.1 Funcionalismo e sua ligação com o formalismo .................................................... 5 
2.2 Domínios de fatos linguísticos .............................................................................. 9 
3 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS ....................................... 13 
3.1 Modalidade linguísticas e variações ................................................................... 15 
3.2 Diatópica: variações regionais ou geográficas .................................................... 16 
3.3 Diacrônica: variações de linguística histórica ...................................................... 17 
3.4 Diastrática: variações de linguística social .......................................................... 18 
3.5 Variação de registro, estilística ou diafásica ....................................................... 19 
3.6 Diferentes níveis de linguagem ........................................................................... 19 
3.6.1 Linguagem informal ...................................................................... 19 
3.6.2 Linguagem formal ......................................................................... 20 
3.7 Preconceito linguístico ........................................................................................ 21 
3.8 Conceitos básicos de morfologia ........................................................................ 22 
3.9 Contribuições históricas dos estudos morfológicos ............................................ 23 
3.10 Estrutura das palavras ................................................................................. 25 
4 AS PALAVRAS E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS .................................... 29 
4.1 Elementos básicos e significativos – Raiz, Radical e Tema ................................ 29 
4.2 Elementos constitutivo das palavras – prefixo, sufixo e afixo ............................. 35 
5 ETNOMETOLOGIA ................................................................................................. 38 
5.1 Análise da conversação no Brasil ....................................................................... 39 
5.2 Perspectiva da Análise da Conversação............................................................. 40 
5.2 Sistemas de turnos de fala .................................................................................. 41 
5.3 Princípio da alternância....................................................................................... 42 
5.4 Mudança de turno ............................................................................................... 44 
 
 
5.5 Sobre a ordem do “sucessor” .............................................................................. 45 
6 SUBJETIVIDADE DA LINGUAGEM ........................................................................ 47 
6.1 Sujeito e Discurso ............................................................................................... 48 
6.2 Sujeito e discurso segundo Foucault .................................................................. 48 
6.3 Sujeito e discurso segundo Pêcheux .................................................................. 50 
6.4 Análise do Discurso ............................................................................................ 51 
7 O NOME E SUAS FUNÇÕES ................................................................................. 55 
7.1 O substantivo ...................................................................................................... 55 
7.2 Substantivos Uniformes em Gênero ................................................................... 58 
7.3 Adjetivos ............................................................................................................. 60 
8 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 63 
8.1 Predicação verbal ............................................................................................... 63 
8.2 Verbo transitivo e seus objetos ........................................................................... 65 
8.3 Verbos de ligação e o predicativo ....................................................................... 66 
8.4 Tipos de predicado ............................................................................................. 67 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 INTRODUÇÃO 
Na linguística, há muito debate sobre qual abordagem teórica é melhor para 
entender os fenômenos da linguagem. Estudiosos formalistas e funcionalistas sempre 
enfrentaram argumentos e tentaram defender suas propostas. A linguística como 
ciência evoluiu do debate e conflito de teorias sobre ideias. Nesta unidade, 
aprenderemos sobre a perspectiva teórica do funcionalismo, suas diferenças em 
relação ao formalismo e as complementaridades entre esses paradigmas. O campo 
funcionalista examina a relação entre pronúncia, raciocínio e ensino. Além disso, 
também são explorados os conceitos de iconografia, marcação, transitividade, 
informacionalidade, gramaticalização e discurso. 
2.1 Funcionalismo e sua ligação com o formalismo 
O funcionalismo na linguística é um movimento caracterizado pela crença de 
que as estruturas fonológicas, gramaticais e semânticas da linguagem são 
determinadas pelas funções que a linguagem desempenha na sociedade. Comum a 
várias terapias funcionalistas é a crença de que a estrutura da fala é determinada pela 
aplicação em que é usada e pelo contexto comunicativo em que ocorre. 
Segundo Trask (2004, p. 120-121), o funcionalismo é “[…] qualquer abordagem 
na descrição da estrutura linguística que dá importância aos propósitos para os quais 
a linguagem é empregada”. Muitas abordagens se concentram nas características 
puramente estruturais das línguas, negligenciando suas funções potenciais. Na 
atualidade, muitos linguistas escolhem associar a pesquisa da estrutura com 
investigação da função. Um exemplo de abordagens funcionalista é a role and 
reference grammar, elaborada por William Foley e Robert Van Valin, que faz uma 
descrição linguística e pergunta quais objetivos comunicativos devem ser abordados 
e quais meios gramaticais estão disponíveis para isso; e a linguística sistêmica, 
desenvolvida por Michael Halliday, que estuda a estrutura de uma grande unidade de 
linguagem, texto ou discurso. 
Para Jakobson (2005), a linguagem denota uma variedade de funções, e 
devemos levar em consideração os elementos constitutivos do ato de comunicação, 
como ilustra a Figura 1. 
 
 
Figura 1 – Elementos constitutivos da comunicação 
Fonte:Brandão (2023), documento on-line. 
Para haver comunicação eficiente é necessário que a mensagem preencha as 
condições a seguir: 
- Ter uma conjuntura na qual o destinatário entenda o contexto, por exemplo, o 
conteúdo de uma mensagem que se refere a informações da realidade. Para que o 
destinatário entenda a mensagem, deve saber a quantidade de informação dos 
elementos e a informação relativa ao momento de retorno da mensagem, que está 
relacionado com o conhecimento do assunto em questão. Para este grupo, são 
informações que podemos chamar de contexto. 
- Conter um código que seja conhecido pelo remetente e pelo destinatário como sinais 
ou signos que foram convencionados para promover a comunicação (português, 
língua de sinais, sinalização de trânsito, por exemplo). 
- Conter um canal físico e uma conexão psicológica entre remetente e destinatário que 
permitam a troca de informações. Por exemplo: como o meio pelo qual a mensagem 
é transmitida (telefone e e-mail). 
Existem seis funções da linguagem estabelecidas por Jakobson (1991): 
1. Função referencial: transmissão de informações do remetente ao destinatário. 
Um recurso orientado ao contexto, como nas notícias apresentadas nos jornais. 
2. Função emotiva: também chamada de expressiva, concentra-se no remetente 
para a manifestação dos sentimentos do remetente, sendo que o sentimento é 
 
 
refletido na mensagem. Isso se expressa por interjeições, adjetivos, advérbios, 
pontuação, como, por exemplo, na narração de uma partida de futebol. 
3. Função conotativa: É centralizada no destinatário, que se expressa de modo 
a influenciar o comportamento desse destinatário por meio de uma orientação. 
Representada pelos imperativos, vocativos pela segunda pessoa. A exemplo 
disso são os casos de discurso publicitário. 
4. Função fática: centrado no canal, consiste em iniciar, continuar ou parar um 
ato de comunicação. A função fática também está presente em todo o texto 
publicitário, pois o objetivo é manter contato com o leitor, outro exemplo é o 
“alô” no telefone. 
5. Função metalinguística: refere-se ao próprio código usado, usa linguagem 
para se referir ao próprio idioma, como os verbetes de dicionário. O código vai 
além da linguagem em si, geralmente inclui linguagens que organizam os sinais 
em uma mensagem que se move pelo canal entre o envio e o recebimento. 
6. Função poética: centrada na mensagem, enfoca a mensagem e sua forma. 
Não se resume à poesia, apesar de esta ser sua principal representante. 
Reforça a expressividade e a eficácia da mensagem. Por exemplo: “O cravo 
brigou com a rosa/ defronte de uma sacada/ — Ai! Cantigas esquecidas, / 
crianças de mãos trançadas” (FENSKE, 2015, documento on-line). 
 
Para os funcionalistas, a linguagem é um instrumento de interação social. E 
seus interesses estão na pesquisa. “[…] vai além da estrutura gramatical, buscando 
na situação comunicativa – que envolve os interlocutores, seus propósitos e o 
contexto discursivo – a motivação para os fatos da língua” (MARTELOTTA, 2011, p. 
157). Na análise funcionalista, enunciados e textos referem-se às funções que 
desempenham na comunicação, trabalhando com fala real ou dados escritos. 
Segundo Martelotta (2011, p. 158) destaca que as características do 
funcionalismo é a de que a visão de linguagem não constitui um conhecimento 
específico, mas um complexo conjunto de atividades comunicativas, sociais e 
cognitivas. O modelo funcionalista caracteriza-se por duas propostas básicas: a língua 
desempenha funções que são externas ao sistema linguístico em si; e as funções 
externas influenciam a organização interna do sistema linguístico. 
Na sua origem, funcionalismo emerge como um movimento particular no 
 
 
estruturalismo, enfatizando o papel da função das unidades linguísticas. Atribui-se aos 
membros do Círculo linguístico de Praga os primeiros estudos na linha funcionalista. 
Eles enfatizaram o caráter multifuncional da linguagem. O funcionalismo também teve 
representações em outras correntes, como a Escola de Genebra, a Escola de Londres 
e o Grupo Holandês. 
De acordo com Martelotta, (2011) a linha funcionalista linguística norte-
americana teve como iniciador Dwight Bolinger, que impulsionou o funcionalismo com 
suas análises de fenômenos particulares, como em seu estudo pioneiro sobre a 
pragmática da ordenação das palavras na cláusula. Já anos 1970, o funcionalismo 
busca explicar a língua com base no contexto linguístico e na situação extralinguística. 
Isto é percebido na vinculação entre discurso e gramática: 
[...] as regras da gramática são modificadas pelo uso (isto é, as línguas variam 
e mudam) e, portanto, é necessário observar a língua como ela é falada. 
Dessa forma, a análise dos processos de variação e mudança linguística 
consiste em uma das áreas de interesse preferido da linguística funcional 
(MARTELOTTA, 2011, p. 164). 
As duas correntes de pensamento linguístico, funcionalismo e formalismo, 
diferem porque no funcionalismo a função das formas linguísticas desempenha um 
papel dominante, e no formalismo a análise da forma domina em detrimento dos 
interesses funcionais. O funcionalismo difere das abordagens formalistas porque 
entende a linguagem como um meio de comunicação social e está interessado nos 
fatos e motivações do uso da linguagem em um contexto linguístico. No funcionalismo, 
é possível explicar o uso interativo da linguagem analisando as condições discursivas 
em que esse uso ocorre. Além da descrição sintática, visa investigar as condições 
discursivas que envolvem as estruturas linguísticas. Portanto, os usos da linguagem 
formam um sistema. 
O formalismo estuda a autonomia da linguagem, sintaxe, com função 
independente de sua semântica e pragmática. Por outro lado, os funcionalistas 
consideram as formas linguísticas não autônomas porque se originam de processos 
reais de comunicação. Os formalistas não estão preocupados com a relação entre a 
linguagem e seu ambiente; a operação visa destacar as relações entre as formas 
linguísticas e a interação social. Ao analisar a linguagem, os formalistas abordam a 
gramática tradicional concentrando-se nos níveis: fonética, fonologia, morfologia e 
sintaxe. Os funcionalistas analisam como as necessidades sociais influenciam a 
 
 
construção da sintaxe, como a entonação. Segundo Neves (1997, p. 43) "[...] essas 
sub-regiões não estão relacionadas entre si por tamanho e estrutura, mas por 
características mutuamente controladas, como curvas de entonação típicas de certos 
padrões gramaticais em certas regiões do discurso. Por exemplo, discursos políticos". 
Apesar de suas diferenças, eles são complementares porque os dois fluxos não 
examinam objetos diferentes, mas escolhem diferentes fenômenos do mesmo objeto. 
2.2 Domínios de fatos linguísticos 
De acordo com Fiorin (2010), o sistema de linguagem tem opções semânticas 
e fônicas, bem como regras combinatórias. A pragmática nasceu da necessidade de 
estudar o uso da linguagem. A pragmática estuda a prática e a estrutura da linguagem 
e a relação entre seu uso. O ponto de partida nesta área foram os trabalhos de John 
Austin e Paul Grice. 
Conforme Jacques Moeschler e Anne Reboul (1994), há três domínios de fatos 
linguísticos que requerem a introdução de uma dimensão pragmática nos estudos da 
linguagem: fatos de enunciação, inferências e instrução. É fundamental estudar o uso, 
pois quando existe a troca verbal, comunica-se muito mais do que as palavras 
significam. 
 
Enunciação 
A enunciação apresenta enunciados (realizações linguísticas concretas). 
Certos enunciados não designam um objeto ou evento, mas fazem referência 
a si, o que é denominado de função autorreferencial. Portanto, isso significa dizer que 
há fatos linguísticos que só são entendidos em função do ato de enunciar, como os 
relacionados a seguir: 
• Dêiticos: indica o lugar ou o tempo em que um enunciado é produzidoou então 
os participantes de uma enunciação. São dêiticos os pronomes que indicam os 
participantes da comunicação; os marcadores de espaço, como os advérbios 
de lugar e os pronomes demonstrativos; e os marcadores de tempo. Com os 
dêiticos, é preciso conhecer a situação de uso. 
• Enunciados performativos: são os que realizam a ação por eles nomeada, 
como promessas, ordens, juramentos. A enunciação faz parte da significação. 
 
 
• Conectores: conectam ou explicam os atos enunciativos, como em “Joana 
pedirá aposentadoria, mas é segredo”. 
• Certas negações: quando se diz “Não gosto de balas, adoro-as”, a negação 
incide sobre sua acertabilidade, sobre a possibilidade de sua afirmação. É a 
enunciação dos termos posta em questão. 
• Advérbios de enunciação: no exemplo “Infelizmente, não posso fazer nada”, 
o advérbio não modifica o verbo, mas qualifica o ato de dizer como infeliz. 
Inferência 
Na inferência, vemos enunciados que desencadeiam uma sequência de 
implicações. As implicações não existem fisicamente, mas imbuem as declarações de 
significado. O orador é capaz de entender uma determinada afirmação e raciocinar 
nas entrelinhas. Quando falo “Joana é minha sobrinha”, o enunciado implica “Sou tia 
de Joana”. Em outros casos, a comunicação não é literal e só pode ser entendida 
dentro do contexto: é quando os falantes comunicam mais do que as palavras 
significam. Por exemplo, quando a mãe diz para o filho “A lata de lixo está cheia!”, ela 
não está fazendo uma constatação, mas indicando que ele deve levar o lixo para fora. 
Instrução 
Na instrução trata-se de palavras do discurso, conectores, conjunções, 
preposições, advérbios e outros que, conforme aparecem nos enunciados, instruem 
sobre a maneira de interpretá-los. Veja os exemplos de que o “mas” dá a instrução de 
oposição ou restrição ao que foi dito. 
As aulas acabaram, mas vou estudar nas férias. 
As aulas acabaram, mas a biblioteca está funcionando. 
As aulas acabaram, mas por que ainda estamos na escola? 
Entre os princípios e as categorias centrais do funcionalismo norte-americano 
estão: iconicidade, marcação, transitividade, informatividade, gramaticalização e 
discursivização. 
Nós nos expressamos através da linguagem na vida cotidiana. A estrutura 
gramatical que produzimos para funcionar é motivada pela situação comunicativa, 
havendo uma correlação entre o código linguístico (expressão) e seu conteúdo. Essa 
relação entre forma e função é chamada de iconicidade. Conforme os linguistas 
 
 
Cunha, Oliveira e Martelotta (2003, p. 30), “Os linguistas funcionais defendem a ideia 
de que a estrutura da língua reflete, de algum modo, a estrutura da experiência. Como 
a linguagem é uma faculdade humana, a suposição geral é que a estrutura linguística 
revela as propriedades da conceitualização humana do mundo ou as propriedades da 
mente humana”. A iconicidade manifesta-se em três subprincípios, relacionados à 
quantidade de informação, ao grau de integração dos constituintes da expressão e do 
conteúdo, e à ordenação linear dos segmentos. Por isso, permite investigar 
detalhadamente as condições que orientam os usos dos recursos de codificação 
morfossintática da língua. 
Subprincípio da quantidade 
Subprincípio da quantidade indica que quanto mais informações houver, maior 
será a quantidade da forma. A complexidade do pensamento se reflete na 
complexidade da expressão. Neste exemplo a seguir, temos a repetição do verbo; é 
como o falante expressa a intensidade da ação descrita (CUNHA, 2003): 
…o gato correu da sua dona… fugiu… e a dona atrás dele… correram… 
correram… correram. 
Subprincípio da integração 
Isso denota que o conteúdo cognitivamente mais próximo é melhor integrado 
na codificação. O que é mentalmente próximo é sintaticamente próximo. Esse 
subprincípio pode ser percebido no grau de integração que o verbo da subordinada 
apresenta em relação à oração principal. Vejamos o exemplo a seguir (CUNHA, 2003): 
Maria ordenou: fique aqui. 
Maria fez a filha ficar ali. 
A filha não queria ficar ali. 
Subprincípio da ordenação linear 
A ordenação das orações no discurso apresenta a sequência temporal em que 
os eventos descritos ocorreram. No exemplo a seguir, a ordenação das orações reflete 
a sequência temporal em que a receita é preparada (CUNHA, 2003): 
Sabe como faz um molho de tomates… corta os tomates… corta as carnes… 
cozinha o molho… 
 
 
 
Marcação 
Marcado e não marcado são termos desenvolvidos pela Escola de Praga. Esse 
princípio designa três critérios principais em um contraste gramatical binário: a 
complexidade estrutural, a distribuição de frequência e a complexidade cognitiva. Por 
exemplo, no nível sintático, o conceito de marcação expõe as consequências no uso 
da língua. Como no exemplo a seguir (CUNHA, 2003). 
Eu uso esta sandália. 
Esta sandália eu uso. 
A segunda sentença é mais marcada, por ser menos comum que a primeira no 
que se refere à ordenação: sujeito, verbo, objeto. 
Transitividade 
A transitividade é pertinente a uma função pragmática A maneira como o falante 
organiza seu texto também é determinada por seus objetivos comunicativos e pela 
percepção das necessidades do interlocutor. Assim, o texto distingue entre centrais e 
periféricos. Segundo Cunha, Oliveira e Martelotta (2003, p. 39), o grau de 
transitividade de uma oração reflete sua função discursiva característica, de modo que 
orações com alta transitividade assinalam porções centrais do texto, correspondentes 
à figura, enquanto orações com baixa transitividade marcam as porções periféricas, 
correspondentes ao fundo. Existe, portanto, uma correlação forte entre a marcação 
gramatical dos parâmetros da transitividade e a distinção entre figura e fundo. 
Informatividade 
Informatividade trata-se do que os interlocutores compartilham, ou acham que 
compartilham, na interação verbal. Uma pessoa comunica-se para informar outra 
sobre alguma coisa, que pode ser do mundo externo ou do seu mundo interno. Um 
sintagma nominal pode ser classificado como dado, novo, disponível e inferível. 
Referente dado 
Refere-se a uma informação já mencionada no texto. “Aí o coroinha da igreja 
falou que… (//) não sabia quem tinha levado a imagem”. Neste exemplo, o sujeito do 
verbo “saber” (símbolo //) foi mencionado na primeira cláusula, sendo um caso de 
referente anteriormente dado: “o coroinha”. 
 
 
 
Referente novo (informação nova) 
Trata-se de uma informação que o falante acredita não ser conhecida pelo 
ouvinte. Isto é, foi introduzida pela primeira vez no discurso: Comprei um carro semana 
passada. 
Referente inferível 
A entidade do discurso é inferível se o falante supõe que o ouvinte pode inferi-
la, por razões lógicas, de outra entidade já mencionada. Ex: “Eu peguei um avião 
ontem e o piloto* estava embriagado”. (* Entidade inferível) 
Na oração, a entidade “o piloto‟ pode ser inferível da entidade “um avião‟, pois 
podemos, a partir do conhecimento sobre o avião, inferir que o veículo tem piloto. 
Logo, neste caso, o referente não é dado e nem novo, é inferível. 
 
 
3 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS 
São chamadas de variações linguísticas as diferentes formas de falar o idioma 
de uma nação, visto que a língua padrão de um país não é homogênea. O sistema de 
línguas é formado por um conjunto de variantes que podem ser socioculturais, 
estilísticos, regionais, etários e ocupacionais. Isso faz com que cada grupo social, de 
diferentes ocupações, faixas etárias e regiões, crie o seu próprio dialeto, o qual é a 
sua forma de comunicação coloquial. 
Desta maneira, é possível perceber que as variações linguísticas estão 
presentes nas comunicações verbais das pessoas, em diferentes partes do mundo. 
Elas ocorrem sob influências dos contextos social, regional e histórico, em que tais 
processos de construção da fala ajudam a caracterizar como o sujeito vai se 
comunicar com oseu grupo. 
Segundo Faraco (2008), uma língua viva sempre apresenta variações, isso 
significa que, enquanto uma língua tiver falantes nativos, ela será dinâmica e 
heterogênea. 
De acordo com Cecato (2017), a língua muda para se conservar e é exatamente 
isso que ocorre. Para entender de maneira mais concreta essa afirmação, é possível 
 
 
comparar a língua a uma construção: sem revisões periódicas, ela desmorona. Pode 
parecer paradoxal afirmar que a língua muda para se conservar, mas é exatamente o 
que acontece. 
Esse é um cenário que nos ajuda a entender o processo de mudança de 
maneira geral. No âmbito das mudanças linguísticas, é importante exemplificar as 
causas mais evidentes e como a mudança pode ser percebida no cotidiano. 
 Para tornar a compreensão desses aspectos mais clara, podemos empregar 
como exemplo as hipóteses para descrever as mudanças ocorridas no português 
brasileiro (PB): A hipótese evolucionista, que trabalha com a pressuposição de que a 
língua se comporta como um ser biológico, obedecendo a um determinismo linguístico 
(o meio determinaria a mudança). A hipótese crioulista, que fundamenta o contato 
entre a língua do colonizador (português) e as línguas dos colonizados (africanos e 
ameríndios) como criador de certas particularidades da nossa língua; E a internalista 
(muito mais difundida que as outras), que propõe uma explicação interna ao sistema 
da língua para as mudanças ocorridas (CECATO, 2017). 
Segundo Cecato (2017), os estudiosos desses aspectos da língua costumam 
dividir as mudanças em dois grupos: mudança linguística e mudança gramatical ou 
lexical. O importante, nesse caso, é estar atento ao fato de que, dependendo do 
estágio dos estudos linguísticos, uma ou outra explicação receberá maior crédito. 
Também é interessante compreender que as leis que explicam as mudanças sonoras 
são um resumo do que aconteceu em determinada área e em determinado grupo de 
falantes, assim como a explicação com base em analogia e empréstimo recobre 
apenas determinado conjunto de mudanças. 
Outro conceito importante a ser abordado em relação às mudanças na língua 
é a variação linguística, condicionada por: mudança gramatical ou lexical. Essa 
mudança se dá quando um item lexical (palavra) ganha ou perde valor de uso na 
própria língua. Afirma-se, por exemplo, que ele passa por processos de 
gramaticalização quando assume outras funções que não desempenhava antes. 
Podemos dividir os estudos relacionados à variação linguística entre duas disciplinas 
essenciais: a dialetologia e a sociolinguística. Os dialetólogos selecionam um recorte 
geográfico, aplicam métodos de estudo para levantamento de características e, com 
base nos resultados obtidos, são responsáveis por elaborar os atlas linguísticos, que 
contém o mapeamento de sotaques e dialetos de determinado local. No Brasil, temos 
 
 
o Atlas Linguístico do Brasil (Alib). 
Enquanto a sociolinguística faz um recorte um pouco diferente da comunidade 
de falantes a ser pesquisada: a extensão territorial abarcada é bem menor do que 
aquela utilizada para compor um atlas. Além disso, há o emprego de outros métodos 
de pesquisa, os quais procuram descrever se os falantes mudam o registro utilizado 
conforme o gênero, a faixa etária, o nível sociocultural e o grau de formalidade. A partir 
dos resultados obtidos, costuma-se fazer análises descrevendo regras que promovem 
a variação do sistema, considerando fatores linguísticos e extralinguísticos. 
3.1 Modalidade linguísticas e variações 
A linguagem é a ferramenta que nos permite comunicar, expressar 
sentimentos, conhecimentos, expor nossas opiniões e, principalmente, nos insere no 
convívio social. A língua é um mecanismo mutável e sofre variações segundo o 
contexto social, histórico, geográfico e cultural em que é utilizada. Em um mesmo país, 
com um único idioma oficial, a língua é passível de alterações feitas através do uso 
por seus falantes. Essas variações conseguem conferir identidade ao determinado 
grupo que as provocou, seja através do passar do tempo, nos diferentes locais ou de 
acordo com fatores sociais e culturais. 
Segundo Neves, (2023) a variação linguística é a mudança que a língua 
apresenta devido à sua capacidade de transformação e adaptação. As línguas 
apresentam variações porque são utilizadas por falantes inseridos em sociedades 
complexas formadas por diferentes grupos sociais com diferentes práticas culturais e 
níveis de escolaridade. Trata-se, pois, de objeto de estudo da Sociolinguística, ramo 
que estuda como a divisão da sociedade em grupos – com diversas culturas e 
costumes – dá origem a diferentes formas de expressão da língua, as quais, embora 
se baseiem nas normas impostas pela gramática prescritiva, adquirem regras e 
características próprias. 
As variações linguísticas ocorrem nos âmbitos geográficos, temporais, sociais 
e situacionais como, por exemplo: 
• Variações diatópicas (regional ou geográfica): São variações da língua que 
existem em diferentes lugares e regiões. 
• Variações diacrônicas (históricas): Variações linguísticas que existiram em 
 
 
diferentes épocas, das mais antigas às mais modernas. Estão ligadas à 
dinâmica da língua, que sofre transformações através do tempo. Esses tipos 
de transformações podem se dar no âmbito da ortografia, como, por exemplo, 
a palavra farmácia, que antigamente era escrita com ph em vez do f. Outro 
exemplo é no caso de palavras e expressões, como “janota” e “arrastar a asa”, 
estas caíram em desuso com o passar do tempo e hoje são consideradas 
obsoletas. As gírias e expressões utilizadas pelos jovens ou determinados 
grupos sociais vão sendo também substituídas por outras com o passar do 
tempo. 
• Variações diafásicas (situacionais): variações linguísticas existentes conforme 
a situação, ou o contexto do ato comunicativo, do mais informal ao mais 
informal (NEVES, 2023). 
 
3.2 Diatópica: variações regionais ou geográficas 
Neves (2023) exemplifica o conceito sobre as variações de diatópica, que 
também são conhecidas como variações regionais ou geográficas. São influenciadas 
pelo local de residência do falante e variam conforme a região. Esse tipo de diferença 
ocorre porque diferentes regiões possuem diferentes culturas, costumes e tradições, 
bem como estruturas linguísticas. Existem palavras diferentes para o mesmo conceito 
em variações diatópicas como: 
• Aipim, mandioca, macaxeira; 
• Abóbora, jerimum, moranga; 
• Sacolé, chup-chup, geladinho; 
• Totó, pebolim, matraquilhos; 
• Fruta-do-conde, pinha, ata, anoma. 
 
Diferentes sotaques, dialetos e falares: 
• caipira; 
• gaúcho; 
• baino; 
• carioca; 
 
 
• montanhês 
• nordestino. 
Reduções de palavras e perda ou troca de fonemas: 
• véio (velho); 
• oiá (olhar); 
• muié (mulher); 
• cantá (cantar); 
• enxovar (enxoval); 
• pertim (pertinho); 
• vambora (vamos embora). 
 
3.3 Diacrônica: variações de linguística histórica 
Variações diacrônicas também são conhecidas como variações históricas. 
Estas variações ocorrem conforme as diferentes épocas vividas pelos falantes e 
permitem distinguir o português antigo do moderno e algumas palavras que já estão 
em desuso. A seguir, exemplos de variações diacrônicas (NEVES, 2023): 
Palavras que caíram em desuso: 
• Vossemecê/vosmecê; 
• botica; 
• comprir; 
• anóveas; 
• asinha; 
• sisa; 
• suso. 
 
Grafias que caíram em desuso 
• flôr; 
• pingüim 
• pharmácia; 
 
 
• therapeutico: 
• annos; 
• alliar; 
• analyse. 
 
Vocabulário e expressões típicas de uma determinada faixa etária: 
• Você é um chato de galocha! 
• Ele é maior barbeiro 
• Vai catar coquinho 
• Este quindim está supimpa! 
• Acho que tem uma marmota aí... 
• Ele deu uns tabefes no primo. 
3.4 Diastrática: variações de linguística social 
Variações diastráticas, também classificada como variação social, é a variação 
que ocorre conforme oscostumes e culturas de diferentes grupos sociais. Distinções 
desse tipo surgem porque diferentes grupos sociais têm diversos sistemas de 
conhecimento, comportamento e comunicação. São exemplos (NEVES, 2023): 
Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como skatistas: 
• Prefiro freetyle. 
• O gringo tem um carrinho irado. 
• O silk do skate tá insano. 
Jargões próprios de um grupo profissional, como policiais e militares: 
• Ele deu sopa na crista. 
• Vamos na rota dele. 
• Não mexe com meu peixe. 
Linguajar compartilhado por determinado grupo, como a comunidade 
LGBTQIA+: 
• Tô sem aqué, querida! Não posso ir ao show! 
• Então saiu de casa para vir aqui me gongar! 
 
 
• Este menino só sabe fazer Alice, vive no mundo da lua! 
3.5 Variação de registro, estilística ou diafásica 
A variação de registro, estilística ou diafásica mostra a condição de um mesmo 
falante usar formas diferentes dependendo da situação de comunicação em que se 
encontra, ou seja, suas escolhas são feitas durante o processo de interação com o 
outro. E podem ser caracterizados pelos meios usados para a comunicação como a 
própria fala, o e-mail, o jornal, a carta, etc. (PAULISTA, 2016). 
 
3.6 Diferentes níveis de linguagem 
Se considerarmos que linguagem pode ser todo e qualquer tipo de mensagem 
que conduza uma comunicação (verbal, visual, auditiva, etc.), podemos começar a 
compreender que a linguagem se manifesta e ocorre em diferentes níveis. Dentro da 
mesma lógica, também sabemos que existem variações na língua para que ela se 
adéque a determinados contextos e que essas variações são de diferentes classes. 
As variáveis a respeito da forma de produção linguística e as apresentadas pela língua 
constituem os níveis de linguagem. Alguns linguistas consideram níveis de linguagem 
apenas a diferença que se dá entre a forma material que a língua é produzida (de 
forma oral ou escrita); outros, contudo, caracterizam como níveis de linguagem as 
diferentes variações linguísticas numa mesma língua. Nesta seção, portanto, 
consideraremos como níveis de linguagem as duas acepções, de forma que 
compreenda as concordâncias entre emissor e receptor para que uma mensagem seja 
compreendida, considerando tanto o meio de produção linguística como as variações 
dela (CORTINA, 2018). 
3.6.1 Linguagem informal 
 
É o tipo de linguagem mais natural e espontânea, uma vez que não há, 
necessariamente, uma preocupação em seguir uma norma culta da língua. Esse nível 
de linguagem é utilizado quando a função da linguagem é mais importante do que sua 
forma, de modo que a estruturação e as escolhas lexicais não seguem, à risca, normas 
 
 
de formação. Exemplo desse nível são as conversas informais entre amigos e 
qualquer outro tipo de linguagem utilizada de forma espontânea. 
Geralmente, o nível coloquial de linguagem (que também é conhecido como 
popular (ou informal) é de apropriação de todos os falantes de uma língua, o que não 
ocorre no nível formal (do qual somente alguns falantes se apropriam). 
Como exemplo do nível coloquial, temos as gírias, expressões utilizadas por 
determinados grupos sociais, em um certo recorte de tempo, mas não são aceitas 
pelo nível da linguagem formal. 
• Fala, garoto! Beleza? 
• Rola um cineminha hoje? 
• Cadê Pedro? Cê viu ele? 
• Tá olhando pra onde? 
• Valeu, Luísa! 
3.6.2 Linguagem formal 
 
Cortina (2018) ressalta que a linguagem culta é aquela considerada canônica 
e ensinada nas escolas, respeitando regras gramaticais, formulações, padrões, etc. 
Utilizada por pessoas consideradas “mais instruídas”, sendo necessário o 
conhecimento de normas, regras e convenções. 
Por ser uma língua que respeita regras e padrões, pode ser considerada 
rebuscada. Esse tipo de língua é comumente encontrada na literatura e na grande 
maioria dos textos escritos. O nível da linguagem culta diz respeito não somente às 
escolhas lexicais, mas a toda e qualquer norma de formação dentro da língua. 
A utilização da norma culta se torna um filtro social, uma vez que seu uso 
é limitado apenas por pessoas com grau de instrução formal. Em consequência disso, 
pode haver situações comunicacionais que sejam mais complexas para um grupo de 
pessoas sem a apropriação da norma culta. 
É por essa razão que alguns textos e situações comunicativas se tornam 
complexos para falantes que não se apropriam da linguagem culta. No que se refere 
ao sentido, a norma culta pode se tornar um fator complicador em situações 
comunicacionais entre alguém que a utilizou em uma determinada situação na qual 
seu receptor não conhece esse tipo de língua. Um exemplo é a linguagem jurídica ou 
 
 
médica, bastante rebuscada e confusa para quem não tem instrução formal. 
 
• Bom dia! Tudo bom com você? 
• Querem ir ao cinema hoje? 
• Onde está a Srª Cláudia? Você viu-a? 
• Nós gostamos dele. 
• Está olhando para onde? 
• Muito obrigada, Luísa! 
 
3.7 Preconceito linguístico 
 A área encarregada de estudar as variações linguísticas é a sociolinguística, 
que não só analisa e estuda os diferentes tipos de variação como também 
questiona as consequências culturais e sociais provenientes de variações. 
Entre essas consequências, está o preconceito linguístico, que julga que uma 
variação linguística é superior a outra. Sobre esse preconceito é que surge o mito 
de que "existem formas erradas de se falar", o que não é, puramente, verdade 
(CORTINA, 2018). 
Existem, obviamente, formas diferentes de se falar; contudo, o objetivo da fala 
é criar um contexto comunicativo e transmitir uma mensagem. O modo de 
transmiti-la pode variar e, de acordo com convenções, pode ser mais ou menos 
apropriado para um determinado contexto. Entretanto, julgar que uma pessoa 
"fala errado" porque ela se apropria de uma variação linguística diferente 
da que estamos acostumados é um erro muito grande, pois cada variação é 
consequência de fatores históricos e culturais distintos. 
 
 
 
 
 
 
O conhecimento acerca dos processos de formação de palavras (que pode 
 
 
ocorrer através da reflexão sobre o funcionamento da nossa língua portuguesa) 
possibilita que os indivíduos percebam que a língua existe como meio de comunicação 
entre homens; sendo que as significações linguísticas estão na base dessa 
comunicação. Quanto mais se compreende o funcionamento da língua como um 
sistema vivo e mutante, mais habilitados os sujeitos estarão para compreender o 
contexto no qual estão inseridos e aumentam-se assim as possibilidades de 
interpretação. A partir disso amplia-se a noção do certo e do errado e passamos então 
a perceber a língua como algo que demarca historicamente um povo e um tempo. 
Sabe-se que vivemos na sociedade da comunicação e da informação, na qual a 
palavra dita e, sobretudo, escrita, é utilizada com grande intensidade. As redes sociais 
modificaram as relações dos indivíduos com o uso da palavra, o domínio dela, por 
conseguinte, a possibilidade de ocupar diferentes espaços de forma adequada e 
fazendo uso da riqueza que a língua oferece (FREITAS; AREÁN-GARCÍA, 2010). 
3.8 Conceitos básicos de morfologia 
O processo de formação de palavras traz implicações, uma vez que é preciso 
constante atualização e contextualização para que não se limite o espaço do 
aprendizado. Se você parar para pensar, podemos citar inúmeras novas palavras na 
nossa língua: agito, xingo, desmate, carreata, entre outras (ROCHA, 1998). A partir 
dessas criações, podemos nos perguntar: por que algumas causam estranheza e 
outras não? Por exemplo, a palavra desmorrer, já que a forma desmerecer é aceita. 
Por que razão a palavra atingimento não é considerada uma palavra existente na 
língua, mas possível de ser criada? Por que uma palavra proferida por uma figura 
pública causa tanto comentário? Pense na palavra imexível e o que ela gerou após 
ter sido pronunciada por um ministro do Estado. Por que no Rio Grande do Sul temos 
como formaconsagrada ‘lavagem’ e em Santa Catarina ‘lavação’? 
Essas e outras questões devem ser discutidas no contexto da morfologia. No 
decorrer da aprendizagem, é necessário fazer algumas perguntas como: para que 
serve formar novas palavras? Como formamos novas palavras? Quando parece 
ocorrer a aquisição de novas palavras ou palavras de outras línguas? Quais são as 
partes integrantes de uma palavra? A partir de que critério(s) podemos dizer que uma 
palavra existe em uma língua? 
 
 
Portanto, o objetivo da teoria morfológica da linguagem é definir como e quais 
novas palavras podem ser adquiridas para processos de ensino e aprendizagem. 
Assim, um falante que ouve uma palavra ou pela primeira vez pode reconhecê-la como 
uma palavra em sua própria língua e, de tal forma, permite a intuição sobre sua 
estrutura e possíveis significados. 
 Assim, a teoria morfológica descreve esses fatos, especialmente os 
mecanismos formais que criam novas palavras e a análise de palavras já existentes 
permite a intuição sobre a estruturação dela e de seus possíveis significados. 
Portanto, descreve esses fatos, especialmente os mecanismos formais que criam 
novas palavras e a análise de palavras que já transitam nessa língua. 
3.9 Contribuições históricas dos estudos morfológicos 
Cada autor dedica um capítulo ao estudo da morfologia no estudo das 
gramáticas normativas. No contexto da linguística, ou seja, no que se refere ao estudo 
científico do funcionamento da linguagem, a morfologia como campo de estudo tem, 
historicamente, dias de valorização e de esquecimento. No período da gramática 
estrutural, ela foi centro de atenção e, portanto, alcançou um progresso. Já no período 
da linguística gerativo-transformacional, a morfologia ficou esquecida se comparada 
à sintaxe e à fonologia. 
No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações 
frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo, de tal 
forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a sua própria teoria 
e procedimentos à medida que caminham. De acordo com Bauer (1983 apud ROCHA, 
1998, p. 7): 
No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações 
frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo, 
de tal forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a 
sua própria teoria e procedimentos à medida que caminham. 
Entretanto, com o desenvolvimento histórico das sociedades e a tentativa cada 
vez maior de entender os fenômenos que ocorrem no mundo, essa ideia deu lugar a 
um estudo cada vez mais aprofundado da morfologia. 
No contexto da língua portuguesa, os autores da área se consagram e isso 
aumenta a visibilidade e a importância da pesquisa linguística. Margarida Basílio, por 
 
 
exemplo, tem uma relevante obra publicada no Brasil, com o título: Estruturas Lexicais 
do Português: uma abordagem gerativa, evidenciando assim o interesse crescente 
pela disciplina. 
São quatro as escolas que estudam e analisam os componentes morfológicos 
da língua: o descritivismo, o historicismo, o estruturalismo e o gerativismo. Para as 
gramáticas tradicionais, este tema é de menor relevância. No entanto, no período de 
influência do estruturalismo houve um maior interesse, este logo ultrapassado pela 
teoria gerativista (Quadro 1). 
Quadro 1 - Descrição do componente morfológico das línguas pelas quatro grandes 
escolas 
Descritivismo Historicismo Estruturalismo Gerativismo 
Relação entre lógica 
e linguagem 
Filologia românica; 
filologia germânica 
Ferdinand Saussure — 
estruturalismo europeu 
Noam Chomsky 
Regularidades vs. 
irregularidades 
Língua: português, 
francês, espanhol e 
italiano com suas 
origens no latim vulgar 
O arbitrário do signo: a 
língua é um sistema de 
valores constituído por 
diferenças puras 
Língua inerente à 
condição humana 
Fixar paradigma Filologia: um estudo 
histórico 
Língua inerente à 
condição humana 
Capacidade criadora 
de um ser pensante 
Elemento e 
paradigma 
Estudos linguísticos com 
abordagem diacrônica A 
oposição forma as 
estruturas da língua 
Instrumento para livre 
expressão do 
pensamento 
A oposição forma as 
estruturas da língua 
Instrumento para livre 
expressão do 
pensamento 
Descrição e fixação Evolução na morfologia 
histórica 
Leonard Bloomfield — 
estruturalismo norte-
americano 
Linguagem não é mero 
instrumento de 
comunicação 
Aristóteles — partes 
do discurso 
Privou o estudo da 
língua em uso 
Preocupação com a 
filosofia da linguagem 
Estrutura profunda e 
superficial 
Estoicos — casos 
nominais 
Gramática histórica ou 
comparativa: 
preocupada com a 
evolução da palavra 
como um todo 
Caráter prático e 
utilitarista — morfema 
(= menor unidade da 
palavra); uma visão 
procedimental 
Regras morfológicas 
que operam dentro do 
componente lexical 
 
Trabalhos desenvolvidos pelo estudioso Mattoso Câmara Júnior (1970, 1971), 
em meados da década de 1970, destaca que a morfologia volta a ser legitimada como 
objeto de estudo na Teoria Gerativa, destacando-se o nome de Noam Chomsky 
(1970). Durante este período de consolidação, o estudo das estruturas internas da 
 
 
palavra, a morfologia se confronta com dificuldades de definição do seu objeto de 
estudo. Com o transcorrer das pesquisas em torno dessa temática, melhores 
definições são estabelecidas. Passa-se a trabalhar com regras de formação de 
palavras. A partir dessa interpretação, historicamente, consolida-se o foco na 
competência linguística. Ou seja, parte-se da possibilidade de pensar não apenas nas 
formas existentes das formas lexicais, mas potencializar o estudo da ciência 
linguística a partir da valorização da potencialidade das línguas para a formação do 
novo, com o objetivo principal de atender as necessidades comunicativas. 
3.10 Estrutura das palavras 
O conjunto das palavras e expressões de uma língua é denominado léxico. A 
noção de léxico é abstrata, visto que não se consegue saber exatamente qual é o total 
de palavras em uso. Como a língua está em constante mudança, ora surgem palavras 
novas, ora palavras caem em desuso (CARVALHO, 2023). O léxico é tradicionalmente 
definido como a coleção de palavras de um determinado idioma. Segundo a 
abordagem clássica, o estudo do léxico busca ampliar o conhecimento sobre os traços 
e características de cada palavra. Isso está no passado e no presente, pois as 
mudanças ocorrem conforme a história do espaço, do tempo e da formação da 
linguagem, pois ela não é estática, ela se movimenta conforme a sociedade evolui. 
Por exemplo, palavras como: internet, imprimir, escanear, tuitar. Houve inserção delas 
no vocabulário de língua portuguesa pelo senso comum — algumas ainda sem 
registro formal, por enquanto (ROCHA, 1998). 
Na tradição dos estudos gramaticais, a morfologia se concentra no estudo da 
flexão. Vários processos de derivação e modificação, bem como a expansão de 
palavras, desempenham funções reatribuídas que se transformam em estruturas 
morfológicas lexicais. 
A morfologia não existe por acaso, ela é historicamente a subdivisão mais 
antiga da gramática, mas reconhecida como tal apenas na segunda metade do século 
XIX. Os linguistas que iniciaram os estudos sobre morfologia não se percebiam, até 
então, como morfologistas. Dessa forma, o léxico representa um depósito de 
elementos de designação, pois fornece unidades básicas para a construção de 
enunciados e também comporta os processos de formação das palavras (ROCHA, 
 
 
1998). 
Segundo Basílio (2006, p. 10), o léxico é “ecologicamente correto”, pois tem um 
banco de dados em permanente extensão, mas utilizando material já existente, assim, 
reduzindo a dependência de memória e garantindo a comunicação automática. A 
exemplo disso, são palavras como: computacional, globalização, etc., onde percebe-
se novas formas de palavras já existentes. Overbo computar, por exemplo, já existia, 
e serviu de base para a formação de computador; o sufixo ‘ção’, também já existente, 
possibilita a construção da palavra computação, e assim por diante. Para melhor 
compreensão, observe a Figura 1: 
Figura 1 - Abordagens da morfologia, da semântica e da sintaxe 
 
Classes de palavras 
As classes de palavras, ou categorias lexicais, envolvidas em processos de 
formação de palavras são: 
• Substantivo 
• Adjetivo 
• Artigo 
• Pronome 
• Numeral 
 
 
• Verbo 
• Advérbio 
• Conjunção 
• Preposição 
A classe das palavras denominadas substantivos é determinada por um traço 
morfológico que apresenta e determina o caso de gênero e número; sua propriedade 
semântica indicando seres ou entes; e sua característica sintática é a ocupação do 
núcleo do sujeito e os complementos (BASÍLIO, 2006). 
A classe dos adjetivos é definida pela propriedade de caracterizar ou qualificar 
os seres designados pelos substantivos e desta forma concordar em gênero e número 
com eles. Agora os verbos, são definidos como aquela classe de palavras que 
representa ações e relações (eventos, estados, etc.) no tempo, tendo como função a 
predicação e apresentando flexões de tempo e de modo (BASÍLIO, 2006). 
Os advérbios configuram a classe de palavras invariáveis com função de 
modificar verbos, adjetivos e também outros advérbios e enunciados. 
O artigo é denominado como aquele que antecede o substantivo e funciona 
como determinante ou indeterminante deste último. Os artigos podem ser flexionados 
em número e gênero. A classe de palavras denominada pronome contempla aquelas 
palavras que identificam o indivíduo no momento comunicacional, ou seja, evidencia 
as pessoas do discurso. 
Já, o numeral é um conjunto representado por palavras com função de 
quantificar numericamente ou indicar ordem de sequência para aquilo a que faz 
referência na construção da comunicação. A conjunção tem a função de ligar 
elementos dentro da construção dos enunciados. Essa função também é a das 
preposições, ou seja, para que se tenha clareza no discurso, uma palavra deve estar 
ligada à outra. 
Os processos de formação de palavras apresentam funções gramaticais e 
funções semânticas; e os seus produtos, ou seja, as palavras formadas, apresentam 
propriedades morfológicas, sintáticas e semânticas (CÂMARA, 1977). 
É possível dividir as palavras como variáveis e invariáveis: 
Variáveis 
As palavras variáveis podem ser flexionadas em gênero e número (algumas, 
 
 
inclusive, em grau). São exemplos: 
• Adjetivo 
• Artigo 
• Pronome 
• Substantivo 
• Verbo 
Invariáveis 
Agora, as palavras tidas como invariáveis são aquelas que não se modificam 
em gênero ou número. Ou seja, independentemente da construção enunciada, elas 
mantêm o mesmo formato. O contexto não interfere e, da mesma forma, o arranjo 
textual não as modifica. Como, por exemplo: 
• Advérbio 
• Conjunção 
• Preposição 
Segue exemplo no quadro 2: 
 A colaboradora psicóloga ficou muito estressada 
Artigo 
Feminino 
singular 
Substantivo 
Feminino 
singular 
Adjetivo 
Feminino 
singular 
Verbo 
Conjugado no 
feminino 
singular 
Advérbio 
invariável 
Adjetivo 
Feminino 
singular 
 
Pode-se perceber neste exemplo que todas as palavras que compõem o 
enunciado concordam em gênero e número, isto é, estão no feminino singular 
conforme o núcleo do sujeito (colaboradora), com exceção apenas para o advérbio de 
intensidade muito. Conforme visto anteriormente, este é invariável. Enfim, o processo 
de formação de palavras pode ocorrer por derivação sufixal ou prefixal; parassintética, 
conversiva, siglada, grafêmica, silábica, fortuita, por composição e onomatopei
4 AS PALAVRAS E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
 Alguns autores estudam a morfologia em separado de outras partes da 
gramática, como a sintaxe e fonologia, por exemplo; enquanto autores como Bechara 
(2009) e Peixoto Filho (2021) preferem estudar a parte da gramática 
descritiva/normativa sob o nome de Morfossintaxe (grafada aqui com primeira letra 
em maiúscula para realçar seu valor semântico e lexical). Assim, podemos considerar 
que morfologia “ocupa-se da estrutura e da classificação das palavras” (CEGALLA, 
2008, p. 90). A primeira parte da morfologia é a estrutura da palavra, mais 
especificamente (a) elementos básicos e significativos; (b) elementos modificadores 
da significação e (c) elementos de ligação ou eufônicos. 
4.1 Elementos básicos e significativos – Raiz, Radical e Tema 
Raiz - Nas palavras de Peixoto Filho (2021), os estudos de morfologia, na perspectiva 
tradicional, é o estudo dos vocábulos tomados isoladamente. Nesse sentido, quando 
nos propomos a estudar um vocábulo em perspectiva morfológica estamos 
aproximando-nos desse vocábulo para estabelecer seus elementos básicos que dão 
a ele uma significação a partir de sua apresentação de forma, a partir do seu formato. 
Os estudos morfológicos estritos sensos abrange os elementos mórficos 
(morfemas) e sua estruturação na formação dos vocábulos. O objeto mínimo 
de estudo da morfologia (sem entrar em pormenores terminológicos) é o 
morfema: unidade formadora (lexemas, afixos, morfemas de gênero e 
número). Na correlação entre esses morfemas é que se estuda o vocábulo, 
considerado isoladamente (PEIXOTO FILHO, 2021, p. 29) 
 Podemos ainda considerar, por seu turno, que existem unidades menores de 
significação, como acontece com os radicais, por exemplo. Entre esses elementos 
mínimos de significação está a “raiz”, também chamado de “radical primários”. Nas 
palavras de Cegalla (2008, p. 90) a raiz “é o elemento originário e irredutível em que 
se concentra a significação das palavras, consideradas do ângulo histórico. 
Geralmente monossilábica, a raiz encerra sentido lato e geral, comum às palavras da 
mesma família etimológica”. 
A compreensão de Bechara (2009, p. 285) amplia a difere, ainda que 
ligeiramente, da conceituação empregada acima. Segundo ele “chama-se raiz, em 
gramática descritiva, ao radical primário ou irredutível a que se chega dentro da língua 
 
 
portuguesa e comum a todas as palavras de uma mesma família”. Quando falamos 
de família de palavras, estamos nos referindo aquelas palavras que possuem alguma 
semelhança, seja de gênero ou de forma. 
Nas gramáticas históricas, o elemento na palavra chamado de “raiz” só pode 
ser aplicado se uma palavra tem uma origem em outra língua e se nessa outra língua 
esse vocábulo básico for usado em outras palavras da mesma família, ou seja, se uma 
palavra tem sua origem no latim, as gramáticas históricas vão dizer que só existe um 
vocábulo raiz no termo em latim, nunca na palavra em língua portuguesa; mas na 
gramática descritiva, como acabamos de observar, essa distinção não se opera. 
• Em um primeiro exemplo, temos a raiz noc (do latim nocere = prejudicar) tem 
a significação geral de causar dano, e a ela se prendem, pela origem comum, 
as palavras: Nocivo / Nocivas / Nocividade / Inocente / Inocentar / Inócuo, etc. 
• Uma raiz pode apresentar-se alterada como nas seguintes palavras: 
Ag-ir / Ag-ente / re-Ag-ir * Ex-ig-ir / Ex-ig-ência * At-o / At-or / At-oa, etc. 
É preciso dizer que o estudo das raízes muitas vezes foge à finalidade da 
gramática normativa (como vimos acima), muitas vezes e por características próprias, 
esses estudos só interessa à gramática histórica ou, mais precisamente, à etimologia. 
Numa análise morfológica elementar das palavras portuguesas, deve-se preterir a raiz 
e partir do radical, considerado como radical em língua portuguesa. 
O elemento central da raiz da palavra em língua portuguesa é que ela (a raiz) 
dá instabilidade e regularidade à palavra. Para não confundirmos raiz com radical, que 
parece ser coisas iguais, mas que tecnicamente são diferentes, é necessário ter em 
conta que a raiz é o elemento originário da palavra, relacionando-se com a 
sua significaçãohistórica, ou seja, ao seu estudo diacrônico, seu estudo no tempo. 
Levando em conta essa diferença, podemos dizer que em algumas palavras ou 
família de palavras, o que vemos não é a raiz e sim o radical, que também funciona 
como elemento significativo, mas que não carrega o aspecto histórico; o radical 
relaciona-se com o aspecto sincrônico. Abaixo algumas palavras formadas com 
radicais gregos e que são estudados com maior atenção pela gramática histórica: 
 
 
 
 
 Quadro 1 – Palavras com radicais gregos 
Radical Exemplos Significado 
Aéros- Aeronave Ar 
Ánthropos- Antropófago homem 
Autós- Autobiografia De si mesmo 
Biblion- Biblioteca Livro 
Bíos- Biologia Vida 
Chroma- Cromático Cor 
Chrónos- Cronômetro Tempo 
Dáktyllos- Dactilografia Dedo 
Déka- Decassílabo Dez 
Démos- Democracia Povo 
Eléktron- Eletricidade Eletroímã (âmbar) 
Ethnos- Etnia Raça 
Géo- Geografia Terra 
Héteros- Heterogêneo Outro 
Hexa- Hexágono Seis 
Hippos- Hipopótamo Cavalo 
Ichthýs- Ictiografia Peixe 
Isos- Isósceles Igual 
Makrós- Macróbio Grande, longo 
Mónos- Monocultura Um só 
Nekrós- Necrotério Morto 
Radical Exemplos Significado 
Néos- Neolatino Novo 
Odóntos- Odontologia Dente 
Ophthalmós- Oftalmologia Olho 
Ónoma- Onomatopeia Nome 
 
 
Radical Exemplos Significado 
Orthós- Ortografia Reto, justo 
Pan- Pan-americano Todos, tudo 
Páthos- Patologia Doença 
Penta- Pentágono Cinco 
Polýs- Poliglota Muito 
Pótamos- Potamologia Rio 
Pséudos- Pseudônimo Falso 
Psiché- Psicologia Mente 
Riza- Rizotônico Raiz 
Techné- Tecnográfica Arte 
Thermóg- Térmico Quente 
Tetra- Tetraedro Quatro 
Týpos- Tipografia Figura, marca 
Tópos- Topografia Lugar 
Zóon- Zoologia Animal 
Fonte: Adaptado de CEGALLA, 2008, p. 113. 
Radical – Embasados nas informações com as quais lidamos acima, podemos 
acompanhar Cegalla (2008) quando tenta simplificar sua compreensão sobre o que 
seria um radical. Segundo ele, um radical é “o elemento básico e significativo das 
palavras, consideradas sob o aspecto gramaticai e prático, dentro da língua 
portuguesa atual” (CEGALLA, 2008, p. 91). Sob essa perspectiva é notória a ênfase 
dada pelo autor quando considera que o radical só pode ser entendido por um prisma 
“atual”, sincrônico. 
A propósito é preciso lembrar que em certas palavras da língua portuguesa só 
existe o radical. Ao sabermos sobre a função da raiz em uma palavra, podemos então 
fazer diferenciações de outras unidades morfológicas de uma palavra e analisar as 
estruturas morfológicas que constituem palavras e sua formação de forma. O radical 
é, em algumas gramáticas, chamado de “semantema". Observe as seguintes palavras 
com um radical comum: 
 
 
• Livr – o 
• Livr – inho 
• Livr – eiro 
• Livr – eco 
• Livr - asso 
É preciso lembrar que a língua portuguesa é considerada uma língua 
“neolatina”, cuja ascendência originária remonta ao Latim (notadamente o latim vulgar 
e não o latim clássico), falado pelas altas autoridades. Quando olhamos uma lista de 
palavras que apresentam em seus radicais de palavras latinas, é comum observarmos 
que essas palavras aparecem em léxicos classificando essas palavras como “palavras 
clássicas do latim”; isso acontece porque essas mesmas palavras apesar de em sua 
maioria serem faladas pelas pessoas comuns, em sua forma escrita, elas mantiveram 
sua forma culta de escrita e de pronúncia. Vejamos uma lista de palavras em cujo 
radical é uma palavra latina. 
• agri – campo: agricultura 
• ambi – ambos: ambidestro 
• api – abelha: apicultor 
• arbori – árvore: arborizar 
• beli – guerra: bélico 
• cado – que cai: cadente, decadência, decadente 
• cola – que habita: silvícola 
• fico – que faz ou produz: benéfico 
• fide – fé: fidelidade 
• frater – irmão: fraternal, fraternidade 
 
 
• gero – que contém ou produz: lanífero 
• ludo – jogo: ludoterapia, ludíco 
• mater – mãe: maternidade, maternal 
• multi – muitos: multinacional 
• opera – obra: operário 
• pluri – muitos: pluricelular 
• silva – floresta: silvícola 
• vídeo – que vê: vidente 
• volo – bem: benévolo 
• voro – que come: carnívoro 
Cognatos – É preciso lembrar que não se deve confundir palavras cognatas, que por 
definição são aquelas palavras ou vocábulos que procedem de uma raiz comum, 
com aquelas palavras que apenas aparentam ter o mesmo radical e que são 
denominadas de falsos cognatos. Um exemplo: À raiz da palavra latina anima (= 
espírito), por exemplo, prendem-se os seguintes cognatos: alma, animal, alimária, 
animar, animador, desanimar, animação, almejar, ânimo, desalmado, etc. 
Em virtude das alterações que algumas palavras sofrem em seus usos e em 
sua história gráfica, às vezes torna-se difícil discernir a raiz (ou radical) daquela 
palavra em virtude das alterações sofridas por ela. Vejamos, na tabela abaixo, 
exemplo de palavras que são cognatas do verbo latino facio (= fazer). 
Quadro 1 – Palavras cognatas 
FACção FÁCil FATor inFECção conFECção 
FACcioso FACilitar FATurar diFíCil eFETuar 
 
 
FACínora FAÇanha FATo artíFICe ouriVES 
Fonte: Adaptado de CEGALLA, 2008, p. 93. 
Tema – Em sentido mais simples, podemos dizer que o tema é o radical acrescido de 
uma vogal, que por esse acréscimo recebe o nome de vogal temática, ou em palavras 
de Bechara (2009, p. 282), podemos definir tema como “o radical acrescido da vogal 
temática e que constitui a parte da palavra pronta para funcionar no discurso e para 
receber a desinência ou sufixo. São exemplos de temas: livro-, trabalha-. A vogal 
temática pode ocorrer num tema simples (livr- o) ou derivado (livr- eir- o) ”. A 
representação de uma vogal temática pode ser exercida por uma vogal ou por uma 
semivogal, dependendo do caso. 
A vogal temática também pode, dependendo da conjugação da palavra, passar 
de uma vogal para uma semivogal, como no caso da palavra “afeto” que, quando 
conjugada, pode aparecer com a variação “afetuoso”. Temos também as palavras 
atemáticas que, por terminarem em uma vogal tónica (fé, por exemplo), não possuem 
uma vogal temática. Como explica Lima (2011, p. 247), “tema é, portanto, o radical 
ampliado por uma vogal temática […] Ao tema assim constituído agregam-se-lhe 
desinências e sufixos, para assinalar as flexões da palavra ou para a formação de 
termos derivados”. 
4.2 Elementos constitutivo das palavras – prefixo, sufixo e afixo 
Quando se fala em elementos constitutivos da palavra, nos referimos aqueles 
elementos que são intrínsecos a cada palavra, seja em língua portuguesa seja em 
outro idioma. Nesse sentido, tudo aquilo que não é intrínseco à palavra pode ser 
classificado como acessório a ela. Sob tal compreensão, podemos dizer que quando 
acrescentamos um “s” para marcar, nas palavras que aceitam essa flexão, o plural, 
estamos acrescendo àquela palavra um elemento que não faz parte da sua 
constituição primeira; aquela marcação foi acrescentada ao vocábulo para marcar 
uma flexão na palavra fazendo com que ela deixe a categoria de singular para a 
categoria de plural. 
Novas ideias e novas realidades contextuais, de acordo com Cegalla (2008), 
são responsáveis pela criação de novas palavras e vocábulos em nosso idioma; esses 
 
 
vocábulos e palavras novos são chamados comumente de neologismos (novas 
palavras que nascem para expressar novas ideias). É preciso dizer ainda que algumas 
palavras da língua portuguesa têm sua formação por processos que podem ser 
definidos de duas maneiras: (a) o processo de derivação e (b) o processo de 
composição; tanto em um como em outro processo a dinâmica de formação da palavra 
pode ser por prefixo; por sufixo (ou ambos, como no caso da parassíntese), de todo 
modo eles recebem o nome técnico de afixo, pois agregam-se no final ou no início de 
um radical. Falando especificamente sobre o neologismo e seu contrário, o arcaísmo, 
Bechara ensina que: 
As múltiplas atividades dos falantes no comércio da vida em sociedade 
favorecema criação de palavras para atender às necessidades culturais, 
científicas e da comunicação de um modo geral. As palavras que vêm ao 
encontro dessas necessidades renovadoras chamam-se neologismos, que 
têm, do lado oposto ao movimento criador, os arcaísmos, representados por 
palavras e expressões que, por diversas razões, saem de uso e acabam 
esquecidas por uma comunidade linguística, embora permaneçam em 
comunidades mais conservadoras, ou lembrados em formações deles 
originados. (BECHARA, 2009, p. 293) 
Considerando, ainda, os mecanismos de adição, seja por prefixo ou sufixo, 
Bechara (2009, p. 283) afirma que “do ponto de vista formal, há ainda para notar que 
os sufixos derivativos são em geral mais longos que as desinências gramaticais, além 
de serem estas quase sempre átonas, enquanto aqueles são normalmente tônicos”. 
Outra distinção importante apontada pelo autor é que os sufixos vêm imediatamente 
após o núcleo (a palavra central ou primitiva), enquanto que as desinências 
geralmente vêm após os sufixos. Nesse sentido, podemos considerar de forma 
resumida as seguintes definições. 
Prefixo – São aqueles radicais que antecedem o núcleo das palavras. E como nos 
ensina Cegalla (2008, p. 110), “os prefixos ocorrentes em palavras portuguesas 
provieram do latim e do grego, línguas em que funcionavam como preposições ou 
advérbios, portanto como vocábulos autônomos. Por isso, têm significação bem mais 
precisa que os sufixos e exprimem, geralmente, circunstâncias (lugar, modo, tempo, 
etc)”. Abaixo, exemplo de prefixos e seus significados: 
• Infra - abaixo, na parte inferior: infravermelho, infraestrutura, infra-renal, 
infrassom. 
• inter-, entre - posição ou ação intermediária, ação recíproca ou incompleta: 
interstício, intercomunicação, entreter, entrelinha, entreamar-se, entreabrir. 
• intra-, intro - dentro, movimento para dentro: intramuscular, introspectivo, 
 
 
introduzir, introvertido. 
• Justa - proximidade, posição ao lado: justa fluvial, justapor, justalinear. 
• male-, mal - opõem-se a bene: malevolência, mal-educado, mal-estar, 
maldizer. 
Sufixo – São aqueles radicais que vão depois do núcleo das palavras. Olhando 
por esse prisma, Cunha e Cintra (2017, p. 97) refletem que “os sufixos, como as 
desinências, unem-se à parte final do radical. Mas, enquanto estas caracterizam 
apenas o gênero, o número ou a pessoa da palavra, sem lhe alterar o sentido lexical 
ou a classe, os sufixos transformam substancialmente o radical a que se juntam”. A 
maioria dos sufixos da nossa língua são herdados do latim ou do grego e podem ser 
classificados de três formas diferentes. A saber: 
• Nominais, os que formam substantivos e adjetivos: dentista, gostoso; 
• Verbais, os que formam verbos: gotejar, cabecear; 
• Adverbial, o sufixo -mente, formador de advérbios: rapidamente. 
Ao exemplificar de forma gráfica a dinâmica dos afixos, Cegalla (2008) coloca 
os elementos da frase em sentido horizontal uma frase para que se perceba como se 
implementa o a ideia de afixo. E completa dizendo que os afixos são elementos 
secundários na construção da palavra, geralmente sem vida autônoma, que se 
agregam a um radical ou tema, quando postos juntos desses. Vejamos o esquema 
apresentado pelo autor: 
Figura 2 - Exemplo de afixos 
Fonte: CEGALLA, 2008, p. 92 
 
Como indicado por Rio-Torto (2016, p. 24), “as unidades envolvidas na 
 
 
formação de palavras são os afixos, os radicais e os temas que, combinando-se entre 
si, na base de relações genolexicais de hierarquia e de sucessividade, dão origem a 
unidades lexicais complexas”, ou seja, sempre que nos propomos a estudar a 
formação das palavras, devemos observar as muitas construções possíveis para as 
quais as palavras são sucessivas; não levar em conta essas possibilidades de 
variações implicará, quase que obrigatoriamente, em uma observação incompleta da 
construção das palavras em língua portuguesa. 
 
5 ETNOMETOLOGIA 
A etnometodologia é um campo de pesquisa que causou impacto no mundo da 
sociologia entre a segunda metade dos anos 1960 e o princípio dos anos 1970, mas 
que logo foi relegado a uma posição relativamente marginal. Tanto o sucesso inicial 
como o posterior obscurecimento podem ser explicados pela posição radical com que 
a etnometodologia enxergava a sociologia que era produzida até o momento. Se por 
um lado esse radicalismo combinava com o ambiente de “arejamento” por qual 
passavam as ciências sociais dos anos 1960, por outro parecia ir longe demais 
(BRAGA, 2019). 
A etnometodologia se originou com os estudos de Harold Garfinkel quando ele 
ainda estava nas décadas de 1940 e 1950 no Departamento Interdisciplinar de 
Estudos Sociais em Ciências Sociais de Harvard. Mas seu maior desenvolvimento 
ocorreu durante o tempo de Garfinkel como professor da Universidade da Califórnia, 
quando publicou Studies in Ethnomethodology em 1967, considerado o fundamento 
desse novo tipo de pesquisa sociológica. Também na Califórnia, Garfinkel encontrou 
seus mais importantes colaboradores, como Aaron Cicorel, Harvey Sacks e David 
Sudnow, que participaram do estudo da etnometodologia em vários campos de 
pesquisa (BRAGA, 2019). 
A etnometodologia também é oriunda dos enfoques etnossociológicos cuja 
maior contribuição para os estudos da Análise da Conversação (AC) foi ter observado 
que as pessoas compartilham conhecimentos e práticas sociais e que somente com 
base no mundo compartilhado o sentido social é construído (etnométodo) (FRAZÃO; 
LIMA, 2017). 
 
 
Frazão e Lima (2017) ressaltam que 
[...] apesar de ser uma vertente da etnometodologia, a AC erigiu-se 
gradativamente como domínio autônomo de pesquisa, sob o impulso de 
Harvey Sacks, Emanuel Schegloff e Gail Jefferson (1974), que propõem um 
modelo de análise do texto conversacional a partir do estudo da tomada ou 
troca de turnos. 
 
5.1 Análise da conversação no Brasil 
Marcuschi (1986), em seu trabalho inaugural da Análise da Conversação no 
Brasil, afirma que o princípio básico que norteou esse campo de estudos foi que “todos 
os aspectos da ação e interação social poderiam ser examinados e descritos em 
termos de organização estrutural convencionalizada ou institucionalizada pela 
sociedade”. 
Segundo Frazão e Lima (2017), inicialmente a AC ocupou-se da “descrição das 
estruturas da conversação e seus mecanismos organizadores [...]. Atualmente, tende 
se a observar outros aspectos envolvidos na atividade conversacional [...]” 
(MARCUSCHI, 1986, p. 6). Para Leite e Negreiros (2014), há um número considerável 
de pesquisas que, a partir de corpora gravados e criteriosamente transcritos, tomam 
a conversação e o texto oral como objeto de análise. Esses autores citam, como o 
corpus mais relevante, o coletado pelos pesquisadores do projeto NURC, na década 
de 70 do século XX, em cinco capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, 
Recife e Porto Alegre). Assim, a AC no Brasil tomou dois rumos: 
O que partiu de pressupostos da AC etnometodológica, mas que deles se 
afastaram para estudar a oralidade, a fala, a escrita, a relação fala e escrita, 
e tudo o que concerne ao texto e é decorrente de situações discursivas de 
fala, em relação direta, ou não, com a escrita; ii) a que é mais fiel aos 
princípios teóricos e metodológicos da AC fundada por Garfinkel na década 
de 1960, com as extensões oferecidas pelas teorias interacionistas (LEITE; 
NEGREIROS, 2014, p. 117). 
Portanto, nas perspectivas teóricas e metodológicas que ensejam esses dois 
rumos, nascem duas vertentes que hoje configuram a AC no Brasil, que Leite e 
Negreiros (2014) denominam de Análise da Conversação Etnometodológica e Análise 
da Conversação Textual e Discursiva (FRAZÃO; LIMA, 2017). 
O foco da pesquisa brasileira nesse sentido está na interpretação da relação 
 
 
da linguagem com o mundo, estudada por meio da influência da linguagem no 
comportamentosocial. “Dessa forma, a Análise da Conversa examina como os 
enunciados e outros comportamentos de um participante afetam o outro, de acordo 
com sequências organizadas na fala” (LEITE; NEGREIROS, 2014, p. 125). 
5.2 Perspectiva da Análise da Conversação 
Marcusci (2006, p. 15) afirma que o propósito da AC é um processo 
conversacional centrado na prática diária humana. Para os autores, a conversação é 
considerada "a interação linguística central que se desenvolve ao longo do tempo 
quando dois ou mais interlocutores direcionam sua atenção visual e cognitiva para 
uma tarefa comum". 
Por esse motivo, o foco está na chamada fala natural e em fatores como 
entonação, paralinguísticos e contextuais, bem como na linguagem verbal. Suas cinco 
práticas que compõem sua organização são, portanto, os elementos característicos 
da conversa. Portanto, são cinco as práticas que compõem organização da 
conversação (MARCUSCI, 2006, p. 15): 
a. Interação entre pelo menos dois falantes; 
b. Ocorrência de pelo menos uma troca de falantes; 
c. Presença de uma sequência de ações coordenadas; 
d. Execução em uma identidade temporal; 
e. Envolvimento numa interação ‘centrada’. 
A citação de Koch (1992) destaca que os fenômenos da fala são organizados 
na ordem em que cada interlocutor intervém durante o ato de fala, o que pode sinalizar 
uma categorização das interações. Com base nessa perspectiva, a autora sugere a 
ocorrência de interações simétricas e assimétricas. 
Interações simétricas: Nesse tipo de interação, todos os sujeitos envolvidos têm o 
direito de falar e contribuir igualmente para a conversa. Não há uma hierarquia clara 
entre os participantes, e o poder de fala é distribuído de maneira mais equitativa. Isso 
pode levar a uma dinâmica de conversa mais igualitária, em que as vozes de todos 
são ouvidas e respeitadas. 
Interações assimétricas: Nessas interações, um dos sujeitos detém o poder da 
 
 
palavra e concede momentos de fala aos outros. Pode haver uma diferença de 
autoridade, posição social, conhecimento ou poder entre os participantes, resultando 
em uma dinâmica de conversa desigual. O participante que tem mais poder de fala 
pode dominar a conversa, interromper ou ignorar as contribuições dos outros, levando 
a uma assimetria na distribuição do tempo e do controle da fala. 
É importante observar que a categorização das interações em simétricas ou 
assimétricas pode variar dependendo do contexto cultural, social e situacional. Além 
disso, é fundamental promover a comunicação respeitosa e empática em todas as 
interações, independentemente do tipo, para garantir uma troca efetiva de ideias e 
opiniões. 
5.2 Sistemas de turnos de fala 
De acordo com Koch (1992), a conversação é organizada em turnos, são as 
intervenções de cada interlocutor durante o ato da fala. A forma como esses turnos 
são definidos pode indicar uma classificação das interações. A autora menciona a 
ocorrência de interações simétricas – em que todos os sujeitos têm direito à voz – e 
interações assimétricas – em que um dos sujeitos detém o poder da palavra e concede 
momentos de fala aos outros (MACIEL, 2023). 
Os turnos podem ser tomados por concessão ou aproveitando-se os espaços 
de transição, mas nem sempre a regra conversacional de "fale um de cada vez" é 
respeitada. Nesses casos, ocorre o que é chamado de assalto ao turno, em que os 
locutores falam ao mesmo tempo. A máxima é restabelecida quando um deles desiste 
da posse do turno (MACIEL, 2023). 
Em relação à estrutura da conversação em termos de organização tópica, Koch 
(1992) afirma que, durante uma interação, os parceiros têm sua atenção centrada em 
um ou vários assuntos. Esses assuntos são delimitáveis no texto conversacional. 
Essa análise destaca a importância dos turnos na conversação, a distinção 
entre interações simétricas e assimétricas, e a presença de tópicos delimitáveis na 
estrutura da conversa. O respeito pelos turnos e a atenção aos assuntos discutidos 
são elementos essenciais para uma comunicação efetiva. 
Na sua totalidade, as práticas comunicativas, e mesmos as conversações, a 
despeito de seu aparente descompromisso, são condutas ordenadas, que se 
 
 
desenvolvem segundo alguns esquemas preestabelecidos e obedecem a algumas 
regras de procedimento. 
Essas regras que regem as interações verbais são de naturezas muito 
variadas. Destacam-se nelas três importantes categorias que operam em níveis 
diferentes: 
1. Regras que permitem a gestão da alternância dos turnos de fala, ou seja, 
a construção dessas unidades formais que são os “turnos”. 
2. Regras que regem a organização estrutural da interação. 
3. Regras que intervêm no nível da relação interpessoal. 
5.3 Princípio da alternância 
Para haver diálogo, é necessário ter pelo menos dois interlocutores que falem 
alternadamente. A interação verbal é vista como uma sucessão de "turnos de fala", 
em que os participantes têm direitos e deveres. O falante de turno tem o direito de 
falar por um certo período, mas também tem o dever de ceder o turno em algum 
momento. O sucessor potencial tem o dever de ouvir o falante de turno e o direito de 
reivindicar o turno de fala após um determinado tempo. 
A atividade dialogal é fundamentada no princípio da alternância, em que os 
diferentes atores devem ocupar sucessivamente a função de locutor. Além disso, 
idealmente, uma conversa se caracteriza por (ORECCHIONI, 2006): 
• Equilíbrio na participação: Os participantes têm a oportunidade de falar e 
ouvir de forma equilibrada, evitando que uma pessoa monopolize a conversa 
ou que alguém seja excluído. 
• Respeito aos turnos: Os participantes respeitam os turnos de fala e 
aguardam sua vez para contribuir, evitando interrupções excessivas ou falar 
simultaneamente. 
• Escuta ativa: Os interlocutores estão engajados na conversa, ouvindo e 
compreendendo as contribuições dos outros participantes, demonstrando 
interesse e receptividade. 
Esses elementos são importantes para promover uma conversa saudável, em 
que todas as vozes são ouvidas e ocorre uma troca efetiva de ideias e opiniões entre 
 
 
os participantes. 
Elementos importantes para a organização da conversa 
• Equilíbrio relativo da duração dos turnos: É desejável que os turnos de 
fala sejam equilibrados em termos de duração. Isso significa que nenhum 
participante deve monopolizar a palavra por um período excessivamente 
longo, permitindo que os outros também tenham a oportunidade de se 
expressar. 
• Equilíbrio relativo da "focalização" do discurso: O discurso deve ser 
focado de forma relativa, alternando entre os participantes. É considerado 
negativo quando alguém monopoliza a conversa ou mantém um discurso 
excessivamente autocentrado, que se concentra exclusivamente em si. 
• Uma única pessoa fala por vez: Embora casos de sobreposição de fala 
possam ocorrer ocasionalmente em conversas espontâneas, eles não 
devem se repetir com muita frequência nem se prolongar por muito tempo. 
É necessário ocorrer uma negociação entre os falantes em competição para 
determinar quem permanecerá como falante de turno. 
Essa negociação pode ser explícita, através de enunciados 
metacomunicativos, ou implícita, em que um dos falantes abdica em favor do outro. 
Na conversação, quando há uma situação de sobreposição de fala ou 
competição pelo turno de fala, podem ocorrer negociações explícitas ou implícitas 
entre os participantes. Essas negociações têm o objetivo de resolver o conflito e 
determinar quem terá o direito de falar (ORECCHIONI, 2006). 
Aqui estão alguns exemplos das duas formas de negociação mencionadas 
(ORECCHIONI, 2006): 
• Negociação explícita: Nesse caso, os participantes recorrem a enunciados 
metacomunicativos para expressar a necessidade de tomar a palavra ou 
interromper o outro participante. Alguns exemplos de enunciados 
metacomunicativos são: "Deixe me falar, por favor", "Espere, eu ainda não 
acabei"

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