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O GÊNERO Pyricularia E SEUS TELEOMORFOS Angela Purchio-Muchovej A&J Agronomic Diagnostics, PO Box 25, Lloyd, FL 32337, USA James J. Muchovej Ornamental Horticulture, Florida A&M University, 306 Perry Paige Bldg, Tallahassee, FL 32307, USA RESUMO O gênero Pyricularia Saccardo é um grupo amplo e diversificado de fungos, na maioria, fitopatogênicos. No entanto, após o estudo das descrições das espécies e excluindo o uso da gama de hospedeiros como critério taxonômico principal, o gênero torna-se bem menos complexo. O teleomorfo da espécie-tipo, P. grisea Saccardo, é Magnaporthe grisea (Hebert) Barr. Essa espécie parece ser do mesmo gênero da espécie-tipo do gênero Magnaporthe Krause & Webster. Entretanto, ambas essas espécies diferem das outras duas classificadas no gênero Magnaporthe. As outras espécies, M. poae Lanschoot & Jackson e M. rhizophila Scott & Deacon, possuem ambas ascosporos cor de marrom-escuro e Phialophora como anamorfo. Perante as características descritas, questiona-se a classificação dessas duas espécies no gênero Magnaporthe. Chaves para ambos os gêneros são apresentadas. SUMMARY THE GENUS Pyricularia AND ITS TELEOMORPHS The genus Pyricularia Saccardo is a large and diverse group of mostly plant pathogenic fungi. However, after studying the descriptions of the species and excluding the questionable use of host range as a primary character of taxonomy, the genus becomes much reduced in complexity. The perfect state of the type species, P. grisea Saccardo, is Magnaporthe grisea (Hebert) Barr. This species appears to be congeneric with the type species of Magnaporthe Krause & Webster. However, both of these fungi differ from the other two species placed in Magnaporthe. The other species, M. poae Landschoot & Jackson and M. rhizophila Scott & Deacon, both have a Phialophora anamorph and dark brown ascospores. This questions whether these two species should continue in Magnaporthe. Keys to both genera are provided. INTRODUÇÃO O gênero Pyricularia sensu lato é de grande importância fitopatogênica e tem ampla distribuição geográfica (Purchio & Muchovej, 1991). As espécies patogênicas têm sido relatadas em mais de 50 gêneros de Poaceae, incluindo cereais, espécies ornamentais e pastagens, assim como em várias espécies de outras famílias de plantas cultivadas e não cultivadas (Asuyama, 1965; Ou, 1985; Purchio & Muchovej, 1991). Atualmente, o gênero Pyricularia Saccardo engloba mais de 30 espécies descritas, em sua maioria diferindo somente em ligeiros detalhes. Muitas dessas espécies podem ser, na realidade, pequenas variantes de P. grisea Saccardo, o que faz necessária uma ampla e cuidadosa revisão das espécies descritas (Purchio, 1992). As espécies mais estudadas do gênero Pyticularia são P. grisea e P. oryzae Cavara, ambas reconhecidas mundialmente e, até recentemente, distinguidas pela morfologia dos conídios e pela gama de hospedeiros. Mas a diversidade de espécies vegetais hospedeiras de P. grisea e de P. oryzae e as pequenas diferenças entre as características dos conídios destas espécies têm gerado dúvidas quanto à taxonomia. Por convenção, os isolados patogênicos ao arroz eram considerados como P. oryzae, enquanto os isolados patogênicos às demais gramíneas, como P. grisea (Asuyama, 1965; Yaegashi & Hebert, 1976; Ribeiro, 1981). Os conídios de P. oryzae são mais “gordinhos”, mas essas diferenças de dimensões entre as duas espécies aparentemente não são significativas (Ellis, 1971a). Muitas das variações nas características morfológicas desse fungo provavelmente resultem de variações genéticas em certos isolados (Hebert, 1971). Estudos genéticos destes fungos mostraram que os isolados de arroz têm seqüências genéticas repetitivas que faltam em isolados de outras gramíneas (Hamer et al., 1989). Ambas as espécies, P. grisea e P. oryzae, são formas anamórficas do teleomorfo Magnaporthe grisea (Hebert) Barr. Resultados de estudos do teleomorfo, induzido pelo pareamento de vários isolados obtidos de diferentes hospedeiros, permitiram confirmar que esses “taxa” não são geneticamente distintos (Valent et al., 1986). O exame das espécies-tipo das duas formas assexuais confirmou a similaridade morfológica entre ambas (Rossman et al., 1990). Mediante a polêmica e as divergências de opiniões relacionadas ao uso correto do nome específico, atualmente há tendência de se enquadrar essas espécies em apenas uma e de se utilizar o nome do teleomorfo [M. grisea] como referência às duas espécies (Valent et al., 1986). Em razão das semelhanças morfológicas das espécies, da ampla gama de hospedeiros e da incorreta interpretação das regras atuais de classificação taxonômica de gêneros e espécies, procurou-se, neste trabalho, compilar e comparar toda a literatura disponível sobre o assunto, na tentativa de esclarecer os problemas relacionados à taxonomia específica do gênero Pyricularia e argumentar que a variabilidade do fungo não é suficiente para justificar a existência de tantas espécies. TAXONOMIA DO GÊNERO Pyricularia O gênero Pyricularia foi descrito por Saccardo para acomodar um fungo cor de cinza-clara, o qual produz conídios cor de cinza-clara em conidióforos livres e eretos. Os conídios são, inicialmente, aderidos ao conidióforo por meio de uma pequena célula e, quando maduros, a célula se divide em duas, liberando o conídio (Ellis, 1971a). Esse processo produz um pequeno dentículo na base do conídio e na lateral do conidióforo. A espécie original, P. grisea Saccardo (Saccardo, 1880), foi isolada de Digitaria sanguinalis (L.) Scop. Uma década mais tarde, Cavara (1891) descreveu uma espécie muito semelhante isolada de arroz, que foi denominada Pyricularia oryzae Cavara. A principal distinção entre os dois fungos foi a planta hospedeira. A espécie considerada mais importante é Pyricularia oryzae, agente etiológico da brusone do arroz (Oryza sativa L.). Essa espécie ocorre em todas as regiões orizícolas do mundo, causando severas epidemias de brusone, que têm resultado em grandes perdas e em desastres econômicos potenciais (Ou, 1985). Em arroz, P. oryzae causa manchas foliares, elípticas e com as extremidades mais ou menos pontiagudas, dispersas no limbo. As lesões possuem margens definidas cor de marrom a marrom-avermelhado, com o interior geralmente cor de cinza a esbranquiçado (Purchio & Muchovej, 1991). Sob condições de alta umidade ou em lesões mais velhas ou não- esporulantes, em cultivares suscetíveis, a margem pode ser amarela, ao invés de cor de marrom, e o centro bronzeado. Em gramíneas, Pyricularla grisea é o agente etiológico de manchas foliares. Essas inicialmente são pequenas, aumentam de tamanho rapidamente, tornando-se ovais e, mais tarde, alongadas, com margem definida cor de marrom-avermelhado a marrom-escuro. As lesões podem ser circundadas por um anel clorótico e seu interior é, normalmente, bronzeado e seco (Couch, 1973). Ocasionalmente, quando a incidência de doença é alta, os sintomas podem ser encontrados sobre as espigas e sobre os estólons, e resultam na destruição de ambos (Purchio & Muchovej, 1991). Em cereais, os sintomas devidos à infecção de Pyricularia podem aparecer na forma de manchas foliares ou de infecção no nó, no entrenó, no ráquis e/ou no pedúnculo (“pescoço”) que suporta a inflorescência, matando, por estrangulamento, a porção da panícula situada acima do ponto de infecção, resultando em quebra e morte da inflorescência e em chochamento dos grãos (Sprague, 1950). As dimensões dos conídios variam entre os isolados, assim como nos diferenteshospedeiros (Ou, 1985) e com as condições em que são produzidos (Asuyama, 1965). Ono & Nakazato (1958) constataram que os conídios produzidos em lesões novas eram mais ou menos arredondados e menores que aqueles produzidos em lesões crônicas, e que o tamanho dos conídios variava com o meio de cultura utilizado. Kulkami & Patel (1956) mostraram que os conídios de Pyricularia setariae Nishikado em Setaria italica (L.) Beauv. eram maiores em determinados meios de cultura que os coletados de lesões no hospedeiro e, também, que o comprimento dos conídios reduzia a 10 ºC e a 30 ºC, e aumentava a 15 ºC e a 25 ºC. Segundo Yamanaka & Kobayashi (1962), os conídios formados a 27 ºC são mais alongados que os formados a 22 ºC. Não foram observadas variações na largura dos conídios. O tamanho dos conídios obtidos por inoculação artificial varia com a espécie do hospedeiro (Narita et al., 1956). Os conídios produzidos em Hordeum vulgare L. e em Phalaris são mais longos, e os produzidos em Festuca rubra L. e em milho (Zea mays L.) são mais curtos que os conídios produzidos em arroz; mas, quando reinoculados em plantas de arroz, os conídios são praticamente do mesmo tamanho (Narita et al., 1956). Os conídios produzidos sob condições de alta umidade são um pouco mais longos que aqueles produzidos sob condições de baixa umidade (Asuyama, 1965). Diversas espécies de Pyricularia, dífíceis de diferenciar morfologicamente, ocorrem na natureza como agentes patogênicos de ampla gama de hospedeiros, a saber, mais de 80 gêneros de espécies vegetais. Nela estão incluídas espécies das famílias Poaceae, Cyperaceae, Zingiberaceae, Cannaceae, Commelinaceae, Musaceae, Solanaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae, Polygonaceae, Lauraceae, Juncaceae e Sterculiaceae (Purchio & Muchovej, 1991; Purchio, 1992). Muitas das espécies foram descritas com base em ligeiras diferenças no formato e/ou nas dimensões dos conídios, o que tem gerado grande polêmica sobre qual a correta classificação dessas espécies (Purchio & Muchovej, 1991). Isolados de Pyricularia de diversas espécies de gramíneas têm revelado que a morfologia dos conídios é variável (Purchio, 1992). Por exemplo, Purchio (1992) caracterizou isolados obtidos de arroz cujas dimensões variaram assim: 13-46,1 x 6-12,5 m, quando crescidos em meio de aveia (Valent et al., 1986); 16-39 x 5,5-13,5 m, em meio completo (Valent et al., 1986); e 12,5-44 x 5,1-13 m, em meio de BDA (Tuite, 1969). Isolados obtidos de outras gramíneas, inclusive de trigo, retirados de meio de cultura, apresentaram dimensões que variaram de 12,5-46,1 x 5,1-13,5 m, mostrando maior variação que os valores até então descritos para o gênero (Purchio, 1992). Comparando-se esses valores com aqueles citados por Ellis (1971a): conídios de 17-23 x 8-11 m, para isolados provenientes de arroz, e de 17-28 x 6-9 m, para isolados provenientes de outras gramíneas, verifica-se a dificuldade para distinguir nitidamente os isolados apenas pelo formato e pelas dimensões dos conídios, decorrente da grande variabilidade dos isolados (Figura 1). Ademais da influência do hospedeiro e do fato que a composição variável dos meios de cultura complexos, a disponibilidade de nutrientes, o requerimento nutricional dos isolados e o tamanho da amostragem nos experimentos possam ser fatores responsáveis por resultados tão diversificados, constatou-se, em diversos estudos, que variações entre isolados também ocorrem em virtude da própria variabilidade fisiológica do gênero Pyricularia (Purchio, 1992). Admitindo-se dimensões dos conídios de 12,5- 46,1 x 5,1-13,5 m para P. grisea, estabelece-se uma amplitude tal que, por fim, agrupam-se a essa espécie muitas outras já descritas, cujos conídios se encontram dentro ou muito próximos dessa faixa (Quadro 1). Outro critério usado para descrever novas espécies tem sido a gama de hospedeiros. Espécies de Pyricularia têm sido descritas em mais de 100 espécies de plantas (Purchio & Muchovej, 1991). Por exemplo, Leersia oryzoides (L.) Sw. é relatada como hospedeira de P. leersiae (Sawada, 1917), de P. grisea (Sprague, 1950) e de P. oryzae (Narita et al., 1956). Os conídios de P. leersiae são mais compridos (Hashioka, 1973), mas suas dimensões ainda se enquadram dentro de uma faixa coerente com as médias relatadas para P. grisea. Esse critério, também, pode ser exemplificado com o hospedeiro Pennisetum purpureum Schumach. sendo parasitado ora por P. oryzae (Krishnasamy et al., 1972), ora por P. grisea (Malaguti et al., 1972) ou por P. penniseti (Hashioka, 1973) ou por P. didyma (Ellis, 1976). Os conídios de P. pennseti não diferem em tamanho, quando comparados com aqueles de P. grisea, enquanto P. didyma possui conídios bicelulares, ovais e de superfície áspera (Ellis, 1971b). A falta de unanimidade encontrada em relatos sobre a gama de hospedeiros tem sido explicada através da variação entre os isolados dos fungos e no ambiente sob o qual os testes foram realizados (Asuyama, 1965; Ou, 1985; Purchio, 1992), além de diferenças na suscetibilidade de gramíneas e de cereais aos diferentes isolados ou às raças fisiológicas do fungo (Suzuki & Hashimoto, 1953; Narita et al., 1956; Asuyama, 1965; Purchio, 1992). Com relação à especificidade ao hospedeiro, vários autores afirmaram que espécies do gênero Pyricularia têm largo espectro de hospedeiros; no entanto, cada isolado em particular é capaz de infectar apenas uma ou poucas espécies de plantas (Asuyama, 1965; Kato, 1978; Crawford et al., 1986). Outros (McRae, 1922; Nishikado, 1927; Thomas, 1940; Kato & Yamaguchi, 1980) relataram que a patogenicidade dos isolados é restrita ao hospedeiro de onde se originaram. Mackill & Bonman (1986) demonstraram que certos cultivares de arroz foram suscetíveis aos Figura 1. Fotomicrografias de conídios representativos de isolados de Pyricularia obtidos de diversas gramíneas hospedeiras (Purchio, 1992). Fotomicrografias de a-k são de isolados obtidos de Oryza sativa; de l-p de Triticum aestivum; q de Hordeum vulgare; r de Avena sativa; de s-v de Stenotaphrum secundatum; w de Brachiaria plantaginea; x de Cenchrus echinatus; de y-z de Digitaria sanguinalis; aa de Pennisetum setosum; bb de Eleusine indica; de cc-dd de Cyperus sp. (Barra = 10 m). Quadro 1. Espécies de Pyricularia spp. relatadas na literatura Espécie Dimensões de Conídios CxL (m) Referência P. angulata 18,2-28,0 x 4,9-9,1 Hashioka (1971) P. cannae 35-49 x 14-21 Roldan (1938) P. cannicola 21,2 x 7,3 Hashioka (1971) P. caricis 28-42 x 7-11 Matsushima (1975) P. curcuniae 16-23 x 7-9 Rathaiah (1980) P. cyperi 20,2-39,0 x 5,1-7,6 Siwasin & Giatgong (1971) P. didyma 12-16 x 7,5-8,5 Ellis (1976) P. digitariae 15,2-20,2 x 7,6-10,1 Siwasin & Giatgong (1971) P. distorta 18-26 x 7-9 Hashioka (1971) P. dubiosa 15-22 x 8-10 Viégas (1946) P. ebbelsii 28-35 x 13-15 Ellis (1976) P. echinochloae 12,6-25,3 x 7,6-10,1 Siwasin & Giatgong (1971) P. globbae 10,1-17,7 x 6,4- 8,9 Siwasin & Giatgong (1971) P. grisea 17-28 x 6-9 Ellis (1971a) P. guarumaicola 20-28 x 10-12 Albuquerque & Duarte (1971) P. lauri 9,5-14,5 x 4-5 Kirk (1983) P. leersiae 20-35 x 7-10 Hashioka (1973) P. leersiae 25-35,2 x 8,0-9,6 Veeraraghavan & Padmanabham (1965) P. lourinae 24-32 x 8-12 Albuquerque & Duarte (1971) P. luzulae 17,5-36,2 x 3,7-7,5 Ondrej (1988) P. oryzae 19-37 x 7-15 Ramakrishnan (1948) P. parasitica 15-22 x 5-7 Ellis & Everhart (1893) P. penniseti 18,35-36,70 x 7,35- 11,10 Prasada & Goyal (1970) P. sacchayi Viégas (1961) P. setariae 19-34 x 7-12 Kulkarni (1969) P. setariae 16,5-32,5 x 9,2-15,5 Goelet al. (1967) P. sphaerulata 27,3-31,5 x 4-4,5 Zucconi & Onofri (1986) P. vandalurensis 9-10 x 3-4 Subramanian & Vittal (1974) P. zingiberi 11,8-26,6 x 6,2-8,9 Nishikado (1927) P. zizaniaecola 24-33 x 10,5-15,5 Hashioka (1973) isolados de gramíneas invasoras e que as espécies de gramíneas foram suscetíveis aos isolados de arroz. Narita et al. (1956) também mostraram que a patogenicidade inicial do isolado ao arroz não foi perdida após sua passagem por diversas gramíneas. Entretanto, os fatores essenciais que determinam essa gama de hospedeiros ainda não foram elucidados (Arase et al., 1982). Asuyama (1965) considerou que o mais razoável seria incluir todas as espécies morfologicamente relacionadas que ocorrem sobre cereais e gramíneas invasoras sob um único nome específico, P. grisea, e complementou sugerindo que essa espécie poderia ser subdividida em formas especializadas, com base na compatibilidade patógeno-hospedeiro. O uso de formae specialis já teve sua passagem pela literatura, quando alguns autores propuseram a sua adoção como nova opção para se diferenciar isolados de P. grisea e P. oryzae. Govinda Rao & Koteswara Rao (1957) descreveram o fungo em Brachiaria mutica como P. oryzae f. sp. brachiariae. Além dessas, muitas outras formas especializadas foram descritas: P. grisea f. sp. brachiariae, P. gyisea f. sp. digitaria setigera, P. grisea f. sp. panicae (Veeraraghavan & Padmanahban, 1965); P. oryzae f. sp. commelinae (Thirumalachar et al., 1956); P. oryzae f. sp. stenotaphrii (Wilson & Peethambaram, 1974). As formae specialis são caracterizadas com base na sua reação fisiológica aos diferentes hospedeiros (Hawksworth, 1974). O problema principal para se reconhecer as formae specialis é a necessidade de uma gama de hospedeiros definida. Há problemas com a aceitação desta subdivisão, em razão de, até hoje, a literatura não ter apresentado uma definição nítida da gama de hospedeiros que distinga os isolados em formae specialis. Portanto, diante dos inúmeros outros exemplos encontrados na literatura (Purchio & Muchovej, 1991; Purchio, 1992), basear-se na gama de hospedeiros como único critério conclusivo para distinguir espécies morfologicamente similares, dentro de um mesmo gênero, é prática duvidosa e deve ser evitada. Descartando-se a classificação quanto à especificidade aos hospedeiros e a não existência de diferenças morfológicas significativas entre muitas das espécies de Pyricularia, não se justifica a descrição de novas espécies ou subespécies. Desde a descrição do gênero, muitas outras espécies foram descritas, muitas delas a partir de gramíneas hospedeiras (Purchio & Muchovej, 1991), sendo que a maioria difere de P. grisea somente em ligeiros detalhes, como variações do tamanho de conídios ou da gama de hospedeiros (Purchio & Muchovej, 1991) (Quadro 1). Um exemplo é P. zizaniaecola Hashioka, que ocorre em Zizania latifolia (Griseb) Turcz: Stapf e cujos conídios são maiores e mais largos (Goto et al., 1954). Por outro lado, outras espécies, como P. ebbelsii M.B. Ellis e P. didyma M. B. Ellis, são patogênicas, e, no entanto, parecem ser distintas: os conídios de P. ebbelsii são acentuadamente curvos, enquanto os de P. didyma possuem superfície de textura áspera (Ellis, 1976). Mais recentemente, a espécie Pyricularia lauri P. M. Kirk (1983) foi descrita ocorrendo em folhas senescentes de Laurus sp., no Reino Unido, e a espécie Pyricularia sphaerulata Zucconi & Onofri, em folhas decompostas de mata tropical. Uma característica interessante é que P. sphaerulata possui um “corpo” esférico apical (Zucconi & Onofri, 1986). Essas outras espécies de Pyricularia são facilmente distinguíveis pela morfologia que apresentam e por não serem patogênicas. Alguns micologistas e a maioria dos fitopatologistas que trabalham com espécies de Pyricularia têm considerado P. grisea como o agente causal de doenças em certas gramíneas, uma espécie morfologicamente distinta do organismo causador da brusone do arroz (Nishikado, 1927; Asuyama, 1965; Yaegashi & Hebert, 1976; Ribeiro, 1980, 1981; Ou, 1985). Mas, como apontado por Yamanaka & Kobayashi (1962), o fungo do arroz nem sempre é facilmente distinguível das outras formas apenas pelo tamanho dos conídios. Algumas autoridades nos Estados Unidos também consideram a P. oryzae do arroz morfologicamente idêntica a P. grisea de gramíneas. Asuyama (1965), assim como Yaegashi & Hebert (1976) e Yaegashi & Udagawa (1978), considerou que o mais razoável seria incluir todas as espécies morfologicamente relacionadas, que ocorrem sobre cereais e sobre gramíneas invasoras, sob um único nome específico, que, no caso, deveria ser P. grisea o nome mais familiar e bem aceito nos meios fitopatológicos este seria difícil de ser descartado. Assim, tem-se mantido o epíteto específico “oryzae” apenas pela conveniência; também, na maioria da literatura publicada, o agente causal da brusone do arroz encontra-se sob este nome. Vários autores têm sugerido que os nomes dessas duas espécies são sinonímias, mas a literatura ainda está bastante confusa a esse respeito (Asuyama, 1965). Parece haver uma diferença na composição genética dessas duas espécies. Hamer et al. (1989) demonstraram que o genoma de isolados patogênicos ao arroz possui 40-50 seqüências repetitivas de DNA, e os isolados patogênicos às outras gramíneas possuem apenas uma ou poucas seqüências repetitivas. Esse estudo dá base genética para a diferenciação desses indivíduos, mas não se baseia em diferenças morfológicas visíveis. Na tentativa de colocar um ponto final nessas dúvidas, Rossmann et al. (1990) estudaram as espécies-tipo de P. grisea e de P. oryzae e confirmaram suas similaridades morfológicas. Considerando os trabalhos de Yaegashi & Udagawa (1978), que conseguiram a produção da fase sexual pelo pareamento de isolados compatíveis de P. grisea e de P. oryzae de vários hospedeiros, Rossmann et al. (1990) sugeriram que esses “taxa” não estavam geneticamente isolados. Com certa relutância, consideraram as duas espécies como sinonímias, dando prioridade ao nome mais antigo, P. grisea. O autor correto do binômio é Saccardo (1880), desde que Cooke publicou a descrição da espécie Trichothecium griseum apenas em 1881, posteriormente à publicação de Saccardo (Rossman et al., 1990). Pyricularia Saccardo, 1880. Michelia 2:20. Conidióforos distintos, individuais ou agrupados, delgados, com paredes finas, geralmente emergindo isolados ou em pequenos grupos através dos estômatos, a maioria não ramificados, retos ou sinuosos, geniculados próximo ao ápice, cor de marrom-pálido, lisos. Células conidiogênicas poliblásticas, integradas, terminais, simpodiais, cilíndricas, geniculadas, denticuladas; os dentículos são cilíndricos e de parede fina, geralmente com um septo que separa as células conidiogênicas das demais células do conidióforo. Conídios solitários, secos, terminais ou laterais, simples, hialinos ou subhialinos (cor de marrom-oliváceo pálido), lisos, septados, com presença de hilo freqüentemente protuberante (Ellis, 1971a). Chave para as espécies de Pyricularia: 1. Conídios ovais a obpiriformes ................................................................. 2 Conídios fusiformes ........................................................... P. sphaerulata 2. Conídios ovais ........................................................................................ 3 Conídios obpiriformes ............................................................................. 4 3. Conídios com superfície áspera ................................................. P. didyma Conídioslisos ........................................................................... .... P. lauri 4. Conidióforos alongados com conídios laterais e persistentes ..................................................................... P. vandalurensis Conidióforos com conídios apicais ou laterais a partir do terço superior .................................................................................................. 5 5. Conidióforos ramificados ou produzindo apenas um conídio, mas não geniculados ........................................................................ P. dubiosa Conidióforos geniculados com a parte apical fértil .................................. 6 6. Conídios acentuadamente curvos .............................................. P. ebbelsii Conídios não acentuadamente curvos ...................................................... 7 7. Conídios com constrição nos septos ......................................... P. lourinae Conídios sem constrição nos septos ............................................. P. grisea Pyricularia grisea Sacc., 1880. Michelia 2:20. [Espécie-tipo] (Figura 2) = Trichothecium griseum (Sacc.) Cooke in Rav., Fungi Americani Exsiccati Nº 580, 1881. = Pyricularia angulata Hashioka, 1971. Trans. Mycol. Soc. Japan 12(3- 4):127. = Pyricularia cannae Roldan, 1938. Philippine J. Sci. 66: 110. = Pyricularia cannicola Hashioka, 1971. Trans. Mycol. Soc. Japan 12(3- 4):131. = Pyricularia caricis Matsushima, 1975. Icones Microfungorum a Matsushima Lectorum, p.120. = Pyricularia caricis Arnaud, 1953. Bull. Soc. Micol. Fran. 69:288. [nomen invalidum]. = Pyricularia curcumae (Sawada) Asuyama: Rathaiah, 1980. Plant Dis., 64:104. = Dactylaria curcumae Sawada, 1959. Spec. Publ., Taiwan Univ. 8:188-9. [nomen invalidum]. = Pyricularia cyperi Siwasin & Giatgong, 1971. Int. Rice Comm. Newsletter 20(2):16. [nomen nudum]. = Pyricularia digitariae Siwasin & Giatgong, 1971. Int. Rice Comm. Newsletter 20(2):16. [nomen nudum]. = Pyricularia distorta Hashioka, 1971. Trans. Mycol. Soc. Japan 12(3- 4):133. = Pyricularia echinochloae Siwasin & Giatgong, 1971. Int. Rice Comm. Newsletter 20(2):16. [nomen nudum]. = Pyricularia globbae Siwasin & Giatgong, 1971. Int. Rice Comm. Newsletter 20(2):16. [nomen nudum]. = Pyricularia guarumaicola Albuquerque & Duarte, 1971. Pesquisa Agropec. Brasil. 6:179. {de folhas de Ischnosiphon simplex}. = Pyricularia leersiae (Sawada) Ito, Bot. Mag. Tokyo 32:307. = Pyricularia luzulae Ondrej, 1988. Ceská Mykologie 42(2):81. = Pyricularia oryzae Cavara, 1891. Fungi Longobardiae Exsiccati Nº 49. = Pyricularia parasitica Ellis & Everhart, 1893. Proc. Acad. Nat. Sci. Philadelphia 45:462. = Pyricularia penniseti Prasada & Goyal, 1970. Current Science 39(12):287. = Pyricularia penniseti Prasada & Goyal, 1974. N. Hedwigia 47:623. = Pyricularia penniseti Siwasin & Giatgong, 1971. Int. Rice Comm. Newsletter 20(2):16. [nomen nudum]. = Pyricularia setariae Nishikado, 1917. Ber. Ohara Inst. Landw. Forsch. 1:171-217. = Pyricularia zingiberi Nishikado, 1917. Ber. Ohara Inst. Landw. Forsch. 1:171-217. Figura 2. Conídios e conidióforos de P. grisea, de P. lourinae, de P. sphaerulata e de P. ebbelsii, adaptados de desenhos das referências originais. = Pyricularia zizaniaecola Hashioka, 1973. Trans. Mycol. Soc. Japan 14:262. Conidióforos geniculados de até 150 m de comprimento e 2,5-4,5 m de espessura. Conídios hialinos a subhialinos, obpiriformes a obclavados, 2-septados, com hilo protuberante evidente, 12,5-46,1 x 5,1-13,5 m (Ellis, 1971a; Purchio, 1992). Habitat: comum em folhas de diversas gramíneas e, às vezes, em outras espécies vegetais, causando manchas arredondadas ou elípticas, bronzeado-pálido ou cor de marrom, freqüentemente com uma borda arroxeada ou cor de marrom-escuro. Pyricularia didyma M.B. Ellis, 1971b. Mycol. Papers 125:9. Conidióforos de até 200 m de comprimento e 2,5-4,5 m de espessura, geralmente simples, ocasionalmente ramificados, sinuosos, freqüentemente geniculados, septados, cor de marrom-pálido, lisos, com inúmeros dentículos de 1-2 x 1-1,5 m próximos ao ápice. Conídios ovóides ou amplamente elipsoidais, 1-septado, subhialinos, lisos ou com diminutas verrugosidades, 12-16 x 7,5-8,5 m (Figura 3). Habitat: em folhas de Pennisetum purpureum Schumach., causando lesões de 3-10 x 1-3 mm, fusiformes ou elípticas, cor de marrom- pálido ou marrom, com margens arroxeadas. Pyricularia dubiosa (Speg.) Viégas, 1946. Bragantia 6:387. = Fusicladiunt dubiosum Spegazzini, 1893. Conidióforos de 80-100 x 3,5-4 m, eretos, fuscos, septados, irrompendo em feixes ou isolados através das aberturas estomatais, simples ou ramificados, não geniculados, atenuados em direção à extremidade, com a célula basal inflada. Conídios piriformes, hialinos, lisos, 2-septados, 15-22 x 8-10 m (Figura 3). Habitat: em folhas de Digitaria violascens Link. e Digitaria sp. Essa espécie pertence ao gênero Pyricularia, diferindo de P. grisea pelo tamanho dos conídios, pelos conidióforos e pelo aspecto das lesões. Pyricularia ebbelsii M.B. Ellis, 1972. Mycol. Papers 131:10. Conidióforos de até 300 m de comprimento e 4-7 m de espessura, solitários ou fasciculados, geralmente simples, sinuosos, freqüentemente geniculados, septados, hialinos a cor de marrom-pálido, lisos, inflados na base (12-14 m), com numerosos dentículos próximos ao ápice. Conídios curvos, ovóides, obpiriformes ou obclavados 2-septados, subhialinos, com superfície lisa ou com minúsculas verrugosidades, 28-35 x 13-15 m. Habitat: em folhas de Commelina africana, causando lesões de até 1,7 x 0,5 cm, elípticas ou irregulares, cor de cinza-pálida ou de marrom, com margens cor de marrom-escuro. Pyricularia lauri P.M. Kirk, 1983. Mycotaxon 18:287. Conidióforos de 60-150 m de altura e 2-3,5 m de espessura, distintos, individuais ou agrupados, solitários, eretos, retos ou ligeiramente sinuosos, simples ou ramificados próximo ao topo, cor de marrom-pálido a marrom-avermelhado pálido, empalidecendo em direção ao ápice, lisos, septados. Células conidiogênicas integradas, terminais, simpodiais, denticuladas; cada dentículo é cilíndrico, de parede fina e com um septo formando uma célula de separação. Conídios apicais, solitários, elipsóides, lisos, cor de marrom muito pálido, 1-septado, com um hilo basal distinto derivado da parte distal da célula de separação, 9,5-14,5 x 4-5 m (Figura 3). Habitat: em pecíolos de folhas mortas de Laurus nobilis L. Pyyicularia loutinae Albuquerque & Duarte, 1971. Pesq. Agropec. Bras. 6:177. Conidióforos de 140-230 x 4 m, longos, eretos, simples, sem ramificação alguma mesmo na extremidade, hialinos, multisseptados, afilados em direção ao ápice, com esporos presos na parte apical e, lateralmente próximo ao ápice, isolados ou reunidos na maioria. Conídios piriformes, hialinos, 2-septados, distintamente constrictos à altura dos septos, 24-32 x 8-12 m (Figura 2). Habitat: em folhas vivas de Aniba burchellii Kostern (Lauraceae), nome vulgar de louro, causando manchas necróticas anfígenas no ápice, bordas ou centro do limbo foliar, onde se destacam as nervuras escurecidas, isoladas ou confluentes, de rápido desenvolvimento, abrangendo grande área foliar. Pyricularia sphaerulata Zucconi & Onofri, 1986. Mycotaxon 27:150. Conidióforos de 90-132 x 3,6-4,8 m, distintos, individuais ou agrupados, não ramificados, eretos, retos ou ligeiramente sinuosos, solitários, lisos, paredesgrossas, septados, bem desenvolvidos, pigmentados cor de marrom-dourado, empalidecendo gradualmente, as paredas tornam-se mais finas próximo ao ápice, base inflada. Células conidiogênicas integradas, terminais, simpodiais, denticuladas, paredes finas; dentículos subcilíndricos, achatados e abertos no ápice, septados na base. Conídios secos, solitários, terminais ou laterais, 3-septados, lisos, fusiformes, com base denticulada e ápice em forma de funil, terminando no topo com um corpo esférico hialino, cor de marrom-oliváceo claro, com protoplasma granular, com as células das extremidades mais pálidas que as centrais, 27,3-31,5 x 4-4,5 m (excluindo o corpo esférico) (Figura 2). Habitat: em folhas arbóreas mortas. Pyricularia vandalurensis Subramanian & Vittal, 1974. Proc. Indian Acad. Sci. B 80:216. Conidióforos de 120-240 m de comprimento e 3-4 m de espessura, simples, eretos ou procumbentes, retos ou sinuosos, com até 7- septos, base cor de marrom-escuro, ápice subhialino. A parte fértil do conidióforo é conspicuamente denticulada e freqüentemente retém conídios persistentes. Conídios blásticos produzidos terminalmente no ápice do conidióforo e, sucessivamente, em seus pontos de crescimento produzidos simpodialmente. Os conídios são hialinos, piriformes, com um único septo eqüidistante, ligeiramente pontudos próximo ao ápice, com hilo basal protuberante evidente, 9-10 x 3-4 m (Figura 3). Habitat: em folhas arbóreas mortas. Essa espécie é classificada no gênero Pyricularia Sacc. devido às similaridades evidentes na ontogenia e na morfologia dos conídios. Entretanto, se distingue das espécies conhecidas de Pyricularia, porque a região fértil do conidióforo é longa e denticulada e os conídios são caracteristicamente bicelulares, não são facilmente destacados, e ainda, são menores que os conídios de Pyricularia spp. conhecidos. Um estudo interessante foi realizado por Hamer et al. (1988) com a finalidade de identificar processos ou componentes celulares, nos primeiros estádios do processo de infecção, como ponto de partida para desenvolver Figura 3. Conídios e conidióforos de P. vandalurensis, de P. lauri, de P. didyma e de P. dubiosa, adaptados de desenhos das referências originais. medidas de controle da brusone do arroz. Hamer et al. (1988) apresentaram evidências de que os conídios de Magnaporthe grisea possuem um mecanismo que favorece a aderência imediata e persistente a várias superfícies. Essa aderência ocorre no ápice do conídio, assim que uma substância mucilaginosa é expelida especificamente pelo topo do conídio, anterior à ernissão do tubo germinativo. Análises ultraestruturais do ápice de conídios secos mostraram um depósito de material no espaço periplasmático, presumivelmente o que eles chamaram de “mucilagem do topo do esporo”. A parede celular externa do ápice de conídios hidratados se rompe, liberando uma matriz extracelular fibrosa, que culmina na aderência do conídio à superfície foliar. Zucconi & Onofri (1986) descreveram P. sphaerulata e relataram que uma característica que distingue essa espécie é a presença de um corpo esférico hialino no ápice do conídio, tornando-se menos evidente em lâminas mais velhas, em razão de sua rápida dissolução em ácido lático. Ainda citaram que o ápice do conídio tem forma de funil. Zucconi & Onofri (1986) discutiram que P. buloloensis Matsushima (1971) é a única espécie de Pyricularia publicada que apresenta uma estrutura similar, descrita como “calyptra gelatinosa”, porém ao redor do topo do conídio, e acrescentaram que em P. sphaerulata o corpo parece ser contínuo com a célula apical aberta e inflada do conídio. Observando-se o desenho de P. sphaerulata Zucconi & Onofri (1986), verifica-se um topo “aberto”, em forma de funil, sugerindo o que Hamer et al. (1988) evidenciaram para P. grisea: rompimento da parede celular externa do topo do conídio com posterior liberação de material gelatinoso. Resta saber se os conídios de P. sphaerulata foram estudados desde os primórdios de sua formação e já apresentavam essa característica, ou se foram observados apenas quando maduros. Espécies não confirmadas por falta de literatura: Pyricularia pyricularioides (T. Matsushima) G.S. deHoog & C.A.N. vanOorshot, 1985. Stud. Mycol. Baarn 26:118. = Dactylaria pyricularioides T. Matsushima. {?} P. saccharii Averna-Saccá in Viégas (1961). [nenhuma descrição encontrada]. Pyricularia sanseviehae Batista, Bezerra & Cavalcante, 1962. Publ. Inst. Micol. Univ. Recife 342:5. {em folhas secas de Ficus}. Outras espécies, anteriormente classificadas como Pyricularia, foram transferidas taxonomicamente e, atualmente, pertencem a outros gêneros: Dactylella aquatica (Ingold) Ranzoni, 1953. Farlowia 4:360. = Pyricularia aquatica Ingold, 1943. Trans. British Mycol. Soc. 26:111. = Dactylaria juncicola (MacGarvie) Bhatt & Kendrick, 1968. Can. J. Bot. 46:1257. Pyricularia borealis G.S. deHoog & C.A.N. vanOorshot, 1985. Stud. Mycol. Baarn 26:114. [considerando-se a descrição original, não pertence ao gênero Pyricularia]. = Diplorhinotrichum juncicola MacGarvie, 1965. Trans. British Mycol. Soc. 48:269. Cercosporidium chaetomium (Cooke) Deighton, 1967. Mycol. Pap. 112:27. = Cladosporium chaetomium Cooke, 1889. Grevillea 17(83):66. = Pyricularia euphorbiae (Tracy & Earle) Atkinson, 1897. Bull. Cornell Univ. 3(11):40. Nakataea fusispora (Matsushima) Matsushima, 1975. Icones Microfungorum a Matsushima Lectorum, p.100. = Vakrabeeja fusipora T. Matsushima, 1971. Microfungi of the Solomon Islands and Papua-New Guinea, p.66. = Pyricularia (T. Matsushima) L. Zucconi, S. Onofri & A.M. Persiani, 1984. Micologia Ital. 13(2):9. Dactylaria higginsii (Luttrell) M.B. Ellis, 1976. More Dematiaceous Hyphomycetes, p.173. = Pyricularia higginsii Luttrell, 1954. Mycologia 46:810. Dactylaria junci M.B. Ellis, 1976. More Dematiaceous Hyphomycetes, p.172. = Pyricularia juncicola MacGarvie, 1962. Scient. Proc. Royal Dubl. Soc., Ser. B., 2(16):155. Pyriculariopsis parasitica (Sacc. & Berl) M.B. Ellis, 1971a. Dematiaceous Hyphomycetes, p.207. = Helminthosporium parasiticum Sacc & Berl., 1889. Rev. Mycol. 11:204. = Pyricularia musae Hughes, 1958. Can. J. Bot. 36:800. Dactylella submersa (Ingold) S. Nilsson, 1962. Bot. Notiser 115:78. = Pyricularia submersa Ingold, 1944. Trans. British Mycol. Soc. 27:46. Cercosporidium guanicense (Stevens) Deighton, 1967. Mycol. Pap. 112:34. = Cladosporium guanicense Stevens, 1917. Trans. 111. Acad. Sci. 10:207. = Pyricularia whetzelii (Chupp) Batista & Garnier, 1960. Publ. Inst. Micol. Univ. Recife 278:18. = Cercospora whetzelli Chupp, 1931. J. Dept. Agr. P. Rico 15:16. Espécies excluídas do gênero Pyricularia: Pyyicularia apiculata Matsushima, 1971. Microfungi of the Solomon Islands and Papua-New Guinea, p.47. {em hastes apodrecidas de Phyllostachys sp.} [conídios marrons]. Pyricularia buloloensis Matsushima, 1971. Microfungi of the Solomon Islands and Papua-New Guinea, p.48. {em folhas apodrecidas de Musa paradisiaca} [conídios marrons]. Pyricularia rabaulensis Matsushima apud Kobayasi et alii, 1971. Bull. Nat. Sci. Mus. Tokyo 14(3):473. {em folhas apodrecidas Musa sp.} [conídios marrons]. Pyricularia scripta (Bonar) Saccardo, 1886. Sylloge Fungorum 4:218. [produz sinêmios]. = Arthrinium scriptum Bonar, Handbook, page 84. Conidióforos fasciculados, agrupados formando sinêmios. Conídios apicais, ovóides ou piriformes, 4-5-septados, hialinos. Habitat: em ramos de árvores e frutos. Nakataea Hara, 1939. Diseases of the RicePlant, Ed. 2:185. = Vakrabeeja Subramanian, 1956. J. Indian Bot. Soc. 35:465. Escleródios pretos esféricos ou subesféricos são formados em substrato natural ou em meio de cultura. Conidióforos distintos, individuais ou agrupados, não ramificados ou raramente ramificados, cor de marrom, lisos. Células conidiogênicas poliblásticas, integradas, simpodiais, cilíndricas, às vezes geniculadas, denticuladas; dentículos com paredes finas, cilíndricos ou amplamente cônicos, cada um interrompido por um septo para formar uma célula de separação. Conídios solitários, secos, terminais ou laterais, sendo liberados por uma ruptura da fina parede da célula de separação, simples, falciformes a sigmóides, lisos, septados, células coloridas desigualmente, a célula de cada extremidade é hialina ou cor de marrom muito pálido, células intermediárias pálidas ou cor de marrom meio pálido (Ellis, 1971a). N. sigmoideae (Cav.) Hara, 1939. Diseases of the Rice Plant, Ed. 2:185. = Helminthosporium sigmoideum Cavara, 1889. Rev. Mycol. 11:185. = Vakrabeeja sigmoideae (Cav.) Subram., 1956. J. Indian Bot. Soc. 35:465. = Curvularia sigmoideae (Cav.) Hara, 1959. A monograph of rice diseases. p.42. Escleródios, a maioria, de 200-300 m de diâmetro. Conidióforos de até 200 m de comprimento e 4-6 m de espessura. Conídios de 40-83 m de comprimento e 11-14 m de espessura na parte mais larga, afunilando-se abruptamente nas extremidades. Habitat: em Oryza, causando podridão de haste, doença séria. O gênero Nakataea difere de Pyricularia pelos seus conídios escuros e de formato sigmóide ou falciforme (Ellis, 1971a). TAXONOMIA DO GÊNERO Magnaporthe Há diversidade de relatos sobre a fase teleomórfica de Pyricularia, entretanto as informações disponíveis ainda são bastante limitadas (Webster, 1965; Hebert, 1971; Ueyama & Tsuda, 1975; Yaegashi & Hebert, 1976; Kato et al., 1976). A falta de conhecimento do teleomorfo de Pyricularia dificultou o desenvolvimento de estudos genéticos sobre o fungo por um longo período (Yaegashi, 1977). O teleomorfo é indispensável para a determinação da posição taxonômica dos isolados em estudo, além de possibilitar a realização de estudos genéticos e de determinar a relação entre patógenos relacionados (Yaegashi & Nishihara, 1976; Yaegashi, 1977). Hebert (1971) obteve a fase teleomórfica de isolados de Pyricularia de Digitaria sanguinalis (L.) Scop., em laboratório, e constatou que esse ascom,iceto se relacionava ao grupo de fungos que Munk (1957) classificou na família Diaporthaceae. Morfologicamente, esse fungo mais se assemelhava às espécies de Ceratosphaeria que às de qualquer outro gênero, para o qual Hebert (1971) estabeleceu o binômio C. grisea. Segundo Yaegashi & Udagawa (1978), quando Hebert (1971) descreveu C. grisea, este autor não discutiu claramente sua relação com a família Diaporthaceae. Embora, naquela época, o teleomorfo tenha sido classificado no gênero Ceratosphaeria, essa escolha não se adequava ao ‘taxon’, em razão do habitat graminícola, do peritécio com pescoço mais largo, dos ascos unitunicados e da presença de conídios do tipo simpodial na forma imperfeita. Yaegashi & Nishihara (1976) relataram que o teleomorfo dos isolados de Pyricularia obtidos de gramíneas aparentetnente se assemelhava ao de Diaporthaceae e sugeriram, com firmeza, o gênero Magnaporthe em vez de Ceratosphaeria. Assim, Barr (1977) transferiu C. grisea para Magnaporthe grisea, um ascomiceto heterotálico da classe dos Pyrenomycetes, com controle bipolar de parcamente. Subseqüenternente, os isolados de outras gramíneas, incluindo os de arroz, foram cruzados, embora a fertilidade variasse entre eles (Kato et al., 1976; Yaegashi & Udagawa, 1978). O gênero monotípico Magnaporthe foi criado por Krause & Webster (1972) para acomodar a espécie-tipo, M. salvinii (Catt.) Krause & Webster, descrita como causadora da podridão da haste do arroz. Seu anamorfo é Nakataea sigmoidea Hara. Entre M. salvinii e o teleomorfo de isolados de P. grisea existem muitas similaridades, não apenas nas características morfológicas e culturais, mas também em sua ocorrência em arroz. Além disso, uma comparação entre os trabalhos de Yaegashi & Hebert (1976) e de Yaegashi & Udagawa (1978) com os resultados de Krause & Webster (1972), em M. salvinii, revela similaridades adicionais nos dois ‘taxa’: pescoço do peritécio com forma cilíndrica mais alargada; ápice mais espesso e poro dos ascos; morfologia inicial dos ascocarpos e forma de liberação dos ascosporos. Entretanto, Magnaporthe grisea difere de M. salvinii por produzir ascos mais curtos e ascosporos menores e, ainda, o anamorfo de M. salvinii é facilmente diferenciado pelas suas colonias escuras, pelos conídios de três septos e pela forma sigmóide ou falciforme (Yaegashi & Udagawa, 1978). Magnaporthe Krause & Webster, 1972. Mycologia 64:110. Sem estroma; peritécio escuro, globoso; pescoço comprido, cilíndrico, ligeiramente projetado, ou não, acima da superfície da bainha foliar; ascos unitunicados, de parede fina, de hastes curtas, flutuando livremente dentro do peritécio e dissolvendo-se na maturidade; ascosporos longos, fusiformes, curvos, tricelulares, ligeiramente constrictos no septo, hialinos ou cor de marrom-amarelado na maturidade; paráfises parcialmente gelatinosas na maturidade. Chave para as espécies de Magnaporthe: 1. Ascosporos hialinos a subhialinos ou amarelos ....................................... 2 Ascosporos com células centrais cor de marrom ...................................... 3 2. Ascosporos hialinos ............................................................. ...... M. grisea Ascosporos com células centrais amarelas ................................ M. salvinii 3. Ascosporos de 23-42 x 4-6 m ..................................................... M. poae Ascosporos de 24-28 x 6-8 m ............................................ M. rhizophila Magnaporthe El-salvinii (Cattaneo) Krause & Webster, 1972. Mycologia 64:110 [Espécie-tipo] (Figura 4). = Leptosphaeria salvinii Cattaneo, 1876. Arch. Lab. Botan. Critt. Univ. de Pavia 2-3:126-7. Fase conidial: Nakataea signzoideae (Cav) Hara, 1939. Fase esclerocial: Sclerotium oryzae Cattaneo, 1876. Rendic. R. Lombard., Milano, 2 ser. 9:801-7. Peritécio escuro, globoso, imerso no exterior da bainha foliar, 250- 650 m de diâmetro, 500-1100 m de comprimento (incluindo o pescoço), camadas de cinco a doze células de espessura formando a parede do peritécio, células escuras, alongadas; pescoço ligeiramente projetado, ou não, acima da superfície da bainha foliar. Figura 4. Ascos e ascosporos de Magnaporthe grisea, adaptados de desenhos originais (Yaegashi & Udagawa, 1978). Os desertos dos ascosporos de M. salvinii, de M. poae e de M. rhizophila foram adaptados de descrições, e as fotomicrografias, das referências originais. Todos os ascosporos estão desenhados em mesma escala. Ascos cilíndrico-longos, de parede fina, de hastes curtas, 8 ascosporos, 104-165 x 8,7-17,4 m, deliqüescente quando os ascosporos amadurecem. Ascosporos bisseriados, ligeiramente torcidos, 3-septados, ligeiramente constrictos no septo, fusiformes, curvos; em cultura todas as células são igualmente granulares e hialinas, ao natural as células distais são hialinas e menos granulares que as células medianas que podem ser hialinas, amarelas ou cor de marrom-amarelado, 35-65 x 8,7 m (Figura 4). Habitat: em limbos foliares de Oryza sativa L. Magnaporthe grisea (Hebert) Barr, 1977. Mycologia 69:953. = Magnaporthe grisea (Hebert)Yaegashi & Udagawa, 1978. Can. J. Bot. 56:181. = Ceratosphaeria grisea Hebert, 1971. Phytopathology 61:86. = Phragmoporthe grisea (Hebert) Monod, 1983. Beheift Sydowia 9:153. Fase conidial: Pyricularia grisea Saccardo, 1880. Peritécio freqüentemente agregado, não estromático, parcialmente imerso, base esférica a subesférica, 80-260 m de diâmetro, 500-1200 m de comprimento (incluindo o pescoço), cor de marrom-escuro a preto, lisos; pescoço cilíndrico longo, freqüentemente com prolongamento secundário, até 1100 m de comprimento e 55-160 m de diâmetro, cor de marrom-pálido, projetando-se acima da superfície do ágar, ostíolo largo, paredes de “textura oblita”, interior revestido com perífises delgadas. Perídio cor de marrom- escuro, opaco, membranoso, pseudoparenquimatoso, 8-12 m de espessura; camada externa constituída de células angulares cor de marrom de 4-12 x 4-8 m. Ascos hialinos, 8 ascosporos, cilíndricos a cravados, 55-110 x 8-15 m, unitunicados, arredondados a ligeiramente truncados na parte superior, de hastes curtas, base evanescente na maturidade e ascos livres dentro da cavidade; anel apical muito distinto, não colorido pelo reagente de Melzer. Ascosporos bisseriados, hialinos, freqüentemente com gotículas de óleo, fusiformes, curvos, arredondados em ambas as extremidades, 3-septados transversalmente, ligeiramente constrictos nos septos, de parede lisa, na maturidade liberados através do ostíolo dentro de uma massa gelatinosa, germinando geralmente em cada extremidade, heterotálico, 18-23 x 5-7 m (Figura 4). Paráfises indistintas, hialinas, infladas na base, não ramificadas, septadas, deliqüescentes. Habitat: apenas em cultura artificial, obtidos pelo pareamento de isolados compatíveis. Magnaporthe rhizophila Scott & Deacon, 1983. Trans. Brit. Mycol. Soc. 81:77. Peritécio superficial, preto, individual ou em grupos, globoso, 400- 500 m de largura, pescoço cilíndrico constricto na base, 100-120 m de largura, até 600 m de comprimento. Parede do peritécio com 15-20 m de espessura, composta de várias camadas de células comprimidas radialmente, camada interna cor de marrom-pálido, camadas externas cor de marrom- escuro, formando um tecido que visto superficialmente possui textura angular ou epidermoidal. Canal do pescoço de até 70 m de largura, revestido por perífises hialinas e apontadas ascendentemente. Ascos cilíndricos, de hastes curtas, unitunicados, 8 ascosporos, com ápice afunilado, mas arredondado ou ligeiramente truncado, poro apical cercado por anel refrativo, 80-100 x 8-12 m. Ascosporos bisseriados, fusiformes, ligeiramente curvos, meio torcidos dentro do asco quando jovens, 3-septados, célula hialina em cada extremidade, células intermediárias de parede espessa cor de marrom ou de marrom-escuro, 24-28 x 6-8 m (Figura 4). Filamentos parecidos com paráfises entre os ascos, septados, 4-6 m perto da base, afunilando para 2 m o topo, dissolvendo-se na maturidade. Habitat: em raízes de trigo cultivado em solo de campo com Setaria. Magnaporthe poae Landschoot & Jackson, 1989. Mycot Res. 93:59. Peritécio individual ou em grupos, imerso, às vezes superficial, preto; corpo globoso, 252-556 m de diâmetro; pescoço cilíndrico, 357-756 x 95-179 m no ponto mais largo. Parede do peritécio de até 47 m de espessura, composta por várias camadas de células cor de maffom comprimidas radialmente ou isodiamétricas. Células externas epidermoidais. Canal do pescoço de até 40 m de diâmetro revestido com perífises hialinas ascendentes. Ascos numerosos, clavados, cilíndricos, de hastes curtas, retos ou ligeiramente curvos, unitunicados, 8 ascosporos, ápice afunilado mas arredondado, poro apical com anel refrativo não-amilóide, 63-108 x 7-15 m no ponto mais largo. Ascosporos fusiformes, 2-septados na maturidade, células hialinas nas extremidades, células intermediárias de parede espessa e escuras, germinação a partir de uma ou de ambas células hialinas, 23-42 x 4-6 m (Figura 4). Paráfises surgindo a partir do himênio entre os ascos, bialinas, septadas, às vezes ramificadas, 64-112 x 5-12 m perto da base afunilando para 2-3 m no topo. Habitat: o anamorfo foi isolado de raízes de Poa pratensis L. e Poa annua L. Phragmoporthe Petrak, Ann. Mycol. 32:354, 1934. Estroma disperso, bastante espesso, parenquimatoso; peritécio incorporado ao estroma, obpiriforme alongado, com o vértice rompendo a epiderme e alongando-se. Pescoço típico, obpiriforme cilíndrico, surgindo pelos estômatos. Ascos muito numerosos, delicados e de paredes finas, de hastes curtas, 8 ascosporos. Ascosporos alongados com vários septos cruzados, bialinos. Pseudoparáfises ligeiramente a muito numerosas. Curiosamente, há uma pequena heterogeneidade dos fungos dentro do gênero Magnaporthe. M. poae e M. rhizophila: ambas ocorrem em raízes de gramíneas e ambas possuem o mesmo anamorfo, Phialophora Medlar (Scott & Deacon, 1983; Landschoot & Jackson, 1989). Essas duas espécies parecem morfologicamente similares, mas diferem quanto à compatibilidade; enquanto M. poae é beterotálica, M. rhizophila é homotálica (Landschoot & Jackson, 1989). Phialophora produz fiálides (Ellis, 1971a). M. salvinii possui ascosporos com as células centrais hialinas a amarelas ou cor de marrom- amarelado e Nakataea como anamorfo (Krause & Webster, 1972). Ambas, Nakataea e Pyricularia, produzem conídios holoblásticos (Hawsworth et al., 1983). Mas Magnaporthe grisea possui ascosporos hialinos, criando um grande dilema, porque M. grisea (hialina) não parece pertencer ao mesmo gênero de M. poae e de M. rhizophila, salientando-se, ainda, as diferenças em suas fases anamórficas. Comparando-se suas descrições, M. salvinii e M. grisea são muito similares e elas parecem ser diferentes de M. poae e de M. rhizophila. Um gênero de ascomicetos que possui duas fases anamórficas diferentes é Venturia Sacc. Ambos, Fusicladium Bonorden e Spilocaea Fr.: Fr., têm sido relatados como anamorfos deste gênero e ambos possuem formação de conídios holoblásticos (Ellis, 1976; Hawksworth et al., 1983). Desta afirmação, o que importa é que a formação de conídios de ambos esses fungos imperfeitos é similar. Levando em consideração os fungos, até então classificados no gênero Magnaporthe, depreende-se que os estágios imperfeitos têm ontogenia de conídios diferente. Ambas, Nakataea e Pyricularia, possuem conidiogênese holoblástica. Registra-se que esses fungos são similares, e alguns autores têm procurado agrupá-los dentro do mesmo gênero (Hawksworth et al., 1983). Por outro lado, estão os anamorfos de duas espécies de Magnaporthe que possuem conidiogênese fialídica. Sem dúvida, essas duas espécies [M. poae e M. rhizophila] são similares, mas diferem substancialmente tanto de Pyricularia quanto de Nakataea. É importante, também, comparar-se a morfologia dos ascosporos. Magnaporthe poae e M. rhizophila possuem ascosporos que são escuros nas células centrais. Essa coloração escura é bem característica. Magnaporthe salvinii e o gênero Magnaporthe foram descritos como possuindo ascosporos hialinos a cor de marrom-amarelado na maturidade (Krause & Webster, 1972). Ascosporos de coloração escura não foram mencionados. Monod (1983) classificou Magnaporthe sob o gênero Phragmoporthe Petrak, descrito anteriormente como um fungo similar que produzia ascosporos hialinos. O problema com essa classificação é que Monod (1983) tomou M. grisea como seu exemplar de estudo. Magnaporthe grisea não é a espécie-tipo do gênero. Essa foi uma das falhas em sua classificação. Magnaporthesalvinii não se enquadra muito bem dentro do gênero Phragmaporthe, porque seus ascosporos não são estritamente hialinos como Petrak (1934) descreveu. A cor hialina a cor de marrom-amarelado dos ascosporos exclui M. salvinii do gênero Phragmoporthe. Será que os ascosporos hialinos de M. grisea se assetnelharn com aqueles produzidos pelo gênero Phragmoporthe? Como descrito por Petrak (1934), Phragmoporthe produz um estroma bem distinto, o que M. grisea não produz. Apenas essa característica já é suficiente para exclui-la do gênero Phragmoporthe. Considerando esses pontos, o gênero de M. salvinii e de M. grisea deveria permanecer como Magnaporthe. Agora, sob esse aspecto, torna-se importante estabelecer se M. poae e M. rhizophila devem permanecer no gênero Magnaporthe. A formação de hifopódios e fato de que todas as espécies são agentes etiológicos de doenças em gramíneas não parece suficiente para manter todos esse fungos classificados no mesmo gênero, especialmente considerando-se a coloração dos ascosporos. Magnaporthe foi classificada por Barr (1977) na ordem Polystigmatales. A ordem Polystigmatales possui ascosporos hialinos ou subhialinos. A ordem Diaporthales, morfologicamente similar à ordem Polystigmatales, tanto pode possuir ascosporos claros quanto escuros. Outras características de Magnaporthe, como a não produção de um himênio definido, ascos deliqüescentes e ascosporos livres no peritécio, justificam sua classificação na ordem Diaporthales. Assim, todas as quatro espécies atuais do gênero Magnaporthe seriam mais bem situadas na ordem Diaporthales. LITERATURA CITADA ALBUQUERQUE, F.C. & DUARTE, L.R. 1971. Duas novas espécies de Pyricularia coletadas na Amazônia. Pesq. Agropec. Brasil. 6:177-818. ARASE, S.; NITTA, H. & ITOI, S. 1982. 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