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DIREITO EMPRESARIAL I

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DIREITO EMPRESARIAL I
DIREITO COMERCIAL: EVOLUÇÃO HISTÓRICA
O SISTEMA FRANCÊS (TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO)
	No direito de tradição romanística podem ser divididos dois sistemas de disciplina privada da economia: o francês, em que as atividades econômicas agrupadas em dois grandes conjuntos, sujeitos a sub-regimes próprios, qualificam-se como civis ou comerciais; e o italiano, em que se estabelece o regime geral para o exercício das atividades, do qual se exclui a exploração de algumas poucas, que reclamam tratamento específico.
	A elaboração doutrinária fundamental do sistema francês é a teoria dos atos de comércio, com ela o direito comercial deixou de ser apenas o direito de uma certa categoria de profissionais, organizados em corporações próprias, para se tornar a disciplina de um conjunto de atos que, em princípio, poderiam ser praticados por qualquer cidadão.
	A partir da segunda metade do século XII, com os comerciantes e artesões se reunindo em corporações de artes e ofícios, inicia-se o primeiro período histórico do direito comercial. Nele, as corporações de comerciantes constituem jurisdições próprias cujas decisões eram fundamentadas, principalmente nos usos e costumes de seus membros. Resultante da autonomia corporativa, o direito comercial de então se caracteriza pelo acento subjetivo e apenas se aplica aos comerciantes associados à corporação.
	Na última metade do século XVI inicia-se o segundo período do direito comercial. No processo de unificação nacional da Inglaterra e França, a uniformização das normas jurídicas sobre as atividades econômicas desempenha papel de especial importância, antecedendo em certa medida a própria criação da identidade cultural e política. Na Inglaterra, a absorção da jurisdição das corporações mercantis pelos tribunais da Common Law é total, enquanto no continente ocorre um processo parcial. Em França, as corporações de comerciantes, paulatinamente, perdem competência jurisdicional para tribunais do Estado nacional em gestação, mas continua a existir um direito fundado nos usos e costumes dos comerciantes e apenas a eles aplicável, caracterizado pelo subjetivismo.
	O terceiro período do direito comercial, em sua evolução histórica, inicia-se com a codificação napoleônica. O sentido da passagem para a terceira fase evolutiva do direito comercial, ou seja, da adoção da teoria dos atos de comércio como critério de identificação do âmbito de incidência deste ramo da disciplina jurídica, restringe-se à abolição do corporativismo. A partir do terceiro período do direito comercial, qualquer cidadão pode exercer atividade mercantil, e não apenas os aceitos em determinada associação profissional;
	A teoria dos atos de comércio resume-se a uma relação de atividades econômicas, sem que entre elas se possa encontrar qualquer elemento interno de ligação, o que acarretaria indefinições no tocante à natureza mercantil de algumas delas.
	O elo entre as diversas atividades abrangidas pelo elenco dos atos de comércio, contudo, não se encontra senão externamente. Isto é, a unidade dos atos mercantis reside apenas em sua relação com as atividades profissionais de uma classe social, a burguesia.
O SISTEMA ITALIANO (TEORIA DA EMPRESA)
	Em 1942, o Códice Civile passa a vigorar e disciplinar, na Itália, tanto a matéria civil como a comercial, e inaugurou a última etapa evolutiva do direito comercial nos países de tradição romanística.
	O modelo italiano de regular o exercício da atividade econômica sob o prisma privatístico, encontra a sua síntese na teoria da empresa. Essa teoria, contudo, bem examinada, apenas desloca a fronteira entre os regimes civil e comercial. A teoria da empresa é, sem dúvida, um novo modelo de disciplina privada da economia, mais adequada à realidade do capitalismo superior. Mas por meio dela não se supera, totalmente, um certo tratamento diferenciado das atividades econômicas. O acento da diferenciação deixa de ser posto no gênero da atividade e passa para a medida da importância no mercado.
	Conceitua-se empresa como sendo a atividade, cuja marca essencial é a obtenção de lucros com o oferecimento, ao mercado, de bens ou serviços, gerado estes, mediante a organização de fatores de produção (força de trabalho, obra prima, capital e tecnologia}). Sendo uma atividade, a empresa, não tem natureza jurídica de sujeito ou de coisa. Em outros termos, não se confunde com o empresário (sujeito) nem com o estabelecimento empresarial (coisa).
	Como atividade econômica, profissional e organizada, a empresa tem estatuto jurídico próprio, que possibilita o seu tratamento com abstração até mesmo do empresário. A separação entre empresa e empresário é apenas um conceito jurídico, destinado a melhor compor os conflitos de interesses relacionados com a produção ou circulação de certos bens ou serviços.
OS PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL
PRINCIPIO DA LIVRE INICIATIVA
	Este princípio assegura aos agentes econômicos o acesso e a permanência no mercado, podendo dizer que há uma liberdade de empresa, impedindo que o Estado intervenha na atividade econômica.
	Desdobra-se o princípio da livre iniciativa no reconhecimento de determinadas condições para o funcionamento mais eficiente do modo de produção.
	A primeira é a afirmação da imprescindibilidade, no sistema capitalista, da empresa privada para o atendimento das necessidades e querências de cada um e de todos.
	A segunda condição em que se desdobra o princípio é a do lucro como fator principal de motivação da iniciativa privada; o lucro obtido com a exploração regular lícita da empresa.
	A terceira condição diz respeito à importância, para toda a sociedade, da proteção jurídica liberada no investimento privado, feito com vistas ao fornecimento de produtos ou serviços, na criação, consolidação ou ampliação de mercados consumidores e desenvolvimento econômico.
	Por fim, o quarto desdobramento reconhece na empresa privada um importante polo gerador de postos de trabalho e tributos, bem como fomentador de riqueza local, regional, nacional e global.
PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE CONCORRÊNCIA
		A liberdade de concorrência é o que garante o fornecimento, ao mercado, de produtos ou serviços com qualidade crescentes e preços decrescentes. Ao competirem pela preferência do consumidor, os empresários se empenham em aparelhar suas empresas visando à melhoria da qualidade dos produtos ou serviços, bem como ajustá-los com o objetivo de economizar nos custos e possibilitar redução dos preços, tudo com vistas a potencializar o volume de vendas e obter mais lucros.
	A regra básica da competição empresarial, que decorre do princípio da livre concorrência, implica a premiação das decisões empresarialmente “acertadas” (com o lucro) e penalização das “equivocadas” (com o prejuízo, ou se o caso, a falência).
	Esta regra não pode ser neutralizada por nenhuma norma jurídica, para que todos possam se beneficiar dos resultados esperados pela livre concorrência: melhoria da qualidade e redução dos preços de produtos ou serviços.
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA
	Cumpre sua função social, a empresa que gera empregos, tributos e riquezas, contribui para o desenvolvimento econômico, social e cultural da comunidade em que atua, de sua região ou do país, adota práticas empresariais sustentáveis visando à proteção do meio ambiente e ao respeito dos direitos do consumidor. Se sua atuação é consentânea com estes objetivos, e se desenvolve com estrita obediência às leis que se encontra sujeita, a empresa está cumprindo sua função social.
PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA
	Quando se assenta, juridicamente, o princípio da preservação da empresa, o que se tem em mira é a proteção da atividade econômica, como objeto de direito cuja existência e desenvolvimento interessam não somente ao empresário, ou aso sócios da sociedade empresária, mas a um conjunto bem maior de sujeitos. O que se busca preservar é a atividade, o empreendimento.
O EMPRESÁRIO
Empresário é a pessoa que toma a iniciativa de organizar uma atividade econômicade produção ou circulação de bens ou serviços. Essa pessoa pode ser tanto física, que emprega seu dinheiro e organiza individualmente, como a jurídica, nascida da união de esforços de seus integrantes.
	Em termos técnicos, contudo, empresa é a atividade, e não a pessoa que a explora; e empresário não é o sócio, mas a própria sociedade. É necessário, assim, acentuar de modo enfático, que o integrante de uma sociedade (o sócio) não é o empresário; não está, por conseguinte, sujeito as normas que definem os direitos e deveres dos empresários.
SOCIEDADE EMPRESÁRIA
	Como é a própria pessoa jurídica a empresária, o correto é falar-se “sociedade empresária”. A sociedade empresária assume cinco formas admitidas pelo direito comercia, sendo as mais comuns: sociedade por quotas de responsabilidade limitada (LTDA) ou a de uma sociedade anônima (S.A.)
	A sociedade limitada, normalmente relacionada à exploração de atividades econômicas de pequeno porte e médio porte, é constituída por um contrato celebrado entre sócios. O seu ato constitutivo é o contrato social. Já a sociedade anônima se relaciona à grandes atividades econômicas e o documento básico de disciplina das relações entre os sócios se denomina estatuto.
	A sociedade limitada tem como representante legal o administrador, escolhido e substituído pela maioria societária qualificada. Já na sociedade anônima, a representação legal cabe ao diretor, eleito em assembleia geral.
REQUISITOS PARA O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL
	Toda aquele que deseja ser empresário deverá ter capacidade civil, pois os atos praticados por ele, só terão validade se forem realizados com capacidade civil plena, alcançada pelo atingimento da maioridade ou pela emancipação.
	A lei autoriza a figura do incapaz em duas hipóteses, sendo a primeira por meio de incapacidade superveniente ou por meio de herança, desde que dê continuidade a uma empresa já existente. As condições para o exercício da empresa pelo incapaz são: autorização judicial; representação; proteção patrimonial ou limitação do risco e; proibição do exercício da gerência ou administração da empresa.
	Exige a lei também, que àquele que deseja exercer a atividade empresarial se encontra ausente de impedimentos legais
OBRIGAÇÕES GERAIS DO EMPRESÁRIOS
	Os empresários estão sujeitos às seguintes obrigações: A) registrar-se na Junta Comercial antes de dar início à exploração de sua atividade; B) manter escrituração de seus negócios; C) levantar demonstrações contábeis periódicas.
	O empresário que não cumpre suas obrigações gerais: simplesmente não consegue entabular e desenvolver negócios com empresários regulares; vender a Administração Pública; contrair empréstimos bancários, requerer a recuperação judicial, etc. Sua empresa será informal, clandestina, sonegadora de impostos.
REGISTRO DE EMPRESAS
	A partir da lei nª 8.934/94 qualquer sociedade com finalidade econômica, independentemente de seu objeto, podia-se se registrar na Junta Comercial. Com a entrada em vigor do novo Código Civil, o âmbito do registro pelas Juntas Comerciais voltou a se restringir. Apenas as sociedade empresárias devem ser registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas e as voltadas a serviços de advocacia devem ter seus atos constitutivos levados à OAB.
ÓRGÃOS DE REGISTROS DE EMPRESAS
	O registro de empresas encontra-se a cargo do Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI.
	O DREI é órgão federal. Suas atribuições não são de execução do registro de empresa, mas de normatização, disciplina, supervisão e controle deste registro.
	As Juntas Comerciais, por sua vez, têm função executiva. Cabe-lhes, em essência, a prática dos atos registrários, o arquivamento de sociedade, autenticação de livros e outros. Além disso, é de sua competência a expedição de carteira de exercício profissional, o assentamento de usos e práticas dos comercializantes e a habilitação e nomeação de tradutores públicos e interpretes.
ATOS DE REGISTRO DE EMPRESAS
	São três os atos compreendidos pelo registro de empresas: a matrícula, o arquivamento e a autenticação (lei nº 8.934/94, art. 32). A matrícula e seu cancelamento dizem respeito a alguns profissionais cuja atividade é, muito por tradição, sujeita ao controle das Juntas.
	O arquivamento se refere à grande generalidade dos atos levados ao registro de empresas. Assim, os de constituição, alteração, dissolução e extinção de sociedade empresárias são arquivadas na Junta. Também serão objetos de arquivamento a firma individual, os atos relativos a consórcio e grupo de sociedade, as autorizações de empresas estrangeiras e as declarações de microempresas. Do mesmo modo, será arquivado, qualquer documento que, por lei, deva ser registrado pela Junta Comercial, como por exemplo, as atas de assembleias gerais de sociedades anônimas. Esses documentos todos de registro obrigatórios, só produzem efeitos jurídicos válidos, após a formalidade do arquivamento.
PROCEDIMENTO E REGIMES DE REGISTRO
	A matricula, o arquivamento e a autenticação de atos pela Junta Comercial submetem-se a dois regimes de decisão singular. O regime de decisão colegiada é reservada para a tramitação de atos de maior complexidade, enquanto o de decisão singular se observa no registro dos menos complexos.
	Os atos submetidos a registro devem ser apreciados na Junta no prazo legal. Para os atos sujeitos ao regime de decisão colegiada, a lei prescreveu o prazo de cinco dias uteis, para os demais dois dias uteis, sempre a contar do protocolo na Junta. Se o prazo é ultrapassado, considera-se registado o ato para todos os efeitos legais.
	Em termos precisos, submete-se à decisão colegiada das Turmas o arquivamento de atos relacionados às sociedades anônimas, consórcios e grupos de sociedade, bem como os pertinentes as operações de transformações, incorporação, fusão e cisão (lei nº 8.934/94, art. 41, I). Submete-se, por outro lado, a decisão colegiada em Plenário, o julgamento de recursos administrativos interpostos contra atos praticados pelos demais órgãos da Junta (lei nº 8.934/94, arts. 19 e 41, II). Ao seu termo, o regime de decisão singular é observado nos registros de todos os demais atos, como a alteração de contrato de sociedade limitada.
CONSEQUENCIAS DA FALTA DE REGISTRO: SOCIEDADE EMPRESÁRIA IRREGULAR
	A principal sanção imposta à sociedade empresária que explora irregularmente sua atividade econômica, isto é, que funciona sem registro na Junta Comercial, é a responsabilidade ilimitada dos sócios pelas obrigações da sociedade. Os sócios poderão vir a responder com o seu próprio patrimônio por todas as obrigações da sociedade, se não for providenciado o registro do respectivo ato constitutivo na Junta Comercial.
	Além dessa sanção, a sociedade empresária irregular não tem legitimidade ativa para o pedido de falência de outro comerciante e não pode requerer a recuperação judicial (lei de Falências arts. 51, V e 97, §1º).
	A falta de registro na Junta Comercial importa, também, a aplicação de sanções de natureza fiscal e administrativa, como a impossibilidade de inscrição da pessoa jurídica no CNPJ e a matrícula do empresário no INSS.
ESCRITURAÇÃO
	Os empresário têm o dever de manter a escrituração dos negócios de que participam (art. 1.179/CC), ou seja, o exercício regular da atividade empresarial pressupõe a organização de uma contabilidade a cardo de profissionais habilitados.
	A escrituração possui três funções. Serve de instrumentos à tomada de decisões administrativas, financeiras e comerciais, por parte dos empresários e dos dirigentes da empresa; serve de suporte para as informações de interesse de terceiros, como sócios, investidores, parceiros empresariais, bancos credores ou órgãos públicos licitantes; e serve também para a fiscalização do cumprimento de obrigações legais, inclusive e principalmente de natureza fiscal.
ESPÉCIES DE LIVROS	
	Os livros podem ser contábeis e simplesmente memoriais, e se classificam em obrigatórios e facultativos. Obrigatórios são os livros cuja escrituração é impostaaos empresários, sua falta implica sanções.
	O primeiro livro obrigatório é o Diário. Trata-se de livro contábil, em que se deve lançar, dia a dia, diretamente ou por reprodução, os atos ou operações de atividade empresarial, bem como os atos que modificam ou podem modificar o patrimônio do empresário. O Código Civil prevê a obrigatoriedade apenas deste livro (art. 1.180/CC)
CONSEQUENCIA DA FALTA DE ESCRITURAÇÃO
	Devem ser distinguidos duas ordens de consequências: de uma lado, as sancionadoras, de outro, as motivadoras. As primeiras importam a penalização do empresário, inclusive pela imputação de responsabilidade penal; as outras apenas negam o acesso do empresário a um benefício de que poderia usufruir caso tivesse cumprido a obrigação. São duas as consequências sancionadoras: na órbita civil, a eventual presunção de veracidade dos fatos alegados pela parte adversa em medida judicial de exibição de livros; na órbita penal, a tipificação de crime falimentar. São duas as motivadoras: a inacessibilidade à recuperação judicial e ineficácia probatória de escrituração.
CARACTERIZAÇÃO/CONCEITO DE ME, EPP, MEI E PEQUENO EMPRESÁRIO
Para efeitos de explicação e incidência da LC 123/06 (Estatuto da ME) considera-se Microempresa: aquela que obtenha receita bruta ANUAL igual ou inferior a R$ 360.000,00; Empresa de Pequena Porte (EPP): aquela que obtenha renda bruta ANUAL superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 3.500.000,00; Microempreendedor individual: o empresário individual que trata o art. 956 do Cód. Civil que tenha aferido renda bruta máxima definida em lei hoje de R$ 60.000,00, optante do SIMPLES NACIONAL, que não tenha participação em outra empresa como sócio ou titular, e ainda que atenta aos seguintes requisitos: 1) só pode contratar um empregado remunerado com um salário mínimo; 2) só pode ter um estabelecimento empresarial; Pequeno empresário: para efeito de tratamento favorecido quanto ao registro e dispensa da escrituração, considera-se PE aquele caracterizado como microempresa e que tenha obtido receita bruta ANUAL, hoje, de até R$ 60.000,00 (CC art’s 970 e 1.179, §2º; LC 123/06 arts. 18-A e 60)
ESCRITURAÇÃO DA MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE
	Em 2006, com a aprovação do novo Estatuto da Microempresa, por meio da Lei Complementar nº 123/06, o microempresário e o empresário de pequeno porte optantes do Simples Nacional estão dispensados da obrigação de escrituração imposta à generalidade de empresários, mas devem escriturar o livro caixa. Os microempresários individuais (MEI) são os únicos empresários dispensados do dever de mante qualquer escrituração (CC art. 1.179, §2º; e LC nº 123/06, art. 68).
BENEFÍCIOS OU TRATAMENTO FAVORECIDO. 
As Microempresa e Empresa de Pequeno Porte gozam de prerrogativas legais de várias ordens: a) Registro, fiscalização e baixa: - os órgãos públicos deverão considerar a unicidade do processo de registro e de legalização de empresários e de pessoas jurídicas, buscando, em conjunto, compatibilizar e integrar procedimentos de modo a evitar a duplicidade de exigências; - simplificação e racionalização dos requisitos de segurança sanitária, metrologia, controle ambiental e prevenção contra incêndios, para os fins de registro e legalização de empresários e pessoas jurídicas; - emissão de Alvará de Funcionamento Provisório, salvo nos casos em que o grau de risco da atividade seja considerado alto; - garantia de registro dos atos constitutivos, de suas alterações e extinções (baixas) independentemente da regularidade de obrigações tributárias, previdenciárias ou trabalhistas, principais ou acessórias (sem prejuízo das responsabilidades do empresário, dos sócios ou dos administradores por tais obrigações, apuradas antes ou após o ato de extinção); b) Dispensa da aposição de assinatura de Advogado nos atos constitutivos de microempresas e empresas de pequeno porte (§ 2 o do art. 1o da Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994); c) Regime Especial e Simplificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições – SIMPLES NACIONAL e Documento Único. Obs.: - Extensão do regime de tributação simplificada aos profissionais intelectuais (não-empresários), conforme §5º-I (especialmente inciso XII) do art. 18 da LC 123/2006; d) Escrituração, inclusive quanto às obrigações fiscais acessórias. Variação conforme se trate de ME/EPP optante ou não do Simples Nacional. Obs.: Pequeno empresário e o MEI estão dispensados da escrituração. Este, no entanto, poderá ser obrigado a apresentar declaração relativa ao recolhimento da contribuição previdenciária e do FGTS de seu empregado, bem como registro de vendas para aferição de seu faturamento anual; e) Tratamento favorecido nas licitações do poder público quanto à documentação e ao desempate; f) Facilitação de acesso às linhas de crédito fornecidas por bancos públicos/estatais; g) Acesso à justiça: - as sociedades enquadradas como ME/EPP podem ser autoras no âmbito dos Juizados Especiais (exceto se cessionárias de direitos de pessoa jurídica); - na Justiça do Trabalho, podem ser representadas por preposto sem vínculo empregatício
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PERIÓDICAS
	A terceira das obrigações imposta aos empresários é a de levantar balanços anuais, patrimonial e de resultado (art. 1.179/CC).
	Quando se trata de sociedade limitada, a obrigação se resume ao levantamento do balanço geral do ativo (considerados todos os bens, dinheiro e créditos) e passivo (todas as obrigações de que é devedora); e a demonstração de resultados, observados as técnicas aceitas pela contabilidade (art. 1.188/CC).
	Se, no entanto, a sociedade empresária adota a forma de anônima ou se enquadra no conceito legal de sociedade de grande porte (lei nº 11.638/07, art. 3º, parágrafo único) a disciplina legal é bem mais detalhada. O balanço patrimonial deve apresentar determinadas contas de ativo (circulante, realizável a longo prazo e permanente, este último subdividido em imobilizado, diferido e investimentos) e de passivo (circulante, exigível a longo prazo, resultado futuros e patrimônio líquido, subdividido este último em capital social, reservas e lucros ou prejuízos acumulados). Em relação a este tipo de empresário, a lei também exige, além do balanço patrimonial, o levantamento de quatro outras demonstrações contábeis: lucros ou prejuízos acumulados, resultado do exercício, dos fluxos de caixa e valor adicionado.
	Quanto à periodicidade para a elaboração das demonstrações contábeis é, em regra anual. No entanto existem apenas duas exceções: as sociedades anônimas cujo estatuto estabeleça a distribuição de dividendos semestrais (Lei da Sociedade Anônima, art. 204) e as instituições financeiras (lei nº 4.595/64, art. 31). Nestes casos, o período para a elaboração do balanço e demais demonstrativos é semestral.
	As consequências para a falta das demonstrações periódicas contábeis, são as seguintes: a) o empresário terá dificuldade de acesso ao crédito bancário, ou a outros serviços prestados pelos bancos que se valem do balanço como instrumento de aferição da idoneidade econômica e patrimonial de seus clientes; B) não poderá participar de licitação promovida pelo Poder Público; C) os administradores de sociedade anônima e os da limitada responderão, perante os sócios, por eventuais prejuízos advindos da inexistência do documento.
EXERCÍCIO INDIVIDUAL DA EMPRESA
	No Brasil, vigora o princípio da unicidade do patrimônio. Cada sujeito de direito tutela, em regra, um único patrimônio, composto pelos bens de sua titularidade, incluindo ativos e passivos.
	No patrimônio da pessoa natural que se dedica à exploração de uma atividade empresarial individualmente, encontram-se indistinguíveis tanto os ativos e passivos relacionadas à empresa, como os não relacionados.
	Como se trata de um só patrimônio, sem a distinção, de um lado dos ativos e passivos relacionados à empresa, e do outro, dos não relacionados, o credor pode pleitear a satisfação de seu crédito mediante a expropriação de quaisquer dos bens do empresário individual, sendo indiferente se ativoe passivo estão ligados – ou não – à exploração da atividade empresarial.
EIRELI (EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA)
	A EIRELI foi introduzida no Brasil em 2011. Não pode ser conunfidida com o empresário individual. Trata-se, como claramente definiu a lei de uma pessoa jurídica (art. 44, VI/CC).
	Trata-se de pessoa jurídica específica (uma só natural) para o exercício de atividade empresarial, com capital não inferior à cem vezes o valor do salário mínimo vigente, cujo patrimônio responderá pela dívida do Empresário Individual. Consiste numa forma de organizar a empresa cuja a finalidade é desvincular os bens patrimoniais da pessoa natural ao empresário dos riscos comuns à empresa.
EMPRESÁRIO RURAL E PEQUENO EMPRESÁRIO
	Ao dispor sobre a obrigação geral imposta aos empresários de se inscreverem na Junta Comercial antes de darem início as suas atividades, cuidou a lei de excepcionar duas hipóteses: os empresários rurais e os pequenos empresários.
	O empresário rural está dispensado de requerer a sua inscrição no registro de empresas, mas pode fazê-lo se optar por se registrar na Junta Comercial, será considerado empresário e submeter-se-á ao regime correspondente. Caso, porém, o empresário rural não requeira a inscrição no regime de empresas, não se considera juridicamente empresário e seu regime será o do direito civil.
	O microempresário e o empresário de pequeno porte, por sua vez têm constitucionalmente assegurado o direito a tratamento jurídico diferenciado, com o objetivo de estimular-lhes o crescimento com a simplificação, redução ou eliminação de obrigações, administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias (art. 179/CF). o Código Civil, aparentemente em consonância com o preceito constitucional, dispensou o empresário de pequeno porte da obrigação geral de registro na Junta Comercial (art. 970/CC).
ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
CONCEITO
	Estabelecimento empresarial é o conjunto de bens que o empresário reúne para a exploração de sua atividade econômica. Compreende os bens indispensáveis ou úteis ao desenvolvimento da empresa. Trata-se de elemento indissociável à empresa. Não existe como dar início à exploração de qualquer atividade empresarial, sem a organização de um estabelecimento.
	Ao organizar o estabelecimento, o empresário agrega aos bens reunidos um sobre valor. Isto é, enquanto esses bens permanecerem articulados em função da empresa, o conjunto alcança, no mercado, uma valor superior à simples soma de cada um deles em separado As perspectivas de lucratividade da empresa abrigada no estabelecimento compõem, por outro lado, importante elemento de sua avaliação, ou seja, algo porque também se paga.
	O valor agregado ao estabelecimento é referido, no meio empresarial, como goodwill of trade. No meio jurídico é referido como fundo de comércio.
NATUREZA DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL
	Existem nove teorias diferentes sobre a natureza do estabelecimento comercial. Da rica discussão; basta apenas destacar três pontos essenciais: 1) o estabelecimento não é sujeito de direito; 2) o estabelecimento empresarial é um bem; 3) o estabelecimento empresarial integra o patrimônio da sociedade empresária.
ELEMENTO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
	O estabelecimento empresarial é composto por elementos materiais e imateriais. No primeiro grupo estão todos os bens corpóreos que o empresário utiliza na exploração da empresa. Os elementos imateriais são, principalmente, os bens industriais e o ponto. Abrange esse grupo institutos jurídicos tradicionalmente estudados pelo direito comercial.
A PROTEÇÃO AO PONTO – LOCAÇÃO EMPRESARIAL
	Ao se estabelecer uma das principais questões que o empresário deve equacionar diz respeito à localização do seu negócio. Em função do vulto do empreendimento, do tipo de atividade, do perfil da clientela potencial, tem fundamental importância o local em que se situa o estabelecimento.
	O ponto – também chamado de propriedade comercial – é o local em que o empresário se estabelece. É um dos fatores decisivos para o sucesso do seu empreendimento. Por essa razão, o interessa voltado à permanência no ponto é prestigiado pelo Direito. Denomina-se direito de inerência ao ponto, o interesse juridicamente protegido do empresário relativo à permanência de sua atividade no local onde se encontra estabelecido.
	Quando o proprietário do imóvel em que se estabelece o ponto, seu direito de inerência é assegurado pelo direito de propriedade de que é titular. Quando locatário é assegurado pelo prorrogação compulsória.
REQUISITO DA LOCAÇÃO EMPRESARIAL
	Classificam-se as locações prediais urbanas em duas categorias: a residencial e a não residencial. Nesta última categoria, encontram-se os contratos em que o locatário é autorizado a explorar, o prédio locado, uma atividade econômica. Por outro lado, se o locatário do ponto, na locação não residência, é titular de direito de inerência ao ponto e pode pleitear judicialmente a renovação compulsória do contrato, então a locação é empresarial. Nem toda a locação, em que o imóvel abriga a exploração de atividade econômica, portanto, dá ao empresário direito à renovação. É necessário, para que a locação seja empresarial, o atendimento aos seguintes requisitos do art. 51 da lei nº 8.245/91: a) contrato escrito com prazo determinado; b) mínimo de cinco anos de relação locatícia; c) exploração da mesma atividade econômica por pelo menos três anos ininterruptos.
EXCEÇÃO DE RETOMADA
	Na locação empresarial, o direito do locatário de inerência ao ponto tem o seu fundamento em lei ordinário (Lei nº 8.245/91, art. 51). De outro lado, o direito de propriedade do locador é constitucionalmente garantido (art. 5º, XXII/CF). Por esta razão, tutela do interesse na renovação do contrato de locação que aproveita o locatário, não pode importar o esvaziamento do direito real titularizado pelo locador. Nesse sentido sempre que houve conflito interesse entre locatário e locador, prevalecerá este último.
	A lei de locações (lei nº 8.245/91) assinala algumas hipóteses em que o locador tem seu interesse favorecido sobre o locatário. As situações previstas na lei (art. 52 e 72, II e III) são as seguintes: A) realização de obras no imóvel, que importem sua radical transformação, por exigência do poder Público; B) reformas no imóvel, que o valorizem, pretendidas pelo locador; C) insuficiência da proposta apresentada, na ação renovatória; D) proposta melhor de terceiros; E) transferência de estabelecimento existente há mais de um ano, pertencente ao cônjuge, ascendente ou descendente do locador, ou a sociedade por ele controlado; F) uso próprio.
	Nestas situações o locador pode resistir eficazmente à pretensão do locatário, voltada à pretensão do vínculo locatício.
AÇÃO RENOVATÓRIA
	O direito de inerência ao ponto é exercido por meio de uma ação judicial própria, denominada ação renovatória. Esta ação deve ser proposta pelo locatário no prazo de decadência assinalado pela lei, isto é, entre um ano e seis meses antes do término do prazo do contrato a renovar. Se o locatário não conseguir negociar com o locador antes do fim desse prazo, a assinatura do novo contrato de locação por escrito, deve promover ação renovatória, para assegurar o seu direito.
	Note-se que a perda do prazo para a ação renovatória não importa fim do vínculo locatício. Neste caso a locação perde o caráter empresarial e o sujeito locatário, sujeita-se à retomada do bem, pelo locador, mediante simples aviso com trinta dias de antecedência.
	O mérito de contestação do locador pode ter três fundamentos: a) desatendimento dos requisitos da locação empresarial; b) decadência do direito à renovação; c) exceção de retomada
INDENIZAÇÃO DO PONTO
	A forma de compatibilizar a retomada, bem como os legítimos interesses do locatário – que criou o fundo de comércio ou empresa – é a sua indenização.
	Não é qualquer hipótese de desacolhimento da ação renovatória que resulta na indenização ao ponto, e sim, apenas, à exceção de retomada pelo locador garante ao locatárioo direito de ser indenizado.
	Os pressupostos para o empresário ter direito à indenização pela perda do ponto são três: a) caraterização da locação como empresarial, atendendo aos requisitos formais, temporais e materiais; b) ajuizamento da ação renovatória dentro do prazo; c) acolhimento de exceção à retomada.
	Caberá a indenização pela perda do ponto nas seguintes hipóteses: a) exceção de retomada for existência de proposta melhor de terceiro; b) se o locador demorou mais de três meses, contados da entrega do imóvel para dar-lhe o destino alegado na exceção de retomada; c) exploração, no imóvel, da mesma atividade do locatário; d) insinceridade da exceção de retomada.
	A indenização deve cobrir os prejuízos e lucro cessantes em decorrência tanto da mudança como da perda do lugar e desvalorização.
SHOPPING CENTER
	Se o proprietário de um terreno constitui nele espaços relativamente autônomos, e organiza a distribuição desses espaços de forma a locá-los para pessoas interessadas em explorar determinadas atividades econômicas predefinidas, ele é considerado empresário. Ele é titular de empresa do ramo shopping center. As ocupações dos espaços devem atender às múltiplas necessidades do consumidor. O empreendimento compreende, inclusive, uma relativa organização da competição empresarial. Este aspecto abrange não só as promoções de venda conjuntas, a definição de ramos de atividades que podem ou devem ser exploradas com maior ou menor visibilidade, em razão das evoluções do mercado de consumo, como também a proibição da competição de consumo, como também a proibição da competição autofágica sem a organização de concorrência interna, não se pode considerar shopping center uma simples concentração de lojas num mesmo prédio.
	Entre o empreendedor e lojista existe um contrato de locação, embora revestido de cláusulas especiais com vistas ao atendimento das características próprias do shopping center. Estas cláusulas dizem respeito, essencialmente, à remuneração devida pelo lojista ao empreendedor, e costumam desdobrar o aluguel numa parcela fixa, reajustável segundo índice e periodicidade contratados, e noutra variável proporcional ao faturamento do locatário.
	O shopping center é um empreendimento peculiar, em que espaços comerciais são alugados para empresários com determinados perfis, de forma que o complexo possa atender diversas necessidades dos consumidores.
	Além do aluguel, há outras obrigações de natureza pecuniária assumidas pelo locatário de loja em shopping center. Geralmente, paga-se uma prestação denominada resperata, retributiva das vantagens de se estabelecer num complexo comercial que já possui uma clientela constituída. Também devem os locatários filiar-se à associação dos lojistas, pagando a mensalidade de associado correspondente. Caberá à associação custear despesas de interesse comum, notadamente como publicidade.
	A lei de locações, admite claramente a renovação compulsória do contrato de locação de espaços em shopping center (lei nº 8.245/91, art. 52, §2º). Deve-se ressaltar contudo que se a renovação importa prejuízo ao empreendimento, caberá exceção de retomada.
ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
	O estabelecimento empresarial pode ser vendido pelo empresário que o titulariza. O contrato de compra e venda de estabelecimento denomina-se trespassem e é muitas vezes proposto no meio empresarial por meio da expressão “passa-se o ponto”. No trespasse, o estabelecimento deixa de integrar o patrimônio de um empresário (o alienante) e passa para outro (o adquirente). Objeto da venda é o complexo de bens corpóreos e incorpóreos, envolvidos com a exploração de uma atividade empresarial.
A QUESTÃO DA SUCESSÃO
	Com a engrada em vigor do novo Código Civil, alterou-se o tratamento da matéria: o adquirente do estabelecimento empresarial, responde por todas as obrigações relacionadas ao negócio explorado naquele local, desde que regularmente contabilizados, e cessa responsabilidade do alienante por todas estas obrigações no prazo de um ano (art. 1.146). O contrato de alienação do estabelecimento empresarial deve ser levado a registro na Junta Comercial e publicado na imprensa oficial. Além, dessas formalidades, se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o passivo relacionado ao estabelecimento vendido, a eficácia do contrato ficará na dependência do pagamento de todos os credores ou da anuência destes. Em decorrência, o empresário que pretende alienar o seu estabelecimento empresarial deve solicitar o prévio consentimento dos seus credores. Este pode ser expresso ou tácito. O alienante apenas está dispensado da precaução na hipótese em que permanece solvente, mesmo após a alienação (art. 1.145).
	Considera-se sucessor o adquirente do estabelecimento, quando a obrigação do alienante se encontrava regularmente contabilizada. Independentemente de regular escrituração, o adquirente é sempre sucessor do alienante, em relação às obrigações trabalhistas e fiscais ligadas ao estabelecimento.
	A regular contabilização da dívida para fins de responsabilização do adquirente do estabelecimento empresarial, não se exige em relação a passivos de duas ordens: trabalhista e tributário. Também não se verifica relativamente a essas obrigações a liberação do alienante no prazo de um ano.
TRESPASSE E LOCAÇÃO EMPRESARIAL 
	Na maioria dos casos, o estabelecimento empresarial se encontra em prédio pela sociedade empresária. Quando assim é, o trespasse envolve necessariamente a cessão de locação, que depende de autorização do locador (lei nº 8.245/91, art. 13) ou pode se ocasionar a recisão desta em noventa dias seguintes à publicação (art. 1.148/CC). O adquirente do estabelecimento empresarial situado em imóvel locado, desse modo, deve negociar não apenas com o titular do fundo de empresa (empresário e locatário), como também com o dono de imóvel (locado), pagando eventualmente luvas a esse último. A ausência do locador para a cessão da locação pode ser expressa ou tácita, caracterizando-se a última pela sua inércia, no prazo de trinta dias, após a notificação dos trespasse. Se não manifestada a concordância do locador por uma dessas formas, sujeita-se o adquirente a retomado do imóvel a qualquer tempo (Lei nº 8.245/91, art. 9º, II). Além disso, o empresário não terá direito a ação renovatória, ainda que preenchidos os requisitos legais característicos da locação empresarial, mesmo que o locador não tenha manifestado oposição formal (lei 8.245/91, art. 13, §1º).
	Em ocorrendo a recisão da locação empresarial nesses termos, o alienante deve indenizar o adquirente pelos danos decorrentes. Desse modo, para fins de preservar a integridade de seus investimentos, o empresário ao locar imóvel para a instalação de empresa, deve negociar com o locador a inserção, no contrato de locação, da anuência prévia, para eventual cessão ou disposição contratual expressa que contemple a sub-rogação. O adquirente do estabelecimento empresarial, umas vez dada a autorização pelo locador, para a cessão ou sub-rogação da locação, poderá aproveitar dos prazos relativos ao alienante, para fins de ajuizamento de ação renovatória.
CLÁUSULA DE NÃO RESTABELECIMENTO
	A cláusula de não restabelecimento veda a exploração, pelo alienante, da mesma atividade econômica do adquirente por prazo, em caso de silencio das partes em cinco anos (art. 1.148/CC), de modo a impedir o enriquecimento indevido do alienante, por meio de desvio eficaz de clientela.
DIREITO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL
CONCEITO E FINALIDADE
 O estudo do direito da propriedade industrial é limitado – DPI enquanto conceito objetivo: um conjunto de normas jurídicas que disciplina a tutela da propriedade industrial, especialmente a concessão de registro e de patente de bens industriais, sua exploração econômica, a exclusividade, o licenciamento, e as causas de extinção da propriedade industrial. 
Pode-se afirmar que o DPI tem por finalidades principais: - assegurar ao titular da propriedade industrial a exploração econômica de seu bem com exclusividade;- evitar a contrafação (o uso indevido ou desautorizado da propriedade industrial, falsificação, imitação); e - incentivar e estimular o surgimento de novas criações que levem ao desenvolvimento tecnológico e econômico do país, tendo em vista o interesse social. (CF, art. 5º, XXIX) 
PRINCÍPIOS 
Princípio da Territorialidade: Segundo o qual a proteção estatal conferida à propriedade industrial é limitada ao território do país no qual obtido o registro ou a patente. Ex.: art. 129 da LPI que dispõe sobre a territorialidade do registro de marca. Exceções: Prioridade unionista: Ao titular de pedido de depósito efetuado em qualquer país unionista (signatário da Convenção da União de Paris) assegura-se, por certo prazo (12 meses para patentes e 06 meses para registros), o direito de pedir, com preferência ou prioridade, a concessão da patente ou do registro nos outros países signatários do tratado e nos quais pretende explorar o bem industrial. Assim, dentro do prazo estabelecido no DPI aquele depósito surte efeitos tal como se não existisse fronteira entre os países, verificando-se uma extensão territorial da eficácia do depósito e da tutela jurídica. Em outras palavras, a quem apresenta pedido/depósito num país unionista garante-se, temporariamente, o direito de preferência para pedir a concessão nos demais países. Há previsão na nossa LPI, nos artigos 16, 99 e 127. Marca notoriamente conhecida: É aquela notoriamente conhecida em seu ramo ou classe de atividade e que por isso goza de proteção especial mesmo sem estar registrada, que se limita a uma ou algumas classes de produtos ou de serviços. No que diz respeito à marca, também com base na CUP, o Brasil (INPI) deve recusar ou invalidar pedido ou registro de marca protegida, já registrada ou depositada em outro país membro da convenção quando ela for considerada notoriamente conhecida neste país (de origem) e independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil (LPI, art. 126). 
Princípio do Sistema atributivo (da propriedade pelo registro): Segundo este princípio, a aquisição da propriedade industrial e da proteção quanto à exclusividade de uso se dá pela concessão do registro e da patente. O caráter atributivo do registro se contrapõe ao sistema declarativo. Exceção: Usuário anterior (de boa-fé): O DPI protege aquele que, de boa-fé, já explorava economicamente a criação no momento em que a titularidade desta foi requerida por outra pessoa. Exige-se, pois, duas condições: exploração econômica anterior à solicitação por outra pessoa e boa-fé. O reconhecimento dessa figura comporta soluções diferentes de acordo com a espécie de bem industrial: Tratando-se patentes e de registro de DI, a lei assegura ao usuário de boa-fé a continuidade da exploração sem a necessidade de pagamento de remuneração (royalties) ao titular - aquele que requereu e obteve o registro (LPI, arts. 45 e 110). Aqui, a figura do usuário anterior procura compatibilizar a proteção à propriedade industrial com a preservação da atividade econômica; Cuidando-se de marca, (i) só será considerado usuário de boa-fé apenas aquele que já explorava a marca há pelo menos seis (6) meses antes da data do depósito ou do pedido de prioridade feito por outra pessoa e (ii) que requerer o seu registro no prazo de sessenta (60) dias destinados à impugnação ou oposição do pedido feito pela outra pessoa. Observadas estas condições, a ele será reconhecida a situação de usuário anterior e de titular da marca, que explorará com exclusividade podendo cobrar royalties (LPI, art. 129). 
BENS DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL
Invenção: criação original do espírito humano consistente num novo produto ou num novo processo ou meio técnico para a obtenção de produtos. Invenção é diferente de descoberta (achar algo que já existe); 
Modelo de utilidade: uma espécie de aperfeiçoamento/aprimoramento da invenção, que a ela agrega recursos voltados para melhorar ou ampliar as possibilidades de utilização; “pequena invenção”; 
Desenho industrial: é uma alteração da forma dos objetos que resulta num visual novo, numa mudança de natureza estética; 
Marca: qualquer sinal distintivo suscetível de percepção visual. Pode compreender exclusivamente palavras (marca nominativa) ou desenhos e logotipos (marca figurativa). Quando usa palavras escritas de uma forma particular ou inseridas num logotipo, fala-se em marca mista. O regime jurídico da marca está inspirado numa regra conhecida como “princípio da especialidade”, ou princípio da especificidade, segundo a qual o interessado, ao requerer a concessão do registro, deve indicar as classes de produtos ou serviços que serão identificadas pelo sinal. Esta regra restringe a proteção conferida à marca a uma ou mais classes. 
ESPÉCIES DE MARCA
Marca coletiva: É a que identifica e distingue no mercado produto ou serviço fornecido por pessoa vinculada à entidade representativa de uma coletividade, de produtos ou serviços iguais, semelhantes ou afins, de procedência diversa. Informa ao consumidor que o produto ou serviço provém de membro de uma determinada entidade. A marca pertence à entidade e pode ser usada por seus membros sem a necessidade de licença, desde que o estatuto preveja essa utilização (sem a necessidade licenciamento). Ex.: selo de pureza da ABRINQ. 
Marca de certificação: É aquela utilizada para atestar que o produto ou serviço está em conformidade com padrões de normas ou especificações técnicas, especialmente quanto à qualidade, natureza e material utilizado. A marca de certificação só pode ser utilizada mediante autorização do titular (a entidade certificadora), se o produto ou serviço estiver de acordo com as especificações técnicas. Ex.: INMETRO, ISO, ABIC, FSC (selo verde de manejo florestal da Forest Stewardship Council - Conselho de Manejo Florestal), PROCEL, ANATEL. 
Marca de alto renome (LPI, art. 125): É a que conta com proteção especial abrangendo todas as classes de produtos ou serviços. Exige registro; depende de concessão do INPI (Coca-Cola, Fusca, Goodyear); 
Marca notória ou notoriamente conhecida: São as notoriamente conhecidas em seu ramo de atividade e que por isso gozam de proteção especial independentemente de estarem registradas. A proteção está limitada a uma classe ou algumas classes de produtos ou serviços. Há previsão na Convenção de Paris; 
Marca nominativa: É o sinal constituído por uma ou mais palavras, combinação de letras ou algarismos romanos e/ou arábicos, desde que não apresentados sob forma figurativa ou fantasiosa. Ex.: VARIG, CORONA. 
Marca figurativa: É o sinal constituído de desenho, imagem, figura ou símbolo, letra ou algarismo sob qualquer forma fantasiosa ou figurativa, acompanhados ou não de desenho, imagem, figura ou símbolo, e os ideogramas (japonês, chinês). Ex.: o globinho da Rede Globo, a estrela da Mercedes Benz, sinal da Nike, o “Y” da Yahoo! 
Marca mista: Também chamada de composta, é o sinal constituído pela combinação de elementos nominativos e figurativos, ou por elementos nominativos cuja grafia se apresente sob forma fantasiosa ou estilizada. Ex.: C&A, Nestlè (com o ninho sobre o nome), SONY, UNOESTE, Bradesco, Itaú, PHEBO (sabonete). 
Marca tridimensional: é o sinal constituído pela forma plástica distintiva em si, capaz de individualizar os produtos ou serviços a que se aplica. Tratar-se-á, assim, de marca tridimensional quando a forma do produto em si é um sinal que o distingue dos demais. Em alguns produtos a forma serve como fator de distinção (LPI, art. 122). Ex.: a garrafa da Coca-Cola, a caneta BIC, o frasco do Yakult e a embalagem (triangular) do chocolate “toblerone”. 
PATENTEABILIDADE E REGISTRABILIDADE
Sabemos que a essência da tutela jurídica é assegurar ao titular da propriedade industrial o direito de exclusividade de exploração dos bens industriais, e que este direito decorre de um ato administrativo manifestado pelo INPI (sistema atributivo). 
Porém, para que tais bens sejam tutelados, faz-se necessário o preenchimento de algumas condições técnicas exigidas em lei.O conjunto destas condições denomina-se patenteabilidade (para a invenção e o modelo de utilidade) e registrabilidade (para o desenho industrial e a marca). 
Patenteabilidade (condições estabelecidas para a concessão da patente – LPI, arts. 11-18): 
Novidade absoluta: é necessário que a criação seja desconhecida da comunidade científica, técnica ou industrial – “É nova a invenção ou o modelo de utilidade quando não compreendidos no estado da técnica” – Estado da técnica: constitui tudo aquilo tornado acessível ao público antes do depósito do pedido de patente. Novidade absoluta encerra um conceito negativo. Obs.: algumas hipóteses de divulgação antecipada da criação, como em congressos ou quando feita por meio fraudulento, não lhe retira a novidade; 
Inventividade ou atividade inventiva: a) na invenção há inventividade quando a criação desperta no espírito dos técnicos o sentido de um real progresso (científico e tecnológico); b) no modelo de utilidade haverá inventividade quando a criação não resultar de uma maneira comum ou vulgar do estado da técnica (da engenhosidade). É uma qualidade da invenção que diferencia a simples criação do engenho (existe inventividade quando a criação é obtida com engenhosidade, com atividade realmente inventiva). A inventividade se contrapõe ao óbvio, ao comum; 
Industriabilidade ou aplicação industrial: a criação deve ser suscetível de aproveitamento industrial, ou seja, quando for possível a utilização na indústria. Não há industriabilidade nas invenções muito avançadas e nas inúteis, ainda curiosas ou intrigantes; 
Desimpedimento ou não-impedimento: algumas criações têm sua patenteabilidade (e não a sua exploração econômica) vedada em lei, porque afronta a ordem, a saúde, a moral ou os bons costumes. 
Procedimento junto ao INPI: Pedido de patente: 
Fases: 1ª) Pedido/Depósito: define o titular do direito industrial em caso de sobreposição de pedidos e marca o início do prazo de duração da patente; 2ª) Publicação (na Revista do INPI): dá conhecimento a terceiros; 3ª) Exame: técnico; 4ª) Decisão: concessão do não da carta-patente. 
Registrabilidade (condições estabelecidas em lei para concessão do registro): 
Desenho industrial: 
Novidade: exige um resultado visual inédito, desconhecido de técnicos do setor (é uma questão técnica); - originalidade: é original quando apresenta uma configuração própria (não encontrada em outros objetos) ou quando combina com originalidade objetos já conhecidos (é uma questão estética); - desimpedimento. 
Marca: 
Novidade relativa: há novidade quando a utilização do sinal distintivo for nova, ou seja, quando de forma inédita o sinal passa a identificar um determinado produto ou serviço por ele ainda não identificado. É decorrência do princípio da especificidade (restringe a proteção da marca a determinada classe de produtos). Obs.: não se aplica quanto as marcas de alto renome; 
Não colidência com marca notoriamente conhecida; 
Desimpedimento: art. 124 da LPI. Há óbice legal ao registro e não à utilização do sinal. Os micro-organismos transgênicos podem ser objeto de patente desde que decorram da atividade científica humana (LPI, art. 18, III). 
Procedimento junto ao INPI: Pedido de registro de marca: 
Fases: 1ª) Pedido; 2ª) Análise formal do pedido; 3ª) Depósito (define o titular da marca em caso de concorrência ou sobreposição de pedidos); 4ª) Publicação da marca, com prazo de 60 dias para impugnação; 5ª) Exame da registrabilidade; 6ª) Decisão, concedendo ou negando o registro. Pedido de registro de desenho industrial (é mais simples porque vigora o sistema de livre concessão): Fases: 1ª) Depósito; 2ª) Publicação e expedição do certificado de registro. Observação: posteriormente – em havendo reclamação – haverá a apreciação da registrabilidade do design (novidade e originalidade). 
PATENTE E RELAÇÃO DE EMPREGO. CRIAÇÃO E EMPREGADOR INVENTOR. 
A quem pertence a criação (invenção ou modelo de utilidade), quando decorrer de atividade criativa vinculada à relação de emprego ou trabalho? 
Invenção de serviço: pertence exclusivamente ao empregador quando decorrer de contrato de trabalho cuja execução ocorra no Brasil e que tenha por objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, ou resulte esta da natureza dos serviços para os quais o empregado foi contratado. Presunção: Salvo prova em contrário, considera-se desenvolvida na vigência do contrato de trabalho (isto é, pelo empregador) a criação cuja patente seja requerida pelo empregado no prazo de até 01 ano após a extinção do vínculo empregatício. Neste caso, o empregado, salvo contratação em contrário, será remunerado apenas pelo seu salário. 
Invenção livre: pertence exclusivamente ao empregado quando por ele desenvolvida e desde que desvinculada do contrato de trabalho e não decorrer da utilização de recursos, meios, dados, materiais, instalações ou equipamentos do empregador. 
Invenção mista ou conexa: pertence a ambos, em comum, em partes iguais, quando resultar da contribuição pessoal do empregado e de recursos, meios, dados, materiais, instalações ou equipamentos do empregador, ressalvada disposição contratual em contrário. Mais de um empregado: divisão da remuneração entre eles; A exploração deve ser feita pelo empregador no prazo de 01 ano, contado da data da concessão, sob pena de passar à propriedade exclusiva do empregado; O direito de licenciamento é garantido ao empregador e não ao empregado, ao qual, entretanto, é assegurada a respectiva remuneração; No caso de cessão (transferência definitiva da propriedade industrial), qualquer dos dois (empregado ou empregador) poderá exercer o direito de preferência. 
Essas regras se aplicam a outras relações de trabalho – trabalhador autônomo e estagiário, e em caso de contratação de uma empresa por outra, bem como às entidades da Administração Pública – direta, indireta e fundacional. Ex.: EMBRAPA. 
Será assegurado ao servidor-inventor, a título de incentivo, na forma e condições previstas no estatuto ou regimento interno da entidade, premiação de parcela no valor das vantagens auferidas com o pedido ou com a patente. 
EXPLORAÇÃO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL = UTILIZAÇÃO ECONÔMICA DO BEM INDUSTRIAL APÓS A CONCESSÃO PELO INPI. 
Direta, indireta e simultânea: pelo titular, por terceiro e por 3º licenciado (ex.: franqueado); 
Licença é um contrato pelo qual o titular do bem industrial autoriza a sua exploração pelo outro contratante, mediante o pagamento de remuneração, sem lhe transferir a propriedade intelectual. A licença deve ser averbada no INPI como condição para eficácia (e não de validade do negócio) perante terceiros; 
Licença voluntária e compulsória: enquanto a primeira decorre da vontade do titular, a compulsória ou obrigatória (LPI, art. 68) decorre de uma imposição legal e se aplica somente às patentes de invenção e de modelo de utilidade. 
Hipóteses de outorga de licença obrigatória: a) exercício abusivo da propriedade industrial (ex.: cobrança de preços excessivos); b) prática de abuso do poder econômico (ex.: patente usada para domínio do mercado); c) falta de exploração integral do invento ou modelo no Brasil, quando viável economicamente a exploração, ou (d) comercialização insatisfatória para atendimento das necessidades de mercado, hipóteses que autorizam o pedido de licenciamento compulsório somente se decorridos no mínimo 03 anos da concessão; e) dependência de uma patente em relação a outra, se demonstrada a superioridade e a intransigência do titular em negociar a licença; f) emergência nacional ou interesse público declarado pelo Poder Executivo Federal. 
Obtenção da licença obrigatória: 1) mediante pedido do interessado em explorar a patente, que demonstre capacidade técnica e econômica; 2) de ofício, nos casos de emergência nacional ou interesse público declarados em ato do Poder Executivo federal. 
A concessão pelo INPI deve observar certas condições: a) outorga da licença sem exclusividade; b) com cláusula proibitiva de sublicenciamento; c) o licenciado deve dar início à exploraçãono prazo de um ano; d) a remuneração é arbitrada pelo Poder Público. 
EXTINÇÃO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (DO DIREITO DE EXCLUSIVIDADE QUANTO A EXPLORAÇÃO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL). 
CAUSAS: 
Decurso do prazo de duração da exploração: Patente de invenção: 20 anos contados do depósito, ou 10 anos contados da concessão, o que ocorrer por último; Patente de modelo de utilidade: 15 anos contados do depósito, ou 07 anos contados da concessão, o que ocorrer por último; Registro de desenho industrial: 10 anos contados do depósito, mas admitidas 03 prorrogações sucessivas de 05 anos; Registro de marca: 10 anos contados da concessão, admitidas indefinidas prorrogações. 
Caducidade: haverá quando ocorrer abuso ou desuso quanto a exploração da propriedade industrial. Não atinge o desenho industrial; 
Falta de pagamento da retribuição devida ao INPI: a) patentes – anual; b) design – quinquenal ou quando dos pedidos de prorrogação; c) marca – em cada prorrogação. Restauração: 
Renúncia do titular: ato unilateral 
Falta de representante legal do titular no Brasil, com poder para receber citação, quando residente no exterior. 
A degeneração de marca notória, um fenômeno mercadológico em que a marca deixa de identificar um produto e passa a designar um gênero de produtos, levando à perda da distintividade (de um produto em relação ao outro pela marca), não é causa de extinção da marca, ou seja, a titularidade e a exclusividade subsistem a esse fenômeno. 
Ex.: Gillette para lâminas de barbear, Aspirina para os demais AAS, Fórmica para revestimentos em madeira. 
JUDICIALIZAÇÃO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL: OBJETO, COMPETÊNCIA E PRAZOS DE PRESCRIÇÃO. 
AÇÕES REFERENTES À PROPRIEDADE INDUSTRIAL: Ação de nulidade das patentes e do registro de desenho industrial: a) legitimidade: qualquer interessado e o INPI; b) prazo prescricional: a qualquer tempo enquanto vigente a patente; Ação de nulidade do registro de marca: a) legitimidade ativa: qualquer interessado e o INPI; b) prazo prescricional: 05 anos contados da concessão; Ação de abstenção de uso de marca: a) legitimidade: o titular; b) prazo prescricional: 10 anos (NCC, art. 205, c.c. jurisprudência do STJ); Ação de reparação de danos: a) legitimidade: o titular (pessoa lesada); prazo prescricional: 05 anos (LPI, art. 225; STJ, súmula 143; NCC, art. 206, par. 3º, V). A nulidade pode ser declarada administrativamente, mediante provação de qualquer interessado ou de ofício pelo INPI. 
COMPETÊNCIA: Nas ações em que houver o interesse do INPI (nulidade, por exemplo), a competência será da Justiça Federal, por disposição da própria LPI e da CF (art. 109, I). Nas demais, em que disputado interesse meramente privado, a competência caberá à Justiça Estadual.
TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
INTRODUÇÃO
“Crédito” vem do latim credere – confiar, confiança. Quem confia ou aceita confiar troca uma prestação atual (por exemplo, a de concessão de um empréstimo, a entrega de um bem) por outra futura (a do devedor que tomou emprestado, a do comprador do bem), justamente com base na confiança (ou na segurança que o ordenamento jurídico confere ao negócio, à operação). Ou seja, o crédito possibilita a troca do consumo imediato pelo pagamento futuro. Sabe-se que antigamente não era assim. Os negócios tinham por base a troca in natura, o escambo. Depois passou a ser usado o sal como moeda de troca e depois o ‘papel-moeda’ (o Estado emissor garantia o pagamento da prestação). Na Itália, onde se destacava Florença, cada cidade cunhava sua própria moeda. Assim, a cada operação, de compra e venda, por exemplo, havia a necessidade da intervenção de cambistas e a troca de moedas se dava na mesa destes. A transferência de valores entre praças diferentes dificultava a circulação e a manipulação monetária – o viajante levava consigo suas riquezas (bens ou dinheiro) por vias inseguras. Houve a necessidade de troca de moeda presente por moeda ausente, esta representada por um documento chamado “cambium per literas”, um contrato que continha a promessa de pagar e que importava no reconhecimento expresso de um débito. Esta a origem da LC, no período italiano. Por volta da metade do século XIX, na Alemanha, nasce a nova feição da LC, como título de crédito perfeito. Nesta fase o documento apresenta alguns atributos como a cartularidade, a literalidade e a cambiariedade (circulabilidade). Para exercício do direito de ação basta o documento com os dados nele lançados; a promessa consignada no título se dirige ao público e não exclusivamente ao credor determinado, o que admite a transferência, a circulação. A finalidade inicial e primordial dos títulos de crédito é facilitar a circulação do crédito (não só o comercial). 
CONCEITO
Cesare Vivante: título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado. 
Conceito tradicional aceito na doutrina, com poucas e inócuas restrições, também contemplado no artigo 887 do Código Civil e do qual são extraídos três princípios (fundamentos) do Direito Cambiário, ou três características (atributos essenciais) dos títulos de crédito. 
CARACTERÍSTICAS E PRINCÍPIOS INERENTES AOS TÍTULOS DE CRÉDITO (TC)
Características: a) Negociabilidade: também conhecida por circulabilidade e circularidade, possibilita a circulação do TC de forma simplificada, conferindo maior liquidez ao crédito e agilidade na sua transferência pela tradição ou pelo endosso, e mais certeza e segurança ao credor. Se comparado a outros créditos decorrentes de outros documentos ou títulos, o que provém do TC apresenta mais eficiência, segurança e utilidade (pode ser dado em pagamento ou em garantia); b) Executividade: os TC são considerados títulos de crédito extrajudiciais, podendo ser cobrados diretamente pela via da execução judicial. 
Princípios (ou atributos): a) Cartularidade: o TC é documento necessário... Para que se trate de TC exige-se um instrumento escrito, uma cártula a viabilizar a circulação do crédito. A existência desse instrumento escrito é que possibilita o exercício do direito nele previsto (dir. de crédito). Sendo assim, exige-se o próprio título para embasar ou fundamentar a ação cambial. A exibição do TC visa proteger o devedor, contra a cobrança por parte daquele antigo credor que fez circular o título. A existência do documento escrito e sua exibição possibilitam o exercício do direito nele previsto. Assim, enquanto o TC existe cabe ao credor exibi-lo para exercer seu direito. Parte da doutrina trata da cartularidade como incorporação, no sentido de que o título incorpora o direito creditício e que a sua entrega a outra pessoa significa a transferência da titularidade do crédito. Não basta mera cópia autenticada, como, aliás, adverte o § único, do art. 223, do CCB, ao tratar da força probatória dos documentos autenticados (exceto quanto aos TC). Afora a relativização dos princípios ora em estudo, há exceções em relação à duplicata mercantil e de prestação de serviços, TC que admitem, nas hipóteses legais, o exercício do direito de crédito neles consignado sem sua apresentação: protesto por indicação e execução de duplicata não restituída pelo devedor, mas protestada por indicação. b) Literalidade: segundo este princípio ou atributo, só produzem efeitos jurídico-cambiais os atos documentados no corpo do título de crédito, ou, em outras palavras, o direito mencionado no TC existe segundo o teor do documento, ou ainda, tudo o que se pode exigir deve estar literalmente no título de crédito – deve estar expresso, escrito. Portanto, não podem ser pleiteados mais direitos do que aqueles constantes do título, e só podem ser exigidas do devedor e dos terceiros intervenientes as obrigações consignadas no título. Há exceção em relação à duplicata. Juros moratórios e correção monetária decorrem da lei, não precisando estar expressos. c) Autonomia: diz-se que o TC é autônomo, “ele governa a si próprio”, “o que está no título o regula”. Trata-se da autonomia das obrigações cambiais, princípio/atributo segundo o qualas obrigações documentadas num TC são autônomas ou independentes uma das outras, e eventuais vícios ou nulidades que contaminem umas não prejudicam as demais. Ex.: se dois avais são prestados, sendo um por menor absolutamente incapaz, portanto nulo, o outro permanece válido. Outro exemplo, mais afeto à abstração: a C. e V. de veículo com pagamento da ½ do valor a prazo, representado por NP. O vendedor endossa a NP a terceiro, seu credor, que a aceita. São três relações jurídicas documentadas num mesmo TC, a NP: a fundamental (ou originária), entre vendedor e comprador, a do vendedor com o terceiro e a deste com o comprador, agora seu devedor. Conforme o princípio da autonomia, se o veículo apresentou vício redibitório, o que resultaria no desfazimento do negócio ou no abatimento do preço, isto nada afetará a relação entre o comprador e o terceiro, pois relações absolutamente autônomas. Caberá ao comprador pagar a quitar a NP e buscar seus direitos contra o vendedor do carro. Não esqueça: autonomia substancial e acessoriedade formal. Da autonomia extraem-se outros dois atributos dos TC, chamados de acidentais ou de subprincípios: c.1) Abstração: o título de crédito, quando posto em circulação, se desvincula do ato do ato ou negócio que deu causa a sua criação. Quando posto em circulação significa quando passam a se relacionar no TC outras pessoas além daquelas verificadas na relação inaugural (base, fundamental, subjacente); portanto somente se houver transferência do crédito através do endosso. Em relação aos sujeitos do negócio originário não há desvinculação. c.2) Inalegabilidade ou inoponibilidade das exceções (defesas) pessoais aos terceiros de boa-fé: Lei Uniforme, art. 17. Posto em circulação o TC, o devedor não pode opor como meio de defesa contra o atual possuidor as irregularidades ou vícios verificados na relação ou negócio fundamental com o credor originário, salvo se comprovada a má-fé do terceiro ou que ele tinha ciência do negócio. Tudo visa privilegiar a boa-fé e a cambiariedade, a garantia da circulação do crédito, dos títulos de crédito. 
Relativização dos princípios
 Os princípios antes estudados têm recebido tempero dos tribunais pátrios, que, avançando na hermenêutica, trilham o caminho da razoabilidade, da eticidade e da boa-fé, estas enaltecidas no atual Código Civil. As leis são móveis, variáveis; devem refletir o momento histórico em que operam, vigoram. Assim, quando há um descompasso entre a realidade e o modelo normativo em vigor, manifesta-se oportunamente o Poder Judiciário. 
É o que ocorre com os TC, cuja legislação, inclusive em grande parte a supletiva (o NCC), remonta ao início do Século XX (quanto a LC e NP). 
Diante da ausência de normas objetivas mais equânimes, a jurisprudência acaba por relativizar, mitigar, reduzir o grau absoluto dos atributos dos TC, ou seja, relativiza os princípios gerais do direito cambiário. 
Decidiu o Superior Tribunal de Justiça que: - A NP vinculada a contrato de locação ou de abertura de crédito em conta-corrente (menção expressa no título ou emitida como garantia), perde sua autonomia e abstração, isto é, deixa de revestirse das qualidades de título de crédito (deixa de ser TC e perde a liquidez) – cfr. Súmula 258, com efeito, podendo o devedor opor-se a terceiro (atual possuidor do título) com base nos vícios ou nulidades verificadas na relação fundamental ou originária, independentemente da boa- fé deste; - Se não há dúvida quanto a existência do título e não impugnada a autenticidade, válida a execução de TC reproduzida por cópia autenticada. 
CLASSIFICAÇÃO DOS TC 
Quanto à estrutura: - Ordem de pagamento: é uma ordem; A ordena a B pagar a C. As ordens de pagamento geram três situações jurídicas diferentes: a do sacador (aquele que ordena a realização do pagamento); a do sacado (aquele que recebeu a ordem de pagar); e a do tomador ou beneficiário (em favor do qual foi passada a ordem). Ex.: cheque e LC. - Promessa de pagamento: A promete a pagar B. Gera duas situações jurídicas: a do promitente (assume a obrigação de pagar) e a do beneficiário. Ex.: NP. 
Quanto às hipóteses de emissão: - Títulos causais: exigem uma causa legal para emissão, ou seja, só podem se emitidos nas hipóteses autorizadas em lei. Ex. da duplicata que só pode ser emitida para documentação do crédito decorrente da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços; - Títulos não causais: podem ser gerados ou emitidos em qualquer hipótese. São emitidos independentemente da causa fundamental específica. Ex.: cheque e nota promissória. 
Quanto à circulação: a diferença diz respeito ao ato pelo qual se dá a circulação: - Ao portador: os títulos ao portador são aqueles que não trazem em seu corpo o nome do credor e, assim, circulam pela mera tradição (traditio) – basta a mera entrega do título (da cártula) para que ocorra a transferência do crédito do antigo detentor (possuidor) para o novo. A Lei 8.021/90 veda expressamente a emissão de títulos ao portador e nominativos à ordem (objetivo: identificar o titular do crédito, a fim de se evitar a sonegação fiscal). A Lei 9.069/95 (Plano Real) exige seja o cheque superior a R$ 100,00 nominal (então admite ao portador até este valor???); Nominativos à ordem: contemplam o nome do credor (titular do crédito ou beneficiário) e só haverá transferência do crédito mediante endosso (ato atribuído ao titular que faz circular o título); - Nominativos não à ordem: também identificam o credor, mas sua circulação se dá através da cessão civil e não mediante endosso. Há uma descaracterização. 
Quanto ao modelo: - Títulos vinculados: são aqueles que só produzem efeitos jurídicos se obedecerem o padrão exigido em lei ou regulamento. O emitente não é livre para escolher a disposição formal dos elementos formais. Ex.: cheque (Bacen) e duplicata (CMN – LD, art. 27); - Títulos livres: não há padrão de disposição formal a ser observado – o emitente tem liberdade para dispor sobre os elementos essenciais. Ex.: NP. 
ALGUMAS ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO
Letra de câmbio: É uma ordem de pagamento que o sacador dirige ao sacado para que este pague uma importância a um terceiro chamado tomador. O sacador é a pessoa que dá a ordem de pagamento; o sacado a pessoa a quem a ordem é dada (devedor – quem deve dar ao aceite); e o tomador, o beneficiário (credor). Admite-se o saque da letra em benefício do próprio sacador e contra ele. No primeiro caso será também o beneficiário (credor) e no segundo o sacado ou devedor. 
Nota promissória: é uma promessa de pagamento de determinada quantia feita pelo subscritor (emitente, sacador) ao tomador (credor). Sendo um promessa de pagamento contempla apenas duas situações jurídicas: a do promitente (emitente da NP) e a do beneficiário (tomador). 
Cheque: Uma ordem de pagamento à vista emitida contra um banco, em razão de provisão que o emitente possui junto ao sacado. A provisão de fundos decorre de um contrato de depósito ou de abertura de crédito celebrado entre o emitente e o sacado. 
Duplicata: Consiste-se “numa ordem de pagamento resultante de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços” (RT 707/90), ou num título de crédito emitido pelo credor, em virtude de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços, em favor do qual (credor) declaração a existência de um crédito. Causalidade: Do artigo 2º da LD (Lei de Duplicatas), bem como dos conceitos retro, retira-se que para emissão de duplicata há exigência da ocorrência de situações específicas, quais sejam: a compra e venda mercantil e a prestação de serviços. Fala-se, assim, que a duplicata exige uma causa necessária à sua criação (saque, emissão), sendo considerada um título causal. Limita-se, inicialmente, à compra e venda mercantil. O que é compra e venda mercantil? Compra e venda é o contrato em que uma pessoa (o vendedor) se obriga a transferir o domínio de coisa a outra (o comprador), que se obriga a pagar o preço acertado. É considerada mercantil a compra e venda celebrada entre empresários (não apenasentre comerciantes). Logo, não são mercantis os contratos de compra e venda celebrados fora da cadeia de circulação de mercadorias ou no elo final desta (venda ao consumidor). A causalidade da duplicata repousa no fato de que este título de crédito só pode ser emitido para documentar o crédito nascido de compra e venda mercantil (ou de prestação de serviços). Mas pode haver emissão de outro título de crédito para documentar o crédito oriundo de compra e venda mercantil? R. Pelo vendedor (credor) não. Todavia, o devedor poderá satisfazer sua obrigação de pagar o preço ajustado através do cheque ou da nota promissória (muito comum a entrega de cheques pós-datados em substituição à duplicata com vencimento a prazo). Jurisprudência: RT 664/94. 
INSTITUTOS PRÓPRIOS DO DIREITO CAMBIÁRIO
SAQUE E ACEITE
Saque é o ato jurídico de emissão ou criação do título de crédito. Na LC, o sacador dá nascimento ao título. 
Aceite é a declaração pela qual o sacado compromete-se a realizar o pagamento da soma indicada no TC. Decorre da simples assinatura do sacado no anverso ou no verso. 
Segundo Direito Cambiário, na Letra de Câmbio o aceite não é obrigatório, admitindo-se a recusa total ou parcial. 
Recusa parcial: admite-se a recusa parcial do aceite quanto ao valor da obrigação = redução do valor (aceite limitado ou limitativo) e quanto a condições de pagamento da cambial = alteração da praça, data de vencimento (modificativo ou qualificado). 
Qualquer que a recusa, total ou parcial, com aceite limitativo ou modificativo haverá, em regra, o vencimento antecipado do TC, podendo o tomador cobrar a obrigação imediata e diretamente do sacador (na LC este sempre figura como “garantidor” do pagamento da letra – cfr. arts. 9º e 47 da LU). 
Cláusula não - aceitável: é a que evita o vencimento antecipado do TC se houver recusa do aceite por parte do sacado. Com esta cláusula o tomador (ou portador) só poderá apresentar a LC ao sacado (para aceite e pagamento) na data de vencimento. Assim, se este não aceitar, caberá a cobrança do sacador, mas sem antecipação pela recusa. 
Na Duplicata o aceite é obrigatório, porém não irrecusável. 
Uma vez emitida a duplicata, o sacador (vendedor, credor) a remeterá ao sacado (comprador, devedor) que por sua vez deverá devolvê-la ao sacador, com o aceite, no prazo de 10 dias. Cfr. arts. 6º e 7º da LD. Por isso se diz que o aceite da duplicata não é facultativo. 
Mas também não é irrecusável! A própria LD (art. 8º) admite a recusa do aceite, arrolando motivos (situações) em que poderá o comprador (sacado) deixar de manifestar seu aceite na duplicata. São eles: - avaria ou não-recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; - divergência nos prazos ou nos preços ajustados. 
A recusa deve ser manifestada por escrito e no prazo de 10 dias. Modalidades de aceite na Duplicata: 
O dinamismo das operações de compra e venda entre empresários levou o legislador a adotar formas diferentes de aceite na duplicata. a) Ordinário: decorre da assinatura do comprador no campo próprio da duplicata destinado ao aceite; b) Por comunicação: decorre de comunicação expedida pelo comprador ao vendedor, via correio, e-mail, fax ou outro meio. O comprador retém a duplicata, mas manifesta seu aceite. É a forma menos usual. c) Por presunção: decorre do recebimento das mercadorias (assinatura do termo de entrega e recebimento das mercadorias) e da inexistência de recusa no prezo legal (10 dias a contar do recebimento da duplicata, cfr. art. 7º, parte final). Mesmo retida ou inutilizada a duplicata haverá presunção do aceite. É forma mais usual; 
ENDOSSO 
O endosso (puro, comum, próprio ou translatício) é um ato jurídico cambiário pelo qual o credor de um título de crédito nominativo à ordem transmite os seus direitos a outra pessoa, fazendo surgir na cártula (ou nas relações a ele referentes) duas novas situações jurídicas: a do Endossante – credor do título que o transfere, e a do Endossatário – a pessoa a quem o título foi transferido. Todos os TC têm implícita a cláusula à ordem e podem circular via endosso. 
O endosso é manifestado no verso do título (só) e não no anverso (frente), pois se assim for confunde-se com o aval em branco. 
Efeitos do endosso: - transfere o título e o crédito; e - vincula o endossante ao pagamento da obrigação (co-devedor), salvo se estabelecida com o endossatário a cláusula “sem garantia” (Ex.: “pague-se a Fulano de Tal, sem garantia”). Observação: no CCB (art. 914) é o inverso: só vincula se houver cláusula expressa. 
ESPÉCIES DE ENDOSSO
Endosso em branco: não há indicação (identificação) do endossatário (novo credor). Com esse endosso, o TC, antes nominativo, “transforma-se” em TC ao portador, podendo circular por meio da entrega. O portador do título (atual credor) poderá transferi-lo a outras pessoas sem assiná-lo e, assim, sem endossar e sem tornar-se codevedor ou responsável pelo pagamento. 
Endosso em preto: neste há a indicação do endossatário, o beneficiário do endosso, mantendo-se o TC nominativo à ordem. Sua transferência exigirá outro endosso.
CADEIA DE ENDOSSOS
As Leis 8.021/90 e 8.088/90, editadas com o objetivo de evitar e dificultar a sonegação fiscal, limitaram a utilização do endosso, permitindo-se apenas o em preto, com o que dificultada a aplicação da legislação cambial e de um dos principais atributos dos títulos de crédito – a cambiariedade. Peculiaridade em relação ao cheque. Possibilidade de existência da cadeia de endossos nos cheques: com a extinção da CPMF, e perdendo eficácia a Lei 9.311/96 (que proibia mais de um endosso nos cheques e vigorou até 31/12/2007 – v. art. 90, § 1º do ADCT), não há restrições à cadeia de endossos no cheque. 
Endosso impróprio: impróprio porque em regra não produz os efeitos comuns ao endosso próprio; não há transferência do crédito, embora haja a transferência da posse direta do título. É uma espécie de exceção à cartularidade e destina-se a legitimar a posse de certa pessoa sobre um título de crédito, sem lhe transferir o direito de credor. No endosso impróprio, aquele que detém o TC (endossatário) não é o credor, mas pode exercer os direitos mencionados no TC, exceto o de transferência da titularidade do crédito.
O endosso-mandato confere ao possuidor a tarefa de cobrar o crédito representado pelo TC (materializa-se com inscrição: “pague-se, por procuração, a Fulano). Logo, cabe ao endossatário (portador) protestar o TC, executá-lo e mesmo constituir outro mandatário mediante novo endosso (mandato). No endosso-mandato a cobrança é feita pelo endossatário em nome do endossante (mandante), o que impede a aplicação dos subprincípios da abstração e da inalegabilidade (inoponibilidade), ou seja, o devedor, se cobrado pelo endossatário-mandatário, poderá opor-se ao pagamento alegando vícios do negócio subjacente ou outras defesas vinculadas ao credor (endossante-mandante). 
De seu turno, o endosso-caução é o instrumento de constituição de um penhor sobre o TC, que é dado em garantia de outra obrigação, como se fosse um bem móvel. Para assegurar a efetividade do endosso-caução como instrumento de garantia, ao devedor do TC, se cobrado pelo endossatário, é vedado opor-se ao pagamento alegando defesas (vícios ou irregularidades do negócio subjacente). Portanto, aqui cabe aplicação do princípio da inalegabilidade/inoponibilidade. 
Endosso póstumo: prestado após o vencimento do TC. Se prestado após o protesto ou o término do prazo para protestar o TC, tem os efeitos de uma cessão civil (LU, art. 20). Logo, não obriga o endossante. - Endosso parcial: não é admitido (LU, art. 12). 
AVAL
	É o ato jurídico cambiário pelo qual uma pessoa, o avalista, se compromete a pagar título de crédito nas mesmas condições que um devedor desse título, o avalizado. O aval é autônomo, mas equivalente à obrigação do avalizado. Tem autonomia (não pode o avalista valer-se das exceções

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