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104 Andre Luiz Santa Cruz Ramos Resumo Direito Empresarial para as Carreiras de Técnico, Analista e Auditor da Receita Federal do Brasil Ano 2010

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A ndré L uiz Santa C ruz R am os
Procurador Federai.
Bacharel e Mestre em Direito pela UFPE.
MBA em Direito da Economia e da Empresa pela FGV. 
Professor de Direito Empresarial do IESB, em Brasília, 
e de diversos cursos preparatórios em Recife-PE.
aiscramos@hotmaif.com
RESUMO DE DIREITO 
EMPRESARIAL PARA CARREIRAS 
DE AUDITOR, ANALISTA E TÉCNICO
Análise de todos os pontos do programa constante do edital de AFRF
2010
EDITORAuPODIVM
EDITORA
jusPODIVM
www.edttorajuspodivm.com.br
Capa: Carlos Rio Branco Batalha 
Diagramação: Caetê Coelho 
caetel984@gmail.com
Conselho Editorial
Antônio Gidi José Marcelo Vigliar
Dirley da Cunha Jr. Nestor Távora
Leonardo de Medeiros Garcia Pablo Stolze Gagliano
Fredie Didier Jr. Robério Nunes Filho
Gamil Fõppel El Hireche Roberval Rocha Ferreira Filho
José Henrique Mouta Rodolfo Pamplona Filho
Rodrigo Reis Mazzei
Rogério Sanches Cunha
Todos os direitos reservados às Edições /wsPODIVM.
Copyright: Edições /wdPODIVM
É terminantemente proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer 
meio ou processo, sem a expressa autorização do autor e da Edições JusH?ODIVM. 
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação em vigor, 
sem prejuízo das sanções civis cabíveis.
EDITORA
JusPODIVM
Rua Mato Grosso, n° 175 - Pituba, 
CEP: 41830-151 ~ Salvador - Bahia 
Tel: (71) 3363-8617 / Fax: (71) 3363-5050 
E-mail: livros@editorajuspodivm.com.br 
Site: www.editorajuspodivm.com.br
SUMÁRIO
Capítulo I
D IR E IT O D E E M P R E SA .......................................................... 9
1. Empresa....................................................................................... 9
2. Empresário................................................................................... 14
2.1. A situação excepcional de alguns agentes econômicos.... 18
2.1.1. Os profissionais intelectuais................................. 18
2.1.2. O exercente de atividade rural.............................. 19
2.1.3. As cooperativas...................................................... 21
2.1.4. As sociedades por ações......................................... 21
2.2. Requisitos para o registro dos empresários..................... 22
3. Estabelecimento empresarial...................................................... 27
3.1. O contrato de trespasse..................................................... 30
4. Escrituração.................................................................................. 35
4.1. Sigilo empresarial.............................................................. 37
4.2. A eficácia probatória dos livros empresariais.................. 39
5. Prepostos...................................................................................... 40
5.1. O contabilista..................................................................... 42
5.2. O gerente............................................................................ 43
y fCapítuloII
^IIC R O E M P R E SA E E M P R E SA D E P E aU E N O P O R T E
f 1. Do pequeno empresário (MEI - microempresário individual) 52
2. Da simplificação dos procedimentos para abertura
e fechamento das M E’s e E P P s ................................................ 54
3. Das regras especiais de participação em licitações................... 59
4. Das regras especiais quanto às obrigações trabalhistas e previdenci-
árias............................................................................................... 66
5. Das regras especiais de apoio creditício.............. 70
6. Das regras especiais de apoio ao associativismo. 73
7. Das regras especiais de apoio ao desenvolvimento empresarial 74
8. Das regras empresariais gerais
de tratamento diferenciado para as M E’s e E P P s ................... 75
5
A n d r é L u i z S a n t a C r u z R a m o s
9. Do regime tributário e fiscal: o Simples Nacional................... 79
Capítulo III
T ÍT U L O S D E C R É D IT O ........................................................... 83
1. Nota promissória................................*........ ................................ 83
2. Cheque......................................................................................... 87
3. Duplicata................................................................... .................. 97
Capítulo IV
D IR E IT O S O C IE T Á R IO ........................................................... 105
1. Conceito de sociedade. Sociedade simples................................. 105
1.1. Tipos de sociedade (sociedades personificadas)............. 106
1.2. Sociedade entre cônjuges.................................................. 107
2. Sociedades não~personificadas............. ............ ......................... 108
2.1. Sociedade em comum........................................................ 109
2.2, Sociedade em conta de participação............. .................. 113
3. Sociedades personificadas........................................................... 115
4. Sociedade limitada.............................................................. ........ 117
4.1. Responsabilidade dos sócios............................................. 123
4.2. O quadro societário e sua alteração................................ . 125
4.3. Deliberações sociais............... ........................................... 128
4.4. Administração da sociedade limitada.............................. 131
4.5. Conselho fiscal................................................................... 135
4.6. Exclusão de sócio por justa causa.................................... 136
5. Sociedade anônima...................................................................... 138
5.1. Classificação das sociedades anônimas........................... 141
5.2. Constituição da sociedade anônima................................ 144
5.3. O capital social da sociedade anônima............................ 146
5.4. Ações.......................... .......................... ............................. 148
5.5. Outros valores mobiliários................................. ............... 157
5.6. Órgãos societários............................................................. 161
5.6.1. Responsabilidade da S/A
pelos atos dos seus administradores......... ............ 176
5.7. Demonstrações contábeis....................... .......................... 180
6. Sociedade em comandita por ações.......................................... 182
7. Operações societárias................................................................... 184
7.1. Transformação................................................................... 184
6
S u m á r io
7.2. Incorporação...................................................................... 186
7.3. Fusão................................................................................... 186
7.4. C isão................................................................................... 186
8. Dissolução, liquidação e extinção das sociedades..................... 187
8.1. Dissolução, liquidação
e extinção das sociedades contratuais.......................... . 188
8.2. Dissolução, liquidação
e extinção das sociedades por ações................................. 192
Capítulo V
D IR E IT O FA LIM EN T A R ......................................................... 199
1. Falência........................................................................................ 199
1.1. Conceito, natureza jurídica e pressupostos da falência.... 200
1.2. Pedido de falência (fase pré-falimentar)......................... 201
1.3. Processo falimentar............................................................ 220
1.4. Efeitos da falência............................................................. 225
1.5. Habilitação dos créditos...................................................237
1.6. Pedidos de restituição........................................................ 240
1.7. Realização do ativo............................................................ 244
1.8. Pagamento dos credores................................... ................ 251
1.9. Encerramento da falência.................................................. 256
2. Recuperação judicial................................................................... 259
2.1. Recuperação judicial especial
das microempresas e empresas de pequeno porte........... 282
3. Recuperação extrajudicial.......................................................... 285
4. Problemas de direito intertemporal.......................................... 292
7
C a p ít u lo I
DIREITO DE EMPRESA
SUMARIO • 1. Empresa —2. Empresário: 2.1. A situação excepcionai de alguns agentes 
econômicos: 2.1.1. Os profissionais intelectuais;2.1.2.0 exercente de atividade mral;2.1.3. 
As cooperativas; 2.1.4. As sociedades por ações; 2.2. Requisitos para o registro dos empre­
sários (Redação dada pela Emenda Constitucional n° 36, de 2002) ~ 3. Estabelecimento 
empresarial: 3.1.0 contrato de trespasse — 4. Escrituração: 4.1. Sigilo empresarial; 4.2. A 
eficácia probatória dos livros empresariais—S.Prepostos: 5.1.0 contabilista; 5.2.0 gerente
1. EMPRESA
O direito comercial, como ramo autônomo do Direito, surgiu na 
Idade Média, mais precisamente no período histórico conhecido como 
Renascimento Mercantil. Antes disso, a despeito de existirem regras 
comerciais específicas, elas faziam parte do direito comum, ou seja, do 
direito civil, não se podendo afirmar a existência do direito comercial, 
como regime jurídico específico destinado a regular as atividades mer­
cantis.
No período de surgimento do direito comercial — decadência do 
regime feudal ~ não havia ainda um poder político central forte, capaz 
de impor regras gerais e aplicá-las a todos. O poder político era alta­
mente descentralizado. Surgem nesse cenário as Corporações de Ofício, 
que logo assumiram relevante papel na sociedade da época, conseguindo 
obter, inclusive, uma certa autonomia em relação à nobreza feudal. Foi 
no seio das Corporações que nasceu o direito comercial.
Nessa primeira fase do direito comercial, pois, ele compreende os 
usos e costumes mercantis observados na disciplina das relações jurídi- 
co-comerciais. E na elaboração desse “direito” não havia ainda nenhuma 
participação “estatal”. Cada Corporação tinha seus próprios usos e cos­
tumes, e os aplicava, através de cônsules eleitos pelos próprios associados, 
para reger as relações entre os seus membros.
9
A n d r é L u i z S a n t a C r u z R a m o s
Posteriormente, com a proliferação da atividade mercantil, o di­
reito comercial também evolui. No fim do período medieval, surgem 
no cenário geopolítico mundial os grandes Estados Nacionais monár­
quicos. Estes Estados, representados na figura do monarca absoluto, 
vão submeter aos seus súditos, incluindo a classe dos comerciantes, um 
direito posto, em contraposição ao direito comercial de outrora, cen­
trado na autodisciplina das relações comerciais por parte dos próprios 
mercadores, através das corporações de ofício e seus juízos consulares. 
Assim é que, em 1804 e 1808, respectivamente, são editados, na Fran­
ça, o Código Civil e o Código Comercial. O direito comercial inaugu­
ra, então, sua segunda fase. Pode-se falar agora em um sistema jurídico 
estatal destinado a disciplinar as relações jurídico-comerciais. Desa­
parece o direito comercial como direito profissional e corporativista.
A codificação napoleônica divide claramente o direito privado: de 
um lado, o direito civil; de outro, o direito comercial. O Código Civil 
napoleônico era, fundamentalmente, um corpo de leis que atendia os 
interesses da burguesia fundiária, pois estava centrado no direito de 
propriedade. Já o Código Comercial encarnava o espírito da burguesia 
comercial e industrial, valorizando a riqueza mobiliária.
A divisão do direito privado, com dois grandes corpos de leis a 
reger as relações jurídicas entre particulares, cria a necessidade de es­
tabelecimento de um critério que delimitasse a incidência de cada um 
destes ramos da árvore jurídica às diversas relações ocorridas no dia-a- 
dia dos cidadãos. Mais precisamente, era preciso criar um critério que 
delimitasse o âmbito de incidência do direito comercial, já que este 
surgiu como um regime jurídico especial destinado a regular as ativida­
des mercantis. Para tanto, a doutrina francesa criou a teoria dos atos de 
comércio, que tinha como uma de suas funções essenciais a de atribuir, 
a quem praticasse os denominados atos de comércio, a qualidade de 
comerciante, o que era pressuposto para a aplicação das normas do 
Código Comerciai
A definição dos atos de comércio era tarefa atribuída ao legislador, 
o qual optava ou por descrever as suas características básicas ou por 
enumerar, num rol de condutas típicas, que atos seriam considerados 
de mercancia - como fez o nosso legislador.
10
D i r e i t o d e e m p r e s a
Não é difícil imaginar, todavia, as deficiências do sistema francês. 
Afinal, ele se resume ao estabelecimento de uma relação de atividades 
econômicas, sem que haja entre elas nenhum elemento interno de liga­
ção, gerando indefinições no tocante à natureza mercantil de algumas 
delas. Ademais, outras atividades econômicas, tão importantes quanto 
a mercancia, não se encontravam na enumeração legal dos atos de co­
mércio. Algumas delas porque se desenvolveram posteriormente (ex.: 
prestação de serviços), e outras por razões históricas.
Não obstante tais críticas, a teoria francesa dos atos de comércio, 
por inspiração da codificação napoleônica, foi adotada por quase todas 
as codificações oitocentistas, inclusive a do Brasil (Ccom/1850).
Todavia, a noção do direito comercial fundada exclusiva ou prepon­
derantemente na figura dos atos de comércio, com o passar do tempo, 
mostrou-se uma noção totalmente ultrapassada, já que a efervescência 
do mercado, sobretudo após a Revolução Industrial, acarretou o sur­
gimento de diversas outras atividades econômicas relevantes, e muitas 
delas não estavam compreendidas no conceito de “ato de comércio” ou 
de “mercancia”.
Em 1942, a Itália edita um novo Código Civil, trazendo enfim um 
novo sistema delimitador da incidência do regime jurídico comercial: 
a teoria da empresa. Além disso, o Código Civil italiano promove uma 
unificação form al do direito privado, disciplinando as relações civis e 
comerciais num único diploma legislativo. O direito comercial entra, 
enfim, na terceira fase de sua etapa evolutiva, superando o conceito de 
mercantilidade e adotando, como veremos, o critério da empresanalidaáe 
como forma de delimitar o âmbito de incidência da legislação comercial. 
A noção de ato de comércio é substituída pela noção de empresa.
Note-se que, como fizemos questão de destacar acima, a unificação 
provocada no direito privado pela codificação italiana foi meramente 
formal, uma vez que o direito comercial, a despeito de não possuir mais 
um diploma legislativo próprio, conservou sua autonomia didático- 
científica.
O mais importante, todavia, com a edição do Código civil italiano 
e a formulação da teoria da empresa, é que o direito comercial deixa de
11
A n d r é L u i z S a n t a C r u z R a m o s
ser, como tradicionalmente o foi, um direito do comerciante (período 
subjetivo das corporações de ofício) ou dos atos de comércio (período 
objetivo da codificação napoleônica), para ser o direito da empresa.
Para a teoria da empresa, o direito comercial não se limita a regular 
apenas as relações jurídicas em que ocorra a prática de um determi­
nado ato definido em lei como ato de comércio (mercancia). A teoria 
da empresa faz com que o direito comercial não se ocupe apenas comalguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma atividade 
econômica: a forma empresarial. Fica superada, portanto, a dificuldade, 
existente na teoria francesa dos atos de comércio, de enquadrar certas 
atividades na disciplina jurídico-comercíal, como a prestação de servi­
ços, as atividades ligadas à terra e a negociação imobiliária. Para a teoria 
da empresa, qualquer atividade econômica, desde que exercida profissio­
nalmente e destinada a produzir ou fazer circular bens ou serviços, é con­
siderada empresarial e pode submeter-se ao regime jurídico comercial.
No Brasil, o Código Comercial de 1850, assim como a grande 
maioria dos códigos editados nos anos 1800, adotou a teoria france­
sa dos atos de comércio, por influência da codificação napoleônica. O 
CCom/1850 definiu o comerciante como aquele que exercia a mercancia 
de forma habitual, como sua profissão.
Embora o próprio código não tenha dito o que considerava mer­
cancia (atos de comércio), o legislador logo cuidou de fazê-lo, no Re­
gulamento n° 737, também de 1850. Prestação de serviços, negociação 
imobiliária e atividades rurais foram esquecidas, o que corrobora a crí­
tica já feita ao sistema francês. Segundo o referido diploma legislativo, 
considerava-se mercancia “§1° a compra e venda ou troca de efeitos móveis 
ou semoventes para os vender por grosso ou a retalho, na mesma espécie ou 
manufaturados, ou para alugar o seu uso; §2° as operações de câmbio, banco e 
corretagem; §3° as empresas de fábricas; de comissões; de depósito; de expedi­
ção, consignação, e transporte de mercadorias; de espetáculos públicos; §4° os 
seguros, fretamentos, riscos e quaisquer contratos relativos ao comércio marí­
timo; §5° a armação e expedição de navios
Em 1875, o Regulamento n° 737 foi revogado, mas o seu rol enu- 
merativo dos atos de comércio continuou sendo levado em conta, tanto
12
D i r e i t o d e e m p r e s a
pela doutrina quanto pela jurisprudência, para a definição das relações 
jurídicas que mereceriam disciplina jurídico-comercial.
A adoção da teoria francesa dos atos de comércio pelo direito co­
mercial brasileiro fez com que ele merecesse as mesmas críticas já apon­
tadas acima. Com efeito, não se conseguia justificar a não-incidência das 
normas do regime jurídico comercial a algumas atividades tipicamente 
econômicas e de suma importância para a atividade negociai, como a 
prestação de serviços, a negociação imobiliária e a pecuária.
Diante disso, e da divulgação das idéias da teoria da empresa, após 
a edição do Codice Civile de 1942, pode-se perceber uma nítida aproxi­
mação do direito brasileiro ao sistema italiano. A doutrina, na década 
de 60, já começa a apontar com maior ênfase as vicissitudes da teoria 
dos atos de comércio e a destacar as benesses da teoria da empresa. Por 
outro lado, a jurisprudência pátria também já demonstrava sua insatis­
fação com a teoria dos atos de comércio e sua simpatia com a teoria da 
empresa. Nesse sentido, além dos exemplos já destacados acima, po­
dem ser citados diversos julgados do Superior Tribunal de Justiça que, 
desconsiderando as ultrapassadas normas do CCom, já reconheciam a 
mercantilidade da negociação imobiliária e da atividade de prestação 
de serviços.
A Lei n° 10.406/02, que instituiu o novo Código Civil em nosso 
ordenamento jurídico, completou a tão esperada transição do direito co­
mercial brasileiro: abandonou-se a teoria francesa dos atos de comércio 
para adotar-se a teoria italiana da empresa.
Seguindo à risca a inspiração do Codice Civile de 1942, o novo 
Código Civil brasileiro derroga grande parte do Código Comercial de 
1850, na busca de uma unificação, ainda que apenas formal, do direito 
privado. Do CCom resta hoje apenas a parte segunda, relativa ao co­
mércio marítimo.
O Código Civil de 2002 trata, no seu Livro II, Título I, do “Direito 
de Empresa”. Desaparece a figura do comerciante, e surge a figura do 
empresário (da mesma forma, não se fala mais em sociedade comercial, 
mas em sociedade empresária). A mudança, porém, está longe de se li­
mitar a aspectos terminológicos. Ao disciplinar o direito de empresa, o
13
A n d r é L u i z S a n t a C r u z R a m o s
direito brasileiro se afasta, definitivamente, da ultrapassada teoria dos 
atos de comércio, e incorpora a teoria da empresa ao nosso ordenamento 
jurídico, adotando o conceito de empresarialidade para delimitar o âm­
bito de incidência do regime jurídico comercial.
Não se fala mais em comerciante, como sendo aquele que pratica 
habitualmente atos de comércio. Fala-se agora em empresário, sendo 
este o que “exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a 
produção ou a circulação de bens ou de serviços” (CC/02, art. 966).
Hodiernamente, portanto, o direito comercial não cuida apenas do 
comércio, mas de toda e qualquer atividade econômica exercida com 
profissionalismo, intuito lucrativo e finalidade de produzir ou fazer 
circular bens ou serviços. Dito de outra forma: o direito comercial, hoje, 
cuida das relações empresariais, e por isso alguns têm sustentado que, 
diante dessa nova realidade, melhor seria usar a expressão direito empre­
sarial.
O direito empresarial é, em síntese, o regime jurídico especial des­
tinado à regulação da atividade econômica (empresa) e dos seus agen­
tes produtivos (empresários). Na qualidade de regime jurídico especial, 
contempla todo um conjunto de normas específicas que se aplicam aos 
agentes econômicos, hoje chamados de empresários (empresários indivi­
duais e sociedades empresárias).
Assim, pode-se dizer que cabe ao direito civil, como bem desta­
cava o art. I o do Código Civil de 1916, a disciplina geral dos direitos e 
obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às suas 
relações, sendo, ademais, fonte normativa subsidiária para os demais ra­
mos do direito. Já ao direito empresarial cabe, por outro lado, a discipli­
na especial dos direitos e obrigações de ordem privada concernentes ao 
exercício de atividade econômica organizada {empresa).
2. EM PR ESÁ R IO
Embora a adoção da teoria da empresa tenha vindo junto com a 
tentativa de unificação do direito privado, viu-se que essa suposta unifi­
cação é apenas formal, continuando a existir, como ramos autônomos e 
independentes da árvore jurídica, o direito civil e o direito empresarial.
14 i
D i r e i t o d e e m p r e s a
O que define a autonomia de um direito, afinal, não é a existência de 
um diploma legislativo próprio que contemple suas regras jurídicas, mas 
a existência de institutos jurídicos e princípios informadores próprios.
O direito empresarial, desde a sua origem (direito comercial) até a 
presente data, conserva uma série de características que o distinguem 
das demais disciplinas jurídicas. São características fundamentais do di­
reito empresarial, que o diferenciam sobremaneira do direito civil: a) 
o cosmopolitismo, uma vez que o comércio, historicamente, foi fator 
fundamental de integração entre os povos, razão pela qual o seu desen­
volvimento propicia, até os dias de hoje, uma intensa inter-relação entre 
os países (note-se que em matéria de direito empresarial há diversos 
acordos internacionais em vigor, muitos dos quais o Brasil é signatário, 
tais como a Convenção de Genebra, que criou uma legislação uniforme 
sobre títulos de crédito, e a Convenção da União de Paris, que estabe­
lece preceitos uniformes sobre propriedade industrial); b) a onerosida- 
de, dado o caráter econômico e especulativo das atividades mercantis, 
que faz com que o intuito de lucro seja algo intrínseco ao exercício da 
atividade empresarial; c) o informalismo, em função do dinamismo da 
atividade empresarial, que exige meios ágeis e flexíveis para a realização 
e a difusão das práticas mercantis; e d) o fragmentarismo, pelo fato de o 
direito empresarial possuir uma série de sub-ramoscom características 
específicas (direito faümentar, direito cambiário, direito societário, direi­
to de propriedade industrial etc.).
Assim, se é que a unificação foi conseguida de forma plena, ela o 
foi apenas no âmbito formal, pois ainda continuam a existir o direito 
empresarial e o direito civil como disciplinas autônomas e independen­
tes. O fato de grande parte das regras que compõem o regime jurídico 
empresarial estarem hoje espalhadas pelo Código Civil e em diversas 
leis esparsas não descaracteriza a existência de um direito empresarial, 
nem retira a sua autonomia e independência.
Pois bem. Tendo o Código Civil de 2002, conforme vimos, adotado 
a teoria da empresa, restou superado o ultrapassado e deficiente critério 
do código comercial de 1850, que definia o comerciante como aquele 
que pratica habitualmente atos de comércio. Com a edição do Código 
Civil de 2002, portanto, tornam-se obsoletas as noções de comerciante
15
A n d r é L u i z S a n t a C r u z R a m o s
e de ato de comércio, que são substituídas pelos conceitos de empresário 
e de empresa.
E, se ainda persiste a divisão material do direito privado, contra- 
pondo regimes jurídicos distintos para a disciplina das relações civis e 
comerciais, continua a existir, em conseqüência, a necessidade de se es­
tabelecer um critério que delimite o âmbito de incidência do direito 
empresarial, como conjunto de regras específicas destinadas à disciplina 
da atividade econômica.
Portanto, resta-nos perquirir, agora, para a exata compreensão e de­
limitação do âmbito de incidência do regime jurídico empresarial, o que 
significa empresa e, conseqüentemente, qual é o conceito de empresário 
à luz da nova teoria que norteia o direito empresarial.
O Código Civil não definiu diretamente o que vem a ser empresa, 
mas estabeleceu o conceito de empresário, que está previsto no seu art. 
966, o qual dispõe que “considera-se empresário quem exerce profissional­
mente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de 
bens ou de serviços
Ora, do conceito de empresário acima transcrito pode-se estabe­
lecer, logicamente, que empresa é uma atividade econômica organizada 
com a finalidade de fazer circular ou produzir bens ou serviços.
Empresa é, portanto, atividade, algo abstrato. Empresário, por sua 
vez, é quem exerce empresa. Assim, a empresa não é sujeito de direito. 
Quem é sujeito de direito é o titular da empresa. Melhor dizendo, su­
jeito de direito é quem exerce empresa, ou seja, o empresário, que pode 
ser pessoa física (empresário individual) ou pessoa jurídica (sociedade 
empresária).
A grande dificuldade em compreender o conceito de empresa para 
aqueles que iniciam o estudo do direito empresarial está no fato de que a 
expressão é utilizada, coloquialmente, de forma atécnica. Empresa é, na 
verdade, um conceito abstrato, que corresponde, como visto, a uma ati­
vidade econômica organizada, destinada à produção ou à circulação de 
bens ou de serviços. Não se deve confundir, pois, empresa com sociedade 
empresária. Esta, na verdade, é uma pessoa jurídica que exerce empresa,
16
D i r e i t o d e e m p r e s a
ou seja, que exerce uma atividade econômica organizada. Empresa e em­
presário são noções, portanto, que se relacionam, mas não se confundem.
Também não se deve confundir, por exemplo, empresa com estabe­
lecimento empresarial. Este é um complexo de bens que o empresário 
usa para exercer empresa, isto é, para exercer uma atividade econômica 
organizada.
Do conceito de empresário estabelecido no art. 966 do Código Ci­
vil, podemos extrair as seguintes expressões, que nos indicam os princi­
pais elementos indispensáveis à sua caracterização: a) profissionalmente; 
b) atividade econômica; c) organizada; d) produção ou circulação de 
bens ou de serviços.
Da primeira expressão destacada, pode-se extrair o seguinte: só será 
empresário aquele que exercer determinada atividade econômica de for­
ma profissional, ou seja, que fizer do exercício daquela atividade a sua 
profissão habitual. Quem exerce determinada atividade econômica de 
forma esporádica, por exemplo, não será considerado empresário, não 
sendo abrangido, portanto, pelo regime jurídico empresarial.
Ao destacarmos a expressão atividade econômica, por sua vez, que­
remos enfatizar que empresa é uma atividade exercida com intuito lu­
crativo.
A terceira expressão destacada - organizada — significa, como bem 
destaca a doutrina, que empresário é aquele que articula os fatores de 
produção (capital, mão-obra, insumos e tecnologia). No mesmo sentido, 
diz-se que o exercício de empresa pressupõe, necessariamente, a organi­
zação de pessoas e meios para o alcance da finalidade almejada.
Por fim, a última expressão destacada demonstra a abrangência da 
teoria da empresa, em contraposição à antiga teoria dos atos de comér­
cio, a qual, como visto, restringia o âmbito de incidência do regime ju­
rídico comercial a determinadas atividades econômicas elencadas na lei. 
Para a teoria da empresa, em contrapartida, qualquer atividade econô­
mica poderá, em princípio, submeter-se ao regime jurídico empresarial, 
bastando que seja exercida profissionalmente, de forma organizada e 
com intuito lucrativo. Sendo assim, a expressão produção ou circulação
17
A n d r é L u i z S a n t a C r u z R a m o s
de bens ou de serviços deixa claro que nenhuma atividade econômica está 
excluída, apriori, do âmbito de incidência do direito empresarial.
E mais. Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a 
expressão em análise também nos permite concluir que só réstará carac­
terizada a empresa quando a produção ou circulação de bens ou serviços 
destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio.
2.1. A situação excepcional de alguns agentes econômicos
Temos enfatizado, até aqui, que a teoria da empresa, como crité­
rio delimitador do âmbito de incidência do direito empresarial, superou 
uma grande deficiência da antiga teoria dos atos de comércio, a qual 
acarretava um tratamento anti-isonômico dos agentes econômicos, na 
medida em que certas atividades, como a prestação de serviços e a nego­
ciação imobiliária, eram excluídas do regime jurídico comercial, fazendo 
com que seus exercentes não gozassem das mesmas prerrogativas confe­
ridas àqueles abrangidos pelo direito comercial de então.
A teoria da empresa, sem se preocupar em estabelecer, aprioristi- 
camente, um rol de atividades sujeitas ao regime jurídico empresarial, 
optou por fixar um critério material para a conceituação do empresário, 
critério esse, como visto, deveras abrangente, por não excluir, em princí­
pio, nenhuma atividade econômica do seu âmbito de incidência.
Ocorre que esse critério material — previsto no art* 966 do Código 
Civil — não se aplica a determinados agentes econômicos específicos. 
Para estes agentes, a lei optou por critérios outros para a determinação 
de sua submissão ou não ao regime jurídico empresarial.
2.1.1. Os profissionais intelectuais
A situação específica dos profissionais intelectuais, também cha­
mados de profissionais liberais, está disciplinada no art. 966, parágrafo 
único, do Código Civil: “não se considera empresário quem exerce profissão 
intelectual\ de natureza científica, literária ou artísticay ainda com o concurso 
de auxiliar es ou colaboradores> salvo se o exercício da profissão constituir ele­
mento de empresa"
18
D i r e i t o d e e m p r e s a
Em princípio, pois, os profissionais intelectuais (advogados, médi­
cos, professores, etc.) não são considerados empresários. Um advogado, 
um médico, um arquiteto, entre outros, não são empresários, salvo se o 
objeto da atividade constituir elemento de empresa. Mas o que o legislador 
quis dizer ao usar essa expressão?
O Código quer com isso dizer que, enquanto o profissional intelec­
tual apenas exercea sua atividade intelectual, ainda que com o intuito de 
lucro e mesmo contratando alguns auxiliares, ele não é considerado em­
presário para os efeitos legais. Enquanto o profissional intelectual está 
numa fase embrionária de atuação (é um profissional que atua sozinho, 
faz uso apenas de seu esforço, da sua capacidade intelectual), ele não é 
considerado empresário, não se submetendo, pois, ao regime jurídico 
empresarial. Todavia, a partir do momento em que ele dá \im& forma 
empresarial ao exercício de suas atividades, será considerado empresário 
e passará a ser regido pelas normas do direito empresarial.
Nesse sentido, são bastante elucidativos os enunciados n° 193,194 
e 195, do Conselho da Justiça Federal, aprovados na III Jornada de Di­
reito Civil, realizada em 2005, os quais dispõem, respectivamente, que ao 
exercício das atividades de natureza exclusivamente intelectual está excluído 
do conceito de empresa”, que “os profissionais liberais não são considerados 
empresãriosy salvo se a organização dos fatores de produção for mais impor­
tante que a atividade pessoal desenvolvida”,e que “a expressão !'elemento de 
empresa’ demanda interpretação econômica> devendo ser analisada sob a égi­
de da absorção da atividade intelectual\ de natureza científica, literária ou 
artística, como um dos fatores da organização empresarial”
Por fim, destaque-se que alguns autores têm optado por um critério 
bastante interessante e simples para aferir se o exercício de profissão in­
telectual configura ou não uma empresa. Bastaria, em cada caso concreto, 
analisar se (i) há mais de um ramo de atividade sendo exercido, ou se (ii) 
há contratação de terceiros para o desempenho da atividade-fim.
2.1.2. O exercente de atividade rural
O Código Civil se preocupou em dar um tratamento especial ao 
exercente de atividade rural, excluindo-o da obrigatoriedade de registro 
na Junta Comercial, prevista no art. 967 do código.
19
A n d r é L u iz S a n t a C r u z R a m o s
Todo empresário, antes de iniciar o exercício da atividade empresa­
rial, tem que se registrar na Junta Comercial, seja empresário individual 
ou sociedade empresária. Para o empresário rural, todavia, o Código 
Civil concedeu a faculdade de se registrar ou não perante a Junta da sua 
unidade federativa.
Assim sendo, se aquele que exerce atividade econômica rural não se 
registrar na Junta Comercial, não será considerado empresário. Em con­
trapartida, se ele optar por se registrar, será considerado empresário para 
todos os efeitos legais. Esta regra está contida no art. 971 do Código, o 
qual determina que “o empresário, cuja atividade rural constitua sua princi­
pal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus 
parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da 
respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos 
os efeitos, ao empresário sujeito a registro
Conclui-se, pois, que para o exercente de atividade rural o registro 
na Junta Comercial tem natureza constitutiva, e não meramente decla- 
ratória, como de ordinário.
Portanto, o registro não é requisito para que alguém seja considerado 
empresário, mas apenas uma obrigação legal imposta aos praticantes de 
atividade econômica. Quanto ao exercente de atividade rural, essa regra 
é excepcionada, sendo o registro na Junta, pois, condição indispensável 
para sua caracterização como empresário e conseqüente submissão ao 
regime jurídico empresarial. Veja-se, a propósito, o que dispõe o enun­
ciado n° 202 do CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil: % registro 
do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de na­
tureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial E tnapli- 
cável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção".
Por fim, ressalte-se que regra idêntica foi prevista para a sociedade 
que tem por objeto social a exploração de atividade econômica rural. 
Dispõe o CC, em seu art. 984, que aa sociedade que tenha por objeto o exer­
cício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou trans­
formada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as 
formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de Empresas 
Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscritayficarã equiparada, para 
todos os efeitos, à sociedade empresária
20
D i r e i t o d e e m p r e s a
2.1.3. As cooperativas
Em princípio, uma sociedade será considerada empresária se preen­
cher os requisitos do art. 966 do Código Civil, ou seja, se exercer, profis­
sionalmente, uma atividade econômica organizada para a produção ou 
a circulação de bens ou de serviços. Caso não preencha os requisitos da 
norma mencionada, estar-se-á diante de uma sociedade simples. E o que 
se extrai do art. 982 do CC, segundo o qual “salvo as exceções expressas, 
considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de ativida­
de própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”.
E o objeto explorado pela sociedade, por conseguinte, que define 
a sua natureza empresarial ou não. Assim, se uma sociedade explora 
atividade empresarial, será considerada uma sociedade empresária, re­
gistrando-se na Junta Comercial e submetendo-se ao regime jurídico 
empresarial. Se, todavia, uma sociedade não explora atividade empre­
sarial, será considerada uma sociedade simples — terminologia adotada 
pelo novo CC, em substituição à expressão sociedade civil do regime an­
terior— registrando-se no cartório de registro civil de pessoas jurídicas.
Note-se, todavia, que no início do próprio dispositivo acima trans­
crito faz~se uma ressalva, deixando-se claro, portanto, que em algumas 
situações não se deve recorrer ao critério material do art. 966 para defi­
nir se uma determinada sociedade é empresária ou não. E o que ocorre, 
por exemplo, com as cooperativas.
Para saber se uma sociedade cooperativa é empresária não se utiliza 
o critério material previsto no art. 966 do CC, mas um critério legal, 
estabelecido no art. 982, parágrafo único, o qual dispõe que “Independen­
temente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; ey simples, 
a cooperativa”.
O legislador, por opção política, determinou que a cooperativa é 
sempre uma sociedade simples, pouco importando se exerce uma ativi­
dade empresarial de forma organizada e com intuito de lucro.
2 A A. As sociedades por ações
Ao passo que toda cooperativa é uma sociedade simples, toda socie­
dade por ações é sociedade empresária, ainda que não exerça atividade 
empresarial.
!
21
A n d r é L u iz S a n t a C r u z R a m o s
Essa regra não é nova. Conforme será exposto com mais detalhes 
no capítulo referente ao direito societário, na parte relativa às sociedades 
por ações, mesmo antes da edição do código já dispunha a LSA, em seu 
art. 2°, § 1°, que “qualquer que seja o objeto, a companhia émercantile se rege 
pelas leis e usos do comércio”.
Portanto, ainda que uma determinada S/A não explore atividade 
econômica de forma organizada ela será empresária e se submeterá, pois, 
às regras do regime jurídico empresarial.
Assim, por exemplo, se uma determinada sociedade que explora 
atividade econômica rural adotar a forma de sociedade anônima] não 
se aplicará a ela a regra do art. 984 do CC, analisada no tópico 13.2.2, 
acima. Nesse caso, optando pelo tipo societário da S/A, essa sociedade 
será necessariamente empresária, deverá registrar-se obrigatoriamente 
na Junta Comercial e se submeterá normalmente às regras do regi­
me jurídico empresarial. Isso porque, repita-se, a sociedade anônima é 
sempre considerada um sociedade empresária, independentemente do 
seu objeto.
2.2. Requisitos para o registro dos empresários
O CC, além de estabelecer a obrigatoriedade doregistro para to­
dos os empresários (empresários individuais e sociedades empresárias), 
também se preocupou em estabelecer algumas vedações ao exercício de 
empresa, bem como em disciplinar alguns detalhes sobre a atuação do 
empresário casado. As vedações se dão de duas formas: ou são proibi­
ções que a legislação estabelece, ou são vedações que dizem respeito à 
capacidade. Nesse sentido, dispõe o Código Civil, em seu art. 972, que 
“podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da 
capacidade civil e não forem legalmente impedidos
O código civil de 2002 não trouxe nenhum dispositivo normativo 
semelhante ao art. 2o do CCom de 1850, que arrolava diversos casos de 
impedimento legal ao exercício do comércio. Atualmente, portanto, os 
impedimentos legais ao exercício de atividade empresarial estão espa­
lhados pelo arcabouço jurídico-normativo.
22
D i r e i t o d e e m p r e s a
Normalmente, esses impedimentos estão em normas de direito 
público e visam a proteger a coletividade, evitando que esta negocie 
com determinadas pessoas em virtude de sua função ou condição ser 
incompatível com o exercício livre de atividade empresarial. Podem 
ser citados, como exemplos: o art. 117, X, da Lei n° 8.112/90, relativo 
aos servidores públicos federais; o art. 3 6 ,1, da LC 35/79 - LOM AN, 
relativo aos magistrados; o art. 44, III, da Lei n° 8.625/93, relativo aos 
membros do Ministério Público, o art. 29 da Lei n° 6.880/80, relativo 
aos militares.
É preciso atentar para o fato de que a proibição é para o exercício 
de empresa, não sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam só­
cios de sociedades empresárias, uma vez que, nesse caso, quem exerce a 
atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus sócios. Em 
suma: os impedimentos se dirigem aos empresários individuais, e não 
aos sócios de sociedades empresárias. Nesse sentido, pode-se afirmar en­
tão que os impedidos não podem se registrar na Junta Comercial como 
empresários individuais (pessoas físicas que exercem atividade empresa­
rial), não significando, em princípio, que eles não possam participar de 
uma sociedade empresária como quotistas ou acionistas, por exemplo. 
No entanto, a possibilidade de os impedidos participarem de sociedades 
empresárias não é absoluta, somente podendo ocorrer se forem sócios de 
responsabilidade limitada e, ainda assim, se não exercerem funções de 
gerência ou administração.
Há outros impedimentos legais, todavia, que são estabelecidos em 
razão da própria natureza da atividade a ser empreendida. E o caso, por 
exemplo, dos arts. 176, § I o, e 222, ambos da Constituição Federal. O 
primeiro determina que “a pesquisa e a lavra de recursos minerais e o apro­
veitamento dos potenciais a que se refere o ‘capuf deste artigo somente poderão 
ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse na­
cional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha 
sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições 
específicas quando essas atividades se desenvolverem em faixa defronteira ou 
terras indígenas ”. O segundo, por sua vez, determina que “apropriedade de 
empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens éprivativa
23
A n d r é L u i z S a n t a C r u z R a m o s
de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas ju rí­
dicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. (Redação 
dada pela Emenda Constitucional n° 36, de 2002)”.
Por fim, destaque-se que, a propósito do assunto, o Código Civil 
estabelece em seu art. 973, que aa pessoa legalmente impedida de exercer 
atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações con­
traídas”. Portanto, as obrigações contraídas por um “empresário” impe­
dido não são nulas. Ao contrário, elas terão plena validade em relação a 
terceiros de bòa-fé que com ele contratem.
A outra vedação ao exercício de empresa estabelecida no art. 972 
do CC, como dissemos, diz respeito à incapacidade. Só pode exercer 
empresa quem é capaz, quem está no pleno gozo de sua capacidade civil, 
conforme determina o dispositivo normativo em comento.
Ocorre que o próprio Código abre duas exceções, permitindo que o 
incapaz exerça empresa. A matéria está disciplinada no art. 974 do CC, 
o qual prevê que “poderá o incapaz, por meio de representante ou devida­
mente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, 
por seus pais ou pelo autor de herançan.
Em primeiro lugar, destaque-se que o art. 974 se refere ao exercício 
individual de empresa. Trata-se, pois, de casos em que o incapaz será 
autorizado a explorar atividade empresarial individualmente, ou seja, na 
qualidade de empresário individual (pessoa física). A possibilidade de 
o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária é situação totalmente 
distinta.
Outra observação a ser feita sobre o artigo em comento é que am­
bas as situações excepcionais em que se admite o exercício de empresa 
por incapaz são para que ele continue a exercer empresa, mas nunca 
para que ele inicie o exercício de uma atividade empresarial. O incapaz 
nunca poderá ser autorizado a iniciar o exercício de uma empresa, ape­
nas poderá ser autorizado, excepcionalmente, a dar continuidade a uma 
atividade empresarial.
Isso ocorrerá nos casos em que (i) ele mesmo já exercia a atividade 
empresarial, sendo a incapacidade, portanto, superveniente, e em que
24
D i r e i t o d e e m p r e s a
(ii) a atividade empresarial era exercida por outrem, de quem o incapaz 
adquire a titularidade do exercício da atividade empresarial por sucessão 
causa mortis.
A autorização para que o incapaz continue o exercício da empresa 
será dada pelo juiz, em procedimento de jurisdição voluntária e após 
a oitiva do Ministério Público, conforme determina o art. 82, inciso I, 
do CPC. O magistrado, em ambos os casos, observará a conveniência 
de o incapaz exercer a atividade, segundo dispõe o art. 974, § Io, do 
CC: “nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das 
circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em conti- 
nuã-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores 
ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos 
adquiridos por terceiros
Se o juiz entender conveniente a continuação do exercício da em­
presa pelo incapaz, concederá um alvará autorizando-o a tanto, por meio 
de representante ou assistente, conforme o grau de sua incapacidade. Se 
o assistente ou representante for impedido, haverá a nomeação de um 
ou mais gerentes, com aprovação do juiz. E o que dispõe o art. 975 do 
CC, segundo o qual "se o representante ou assistente do incapaz for pessoa 
que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, nome­
ará, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentesO § Io dispõe que “do 
mesmo modo será nomeado gerente em todos os casos em que o ju iz entender 
ser conveniente", e o § 2° que “a aprovação do ju iz não exime o representante 
ou assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos ge­
rentes nomeados
E preciso atentar, nesse ponto, para a interessante previsão contida 
no § 2o do art. 974 do Código Civil, segundo a qual “não ficam sujeitos 
ao resultado da empresa os bens que o incapaz j á possuía, ao tempo da sucessão 
ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos 
constar do alvará que conceder a autorização"
Trata-se de uma novidade interessantíssima trazida pelo código. 
No alvará em que autorizará a continuação do exercício da empresa o 
juiz deverá relacionar os bens que o incapaz já possuía antes da inter­
dição, bens esses que não se sujeitarão ao resultado da empresa, ou seja,
25
A n d r é L u i z S a nt a C r u z R a m o s
que não poderão ser executados por dívidas contraídas em decorrência 
do exercício da atividade empresarial.
Vale lembrar que o dispositivo em referência (art. 974), como já 
destacamos acima, refere-se ao exercício individual de empresa (empre­
sário individual). Ora, o patrimônio do empresário individual, em regra, 
é um só. Não há uma distinção entre os bens afetados ao exercício da 
empresa e os bens particulares, alheios à atividade empresarial. Essa se­
paração patrimonial só ocorre em se tratando de sociedade empresária, 
hipótese em que a sociedade - uma pessoa jurídica - terá seu próprio 
patrimônio (patrimônio social), que não se confunde com o patrimônio 
particular de seus sócios: trata-se do princípio da autonomia patrimo­
nial das pessoas jurídicas, o qual será analisado mais detalhadamente 
no capítulo referente ao direito societário. No caso do empresário in­
dividual, todavia, não há essa separação patrimonial, pois não há uma 
pessoa jurídica constituída para a exploração da atividade. E o próprio 
empresário, pessoa física, que responde com todos os seus bens pelas 
obrigações contraídas em decorrência do exercício da empresa.
Daí a grande novidade introduzida pela norma em comento. Ela 
permite, excepcionalmente, que se estabeleça uma certa especialização 
patrimonial no caso de o incapaz ser autorizado a continuar o exercício 
de empresa. Mesmo em se tratando, nesse caso, de empresário indivi­
dual, haverá uma separação patrimonial. Os bens indicados no alvará 
— bens que já eram do incapaz antes da sua interdição e que não esta- 
vam afetados ao exercício da atividade empresarial — constituirão um 
patrimônio particular especial (patrimônio de afetação), o qual não se 
submeterá ao resultado da empresa, ou seja, não poderão ser executados 
em virtude obrigações assumidas em conseqüência do exercício da ati­
vidade empresarial.
Além disso, ressalte-se que não se deve confundir a hipótese em 
questão - exercício de atividade empresarial por incapaz, mediante 
autorização judicial — com o caso em que o incapaz com 16 (dezesseis) 
anos completos preenche os requisitos para a sua emancipação em 
decorrência do estabelecimento comercial em função do qual tenha 
economia própria (art. 5o, inciso V> do CC). Neste caso, não se está
26
D i r e i t o d e e m p r e s a
diante de um incapaz, mas de um menor capaz. A emancipação, como 
se sabe, antecipa a capacidade, permitindo então que o menor emanci­
pado - que é capaz, repita-se - exerça a empresa independentemente 
de autorização judicial.
Ressalte-se apenas que, de acordo com o art. 976 do CC, ‘aprova 
da emancipação e da autorização do incapaz., nos casos do art. 974, e a de 
eventual revogação desta, serão inscritas ou averbadas no Registro Público de 
Empresas Mercantis”.
Por fim, o Código Civil, conforme já dito, também trouxe algumas 
regras especiais aplicáveis ao empresário casado, regras que se aplicam, 
por óbvio, ao empresário individual, já que na sociedade empresária 
quem é o titular da empresa é a própria pessoa jurídica, a qual não pode 
casar.
De acordo com o art. 978 do CC, “o empresário casado pode, sem 
necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar 
os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”.
Já o art. 979 do CC, por sua vez, determina que “além de no Registro 
Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mer­
cantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, 
herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabi- 
lidade”. Assim, se estes atos não forem devidamente registrados na Junta 
Comercial, o empresário não poderá opô-los contra terceiros.
No mesmo sentido da regra acima comentada, dispõe o art. 980 
do CC que “a sentença que decretar ou homologar a separação judicial do 
empresário e o ato de reconciliação não podem ser opostos a terceiros, antes de 
arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis”.
3. E ST A B E L E C IM E N T O EM PR ESA R IA L
A expressão estabelecimento empresarial parece se referir, numa 
primeira leitura, ao local onde o empresário exerce sua atividade empre­
sarial. Trata-se, todavia, de uma visão equivocada, que representa apenas 
uma noção vulgar da expressão, que corresponde tão-somente ao senti­
do coloquial que ela possui para as pessoas em geral.
27
A n d r é L u iz S a n t a C r u z R a m o s
O conceito técnico-jurídico de estabelecimento empresarial, to­
davia, é algo mais complexo. Trata-se, em suma, de todo o conjunto de 
bens, materiais ou imateriais, que o empresário utiliza no exercício da 
sua atividade. Esta foi, aliás, a definição dada pelo legislador do Códi­
go Civil, que resolveu tratar especificamente do tema, ao contrário do 
que ocorria anteriormente, já que até a edição do novo CC o estabe­
lecimento era tratado basicamente na seara doutrinária. Com efeito, o 
art. 1.142 dispõe que “considera-se estabelecimento todo complexo de bens 
organizado, para exercício da empresa> por empresário, ou por sociedade 
empresária”.
Portanto, o local onde o empresário exerce suas atividades — ponto 
de negócio - é apenas um dos elementos que compõem o estabeleci­
mento empresarial, o qual, como visto, é composto também de outros 
bens materiais (equipamentos, máquinas, etc.) e até mesmo bens imate­
riais (marca, patente de invenção, etc.). Autores há que chegam a colocar 
até a clientela como bem integrante do estabelecimento.
Assim sendo, o estabelecimento não se confunde com a empresa, 
uma vez que esta, conforme visto, corresponde a uma atividade. Da mes­
ma forma, o estabelecimento não se confunde com o empresário, já que 
este é uma pessoa física ou jurídica que explora essa atividade empresa­
rial e é o titular dos direitos e obrigações dela decorrentes. Mas embora 
estabelecimento, empresa e empresário sejam noções que não se con­
fundem, são conceitos que se inter-relacionam, podendo-se dizer, pois, 
que o estabelecimento, como complexo de bens usado pelo empresário 
no exercício de sua atividade econômica, representa a projeção patri­
monial da empresa ou o organismo técnico-econômico mediante o 
qual o empresário atua.
Por fim, ainda antes de analisar mais detidamente as normas do 
CC relativas ao estabelecimento empresarial, é preciso fazer uma ob­
servação relevante, que diz respeito à importância de não confundir o 
estabelecimento empresarial com o patrimônio do empresário. Este 
é todo o conjunto de bens, direitos, ações, posse e tudo o mais que 
pertença a uma pessoa física ou jurídica e seja suscetível de aprecia­
ção econômica. Ve-se, pois, que nem todos os bens que compõem o
28
D i r e i t o d e e m p r e s a
patrimônio são, necessariamente, componentes também do estabele­
cimento empresarial, uma vez que, para tanto, será imprescindível que 
o bem, seja ele material ou imaterial, guarde um liame com o exercício 
da atividade-fim do empresário.
Isso porque o estabelecimento empresarial é o instrumento usado 
pelo empresário para a realização de sua atividade empresarial, razão 
pela qual só o compõem aqueles bens que estejam ligados ao exercício 
da atividade.
Destaque-se ainda que, como bem aponta a doutrina italiana, há 
dois elementos relevantes na noção de estabelecimento: primeiro, o 
complexo de bens; segundo, a organização. Considerado como complexo 
de bens, vê-se que o estabelecimento empresarial assume um caráter 
marcantemente instrumental para o desempenho da atividade. Por 
outro lado, sendo o estabelecimento um conjunto de bens dotado de 
organização, percebe-se que os bens que o compõem constituem um 
todo articulado, organizado, conexo. E essa organização que o empre­
sário confere aos bens componentes do estabelecimento que vai fazer 
com que este, na qualidadede complexo de bens, se diferencie sobre­
maneira desses bens individualmente considerados.
Existem diversas teorias para explicar o estabelecimento empre­
sarial e definir a sua natureza jurídica. De todas as teorias existentes, 
prevalecem as teorias universalistas, que consideram o estabelecimento 
empresarial uma universalidade, mas se dividem entre a sua caracteri­
zação como uma universalidade de direito ou como uma universalidade
Universalidade, segundo a doutrina, é -um conjunto de elementos 
que, quando reunidos, podem ser concebidos como coisa unitária, ou 
seja, algo novo e distinto que não representa a mera junção dos ele­
mentos componentes. Segundo a doutrina civilista, o que distingue a 
universitas iuris da universitas facti é o liame que une as coisas compo­
nentes de uma e de outra universalidade. Na universalidade de direito, 
a reunião dos bens se dá por determinação legal. Na universalidade de 
fato, a reunião dos bens se dá por ato de vontade.
A n d r é L u iz S a n t a C r u z R a m o s
A doutrina brasileira majoritária, seguindo mais uma vez as idéias 
suscitadas pela doutrina italiana sobre o tema, sempre considerou o es­
tabelecimento empresarial uma universalidade de fato, uma vez que os 
elementos que o compõem formam uma coisa unitária exclusivamente 
em razão da destinação que o empresário lhes dá, e não em virtude de 
disposição legal.
Essa posição parece ter ganhado ainda mais força com a edição 
do novo CC e a conseqüente definição do estabelecimento como o 
complexo de bens organizado pelo empresário para o exercício de sua 
atividade econômica. De fato, o que dá origem ao estabelecimento, na 
qualidade universalidade, é a vontade do empresário, que organiza os 
diversos elementos que o compõem com a finalidade de exercer uma 
determinada econômica.
Ressalte-se, por fim, que sendo o estabelecimento uma univer­
salidade de fato, ou seja, um complexo de bens organizado pelo em­
presário, ele não compreende os contratos, os créditos e as dívidas. 
Eis mais uma distinção que pode ser feita, portanto, entre estabeleci­
mento e patrimônio, uma vez que este, ao contrário daquele, compre­
ende até mesmo as relações jurídicas - direitos e obrigações — do seu 
titular.
3.1* O contrato de trespasse
Embora, como visto, o estabelecimento empresarial não compreen- 
da as relações obrigacionais do seu titular, mas tão-somente o complexo 
de bens, sejam eles materiais ou não, que ele organiza para o exercício 
de sua atividade, isso não significa que o Código Civil não tenha se pre­
ocupado com os efeitos obrigacionais decorrentes das negociações que 
envolvam o estabelecimento.
Em primeiro lugar, o CC dispõe no seu art. 1.143 que “pode o esta­
belecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos 
ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua n atu rezaEstá aqui o 
código se referindo à possibilidade de o estabelecimento ser negociado 
como um todo unitário, ou seja, como universalidade de fato que é.
30
D i r e i t o d e e m p r e s a
Claro que o estabelecimento pode ser objeto de negociações singu­
lares, como permite o art. 90, parágrafo único, do CC. Mas o que nos 
interessa, nesse ponto, é analisar a negociação do estabelecimento de 
forma unitária, quando estaremos diante do chamado trespasse.
De acordo com o disposto no art. 1.144 do CC, “o contrato que te­
nha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só 
produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição 
do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas 
Mercantis, e de publicado na imprensa oficiar. Vê-se, pois, que é condição 
de eficácia perante terceiros o registro do contrato de trespasse na Junta 
Comercial e a sua posterior publicação.
Ainda sobre o trespasse, o código dispõe, no seu art. 1.145, que “se 
ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia 
da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou 
do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir 
de sua notificaçãow. Sendo assim, o empresário que quer vender o esta­
belecimento empresarial deve ter uma cautela importante: ou conserva 
bens suficientes para pagar todas as suas dívidas perante seus credores, 
ou deverá obter o consentimento destes, o qual poderá ser expresso ou 
tácito. Com efeito, caso não guarde em seu patrimônio bens suficientes 
para saldar suas dívidas, o empresário deverá notificar seus credores para 
que se manifestem em 30 dias acerca da sua intenção de alienar o esta­
belecimento. Uma vez transcorrido tal prazo in albis, o consentimento 
dos credores será tácito, e a venda poderá ser realizada.
A observância da condição acima analisada, prevista no art. 1.145 
do CC, é deveras importante, tanto que a legislação falimentar (Lei n°
11.101/05) prevê a alienação irregular do estabelecimento empresarial 
como ato de falência (art. 94, inciso III, alínea ‘c’), isto é, o trespasse 
irregular pode ensejar o pedido e a decretação da quebra do empresário.
Realizado o trespasse de maneira regular, ou seja, respeitadas as de­
terminações legais acima analisadas (arts. 1.144 e 1.145 do CC), resta- 
nos analisar como o código disciplinou os efeitos da negociação unitária 
do estabelecimento empresarial.
O art. 1146 do CC trata da chamada sucessão empresarial, esta­
belecendo que “o adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento
31
A n d r é L u i z S a n t a C r u z R a m o s
dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, 
continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um 
ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, 
da data do vencimento
Pode-se concluir, portanto, que o adquirente do estabelecimento 
empresarial responde pelas dívidas existentes - contraídas pelo alie- 
nante —, desde que regularmente contabilizadas, isto é, constantes da 
escrituração çegular do alienante, pois foram essas as dívidas a que o 
adquirente teve conhecimento quando da efetivação do negócio.
Pois bem. Embora o adquirente assuma essas dívidas contabiliza­
das, o alienante fica solidariamente responsável por elas durante o pra­
zo de um ano. Tal prazo, todavia, será contado de maneiras distintas a 
depender do vencimento da dívida em questão: tratando-se de dívida já 
vencida, o prazo é contado a partir da publicação do contrato de trespas­
se (vide art. 1.144); tratando-se, em contrapartida, de dívida vincenda, o 
prazo é contado do dia de seu vencimento.
Assim, por exemplo, se uma dívida contraída pelo alienante só vier 
a vencer após seis meses da publicação do contrato, somente depois de 
transcorridos esses seis meses é que começará a fluir o prazo de um ano 
referido no art. 1.146. Só após o término desse prazo é que cessará, en­
fim, a solidariedade passiva do alienante relativa a essa dívida.
E preciso deixar bastante claro, também, que essa sistemática de 
sucessão obrigacional prevista no art. 1.146 do C C só se aplica às 
dívidas negociais do empresário, decorrentes das suas relações trava­
das em conseqüência do exercício da empresa (por exemplo, dívidas 
com fornecedores ou financiamentos bancários). Em se tratando, to­
davia, de dívidas tributárias ou de dívidas trabalhistas, não se aplica 
o disposto no art. 1146 do C C , uma vez que a sucessão tributária e a 
sucessão trabalhista possuem regimes jurídicos próprios, previstos em 
legislação específica (arts. 133 do C T N e art. 448 da CLT, respecti­
vamente).
Ademais, cumpre destacar que a nova legislação falimentar (Lei 
n° 11.101/05) trouxe uma importantíssima novidade que se relaciona 
diretamente com a matéria ora em análise. Com efeito, o art. 141 da
32
D i r e i t o d e e m p r e s a
lei mencionadadispõe que “na alienação conjunta ou separada de ativos, 
inclusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob qualquer das moda­
lidades de que trata este artigo: (...); I I — o objeto da alienação estará livre 
de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do 
devedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do 
trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho
A Lei n° 11.101/05, chamada de Lei de Recuperação de Em ­
presas, trouxe essa disposição normativa com o intuito de tornar mais 
atrativa a aquisição de estabelecimentos empresariais de empresários ou 
sociedades empresárias em processo de falência.
Ainda sobre os efeitos do trespasse, o art. 1147 do CC positivou 
no direito empresarial brasileiro a chamada cláusula de não-concor- 
rência (também conhecida como cláusula de não-restabelecimento 
ou cláusula de interdição da concorrência): (não havendo autorização 
expressa, o alienante do estabelecimento não podefazer concorrência ao ad- 
quirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência”.
Em suma: mesmo na ausência de cláusula contratual expressa, o 
alienante do estabelecimento tem a obrigação contratual implícita de 
não fazer concorrência ao adquirente do estabelecimento empresarial 
por um determinado prazo.
Essa obrigação implícita imposta ao alienante é uma decorrência 
lógica da aplicação do princípio da boa~fé objetiva às relações contratu­
ais e encontra respaldo em diversos ordenamentos jurídicos estrangei­
ros. Com efeito, o adquirente do estabelecimento empresarial tem em 
vista a clientela do alienante, razão pela qual o restabelecimento deste, 
na medida em que pode, claramente, desviar essa clientela, que tende 
a segui-lo, configura ofensa ao princípio da boa-fé objetiva, no âmbito 
da qual se inclui a legítima expectativa do adquirente de “herdar” a 
clientela atrelada ao estabelecimento empresarial por ele adquirido.
Em atenção a esse entendimento, o Código Civil de 2002 editou 
o art. 1.147, acima transcrito, que impõe a quem vende um estabeleci­
mento empresarial, salvo disposição expressa em contrário, a obriga­
ção contratual implícita de não se restabelecer para fazer concorrência 
ao adquirente por um determinado prazo — 05 (cinco) anos a partir da
33
A n d r é L u iz S a n t a C r u z R a m o s
transferência -, a fim de evitar o desvio da clientela em detrimento do 
empresário-adquirente.
Ainda sobre o trespasse, o art. 1.148 do CC dispõe que, “salvo dis­
posição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente 
nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem 
caráter pessoal\ podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a 
contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste 
caso, a responsabilidade do alienante”.
Discussão interessante, decorrente da interpretação do dispositivo 
acima transcrito, é a referente ao contrato de locação. Com efeito, en­
tende parte da doutrina - e esse entendimento é até mesmo anterior à 
vigência do CC — que um exemplo de contrato que se mantém vigente 
após a realização do trespasse é o contrato de locação. Nesse sentido, 
aliás, dispunha o enunciado n° 64 do CJF, aprovado na II Jornada de 
Direito Civil: aa alienação do estabelecimento empresarial importa, como re­
gra, na manutenção do contrato de locação em que o alienantefigurava como 
locatário”. Todavia, o referido enunciado foi cancelado na III Jornada de 
Direito Civil, realizada no ano seguinte, e substituído pelo enunciado n° 
234, o qual dispõe que “quando do trespasse do estabelecimento empresarial\ 
o contrato de locação do respectivo ponto não se transmite automaticamente ao 
adquirenteA matéria é deveras polêmica. E que pela legislação brasilei­
ra (art. 13 da Lei n° 8.245/91), o contrato de locação tem caráter pessoal 
(intuitupersonae). Portanto, na interpretação do art. 1.148 do CC, deve- 
se entender que é indispensável a concordância prévia e escrita do pro­
prietário do imóvel para que haja a transferência do contrato de locação.
Outros contratos, como o de trabalho e o de prestação de serviços 
específicos, também não se transmitem automaticamente ao adquirente 
do estabelecimento empresarial trespassado, uma vez que possuem ca­
ráter pessoal no seu cumprimento, razão pela qual não se submetem à 
regra geral de sub-rogação prevista no início do caput do art. 1.148 do 
CC. O mesmo ocorre, também, com um contrato que se mantinha com 
um advogado ou escritório de advocacia, por exemplo.
O art. 1.149, por fim, prevê que aa cessão dos créditos referentes ao 
estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos respectivos deve­
dores, desde o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficará 
exonerado se de boa-fépagar ao cedente
34
D i r e i t o d e e m p r e s a
Vê-se, pois, que da mesma forma que o adquirente assume as dívidas 
contabilizadas do alienante (art. 1.146 do CC), ele assume também todo 
o ativo contabilizado. Sendo assim, efetuada a transferência, a partir do 
registro no órgão competente, conforme determinado pelo art. 1.044 do 
CC, cabe aos devedores pagar ao adquirente do estabelecimento. Caso, 
entretanto, esses devedores paguem, de boa-fé, ao antigo titular do es­
tabelecimento - ou seja, o alienante — ficarão livres de responsabilidade 
pela dívida, cabendo ao adquirente, nesse caso, cobrar do alienante, que 
recebeu os valores de forma indevida, uma vez que já havia transferido 
seus créditos quando da efetivação do trespasse.
4. ESC R ITU R A Ç Ã O
Além da obrigação de registrar na Junta Comercial (art. 967 do 
CC), outra obrigação legal imposta a todo empresário, seja ao em­
presário individual ou a sociedade empresária, é a necessidade “seguir 
um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração 
uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, 
e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico ” 
(art. 1.179 do CC). Enfim, os empresários devem manter um sistema 
de escrituração contábil periódico, além de levantar, todo ano, dois ba­
lanços financeiros: o patrimonial e o de resultado econômico. A obri­
gação é tão importante que a legislação falimentar considera crime a 
escrituração irregular, caso a falência do empresário seja decretada (art. 
178 da Lei n° 11.101/05). Ademais, pela importância que ostentam, 
os livros comerciais são equiparados a documento público para fins 
penais, sendo tipificada como crime a falsificação, no todo ou em par­
te, da escrituração comercial.
A escrituração do empresário é tarefa que a lei incumbe (art. 1.182 
do CC) a profissional específico: o contabilista, o qual deve ser legal­
mente habilitado, ou seja, estar devidamente inscrito no seu órgão re- 
gulamentador da profissão. O referido dispositivo legal, todavia, ressalva 
os casos em que não exista contabilista habilitado na localidade, quando 
a tarefa de escrituração do empresário poderá ser exercida por outro 
profissional ou mesmo pelo próprio empresário.
35
A n d r é L u iz S a n t a C r u z R a m o s
A doutrina aponta que, atualmente, o único livro obrigatório co­
mum a todo e qualquer empresário é o livro Diário, que pode ser substi­
tuído por fichas no caso de ser adotada escrituração mecanizada ou ele­
trônica (art. 1.181 do CC). O livro Diário também pode ser substituído 
pelo livro Balancetes Diários e Balanços, quando o empresário adotar 
o sistema de fichas de lançamentos (art. 1.185 do CC). Se o Diário 
é o único livro obrigatório comum, são facultativos os livros caixa, no 
qual se controlam as entradas e saídas de dinheiro, estoque, razão, que 
classifica o movimento das mercadorias, borrador, que funciona como 
um rascunho do diário, e o conta corrente, que é usado para as contas 
individualizadas de fornecedores ouclientes.
Outros livros também podem ser exigidos do empresário, por força 
de legislação fiscal, trabalhista ou previdenciária. Todavia, eles não po­
dem ser considerados livros empresariais. Só recebem essa qualificação 
os livros que o empresário escritura em razão do disposto na legislação 
empresarial.
No livro Diário devem ser lançadas, "com individuação, clareza e ca­
racterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodu­
ção, todas as operações relativas ao exercício da empresa” (art. 1.184 do CC). 
O Diário, porém, pode ser escriturado de forma resumida, conforme 
dispõe o art. 1.184, § Io, do CC. Também “serão lançados no Diário o 
balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo ambos ser assinados 
por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado epelo empresário ou 
sociedade empresária” (art, 1.184, § 2o, do CC).
Alguns livros específicos, todavia, são exigidos a certos empresários. 
E o caso, por exemplo, do livro de registro de duplicatas, exigido dos 
empresários que trabalharem com a emissão de duplicatas mercantis. E 
o caso, também, das sociedades anônimas, que são obrigadas, pela Lei 
n° 6.404/76 a escriturar uma série de livros específicos, como o livro 
de registro de atas da assembléia, o livro de registro de transferência 
de ações nominativas, entre outros. Também existem livros obrigatórios 
especiais que são exigidos em virtude do exercício de alguma profissão. 
São os casos, por exemplo, dos livros impostos pela legislação comercial 
aos leiloeiros e aos donos de armazéns-gerais.
36
D i r e i t o d e e m p r e s a
Afora esses livros obrigatórios, o empresário poderá escriturar ou­
tros, a seu critério (art. 1.179, § I o, do CC).
O art. 1.179, § 2o, do CC dispensa “o pequeno empresário a que se 
refere o art. 970” das exigências contidas no caput, relativas à necessidade 
de manter um sistema de escrituração e de levantar anualmente os ba­
lanços patrimonial e de resultado econômico. O art. 970, por sua vez, 
afirma que “a lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplifi­
cado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos 
efeitos daí decorrentes”
A legislação que trata das microempresas e das empresas de peque­
no porte no Brasil (atualmente é a LC n° 123/06), esclareceu que “consi­
dera-se pequeno empresário,para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 
e 1.179 da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002) o empresário individual 
caracterizado como microempresa na forma desta Lei Complementar que au- 
fira receita bruta anual de até RS 36.000,00 (trinta e seis mil reais)”.
4.1. Sigilo empresarial
Os livros empresariais são protegidos pelo sigilo, conforme deter­
minação contida no art. 1.190 do CC: “ressalvados os casos previstos em 
lei, nenhuma autoridade, ju iz ou tribunal\ sob qualquer pretexto, poderá 
fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade 
empresária observam, ou não, em seus livros efichas, as formalidades pres­
critas em lei ”
Observe-se que o dispositivo acima transcrito ressalva, de forma 
clara, os casos previstos em lei, ou seja, a legislação poderá prever situ­
ações excepcionais em que o sigilo empresarial que protege os livros do 
empresário não seja oponível.
O próprio Código estabelece uma dessas situações, ao dispor, no 
art. 1.193, que as restrições ao exame da escrituração não se aplicam às 
autoridades fazendárias, quando estas estejam no exercício da fiscaliza­
ção tributária. No mesmo sentido, aliás, é a o disposto no art. 195 do 
CTN: “para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer 
disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar merca­
37
A n d r é L u i z S a n t a C r u z R a m o s
dorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos 
comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los”.
O Supremo Tribunal Federal, ponderando o direito ao sigilo em­
presarial dos empresários e o direito à fiscalização tributária das au­
toridades fazendárias, entende que o exame dos livros e documentos 
constantes da escrituração deve ater-se ao objeto da fiscalização. E o 
que dispõe o enunciado n° 439 da Súmula de jurisprudência dominante 
do STF: “estão sujeitos ã fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer 
Uvros comerciais, limitado o exame ao ponto objeto da investigação”.
O sigilo que protege os livros empresariais também pode ser “que­
brado” por ordem judicial. A exibição dos livros empresariais, em obe­
diência á ordem judicial, pode ser total ou parcial, havendo tratamento 
distinto para ambos os casos.
O Código de Processo Civil trata do tema, estabelecendo, em seu 
art. 381, que “o ju iz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição in­
tegral dos livros comerciais e dos documentos do arquivo: I — na liquidação 
de sociedade; I I — na sucessão por morte de sócio; I I I — quando e como deter­
minar a lei”. O Código Civil também cuida do assunto, preceituando, 
em seu art. 1.191, que “o ju iz só poderá autorizar a exibição integral dos 
livros epapéis de escrituração quando necessária para resolver questões rela­
tivas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de 
outrem, ou em caso de falência”. Interpretando harmonicamente os dois 
dispositivos transcritos, pode-se concluir que a exibição integral dos 
livros só pode ser determinada a requerimento da parte — conforme 
determinação da norma processual — e somente nos casos expressa­
mente previstos na lei (por exemplo, na liquidação da sociedade, na 
falência, entre outros).
Ressalte-se que, em se tratando de sociedade anônima, a Lei n° 
6.404/76, em seu art. 105, trouxe regra especial, determinando que a 
exibição total dos livros da S/A pode ser determinada por juiz quando 
houver requerimento de acionistas que representem pelo menos 5% 
do capital social, no qual se apontem violação ao estatuto ou à lei ou 
suspeita de graves irregularidades levadas a efeito por órgão da com­
panhia.
38
D i r e i t o d e e m p r e s a
A exibição parcial dos livros também está disciplinada em ambos 
os códigos. O CPC estabelece, em seu art. 382, que “o ju iz pode, de ofí­
cio, ordenar à parte a exibição parcial dos livros e documentos, extraindo-se 
deles a suma que interessar ao litígio, bem como reproduções autenticadas" 
O CC, por sua vez, preceitua, em seu art. 1.191, § I o, que Ko ju iz ou 
tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento 
ou de ofícioj ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, 
sejam examinados na presença do empresário ou da sociedade empresária 
a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o 
que interessar à questão*’. A interpretação harmônica desses dispositivos 
nos leva à conclusão de que a exibição parcial dos livros empresariais 
pode ser determinada pelo julgador, a requerimento ou até mesmo de 
ofício, e em qualquer processo.
Ressalte-se que a exibição parcial dos livros não atinge os chama­
dos livros auxiliares, uma vez que estes, por não serem obrigatórios, não 
são de existência presumida. Caso o requerente consiga provar, todavia, 
(i) que o empresário possui determinado livro auxiliar e (ii) que esse 
livro é indispensável para a prova de determinado fato, a exibição pode 
ser determinada, mesmo a parcial, estabelecendo-se presunção contra o 
empresário caso ele não o apresente.
Por fim, ressalte-se ainda que os livros empresariais devem ser con- 
servados em boa guarda, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência 
no tocante aos atos neles consignados (art. 1.194 do CC), e “talexigência 
prende-se ao fato de que tais documentos contém elementos que nem sempre 
são lançados no Diário, servindo como meio de prova posterior das negocia­
ções e operações

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