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Aula 2 - Constitucional I

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Aulas 2 
 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
Nestas duas aulas serão abordados os principais aspectos históricos do 
constitucionalismo, a partir das experiências constitucionais da Inglaterra, dos Estados 
Unidos e da França. O rompimento com o direito medieval e o surgimento do 
Absolutismo serão apresentados como contexto propício para o surgimento das 
revoluções liberais e, pois, do constitucionalismo a partir da sua ideia germinal de 
limitação do poder político. É que o constitucionalismo desenvolve-se dentro de um 
cenário de abuso do poder, em que ao poder absoluto do rei são contrapostos direitos 
individuais fundamentais. É o contexto do surgimento das declarações de direito 
inglês, americana e francesa (declaração dos direitos do homem de 1789). Por fim, 
será estudada a crise do constitucionalismo liberal e o surgimento do Estado Social e 
dos direitos fundamentais sociais, com a Constituição Mexicana e com a Constituição 
de Weimar. 
 
Bibliografia básica: 
BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os 
conceitos fundametnais e a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2010. 
 
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, 
Daniel Francisco. Curso de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos 
Tribunais, 2012. 
 
Bibliografia complementar: 
RIDOLA, Paolo. O constitucionalismo: itinerários históricos e percursos 
conceituais. Revista da AJURIS: Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, 
Porto Alegre , v. 38, n. 121, p. 277-313, mar. 2011. 
 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
1 Da Antiguidade ao início da Idade Moderna 
A imposição de limites ao poder é um dos traços mais marcantes do Direito 
Constitucional. Foi sob tal perspectiva que a matéria ganhou fôlego a partir das 
revoluções liberais dos séculos XVII e XVIII, sendo possível, nessa toada, afirmar que a 
origem da expressão Direito Constitucional “prende-se ao triunfo político e doutrinário de 
alguns princípios ideológicos na organização do Estado Moderno”, consubstanciados na 
ideia fundamental de limitação da autoridade governativa1. De mesma forma, o termo 
constitucionalismo vem a significar, na sua essência, limitação do poder e supremacia da 
lei2. Constitucionalismo, todavia, não significa necessariamente e existência de uma 
Constituição escrita como instrumento limitador do poder, na medida em que há situaões 
nas quais formalmente existe Constituição, mas não se pode constitucionalismo, sendo a 
recíproca verdadeira, como no caso notório da Inglaterra3. 
É na antiguidade que se pode encontrar o germe da reflexão sobre o fundamento 
da ordem política e sobre os limites do poder4. Em Atenas, pode-se identificar o primeiro 
grande precedente de limitação do poder político, de um governo de leis, e não de 
homens, com a participação dos cidadãos nos assuntos públicos5. Essa evolução pode 
ser sentida a partir da obra de Aristóteles, mormente o tratado sobre a Política e sobre a 
Constituição dos Atenienses. Antes dele, a reflexão sobre o ordenamento da polis estava 
condicionada pela ideia que a organização da comunidade política estivesse governada 
pela vontade dos deuses e, consequentemente, subtraída dos homens6. 
Na linha dos estudos aristotélicos, o centro da vida política de atenas era a 
Assembleia, na qual se reuniam e deliberavam os cidadãos, para tomar as decisões 
políticas por maioria dos votos dos presentes7. Entretanto, somente era considerado 
cidadão ateniense e, portanto, detentor do direito de voto, o homem, filho de pai 
 
1
 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 27ª ed. atualizada. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 
38. 
2
 , p. 5. 
3
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e a 
construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 5. 
4
 RIDOLA, Paolo. O constitucionalismo: itinerários históricos e percursos conceituais. Revista da AJURIS: 
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre , v. 38, n. 121, p. 277-313, mar. 2011, p. 280. 
5
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e a 
construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 6. 
6
 RIDOLA, Paolo. O constitucionalismo: itinerários históricos e percursos conceituais. Revista da AJURIS: 
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre , v. 38, n. 121, p. 277-313, mar. 2011, p. 281. 
7
 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. A Democracia no limiar do Século XXI. São Paulo: Saraiva, 2001, 
p. 4. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
ateniense e de mãe filha de pai ateniense8. O sistema constitucional ateniense passa a 
ser o de uma democracia exercida pelo povo reunido no monte Pnice, em Assembleia9, 
de forma direta, ou seja, sem representação, o que, com o passar dos anos, se tornou 
insustentável com o crescimento populacional10. O próprio termo Constituição já indicava 
um modo de organização política ideal da sociedade, aspecto presente no conceito 
contemporâneo de Constituição11. 
Em roma, o ideal constitucionalista de limitação do poder esteve presente com a 
implantação da República, em 529 a.C., pondo fim à monarquia etrusca, com a Lei das 
Doze Tábuas. Não obstante o poder militar e potlítico romano ter se estendido por quase 
todo o Mediterrâneo, sua estrutura jurídica e instituições políticas permaneceram sendo 
as de uma cidade-Estado, em que as decisões eram concentradas em um número 
limitado de órgãos e pessoas. Referidas instituições eram compostas pelas Assembleia, 
dotadas de poder para eleborar leis, pelos Cônsules, principais agentes executivos, altos 
funcionários, como os pretores, questores e tribunos da plebe, além do Senado, órgão 
consultivo que, na verdade, era a fonta material e efetiva de poder. O rompimento com a 
estrutura constitucional ocorreu na medida em que os comandantes miltiares tornaram-
se excessivamente poderosos e escaparam ao controle efetivo dos órgãos políticos. O 
fim da República, com a coroação do imperador, não significou, pois, o fim de Roma12, 
mas, sim, da experiência e do ideal constitucionalista, vindo dos gregos e retomado 
pelos romanos13. 
Em 476 d.C. ocorre a queda do Império Romano do Ocidente e a tomada de roma 
pelos povos bárbaros14, os quais levaram consigo seus próprios costumes legais 
germânicos, que eram aplicados a eles mesmos, porém não a seus conquistados, 
 
8
 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. A Democracia no limiar do Século XXI. São Paulo: Saraiva, 2001, 
p. 5. 
9
 JAGUARIBE, Hélio. “A Democracia de Péricles”. In: A democracia grega. Brasília: UNB, 1981, p. 36. 
10
 A história da Europa antiga demonstrou a impraticabilidade da democracia só direta quando a população 
cresce (grécia) e a imprescindibilidade da democracia para manter-se o imperium, o poder político sobre 
grades populações (roma) (PONTES DEMIRANDA, Francisco Cavalcanti. Democracia, Liberdade, 
Igualdade: Os três caminhos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 229) 
11
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 37. 
12
 MERRYMAN, John Henry. La tradicion juridica romano-canonica. Mexico: Fondo de Cultura Económica, 
1971, pp. 25-26. 
13
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 8. 
14
 Eram considerados bárbaros, todos aqueles povos que não falavam o latim (língua oficial romana)e não 
habitavam o império romano. Eram, primordialmente, de origem germância, e habitavam, à época do 
Império Romano, as regiões norte e noroeste da Europa e noroeste da Ásia. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
baseados em sua norma jurídica de que a nacionalidade de uma pessoa a acompanha a 
toda a parte onde vai. Começou a ocorrer uma certa fusão de leis tribais germânicas 
com instituições jurídicas romanas em certas regiões da Itália, do sul da França e da 
Península Ibérica, o que, com o passar dos séculos, produziu aquilo que veio a ser 
chamado de direito romano “vulgarizado” ou “barbarizado” e que ainda tem interesse 
primordial aos historiadores do direito. Com a queda do Império Romano, este tem sua 
continuidade no Oriente, desenvolvendo-se o chamado chamado Império Bizantino em 
Constantinopla (antiga cidade de Bizancio), que teve o seu apogeu com o Justiniano, 
cujo governo marca o fim do período pós-clásssico do Direito Romano15. 
Ao lado do Império Romano do Oriente, a transição da antiguidade para o 
medievo era carcterizada pelas tribos germânicas invasoras e pelo mundo árabe do Islã, 
que se expandia a partir da Ásia, via África do Norte. Os povos da Europa, pelo milênio 
seguinte à derrota de Roma, integraram uma grande multiplicidade de principados locais 
autônomos, sendo os únicos poderes a invocar autoridade mais ampla a Igreja Católia e, 
a partir do século X, o Sagrado Império Romano-germânico16. A Idade Média (século V-
XV) vai, desse modo, forjar uma noção de “Estado Feudal” no qual se manifestava uma 
pluralidade de poderes, que deu origem a várias figuras e a complexas relações 
hierárquicas, sem unidade solidamente constituída17. As relações de poder se 
estabeleciam entre o dono da terra e seus vassalos, restando autoridade mínima para o 
 
15
 Conforme Biondo Biondi, “o direito pós-clássico termina com a compilação de Justiniano. É uma época 
de grande decadência seja no aspecto político, seja no aspecto jurídico. A atividade doutrinária dos juristas 
cai completamente, os quais cuidam de salvar e recolher o máximo possível da imensa produção 
legislativa e jurisprudencial da época precedente” (BIONDI, Biondo. Istituzioni di diritto romano. 2. ed. 
Milano: Giuffrè, 1952, p. 5). 
16
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 8. Conforme o mesmo autor, “o sagrado 
Império Romano-Germânico constitui um esboço de concentração de poder poolítico, embora ainda sem 
os atributos e a intensidade que viriam a identificar os Estados nacionais. A tentativa de revivier a tradição 
do Império Romano vinha expressa na própria denominação. O Sacro Império desenvolveu-se a partir da 
linha franca do chamado Império do Ocidente, de Carlos Magno, após a dissolução deste em 843. Embora 
abarcasse vastas regiões, incluindo pedaços das atuais França e Itália, o Império era conduzido pelos 
principados germânicos, que instalaram na região monarquica eletiva em que os dueques da Saxônia, 
Francônia, Suábia e Naviera elegiam um enorme entre si para ocupar o trono. Oto I foi eletio em 936 e, 
devido às suas conquistas militares, passou a desfrutar de grande prestígio e influência, tanto em relação 
aos nobres quanto em relação à Igreja Católica, tendo sido sagrado Imperador pelo Papa João XII no ano 
de 962” (BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos 
fundametnais e a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 8). 
17
 DEL VECCHIO, Giorgio. Teoria do estado. Tradução portuguesa de Antònio Pinto de Carvalho. São 
Paulo: Saraiva, 1957. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
rei18. O problema do poder e dos seus limites, pois, permanece “encapsulado em 
arranjos políticos caracterizados pela coexistência de centros de poder com pretensão 
de universalidade, como o Império e o Papado, com a estrutura fragmentada da 
sociedade e da organização feudal”, moldura na qual comparecem os elementos, 
peculiaríssimos do constitucionalismo medieval19, mormente a partir da reguação dos 
aparatos de domínio, com arranjos escritos aos arranjos constitucionais de diversos 
centros depoder, mediante, por exemplo, a criação de estatutos das cidades, das 
universidades, das corporações, além do direito canônico e das constituições das ordens 
monásticas. 
 Somente na alta Idade Média começa-se a esboçar o processo de concentração 
do poder que levaria à formação dos Estados nacionais como organização política 
superadora dos modelos muito amplos e difusos (papado, império) e dos muito 
reduzidos e paroquiais (tribos, feudos)20. Com o surgimento do Estado moderno, pois, “o 
poder político, antes fragmentado em diversos centros de poder, torna-se centralizado, 
indivisível e absoluto, depositado nas mãos do monarca, cuja soberania era legitimada, 
segundo uma série de teorias, pelo direito divino”21. 
Progressivamente, o poder secular liberta-se do poder religioso, mas sem lhe 
desprezar o potencial de legitimação. Soberania é o conceito da hora, concebida como 
absoluta e indivisível, atributo essencial do poder político estatal. Dela derivam as ideias 
de supremacia interna e independência externa, essenciais à afirmação do Estado 
nacional sobre os senhores feudais, no plano doméstico, e sobre a Igreja e o Império 
(romano-germânico), no plano internacional. Com Jean Bodin e Hobbes, a soberania tem 
seu centro de gravidade no monarca22. 
Com a ascensão das correntes filosóficas que iriam forjar o ambiente do 
iluminismo a legitimação e exercício do poder foram enquadradas em esquemas 
racionalistas, de modo que, especialmente a partir do século XVIII, algumas da 
 
18
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 8-9. 
19
 RIDOLA, Paolo. O constitucionalismo: itinerários históricos e percursos conceituais. Revista da AJURIS: 
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre , v. 38, n. 121, p. 277-313, mar. 2011, p. 283. 
20
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 8-9. 
21
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 39. 
22
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 9. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
consequências desse movimento já se mostravam claras no cenário jurídico e político 
europeu, inclusive migrando para o ceneário das colônias inglesas na América, em que 
acabou eclodindo o processo que levou ao surgimento das primeiras constituições 
escritas no sentido moderno do termo. Dentre tantos outros aspectos dignos de nota, 
enfatiza-se aqui a afirmação do primado da lei em detrimento do costume como fonte do 
direito (movimento de codificação), além da alteração da concepção até então vigente de 
soberania como centrada na figura do príncipe, para um conceito de soberania nacional, 
onde a lei era concebida como a expressão máxima da vontade geral23. 
É neste cenário que se desenvolve o constitucionalimo na sua acepção moderna. 
No entanto, já no medievo era possível verificar, na experiência Inglesa, elementos 
marcantes e originários do constitucionalismo e que estendem-se até a modernidade,marcando, juntamente com a revolução americana e com a revolução francesa os três 
pontos fundamentais do surgimento do constitucionalismo. 
 
2 A experiência constitucional inglesa (Magna Charta, em 1215, Petition of Rights, 
em 1628, e Bill of Rights, em 1689) 
Em meados do século X, os diversos reinos anlgo-saxões disperos pelas ilhas 
britânicas já estavam unificados sob o reino da Inglaterra. Com a invasão normada, em 
1066, foram introduzidas as instituições feudais, cujo desenvolvimento consolidou a força 
política dos barões, que impuseram ao rei João Sem Terra, em 1215, a Magna Charta24. 
A conquista normanda25 não somente introduziu o feudalismo na Inglaterra como 
também deixou marcas sociais diversas daquelas experimentadas no continente. Isso 
porque enquanto na França os vassalos do rei possuíam províncias inteiras dentro das 
quais se comportavam como príncipes independentes, os senhores ingleses só 
receberam posses dispersas em diferentes partes do reino. O rei teve na Inglaterra, 
como o duque já o tivera na Normandia, poder suficiente para ser obedecido por todos 
 
23
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 39. 
24
 Um dos marcos simbólicos da história constitucional, a Magna Charta foi, originariamente, um 
documento que resguardava os direitos feudais dos barões, relativamente à propriedade, à tributação e às 
liberdades, inclusive religiosa. A amplitude de seus termos, todavia, permitiu que, ao longo do tempo, 
assumisse o caráter de uma carta geral de liberdades públicas. 
25
 Sobre o tema, ver RAATZ, Igor. Considerações históricas sobre as diferenças entre commom law e civil 
law: reflexões iniciais para o debate sobre a adoção de precedentes no direito brasileiro. Revista de 
Processo, São Paulo , v. 36, n. 199, p. 159-191, set. 2011. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
os seus súditos, impedindo que estes combatessem entre si e obrigando-os a 
comparecer perante seu tribunal26. 
É importante ressaltar que, apesar de Guilherme, rei normando que conquistou a 
Inglaterra, ter, desde os primeiros anos da conquista, afirmado a sua autoridade sobre a 
nobreza e sobre a Igreja, lançando os fundamentos de uma grande monarquia, não pode 
ser considerado como um soberano absoluto. Ele jurou, no momento da sua coroação, 
manter as leis e os costumes anglo-saxões, respeitar os direitos feudais que concedeu 
aos seus companheiros, bem como temia e venerava a Igreja. Por isso não se pode 
confundir o seu reinado com as monarquias absolutas27. Na verdade, “os homens da 
Idade Média nem mesmo imaginam o que poderia ser um Estado no sentido moderno da 
palavra; o equilíbrio do país parece-lhe assegurado, não por uma chave de abóbada 
central, mas por um travejamento de direitos locais que se completam e se sustêm uns 
aos outros” 28. Dessa forma, o rei normando era fortíssimo, “mas, se ele violasse o 
juramento de suserano, os seus vassalos julgar-se-iam autorizados a desligar-se e a 
denunciar o juramento de feudalidade”29. 
 
26
 SEIGNOBOS, Charles. História da civilização europeia. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1939, p. 125. Ocorre 
que “o Rei da França ‘pobre de domínios”, cercado de vassalos poderosíssimos, terá de conquistar 
penosamente os eu reino, e, tendo-o conquistado, deverá impor-lhe uma disciplina severa; o Rei da 
Inglaterra, que repartiu pessoalmente as terras, zelou os seus interesses e impediu desde o começo a 
formação de grandes domínios rivais ao seu. Porque a realeza inglesa nasceu de uma conquista, será 
imediatamente vigorosa. A força indiscutível do poder central fará a sua relativa tolerância. Na França, a 
burocracia real terá de impor-se pela fora; não será sempre, nem por toda parte, bem sucedida, e só a 
Revolução acabará por estabelecer a unidade das leis. Na Inglaterra, a segurança da Coroa deixará que 
ela organize as liberdades locais, legadas pelos Saxões, e obriga os barões a respeitá-las” (MAUROIS, 
André. História da Inglaterra. Tradução de Carlos Domingues. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 
1959, pp. 6364). Um ponto importante é que “Guilherme I e seus descendentes, mercê de como que 
‘instauração’ de vassalagem de cima para baixo, terão à partida garantida uma condição que os seus 
congêneres franceses só obterão bem mais tarde: a suserania” (CARVALHO HOMEM, Armando Luís de. 
Conselho real ou conselheiros do rei? A propósito dos “privados” de D. João I. Revista da faculdade de 
letras. História. Universidade do Porto. II Série. Vol. IV. Porto: Faculdade do Porto, 1987, p. 16) Seguindo-
se nessa conjuntura história, “os reis da Inglaterra conseguem desde o século XII, ou seja, sensivelmente 
mais cedo que os reis de França, impor a sua autoridade sobre o conjunto do território do seu reino. 
Conseguem desenvolver a competência das suas próprias jurisdições com prejuízo das jurisdições 
senhorais e locais que perdem progressivamente, nos séculos XII e XIII, a maior parte das suas 
atribuições” (GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 4ª ed. Lisoba: Fundação Calouste 
Gulbenkian, 2003, pp. 209-210). No mesmo sentido, DAVID, René. Os grandes sistemas do direito 
contemporâneo. 2ª ed. Tradução Hermínio A. Carvalho. São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 285. 
27
 MAUROIS, André. História da Inglaterra. Tradução de Carlos Domingues. Rio de Janeiro: Irmãos 
Pongetti Editores, 1959, p. 67. 
28
 MAUROIS, André. História da Inglaterra. Tradução de Carlos Domingues. Rio de Janeiro: Irmãos 
Pongetti Editores, 1959, p. 67. 
29
 MAUROIS, André. História da Inglaterra. Tradução de Carlos Domingues. Rio de Janeiro: Irmãos 
Pongetti Editores, 1959, p. 67. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
O processo constitucional inglês, de caráter cumulativo e evolutivo, transmitido de 
geração para geração, principiou com o desenvolvimento das instituições feudais, que, 
numa primeira fase, resultou no fortalecimento do poder político dos barões, mediante a 
imposição, ao Rei João Sem Terra, da Magna Charta Libertatum, em 1215, documento 
que, todavia, veio posteriormente a influenciar a consolidação do Parlamento, ainda que 
controlado pelo Rei30. No curso histórica, a Magna Carta assumiu Magna Carta assume 
um significado que transcende o de um simples texto em que se combinam aquisições 
bem particularizadas com um Direito natural de inspiração cristã31. Originariamente, um 
documento que resguardava os direitos feudais dos barões, relativamente à propriedade, 
à tributação e às liberdades, inclusive religiosa, tendo em vista a amplitude de seus 
termos, permitiu, todavia, que, ao longo do tempo, assumisse o caráter de uma carta 
geral de liberdades públicas32. 
Já no século XIII os juristas de common law chegaram a uma complexa 
elaboração dos limites do poder régio, que lançava mão dos recursos de um direito 
consuetudinário fortemente enraizado na sociedade, para contrapor-se à tradição 
romanística expressa na conhecida máxima de Ulpiano “quod principi placet legis habet 
viogrem”. Assim, por exemplo, deve-se a Bracton a fórmula, retomada mais tarde 
durante os conflitos constitucionais do século XVII, segundo a qual o rei está submetido 
não somente a Deus e às leis que o fazem soberano, mas à sua cúria, na qual os 
condes e barões estão associados a ele. Encontram-se aqui os germes dos princípio 
representativo e da ideia de uma soberania essencialmente repartida entre o King in 
Parliament, ainda que se deva acrescentar que as mesmas leis, às quais o soberano 
achava-se submetido, eram sobretudo aquelas não escritas, aprovadas pelo uso e 
modificáveis através do consensusutentium33. 
Os conflitos entre o rei e o Parlamento começaram com James I, em 1603, e 
exacerbaram-se após a subida de Charles I ao trono, em 1625. O absolutismo inglês era 
frágil, comparado ao dos países do continente (França, Espanha, Portugal), não 
contando com exército permanente, burocaracia organizada e sustentação financeira 
 
30
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 42. 
31
 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Coimbra Ed., 1997. v.1, p. 123. 
32
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 13. 
33
 RIDOLA, Paolo. O constitucionalismo: itinerários históricos e percursos conceituais. Revista da AJURIS: 
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre , v. 38, n. 121, p. 277-313, mar. 2011, p. 284. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
própria. Em 1628, o Parlamento subemteu ao rei a Petition of Rights, com substanciais 
limitações ao seu poder34. Ocorre que o Rei, a despeito do compromissos assumidos por 
força da petição de direitos, dissolve diversos Parlamentos e impõe impostos sem a 
prévia aprovação pelo, o que resulta na criação de um exército pelo Parlamento e no 
confronto com as forças reais, tudo a desembocar numa guerra civil, que levou à vitória 
das forças parlamentares e à decapitação do rei Charles, em 1649. Todavia, uma vez 
instaurada a República, o comandante do exército que derrotou as forças monárquicas, 
Oliver Cromwell, dissolveu o Parlamento (1652), e iniciou uma espécie de absolutismo 
(ou ditadura) republicada, além de promulgar um documento que costuma ser 
considerado como a primeira versão de uma espécie de constituição escrita, a única que 
a Inglaterra jamais teve (o assim chamado Instrument of Government, de 1653) e que 
esteve em vigor por pouco tempo, tendo em vista a morte de Cromwell (1658) e a 
restauração da Monarquia, em 1660, com o retorno do exílio de Carlos II, filho de Carlos 
I. O caráter efêmero da peculiar experiência inglesa de uma constituição escrita encontra 
explicação no fato de que, com a morte de Cromwell, a nova ordem logo começou a 
soçobrar e o Parlamento, em junção com outras forças políticas e sociais, optou pela 
restauração da Monarquia, justamente a forma de governo que havia sido derrubada 
pela Constituição de Cromwell35. 
Embora restabelecida a Monarquia e a Câmara dos Lordes, que havia sido 
dissolvida durante a ditatura de Cromwell, o contexto já era completamente diferente, 
marcado já pela crescente supremacia do Parlamento, que o monarca gozava de 
poderes significativamente limitados, ainda mais a partir da edição da Declaração de 
Direitos (Bill of Rights), em 1689. Com efeito, o assim chamado “Modelo Westminster”, 
como era desginada a forma de governo inglesa, teve seu ponto culminante no período 
compreendido entre 1688 e 1689, quando foram estabelecidas mudanças políticas e 
institucionais, como a consolidação da supremacia do Parlamento em relação ao Rei e a 
superioridade da Câmara dos Comuns sobre a Câmara dos Lordes. Note-se, todavia, 
que a Declaração de Direitos, pactuada entre o Parlamento e a Coroa, diversamente das 
revoluções americana e especialmente a francesa, foi o resultado de um movimento 
 
34
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 11. 
35
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, pp. 41-42. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
conservador da ordem estabelecida, resultando na confirmação dos antigos direitos e 
imunidades que já integravam a tradição inglesa36. Nesse sentido, Jorge Miranda afirma 
que “a Revolução inglesa, na linha das primeiras cartas de direitos, não pretendia senão 
confirmar, consagrar, reforçar direitos, garantias, privilégios”37. 
Por outro lado, a despeito de tais circunstâncias, a Declaração de Direitos 1689, 
como ponto culminante da assim chamada revolução gloriosa, pode ser considerada 
como um dos principais momentos constitucionais da Inglaterra, uma vez que 
representou a necessidade de estabelecer, demarcar e limitar, inclusive mediante um 
texto escrito, os poderes da legislatura e do monarca. Tal evolução, por sua vez, naquilo 
que legou ao mundo o modelo parlamentar e um primeiro sistema de liberdades civis e 
políticas, pode ser considerada como a grande contribuição inglesa ao 
constitucionalismo e para a história das instituições políticas38. 
 
3 A experiência Norte Americana 
A partir do século XVII, a costa leste da América do Norte começou a ser povoado 
por colonos ingleses, que migraram para o novo continente por motivos variados. Até 
meados do século XVIII, quando tiveram início os conflitos, as colônias eram leais à 
Coroa britânica e gozavam de razoável autonomia. Ao lado disso, beneficiavam-se da 
tradição inglesa do poder contido e institucionalizado: o governador era designado por 
Londres, mas havia um corpo legislativo eleito pelos cidadãos locais (que preenchessem 
os requisitos de propriedade), bem como um Judiciário independente. Todavia, 
imposições tributárias e restrições às atividades econômicas e ao comércio romperam a 
harmonia com a metrópole. As relações tornaram-se tensas ao longo da década de 
1760, agravando-se drasticamente após episódios como o Stamp Act, de 176539, o 
Massacre de Boston, em 1770, e o Boston Tea Party, em 177340. 
 
36
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, pp. 41-42. 
37
 MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Coimbra Ed., 1997. v.1, p. 124. 
38
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, pp. 41-42. 
39
 Imposto instituido pela Ingletarra sobre o selo, incidente sobre jornais, documentos e outros itens, sob o 
fundamento que as colônuias deveriam contribuir para a sua própria defesa. Houve forte reação e 
desobediência, fundadas em que as colônias não haviam sido ouvidas, nem participavam do Parlamento, 
surgindo o slogan “não taxa sem representação”. 
40
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 15. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
Na verdade, a revolução americana constituiu um processo lento de mudança de 
mentalidade e de ruptura com a Inglaterra. Isso fica bem claro nos ideais lançados pelo 
folheto de Thomas Paine, entitulado Common Sense, em que se ataca não somente a 
monarquia inglesa, mas a monarquia em geral, ou como dizia, a tirania e o tirano. A 
influência desse panfleto, que vendeu mais de 100.00 exemplares, fez com que George 
Washington afirmasse que ele estava produzindo uma profunda mudança nas mentes de 
muitas pessoas41. 
Às primeiras colônias deve-se a fundação das sociedades meracantis, no caso 
Virgínia e Massachussets, com a companhia de Londres. Os peregrinos puritanos, se 
organizaram democraticamente, para organizar as primitivas ingrejas cristãs. O quetambém se organizou nas Companhias, com assembleias e conselhos42. Esse espírito 
democrático que permeou a organização política norte americana já era notada em um 
“contrato”, com o qual os subscritores convinham “constituir-se em socidade política”, o 
qual foi subscrito a bordo do Mayflower em 1620, pelos primeiros núcleos de colonos 
ingleses deembarcados sobre o continente americano43. 
Após o término da guerra dos Sete Anos, com a vitória da Inglaterra e a 
eliminação das colônias francesas dos contornos das colônias inglesas da America do 
Norte, estas já não necessitavam da proteção inglesa, o que constituía um ponto 
importante e decisivo para a sua independência. Também graças a sua participação na 
guerra contra a França, as colônias norteamericanas dispunham de um conjunto 
bastante numeroso de veteranos, oficiais e soldados, capazes de enfrentar os inglesas. 
Enquanto isso, a Inglaterra necessitava reparar suas exaustivas finanças, em grande 
parte pela guerra, que se pensava havia favorecido especialmente às colônias 
americanas, motivo pela qual se penseou que seria correto fazê-las pagar uma parte das 
despesas também44. 
Surge então o problema da legitimidade dos novos impostos e da autoridade do 
Parlamento britânico para aprová-los. Os norte americanos não estavam dispostos a 
 
41
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, pp. 290-291. 
42
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 292. 
43
 RIDOLA, Paolo. O constitucionalismo: itinerários históricos e percursos conceituais. Revista da AJURIS: 
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre , v. 38, n. 121, p. 277-313, mar. 2011, p. 292. 
44
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 294. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
admitir serem representados pelo Parlamento britânico. Em primeiro lugar, porque se 
deram conta de que seus interesses eram precisamente opostos aos interesses dos 
residentes na Grã Bretanha; e como sentir-se representados por aqueles a quem tinham 
eleito os que tem interesses contrapostos?45 Em segundo lugar, porque tinha outro 
conceito de representação: ligado a assembleias locais, em íntimo contato com seus 
eleitores, que eram poucos e, pelo menos alguns, muito ativos. O que leva em definitivo 
a um conceito específico da democracia: como governo não somente para o povo, mas 
pelo povo, uma espécie de democracia direta ou, melhor, semidreta, representativa, 
porém com limitações46. 
As possibilidades de estabelecer limitações ao poder, inclusive ao legislativo, não 
encontrava dificuldades teóricas para os autores, porque consideravam seus direitos 
como derivados, em palavras de Thomas Jefferson, “das leis da natureza e não da 
concessão de um supremo magistrado”. Por conseguinte, o Direito ideal é anterior ao 
real e há de ser entendido como superior a ele, controlando-o e limitando-o47. Prerecebe-
se, na caminhada constitucional americana, a “redescoberta do senso da precedência da 
lex sobre a voluntas e da supremacia de leis fundamentais sobre o poder político, que 
tinham raízes robustas , como se acentual, na Inglaterra medieval, e os ecos das 
batalhas de Sir Edward Coke para afirmar a supremacia da common law tanto perante a 
Coroa como perante o Parlamento inglês” 48. 
 No entanto, quals são so Direitos ideais?, quais são os direitos ideais do homem? 
Qualquer um pode estar de acordo em que de alguma maneira estes são a vida, a 
liberdade e a propriedade. Porém, não se pode precisar mais? Não é necessário 
especificá-los, numerá-los, codificá-los para que possa servir de limitações efetivas às 
atuações dos juízes e dos legisladores? Ao menos desde o ano de 1768 se vai abrindo 
passo à ideia de que é necessário redigir uma petição de direitos e de que a luta deveria 
continuar até que fosse convertida em um reconhecimento de direitos. A ideia de levar 
esse reconhecimento de direitos a uma declaração constitucional tinha que resultar fácil 
 
45
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 296. 
46
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 297. 
47
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 297. 
48
 RIDOLA, Paolo. O constitucionalismo: itinerários históricos e percursos conceituais. Revista da AJURIS: 
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre , v. 38, n. 121, p. 277-313, mar. 2011, p. 291. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
em um ambiente que se vinha desenvolvendo desde o princípio em marcos 
constitucionais. Porque as cartas e ordenanças das companhias comerciais, as 
concessões reais e o mesmo pacto de Mayflower poderiam ser considerados como 
Constituições mais ou menos rudimentarees. E com muito mais razões, podem ser 
consideradas como tais outras disposições posteriores, como as que adotaram os 
fundadores da colonia de Conecticut, para reger-se com independência de 
Massachesetts, as Ordens Fundamentais de Connecticut, de 163949. 
Pode compreender-se, pois, facilmente, sobre a base de todas estas ideias, que a 
própria declaração de Independência, redigida por Jefferson e aprovada definitivamente 
pelo Congresso de todas as colônias, de 4 de julho de 1776, continha uma brevíssima 
declaração de Direitos: “sustentamos que são evidentes estas verdades: que todos os 
homens tem sido criados iguais e que tem sido dotados pelo seu criador, com certos 
direitos inalienáveis, entre os que se contam a vida, a liberdade e a busca da felicidade”. 
E mais, estes direitos se proclamaram como a finalidade e fundamento de todo governo, 
posto que a Declaração de Independência continha “que para assegurar estes direitos 
estabelecem os homens os governos, derivando-se os poderes justos destes do 
consentimento dos governados. E quando uma forma de governo resulta destruidora 
destes fins, o direito do povo irá modificá-la ou aboli-la e estabelecer um novo governo, 
colocando seus fundamentos sobre estes princípios” 50. 
O texto tinha forte inspiração da declaração de direitos da Virgínia, de 16 de junho 
de 1776, documento no qual está inscrita a origem do constitucionalismo moderno, na 
medida em que foi o primeiro a consagrar uma declaração de direitos estabelecida pelos 
representantes do povo, reunidos numa convenção plena e livre, direitos que foram 
compreendidos como constituindo a base e o fundamento do governo, servindo de base 
para o modelo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada na 
frança, em 16 de agosto de 1789, de modo que, indiretamente, o constitucionalismo 
norte-americano influenciou textos constitucionais em escala global51. 
 
49
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 298. 
50
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez.Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 298. 
51
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 39. O texto é de fácil acesso na 
internet: <http://www.rolim.com.br/2002/_pdfs/0611.pdf>. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
Pouco tempo depois, cientes da necessidade de fortalecer a união para enfrentar 
o inimigo comum, visto que a Guerra contra a Inglaterra ainda não estava vencida, os 
Estados independentes ratificaram, em 1781, os famosos Articles of Confederation, 
estabelecendo uma confederação formada pelos treze estados soberanos originados 
das antigas colônias, que, portanto, representou uma forma composta de estados, mas 
não uma Federação como veio a ser criada logo mais adiante. Foi, entre outras razões, 
com a intenção de imprimir unidade e estabilidade ao sistema, mediante a criação, 
especialmente de um Poder Executivo apto a gerenciar a disputa interna, que foi 
convocada a Convenção da Filadélfia, que, em 1787, aprovou a primeira Constituição 
(jurídica e escrita) no sentido moderno do termo, aliás, a primeira e única constituição 
escrita que os Estados Unidos da América, como nação independente e soberana, já 
tiveram. Além disso, também por força do pacto constituinte de 1787, foi criada a 
primeira República Federativa e Presidencialista no âmbito da evolução político-
institucional da humanidade. Apesar disso, fica o registro de que a Constituição de 1787 
não foi o resultado de uma decisão prévia e planejada, mas sim, a forma encontrada 
pelos integrantes da Convenção da Filadélfia para resolver um problema concreto e 
imediato, qual seja, o da estruturação e organização interna do poder52. 
Considerando que o texto aprovado pela Convenção de 1787 foi, antes de entrar 
em vigor (o que veio a ocorrer em julho de 1788), submetido a um processo de 
ratificação pelos Estados que integravam a antiga confederação e que, portanto, 
renunciaram à sua soberania, é necessário destacar a importância, para tal ratificação, 
dos escritos de Alexander Hamilton James Madison e John Jay, publicados na imprensa 
de Nova Yotk, entre outubro de 1787 e maio de 1788, sob o título de O Federalista, e 
que, juntamente com outras contribuições de relevo, ajudaram a formar, no seu conjunto, 
não apenas o substrato e a justificaçaõ teórica da nova ordem constitucional, mas 
também para a evolução constitucional posterior. 
Importa notar, todavia, que embora o título de primeira constituição moderna seja 
atribuído ao documento elaborado em 1787, já desde a Declaração de Independência, 
em 1776, quando as ex-colônias constituíram estados independentes, a noção de 
constituição em sentido moderno e, com ela, a própria ideia de um poder constituinte, já 
se faziam presentes, precisamente pleo fato de que os novos Estados originários das 
 
52
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, pp. 44-45 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
colônias experimentaram um processo de formação constitucional que apresentava as 
características que depois vieram a se consolidar quando da aprovação da Constituição 
de 1787. Em geral os novos Estados independentes, mediante processo constituinte 
democrático, elaboraram sua própria constituição e/ou declaração de direitos, 
prevalecendo, em regra, a noção de que é a constituição que precede o governo e 
constitui, além disso, a base e medida da legislação, tendo mesmo as declarações de 
direitos sido, ou inseridas, no texto constitucioanl, ou então incorporadas por remissão, 
embora constantes em documentos apartado, como foi o caso, por exemplo, da famosa 
Declaração da Virgínia, de 1776, tudo a indicar que a concepção de constituição 
moderna, ou seja, o modelo embrionário de uma ordem constitucioanl republivcana 
dotada de constituição escrita, pode ser reconduzida a tal momento, embora, como já 
friasado, consolidada logo adiante, quando da formação dos Estados Unidos da America 
como Estado Constitucional. Tudo isso revela que a construção da Constituição 
Americana se deu mediante um processo que vai pelo menos de 1776 (Declaração de 
Independência) até 1791 *incorporação de uma declaraçaõ de direitos ao texto da 
constituição de 1787). Tal processo veio a ser consolidado posteriormente mediante, 
entre outros aspectos, a consolidação da noção de supremacia da constituição53. 
Em sua versão original, a Constituição não possuía uma declaração de direitos, 
que só foi introduzida em 1791, com as primeiras dez emendas, conhecidas como Bill of 
Rights. Nelas se consagravam direitos que já constavam das constituições de diversos 
Estados e que incluíam as liberdades de expressão, religião, reunião e os direitos ao 
devido proceso legal e a um julgamento justo54. 
Fundada e justificada na e pela noção de soberania popular, emblematicamente 
expressa já no Preâmbulo, mediante a famosa expressão “Nós, o Povo (We the People), 
a Constituição de 1787 foi a primeira constituição escrita a consagrar uma República 
Federativa, além de estabelecer um Executivo unipessoal nos dois planos federativos 
(federal e estadual), exercido por um Presidente da República na esfera do governo da 
união, bem como colocando em prática a separaçaõ de poderes idealiada por 
Montesquieu e afirmar a supremacia da lei (rule of the law). Muito embora o texto original 
 
53
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, pp. 44-45 
54
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 17-18. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
não tivesse previsto um rol de direitos e garantias, que somente viriam a ser 
incorporados, em 1791, por meio das primeiras dez emendas à Constituição, 
denominadas de Bill of Rights, a relevância de tais direitos e garantias para a futura 
evolução constitucional e a afirmação dos direitos fundamentais da pessoa no mundo 
ocidental, não pode ser suficientemente enfatizada, ainda mais quando qualificada pela 
noção de supremacia da constituição, isto sem falar no impacto de tais direitos, 
especialmente mediante a sua interpretação pela Suprema Corte, para a vida social, 
econômica e política dos Estados Unidos da América, bastando aqui referir, em caráter 
ilustrativo, a compreensão da cláusula da equal protection para a superaçaõ (ainda que 
não total) das graves distorções na esfera da discrimnação racial. 
É possível destacar os seguintes aspectos do constitucionalismo americano: 
a) soberania popular como fundamento do Poder do Estado; 
b) garantia dos direitos fundamentais para a salvaguarda da liberdade e igualdade 
das pessoas frente ao poder estatal; 
c) a separação dos poderes, limitados e controlados entre si; 
d) a Federação, consubstanciada na criação de um Estado comum, mas com a 
manutenção do formato anterior de Estados individuais, com a repartição de tarefas 
estatais entre a União e os Estados federados55. 
Mais de duzentos anos após sua entrada em vigor, a Constituição americana 
conserva sete artigos apenas, tendo sofrido o número reduzido de vinte e sete emendas 
ao longo desse período. Nela institucionalizou-se, de forma pioneira e duradoura,um 
modelo de separaçaõ npitida entre Executivo, Legislativo e Judiciário, em um Estado 
republicano e sob o sistema presidencialista56. 
A história do direito constitucional americano é contada pelas decisões da 
Suprema Corte, órgão supremo do Poder Judiciário, composto por nove membros 
(Justices). Desde que avocou a condição de intérprete maior da Constituição (Caso 
Marbury vs. Madison) 57. 
 
 
55
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 47. 
56
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 18. 
57
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 21. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
4 A experiência constitucional francesa 
Os gauleses, oriundos da Escandinávia, dominaram o que hoje corresponde ao 
território da França a partir do século VI a.C. Júlio César incorporou-o ao Império 
Romano ao final das guerras Gálias, em 58 a.C. O cristianismo penetrou na região 
desde o século I, tendo seu desenvolvimento se acelerado após o Édito de Milão (313). 
Com as invasões bárbaras formaram-se, em princípios do século V, três reinos 
germânicos: o dos visigodos, o dos burgúndios e, o mais importante deles, o dos 
francos, que terminou por se impor sobre os outros dois. O grande iniciador da dinastia 
franca foi Clóvis (481-511), cuja conversão ao catolicismo deu início ao que viria a ser 
um Estado unificado sob uma fé comum. Alguns séculos mais tarde, no ano 800, Carlos 
Magno, outro franco foi coroado, pelo Papal Leão III, Imperador do Ocidente, liderando a 
primeira grande organização política surgida no mundo ocidental após a queda do 
Império Romano58. Em 846, o Império do Ocidente foi dissolvido, dando origem a três 
linhas sucessoras, incluindo aquela que viria desembocar no Reino da França, após um 
longo e intrincado processo de concentração e acomodação de poder59. 
Entre 1337 e 1453, França e Inglaterra envolveram-se em uma disputa territorial 
que ficou conhecida como a Guerra dos Cem Anos. O século XVI foi marcado pelos 
efeitos da Reforma e pela recepção das ideais de Lutero e Calvino, tornando-se cenário 
de um longo e violento perído de conflitos entre católicos e protestantes. A ascensão de 
Hernique IV ao trono francês, em 1594, após sua conversão ao catolicismo, deu início a 
uma fase de tolerância religiosa. Seu governo foi decisivo na afirmação do poder real, no 
enfraquecimentos dos senhores feudais e na consolidação de um Estado nacional, 
havendo lançado as bases do Ancien Régime, fundado no poder absoluto do monarca. 
O absolutismo se consolida no período de influência do cardeal Richelieu , durante o 
reinado de Luís XIII, vindo a ter sua expressão simbólica mais marcante em Luís XIV 
(1643-1715), a quem se atribui a frase-síntese dessa era: “L´Etat c´est moi”. Seu 
sucessor, Luíx XV (1723-1774), foi contemporâneo do Iluminismo e do início da 
superação da teoria do direito divino dos reis. 
 
58
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 23. 
59
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 24. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
Mais do que um evento histórico com seu próprio enredo, a Revolução Francesa 
desemepenhou um papel simbólico arrebatador no imaginário dos povos da Europa e do 
mundo que vivia sob sua influência, no final do século XVIII. Coube a ela – e não à 
Revolução Inglesa ou Americana – dar o sentido moderno do termo “revolução”60, 
significando um novo curso para a história e dividindo-a em antes e depois. Olhada a 
distância, depurada do aparente fracasso e da sua circularidade, foi a Revolução 
Francesa, com seu caráter universal, que incendiou o mundo e mudou a face do Estado 
– convertido de absolutista em liberal – e da sociedade, não mais feudal e aristocrática, 
mas burguesa61. 
Falar sobre a revolução francesa é muito mais complicado que falar da revolução 
norteamericana62. Na verdade, não se trata de uma só revolução, mas, sim, da 
confluência de várias revoluções: a revolução aristocrática, ou dos parlamentos, frente 
ao despotismo; a revolução institucional ou constitucional levada a cabo pelos 
representantes populares nos Estados Gerais ao proclamar-se como Assembleia 
Nacional; a revolução popular ou comunal, a cargo especialmente do povo de Paris (seu 
símbolo, o 14 de julho e a tomada da Bastilha); a revolução campesina por todo o 
território francês e, por fim, a revolução comunista ou igualitária de Babeuf63. A revolução 
francesa, ao contrário do que se costuma dizer, foi muito mais que uma “revolução 
burguesa”, idia que pode ser considerada, com apoio em François Furet, “um monstro 
metafísico que desdobra os anéis sucessivos nos quais estrangula a realidade histórica 
 
60
 Nesse sentido, Ingo Sarlet afirma se tratar de um “processo, que, de certo modo, deu novo significado 
ao termo Revolução” (SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, 
Daniel Francisco. Curso de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 47). 
61
 BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundametnais e 
a construção do novo modelo. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 24. 
62
 A revolução francesa atingiu o mundo com seus ideais e com a imagem global que a ela os 
revolucionários buscaram imprimir. Isso pode ser visto na literatura brasileira do final do século XIX: “Esta 
revolução não modificou só o poder político; mudou também de todo a existência interior da nação(...) o 
povo não possuia , direito algum; a realeza não tinha limites e a frança estava entregue á confusão da 
arbitrariedade ministerial, de regimes particulares e privilégios de corpos (...) Ella substituio a 
arbitrariedade pela lei, o privilegio pela igualdade; livrou os homens das distincções das classes; o sólo 
das berreira das provincias; a industria dos embaraços das corporações, e juizes de officios (jurandes); a 
agricultura das sujeições feudaes e da oppressão dos dizimos; a propriedade dos estorvos das 
substituições; e reunio tudo a um só estado, a um só direito, a um só povo” (MIGNET, F. A. Historia da 
revolução franceza: desde 1789 a 1814. Tomo Primeiro. São Paulo: Empreza Editora de São Paulo, 1899). 
63
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 301. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
para a transformar, sub specie aeternitatis, em terreno de uma fundação e de uma 
anunciação”64. 
Após 1778, o progresso da produção caracterizador da época do esplendor de 
Luís XV via-se prejudicada pelas crises crises econômicas que vão marcar o declínio de 
Luís XVI65. O poder de compra dos rurais, que formavam a maoria dos consumidores, 
encontranodo-se diminuído, a produção industrial, por seu lado, periclitou depois de 
1786, mormente a partir do trato de comércio franco-britânico, que obrigou os industriais 
a modernizarem-se para suportar a concorrência estrangeira.O desemprego agravou-se 
e os campos, onde se havia desenvolvido a industrial rural, sofreram tanto quanto as 
cidades. Desse modo, despojadas de tôdas as reservas, as classes populares, em 1788, 
viram uma colheita desastrosa anunciar a miséria. O preço do pão não cessoava de 
subir. Nesse panorama, o “povo” (artesãos, lojistas, empregados), o proletariado (“a 
populança”, entre os camponeses – pequenos proprietários e rendeiros que não colhiam 
o suficiente para o sustento ou vinhateiros que não produziam cerais) e o citadinos veio 
a imputar as responsabilidades dos males da época ao governo e às classes 
dominantes66. Com tôm literário, Max Gallo ilustra a situação da época: 
 
Mas a morte tem outros planos. Ela ronda o reino da França que 
parece tão rico, tão poderoso, o modelo incomparável das monarquias. 
No entanto, morre-se de fome. Os impostos despojam os mais humildes, 
tornando-se os enxagues, enquanto nobres e eclesiásticos parecem 
intocáveis, e ainda por cima gananciosos, aumentando seus próprios 
impostos, avaros a ponto de quererem se apoderar tudo, caçando a 
cavalo, devastando com isso as colheitas, e levando a juízo, às vezes até 
o cadafalso, os camponeses que não respeitam suas leis. As ‘comoções’, 
os ‘motins’, as ‘guerras das farinhas’, as ‘revolgadas dos pés-nus’, 
portanto, sacodem periodicamente o reino67. 
 
A revolução francesa costuma ser dividida em dois períodos. Durante o primeiro 
período (junho de 1789 a maio de 1783), os representantes populares da Assembleia 
(primeiro constituinte, depois legislativa, depois convenção) tinham um claro predomínio 
 
64
 FURET, François. Ensaios sobre a revolução francesa. Traduzido do francês por Alfredo Margarido. 
Lisboa: Editora a regra do jogo, 1978, p. 66. 
65
 LEFEBVRE, Georges. A revolução francesa. Tradução de Ely Bloem de Melo Pati. 2ª ed. São Paulo: 
IBRASA, 1989, p. 120. 
66
 LEFEBVRE, Georges. A revolução francesa. Tradução de Ely Bloem de Melo Pati. 2ª ed. São Paulo: 
IBRASA, 1989, pp. 120-121. 
67
 GALLO, Max. Revolução francesa. Volume1. O povo e o rei (1774-1793). Tradução de Julia da Rosa 
Simões. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 23. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
na determinação daquilo que se impõe e se estabelece, ainda quando tinham que fazer 
concessões às aspirações do movimento campesino e, sobretudo, do movimento 
popular parisiense, que são os que lhes serviam de apoio e de braço executor (ainda 
quando atuavam como executores), dando à Assembleia a força que necessitava frente 
ao rei e à ordem anterior. Durante o segundo período (junho de 1793 – julho de 1794), 
tem maior predomínio o movimento poupar e inclusive, as classes populares, no caso, o 
povo, além das classes menos acomodadas, que continuavam levando o peso das 
execuções e golpes de força68. 
Na primeira fase, tem-se como marco os acontecimentos que se desenrolam a 
partir da convocação dos Estados Gerais pelo Rei Luís XVI para a assemebleia de 5 de 
maio de 1789, com a presença, portando, da nobreza, do clero e do chamado terceiro 
Estado, composto pelo resto da população e cuja parte mais rica e mais capaz era a 
burguesia69. Impunha-se a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, 
constituída pelos representantes do clero e da nobreza, ao menos, por um lado, pelos 
representantes propriamente burgueses, principalmente comerciantes ou pessoas de 
negócios (não há nenhum representante campesino ou assalariado) e por aqueles que, 
na terminologia atual, poderiam ser chamados de intelectuais ou universitários ou 
representantes das profissões liberais, dentre os que destacavam os advogados ou 
licenciados em Direito70. 
No entanto, a pressão popular e a queda da Bastilha em 14 de julho de 1789 vão 
forçar medidas rápidas, redundando, assim, na Declaração de Direitos do Homem em 26 
de outubro de 1789. A chave de toda declarção estava contida na ideia de que “os 
homens nacem e permanecem livres e iguais em direitos”. Era a supressão dos 
estamentos privilegiados (clero e nobreza), vale dizer, a abolição do regime feudal, já 
reconhecida nas noites de 4 e 5 de agosto71 e de fato colocada em prática pela 
 
68
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 303. 
69
 LEFEBVRE, Georges. A revolução francesa. Tradução de Ely Bloem de Melo Pati. 2ª ed. São Paulo: 
IBRASA, 1989, p. 56. 
70
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 302. 
71
 No período das reuniões da assembleia, principalmente ocorridas em julho de 1789, os deputados 
representantes do clero e da nobreza já sabiam que o povo desconfiava deles “e que a ordem só poderia 
ser restabelecida se fizessem concessões que satisfizessem os homens armados sublevados pelo Grande 
Medo”. É por isso que “na noite de 4 para 5 de agosto, os nobres liberais – o visconde de Noailles e o 
duque de Aiguillon -, seguidos pelos membros do clero, pelos representantes das províncias e das 
cidades, abdicam de seus privilégios. Nos dias que se seguem, a Assembleia decide pela abolição do 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
revolução campesina e inclsuive antes; porque pode dizer-se que, antes da revolução 
francesa, os franceses eram muito mais desiguais em direitos que na realidade, 
enquanto que com a revolução se suprime a desigualdade em direitos, porém não na 
realidade72. Isso porque o ideal de igualdade dos revolucionários era eminentemente 
formal, o que pode ser percebido na ideia de igualdade contina obra de Saint-Just, 
escrita em 1791, três anos antes da sua execução juntamente com Robespierre: 
 
Aquela (igualidade) que Licurgo institiu, que dividiu as terras, casou as 
moças sem dote, ordenou que todos tomassem suas refeições em 
público e se vestissem com roupas iguais, uma tal igualdade coerente 
com a útil pobreza da república teria trazido para a França apenas a 
revolta ou a preguiça; só a igualdade dos direitos políticos era sábia neste 
Estado, onde o comércio é uma parte do direito das gentes. A igualdade 
material é boa onde o povo é despota e não paga tributos73. 
 
O artigo segundo da Declaração afirmava que “a finalidade de toda associação 
política é a conservação dos direitos do homem, naturais e imprescritíveis.” Estes 
direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. Já o 
artigo quarto previa que “a liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não traz 
dano a outros”; assim que, como outros direitos naturais, tem seus limites; “esses limites 
não podem ser estabelecidos senão pela lei”. Porém, esta tem limites, conforme declara 
o artigo quinto: “a lei não tem o direito de proibir mais que as ações prejudiciais à 
sociedade”. A autoridade da lei vinha expressa no artigo sexto, que a define como “a 
expressão da vontade geral” 74. 
Essa expressão, tipicamente rousseniana, suscita uma interpretação totalitária de 
Rousseau, a quem cabe a ideia de que “um povo é sempre dono de mudar em todo 
momento suas leis, inclsuive as melhores” questionando que terá poder para impedi-lo 
se quiser fazer algum dano contra si próprio. A vontade geral, no entanto não era assim 
entendida somente por Rousseau, mas também por Sieyès, um dos membros mais 
 
regime feudal, pela igualdade perante os impostos, pela supressãodos dízimos” (GALLO, Max. Revolução 
francesa, v. 1: o povo e o rei (1774-1793. Tradução Julia da Rosa Simões. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 
152). 
72
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 304. 
73
 SAINT-JUST, Louis Antoine Léon. O espírito da revolução e da constituição na frança. Tradução Lídia 
Fachin, Maria Letícia Alcoforado. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1989, pp. 36-37. 
74
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 304. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
influentes da Assembleia, que tinha dito em um folheto escrito poucos meses antes da 
Declaração: “de qualquer maneira que uma nação quiser, basta que queira; todas as 
formas são boas, e sua vontade é sempre a lei suprema”; e que “qualquer que seja sua 
vontade, não pode perder o direito de mudá-la”. É certo que anteriormente tinha-se 
reconhecido também que “acima só existe o Direito natural”. Porém, ainda dando por 
suposta a sinceridade deste reconhecimento do Direito natural, não é precisamente o 
forte deste a questão da determinação dos limites. E, em todo caso, na Declaração o 
Direito natural não estava invocado com tais efeitos. Assim, pois, os limites da liberdade, 
da igualdade e dos outros direitos naturais eram os estabelecidos pela lei, entendida 
como vontade geral ou nacional, cuja competência estava bem pouco limitadas75. 
Sob essa perspectiva, todo o sentido da Declaração, como texto jurídico, ficava 
nas entrelinhas, e a ideia do Direito Constitucional como marco distinto da legislação 
ordinária, tal qual na revolução norteamericana ficava turva. A Declaração, apesar de 
todos os festejos históricos a sua volta, tinha, naquele contexto, uma finalidade didática e 
educacional76. 
Seja como for a Declaração era vista como uma arma contra a arbitrariedade do 
regime monárquico e tinha como pretensão gozar de caráter universal, podendo ser 
aplicada a todas as sociedades humanas77. Na verdade, apesar do caráter liberal dos 
direitos postos na Declaração, seu conteúdo não pode ser tributado à burguesia, mas 
aos nobres e clérigos ilustrados, tendo como marca distintiva o grupo dos intelectuais, 
como Voltaire e principalmente aqueles que faziam propaganda de suas ideais, como 
Lutero, Calvino e Mahoma78. 
Em 1791 é criada a primeira Constituição escrita francesa, que, todavia, manteve 
a Monarquia no poder, estabelecendo uma monarquia constitucional, que limitou 
parcialmente os poderes do rei. E, mesmo apesar da Declaração dos Direitos do 
Homem, a realidade restava bastante diferente, porque a maior parte da população 
passava fome, fator essencial que explica uma das caracterísitcas mais notáveis da 
 
75
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 305. 
76
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 306. 
77
 GALLO, Max. Revolução francesa, v. 1: o povo e o rei (1774-1793. Tradução Julia da Rosa Simões. 
Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 153. 
78
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, pp. 307-309. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
revolução, a de que forma as classes mais civilizadas da nação que a prepararam, 
porém foram as mais simples e rudes que a executaram, o que marcou o contraste entre 
a begnidade das suas teorias e a violência dos seus atos. 
É nesse contexto, somado à forme decorrente do alto preço do pão, principal 
alimento das classes mais pobres, que o rei perde seu poder e acaba sendo executado 
em 21 de janeiro de 1793, na guilhotinha em praça pública. Em 12 de fevereiro de 1793 
uma delegação de distintos distritos de Paris apresentava à Assembleia, já nominada de 
Convenção, o ponto de vista das classes populares, vazado na ideia que não era 
suficiente que tivessem declarado que eram republicanos franceses, se o povo não fose 
feliz e não tivesse pão, pois onde não há pão tampouco há leis e liberdades79. 
As exigências populares faziam-se mais precisas, como a fixação de preços dos 
produtos, sobretudo os de primeira necessidade, a determinação de salários e de 
patrimônio máximo que cada um poderia ter. Alguns dos direitos populares vieram a ser 
consgrados na Constituição, aprovada em 24 de junho de 1793, inclusive a educação 
como uma necessidade de todos podendo atribuir-se, pois, a esta Constituição o mérito 
de haver proclmado (pela primeira vez em uma Constituição) os direitos sociais. Além 
disso, consagrava o princípio do sufrágio universal (masculino), desaparecendo a 
discriminação por razões econômicas para ser eleitor, assim como para ser eleito. O 
papel do simples cidadão restava reforçado ademais pelo fato de que todas as leis 
propriamente ditas (não os decretos) deveriam ser submetidas à aprovação do povo. Era 
uma confirmação das práticas populares, que reconhecia, inclusive, em seu artigo 32, o 
direito de apresentar petições aos depositários da autoridade pública, direito que não 
poderia ser proibido, suspenso ou limitado em nenhum caso80. Tal dispositivo marca 
uma mudança no que tange à jurisdição e ao processo em relação ao anterior processo 
absolutista. 
A Constituição de junho de 1793 consubstanciava as concepções políticas e 
ideológicas roussenianas seguidas pelos Jacobinos, classe social que ainda não tinha 
visto suas reivindicações satisfeitas pela Revolução. É o documento que marca a 
República Jacobina e a morte de Luís XVI (guilhotinado em 21 de janeiro do mesmo ano 
 
79
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 310. 
80
 PANIAGUA, Jose Maria Rodriguez. Historia del pensamento juridico: v. I. De heráclito a la revolución 
francesa. 8a ed. Madrid: Universidad commplutense seccion de publicaciones, 1996, p. 311-312. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
em praça pública) Apesar de não ter entrado em vigor, pode ser apontado como um dos 
mais importantes documentos revolucionários da democracia burguesa81. 
Durante a fase da república é implantada a chamada era do terror, em que os 
Jacobinos passaram a combater os inimgos da revolução. O grande nome dessa fase é 
Robespierre, cuja linha de argumentação no sentido de que “o terror nada mais é que a 
justiça imediata, severa, inflexível” e, portanto, “uma emanação da virtude”82 alcançava 
seu clímax na identificação paradoxal dos opostos, como afrima Slavoj Zizek: “o terror 
revolucionário ‘nega’ a oposição entre punição e clemência – a punição justa e servera 
dos inimigos é a forma mais alta de clemência, pois nela coincidem o rigor e a 
caridade”83. 
Com o golpe de Estado encabeçado pelos Girondinos, ala moderada da 
esquerda, conhecido como o golpe 9 do Thermido do ano II (27 de julho de 1794), em 
que a Convenção decreta a prisão dos robespierristas, depois de recusar o direito de 
falar a Robespierre e Saint-Just, chega-se à fase do Diretório e o fim da participação 
popular na revolução, coma primazia da burguesia84. As insatisfações populares, as 
pressões a as eleições, que, a cada ano, amaçavam os diretoriais de se verem excluídos 
pelos contra-revolucionário e pelos democratas, impulsionou a organização de um novo 
gole de Estado, para que pudssem assegurar para si a conservação do poder85. 
Com o golpe do 18 Brumário (9 de novembro de 1799) deu-se início à ditadura 
militar napoleônica, que beneficiou grandemente a burguesia. Napoleão não podia 
consolidar e organizar seu poder sem o concurso dos brumarianos; mas para se elevar 
até o trono, era-lhe necessário subtrair-se ao seu controle: então, reconciliou-se com a 
igreja, anistiou os emigrados, tomou a seu serviço todos aquêles – aristocratas e 
burugeses, realistas e republicanos – que consentiram em colaborar. Controlou, assim, 
 
81
 FELIZARDO, Joaquim José. As duas grandes revoluções: concepções políticas e ideológicas. Porto 
Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourença de Brindes, 1978, p. 39. 
82
 ROBESPIERRE, Maximilen. Virtude e terror. Textos selecionados e comentados por Jean Ducange. 
Tradução José Maurício Gradel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008, p. 185. 
83
 ZIZEK, Slavoj. Apresentação da obra Virtude e Terror. In: ROBESPIERRE, Maximilen. Virtude e terror. 
Textos selecionados e comentados por Jean Ducange. Tradução José Maurício Gradel. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Editor, 2008, p. 9. 
84
 Conforme Joaquim José Felizardo, “Também os Girondinos falharam na liderança revolucionária ao não 
buscarem uma solução para o problema agrário, bem como ao defenderem o livre comércio, já que a 
burguesia vinha fazendo bons negócios face à especulação dos gêneros alimentícios e não tinha interesse 
na fixação dos preços” (FELIZARDO, Joaquim José. As duas grandes revoluções: concepções políticas e 
ideológicas. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourença de Brindes, 1978, p. 36). 
85
 LEFEBVRE, Georges. A revolução francesa. Tradução de Ely Bloem de Melo Pati. 2ª ed. São Paulo: 
IBRASA, 1989, pp. 553-554. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
os diversos elementos da moderna classe dominante, com uma reconciliação 
temporária, que permitou a esta classe, soba tutela de seu protetor, organizar as 
instituições e codificar a legislação à sua maneira, instalar-se nas altas funções do 
Estado e de toda a administração, apressar o renascimento da economia em resumo, 
consolidar sua supremacia e acabar assim com a obra da Revolução, tal qual tinha sido 
representada, em 1789, a sua intenção. Em uma só frase, pode-se dizer que Napoleão 
aniquilou o antigo regime e consolidou os ideais burgueses86. Era o nascimento definitivo 
do Estado Liberal. 
Registre-se que uma das peculiaridades do desenvolvimento constitucional 
francês, reside nas características do Poder Constituinte. Contrariamente do que 
sucedeu nos Estados Unidos, a Assembleia Nacional Constituinte na França significava 
uma ruptura com o passado, no sentido não apenas da fundaçaõ de um Estado, mas de 
uma nova ordem estatal e scoial, afetando profundamente até o âmbito mais elementar 
da sociedade. Era nesse sentido que a declaração de direitos fundamentais não 
objetivava apenas a limitação do poder do Estado, mas também, e, sobretudo, a 
extinção do direito feudal e dos privilégios da aristocracia87. 
A história do constitucionalismo francês passa, ainda, pela promulgação de uma 
Constituição no ano VIII da revolução, ou seja, em 1799, em que são retirados traços 
essenciais do constitucionalismo moderno, concentrando-se excessivamente o poder 
nas mãos do Primeiro Cônsul, que o exerceu como um ditador sob o rótulo do Estado 
constitucional88. Seja como for, a despeito do período de domínio napoleônico (a contar 
de 1779) e, depois da derrota final de Napoleão em Waterloo (1815), da restauração da 
Monarquia, a matriz constitucional francesa engendrada no período revolucionário 
deixou um legadl permanente para o constitucionalismo moderno, até mesmo de modo 
indireto, visto que o pensamento político francês também teve repercussão nos Estados 
Unidos, onde algumas ideias tiveram uma recepção e realização prática em parte distinta 
da que ocorreu na França, como é o caso, apenas para mencionar um exemplo célebre, 
do princípio da separação de poderes, que, reconstruído nos Estados Unidos, foi 
 
86
 LEFEBVRE, Georges. A revolução francesa. Tradução de Ely Bloem de Melo Pati. 2ª ed. São Paulo: 
IBRASA, 1989, pp. 533.. 
87
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 48. 
88
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 48. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
incorporado à gramática consttiucional de uma série de Estados que aderiram ao 
movimento constitucional89. 
 
5 A formação do Direito Constitucional e sua crise, segundo Paulo Bonavides 
Se as primeiras Constituições do Estado Moderno surgiram sob os influxos do 
pensamento liberal, também a expressão Direito Constitucional prende-se aos mesmos 
princípios, consubstanciando-se na ideia fundamental de limitação da autoridade 
governativa, principalmente mediante de aparatos técnico-doutrinários, como a 
separação de poderes (as funções legislativas, executivas e judiciárias atribuídas a 
órgãos distintos) e a declaração de direitos90. 
Nessa senda, o poder, segundo o constitucionalismo liberal, deveria mover-se, 
por conseguinte, em órbita específica, a ser traçada pela Constitucição. Com o emprego 
do instrumento constitucional, aquela concepção restritiva da competência dos órgãos 
estatais se fez dominante. Ingressou, assim, o termo Constituição na lingaugem jurídica 
para exprimir uma técnica de organização do poder aparentemente netura. No entanto, 
encobria ela, em profundidades invisíveis, desde o início, a ideia-força de sua 
legitimidade, que eram os valores ideológicos, políticos, odutrinários ou filosóficos do 
pensamento liberal. 
O liberalismo fez, assim, com o conceito de Constituição aquilo que já fizera com 
o conceito de soberania nacional: um expediente teórico e abstrato de universalização, 
nascida de seus princípios e dominada da historicidade de seus interesses concretos. De 
sorte que, exteriormente, a doutrina liberal não buscava inculcar a sua Constituição, mas 
o artefato racional e lógico, aquele que a vontade constituinte legislava como conceito 
absolutamente válido de Constituição, aplicável a todo o gênero humano, porquanto 
iluminado pelas luzes da razão universal. 
Aquilo que, como produto revolucionário, fora tão somente do ponto de vista 
histórico, a Constituição de uma classe se transformava pela imputação dos liberais no 
conceito genérico de Constituição, de todas as classes. Assim, perdurou até que a crise 
social do século XX escrevesse as novas Declarações de Direitos, invalidando o 
substrato material individualista daquelas Constituições, já de todo ultrapasado. 
 
89
 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt; MITIDIERO, Daniel Francisco. Curso 
de direito constitucional. 2. tir. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2012, p. 49. 
90
 BONAVIDES, p. 38. 
 
Aulas 2 
A evolução histórica do constitucionalismo e do direito constitucional 
 
 
A noção jurídica e formal de uma Constituição tutelar de direitos humanos parece, 
no entanto, constituir a herança mais importante e considerável da tese liberal. Em 
outras palavras: o princípio das Constituições

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