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2007 - Caderno 2 1 REDAÇÃO ORGANIZADORES Maxuel Rodrigues (maxuelsr22@ig.com.br) Wanessa Oliveira dos Santos (wanolissan@yahoo.com.br) ORIENTADORES Leonor Werneck dos Santos Professora Adjunta de Língua Portuguesa da Faculdade de Letras – UFRJ (leonorwerneck@yahoo.com.br) Tipologia textual e gêneros textuais Na apostila anterior (Noções de Texto), aprendemos que “um texto é toda e qualquer forma de expressão em que diversas idéias se concatenam logicamente, visando a formar um todo signifi cativo e a estabelecer a comu- nicação entre locutor e interlocutor.” Se a matéria prima do texto é a idéia a ser transmitida e compreendida, então todas as fi guras acima podem ser vistas como texto. A grande questão é: se “tudo” é texto, então como orga- nizar essas formas de comunicação? Como alcançar determinado objetivo e determinado público? É então que surgem os “gêneros textuais”. Defi ne-se gênero textual como “entidades sócio-discursivas”; eles tornaram-se quase infi nitos devido à adaptabilidade aos diversos con- textos discursivos. Hoje em dia a própria tecnologia gera novos “gêne- ros”, como por exemplo, os e-mails, editoriais, notícias, telefonemas, telegramas, telemensagens, reportagens ao vivo, chats, etc. Outro fator importante é diferenciar os conceitos sobre “tipo tex- tual” e “gêneros de texto”. Marchuschi (2002, p. 22) diz para “partimos do pressuposto básico de que é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Usa-se, portanto, a expressão tipo textual para designar a natureza lingüística de categorias conhecidas como narração, argumentação, descrição, dissertação, injunção. A ex- pressão gênero textual, por sua vez, refere-se aos textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam característi- cas sócio-comunicativas defi nidas por conteúdos característicos (...) Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Por exemplo: sermões, carta pessoal, carta comercial, romance, bilhete, ho- róscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, edital de concurso, outdoor, manuais de instrução, aula expositiva, reunião de condomínio, etc.” Vamos ler os textos abaixo e observar as semelhanças e diferenças entre eles: Texto 1 INCAPAZES No domingo (12/03/06), nós, brasileiros, tomamos mais um brutal choque de realidade por meio de duas importantes reportagens. Uma delas, publicada pelo GLOBO, traz informações contundentes sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil e mostra que, passados três anos da CPMI do Congresso Nacional que investigou o tema, as redes criminosas identifi cadas pelo nosso trabalho continuam atuando a pleno vapor, de norte a sul do país. A outra, veiculada pelo “Fantástico”, da Rede Globo, é o corajoso documentário sobre o envol- vimento de crianças e adolescentes no tráfi co de drogas, “Falcão – Me- ninos do tráfi co”, produzido pelo Rapper MV Bill e por Celso Athayde. Ambas retratam o Brasil real, o Brasil que, muitos de nós, que vi- vemos entre os salões Azul e Verde do Congresso Nacional, as CPIs e as acirradas disputas políticas, não conseguimos sentir, não conseguimos enfrentar. Não podemos mais perder um minuto sequer: sem uma ação contundente de resgate da nossa infância e da nossa adolescência, va- mos assistir à morte de milhares de meninos e meninas. A luta contra problemas complexos como o tráfi co de drogas e a exploração sexual não é uma tarefa simples. Mas é viável, sim, reverter esse ciclo vicioso que contaminou a vida de milhões de famílias brasi- leiras. O problema é que nós, sociedade brasileira; nós, políticos; nós, representantes do Poder Público; não temos sido capazes de enfrentar esse “monstro”, como disse o próprio Celso Athayde ao se referir à guer- ra instalada pelo tráfi co. Por que não conseguimos dar as condições necessárias para que essas famílias tenham uma vida digna? Será que é tão difícil concorrer com essas atividades ilícitas? Será que é tão difícil evitar que meninas façam programas sexuais pelo irrisório valor de 1,99 real, como mostramos na CPMI da Exploração Sexual e como continua acontecendo, segundo reportagem publicada no GLOBO? É fundamental garantir a toda criança brasileira uma educação de qualidade desde a primeira infância. Mas somente isso não basta. Temos que olhar para dentro dessas famílias. Recentemente, o econo- mista Ricardo Paes de Barros, um dos nossos maiores especialistas no combate à pobreza, fez uma sugestão bastante pertinente para que possamos avançar mais em ações como o Bolsa Família. Segundo ele, uma estratégia interessante para aprimorar o programa seria capacitar os nossos agentes de saúde, que já fazem um trabalho extraordinário em todo o Brasil, para que eles se transformem em agentes de atendimento integral às famílias. Assim, seria mais fácil conhecer as necessidades e as peculiaridades de cada uma dessas famílias, encurtando o caminho da libertação de ações de cunho assistencialista. Que o grito de socorro desses meninos e meninas seja capaz de nos tirar da inércia e de nos conduzir à construção de um país mais justo. (Patrícia Soboya Gomes, senadora (PSB-CE) - O Globo, 14/03/2006.) Curso Pré-Vestibular de Nova Iguaçu2 Texto 2 A DOIDA A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o córrego, onde os meninos costumavam banhar-se. (...) Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam o contrário: que era horroroso, poucos pe- cados seriam maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam demais, e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer visitas, receber cartas, entrar para irmandades. E isso não comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que miséria. E os três sentiam-se inclinados a lapidar a doida, isolada e agreste no seu jardim. (...) Vinte anos de tal existência, e a legenda está completa. Quarenta, e não há mudá-la. O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou- se no espírito das crianças. E assim, gerações sucessivas de moleques passavam pela porta, fi xavam cuidadosamente a vidraça e lascavam uma pedra. A princípio, como justa penalidade. Depois, por prazer. Final- mente, e já havia muito tempo, por hábito. Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a idéia de um equilíbrio por compensação, que afogava o remorso. (...) Os três verifi caram que quase não dava mais gosto apedrejar a casa. As vidraças partidas não se recompunham mais. A pedra batia no caixilho ou ia aninhar-se lá dentro, para voltar com palavras iradas. Ain- da haveria louça por destruir, espelho, vaso intato? Em todo caso, o mais velho comandou, e os outro obedeceram na forma do sagrado costume. Pegaram calhaus lisos, de ferro, tomaram posição. Cada um jogaria por sua vez, com intervalos para observar o resultado. O chefe reservou-se um objetivo ambicioso: a chaminé. O projétil bateu no canudo de folha-de-fl andres – blem – e veio es- patifar uma telha, com estrondo. Um bem-te-vi assustado fugiu da man- gueira próxima. A doida, porém, parecia não ter percebido a agressão, a casa não reagia. Então o do meio vibrou um golpe na primeira janela. Bam! Tinha atingido uma lata, e a onda de som propagou-se lá dentro; o meni- no sentiu-se recompensado. Esperaram um pouco, para ouvir os gritos. As paredes descascadas, sobas trepadeiras e a hera da grade, as janelas abertas e vazias, o jardim de cravo e mato, era tudo a mesma paz. Aí o terceiro do grupo, em seus onze anos, sentiu-se cheio de co- ragem e resolveu invadir o jardim. (...) O garoto empurrou o portão: abriu-se. Então, não vivia trancado?... e ninguém ainda fi zera a experiência. Era o primeiro a penetrar no jardim, e pisava fi rme, posto que cauteloso. (...) Tinha a pedra na mão, mas já não era necessária; jogou-a fora. Tudo tão fácil, que até ia perdendo o senso da precaução. Recuou um pouco e olhou para a rua: os companheiros tinham sumido. Ou estavam mesmo com muita pressa, ou queriam ver até aonde iria a coragem dele, sozinho em casa da doida. Tomar café com a doida. Mas onde estaria a doida? (...) O menino foi abrindo caminho entre as pernas e braços de móveis, contorna aqui, esbarra mais adiante. O quarto era pequeno e cabia tanta coisa. Atrás da massa do piano, encurralada a um canto, estava a cama. E nela, busto soerguido, a doida esticava o rosto para a frente, na investi- gação do rumor insólito. Não adiantava ao menino querer fugir ou esconder-se. E ele estava determinado a conhecer tudo daquela casa. De resto, a doida não deu nenhum sinal de guerra. Apenas levantou as mãos à altura dos olhos, e como para protegê-los de uma pedrada. Ele encarava-a, com interesse. Era simplesmente uma velha, joga- da num catre preto de solteiro, atrás de uma barricada de móveis. E que pequenininha! O corpo sob a coberta formava uma elevação minúscula. Miúda, escura, desse sujo que o tempo deposita na pele, manchando-a. E parecia ter medo. (...) O menino aproximou-se, e o mesmo jeito da boca insistia em soltar a mesma palavra curta, que entretanto não tomava forma. Ou seria um bater automático de queixo, produzindo um som sem qualquer signifi cação? Talvez pedisse água. A moringa estava no criado-mudo, entre vi- dros e papéis. Ele encheu o copo pela metade, estendeu-o. A doida pa- recia aprovar com a cabeça, e suas mão queriam segurar sozinhas, mas foi preciso que o menino a ajudasse a beber. Fazia tudo naturalmente, nem se lembrava mais por que entrara ali, nem conservava qualquer espécie de aversão pela doida. A própria idéia de doida desaparecera. Havia no quarto uma velha com sede, e que talvez estivesse morrendo. Nunca vira ninguém morrer, os pais o afastavam se havia em casa um agonizante. Mas deve ser assim que as pessoas morrem. Um sentimento de responsabilidade apoderou-se dele. Desajeita- damente, procurou fazer com que a cabeça repousasse sobre o travessei- ro. Os músculos rígidos da mulher não o ajudavam. Teve que abraçar-lhe os ombros – com repugnância – e conseguiu, afi nal, deitá-la em posição suave. Mas a boca deixava passar ainda o mesmo ruído obscuro, que fa- zia crescer as veias do pescoço, inutilmente. Água não podia ser, talvez remédio... Passou-lhe um a um, diante dos olhos, os frasquinhos do cria- do-mudo. Sem receber qualquer sinal de aquiescência. Ficou perplexo, irresoluto. Seria caso talvez de chamar alguém, avisar o farmacêutico mais próximo, ou ir à procura do médico, que morava longe. Mas hesi- tava em deixar a mulher sozinha na casa aberta e exposta a pedradas. E tinha medo de que ela morresse em completo abandono, como ninguém no mundo deve morrer, e isso ele sabia não apenas porque sua mãe o repetisse sempre, senão também porque muitas vezes, acordando no escuro, fi cara gelado por não sentir o calor do corpo do irmão e seu bafo protetor. Foi tropeçando nos móveis, arrastou com esforço o pesado armá- rio da janela, desembaraçou a cortina, e a luz invadiu o depósito onde a mulher morria. Com o ar fi no veio uma decisão. Não deixaria a mulher para chamar ninguém. Sabia que não poderia fazer nada para ajudá-la, a não ser sentar-se à beira da cama, pegar-lhe nas mãos e esperar o que ia acontecer. (ANDRADE, Carlos Drummond de. A doida. In: ___. Contos de aprendiz. 16ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 32-40.) Texto 3 REDAÇÃO DE UMA ALUNA DE PRÉ- VESTIBULAR Sobre uma fotografi a de jovens participantes do movimen- to “Caras pintadas” Na fotografi a, aparecem três jovens em cujos rostos se verifi ca, pin- tada, a frase “Fora Collor”. Todas vestem uma blusa preta e têm cabelos longos, sendo que os da segunda são mais claros do que os das outras. A primeira expressa um riso sutil e usa aparelho de dentes. A fi sionomia da segunda apresenta um tom maior de revolta e sua boca se encontra mais aberta. A terceira também mostra a boca aberta; seu tom de revolta é menor, porém. São moças do movimento dos “Caras pintadas”, que pediu o impeachment do presidente Collor, em 1992. (Fragmento) 2007 - Caderno 2 3 INTRODUÇÃO (Adaptado de OLIVEIRA, 2006) Observe que, embora as três composições abordem temas ligados à juventude (no primeiro, a autora expõe seu ponto de vista sobre a exploração sexual e o envolvimento do jovem com o tráfi co; no segundo, narra-se a história de um menino que amadurece depois de ter contato com uma mu- lher tida como louca pelos habitantes preconceituosos de uma cidade; e, no terceiro, descreve-se uma fotografi a de participantes do movimento dos “Caras pintadas”), a sua estruturação é bastante distinta. Os três defi nem-se, respectivamente, como: (a) dissertativo; (b) narrativo; e (c) descritivo. Confi ra, a seguir, uma pequena análise das referidas composições. 1. O TEXTO DISSERTATIVO A reportagem “Incapazes”, da senadora Patrícia Saboya Gomes, é um texto dissertativo porque, nele, a autora defende suas idéias acerca (a) da exploração sexual de jovens que se prostituíam a troco de R$ 1,99 e (b) do envolvimento de meninos com o tráfi co de drogas, denuncia- do pelo documentário “Falcão”, de MV Bill e Celso Athayde. Para que seu pensamento seja expresso de modo mais claro, a senadora valeu- se da estrutura: (1) Introdução; (2) Desenvolvimento; e (3) Conclusão. Na introdução, correspondente ao primeiro parágrafo, Patrícia expressa seu “brutal choque” frente aos dois problemas, revelando-se contrária a eles. No desenvolvimento, constituído dos três parágrafos seguintes, são lançados três argumentos que respaldam a tese da autora: (1) Tais problemas são também fomentados pelo descaso dos políticos, que só vivem “entre os salões Azul e Verde do Congresso Nacional, as CPIs e as acirradas disputas”; (2) Os problemas ainda não são resolvidos porque a sociedade como um todo os julga muito difíceis; e (3) É necessário se investir em educação e cuidar da própria estrutura das famílias. Por fi m, na conclusão, a senadora retoma sua tese, referindo-se ao “grito de socorro” expresso pelos jovens na reportagem de O Globo sobre a exploração sexual e no documentário “Falcão”. Ela demonstra sua re- volta acerca dos problemas apontados e diz ser urgente a tomada de consciência da sociedade para que o país se torne mais justo. Observe o esquema abaixo: Introdução Ponto de vista: a autora expõe seu “brutal choque” frente aos problemas de exploração sexual e envolvimento dos jovens com o tráfi co, revelando-se contrária a eles. 1º argumento: tais problemas são também fomentados pelo descaso dos políticos, que só vivem “entre os salões Azul e Verde do Congresso Nacional, as CPIs e as acirradas disputas”. Desenvolvimento 2º argumento: os problemas ainda não são resolvidos porque a sociedade como um todo os julga muito difíceis. 3º argumento: é necessário se investir em educação e cuidar da própria estrutura das famílias. Conclusão Síntese: retomada do ponto de vista contrário aos problemas de exploração sexual e envolvimento dos jovens com o tráfi co; ênfase na idéia de que a sociedade tem que se preocupar com o problema, a fi m de que o país se torne mais justo. Perceba, ainda, que os argumentos da autora não são subjetivos, isto é,são pressupostos pautados na lógica, no concreto. Melhor exem- plo disso é o terceiro, em que ela aponta a educação de qualidade como um fator muito importante na vida dos jovens, além de se respaldar nas idéias de um grande especialista no combate à pobreza, o economista Ricardo Paes de Barros. Veja, ainda, que Patrícia é categórica em seu discurso: em nenhum momento, ela usa a 1ª pessoa do singular e ex- pressões como “Eu acho que”, “Na minha opinião” e “A meu ver”. Tais características também pertencem ao texto dissertativo. 2. O TEXTO NARRATIVO Bem diferente da reportagem da senadora, todavia, é o conto “A doida”, do modernista Carlos Drummond de Andrade. Sua estruturação o defi ne como um texto narrativo. Nele, há a presença de um narrador por cuja voz se relata a comovente história de um menino que parece amadurecer ao se aproximar, de fato, da doida, concluindo que, antes de tudo, ela era uma mulher, uma vítima do preconceito da cidade. A morte da velha sugere que o jovem deixa de pensar como a massa e se individualiza, enxergando o mundo com outros olhos. Veja que o relato se foca, sobretudo, na ação das personagens: Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. O garoto empurrou o portão: abriu-se. Então, não vivia trancado?... e ninguém ainda fi zera a experiência. Era o primeiro a penetrar no jardim, e pisava fi rme, posto que cauteloso. De resto, a doida não deu nenhum sinal de guerra. Apenas levantou as mãos à altura dos olhos, e como para protegê-los de uma pedrada. Observe que ainda se fala do cenário em que se passa a história: “A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o córrego, onde os meninos costumavam banhar-se”. Também se delimita o tempo: “Vinte anos de tal existência, e a legenda está completa. Quarenta, e não há mudá-la” (após 40 anos, a doida ainda é maltratada pelas pesso- as). Não há, portanto, uma estrutura de (1) Introdução, (2) Desenvolvimento (argumentos 1, 2, 3...) e (3) Conclusão. É evidente, porém, que se defende uma determinada tese, mas esta é de ordem implícita e subjetiva: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, “O preconceito é letal”, “O contato com a morte amadurece os indivíduos”. O autor não a expõe de modo claro. Fica a cargo do leitor extrair essa idéia central. Frise-se, no entanto, que qualquer texto em que se narre, relate um dado acontecimento pode ser considerado narrativo. Nas composições literárias em prosa, como “A doida”, é mais fácil se verifi carem as ca- racterísticas de uma narração, mas, em textos jornalísticos, também se podem encontrar esses traços. Observe o seguinte trecho do jornal Folha de São Paulo, de 12/05/1999, em que se narra um acontecimento: Madrugada de 11 de agosto. Moema, bairro paulistano de classe média. Choperia Bodega – um bar da moda, freqüentado por jovens bem-nascidos. Um assalto. Cinco ladrões. Todos truculentos. Duas pessoas mortas: Adriana Ciola, 23, e José Tahan, 25. Ela, estudante. Ele, dentista. A cada dia, a violência aumenta mais na cidade de São Paulo e no país como todo. Veja que se marca o tempo (“Madrugada de 11 de agosto”), delimita-se o local (“Moema”, “Choperia Bodega”) e narra-se um acontecimento (“Um assalto”) envolvendo personagens (“Cinco ladrões”, “Adriana Ciola”, “José Tahan”). Não é um texto literário, mas constitui uma narração. Curso Pré-Vestibular de Nova Iguaçu4 3. O TEXTO DESCRITIVO Por fi m, distinto da reportagem de Patrícia Saboya e do conto de Drummond, tem-se o texto descritivo da aluna de um pré-vestibular. Por meio dele, a discente descreve três jovens que participaram do mo- vimento de impeachment contra o ex-presidente Collor. Observe que a autora descreve a pintura no rosto das meninas, seus cabelos, sua fi sio- nomia, seus trajes: “[...] três jovens em cujos rostos se verifi ca, pintada, a frase Fora Collor”; “têm cabelos longos”; “A fi sionomia da segunda apresenta um tom maior de revolta e sua boca se encontra mais aberta”; “Todas vestem uma blusa preta”. Vale dizer, entretanto, que existem dois tipos de descrição. A pri- meira, de que o aludido texto constitui exemplo, chama-se objetiva e se caracteriza pelo fato de o autor descrever a realidade do modo mais fi el possível, sem acrescentar suas impressões. A segunda defi ne-se como subjetiva e se confi gura a partir do olhar subjetivo do autor sobre o real. A título de ilustração, destaque-se o trecho da letra da música “Você é linda”, de Caetano Veloso, na qual o autor descreve a mulher amada de acordo com suas impressões, enxergando-a, devido à sua extrema beleza, como “fonte de mel” e “mãe do sol”: Fonte de mel Nuns olhos de gueixa Kabuki, máscara Choque entre o azul E o cacho de Acácias Luz das Acácias Você é mãe do sol A sua coisa é toda tão certa Beleza esperta Você me deixa a rua deserta Quando atravessa E não olha pra trás Linda E sabe viver Você me faz feliz Esta canção é só pra dizer E diz Você é linda Mais que demais Você é linda sim Onda do mar do amor Que bateu em mim (...) Leve-se em conta, ainda, que um texto descritivo não se caracteriza, necessariamente, por descrever uma pessoa. Outros elementos podem servir de fonte, tais como um objeto, um lugar, uma roupa e uma paisagem. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ainda vale dizer que, apesar de se classifi car um determinado texto como dissertativo, narrativo ou descritivo, tal categorização não é abso- lutamente fechada. Por exemplo, no que se refere à reportagem “Incapa- zes”, verifi cam-se características de narração e descrição, embora o texto seja dissertativo: No domingo (12/03/06), nós, brasileiros, tomamos mais um brutal choque de realidade por meio de duas importantes reportagens. Uma delas, publicada pelo GLOBO, traz informações contundentes sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil e mostra que, passados três anos da CPMI do Congresso Nacional que investigou o tema, as redes criminosas identifi cadas pelo nosso trabalho continuam atuando a pleno vapor, de norte a sul do país. A outra, veiculada pelo “Fantástico”, da Rede Globo, é o corajoso documentário sobre o envolvimento de crianças e adolescentes no tráfi co de drogas, “Falcão – Meninos do tráfi co”, produzido pelo Rapper MV Bill e por Celso Athayde. Observe que se narra um fato (a veiculação da reportagem e a exibição do documentário), delimita-se o tempo (“No domingo”) e se mostram personagens (“O GLOBO”, “crianças e adolescentes”, “Congresso Nacional”, “Fantástico”, “MV Bill”, “Celso Athayde”). Além disso, verifica-se a descrição tanto da reportagem de 12/03 (“[...] traz informações contundentes sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes”; “mostra que [...] as redes criminosas iden- tificadas pelo nosso trabalho continuam atuando a pleno vapor”) quanto de “Falcão – Meninos do tráfico” (“[...] é o corajoso docu- mentário sobre o envolvimento de crianças e adolescentes no tráfico de drogas”; “produzido pelo Rapper MV Bill e por Celso Athayde”). Em síntese, percebeu-se que, mesmo versando sobre assuntos que tratam, também, da questão da juventude e apresentando alguns traços em comum (como no caso da reportagem de Patrícia Saboya, em que se verificam características de narração e descrição), os três textos definem-se de modos distintos. Segundo Branca Granatic (1999: 13), os tipos de composição estudados assim se caracteri- zam: Dissertação É o tipo de composição na qual expomos idéias gerais, seguidas da apresentação de argumentos que as promovem. Narração É a modalidade de redação na qual contamos um ou mais fatos que ocorreram em determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Descrição É o tipo de redação na qual se apontam as características que compõem um determinado objeto, pessoa,ambiente ou paisagem. ATIVIDADES DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS TEXTO 1 FAROESTE CABOCLO 1. Letra e música: Renato Russo Não tinha medo o tal João de Santo Cristo Era o que todos diziam quando ele se perdeu Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu Quando criança só pensava em ser bandido Ainda mais quando com tiro de soldado o pai morreu Era o terror da cercania onde morava E na escola até o professor com ele aprendeu Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar Sentia mesmo que era mesmo diferente Sentia que aquilo ali não era o seu lugar 2007 - Caderno 2 5 Ele queria sair para ver o mar E as coisas que ele via na televisão Juntou dinheiro para poder viajar E de escolha própria escolheu a solidão Comia todas as menininhas da cidade De tanto brincar de médico aos doze era professor Aos quinze foi mandado pro reformatório Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror Não entendia como a vida funcionava Descriminação por causa da sua classe e sua cor Ficou cansado de tentar achar resposta E comprou uma passagem foi direto a Salvador E lá chegando foi tomar um cafezinho E encontrou um boiadeiro com quem foi falar E o boiadeiro tinha uma passagem Ia perder a viagem mas João foi lhe salvar: Dizia ele “-Estou indo pra Brasília Nesse país lugar melhor não há To precisando visitar a minha fi lha Eu fi co aqui e você vai no meu lugar” E João aceitou sua proposta E num ônibus entrou no Planalto Central Ele fi cou bestifi cado com a cidade Saindo da rodoviária viu as luzes de natal “- Meu Deus mas que cidade linda! No Ano Novo eu começo a trabalhar” Cortar madeira aprendiz de carpinteiro Ganhava cem mil por mês em Taguatinga Na sexta feira foi pra zona da cidade Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador E conhecia muita gente interessante Até um neto bastardo do seu bisavô Um peruano que vivia na Bolívia E muitas coisas trazia de lá Seu nome era Pablo e ele dizia Que um negócio ele ia começar E Santo Cristo até a morte trabalhava Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar E ouvia às sete horas o noticiário Que dizia sempre que seu ministro ia ajudar Mas ele não queria mais conversa E decidiu que como Pablo ele ia se virar Elaborou mais uma vez seu plano santo E sem ser crucifi cado a plantação foi começar Logo logo os maluco da cidade Souberam da novidade “-Tem bagulho bom ai!” E João de Santo Cristo fi cou rico E acabou com todos os trafi cantes dali Fez amigos, freqüentava a Asa Norte Ia pra festa de Rock pra se libertar Mas de repente Sob um má infl uência dos boyzinhos da cidade Começou a roubar Já no primeiro roubo ele dançou E pra inferno ele foi pela primeira vez Violência e estupro do seu corpo “-Vocês vão ver, eu vou pegar vocês!” Agora Santo Cristo era bandido Destemido e temido no Distrito Federal Não tinha nenhum medo de polícia Capitão ou trafi cante, playboy ou general Foi quando conheceu uma menina E de todos os seus pecados ele se arrependeu Maria Lúcia era uma menina linda E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu Ele dizia que queria se casar E carpinteiro ele voltou a ser “-Maria Lúcia eu pra sempre vou te amar E um fi lho com você eu quero ter” O tempo passa E um dia vem na porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão E ele faz uma proposta indecorosa E diz que espera uma resposta, uma resposta de João “-Não boto bomba em banca de jornal E nem em colégio de criança Isso eu não faço não E não protejo general de dez estrelas Que fi ca atrás da mesa com o cu na mão E é melhor o senhor sair da minha casa Nunca brinque com um peixe de ascendente escorpião” Mas antes de sair, com ódio no olhar O velho disse: “-Você perdeu a sua vida, meu irmão!” “-Você perdeu a sua vida, meu irmão” “-Você perdeu a sua vida, meu irmão” Essas palavras vão entrar no coração “-Eu vou sofrer as conseqüências como um cão.” Não é que o Santo Cristo estava certo Seu futuro era incerto E ele não foi trabalhar Se embebedou e no meio da bebedeira Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar Falou com Pablo que queria um parceiro Que também tinha dinheiro e queria se armar Pablo trazia o contrabando da Bolívia E Santo Cristo revendia em Planaltina Mas acontece que um tal de Jeremias Trafi cante de renome apareceu por lá Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo E decidiu que com João ele ia acabar. Mas Pablo trouxe uma Winchester 22 E Santo Cristo já sabia atirar Curso Pré-Vestibular de Nova Iguaçu6 E decidiu usar a arma só depois Que Jeremias começasse a brigar Jeremias maconheiro sem vergonha Organizou a Roconha e fez todo mundo dançar Desvirginava mocinhas inocentes E dizia que era crente mas não sabia rezar E Santo Cristo há muito não ia pra casa E a saudade começou a apertar “-Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia Já está em tempo de a gente se casar” Chegando em casa então ele chorou E pra inferno ele foi pela segunda vez Com Maria Lúcia Jeremias se casou E um fi lho nela ele fez Santo Cristo era só ódio pro dentro E então o Jeremias pra um duelo ele chamou “-Amanhã, as duas horas na Ceilândia Em frente ao lote catorze é pra lá que eu vou E você pode escolher as suas armas Que eu acabo com você, seu porco traidor E mato também Maria Lúcia Aquela menina falsa pra que jurei o meu amor” E Santo Cristo não sabia o que fazer Quando viu o reporter da televisão Que a notícia do duelo na TV Dizendo a hora o local e a razão No sábado, então as duas horas Todo o povo sem demora Foi lá só pra assistir Um homem que atirava pelas costas E acertou o Santo Cristo E começou a sorrir Sentindo o sangue na garganta João olhou as bandeirinhas E o povo a aplaudir E olhou pro sorveteiro E pras câmeras e a gente da TV que fi lmava tudo ali E se lembrou de quando era uma criança E de tudo o que viveu até aqui E decidiu entrar de vez naquela dança “-Se a via-crucis virou circo, estou aqui.” E nisso o sol cegou seus olhos E então Maria Lúcia ele reconheceu Ela trazia a Winchester 22 A arma que seu primo Pablo lhe deu “-Jeremias, eu sou homem. Coisa que você não é Eu não atiro pelas costas, não. Olha pra cá fi lha da puta sem vergonha Dá uma olhada no meu sangue E vem sentir o teu perdão” E Santo Cristo com a Winchester 22 Deu cinco tiros no bandido traidor Maria Lúcia se arrependeu depois E morreu junto com João, seu protetor O povo declarava que João de Santo Cristo Era santo porque sabia morrer E a alta burguesia da cidade não acreditava na história Que ele viram da TV E João não conseguiu o que queria Quando veio pra Brasília com o diabo ter Ele queria era falar com o presidente Pra ajudar toda essa gente que só faz Sofrer a. Torne-se personagem da história de João de Santo Cristo, es- colha o elemento (paisagem, cena, pessoas) que mais lhe chamou a atenção e redija, em 1ª pessoa, um texto da tipologia descritiva sobre ele (10-15 linhas). Sugestões: a fazenda em que Santo Cristo vivia; o reformatório; Salvador; o boiadeiro; a viagem a Brasília; Pablo, Maria Lúcia ou Jeremias; Discussão com o “general de dez estrelas” na porta de casa; Confronto fi nal. b. De modo dilacerante, João de Santo Cristo morre ao fi nal da música. Redija uma história (tipologia narrativa) em que o fi nal seja mudado (15-20 linhas). Libere a imaginação! c. “E João não conseguiu o que queria / Quando veio pra Brasília com o diabo ter / Ele queria era falar com o presidente / Pra ajudar toda essa gente que só faz / Sofrer”. Agora, suponha que você é o próprio João de Santo Cristo, não morreu e tem a possibilidade de, por meio de uma carta endereçada ao presidente, defender melhores condições de vida para o povo brasileiro. Eleja um dado aspecto social (educação, saúde, trabalho, transporte)e, baseado em argumentos fortes, mostre sua importância a Luís Inácio Lula da Silva. O texto deve ser predominantemente dissertativo / argu- mentativo (15-20 linhas). TEXTO 2 POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL João Gostoso era carregador de feira-livre no morro da Babilônia num barracão Sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (Manoel Bandeira) 2. Qual a tipologia textual predominante no poema de Bandeira? 3. Retextualize o poema acima, transformando-o em uma notícia de jornal, organizada predominantemente de maneira narrativa. Use a criatividade e pense em que jornal será: O Globo, Jornal do Brasil, O Povo... 2007 - Caderno 2 7 4. Agora escreva uma notícia de jornal que critique o comportamento de João Gostoso, organizada predominantemente de maneira disserta- tiva (lembre-se de deixar o texto mais impessoal). Use a criatividade e pense em que jornal será: O Globo, Jornal do Brasil, O Povo... TEXTO 3 DOMINGO NO PARQUE O rei da brincadeira - ê, José O rei da confusão - ê, João Um trabalhava na feira - ê, José Outro na construção - ê, João A semana passada, no fi m da semana João resolveu não brigar No domingo de tarde saiu apressado E não foi pra Ribeira jogar Capoeira Não foi pra lá pra Ribeira Foi namorar O José como sempre no fi m da semana Guardou a barraca e sumiu Foi fazer no domingo um passeio no parque Lá perto da Boca do Rio Foi no parque que ele avistou Juliana Foi que ele viu Juliana na roda com João Uma rosa e um sorvete na mão Juliana, seu sonho, uma ilusão Juliana e o amigo João O espinho da rosa feriu Zé E o sorvete gelou seu coração O sorvete e a rosa - ô, José A rosa e o sorvete - ô, José Oi, dançando no peito - ô, José Do José brincalhão - ô, José O sorvete e a rosa - ô, José A rosa e o sorvete - ô, José Oi, girando na mente - ô, José Do José brincalhão - ô, José Juliana girando - oi, girando Oi, na roda gigante - oi, girando Oi, na roda gigante - oi, girando O amigo João – João O sorvete é morango - é vermelho Oi, girando, e a rosa - é vermelha Oi, girando, girando - é vermelha Oi, girando, girando - olha a faca! Olha o sangue na mão - ê, José Juliana no chão - ê, José Outro corpo caído - ê, José Seu amigo, João - ê, José Amanhã não tem feira - ê, José Não tem mais construção - ê, João Não tem mais brincadeira - ê, José Não tem mais confusão - ê, João 5. Faça uma história, como se fosse um depoimento, com base na letra de música “Domingo no parque”, de Gilberto Gil, contando o que aconteceu na perspectiva de Juliana, João ou José. Inclua algum trecho descritivo na sua narrativa. TEXTO 4 O trecho a seguir é uma descrição do autor da música Domingo no parque. Faça um texto a ser veiculado em um cartaz, descrevendo alguma personalidade: cantor(a), ator (atriz) ou jogador de futebol, vôlei etc.), sem identifi car quem você está descrevendo. Depois, leia seu texto para ver se a turma descobre de quem se trata. Gilberto Gil: Gilberto Passos Gil Moreira nasce em Salvador, Bahia, a 29 de junho de 1942. Passa a infância em Ituaçu, inte- rior baiano, onte tem contato com sanfoneiros e violeiros. Ouve também ídolos do rádio, como Luís Gonzaga. Em 1950 vai es- tudar em Salvador e, enquanto faz o ginásio, estuda também acordeom. Em 1960 ingressa na Universidade Federal da Bahia para cursar administração de empresas. Em 1963 lança seu pri- meiro disco, Gilberto Gil - sua música, sua interpretação. Participa de alguns festivais de MPB. Em 1968 lança o disco Gilberto Gil, ligado à tropicália, movimento que teve Gil e Ca- etano Veloso entre as figuras mais exponenciais. Em dezembro desse mesmo ano é preso em São Paulo, vítima do Ato Institu- cional nº5. Em Julho de 1969, exila-se em Londres, voltando ao Brasil somente em 1972. Lança vários discos, entre eles, Tro- picália ou Panis et Circensis (1968), Um Banda Um (1981), Quanta (1997). Em 1990, é homenageado com o Prêmio Shell para a Música Brasileira, pelo conjunto de sua obra. TEXTO 5 6. Leia o anúncio classifi cado abaixo, com a descrição de uma cadelinha, e responda: a. Comparando com o texto sobre Gilberto Gil, as duas descrições são objetivas ou subjetivas? Identifi que passagens dos textos que justifi quem sua resposta. b. Compare o anúncio abaixo com outros das páginas de classifi ca- dos dos jornais. É comum os classifi cados serem assim como esse? Que diferenças você identifi ca? c. Reescreva o anúncio da cadelinha Juma, para que ele seja publi- cado num jornal como O Dia ou O Globo, por exemplo. Curso Pré-Vestibular de Nova Iguaçu8 Receita escrita e receita falada TEXTO 6 PÃO DOCE - Receita Básica Ingredientes ¼ lata de Leite Moça 1 tablete de fermento para pão(15g) ½ kg de farinha de trigo 2 colheres(sopa) de manteiga 1 ovo 1 colher (café) de sal ½ xícara (chá) de água Modo de Preparo 1. Numa tigela, dilua o Leite Moça em ½ xícara (chá) de água morna e dissolva aí o fermento. Junte uma quantidade de farinha sufi cien- te para dar a consistência de massa líquida, como para panqueca. Cubra amassa e deixe descansar, em lugar protegido até crescer e formar bolhas. 2. Sobre a mesa de trabalho, ou numa tigela grande, faça um montinho com a farinha que sobrou. Abra uma cova na farinha e coloque a manteiga, o ovo e o sal. Despeje a massa líquida fermentada e junte os ingredientes com a ponta dos dedos, acrescentando a água aos poços até dar a liga. 3. Trabalhe bem a massa durante 5 minutos, até que fi que fi rme e bem lisa. Em seguida, dê o formato que quiser. Se for rechear, abra a massa, recheie e enrole como rocambole. Coloque o pão numa as- sadeira, cubra e deixe descansar em um lugar protegido até dobrar de volume. 4. Leve o pão para assar no forno quente (200º C) previamente aque- cido, por meia hora. Rendimento: 10 a 15 porções Dicas: Para saber se o pão está pronto para ser assado, faça o seguin- te: separe uma bolinha de massa na hora de colocá-la para descansar. Mergulhe essa bolinha em um copo com água e deixe. Quando a bolinha fl utuar, a massa estará crescida e pronta para assar. Variações: - Junte 4 colheres (sopa) de Chocolate em Pó Nestlé à massa. - Depois de pronto, polvilhe o pão com uma mistura de açúcar e canela em pó. - Faça uma calda com 2 colheres (sopa) de açúcar de confeiteiro e 3 colheres (sopa) de suco de limão. Cubra o pão doce e depois de pronto comum essa calda. TEXTO 7 PIZZA Pra fazer a pizza de carne moída... bom, eu pego 1kg de carne mo- ída..., misturo com um... pacote de creme de cebola, bem mis- turadinho, aí eu pego uma ...ahn... uma forma redonda, média, e espalho essa... essa mistura, formando uma... forrando o fundo da fôrma. Antes de espalha, coloco um pouquinho de óleo no fundo. Daí eu ponho no forno e deixo... a carne fi car... mais ou menos as- sada. Depois, eu tiro do forno, coloco por cima uns... dois tomates picados em cubinhos, temperados com... com... azeite, orégano, cebola, sal e... ponho umas fatias, ponho isso aí por cima da carne moída, ponho isso aí por cima da carne moída, ponho umas fatias de mussarela, e volto pro forno. Quando a mussarela derreter, está pronto para servir. Fica uma delícia! Se você quiser pode pôr tam- bém batata...já pré-cozida, né, cortada em cubinhos, cenoura, ovo cozido... cortado em... fatias, incrementa do jeito que você quiser, depois põe a ... a mussarela por cima, deixa derreter a mussarela e ta pronto. (Maria Aparecida Boschi Ribeiro, professora) 7. Qual é a tipologia textual predominante na receita escrita? E na receita falada? Justifi que sua resposta transcrevendo alguns trechos. 8. Os dois textos pertencem ao mesmo gênero textual? Justifi que. 9. Após a leitura das receitas, observe a diferença quanto à organização do texto e identifi queque partes presentes na receita escrita não se en- contram na falada. 10. O que causa “estranhamento” na receita falada? 11. Existem diversas marcas lingüísticas diferentes presentes nos textos das receitas falada e escrita. Dentre elas, identifi que: a) os tempos verbais b) a tipologia textual predominante c) a pontuação d) a progressão temática TEXTO 8 ANTES DE 1007 Segundo o tal relatório sobre os que nos espera se as coisas continuarem assim, mesmo se medidas drásticas forem tomadas agora para diminuir os efeitos do aquecimento global só serão sen- tidos daqui a mil anos. O que nos leva a imaginar o que deveria ter sido feito há mil anos para impedir que chegássemos a este ponto. Se uma missão de prevenção retroativa pudesse ser mandada ao passado, que sinais ela deveria procurar de que se iniciava o pro- cesso que ameaçaria a vida no planeta, mil anos depois? O que poderia ser feito para evitar o processo? Deixa ver. Mil anos atrás. O ano 1007. Um programa de cons- cientização do público teria que começar com recomendações para controlar o número de fogueiras e queimadas e diminuir o fogo nos fogões, e em hipótese alguma adotar aquela novidade, o carvão, que só traria sujeira e desgraça. O carvão, aliás, deveria ser proi- bido antes de as pessoas descobrirem o que era. Todos teriam que ser convencidos de que a mula, o cavalo, o boi, a carroça e, vá lá, a carruagem eram o máximo que se poderia desejar em matéria de transporte e que o melhor era mesmo acabar com aquela mania de ir de um lugar para o outro. Todo o mundo deveria fi car sossegado em casa, principalmente, deixar de inventar coisas ou pensar fazer coisas, acima de tudo coisas cuja feitura produzisse fumaça. Mas talvez o ano de 1007 já fosse tarde demais. Em vez de voltar mil anos nossa hipotética missão salvadora teria que voltar vários milhares de anos e, com sorte, chegar à idade da pedra las- cada no local exato e na hora certa. - Pare! - O quê? - O que você está fazendo. - Mas eu só estava... - Inventando a roda. Ainda bem que chegamos a tempo. Você não tem idéia do que estava começando. Parando agora, você es- tará salvando milhões de vidas humanas. Estará salvando o próprio planeta. Desista. Invente outra coisa. - Mas eu só estava fazendo uma mesa de centro. 2007 - Caderno 2 9 - É o que você pensa. Estava inventando o automóvel. O engarrafamento, o monóxido de carbono, os cartéis do petróleo, guerras... - Mas... - Faça uma mesa de centro quadrada. E outra coisa. - O quê? - Nos leve ao cara que está descobrindo como fazer o fogo. - Por quê? - Temos que eliminá-lo. (Luiz Fernando Veríssimo - Jornal O Globo, 15/03/2007.) 12. O texto de Veríssimo é uma crônica. Que tipologia(s) textual(is) po- demos encontrar nele? Há alguma predominante? 13. Este texto foi publicado no jornal O Globo na página reservada para os artigos de opinião. Segundo as características textuais, a presença do humor e o assunto tratado, o texto estaria adequado à página? Justifi que sua resposta. 14. A partir de que tema o autor desenvolve o texto? 15. Qual a perspectiva adotada no texto: presente para o passado ou presente para o futuro? Justifi que. 16. Que relação o título do texto “Antes de 1007” mantém com o assunto discutido? 17. Para sanar o problema levantado pelo autor, que tanto se discute na sociedade, que hipóteses são construídas? 18. A partir do seu conhecimento de mundo, apresente soluções, em forma de tópicos, para o problema do aquecimento global. 19. A partir dos tópicos levantados na questão anterior, produza um ar- tigo de opinião, da tipologia argumentativa, de 20 a 25 linhas, apre- sentando sua posição com relação ao aquecimento global. Comparação de textos de jornal Texto 9 NA COLA DOS MILICIANOS Um miliciano vigia a favela Kelson’s Secretário diz que já sabe nomes e unidades de policiais envolvi- dos com grupos paramilitares Um dia depois da morte de nove pessoas durante confl itos que envolveram PMs e trafi cantes de drogas na área da favela Kelson’s, na Penha, o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que já tem um relatório com nomes de policiais envolvidos com milícias, os locais onde atuam e as unidades em que trabalham. Ele não quis dizer a quantidade de homens investigados, mas adiantou que não é pequena: - É um número grande. A maior difi culdade, segundo ele, é obter provas de ligações de policiais com milícias: - Não adianta eu ir à favela e trazer um miliciano preso, sem provas. Assim, ele vai sair da delegacia junto comigo. Precisamos ter inteligência policial e apresentar provas. Também ontem, o delgado titular da 22º DP (Penha), Alcides Iantorno de Jesus, afi rmou que trafi cantes não queriam retomar o controle da favela Kelson’s, mas sim se vingar de três pessoas consideradas traidoras por terem ligações com a milícia que pas- sou a dominar a área: o pedreiro Sidnei Moreira de Azevedo, de 32 anos, Adão Mário Rodrigues Neto, de 26 anos, e Noelson Ribeiro de Azeredo, de 52. Policiais investigam se as três vítimas colaboravam com os trafi cantes antes de a milícia assumir o controle. O pedreiro tinha cinco passagens pela polícia por tráfi co, roubo e furto. Ele teria erguido um muro na favela por ordem de milicianos. Adão, por sua vez, tinha relação com a ex-namorada de um dos bandidos expulsos da Kelson’s. Ele levou vários tiros na genitália. - Os bandidos sabiam a hora da troca de guarda da milícia e se aproveitaram disso. Também conheciam o endereço das três vítimas – disse o delegado. A 22º DP também tenta esclarecer as circunstâncias do as- sassinato do cabo Luiz Cláudio de Souza Vargas, de 34 anos, do 16º BPM (Olaria), e descobrir se ele tinha relação com a milícia da Kelson’s. O policial foi encontrado baleado numa picape. O coman- dante do batalhão, tenente-coronel José Luiz Nepomuceno, instau- rou uma sindicância para apurara supostas ligações de policiais com a milícia local. Cinco responsáveis pelo ataque foram mortos pela PM quando fugiam pela Avenida Brasil. (Jornal Extra, 17/02/2007.) Texto 10 COBRA TÁ FUMANDO NA KELSON’S CV quer se vingar Ação de domingo tinha objetivo de matar três moradores que se aliaram à milícia O delegado-titular da 22º DP (Penha), Alcides Antorno, disse on- tem que os três moradores da favela Kelson’s, na Penha, que foram mortos na manhã de domingo – o pedreiro Noelson Ribeiro de Azeve- do, Adão Mário Rodrigues Neto e Sidnei Moreira de Azevedo – foram considerados traidores por trafi cantes do Comando Vermelho (CV), que haviam sido expulsos da favela em novembro pela milícia. “Eles morreram porque traíram o CV. Foram retirados de suas casas e executados à vista dos moradores. Os invasores não que- riam retomar os pontos de venda de drogas que perderam para a milícia”, disse o delegado. Passagens pela polícia Segundo Iantorno, a princípio pensou-se que o pedreiro havia sido executado apenas por ter erguido muro a favela a mando dos milicianos. “Ele era muito conceituado na comunidade. Quando levantamos sua fi cha criminal, descobrimos que tinha cinco passagens pela polícia e estava sendo processado pela Justiça”, explicou. Adão tinha uma passagem pela polícia por uso de drogas, e a polícia ainda levanta a vida de a Sidnei. Curso Pré-Vestibular de Nova Iguaçu10 Além dos três, morreram o cabo PM Luiz Cláudio de Souza Vargas, do 16º BPM (Olaria), que estava de licença médica, e cinco bandidos, que encontraram equipe do 16º BPM (Olaria) quando fugiam em direção à Av. Brasil. Dois foram identifi cados: Leonardo Oliveira de Souza e Alex Silva de Oliveira. (Jornal Meia Hora, 17/02/2007) Texto 11 DELEGADO: TRÁFICO FOI À FAVELA PARA SE VINGAR Relatório mostra que polícia sabia que poderiam ocorrer novos confrontos entre os bandidos e os milicianosO delegado titular da 22ª DP (Penha), Alcides Iantorno de Je- sus, afi rmou ontem que trafi cantes não tentaram retomar o controle da favela Kelson’s, anteontem, numa ação que acabou com a morte de nove pessoas. Segundo o policial, o objetivo dos bandidos foi se vingar de três pessoas, consideradas traidoras por terem liga- ções com a milícia que passou a dominar a área: o pedreiro Sidnei Moreira de Azevedo, Adão Mário Rodrigues Neto e Noelson Ribeiro de Azeredo. Policiais investigam se as três vítimas colaboravam com os tra- fi cantes antes da milícia assumir o controle da favela. O pedreiro tinha cinco passagens pela polícia, por tráfi co, roubo e furto. Ele teria erguido um muro na favela, por ordem dos milicianos. Adão, por sua vez, namorava a ex-namorada de um dos bandidos expulsos da Kelson’s. Seu corpo estava crivado de balas na área genital. A polícia sabia que novos confrontos entre trafi cantes e mili- cianos poderiam ocorrer. Segundo um relatório obtido pela Rede Globo, policiais envolvidos com as milícias estariam arregimen- tando homens para retomar o controle da Cidade Alta, invadida no dia 3 por trafi cantes. Os bandidos teriam, porém, se antecipado à reação dos milicianos e invadido anteontem o reduto deles, a Fave- la Kelson’s. Segundo o comandante da PM, Ubiratan Ângelo, as in- formações foram checadas pela polícia, que teria fi cado no entorno das favelas para evitar a entrada ou saída de grupos envolvidos na disputa: “Isso não evitou coisas em pontos isolados da Kelson’s, mas o que houve em frente da patrulha acabou em confronto. Secretário tem relatório de policiais ligados a milícias A 22ªDP também tenta esclarecer as circunstâncias do assas- sinato do cabo Luiz Cláudio de Souza Vargas, do 16º BPM(Olaria), e descobrir se ele tinha relação com a milícia da Kelson’s. O policial foi encontrado baleado numa picape, em frente ao mercadão São Sebastião, próximo à favela. O comandante do batalhão, tenente- coronel José Luiz Nepomuceno, instaurou uma sindicância para apurar a ligação de policiais com a milícia. Cinco dos trafi cantes responsáveis pelo ataque na favela foram mortos pela PM, quando fugiam pela Av. Brasil. O comandante também espera uma orien- tação da Secretaria de Segurança para saber como proceder em relação ao muro que teria sido erguido por ordem da milícia: “En- tramos em favelas para retirar barreiras feitas com trilhos. Também podemos derrubar muros, se essa for a determinação.” Com a violência na Kelson’s, a Marinha montou uma barricada com tonéis e pedaços de madeira no principal acesso à favela, na Av. Lobo Júnior, ao lado de um quartel da corporação. O Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que já tem um rela- tório com nomes de policiais envolvidos com milícias, os locais onde eles atuariam e as unidades em que trabalham. Beltrame não quis dizer a quantidade de profi ssionais investigados:”É um núme- ro substancial. A maior difi culdade, segundo ele, é obter provas de ligações com as milícias.(...). Não adianta eu ir à Vila Joaniza e trazer um miliciano preso, sem provas, que ele vai sair da delega- cia junto comigo. Precisamos ter inteligência policial e apresentar provas. Vila Joaniza vai continuar ocupada pela PM Na Vila Joaniza, na Ilha do Governador, onde um portão foi instalado supostamente pelos milicianos, a situação permanece tranqüila. Segundo o comandante do 17º BPM (Ilha), tenente-co- ronel Célio da Cunha, os trafi cantes não retomaram o controle do local. “O morro permanece ocupado”, disse o comandante. (Jornal O Globo, 13/02/07) 20. Os textos 9, 10 e 11 falam sobre o mesmo assunto: as milícias na favela Kelson’s. No entanto, o(s) veículo(s) de comunicação em que foram publicados são distintos – os jornais O Globo, Meia-hora e Extra. Compare as três reportagens e destaque o que mais chama a atenção quanto aos aspectos abaixo: a. linguagem utilizada b. detalhes do fato c. presença ou não de entrevistas de autoridades ou testemunhas 21. As três notícias trabalham com sentenças narrativas e descritivas e incluem diferentes tipos de discursos. a. Retire dos textos exemplos de trechos narrativos e descritivos. b. Identifi que os tipos de discurso utilizados no texto “Na cola dos milicianos” e transcreva alguns exemplos. c. Quais as marcas utilizadas para marcar a mudança da narrativa para a fala no texto 1? E nos textos 2 e 3? 22. As três notícias trabalham sobre o mesmo foco: a invasão das milí- cias à favela Kelson´s. Apesar de todos os textos apresentarem o mesmo fato, existe alguma diferença nas abordagens? Justifi que.
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