Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 POR QUE JEJUAR? Artigos de Mark Sisson Blog: http://www.marksdailyapple.com/ Tradução de Hilton Sousa Blog: http://www.paleodiario.com/ Compilação dos Artigos por Adenir Brito adenir.natural@gmail.com 2 Compilação de artigos escritos pelo Mark Sisson e traduzidos para o português pelo Hilton Souza e publicados em seu blog: http://www.paleodiario.com/ POR QUE JEJUAR? PARTE I – PERDA DE PESO JEJUM INTERMITENTE, MARK SISSON Artigo Traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui. Essa é uma série de artigos sobre jejum: 1 – Por que jejuar? Parte I – Perda de peso 2 – Por que jejuar? Parte II – Câncer 3 – Por que jejuar? Parte III – Longevidade 4 – Por que jejuar? Parte IV – Saúde cerebral 5 – Por que jejuar? Parte V – Exercício 6 – Por que jejuar? Parte VI – Escolhendo um método 7 – Por que jejuar? Parte VII – Perguntas e respostas 8 – Mulheres e Jejum Intermitente "Quando uma pessoa não tem nada para comer, jejuar é a coisa mais inteligente que ela pode fazer." – Herman Hesse, Siddartha. Eu gosto dessa frase. É fazer uma limonada (não-calórica) com os limões que a vida te dá, e de todos pensamentos transcendentais contidos no livro do Hesse, essa linha me chama atenção como uma maneira bacana, sem 3 nonsense, de tirar o melhor de uma situação ruim. Sem dúvidas sobre isso. Mas quão útil ela é, realmente, para os leitores de hoje? Muito poucos de nós jamais passaram por uma situação de "não ter o que comer". Ao contrário, a comida está sempre à mão, com pouco esforço necessário para obtê-la. Na prática, isso não é completamente verdade. Lixo processado e fast food estão sempre disponíveis, enquanto as coisas boas – carnes frescas e verduras, comida de verdade, você sabe – requerem preparo, cozimento, tempo, e lavar pratos. Mas o ponto principal continua valendo: nós raramente ficamos sem. Isso não significa que a citação é inútil. De fato, com poucas modificações, ela se torna um conselho extremamente efetivo para perda de peso. Veja a minha nova versão: "Quando uma pessoa tem muito o que comer, jejuar é a coisa mais inteligente que ela pode fazer". Mark sisson, Mark's Daily Apple. Se isso soa dura ou mesmo irreal, considere a história do escocês. Lá em 1965, um escocês obeso de 27 anos e 205kg foi ao Departamento de Medicina em Dundee, Escócia, com um problema. Ele precisava perder peso. 1/8 de tonelada, para ser exato. Os doutores sugeriram que deixar de comer por alguns dias talvez pudesse ajudar. Era apenas uma recomendação improvisada, mas nosso escocês (conhecido apenas como "AB") realmente a adotou. Ele permaneceu no hospital por vários dias, tomando apenas água e pílulas de vitaminas enquanto se submetia a observações para garantir que nada de errado acontecesse. Quando seu tempo de internação acabou, ele continuou o jejum em casa, retornandoao hospital apenas para monitoramento regular. Após 1 semana, ele tinha perdido 2.2kg e se sentia bem. Seus sinais vitais foram chegados, a pressão estava normal, e apesar de ele ter glicemia mais baixa que a maioria dos homens, ele não se sentiu particularmente incapacitado por ela. O experimento continuou... por 382 dias. Sim, AB jejuou por 382 dias, bebendo apenas água e tomando suplementos de vitaminas, potássio e sódio. No total, ele perdeu 124.2kg, alcançando seu peso-alvo de 81kg e mantendo a sua perda. Nos 5 anos de observação seguintes, AB ganhou de volta apenas 7.2kg, deixando-o em um território excelente, mas pouco populado (no mínimo 80% dos praticantes de dieta eventualmente recuperam todo o peso perdido). Outros médicos deram 4 atenção. Talvez fosse o fato de ser os aos 60, e todos os tipos de loucuras estarem acontecendo – rebeldia no ar, boa música sendo feita, uma guerra no Vietnã, Ken Kesey e seus Merry Pranksters cruzando os Estados Unidos em um colorido ônibus velho espalhando a palavra, Kevin Arnold e o jovem Marilyn Manson chegando à maioridade em Anytown, EUA – mas por qualquer razão que seja, colocar pacientes obesos em jejuns longos e curtos tornou-se uma prática relativamente comum. Mas poderia isso se aplicar à pessoa mediana que procura perder peso sem ter que se submeter à observação médica constante? Certamente. Estudo após estudo mostra que não importa como você chame o protocolo – jejum intermitente, jejum, jejum de dias alternados, restrição calórica diária alternada – ele funciona muito bem para perda de peso. Alguns poucos estudos recentes: Em pacientes não obesos, dias de jejum alternado aumentam a oxidação de gorduras e perda de peso Em pacientes obesos, dias de jejum alternados foi uma maneira efetiva de perder peso; a aderência dietária permaneceu alta. Em mulheres jovens com sobrepeso, dias de jejum alternado foram tão eficientes quanto restrição calórica em causar perda de peso, e a aderência ao primeiro método foi mais fácil que ao segundo. Então, sim: funciona! Mas jejuar funciona somente pela restrição calórica, ou ele faz algo de especial? Essa é a questão real. Não há dúvida de que jejuar cause perda de peso por restrição calórica. Obviamente, quando você não come nada, seu corpo se volta para as próprias reservas de energia – reservas que ocupam espaço e tem massa. O esgotamento dessas reservas reduz a massa e por conseguinte, o peso. Restrição calórica total e absoluta. Essa é a razão elementar e os estudos dos anos 60 demonstram isso. Para aprofundar um pouco mais, vamos ver como a perda de peso ocorre durante um jejum. Eu vou me ater somente à pesquisa envolvendo humanos (sinto muito, personal trainers de ratos). 5 A secreção do hormônio do crescimento (GH), um dos principais hormônios queimadores de gordura, aumenta durante um jejum. Num protocolo de jejum de cinco dias, homens experienciaram secreção aumentada de GH nos dias 1 e 5 (os únicos dois dias nos quais o GH foi medido). Um estudo posterior mostrou que durante sessões de jejum de 2 dias, a secreção de hormônio do crescimento aumentaram tanto em frequência quanto em intensidade, em homens. Eles experienciaram disparos de GH mais frequentes, e cada disparo secretava uma massa maior do hormônio. Um estudo mais recente mostrou que jejuns de 24h aumentavam o GH em 1300% em mulheres, e em quase 2000% em homens. Jejuar diminui o nível de insulina em jejum. A presença de insulina inibe a lipólise, a liberação de triglicerídeos armazenados (gordura corporal). Sem a lipólise liberando a gordura corporal, é bastante difícil usar essa mesma gordura como combustível. Durante um jejum, a insulina em jejum diminui e a lipólise aumenta. Esse aspecto inibidor de insulina do jejum é que literalmente permite o sucesso do jejum, porque sem a habilidade de acessar a gordura corporal armazenada e usá-la como energia, conseguir passar por um período de zero ingesta calórica é praticamente impossível. Jejuar aumenta a sensibilidade à insulina. Jejuns de 20h foram suficientes para melhorar a sensibilidade à insulina em homens. Jejuar aumenta as catecolaminas, tanto adrenalina (epinefrina) quanto noradrenalina (norepinefrina). Ambas catecolaminas aumentam o gasto de energia em repouso durante um jejum, e adivinhe onde o seu corpo em jejum encontra energia para gastar? Da gordura corporal. As catecolaminas ativam a lipase sensível a hormônios presente no tecido adiposo, acelerandoa liberação da dita gordura. Isso faz sentido intuitivamente, não é? Se você está com fome, na natureza, você precisa caçar (ou coletar, ou pescar, ou procurar comida de alguma maneira) e você precisa de energia para fazer isso. As catecolaminas ajudam a prover um pouco dessa energia enquanto queimam gordura no processo. Hummm, percebeu algo? Todos esses mecanismos lidam com queima de gordura especificamente. Enquanto pode haver algum esquisito por aí que está preocupado com a redução da densidade mineral óssea enquanto mantém tecido adiposo, eu apostaria que que o que a maioria das pessoas quer dizer com "perder peso" é "perder gordura". De tudo o que acabei de 6 listar, parece que jejuar queima gordura, ao invés de simplesmente peso. Mas e sobre o que a Sabedoria Convencional afirma, que jejuar aumenta a degradação muscular – talvez porque o seu corpo vai reconhecer a natureza letal de toda aquela gordura saturada entupidora de artérias e vai escolher consumir o músculo ao invés? Isso é verdade? Vamos à pesquisa: Em um estudo, sujeitos de peso normal comeram apenas 1x ao dia sem reduzir a ingesta calórica total. O peso não mudou, o que não é realmente surpreendente, mas a composição corporal mudou – e para melhor. A gordura corporal diminuiu e a massa magra aumentou (além de algumas outras mudanças benéficas) sem uma redução geral de calorias. Uma revisão recente da literatura relevante mostrou que enquanto jejuar e restrição calórica são "igualmente efetivos em diminuir o peso corporal e a massa de gordura", jejuar é "mais eficiente para a retenção da massa magra". A Sabedoria Convencional ataca novamente. Concluindo... Parece que jejuar "funciona" de diversas maneiras diferentes: 1. Diminui a ingesta calórica. Para perder peso, você precisa de um déficit calórico. Não há conflito aqui, pessoal. 2. Aumenta a oxidação de gorduras enquanto poupa a massa magra. Uma vez que o que queremos é perder gordura (ao invés de simplesmente "peso"), o fato de que jejuar aumenta hormônios que preferencialmente queimam gordura e diminui hormônios que inibem a queima de gordura é extremamente desejável. 3. Melhora a aderência. Na maioria dos estudos avaliados, os participantes acharam que jejuar é uma maneira extremamente tolerável de fazer dieta, especialmente quando comparado com restrição calórica severa. Mesmo AB, o escocês do jejum, reportou muito pouca dificuldade durante o seu jejum de 382 dias. Se jejuar é mais fácil para você do que tentar laboriosamente contar calorias, jejuar vai ser o método de perda de gordura mais efetivo. 7 Tudo levado em consideração, jejum é uma maneira efetiva de perder gordura corporal. Não é o único modo, e não é "obrigatório" para a abordagem primal, mas muitos na comunidade descobriram que é muito útil e a literatura os suporta. Se você está procurando acelerar a sua perda de gordura, jejuar pode ser o bilhete premiado. Para ter ideias, veja o meu artigo sobre vários métodos de jejum. Em postagens futura, vou me aprofundar em alguns dos outros benefícios de jejuar. Há uma tonelada deles, e novas pesquisas estão sendo divulgadas o tempo inteiro – então eu espero ter muito para discutir. 8 POR QUE JEJUAR? PARTE II – CÂNCER CÂNCER, JEJUM INTERMITENTE, MARK SISSON Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui. Essa é uma série de artigos sobre jejum: 1 – Por que jejuar? Parte I – Perda de peso 2 – Por que jejuar? Parte II – Câncer 3 – Por que jejuar? Parte III – Longevidade 4 – Por que jejuar? Parte IV – Saúde cerebral 5 – Por que jejuar? Parte V – Exercício 6 – Por que jejuar? Parte VI – Escolhendo um método 7 – Por que jejuar? Parte VII – Perguntas e respostas 8 – Mulheres e Jejum Intermitente "Cada um tem dentro de si um médico; nós precisamos apenas ajudá-lo em seu trabalho. A força de cura natural dentro de cada um de nós é a maior força de melhora. Nossa comida deve ser nosso remédio. Nosso remédio deve ser nossa comida. Mas comer quando se está doente é alimentar a sua doença" – Hipócrates e "Ao invés de tomar remédio, jejue por um dia" – Plutarco. Por milhares e milhares de anos (durante a maioria dos quais as pessoas com sobrepeso, e quem dirá as obesas, eram muito raras), o jejum terapêutico foi um protocolo comum para a cura de muitas doenças. De 9 famosos como Platão, Aristóteles e os supramencionados Hipócrates e Plutarco, a pacientes de câncer incapazes de comer durante a quimioterapia, a cães e gatos que repentinamente perdem o até então voraz apetite, parece que a resposta natural a – e talvez a terapia para – doenças seja parar de comer por algum tempo. Agora, "natural" nem sempre é bom. "Ser" não necessariamente implica "dever". Mas eu acho que a persistência desse fenômeno na natureza demanda que olhemos com um pouco mais de cuidado se há algo ligado a ele. De bebês colocando coisas que encontram no chão em suas bocas para introduzir novas bactérias em seus corpos, a fisiculturistas tendo compulsão por carne após uma sessão dura de malhação, para introduzir proteína em seus músculos famintos, a mulheres grávidas experimentando fortes aversões a comidas para minimizar a chance de introduzir toxinas ou venenos no feto, eu tenho a opinião geral de que há usualmente uma explicação fisiológica para a maioria das nossas compulsões e comportamentos estranhos. Eu não vejo razão pela qual uma falta de apetite repentina não teria uma explicação similar – especialmente uma que transcende espécies. E se "pular" refeições por m dia disparasse processos internos de cura, de alguma maneira? Isso é realmente tão incoerente? Você já sabe onde eu me posiciono sobre a importância das lições aprendidas da observação dos nossos companheiros animais, e acho que dessa vez não é diferente. Felizmente para nós, não estamos apenas especulando. A ciência moderna tem direcionado pesquisa para o fenômeno, particularmente relacionado ao câncer, que vale o custo. De acordo com Valter Longo, um pesquisador de câncer da USC, "células normais" entram em modo sobrevivência durante a fome. Elas demonstram "extrema resistência ao estresse", até que o período de "vacas magras" termine, mais ou menos como um animal em hibernação. Células de câncer, por outro lado, estão sempre "ligadas". O seu "objetivo" é crescer, reproduzir-se e consumir recursos. Para as células de câncer, não há modo sobrevivência que possa ser ativado. Se é esse o caso, jejuar deveria tanto aumentar nossa resistência ao câncer quanto a habilidade do nosso corpo de sobreviver a ele (e aos tratamentos usados contra ele, tais como quimioterapia). Apesar de testes em humanos serem raros (você não pode exatamente injetar pessoas com células de câncer e então tentar diferentes protocolos 10 terapêuticos), a pesquisa com animais é intrigante. Vamos dar uma olhada na literatura? Testes com animais Em um dos estudos mais antigos, 48 ratos foram divididos em dois grupos de 24. Um grupo comeu à vontade por uma semana, enquanto o outro passou por dias de jejum alternado. Após uma semana de vários protocolos dietários, ambos foram injetados com câncer de mama. Nove dias após a injeção, 16 dos 24 ratos que jejuavam permaneciam vivos, enquanto apenas 5 dos ratos que comiam à vontade estavam vivos. Dez dias após a injeção apenas 3 dos ratos que comiam à vontade viviam; 12 dos 24 ratos que jejuavam permaneceram vivos. Discrepância bem grande, concorda?Isso foi em 1988. Somente no final dos anos 90 mais pesquisas promissoras foram feitas. Foi quando Longo começou a estudar a sério da resistência celular ao estresse oxidativo durante o jejum. Percebendo que uma vez que a quimioterapia exerce seus efeitos sobre o câncer ao induzir estresse oxidativo (a todas as células, não apenas as cancerosas), e que o jejum dispara o modo sobrevivência nas células normais mas não nas de câncer, ele conduziu um estudo em ratos para determinar se jejuar protegia as células saudáveis e normais dos efeitos colaterais da quimioterapia enquanto deixava as células de câncer sensíveis ao tratamento. Ratos com tumores foram alimentados normalmente ou jejuaram por 48h antes de uma dose grande de quimioterapia. A metade dos ratos alimentados normalmente morreu pela toxicidade da quimioterapia, enquanto todos os ratos que jejuaram, sobreviveram. Além disso, o jejum não aumentou a taxa de sobrevivência das células cancerosas, implicando que ele protegeu apenas as células normais, saudáveis. A pesquisa continuou. Longo descobri que "estresse dependente de fome" protege as células normais, mas não as células de câncer, contra os efeitos da quimioterapia. Mesmo um regime de jejuns "modificados" em dias alternados, no qual os ratos recebiam 15% das suas calorias normais em dias de "jejum", reduziram a taxa de proliferação das células tumorais. Esse regime de "85% de jejum" foi ainda mais efetivo que os 100%. E mais recentemente, Longo e outros demonstraram que o jejum retardou tanto o crescimento dos tumores quanto sensibilizou as células cancerosas aos efeitos da quimioterapia – em uma grande gama de tipos de tumores. Mais 11 importante, eles concluíram que jejuar pode "potencialmente substituir ou melhorar" certos tratamentos de quimioterapia! Isso não vem de algum guru de dieta da moda falando sobre o conhecimento ancestral tradicional, pessoal. É um oncologista pesquisador. Testes em humanos Só houve um teste em humanos, que eu saiba: um estudo de caso de 2009 que produziu resultados promissores. Dez pacientes com câncer – quatro com câncer de mama, dois com câncer de próstata, e quatro outros cânceres de ovário, pulmão, útero e esôfago respectivamente – mantiveram jejum antes e depois da quimioterapia. As durações dos jejuns variaram de 48 a 140 horas antes, e de 5 a 56 horas após; todas foram efetivas em reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia. No primeiro caso, uma mulher de 51 anos com câncer de mama fez sua primeira bateria de quimioterapia durante um jejum de 140 horas. A não ser por boca seca, fadiga e soluços, ela se sentiu bem o suficiente para ir trabalhar e retomar suas atividades rotineiras. Nas duas sessões seguintes ela não manteve o jejum e ao invés comeu sua dieta normal, e os efeitos colaterais foram extremamente pronunciados – fadiga severa, diarreia, fraqueza, dor abdominal, náusea – e a impediram de retornar ao trabalho. Para a sua quarta sessão de quimioterapia, ela jejuou e novamente os efeitos colaterais foram minimizados. E não foram apenas os efeitos subjetivos que melhoraram com o jejum, mas também seus marcadores fisiológicos. Total de linfócitos, contagem absoluta de neutrófilos e contagem de plaquetas foram todos mais altos após os jejuns. Mais testes em humanos estão em procedimento, entretanto. Esperançosamente, eventualmente saberemos se a perda de apetite comumente descrita durante a quimioterapia é um defeito ou um mecanismo natural (eu pessoalmente me inclino para o segundo caso). Outros possíveis mecanismos protetores: Resistência à insulina melhorada. Como eu mostrei na semana passada no artigo sobre jejum e perda de peso, o jejum intermitente promove a sensibilidade à insulina e reduz a resistência à insulina. A resistência à insulina tem sido associada a diversos cânceres, incluindo próstata, mama, e 12 pâncreas. A síndrome metabólica, que o jejum parece ajudar a prevenir e reduzir, está associada ao câncer em geral. Autofagia. Enquanto a autofagia – o processo pelo qual as células "limpam o lixo celular" – tem uma relação complexa com o câncer, é geralmente um processo positivo que protege as células do estresse oxidativo excessivo. Já se demonstrou que jejuar induz “profunda” autofagia neuronal, bem como autofagia geral. Jejuar versus restrição calórica É verdade que a restrição calórica parece oferecer benefícios anticâncer, mas há algumas maneiras através das quais o jejum pode ser superior. 1. Jejuar (ataques agudos de restrição calórica) é mais fácil que redução calórica crônica para a maioria das pessoas. Como eu mencionei no artigo da semana passada, jejuar – para alguns – é simplesmente a maneira mais fácil, mais natural, e de menor esforço, para reduzir sua ingesta calórica. Isso pode gerar dividendos enormes no que diz respeito à perda de peso, e parece provável que isso ajude com o câncer também. Se jejuar é mais fácil que constantemente contar suas calorias, jejuar vai funcionar melhor. 2. Jejuar é mais efetivo no curto prazo. Enquanto os estudos envolvendo restrição calórica e câncer empregam escalas de tempo baseadas em semanas ou meses, estudos sobre câncer que envolvem jejum empregam horas e dias. Na maioria dos casos jejuar simplesmente parece requerer muito menos tempo para ser efetivo. É uma época excitante para pesquisa de câncer e jejum. Enquanto ele ainda é visto em muitos círculos como uma "alternativa", o jejum agora está sendo seriamente considerado como possível tratamento (tanto adjunto quanto primário) para vários cânceres, incluindo mama e próstata. Eu não posso esperar para ver o que vem por aí nos próximos anos. É claro, meu sentimento é de que jejuar é mais fácil e mais efetivo se você já fez a transição para uma maneira primal de comer. Em outras palavras, quando você já regulou aquele sistema de queima de gordura e diminuiu a dependência da glicose, muitas das outras questões que fazem o jejum menos atraente para "queimadores de açúcar" tendem a sumir: o cortisol se 13 equilibra, a proteína muscular é poupada, a fome reduz-se naturalmente e a energia é constante. O que isso significa para você – pessoa que teve ou tem câncer e quer se livrar dele, ou que não tem câncer e quer continuar desse jeito? Pesquisadores como Valter Longo não podem oficialmente recomendar jejum para pacientes de câncer, mas ele parece bem tolerado e basicamente seguro. Se você ou alguém que você conhece tem câncer, sugira jejuar como uma estratégia possível. Enquanto uma pessoa mantiver seu oncologista informado da situação e de qualquer pesquisa relevante sobre o assunto, ele pode se mostrar útil. E se você está atualmente livre do câncer, considere implementar jejuns ocasionais, só para garantir. Eu sei que pesquisas como as que mostrei, me convenceram que definitivamente vale a pena, e se há um lado ruim, ele é muito pequeno. 14 POR QUE JEJUAR? PARTE III – LONGEVIDADE JEJUM INTERMITENTE, MARK SISSON Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui. Essa é uma série de artigos sobre jejum: 1 – Por que jejuar? Parte I – Perda de peso 2 – Por que jejuar? Parte II – Câncer 3 – Por que jejuar? Parte III – Longevidade 4 – Por que jejuar? Parte IV – Saúde cerebral 5 – Por que jejuar? Parte V – Exercício 6 – Por que jejuar? Parte VI – Escolhendo um método 7 – Por que jejuar? Parte VII – Perguntas e respostas 8 – Mulheres e Jejum Intermitente Uma maneira provada pelo tempo e testada empesquisas de estender a vida de um animal é restringir sua ingesta calórica. Estudos repetidamente confirmam que se, digamos, um rato de laboratório normalmente ingere duas tigelas de ração por dia, limitar esse mesmo rato a uma tigela e meia por dia vai fazer com que ele viva mais que os ratos que comem duas tigelas. Bacana, bacana! Uma vida mais longa é legal e tal, mas e sobre os problemas da restrição calórica direta, além de intencionalmente diminuir a comida que você come, ignorar as dores da fome, relegar-se a sentir descontentamento com as refeições, e contar calorias e macronutrientes obsessivamente? Há outros? Claro: Perda de massa muscular: humanos que passam por restrição calórica geralmente sofrem perda de massa muscular magra e força, todos objetivamente bastante negativos (a menos que você realmente queira a 15 aparência do Christian Bale em "The Machinist” e use um exoesqueleto biônico super-forte para suas atividades físicas). Perda de densidade mineral óssea: humanos que restringem calorias, em estudos também mostram sinais de densidade mineral óssea mais baixa quando comparados a humanos que perdem peso através do exercício, particularmente no quadril e na espinha – as duas áreas mais suscetíveis a fraturas por queda. Eu escrevi sobre esse estudo algum tempo atrás. Ah, e há o fato de que o ato de restringir as calorias pode ser entorpecente para o pensamento, miserável e difícil para a maioria das pessoas, especialmente se é um algo para a vida inteira. (A menos, é claro, que você coma de acordo com o Primal Blueprint e esteja adaptado à gordura. Isso pode tornar a restrição calórica não apenas tolerável, mas também muito fácil porque nos tornamos tão bons em viver da gordura corporal armazenada. Nós não sofremos de baixas de glicemia quando pulamos refeições da mesma maneira que a maioria das pessoas que jejua sofrem, mas estou digredindo). É moleza. E sobre jejuar? Nos artigos anteriores dessa série, eu expliquei como o jejum pode às vezes ser descrito como um "atalho" para os benefícios da restrição calórica, um caminho mais fácil (e ainda mais eficiente) para o mesmo destino. Estudos sobre jejum/restrição calórica e câncer mostram que jejuar é mais efetivo em um intervalo menor de tempo (meros dias, ao invés de semanas ou meses). O mesmo vale para a longevidade? Jejuar também consegue expandir o período de vida sem nos deixar parecidos com um macaco cujas calorias fora restringidas? 1945 marca o primeiro estudo real dos efeitos do jejum intermitente na longevidade de animais. Começando no dia 42 de suas vidas, ratos foram jejuados 1 dia a cada 4, 1 dia a cada 3 ou dia-sim-dia-não. Todos os ratos que fizeram jejum, exceto pelas fêmeas que fizeram jejum 1 dia a cada 4, viveram mais que os ratos de controle numa escala normal. Apesar de as fêmeas viveram mais que os machos de maneira geral (como sempre), jejuar teve o seu maior efeito nos machos. Ratos machos se saíram melhor em jejuns dia-sim-dia-não; ratas se saíram melhor em jejuns a cada 2 dias. Ratos que jejuavam pesavam menos que os ratos de controle, então provavelmente comiam menos, mesmo nos dias em que a alimentação era liberada. 16 Em um estudo de 1982, ratos alimentados dia-sim-dia-não viveram 82% mais tempo que os ratos alimentados diariamente com comida à vontade. A ingesta calórica não é mencionada. Outro estudo de 1983 mostrou que ratos alimentados dia-sim-dia-não viviam mais e tinha pesos corporais menores que ratos alimentados diariamente e à vontade. Ratos que jejuavam eram menos ativos na juventude, mas mais ativos que os ratos de controle na idade adulta. O menor peso corporal dos ratos que jejuavam indica uma ingesta calórica reduzida. Em 2000, ratas que jejuavam por quatro dias consecutivos a cada duas semanas viveram por 64 semanas na média, enquanto ratas alimentadas normalmente viveram apenas 47 semanas. Interessantemente, os ratos que jejuavam eram mais pesados que os ratos que não jejuavam ao longo do experimento, que indica que as calorias não eram significantemente restritas. Ok, então parece que jejuar promove a longevidade, que pode ser mediada por uma redução em calorias. Dado que o jejuador não se entope de comida nos dias em que se alimenta o suficiente para compensar pelas calorias "perdidas", deveria ser efetivo. Em outras palavras, jejuar promove a longevidade em todos exceto os mais ardentes comedores. Eu não vejo isso como uma "pegadinha" ou um problema, porque jejuar quase invariavelmente produz restrição calórica. (Eu posso comer uma refeição bastante grande após um longo jejum, mas eu definitivamente nunca dobrei a minha ingesta para compensar o dia jejuado). Na verdade, jejuar torna a restrição calórica indolor e inadvertidamente é um aspecto bastante alardeado da prática; uma grande parte do motivo pelo qual é tão eficiente para pessoas que falharam com a restrição calórica tradicional. Então, como tudo isso funciona? É apenas a restrição calórica? Talvez. Um possível caminho pelo qual tanto o jejum quanto a restrição calórica aumentem a longevidade é via inibição dos alvos mamíferos da rapamicina, ou mTOR. O caminho do mTOR pode estar associado com o controle do processo de envelhecimento. É necessário para o crescimento celular, como o de células musculares (em estados mTOR estáveis) ou certas células cancerosas (em estados mTOR hiperativos), e é altamente sensível à disponibilidade de nutrientes e sinalização hormonal. Em ratos, a 17 ingestão de rapamicina – um potente inibidor de mTOR – aumenta a longevidade. Tanto o jejum quanto a redução de mensageiros hormonais (tais como insulina) também inibem a atividade de mTOR ao gerar picos de AMPK. De fato, na presença de insulina, mTOR aumenta. Sabemos de artigos anteriores que o jejum reduz a insulina em jejum. Em pessoas resistentes à insulina, a insulina é cronicamente elevada e o mTOR é hiperativo. Sabemos ainda que jejuar reduz a resistência à insulina e aumenta a sensibilidade à insulina, então normalizando ou inibindo a atividade mTOR excessiva. Esse tipo de inibição mTOR também funciona com restrição calórica, mas se a aderência é mais fácil, efeitos colaterais são menores, e os picos de AMPK são maiores com restrição calórica total (jejum) do que com restrição calórica total, qual é o método mais efetivo? Então, começa a parecer que os benefícios do jejum sobre a longevidade podem ser atribuídos ao grau de restrição calórica. Isso é, jejuar é restrição calórica total, enquanto a "restrição calórica" é apenas parcial. Quando você jejua, você vai com tudo. Você está sujeitando a si mesmo a um estressor agudo, ganhando os benefícios horméticos e então se recuperando do dito estressor ao comer normalmente após (até fazer de novo). Quando você restringe as calorias, passa por um estressor crônico. Dia sim, dia não, você está se preocupado com comida, restringindo energia e ingesta de nutrientes, e não há um período de recuperação real. Você está vivendo num estado parcialmente restrito, vagando de uma refeição insignificante para outra. Não há banquete. É como levantar coisas pesadas e fazer sprints algumas vezes por semana, versus correr 10km todo dia. Atividade aeróbica crônica versus exercício agudo de alta intensidade. E sobre a "amplitude da saúde"? O jejum consegue comprimir a morbidez – ele pode nos ajudar na nossa busca por viver muito e cair morto? Quer dizer, vamos encarar o fato: que é que quer ser um centenário frágil, falso magro, relegadoà cama, andador ou cadeira de rodas? Bem, sabemos que o jejum intermitente parece conservar mais massa magra que a restrição calórica. Em uma meta-análise recente, um grupo de pesquisadores diretamente comparou estudos sobre restrição calórica e estudos sobre jejum intermitente, e descobriu que enquanto ambos são bons para perder peso, "a restrição calórica intermitente pode ser mais efetiva para a retenção de massa magra". E no mínimo, eu sugeriria a você que ter maior sensibilidade à insulina, menos massa gorda, mais massa magra, 18 more lean mass, um caminho mTOR melhor regulado, perfil lipídico e controle de glicose melhores, e uma dieta menos restrita contam para uma "amplitude de saúde" melhor, uma vida mais agradável, e um risco reduzido de morrer das doenças da civilização. Ponto de partida: jejuar pode não funcionar por algum caminho metabólico mágico, separado da restrição calórica. Ele pode, mas isso não foi estabelecido. O que sabemos é que jejuar (seja inadvertidamente, por restrição calórica aumentada ou qualquer outro motivo) aumenta a expectativa de vida em mamíferos de laboratório e melhora vários marcadores de saúde associados com envelhecimento e longevidade tanto em animais quanto em humanos. Jejuar pode não te dar um ganho imediato de "vida + 25 anos", e ainda não houve nenhum estudo real sobre longevidade e jejum em humanos (se ao menos tivéssemos expectativas de vida parecida com a de ratos!), mas se te faz menos propenso à obesidade, diabetes, doença cardíaca ou câncer, você está menos propenso a morrer dessas coisas. Quanto menos coisas você tiver tentando te matar, mais você vai viver em geral. 19 POR QUE JEJUAR? PARTE IV – SAÚDE CEREBRAL JEJUM INTERMITENTE, MARK SISSON Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui. Essa é uma série de artigos sobre jejum: 1 – Por que jejuar? Parte I – Perda de peso 2 – Por que jejuar? Parte II – Câncer 3 – Por que jejuar? Parte III – Longevidade 4 – Por que jejuar? Parte IV – Saúde cerebral 5 – Por que jejuar? Parte V – Exercício 6 – Por que jejuar? Parte VI – Escolhendo um método 7 – Por que jejuar? Parte VII – Perguntas e respostas 8 – Mulheres e Jejum Intermitente Praticamente cada característica do corpo humano pode ser encontrada, de uma forma ou de outra, em outras espécies. Polegares opositores? Excelentes para construir coisas e usar ferramentas, mas os macacos os tem também. Mesmo o panda gigante tem um osso sesamóide opositor que funciona como um dedão. Bipedalismo? Nos ajuda a evitar luz solar direta e a carregar objetos enquanto nos movemos pelo ambiente (entre outros possíveis benefícios), mas há muitas outras criaturas que andam eretas, como pássaros e o Pé Grande. O pé humano? Ok, nossos pés são bastante exclusivos, mas todos os "pedes" tem pés (apenas tipos diferentes), e todos eles funcionam bem para circular por aí. Então, o que é que nos faz tão diferentes de outros animais (porque deve haver alguma coisa)? O que realmente nos separa do resto do reino animal é o cérebro humano. Outros animais têm cérebros grandes e complexos o suficiente para ajudá- 20 los a procurar comida, abrigo e água, enquanto processa e age baseado em dados sensoriais do ambiente ("evitar obstáculo" ou "isso tem cheiro de comida" ou "eu estou com sede, onde está a água?"), mas eles não compartilham a capacidade do cérebro humano de autorreflexão e pensamento simbólico. É a massa pensante feita de colinas gordurosas e vales gelatinosos que está no topo da nossa espinha que nos deu é dá a arte, literatura, arquitetura, agricultura, energia nuclear, sintaxe, filosofia, propaganda, sociedade, o laptop no qual estou digitando esse artigo, e o smartphone no qual você o lê. Resumindo, nossos cérebros nos fazem humanos. Sem ele, nós não seríamos nós. Eu não sei a seu respeito, mas eu gosto de ser humano. Gosto de contemplar minha própria existência, de ser entretido por horas por estranhas inscrições em páginas superpostas de polpa de madeira seca e comprimida, de jogar Ultimate Frisbee, e se eu vou continuar a apreciar tais coisas, preciso proteger o meu cérebro e mantê-lo saudável. E se quero desfrutar desse planeta e experienciar tudo o que ele pode oferecer até que eu caia morto, eu vou precisar de quanto funcionamento cerebral for possível (uma vez que, você sabe, o cérebro é que comanda a experiência de todas essas coisas) enquanto envelheço. Felizmente, jejuar parece oferecer 3 benefícios protetores e terapêuticos para o cérebro: Jejuar aumenta a autofagia neuronal Eu já citei esse estudo antes, mas vou fazê-lo novamente porque ele é central ao tema do artigo de hoje: “jejum de curto prazo induz autofagia neuronal profunda”. Autofagia, ou "comer a si mesmo" é o processo pelo qual as células reciclam material descartado, regulam para baixo processos cheios de desperdício e reparam a si mesmos. A saúde cerebral é altamente dependente da autofagia neuronal. Na prática, um estudo recente mostra que a remoção de um "gene essencial à autofagia" nos neurônios hipotalâmicos de fetos de ratos resultou em um desarranjo metabólico (mais gordura corporal, baixa tolerância à glicose) e prejudicou o desenvolvimento neuronal. Outro estudo mostra que o rompimento da autofagia neuronal induz neurodegeneração. Colocando de maneira simples, sem o processo de autofagia, os cérebros não se desenvolvem propriamente e nem funcionam do jeito que deveriam. Jejuar aumenta os níveis de Fator Neurotrófico Derivado do Encéfalo (BDNF) 21 BDNF é uma proteína que interage com os neurônios no hipocampo, córtex e prosencéfalo basal (as partes do cérebro que regulam a memória, aprendizagem e funções cognitivas de alto nível – coisas unicamente humanas). Ela ajuda os neurônios existentes a sobreviver enquanto acelera o crescimento de novos neurônios (neurogênese) e o desenvolvimento de sinapses (que são como linhas de comunicação entre neurônios). Baixos níveis de BDNF estão ligados à doença de Alzheimer, e suplementação de BDNF previne morte neuronal, perda de memória e deficiência cognitiva em modelos animais de Alzheimer. Jejuar aumenta a produção de corpos cetônicos Corpos cetônicos como o hidroxibutirato são famosos neuroprotetores, e jejuar geralmente induz a cetose. Autofagia aumentada e BDNF e corpos cetônicos vindos do jejum soa fabuloso, mas eles manifestam algum benefício real à saúde neurologic? Vamos ver o que a pesquisa diz: Nenhuma discussão sobre a pesquisa de jejum e saúde neurológica está completa (ou sequer pode ser iniciada) sem incluir Mark Mattson. Mattson, neurocientista chefe do Instituto Nacional do Envelhecimento, tem produzido artigo atrás de artigo sobre os efeitos neurológicos do jejum intermitente pela última dúzia de anos, e acumulou um corpo de conhecimento que sugere que o JI pode induzir a neurogênese e proteger contra danos cerebrais e doenças. Nas sessões a seguir, vou discutir a evidência – de Mattson e outros pesquisadores – dos benefícios de jejuar sobre a saúde neurológica em um espectro de condições. Derrame (AVC) O tipo de derrame mais comum é o isquêmico (compõe cerca de 88% de todos os AVCs) – eventos vasculares cerebrais nos quais um vaso sanguíneo que supre sangue ao cérebro é bloqueado por um coágulo. Sem sangue, o cérebro não consegue receber oxigênio ou nutrientes, e (geralmente permanente) dano cerebral pode ocorrer. Em um modelo animal do AVC isquêmico, jejuar regulou o BDNFe outras proteínas para cima, reduzindo a mortalidade e a inflamação, e aumentou a função e a saúde 22 cognitivas. Entretanto, vale notar que jejuar foi mais efetiva contra derrame em animais jovens, que desfrutaram um aumento de 4 vezes do BDNF neuroprotetor e neurogerador. Ratos de meia-idade experimentaram um aumento de 2 vezes no BDNF, enquanto ratos mais velhos não tiveram aumento. A função cognitiva pós-AVC teve uma relação similar com a idade e tipo de alimentação; ratos jovens e de meia-idade retiveram muito mais que ratos velhos e que ratos alimentados. Ratos em jejum apresentaram níveis menores de citocinas inflamatórias, mas esse efeito também foi modulado pela idade. Via de regra, o jejum aumentou as proteínas neuroprotetoras e diminuiu as citocinas inflamatórias em ratos jovens e de meia-idade, reduzindo então o dano cerebral causado pelo derrame. Trauma cerebral Pesquisa indica que jejuar também é efetivo contra traumas físicos no cérebro. Não é que jejuar de alguma maneira repila fisicamente o trauma gerando um campo de força mágico de corpos cetônicos; é que jejuar reduz o estresse oxidativo, a disfunção mitocondrial e o declínio cognitivo que normalmente resultam de trauma cerebral. Empregando uma dessas engenhocas, pesquisadores induziram um "impacto cortical controlado" em ratos em jejum e descobriram que um jejum de 24h (mas não um jejum de 48h) era neuroprotetor. Talvez o apetite reduzido que geralmente acompanha uma concussão seja um mecanismo protetor ao invés de simplesmente um efeito colateral irritante? Ferimento na coluna cervical Jejum dia-sim-dia-não foi neuroprotetor, seguindo um ferimento na coluna cervical de ratos. Apesar de trauma extenso, ratos em jejum melhoraram seu padrão de marcha, exploração vertical e função dos membros anteriores (todos altamente dependentes do funcionamento cerebral). Integridade neuronal foi preservada, volume da lesão cortical foi reduzido, e o brotamento de axônios corticoespinhais (fibras nervosas) aumentou. O mesmo time realizou um estudo similar em ratos sofrendo de dano na medula espinhal, mas teve resultados bem diferentes; jejum em dias alternados falhou em dar qualquer benefício funcional ou neuroprotetor aos ratos lesionados. Como podemos reconciliar essas conclusões aparentemente contraditórias? Bem, nos ratos que experimentaram neuroproteção, o jejum aumentou a produção de corpos cetônicos em 2 ou 3 vezes. Os ratos em jejum nunca entraram em cetose. Cetose foi a chave. 23 Doença de Alzheimer Em um modelo de Alzheimer em ratos, tanto o jejum intermitente quanto uma restrição calórica de 40% conferiram benefícios cognitivos e comportamentais quando comparados a ratos numa dieta de controle. JI e restrição calórica mostraram níveis mais altos de comportamento exploratório, e, quando colocados em um labirinto aquático de Morris, descobriram a plataforma de escape mais rápido que os ratos de controle. Entretanto, apenas os ratos em JI mostraram evidências de proteção contra patologia sináptica – uma marca registrada da doença. Doença de Huntington A doença de Huntington é caracterizada também pelo esgotamento dos níveis de BDNF. Em um modelo da doença em ratos, jejum intermitente normalizou os níveis de BDNF, enquanto a alimentação regular os manteve baixos. Ratos em jejum viveram mais e até mesmo experimentaram melhor tolerância à glicose do que ratos alimentados à vontade. Segundo consta, o jejum reduziu a progressão da doença de Huntington. Declínio cognitivo relacionado à idade Nós todos tivemos uma vovó que nos chamava pelo nome do nosso irmão, ou um vovô que esquecia desembrulhar a bala antes de colocá-la na boca – esses são os inocentes, simples, singulares, aparentemente inevitáveis declínios na cognição que acompanham o processo de envelhecimento. Bem, talvez eles não sejam inevitáveis. Apesar de a maioria das pesquisas se focar em trauma neurológico e doença, há evidência de que jejuar é bom para o declínio cognitivo básico relacionado à idade. Eu acho interessante que isso aconteceu com início tardio do jejum intermitente, significando que ratos mais velhos que começaram a jejuar apenas após exibirem sinais de declínio ainda colheram benefícios cognitivos. Contraste isso com o estudo sobre AVC no qual roedores velhos experienciaram quase nenhum benefício ao jejuar, e uma imagem surge: desde que não estejam tentando combater um evento debilitante, como AVC isquêmico ou trauma, cérebros mais velhos também podem esperar benefícios ao jejuar. Depressão? 24 Há muito tempo a depressão tem sido associada com níveis mais baixos de BDNF como prognóstico da doença, mas apenas recentemente pesquisadores estão avaliando a possibilidade de que BDNF baixo e depressão pode estar causalmente relacionados. E de fato – antidepressivos na prática aumentam a sinalização e a síntese de BDNF no hipocampo (a parte do cérebro na qual a depressão "acontece"). Poderia o jejum ajudar com a depressão ao regular BDNF para cima e promover a neurogênese? Talvez. Eu diria que vale a pena tentar, especialmente porque pular algumas refeições não exige prescrição. Obviamente, uma vez que esses estudos são na maioria feitos com roedores, e evidência dos efeitos neuroprotetores em humanos, revisada com rigor por pares, não existe ainda, estamos apenas especulando. Mas eu argumentaria que há especulações plausíveis que valem a pena ser perseguidos. Os mecanismos estão lá. Especulações sobre os outros efeitos de IF sobre a saúde – de saúde geral a câncer, longevidade e perda de peso – estão sendo confirmadas por pesquisas em humanos. Ambos os riscos e a barreira de entrada são baixos. E faz sentido à luz da nossa história evolucionária como caçadores-coletores. Em uma entrevista recente, Mattson até mesmo fala sobre os efeitos neuroprotetores de jejuar em termos evolucionários, notando que durante os tempos pré-agriculturais de escassez, as pessoas "cujos cérebros respondiam melhor – que lembravam- se onde fontes promissórias de comida poderiam ser encontradas ou como evitar predadores – teriam sido aqueles que conseguiam a comida" e viviam para passar seus genes adiante. Enquanto eu envelheço, o risco de meu cérebro unicamente humano estragar e sabotar meus desejos egoístas de permanecer lúcido e engajado com a vida até o fim, aumenta. Não é uma conclusão precipitada – eu conheço muitas pessoas de mente ágil e língua afiada, 30 anos mais velhos que eu – mas as chances aumentam. Uma vez que eu não quero que isso aconteça, e que jejum ocasional é uma empreitada praticamente livre de risco com benefícios provados em outras áreas, eu vou continuar pular umas poucas refeições de vez em quando. Não me fez mal ainda, pode ser um daqueles fatores que me permitirão viver muito e cair morto, e como sou adaptado a gordura, nem sequer é uma luta conseguir fazer. 25 POR QUE JEJUAR? PARTE V – EXERCÍCIO JEJUM INTERMITENTE, MARK SISSON, TREINO Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui. Essa é uma série de artigos sobre jejum: 1 – Por que jejuar? Parte I – Perda de peso 2 – Por que jejuar? Parte II – Câncer 3 – Por que jejuar? Parte III – Longevidade 4 – Por que jejuar? Parte IV – Saúde cerebral 5 – Por que jejuar? Parte V – Exercício 6 – Por que jejuar? Parte VI – Escolhendo um método 7 – Por que jejuar? Parte VII – Perguntas e respostas 8 – Mulheres e Jejum Intermitente Nos artigos anteriores, eu discuti o poderosoefeito do jejum na perda de peso, particularmente com respeito ao tecido adiposo. Eu expliquei como séries intermitentes de ausência de comida demonstradamente aumentam a resistência e a chance de sobrevivência ao câncer e melhoram a resposta do paciente à quimioterapia, e continuei com a evidência considerável que sugere que jejuar pode prover os mesmos benefícios prolongadores da vida que a restrição calórica, sem a dor de restringir as suas calorias o tempo inteiro. E na última semana, frisei como o jejum pode ter benefícios protetores e terapêuticos sobre o cérebro. Sendo assim, você pode estar pensando que eu só recomendo jejuns para os sedentários, os de idade e os enfermos. Certamente eu não iria longe o suficiente para recomendar aos ativos, atléticos e fortinhos que eles encarem 26 atividade física vigorosa sem ter comido uma refeição firme de antemão – certo? Quer dizer, nenhum bem pode vir de uma sessão de treino em jejum, como os bombadões de bíceps grandes da academia são ligeiros em recitar. Então, Sisson, qual é o negócio? Podemos nos exercitar em jejum e viver para contar a história? Sim. E pode haver até mesmo benefícios por fazer isso. Não há realmente uma quantidade enorme de literatura sobre o assunto por aí, com a maioria dos estudos voltada para muçulmanos durante o Ramadã e conseguindo, por vezes, resultados negativos. Eu estou receoso de usar os resultados negativos dos estudos do Ramadã para coloria nossa opinião sobre treinamento em jejum para a maior parte da população, por três razões principais: primeiro, o Ramadã restringe a ingesta de comida e água durante o dia, enquanto durar o jejum. Se você é sedentário, consegue provavelmente ficar sem beber água, mas se você é um atleta, ou mesmo alguém que brinca um pouco de levantar pesos, caminhar um pouco e talvez fazer alguns sprints, a sua performance e resultados vão sofrer sem hidratação adequada. E eu diria que uma ausência completa de água durante o dia qualifica-se como "hidratação inadequada", não é? Segundo, dado que comer e beber estão restritos às horas antes do amanhecer e após o pôr-do-sol, o Ramadã frequentemente significa privação de sono. Estudos mostram que se o início do sono começa mais tarde que o normal, a duração do sono é diminuída ao longo do mês, a sonolência durante o dia aumenta, e a performance geral das tarefas diárias diminui. Já estamos cientes da importância do sono para a saúde geral, mas sono inadequado também pode se traduzir em performance atlética ruim. Terceiro, os sujeitos nesses estudos provavelmente não estavam num plano de alimentação primal saudável. Provavelmente eles não estavam nem numa dieta convencional com saudáveis comidas integrais. Enquanto seria bacana crer que esses jejuadores do Ramadã estiveram se fartando de carneiro fresco, azeite de oliva extra virgem de alta qualidade, labneh extra denso de vacas alimentadas com pasto, shawarma sem pão e saladas de romã, provavelmente eles estavam comendo o mesmo lixo que todos no mundo industrializado comem. E como tais, eles provavelmente estavam mal equipados para mudar suave e facilmente para o metabolismo baseado em gordura requerido pelo jejum. É claro, eles mudaram a queima para a própria 27 gordura corporal por necessidade e simples falta de calorias, mas não foi a transição fácil que os comedores primais tipicamente desfrutam em instantes. Para os viciados em carboidratos, jejuar é mental, física e espiritualmente difícil. Para os adaptados à gordura, jejuar geralmente "apenas acontece". Como dizemos frequentemente por aqui, nós comemos WHEN (When Hunger Ensues Naturally – Quando a Fome Acontece Naturalmente). Para pessoas com acesso fácil ao botão de mudança para gordura, pular uma refeição (ou três) não arruína o dia e impede o exercício. Logo de cara, então, eu vou dizer isso: nem pense em jejuar e treinar se você não vai se hidratar, dormir e tornar-se adaptado à gordura. Agora que limpamos esses obstáculos do caminho, vamos dar uma olhada em alguns dos supostos benefícios de se exercitar em jejum, conforme listado na literatura: Sensibilidade à insulina melhorada Jejum intermitente melhora a sensibilidade à insulina, conforme mencionei anteriormente no artigo sobre jejum e perda de peso. Um estudo recente mostrou que esse efeito é aumentado quando combinado com exercício (nesse caso, quatro dias de exercício de resistência por semana). Ao final do estudo, os sujeitos que jejuaram tiveram menores pesos corporais (o único grupo a não ganhar peso), melhor tolerância à glicose e sensibilidade à insulina aumentada. Além disso, apenas os que treinaram em jejum aumentaram significativamente as adaptações musculares ao treino. Recuperação de exercício de resistência aumentada Três semanas de ciclismo de resistência após jejum noturno (com restrição calórica para começar) melhoraram a recuperação pós-malhação, mantiveram a massa magra, diminuíram a massa adiposa, e mantiveram performance. Infelizmente não houve grupo de controle nesse estudo, mas ele mostra que jejuar não machuca (e que pode ajudar). Outro estudo sugeriu que treinamento de resistência em jejum pode rapidamente reativar a translação de proteínas musculares que são negadas em atletas que comeram carboidratos antes do treino. 28 Recuperação de exercício de força aumentada Um estudo de 2009 mostrou que sujeitos que levantaram pesos em jejum desfrutaram de maior "resposta anabólica intramiocelular" durante a refeição pós-treino. Níveis da cinase P70S6 – um mecanismo de sinalização de síntese de proteína muscular que age como "indicador" de crescimento muscular – uma hora depois de um treino em jejum dobraram, quando comparados com uma hora após um treino alimentado (no mesmo grupo). Em outras palavras, jejuar aumentou (os indicadores de) crescimento muscular pós-treino. Para uma olhada mais aprofundada, veja os comentários do Martin Berkhan sobre o estudo. Note também a recomendação dele de 10g de BCAA ingeridos antes da malhação devem aumentar o efeito sem te "tirar do jejum". Repleção e retenção de glicogênio melhoradas O que acontece quando você treina em um estado de pouco glicogênio? Se você está habituado a correr com as reservas de glicogênio cheias, a sua performance pode sofrer um baque quando você tiver que mudar para um caminho energético mais oxidativo, baseado em gordura. Isso é compreensível. Outra coisa que pode acontecer é você aprender a fazer mais com menos glicogênio ao, bem, fazer com menos glicogênio. Isso é elementar, pessoal. Assim como seus músculos se adaptam a estressores impostos ficando mais fortes, o seu corpo se adapta ao treino com pouco glicogênio aprendendo como treinar em condições de pouco glicogênio, e então poupando o glicogênio para quando ele realmente for necessário e aumentando a performance quando o glicogênio estiver disponível. É a clássica ideia do "treine com pouco, corra com muito" que já discuti antes. É o princípio da "adaptação específica para a demanda imposta", só que nesse caso a "demanda imposta" é um ambiente com pouco glicogênio, pouca comida. Um estudo recente exemplifica esse fenômeno, ao colocar um grupo de ciclistas não-treinados, alimentados com carboidratos, contra um grupo de ciclistas não-treinados, que jejuaram à noite, e comparar o glicogênio muscular e o VO2 máximo de ambos os grupos. Quem venceu? O grupo em jejum melhorou seu VO2 máximo em quase 10% e seu glicogênio em quase29 54%, enquanto o grupo alimentado melhorou o VO2 máximo em apenas 2.5% e o glicogênio em escassos 2.9%. Lição? Não coma 1.5g de carboidratos baseados em cereais por kg de peso corporal antes de treinar, e definitivamente não tome um delicioso shake de maizena durante a sessão (a menos que você realmente goste de vitaminas de cereais e amido de milho). O que você percebe? Jejuar não dá superpoderes instantâneos a seus praticantes. Não é assim que funciona. Performance melhorada durante uma dada sessão não é realmente o ponto do treino em jejum. O ponto do treino em jejum, como eu vejo, é manter a performance enquanto aproveita-se os benefícios metabólicos, tais como recuperação mais rápida, reservas de glicogênio mais altas, melhor sensibilidade à insulina, e melhor resposta muscular ao exercício. O ponto é que treinar em jejum não vai te matar, não vai comer seus músculos, e pode até mesmo aumentar a adaptação ao exercício ao te forçar a treinar em um estado "menos ótimo", o que pode aumentar a performance mais adiante. O atleta olímpico não vai se dar bem competindo no evento principal de estômago vazio, mas ele pode se beneficiar de treinar ocasionalmente assim. A mente e a matéria importam O sucesso do seu treino, seja levantando coisas pesadas, correndo, fazendo sprints, remando, pedalando ou escalando, não é completamente dependente do seu estado físico. A quantidade de glicogênio nos seus músculos e fígado, a mobilidade dos seus tecido, o tamanho estrutural das suas células musculares, a distribuição dos tipos de fibras dentro dessas células, o VO2 máximo – todos esses importam e ajudam a decidir a quantidade de peso que você vai puxar, o tempo que você vai malhar, as milhas que será capaz de correr, e o número de barras que você vai completar, e o jejum obviamente vai ter um efeito nesses e em outros marcadores. Mas tão importante quanto é o seu foco, a sua abordagem pessoal ao treino em jejum. Eu gosto de uma longa caminhada pela manhã com talvez apenas um copo de café. Me dá exatamente o tipo de energia constante que quero sem impactar negativamente a minha performance (o que não importa realmente em uma caminhada agradável) ou a minha diversão (que importa). Entretanto, eu não gosto de jogar frisbee de estômago vazio. Eu consigo 30 fazê-lo, mas sinto que degrada a minha performance – e quando eu jogo frisbee, jogo para me divertir e vencer. No que diz respeito a levantar peso, eu às vezes pratico em jejum, mas sou um grande fã de jejuar após uma sessão de treinamento de força. Faço isso para aproveitar o aumento de hormônio de crescimento pós-malhação e porque não tenho tanta fome imediatamente após. Se empanturrar-se fosse requerido para ganhos otimizados após uma sessão, você acharia que estaríamos famintos após uma maromba pesada, mas não ficamos. Eu consigo fazer sprints de estômago vazio, mas chego ao limite mais rapidamente (provavelmente por causa do glicogênio esgotado). Não deixe que os resultados de um estudo (ou minhas palavras) te dissuadam de fazer algo que parece te ajudar. Se treinamento de resistência em jejum te faz bater recordes pessoais (ou ao menos sentindo-se como se você pudesse, se quisesse), continue praticando e descarte os estudos que sugerem "ISSO É IMPOSSÍVEL. OS SEUS MÚSCULOS ESVAZIADOS DE GLICOGÊNIO VÃO CERTAMENTE SE DISSOLVER NO ESPAÇO". Se treinamento de resistência em jejum te deixa letárgico, coma algo da próxima vez e descarte estudos que sugerem "A SUA SÍNTESE DE PROTEÍNA MUSCULAR E SENSIBILIDADE À INSULINA PÓS-TREINO VÃO SUBIR ATÉ O CÉU". No longo prazo, isso pode não importar. As pessoas têm ficado em grande forma comendo seis refeições por dia, ou apenas uma. O que quer que você faça, não caia presa da paralisia por excesso de análise, como fez um dos meus funcionários. Esse cara se embrenhou demais na literatura sobre jejum. Ele lia artigos do PubMed, buscava em fóruns de fisiculturismo por evidências anedóticas sobre treino em jejum e fazia múltiplos auto experimentos com a sua alimentação e treino. Ele ficou tão enamorado pela ideia de que malhar em jejum lhe daria efeitos metabólicos e performance superiores, que acabou ficando incapaz de malhar se comesse alguma coisa antes. E isso não era uma inabilidade física; era uma trava mental. Ele ficou congelado, preso e frequentemente incapaz de colher todos os maravilhosos benefícios sobre os quais gastou tanto tempo lendo, tudo porque se sentia culpado malhando se tivesse comido uns poucos pedaços de carne, alguns ovos e uma banana. Não seja esse cara. Ele viu a luz desde então e agora compreende que alguma coisa é melhor do que nada, que mesmo o treino "não-ótimo" ainda pode ser efetivo. Mas ele perdeu um monte de tempo chegando a essa conclusão, 31 porque ficou obcecado sobre estudos a respeito de pessoas que não eram ele, e que sugeriam algum (obscuro) benefício de malhar em jejum. Faça o que funciona para você, e se você acha que treino em jejum se qualifica, então encare. Mas não ache que é um requisito da vida primal. Enquanto eu absolutamente recomendo que as pessoas brinquem com ele, e que a maioria das pessoas ache que comer de forma primal torne mais fácil, treinar em jejum não é uma obrigação. 32 Por que jejuar? Parte VI – Escolhendo um método JEJUM INTERMITENTE, MARK SISSON Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui. Essa é uma série de artigos sobre jejum: 1 – Por que jejuar? Parte I – Perda de peso 2 – Por que jejuar? Parte II – Câncer 3 – Por que jejuar? Parte III – Longevidade 4 – Por que jejuar? Parte IV – Saúde cerebral 5 – Por que jejuar? Parte V – Exercício 6 – Por que jejuar? Parte VI – Escolhendo um método 7 – Por que jejuar? Parte VII – Perguntas e respostas 8 – Mulheres e Jejum Intermitente Assumindo que você está em dia com a série, você deveria estar se dizendo "Ei, talvez seja bacana tentar esse tal de jejum, e pode até me deixar mais saudável / me fazer viver mais / perder gordura, etc", o que é uma lista de benefícios suficientemente extensa, não acha? Eu poderia provavelmente prosseguir teorizando e especulando sobre todas as razões pelas quais você deveria considerar o jejum intermitente, mas eu prefiro partir para a implementação. Pensar sobre jejuar, ler sobre jejuar, e receitar os benefícios do jejum – é tudo sem sentido se você não sabe como vai praticar. Primeiramente, vamos tratar das diferentes variações de jejum. Eu vou dar uma passada rápida. Cada uma envolve não comer por um período de tempo – não surpreendentemente. 33 Algumas regras que se aplicam a todos os métodos descritos: 1. Horas de sono (dado que você não come enquanto sonâmbulo) contam como horas de jejum. 2. Coma bem. Enquanto alguns planos de jejum contam vantagem sobre a habilidade de seus seguidores de comer lixo e ainda perder peso, eu não estou interessado em jejum somente como método de emagrecimento. Ok, vamos às variantes. Leangains: O incrivelmente popular protocolo de jejum do Martin Berkhan é levemente mais complexo que os outros, mas ainda é muito simples: 1. Um jejum diário de 16h (Martin às vezes recomenda 14 para mulheres, que parecem se dar melhor com jejuns curtos), durante as quais você não come nada. Café, chá e outros fluidos não-calóricos, tudo bem; 2. Uma janela diária de 8h (ou 10h, para mulheres) para alimentação; 3. Três dias de treinos com peso, idealmente feitos no final do período de jejum. Para aumentar a performance e síntese deproteínas musculares, você tem a opção de consumir 10g de BCAA 10 minutos antes da malhação; 4. Sempre coma muita proteína; 5. Em dias de treino, coma mais carboidratos e menos gorduras; 6. Em dias de descanso, coma mais gordura, menos carboidratos e reduza levemente as calorias; 7. A maioria das pessoas começa o jejum após o jantar (digamos, às 21h), malha por volta do meio-dia, e quebra o jejum imediatamente após a malhação (por volta das 13h), mas você pode usar qualquer cronograma que preferir; 8. A sua refeição pós-malhação deve ter cerca de 50% das suas calorias diárias (uma festança de verdade). Quem deveria experimentar? Como é direcionada a pessoas interessadas em perder gordura e ganhar músculos e força, Leangains pressupõe que você vai levantar coisas 34 pesadas várias vezes por semana, geralmente em jejum. Entretanto, Leangains é mais indicado para pessoas que vão treinar regularmente. Na prática, é provavelmente o programa de JI mais meticulosamente projetado. Pessoas com horários fixos vão ter mais sucesso do que pessoas com horários erráticos. Uma grande parte do Leangains é o direcionamento hormonal induzido pelas horas de alimentação regulares. Uma vez que você entre na rotina, seus hormônios de fome vão se adaptar ao horário, e o jejum deve ficar mais fácil, ou mesmo sem esforço. Eat Stop Eat Idealizado por Brad Pilon, Eat Stop Eat é realmente básico: 1. Uma ou duas vezes por semana, não coma nada por 24h; 2. Comece o seu jejum pela manhã, no almoço ou no jantar. Não interessa, desde que você não coma por 24 horas; 3. Quebre seu jejum com uma "refeição de tamanho normal". Não tente recuperar as calorias perdidas se entupindo de comida; 4. Exercite-se regularmente. Quem deveria experimentar? Pessoas interessadas em jejuar pelos benefícios terapêuticos (proteção contra câncer, autofagia, longevidade, etc) provavelmente vão tirar muito proveito desse método, em oposição a pessoas interessadas nos benefícios da composição corporal. Ficar 24h sem comida é muito mais difícil que ficar 16h. Na minha experiência, habituar-se a menos carboidrato e mais gordura torna os jejuns longos mais fáceis, então eu diria que um praticante do método primal se daria melhor que a maioria. Dieta do Guerreiro (Warrior Diet) O plano do Ori Hofmekler é baseado no conceito de jejum-e-festança: 35 1. Coma uma refeição por dia, à noite, e faça com que ela seja grande. Uma festança de verdade. Você tem 3 ou 4 horas para comer até encher. Então é basicamente 20/4 horas; 2. Você pode ocasionalmente beliscar frutas cruas e vegetais de baixa caloria durante o dia, mas tente limitar a proteína o tanto quanto for possível, até a hora da festança; 3. Exercite-se durante o dia, em jejum. Quem deveria experimentar? Pessoas que tem problemas aderindo a jejuns estritos vão se dar melhor com a Warrior Diet, já que ela permite comer coisas leves durante o tempo que antecede a festança, mas eu me pergunto se você não vai estar perdendo alguns dos benefícios ao comer. Jejum em dias alternados Pesquisadores frequentemente usam esse método em estudos de laboratório: 1. Coma normalmente em um dia (última refeição digamos, às 21h da segunda-feira); 2. Não coma no dia seguinte; 3. Volte a comer no dia seguinte a esse (digamos, às 9h da quarta); 4. Isso se traduz em um jejum de 36h, embora haja espaço sobrando para ajustes. Você poderia comer às 22h da segunda e quebrar o jejum às 6h da quarta para um "mero" jejum de 32h. Quem deveria experimentar? Pessoas que não tem problemas em irem para a cama com fome. Com Leangains, Eat Stop Eat e a Dieta do Guerreiro, você sempre consegue ir dormir com a barriga cheia; com o jejum em dias alternados, você vai para a cama com o estômago vazio diversas vezes por semana. Pode ser difícil. Dito isso, os benefícios terapêuticos para condições sérias vão provavelmente ser realmente pronunciados com esse tipo de jejum. Para o praticante de primal, de 20 e poucos anos, que malha pesado e gosta de sair com os amigos? Provavelmente não é ideal. O praticante mais velho, 36 interessado em gerar alguma autofagia e talvez manter ao longe a neurodegeneração? Pode funcionar bem. E enquanto eu não sou capaz de indicar a um paciente de câncer que está sendo tratado com quimioterapia o que fazer, eu diria que os jejuns mais longos serão mais benéficos nesse sentido, também. Mas a minha maneira preferida de implementar o jejum? Coma WHEN ("When Hunger Ensues Naturally" – "Quando a Fome Naturalmente Chegar") Eu não vou listar tópicos aqui, porque não são necessários. Ao invés disso, vou te dar alguns cenários: Eu acordo cedo numa manhã de sábado. Está fazendo cerca de 18ºC, o sol está brilhando, meu cachorro está andando à minha volta com a correia na boca, e a trilha perto de casa está chamando meu nome. Já tomei uma xícara de café e para dizer a verdade nem estou com tanta fome assim, por causa do jantar. Quer saber? Eu vou para a trilha, pular o café da manhã, e construir um apetite de verdade para o almoço. Ou não, se eu tiver fome depois da caminhada, eu vou comer. É um jejum, mas não de verdade. Chego à academia, malho de leve, depois passo pela praia para alguns sprints na areia. Estou esgotado no final, e volto arrastado para o meu carro, mas não estou com fome. Mesmo quando chego em casa e cheiro o salmão grelhado, não tenho desejo por ele. Eu poderia comer mais tarde essa noite, mas só se meu apetite retornar. Estou jejuando pós-malhação só porque não me ocorreu comer, não porque estou seguindo um plano. Eu viajando a trabalho, preso em uma escala que virou atraso e depois virou pernoite. A única comida disponível é barrinha de cereal – quer dizer, uma saudável barrinha de granola (é sério que ainda fabricam isso?) do frigobar, uma pizza gordurosa na esquina em frente ao hotel, um delivery de comida chinesa perto da pizzaria, e um monte de restaurantes fast-food descendo a rua. Está tarde, eu estou cansado, e comi uma salada gigante antes de sair para o aeroporto... Quer saber? Eu vou pular a "refeição". Amanhã de manhã eu penso em alguma coisa no aeroporto (20 horas de jejum) ou na hora que aterrissar (24h de jejum). E eu vou estar ok de qualquer maneira. 37 Isso é "Quando a Fome Acontece Naturalmente". Essa é a maneira mais natural, mais sem esforço, de "jejuar", ao menos para mim – porque permite que uma pessoa coma intuitivamente. Apesar de que a maioria das pessoas vai eventualmente aclimatar-se a escalas de jejum mais regulares, e muitos podem até mesmo precisar e desenvolver-se nesse esquema, eu prefiro um padrão mais fractal, frouxo, aleatório, de "perder" (entre aspas porque eu não sinto como se estivesse perdendo nada, e esse é exatamente o ponto!) refeições. Eu não tenho dados sobre se é tão efetivo quanto ou mais efetivo do que os métodos mais populares, mas eu sei que eu frequentemente jejuo por 16h e como durante 8h, ou fico um dia inteiro sem comer, ou até mesmo (mas muito, muito raramente) me aproximo de 30 horas completas, e parece-me provável que esse padrão aleatório de alimentação caracterizava os "horários" alimentares dos nossos ancestrais. Resumindo, nós todos estamos fazendo a mesma coisa, buscando os mesmos objetivos. Pulamos refeições, reduzimos calorias, permanecemos ativos, e durante esse tempo não nos sentimos miseráveis ou restritos. Isso acontece porque somos queimadores de gordura eficientes, epara nós, buscar energia na nossa própria reserva de gordura corporal durante um jejum, é natural e imperceptível. Nós frequentemente nem percebemos isso. Não há esforço envolvido. Essa é a chave: ausência de estresse. Se qualquer um desses métodos de jejum te deixa estressado, irritável, degrada a sua performance, te faz sentir restringido, ou reduz a sua habilidade de aproveitar a vida, e esses sentimentos persistem pelos 5 primeiros jejuns que você tentar (nesse período, alguma dificuldade de adaptação é totalmente esperada), você não deveria usá-lo. Você deve deixar o jejum de molho por algum tempo e voltar a ele depois, ou nunca. Não é uma "obrigação" ou algo do tipo. É apenas uma ferramenta que você pode usar se a sua situação permitir. De fato, é a oportunidade perfeita para conduzir um experimento informal. Tente o Leangains por uma ou duas semanas, depois faça jejuns de 24h uma ou duas vezes por semana por um tempo, então teste o método WHEN. Compare e contraste. Como você se sentiu? Como foi a sua performance no trabalho, em casa e na malhação? Meça a cintura algumas vezes, ou analise o seu indicador favorito de composição corporal para ver como os diferentes métodos de jejum funcionaram – ou não – para você. 38 Por que jejuar? Parte VII – Perguntas e Respostas JEJUM INTERMITENTE, MARK SISSON Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui. Essa é uma série de artigos sobre jejum: 1 – Por que jejuar? Parte I – Perda de peso 2 – Por que jejuar? Parte II – Câncer 3 – Por que jejuar? Parte III – Longevidade 4 – Por que jejuar? Parte IV – Saúde cerebral 5 – Por que jejuar? Parte V – Exercício 6 – Por que jejuar? Parte VI – Escolhendo um método 7 – Por que jejuar? Parte VII – Perguntas e respostas 8 – Mulheres e Jejum Intermitente A essa altura, você já deve estar interessado nos benefícios que o jejum oferece. A essa altura, você provavelmente está ou intrigado pela prática, fortemente considerando adotá-la, ou satisfeito por descobrir que as suas velhas "puladas de café-da-manhã" não estão destruindo o seu metabolismo afinal de contas. Mas apesar de eu ter tentado cobrir quase tudo o que pude nos últimos 6 artigos dessa série sobre jejum, eu aparentemente não enderecei todos os ângulos, porque recebi uma saraivada de questões de leitores por e-mail e comentários buscando esclarecimentos, respostas e explicações. Eu não consigo responder todos, mas conseguir ajuntar uma seleção bastante representativa dos mais comuns e relevantes, e hoje vou prover respostas. Eu gostaria de fazer JI, mas tenho osteopenia e estou preocupado com a perda de massa óssea. Estou livre de glúten e laticínios há 3 anos, e 39 seguindo paleo há cerca de 3 meses. Jejum intermitente seria bom para mim? A sua hesitação é compreensível, pois restrição calórica já foi associada com perda óssea há muito tempo, provavelmente devido à redução dos níveis de IGF-1 em circulação. Uma vez que jejum intermitente não parece ter o mesmo efeito nos níveis de IGF-1, entretanto, eu imagino que é bastante seguro para a saúde óssea. Apenas garanta que você está ingerindo calorias suficientes quando comer (os roedores em JI do estudo não reduziram as calorias), levante algumas coisas pesadas de vez em quando, e acho que você vai ficar bem. Houve um estudo que mostrou que no útero, o JI tem um efeito negativo no desenvolvimento esqueletal do feto – mas você não está digitando essa questão de dentro do útero, certo? Se sim, incrível! O JI não vai induzir o corpo a degradar músculos para conseguir os aminoácidos necessários para a gliconeogênese? Deixe-me martelar esse ponto: uma vez que você se torne um animal queimador de gordura cetoadaptado, a maior parte da sua demanda energética vai ser retirada das gorduras armazenadas e corpos cetônicos, então você não precisará comer proteína para poupar os músculos. Se você estiver adaptado à gordura e às cetonas, jejuar (ao menos o jejum intermitente) poupa as proteínas. Se você PRECISAR de glicose para uma malhação pesada, um pouco dela virá do glicerol (dos triglicérides) e um pouco virá da gliconeogênese. Mas você não vai precisar de muito do tecido muscular, porque a sua demanda de glicose caiu, você sabe queimar gorduras e cetonas e, presumivelmente, não vai fazer uma sessão de 2 horas na academia. Como eu digo frequentemente, esse NÃO é o caso quando você é um queimador de gordura. Aí você provavelmente PRECISA de alguma proteína para atiçar o processo de gliconeogênese, e eu sugiro comer uma refeição rica em proteína antes de embarcar no seu jejum, de maneira que o seu corpo tenha aminoácidos dietários suficientes dos quais tirar para a gliconeogênese. É claro, isso não se aplica a todos vocês, leitores queimadores de gordura. Para vocês eu digo: não se preocupem com perda de massa muscular durante JI. 40 Intensidade da malhação? Eu deveria ser uma lesma durante o jejum, atividade normal (caminhadas ou pedaladas longas e lentas) ou malhação pesada? Sessões intensas geralmente me deixam faminto logo depois. Longas caminhadas são excelentes durante o jejum. Meu passatempo favorito é uma caminhada pela manhã, de estômago vazio. Eu tipicamente jejum por algumas horas após o meu treinamento de resistência, para maximizar o hormônio do crescimento, mas ultimamente eu tenho feito exercícios com peso do corpo, (às vezes suplementado com uma roupa com pesos embutidos). A maioria das fontes diz para terminar o seu jejum com uma sessão de malhação e comer depois. Se sessões pesadas te deixam com fome, deixe-as para o final do jejum. Dessa forma, você pode aproveitar os benefícios do jejum longo, e os benefícios de uma festança depois. É uma situação ganha-ganha. Acima de tudo, eu me manteria o mais ativo possível durante o jejum. Ficar sentado como uma lesma apenas vai te fazer ficar pensando em comida, e na falta dela no seu corpo. Não faça isso a menos que queira ficar obcecado sobre o que você não está comendo. Ande, pedale, faça alguma coisa, arrume a casa, leia. Apenas mantenha corpo e mente ativos. Eu estou num plano estrito de medicamentos e refeições. Estou adotando o estilo primal, mas preciso deixar espaço para esses produtos. É claro que me refiro aos itens do menu que posso, ainda mais que preciso apenas de algumas garfadas. O problema vem de ter que atestar a qualidade dos outros itens, tais como molhos que um empregado faz, para checar a consistência. Em cada um deles, eu posso ter que provar apenas uma colher de chá ou duas no máximo, para corrigir o tempero – mas quando você tem 10 itens para testar, fica complicado. Como você faria para controlar algo assim? Você faria das horas de trabalho um jejum ou algo parecido, para compensar pelas provas? Como um chef se encaixa no protocolo primal? 41 Parece um grande trabalho para mim! Pessoalmente, eu não me preocuparia muito com jejuar, especialmente se você está começando num novo emprego e aclimatando-se aos novos horários. Além disso você tem uma família, que pode adicionar ainda mais estresse. Jejum intermitente pode acrescentar mais um estressor no seu horário já cheio – tenha isso em mente. Se você está decidido a fazer, entretanto, há duas maneiras que pode usar para incorporar o jejum ao seu horário, da maneira que vejo. Primeira opção: não se preocupe com as provas. Você está comendo apenas 1 colher de chá por vez (e você provavelmente pode cortar para meia colher, estou certo?),
Compartilhar