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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES MÁRIO AUGUSTO CHARRO INDICADORES METABÓLICOS NA ESTRUTURAÇÃO E ORIENTAÇÃO DO TREINAMENTO DE FORÇA MUSCULAR MOGI DAS CRUZES, SP 2007 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES MÁRIO AUGUSTO CHARRO INDICADORES METABÓLICOS NA ESTRUTURAÇÃO E ORIENTAÇÃO DO TREINAMENTO DE FORÇA MUSCULAR Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Biotecnologia da Universidade de Mogi das Cruzes como parte dos requisitos para a conclusão do curso. Prof. ORIENTADOR: Dr. Reury Frank Pereira Bacurau MOGI DAS CRUZES, SÃO PAULO 2007 AGRADECIMENTOS Inicio meus agradecimentos pelos meus pais, Joaquim dos Santos Charro e Therezinha Prioli Charro, que devido ao seu suor, sacrifício, cobranças, amor, dedicação e prazer com que me encaminharam nos estudos, desde as primeiras séries até a conclusão da minha graduação em Educação Física, deram o primeiro grande passo para minha formação profissional e pessoal. Pai e Mãe, eu os amo muito!!! Agradeço a minha esposa e amiga Sueli Gomes Charro, por sua determinação e dedicação, dando o apoio e o suporte necessários para que possamos atingir nossos objetivos de vida. Alice, você é uma grande companheira. Aos meus filhos Daniel Charro e Giuliana Charro, por existirem e com isso me fazerem a pessoa mais feliz do mundo. Filhos, vocês são a razão da minha vida. Ao meu irmão Marco Antonio Charro, um grande amigo e companheiro de todas as horas. Guidão tenho muito orgulho de ser seu irmão, você é um cara especial. Ao meu orientador e amigo Reury Frank Pereira Bacurau, depois de vários anos de companheirismo, trabalhando um tanto e dando outro tanto de risadas, posso afirmar com toda certeza que é uma pessoa acima da média. Frank, obrigado pela força e apoio que sempre dispensou, você é um grande amigo. Aos meus grandes companheiros desta jornada profissional, Ruy Calheiros e Paulo Marchetti. Além de grandes parceiros profissionais, dois amigos que dificilmente nesta vida, ou em outras, encontrarei tanta amizade e companheirismo. É muito importante saber que vocês estão sempre ao meu lado, para o que der e vier. Aos meus grandes amigos especiais: Eduardo Aguiar, Aylton Figueira Jr., Denis Foschini, Marcelo Húngaro, Francisco Navarro, Luciano Pontes Jr, Luis Otávio Moscatello (Tavicco), Artur Monteiro, Andréa Hernandes, Maurício Teodoro, Zenaide Galvão, Irene Hernandes, Luciano Nardelli. Amigos vocês fazem a diferença. A fantástica diretoria (amigos eternos) Alexandre Strauch, Paulo Arid, Isabel Sampaio e Lílian Franco. A vida com vocês é muito melhor!!! A todos que ajudaram para a concretização deste (sem vocês este trabalho não seria possível): Dr. Rogério Gentil Bellot (Faculdade de Ciências Biológicas da UMESP); Dra. Carla Gonçalves Talib (LABMESP); Dr. Edmar (Laboratório de Analises Clínicas da Universidade IMES); Drdo. Aylton Figueira Jr. (Universidade IMES); Drdo. Denis Foschini (UMESP); Ms. Carlos Eduardo Panfílio (Universidade IMES); Ms. Fabio Ceschini (Faculdade de Diadema); Esp. Luciano Nardelli (UMESP); Prof. Esp. Ricardo Campos de Oliveira (UMESP); Ac. Mara Ligia Cardoso (Universidade IMES); Alunos formandos do Curso de Educação Física do IMES (2º semestre de 2007). RESUMO O treinamento de força é utilizado com vários propósitos, mas particularmente para aumentar a massa muscular e a força. Nesse contexto, muitas variações na elaboração de seções de treinamento de força têm sido prescritas. Basicamente, as variações envolvem a ordem dos exercícios ou a manipulação das variações agudas do treinamento de força (sistemas de treinamento). De acordo com a crença popular, isto irá otimizar as respostas fisiológicas (ex. respostas hormonais e metabólicas) a seção de treinamento de força. Uma vez que hormônios e metabólitos “traduzem” o estímulo de treinamento em adaptação, a variabilidade nas seções de treinamento irá otimizar os resultados desse tipo de treinamento. Apesar disso, tal crença carece de evidências científicas. Portanto, o objetivo do presente estudo foi comparar as mudanças metabólicas e hormonais produzidas por duas seções de treinamento de força muito similares quanto à carga total, mas elaboradas de modo a caracterizarem dois sistemas de treinamento diferentes (convencional e piramidal). Dez sujeitos participaram de ambas as seções de treinamento de força sendo a ordem de realização aleatoriamente determinada e observando um intervalo de uma semana entre cada seção. Amostras de sangue foram coletadas antes, imediatamente após, 24, 48 e 72 horas após o término de cada seção de treinamento e a partir das mesmas foram realizadas análises de glicose, lactato, hormônio do crescimento, testosterona, cortisol, insulina e creatina quinase. Nossos dados demonstram que ambas as seções de treinamento promoveram mudanças nas concentrações plasmáticas de todos os parâmetros avaliados; entretanto, não houve diferença significativa nos valores observados entre as duas seções de treinamento. Assim, os resultados do presente estudo sugerem que parâmetros hormonais e metabólicos não são influenciados pela manipulação das variáveis agudas do treinamento de força (isto é, em relação ao sistema de treinamento) quando a carga total é similar. Palavras chave: Treinamento de força muscular, sistemas de treinamento, musculação, metabólitos, hormônios, dano muscular. ABSTRACT Resistance training is utilized with several proposes but particularly to increase muscle mass and strength. In this context, many variations in the design of resistance training sections have been prescribed. Basically, the variations involve the exercise order or the manipulation of the acute resistance training variables (training systems). According with the popular belief, this will optimize the physiological responses (e.g. hormonal and metabolic responses) to resistance training section. Since hormones and metabolites “translate” the training stimulus into adaptation, the variability in resistance training sections would optimize the results of this type of training. Notwithstanding, such belief has no scientific support. Therefore, the aim of the present was to compare the metabolic and hormonal changes produced by two resistance training sections very similar in their total load but designed in such a way to constitute two different training systems (constant intensity and variable intensity). Ten subjects performed both resistance training sections in an aleatory order with a week of interval between them. Blood samples were collected before, immediately after, 24, 48 and 72 hours after the end of each training section and the analysis of glucose, lactate, growth hormone, testosterone, cortisol, insulin and creatine kinase were performed. Our findings demonstrate that both training sections promoted changes in the plasmatic levels of all parameters evaluated; however, there were no significant differences among the results of the two training systems. These results suggest that metabolic and hormonal parameters are not influenced by the variation of acute resistance training variables (i.e. training system) when total load are similar. Key words: resistance training, training systems,metabolites, hormones, muscular damage. LISTA DE FIGURAS Página FIGURA 1 – Posição inicial e posição final para a realização do exercício supino regulamentar ....................................................... 32 FIGURA 2 – Posição inicial e posição final para a realização do exercício supino regulamentar ....................................................... 33 FIGURA 3 – Posição inicial e posição final para a realização do exercício supino regulamentar ....................................................... 34 FIGURA 4 – Representação esquemática das coletas de sangue realizadas. Antes e imediatamente após o protocolo de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão de treinamento.................................................................... 37 FIGURA 5 – Gráfico 1. representa as variações de insulina na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão............................................................................................. 47 FIGURA 6 – Gráfico 2. representa as variações de glicose na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão............................................................................................. 47 FIGURA 7 – Gráfico 3. representa as variações de testosterona na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão.................................................................................... 48 FIGURA 8 – Gráfico 4. representa as variações de cortisol na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão............................................................................................. 48 FIGURA 9 – Gráfico 5. representa as variações de creatina quinase na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão.................................................................. 49 FIGURA 10 – Gráfico 6. representa as variações na relação testosterona / cortisol antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão.................................................................................... 49 FIGURA 11 – Gráfico 7. representa as variações de GH na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão ............................................................................................ 50 FIGURA 12 – Gráfico 8. representa as variações de ácido lático na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão.................................................................................... 50 LISTA DE TABELAS PÁGINA Tabela 1 – Exemplo dos métodos convencional e piramidal .............. 25 Tabela 2 – Distribuição das variáveis antropométricas e idade .......... 41 Tabela 3 – Estatística do método convencional de treinamento ......... 43 Tabela 4 – Estatística do método piramidal de treinamento ............... 45 Tabela 5 – Estatística da comparação pré-treino ............................... 51 Tabela 6 – Estatística da comparação pós-treino ............................... 52 Tabela 7 – Estatística da comparação após 24 horas ........................ 53 Tabela 8 – Estatística da comparação após 48 horas ........................ 54 Tabela 9 – Estatística da comparação após 72 horas ........................ 55 Tabela 10 – Estatística Comparação Leucograma tradicional vs. piramidal e pré vs. pós exercício ................................ 57 LISTA DE ABREVIAÇÕES ADP Adenosina Di-fosfato. ATP Adenosina Tri-fosfato. CEP Comitê de Ética em Pesquisa. CK Cretina quinase. CVM Contração Voluntária Máxima � Também chamada de 1RM (uma repetição máxima). DNA Ácido Desoxirribonucléico GH Hormônio do Crescimento. IGF Insulin-like Growth Factors (Fatores de Crescimento Semelhantes à Insulina). LABMESP Laboratório de Análises Clínicas da Universidade Metodista de São Paulo. mRNA Ácido Ribonucléico Mensageiro µUI/ml Micro-Unidades por Mililitro. ng/dL Nanograma por Decilitro. ng/mL Nanograma por Mililitro. nmol/L Nanomol por Litro. RM’s Repetições Máximas. RTC Relação Testosterona / Cortisol. S Desvio Padrão. SGA Síndrome Geral da Adaptação. U/L Unidades por Litro. UMESP Universidade Metodista de São Paulo. VO2Máx. Volume Máximo de Oxigênio. X Média Aritmética. SUMÁRIO PÁGINA 1. Introdução ....................................................................................... 13 1.1. Treinamento de força ........................................................ 14 1.2. Treinamento de força, metabólitos e hormônios .............. 16 1.3. Sistemas de treinamento de força .................................... 20 1.4. Sistema convencional e sistema piramidal ....................... 23 2. Justificativa e relevância ................................................................. 27 3. Objetivo .......................................................................................... 28 4. Método ............................................................................................ 29 4.1. Seleção dos Sujeitos ........................................................ 29 4.2. Recomendações nutricionais ............................................ 30 4.3. Determinação das Intercorrências Clínicas ...................... 30 4.4. Avaliação da força muscular ............................................. 30 4.4.1. Teste de força máxima (CVM) ....................................... 30 4.5. Protocolo de treinamento .................................................. 31 4.6. Variáveis agudas do treinamento estudadas .................... 35 4.7. Horário de treino proposto ................................................ 36 4.8. Avaliações Antropométricas ............................................. 36 4.9. Coleta do sangue .............................................................. 37 4.10. Análises Sanguíneas ...................................................... 38 4.11. Análise Estatística .......................................................... 39 5. Resultados ..................................................................................... 41 5.1. Caracterização da Amostra .……..………………...………. 41 6. Discussão ....................................................................................... 59 7. Conclusões e sugestões ................................................................ 69 8. Referências bibliográficas .............................................................. 70 Anexo 1 – Aspectos éticos e legais ................................................ 77 Anexo 2 – Intercorrências clínicas ................................................. 8213 1 INTRODUÇÃO Em várias modalidades esportivas como em levantamentos de peso e levantamentos básicos na musculação, provas de velocidade no atletismo e na natação, ou em competições de remo, por muitas vezes o sucesso está condicionado à produção de mais esforço físico que os indivíduos contra os quais se está competindo. Assim, o que caracteriza tais modalidades esportivas é a tentativa constante de aprimorar a capacidade orgânica de produzir um determinado tipo de esforço. O que só é possível devido ao fato de que independente da capacidade física de um indivíduo num determinado momento de sua vida, essa mesma capacidade quase sempre pode ser aumentada por meio da aplicação repetida de estímulos, processo conhecido como treinamento físico (BOMPA, 2002). Apesar de permitir aumento no nível de aptidão física e conseqüentemente no rendimento físico e esportivo, o efeito deste tipo de treinamento não é o mesmo ao longo do tempo, pois à medida que o organismo melhora, novas adaptações tornam-se gradualmente mais difíceis de serem obtidas. Nesse sentido, os indivíduos que trabalham com o treinamento físico se interessam em conhecer os mecanismos por meio dos quais os estímulos promovem adaptações, o que permitiria estar sempre interferindo na forma de aplicar o estímulo e continuar obtendo estas adaptações (FLECK, 2006). Contudo, esses mecanismos não podem ser identificados apenas por meio de quanto o desempenho aumentou (VIRU & VIRU, 2001). A constatação de que a velocidade aumentou em 3%, por exemplo, não explica como isso aconteceu. Se as adaptações promovidas pela prática regular de exercício tornam o organismo mais 14 eficiente para realizar o esforço, torna-se importante investigar onde estas adaptações ocorrem e por quais motivos. Baechle (2000) sugere que tais adaptações ocorrem não em sua totalidade, mas em grande parte, nos componentes celulares associados ao metabolismo energético. No organismo, a maior produção de energia é organizada pelo chamado controle metabólico (FELL, 1997). Que por meio da estimulação/inibição da atividade enzimática influencia as taxas e processos metabólicos. Considerando sua organização, o controle metabólico é o resultado da interação de três “níveis” diferentes do funcionamento do organismo: a autoregulação celular, a regulação hormonal e a regulação nervosa (VIRU & VIRU, 2001). Então, os mecanismos pelos quais o treinamento físico promove adaptações podem ser investigados, por exemplo, por meio da avaliação do estado metabólico corporal. O que é feito, por sua vez, pela avaliação de vários metabólitos e substratos encontrados no sangue, na urina, saliva e/ou suor (TREMBLAY & CHU, 2000; VIRU & VIRU, 2001). Obviamente a utilização de metabólitos e substratos pressupõem que se saiba em que ponto do metabolismo tais substâncias estão presentes. Isto é, em quais “pontos” do metabolismo energético elas estão atuando ou são produzidas. 1.1 Treinamento de Força O melhor desempenho para um indivíduo também se caracteriza pela maior capacidade de produzir força e/ou potência muscular (BAECHLE et al., 2000). Uma forma de induzir aumentos de força conhecida desde a antiguidade é o chamado 15 treinamento com pesos, ou simplesmente, treinamento de força (FLECK & KRAEMER, 1997). Este aumento na força muscular geralmente leva a aumentos no volume muscular, redução do percentual de gordura corporal, melhoria no desempenho motor e no desempenho atlético. Como este tipo de força é a capacidade de produzir tensão muscular contra uma resistência, e esta pode ser para cada ângulo articular ou movimento específico, entende-se que o treinamento para aumentá-la pode ser realizado sem a produção de movimento (treinamento estático) ou com a produção de movimento (treinamento dinâmico). Em relação aos resultados supracitados, a forma mais utilizada para obtê-los é o treinamento dinâmico. Durante a execução do treinamento de força, o número máximo de repetições (RM’s) que o indivíduo consegue realizar, é um dos fatores determinantes da intensidade caracterizando-a como baixa, média ou alta. Este número máximo de repetições que uma pessoa pode realizar com determinado peso, corresponde a uma porcentagem do peso máximo que essa mesma pessoa levantaria uma única vez (sua contração voluntária máxima – CVM). Assim sendo, foi estabelecida uma relação entre quantas repetições podem ser realizadas em determinadas porcentagens do máximo do indivíduo para o exercício em questão (BAECHLE et al., 2000). Observações realizadas ao longo de anos de prática demonstraram uma associação entre o número de repetições e a predominância do tipo de adaptação em função do treinamento de força. Nesse contexto, observou-se que intensidades elevadas (85-100% da CVM) geralmente promovem aumentos de força e/ou potência (determinada principalmente pela velocidade de execução), enquanto cargas moderadas (67-85% da CVM) promovem aumento do tamanho (hipertrofia) da fibra 16 muscular e estímulos leves aumentam a resistência muscular localizada (50-66% da CVM) (BAECHLE et al., 2000; CREWTHER et al., 2006A; CREWTHER et al. 2006B; CREWTHER et al., 2006C; GABRIEL et al., 2006). Esses diferentes tipos de adaptações citadas em função da intensidade da carga são as que podem ser classificadas como predominante dado o fato de ser impossível separar totalmente adaptações. Assim, mesmo quando há um aumento na hipertrofia muscular ocorre um aumento de menor magnitude na força e na resistência muscular localizada. 1.2 Treinamento de força, metabólitos e hormônios Dada a relação entre metabolismo energético e adaptação celular, a existência de adaptações predominantes, pode estar, pelo menos em parte, relacionada a modificações específicas no metabolismo energético em função da intensidade. De modo geral, trabalhos com intensidades mais elevadas, elaborados para o aumento da força máxima, são realizados com fornecimento energético predominante da via dos fosfagênios. Enquanto que os trabalhos com intensidades moderadas, elaborados para promover aumento da massa muscular (hipertrofia), são dependentes principalmente da utilização anaeróbia de glicose. Uma vez que os substratos não são iguais entre os diferentes trabalhos, o mesmo ocorre para os metabólitos produzidos nas diferentes vias metabólicas. No trabalho de força máxima a produção de lactato é significativamente menor que a observada durante o trabalho de hipertrofia. Isso devido ao fato da creatina fosfato ser o substrato com maior contribuição para produção energética ocorrendo menor participação da via glicolítica, onde é gerado o lactato. Desta forma, o nível de 17 lactato no sangue expressa na realidade a taxa entre o influxo a partir dos músculos ativos e o efluxo a partir do sangue para locais onde o lactato é oxidado, na ressintese de glicogênio ou na gliconeogênese. Como o lactato aumenta em intensidades maiores que as correspondentes ao limiar anaeróbio, sua concentração sanguínea pode ser usada para caracterizar a contribuição da produção anaeróbia de energia em músculos ativos (VIRU & VIRU, 2001). Conforme já mencionado, o controle metabólico não é exercido apenas por meio da auto-regulação celular, estando às enzimas intracelulares submetidas a influências externas, tais como os hormônios. Isso é observado em trabalhos de força com diferentes intensidades. O trabalho para aumento da força, com alta intensidade e baixo volume de carga, promove maior alteração nas concentrações plasmáticas de testosterona, que atravessa o sarcolema na sua forma livre por um mecanismo de difusão, onde se une a proteínas receptoras de andrógenos que sedirige para o núcleo da célula, interagindo com o DNA, produzindo mRNA específico provocando aumento da síntese protéica e estimulando a liberação de GH (hormônio do crescimento) e de Somatomedina (SCHERMAN, 1984). Enquanto o trabalho com intensidade moderada e maior volume de carga, afeta de modo marcante a concentração plasmática de GH (KEUL, 1978; HAKKINEN, 1988; HAKKINEN, 1993; KRAEMER, 1990), que tem sua principal ação como estimulador de outros hormônios chamados Somatomedinas ou IGF, aumentando a síntese de proteínas e sua captação pelos músculos esqueléticos, e reduzindo a utilização de proteínas (BADILLO & AYESTARÁN, 2001). O cortisol é o principal hormônio glicorticóide, que são os que favorecem o catabolismo, ou seja, a degradação das proteínas musculares, deteriorando suas proteínas contráteis. Isto mostra que uma elevada concentração de cortisol pode levar a 18 uma redução no volume muscular, e por conseqüência diminuição da força, prejudicando o rendimento físico-esportivo. Quando a concentração de cortisol aumenta, a produção de testosterona é inibida, pois o cortisol irá competir pelos mesmos receptores que se unem com a insulina e com a somatomedina, mostrando então que o aumento na intensidade do exercício, leva ao aumento do risco de degradação de proteínas (KRAEMER, 1992). A insulina que é um hormônio secretado pelo pâncreas também tem a função de inibir a utilização de proteínas (catabolismo), ocupando os receptores do cortisol da membrana da célula muscular, evitando a ação catabólica protéica do cortisol sobre esses receptores (BADILLO & AYESTARÁN, 2001). A relação testosterona / cortisol (RTC), permite avaliar o equilíbrio anabólico / catabólico em que se encontra um indivíduo submetido a um treinamento intenso. Esses estudos demonstram que o treinamento de força afeta o metabolismo energético e o sistema endócrino de modo diferenciado conforme a intensidade com que é praticado. Isso sugere que o estudo de substratos, metabólitos e hormônios podem servir de ferramenta para o acompanhamento da eficácia de um dado regime de treinamento de força (ALBERNETHY et al., 1994; ENOKA, 2002; GOTO et al., 2005; KAWADA & ISHII, 2005). O que em última instância é de extrema importância para a obtenção contínua de resultados. Dentre as substâncias associadas ao estresse metabólico induzido pelo treinamento de força podem ser citadas então, o ácido láctico (ou sua forma plasmática, o lactato), a testosterona, o cortisol e o hormônio do crescimento (LIEBER 1992, 2002; RIZZI et al., 1997; VIRU & VIRU, 2001). 19 Fleck & Kraemer (1997) relatam que o ganho de força muscular entre homens e mulheres é semelhante, já o aumento no volume muscular (hipertrofia) é maior nos homens. Vale destacar que a relação entre a intensidade do esforço físico e o sistema energético prioritariamente acionado, não é exclusividade do treinamento de força (JANSSEN, 2001). Assim, por exemplo, a corrida ou o salto em alta intensidade promove ativação do sistema energético do fosfagênio tal qual o treinamento de força de alta intensidade. Atualmente os mecanismos responsáveis pelo aumento da massa muscular, por meio do aumento da secção transversa do músculo (hipertrofia muscular), são muito discutidos, porém autores como Clarkson & Hubal (2002) e Raastad et al. (2003) consideram que esta hipertrofia tem como um de seus principais fatores o dano muscular após a realização do treinamento de força. Este dano ocorre principalmente em função da fase excêntrica da contração muscular. A creatina quinase (CK) é uma enzima intracelular que regenera o ADP a ATP, é liberada na corrente sanguínea quando a fibra muscular é lesionada. Assim, além dos marcadores ligados ao metabolismo energético, diferentes tipos de treinamento de força podem ser monitorados quanto à ocorrência de microlesões, conseqüentemente pela detecção de creatina quinase (GRABINER, 2000; LIEBER, 2002). Sendo ela citoplasmática e não tendo a capacidade de atravessar a barreira da membrana sarcoplasmática, se a concentração plasmática dessa enzima estiver aumentada, isto é um indicativo de dano muscular (NOSAKA, 2002). Existe uma grande variabilidade da resposta intersujeitos, onde a intensidade do exercício, o tipo de exercício e a realização de atividade imediatamente após o dano 20 induzido podem alterar a magnitude da concentração de CK na corrente sanguínea, sendo assim, a concentração sanguínea de CK pode ser afetada por vários fatores, incluindo fatores genéticos (FOSCHINI, 2006). 1.3 Sistemas de treinamento de força A intensidade não é o único fator manipulado no treinamento de força a fim de que adaptações sejam obtidas. Ao longo dos anos, o treinamento de força foi utilizado por indivíduos com os mais variados objetivos (ex. alteração da força, da composição corporal), além disto, a disponibilidade ou a limitação de tempo e de equipamentos para a realização dos treinamentos estimulou a variação de trabalhos. Assim, surgiram os chamados sistemas de treinamento de força (KRAEMER & FLECK, 2004). De modo geral, tais sistemas manipulam variáveis que se acredita serem importantes para a adaptação, sendo possível a realização de uma infinidade de combinações. Fry (1999) destaca, por exemplo, que mais de 1.000.000 de tipos de treino podem ser facilmente elaboradas a partir da combinação das supracitadas variáveis. Obviamente, um número tão grande de opções dificulta a escolha das formas mais eficientes para ministrar o treinamento de força (GRAVES & FRANKLIN, 2001; GABRIEL et al., 2006). Para aumentar tal dificuldade, vale destacar a falta de embasamento científico na criação dos sistemas de treinamento. Eles foram estabelecidos por tentativa e erro e geralmente são adotados em função de crenças e/ou preferências pessoais. 21 Um esforço no sentido de estabelecer melhoras para a prescrição do treinamento de força foi feito por Kraemer (1983). Esse autor estabeleceu o conceito de variáveis agudas do treinamento, que são divididas em variáveis de volume de carga, variáveis de intensidade de carga, e a freqüência de treinamento. As variáveis de volume de carga (número de exercícios, número de séries e número de repetições) são aquelas que podem aumentar ou diminuir a quantidade de estímulos que são ministrados durante uma sessão de treinamento. Quando uma ou mais dessas variáveis é alterada a quantidade de estímulo para a musculatura também muda". Já as variáveis de intensidade de carga (seleção dos exercícios, ordem dos exercícios, peso, amplitude de movimento, velocidade de execução, e intervalo entre séries e exercícios) são aquelas que para um mesmo número de estímulos, ocorre alteração no grau de dificuldade com que o exercício é realizado. Por exemplo, se o peso for aumentado, a dificuldade em realizar o mesmo número de repetições será maior, e da mesma forma se alterar intervalo de recuperação entre as séries, a amplitude do movimento ou a velocidade de execução, a dificuldade em realizar os exercícios será diferente. Existem ainda exercícios que apresentam maior ou menor grau de dificuldade na hora de sua realização, isto relacionado ao número de articulações envolvidas (e conseqüentemente número de músculos agonistas) ou a necessidade de utilização de músculos estabilizadores (coordenação intermuscular), sendo assim, a escolha dos exercícios ou a ordem com que estes serão realizados (convencional ou pré-exaustão) podem influenciar na intensidade do trabalho realizado para um determinado músculo ou grupo muscular. 22 Posteriormente, Fleck & Kraemer (2006) indicaram que todo e qualquer sistema de treinamento de força manipula uma ou mais dessas variáveisagudas. Embora as propostas desses autores facilitem a prescrição do treinamento de força elas não contribuem quanto ao acompanhamento das adaptações obtidas, uma vez que não estabelecem quais seriam os indícios de que mudanças estariam ocorrendo no organismo. Se cada sistema de treinamento de força manipula de modo particular as variáveis agudas, supõe-se que as alterações no metabolismo energético, sistema endócrino e ocorrência de microlesões também sejam próprias de cada sistema. Uma vez estabelecido o padrão geral de alterações metabólicas e hormonais promovidas por cada tipo de sistema de treinamento, esse mesmo padrão poderia ser utilizado como referencial para o futuro acompanhamento de tal sistema, assim como acontece em procedimentos de avaliação física (antropometria, medidas neuro-motoras ou metabólicas), onde existem os “valores de referência”, ou seja, considerados normais. Estes são os valores que comumente encontram-se na população estudada (GUEDES & GUEDES, 2006). O conhecimento sobre o padrão geral de alterações metabólicas e hormonais promovidos por um dado sistema de treinamento apresentaria ainda a vantagem de servir de instrumento contra o estabelecimento da síndrome de supertreinamento (diminuição do desempenho devido a adaptação inadequada ao estímulo do exercício). Em modalidades esportivas de força, o supertreinamento ocorre quando erros são cometidos em relação às variáveis agudas do treinamento (KRAEMER et al., 1998). Além da diminuição no desempenho, o supertreinamento promove alterações nas concentrações basais de hormônios como a testosterona e o cortisol (FRY et al., 1993; 23 RAMSEY et al., 1996; FRY & KRAEMER, 1997). É interessante notar que antes do estabelecimento do supertreinamento há uma fase prévia denominada overreaching na qual já há alterações hormonais sem comprometimento severo do desempenho (INDER E WITTERT, 2005). O conhecimento da resposta normal do organismo ao treinamento pode detectar a ocorrência do overreaching permitindo assim a modificação do treinamento e evitando que o supertreinamento se instale. 1.4 Sistema convencional e sistema piramidal Os dois sistemas de treinamento de força mais utilizados são o convencional (ou tradicional) e o piramidal. O sistema convencional surgiu como uma variação da forma original de praticar treinamento de força. Inicialmente, os treinamentos eram realizados em série simples, ou seja, os praticantes realizavam o número estabelecido de repetições uma única vez em cada exercício. Posteriormente, passou-se a realizar um dado número de repetições e após breve descanso repetir o procedimento. A justificativa para isso era a crença de que o novo procedimento aumentaria a fadiga e a concentração de metabólicos na musculatura. Isso por sua vez propiciaria um maior aumento da massa muscular. Desde então esta nova metodologia, séries múltiplas, foi adotada utilizando-se sempre o mesmo número de repetições e com o mesmo percentual do valor da CVM a cada nova série, sendo denominado “sistema convencional” ou “sistema tradicional”. De modo semelhante à concepção original, estes sistemas foram desenvolvidos sem qualquer tipo de verificação experimental. Provavelmente o segundo sistema mais utilizado é o piramidal. Ele surgiu a partir da diversificação do sistema convencional uma vez que os praticantes do treinamento 24 de força acreditam que variar os sistemas de treinamento consiste numa estratégia válida para promover novas adaptações e, conseqüentemente, melhorar seu desempenho. O sistema piramidal pode ser entendido como um sistema de múltiplas séries, mas com a variação em relação ao convencional que de uma série para outra o peso será modificado, assim como o número de repetições também. Em sua versão original o sistema piramidal foi desenvolvido com a característica completa, ou seja, entre as primeiras séries (de uma para a outra) o número de repetições diminui e o peso aumenta, e nas últimas séries o número de repetições aumenta e o peso diminui (ex: em um treinamento com cinco séries, da primeira para a segunda o executante diminui o número de repetições e aumenta o peso, da segunda para a terceira, repete o procedimento, da terceira para a quarta, este procedimento é invertido, ou seja, aumenta o número de repetições e diminui o peso, realizando novamente este último procedimento da quarta para a quinta série). Este sistema apresenta variações em relação a sua forma original (completa), que são: a pirâmide crescente, onde de uma série para a outra sempre o número de repetições diminui, enquanto o peso aumenta; e a pirâmide decrescente onde de uma série para a outra sempre o número de repetições aumenta, enquanto o peso diminui. 25 Tabela 1 – Exemplo dos sistemas convencional e piramidal (completo, crescente e decrescente) utilizando números de repetições que pertencem a manifestação Força Hipertrófica – adaptado de Uchida e cols, 2006. Método Convencional Método Pirâmide Completa Método Pirâmide Crescente Método Pirâmide Decrescente 1ª série – 10 rep. com 75% CVM Descanso 1 min. 2ª série – 10 rep. com 75% CVM Descanso 1 min. 3ª série – 10 rep. com 75% CVM Descanso 1 min. 4ª série – 10 rep. com 75% CVM Descanso 1 min. 5ª série – 10 rep. com 75% CVM 1ª série – 06 rep. com 85% CVM Descanso 1 min. 2ª série – 08 rep. com 80% CVM Descanso 1 min. 3ª série – 10 rep. com 75% CVM Descanso 1 min. 4ª série – 08 rep. com 80% CVM Descanso 1 min. 5ª série – 06 rep. com 85% CVM 1ª série – 12 rep. com 67% CVM Descanso 1 min. 2ª série – 10 rep. com 75% CVM Descanso 1 min. 3ª série – 09 rep. com 77% CVM Descanso 1 min. 4ª série – 08 rep. com 80% CVM Descanso 1 min. 5ª série – 06 rep. com 85% CVM 1ª série – 06 rep. com 85% CVM Descanso 1 min. 2ª série – 08 rep. com 80% CVM Descanso 1 min. 3ª série – 09 rep. com 77% CVM Descanso 1 min. 4ª série – 10 rep. com 75% CVM Descanso 1 min. 5ª série – 12 rep. com 67% CVM De acordo com Kraemer e Fleck (2004) existe muita especulação a respeito do porquê vários sistemas são efetivos. Ainda segundo esses autores são necessárias mais investigações a respeito da efetividade dos sistemas de treinamento de força. Conforme já mencionado, as alterações metabólicas induzidas pelo treinamento sinalizam o tipo de proteína a ser produzido enquanto que as alterações hormonais ampliam a quantidade dessas proteínas (VIRU E VIRU, 2001). Por outro lado, tanto as alterações metabólicas quanto as hormonais refletem a sobrecarga fisiológica imposta ao organismo. Os principais determinantes da sobrecarga fisiológica são a intensidade e o volume de carga para o treinamento. No treinamento de força muscular (musculação) conforme citado anteriormente, as variáveis que indicam a intensidade de carga são prioritariamente o peso utilizado, a amplitude do movimento, a velocidade de execução, 26 o intervalo de recuperação (descanso) e a seqüência dos exercícios, já as variáveis que indicam o volume de carga são: o número de exercícios para o grupo muscular, o número de séries para cada exercício e o número de repetições para cada série. Uma vez que a proposta do presente trabalho é verificar se por meio da quantificação de indicadores metabólicos e hormonais é possível caracterizar um determinado sistema de treinamento de força, é preciso garantir que a intensidade e o volume entre os sistemas avaliados sejam os mesmos. Caso contrário, torna-se impossível determinar se os indicadores metabólicos representam diferença quanto à forma de ministrar a sobrecarga (estratégiade organização), as variações na intensidade/volume ou ambos. Assim, para testar essa hipótese de que os sistemas de treinamento de força podem ser caracterizados quanto a modificações metabólicas e hormonais, o presente trabalho avaliou os dois protocolos de treinamento de força mais utilizados (convencional e piramidal) mantendo-se praticamente o mesmo volume e intensidade de carga. 27 2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA Um número crescente de evidências demonstra que o treinamento de força promove benefícios tanto para o desempenho (ex. aumento da força máxima e da potência muscular) quanto para a saúde (ex. melhoria de problemas ortopédicos, hiperlipidemia, hipertensão, bem-estar psicossocial). Contudo, a obtenção de tais benefícios está atrelada à prescrição adequada do treinamento de força (GRAVES E FRANKLIN, 2001). Dado a grande variedade de sistemas de treinamento de força e o fato de desses sistemas terem sido desenvolvidos sem respaldo de pesquisas, faz-se necessário o estudo de formas mais eficientes de acompanhamento da efetividade do treinamento de força. A determinação das alterações metabólicas e hormonais promovidas pelos diferentes sistemas de treinamento de força pode ser uma das formas de acompanhamento. 28 3 OBJETIVO Comparar algumas das alterações metabólicas induzidas pelo treinamento de força muscular, quando os sujeitos são submetidos a dois sistemas diferentes em relação à manipulação de variáveis agudas do treinamento, porém muito semelhantes, senão iguais, em sua carga total. 29 4 MÉTODO 4.1 Seleção dos Sujeitos Participaram do presente estudo 10 indivíduos do sexo masculino, universitários e idade média de 26,1 anos. Todos os participantes eram familiarizados aos exercícios de força, mas classificados como iniciantes, isto é, com menos de seis meses de treinamento (BAECHLE ET AL., 2000). Os procedimentos a serem utilizados foram informados detalhadamente a todos os sujeitos e todos concordaram em participar de maneira voluntária do estudo, assinando termo de consentimento informado e proteção da privacidade (anexo 1). Foram excluídos do estudo indivíduos com história conhecida de doença cardiovascular, respiratória, diabetes, hipertensão, desordem hormonal, lesão muscular (últimos 12 meses), além daqueles que estavam administrando ou haviam administrado medicação ou suplementos, que alterem o metabolismo, nos 6 meses que antecederam o início do estudo. As características antropométricas dos sujeitos estão apresentadas na Tabela 2. O experimento foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Metodista de São Paulo – CEP - UMESP – sob o parecer no 161256/07 (anexo 1). Seguindo a resolução específica do Conselho Nacional de Saúde (no 196/96), todos os participantes foram informados detalhadamente sobre os procedimentos utilizados e concordaram em participar de maneira voluntária do estudo, assinando termo de consentimento informado e proteção da privacidade. 30 4.2 Recomendações nutricionais Os participantes do estudo foram orientados a manter sua alimentação convencional até o almoço, que ocorreu às 12:00 hs, podendo ingerir apenas água até o horário do treino que ocorreu às 20:00 hs. 4.3 Determinação das Intercorrências Clínicas Utilizamos como referencial Nieman (1994), o qual sugere um registro das intercorrências clínicas (Anexo 2). O procedimento foi realizado no momento da explicação e esclarecimento do estudo aos voluntários, antecedendo o início dos testes, e antes de cada sessão de treinamento. 4.4 Avaliação da força muscular 4.4.1 Teste de força máxima (CVM – Contração Voluntária Máxima) Para a determinação da intensidade utilizada em ambos os sistemas de treinamento a CVM foi determinada (KRAEMER E FRY, 1995). Nos testes foram padronizadas a posição de início e a amplitude de movimento, conforme treinamento que será executado posteriormente. O procedimento: Aquecimento: realizaram 08 repetições com 50% do peso máximo estimado, após um intervalo de 1 minuto, um leve alongamento. Nova realização de 4 repetições com 65% do peso máximo estimado, após um intervalo de 2 minutos, leve 31 alongamento. Estimou-se um peso próximo do máximo, onde o executante realizou 2 repetições, e novo intervalo de 3,5 minutos. Aumentou-se o último peso utilizado no aquecimento em 10% para realizar a primeira tentativa de determinação de força máxima; realizou um intervalo de 3,5 minutos; repetiu o procedimento (aumentou 10%) para realizar a segunda tentativa e repetir o intervalo; o procedimento foi repetido novamente até que o executante não conseguisse realizar a repetição completa. Então o último peso que este realizou o movimento completo foi considerado o valor da CVM. As tentativas foram no máximo de 5, caso este número fosse ultrapassado, o teste seria refeito em outro dia. 4.5 Protocolo de treinamento Três exercícios para treinar o grupamento muscular ântero-superior do tronco (prioritariamente peitoral) sendo 2 exercícios multi-articulares e um bi-articular. Os exercícios propostos foram 1º supino regulamentar, 2º supino inclinado e 3º pec deck. Nossa intenção foi realizar o treinamento com os principais exercícios utilizados em um programa de treinamento de força convencional. 32 FIGURA 1 – SUPINO REGULAMENTAR – Posições inicial e final para a realização do exercício. Ajustes do equipamento: A barra foi posicionada no apoio do suporte, em uma altura compatível com o comprimento dos membros superiores. Ajustes corporais: Deitado, com os pés apoiados no solo. O afastamento da pegada foi ajustado na posição média entre a amplitude máxima de pegada e a alinhada com os ombros. Ombros, cotovelos e punhos foram alinhados no plano transversal. Execução: Realizaram a flexão horizontal de ombros, retornando a posição inicial. Músculos Motores Primários: Flexão horizontal de ombros: Peitoral maior, deltóide (parte anterior) e coracobraquial. Abdução de escápulas: Peitoral menor e serrátil anterior. Extensão de cotovelos: Tríceps braquial. 33 FIGURA 2 – SUPINO INCLINADO – Posições inicial e final da realização do exercício. Ajustes do equipamento: O banco foi inclinado em aproximadamente 30º. A barra foi posicionada no apoio do suporte, em uma altura compatível com o comprimento dos membros superiores. Ajustes corporais: Deitado, com os pés apoiados no solo. O afastamento da pegada foi ajustado na posição média entre a amplitude máxima de pegada e a alinhada com os ombros. Execução: Realizaram a flexão horizontal de ombros, retornando a posição inicial. Músculos Motores Primários: Flexão horizontal de ombros: Peitoral maior, deltóide (parte anterior) e coracobraquial. Abdução de escápulas: Peitoral menor e serrátil anterior. Extensão de cotovelos: Tríceps braquial. 34 FIGURA 3 – PEC DECK – Posições inicial e final da realização do exercício. Ajustes do equipamento: Este equipamento foi ajustado para cada indivíduo, de forma que os cotovelos permaneceram na mesma altura dos ombros. Ajustes corporais: O indivíduo permaneceu sentado, com os pés apoiados em um suporte, de forma que o ângulo entre tronco e coxas aproximou-se de 90º. As articulações de cotovelos e ombros ficaram alinhadas no plano horizontal. Execução: O movimento foi realizado com a flexão horizontal de ombros até que osbraços do aparelho se tocassem. Músculos Motores Primários: Flexão horizontal de ombros: Peitoral maior, deltóide (parte anterior) e coracobraquial. Abdução de escápulas: Peitoral menor e serrátil anterior. 35 Foram aplicados a estes exercícios propostos, dois sistemas de treinamento: • O convencional, onde os indivíduos realizaram cada um dos exercícios em 3 séries de 10 repetições com 75% do resultado encontrado no teste de CVM, com um intervalo de 1 minuto entre as séries, mantendo a velocidade de execução em 20 ciclos por minuto (moderada à lenta), e a maior amplitude de movimento sem que isto atrapalhasse seu desempenho. • O piramidal crescente, onde os indivíduos realizaram cada um dos exercícios em 3 séries, sendo na primeira 12 repetições com 67% do resultado encontrado no teste de CVM, na segunda 10 repetições com 75% da CVM e na terceira 08 repetições com 80% da CVM, com um intervalo de 1 minuto entre as séries, mantendo a velocidade de execução em 20 ciclos por minuto (moderada à lenta), e a maior amplitude de movimento sem que isto atrapalhasse seu desempenho. 4.6 Variáveis agudas do treinamento estudadas Nos dois sistemas de treinamento propostos (convencional e piramidal crescente), as duas variáveis agudas que foram modificadas, porém mantendo os mesmos valores de carga absoluta, foram o número de repetições e o peso (% da CVM) para observar suas interferências sobre o estresse metabólico. As outras variáveis foram equalizadas entre os sistemas, sendo estas: a amplitude do movimento; a velocidade de execução; o intervalo de recuperação entre as séries e os exercícios (descanso), foram realizados 3 exercícios com 3 séries em cada e a seqüência de exercícios foi a mesma. 36 4.7 Horário de Treino Proposto O horário para a realização dos treinos (20 horas) foi proposto, levando-se em consideração o horário de maior procura nas academias de musculação (período noturno), mesmo sabendo que os indivíduos tem preferências e melhores desempenhos em horários variados de acordo com suas características individuais. 4.8 Avaliações Antropométricas A metodologia utilizada para as medidas de espessura de dobras cutâneas foi o compasso de dobras cutâneas, também conhecido adipômetro da marca Cescorf (BVE973). O aparelho apresentava uma pressão constante de 10g/mm2 sobre o tecido a ser medido. As características do aparelho eram: sensibilidade: 0,1mm, pressão nas mandíbulas: 10mm2, amplitude de leitura: 80mm, massa: 280g e tamanho de eixo maior: 290mm e eixo menor: 170mm. Os pontos de reparo de dobra cutânea utilizados foram: peitoral (torácica), tricipital, subescapular, bicipital, axilar medial, supra-ilíaca, abdominal, coxa e panturrilha medial, conforme procedimentos propostos por Heyward et al. (2000). A equação (validada) utilizada para a predição da gordura corporal, foi a de Jackson & pollock (1978) para homens que utiliza o somatório das dobras cutâneas tórax, abdôme e coxa (18 a 61 anos de idade). Através do percentual de gordura e da massa corporal total, foram obtidas as massas de gordura e isenta de gordura, com o auxílio do programa Physical test versão 6.2. A balança utilizada para realizar as medidas de peso em (Kg) e estatura (cm) foi a balança antropométrica mecânica Filizola. 37 4.9 Coleta do sangue Foram realizados os testes de 1 repetição máxima nos exercícios estabelecidos, e 168 horas após (mantendo jejum de 8 horas) foi realizada coleta de sangue, e um treinamento com exercícios de força que objetivaram desenvolver a hipertrofia muscular, sendo que um grupo (5 indivíduos) realizou o treinamento seguindo o sistema convencional e o outro grupo (5 indivíduos) o piramidal crescente. Na semana seguinte os indivíduos que haviam realizado o treinamento seguindo o sistema convencional, realizaram o treinamento seguindo o piramidal crescente, e vice-versa. Em ambas as sessões ocorreram coletas de sangue em repouso (antes do início da sessão), outra logo após o término da sessão, e após o treinamento em 24, 48 e 72 horas, para posterior análise. A coleta de sangue seguiu o procedimento conforme a representação esquemática indicada na figura abaixo (Figura 4). 1ª sessão de treinamento (50% convencional e 50% piramidal crescente) Pré-treino Pós-treino 24 horas 48 horas 72 horas Protocolo de treinamento Coleta 30 ml. Coleta 30 ml. Coleta 30 ml. Coleta 30 ml. Coleta 30 ml. de sangue de sangue de sangue de sangue de sangue 2ª sessão 168 horas após (50% piramidal crescente e 50% convencional) Pré-treino Pós-treino 24 horas 48 horas 72 horas Protocolo de treinamento Coleta 30 ml. Coleta 30 ml. Coleta 30 ml. Coleta 30 ml. Coleta 30 ml. de sangue de sangue de sangue de sangue de sangue FIGURA 4: Representação esquemática das coletas de sangue realizadas. Antes e imediatamente após o treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão de treinamento. 38 Os materiais utilizados na coleta eram todos descartáveis, padronizados, e de reconhecida qualidade, os tubos foram etiquetados adequadamente. A coleta foi realizada por um técnico habilitado e qualificado na Universidade IMES. Em cada momento foram coletados 30 ml de sangue, sendo 20 ml em tubo com EDTA e fluoretado e 10 ml em tubo seco, e após as coletas o material foi acondicionado sob refrigeração controlada a 4ºC. Em seguida, o sangue foi centrifugado e levado para armazenamento em -20ºC, onde permaneceu até a realização das análises. A solução de EDTA e Fluoreto de Potássio (tubo fluoretado) foi adicionada ao sangue no momento da coleta, torna-o incoagulável, impedindo os fenômenos de glicólise graças à presença do íon Fluoreto e permitindo o uso do plasma na quantificação da glicose. As análises foram realizadas no Laboratório de Análises Clínicas da Universidade Metodista de São Paulo (LABMESP). 4.10 Análises Sanguíneas A partir do material coletado, o hormônio insulina foi determinado pelo método de Quimioluminescência, seguindo as especificações do Kit da Roche, e os hormônios testosterona, cortisol e GH foram avaliados no soro dos voluntários e determinadas pelo método de ELISA, seguindo as especificações do fabricante, do Kit Advancing Diagnostic para testosterona e cortisol e do Kit Simbiosis para GH. Os metabólitos glicose e ácido lático foram analisados no soro dos voluntários e determinadas pelo método Colorimétrico, seguindo as especificações do fabricante, do Kit Labtest para glicose e do Kit Katal para o ácido lático, contudo o ácido láctico foi analisado somente 39 pré e pós-exercício, devido ao fato de estar bem consolidado na literatura que a remoção desse metabólito (e, conseqüentemente o retorno para os valores basais) não se estende por mais que 1 a 2 horas após o término da sessão de treinamento (independente da duração e/ou intensidade do esforço) (WILMORE & COSTILL, 2001). O marcador de dano muscular creatina quinase foi analisado pelo método de espectrofotometria, utilizando o Kit Bio System. 4.11 Análise Estatística Realizou-se uma análise descritiva dos dados das variáveis de perfil, para verificar as característicasdos elementos do estudo. Estas características foram apresentadas em forma de tabela. Foram utilizadas estatísticas descritivas de: média e desvio padrão. Em relação as variáveis estudadas, devido à natureza quantitativa delas, foram descritas nas tabelas através da estatística descritiva por meio da média aritmética (X) e desvio padrão (S). Como a maioria das variáveis não apresentou distribuição próxima a normal por meio do teste de normalidade Shapiro-Wilk, recorreu-se aos testes não- paramétricos para comparação dos valores médios. Foi utilizado a Anova de Friedman para comparação das variáveis entre os respectivos momentos (pré, pós, 24, 48 e 72 horas) dentro de cada sistema de treinamento. Quando identificada diferença significativa entre as avaliações, recorreu-se ao teste de Wilcoxon para localizar as respectivas diferenças entre os momentos (SIEGEL & CASTELAN JR, 2006). 40 Quando foram comparados os valores médios entre os tipos de treinamento de acordo com os respectivos momentos da avaliação, também foi utilizado o teste de Wilcoxon. O nível de significância adotado foi de p<0,05. O software SPSS versão 10.0 foi utilizado para os cálculos. 41 5 RESULTADOS 5.1 Caracterização da amostra As características dos indivíduos participantes estão apresentadas na tabela 2, sendo estas a idade, a massa corporal total (em Kg), a estatura (em cm), a quantidade de gordura (em %) e os valores das dobras cutâneas. Após foi determinada a massa isenta de gordura (em %). TABELA 2: Distribuição das variáveis antropométricas e idade dos voluntários. Os dados apresentados na tabela representam a média aritmética (X) e o desvio padrão (S) dos 10 sujeitos que participaram do estudo. Variáveis X S Idade (anos). 26,1 6,3 Massa corporal total (Kg). 76,4 13,3 Estatura (cm). 174,0 5,4 % de gordura. 15,48 5,42 Dobra cutânea bíceps (mm). 4,18 2,68 Dobra cutânea tríceps (mm). 15,92 7,09 Dobra cutânea subescapular (mm). 18,94 8,04 Dobra cutânea toráxica (mm). 7,62 4,08 Dobra cutânea axilar média (mm). 11,38 4,13 Dobra cutânea suprailíaca (mm). 17,22 3,28 Dobra cutânea abdominal (mm). 17,76 5,70 Dobra cutânea coxa medial (mm). 20,94 6,03 Dobra cutânea panturrilha m. (mm). 12,16 4,73 42 O grupo foi caracterizado com idade média de 26,1 + 6,3 anos, média de peso corporal de 76,4 +13,3 Kg., e de estatura de 174,0 + 5,4 cm. Com relação à composição corporal, podemos observar que os indivíduos apresentam média de 15,48 + 5,42% de gordura e a maior parte da sua constituição de massa isenta de gordura, perfazendo 84,52%. 43 Tabela 3 - Valores de média aritmética (X) e desvio padrão (S) segundo a comparação das variáveis bioquímicas pré e pós- exercício no sistema convencional de treinamento. SISTEMA CONVENCIONAL Indicadores Bioquímicos Pré Pós 24h 48h 72h X±S X±S X±S X±S X±S Insulina (µUI/ml) 6,5±4,5 7,4±4,6 4,9±2,8 5,4±4,1 3,9±1,9 Testosterona (ng/dL) 506,2±120,5 497,6±137,2 516,4±134,7 414,2±126,4 430,5±84,1 Cortisol (nmol/L) 226,1±172,3 378,7±150,2 229,0±176,8 181,4±83,5# 113,8±157,6## RTC 3,80±2,79 2,29±1,94* 4,83±3,59## 2,87±1,65 4,51±2,24# GH (ng/mL) 2,1±1,9 5,12±4,61* 0,6±0,7# 1,4±1,9# 0,4±0,6## Glicose (mg/dL) 85,2±8,1 79,4±6,7 85,8±4,5 82,1±4,9 81,4±5,4 Àcido lático (mg/dL) 12,1±4,8 71,2±10,9**a — — — Creatina quinase (U/L) 220,9±99,8 236,2±93,5 480,1±402,4 1236,6±1686,4 2708,9±1936,5*#Ŧ * p≤0,05 – diferença significativa referente ao pré-exercício. ** a p≤0,01 – diferença significativa referente ao pré-exercício. # p≤0,05 – Diferença significativa em relação ao pós-exercício. ## p≤0,01 – Diferença significativa em relação ao pós-exercício. Ŧ p≤0,05 – diferença significativa referente a 24 horas. 44 No sistema convencional, não foram observadas diferenças significativas entre os momentos pré-treino, pós-treino, 24, 48 e 72 horas após o treino nos hormônios insulina e testosterona, nem na concentração de glicose na corrente sanguínea (figuras 1, 2 e 3). No hormônio cortisol, não foi encontrada diferença entre os momentos pré-treino, pós-treino ou 24 hs após o treino, porém foi encontrada diferença entre os momentos 48 hs após o treino com o pós-treino, e 72 hs após o treino com o pós-treino (figura 4). Na relação testosterona/cortisol (RTC) encontrou-se diferença no pós-treino em relação ao pré-treino, no momento 24 hs após o treino em relação ao pós-treino, e em 72 hs em relação ao pós-treino (figura 6). No hormônio GH foi encontrada diferença nos momentos pós-treino em relação ao pré-treino, em 24 hs em relação ao pós-treino, em 48 hs em relação ao pós-treino, e em 72 hs em relação ao pós-treino (figura 7). O ácido lático apresentou diferença ente os momentos pré e pós-treino (figura 8). E ainda na creatina quinase encontrou-se diferença significativa entre 72 hs e os momentos pré-treino, pós-treino e 24 hs após o treino (figura 5). 45 Tabela 4 - Valores de média aritmética (X) e desvio padrão (S) segundo a comparação das variáveis bioquímicas pré e pós- exercício no sistema piramidal de treinamento. SISTEMA PIRAMIDAL Indicadores Bioquímicos Pré Pós 24h 48h 72h X±S X±S X±S X±S X±S Insulina (µUI/ml) 5,0±3,4 6,1±2,8 5,0±3,0 7,6±5,9 5,8±3,5 Testosterona (ng/dL) 457,3±82,5 478,5±89,9 450,8±83,3 481,9±139,1 381,4±148,1 Cortisol (nmol/L) 162,2±79,8 312,6±130,7** 150,6±82,5# 122,6±45,7## 169,5±123,7# RTC 3,55±2,14 1,59±1,08* 3,75±1,67## 4,31±1,69## 5,28±6,88 GH (ng/mL) 2,04±2,12 5,06±4,72* 0,39±0,71## 0,59±0,77## 0,62±0,72## Glicose (mg/dL) 79,6±6,4 80,5±5,2 80,9±4,6 84,1±5,2 81,3±5,1 Àcido lático (mg/dL) 11,8±3,3 73,4±16,6**a — — — Creatina quinase (U/L) 336,3±206,7 601,2±522,7 1178,2±1109,2 1811,0±2050,1* 2199,4±1747,0* * p≤0,05 – diferença significativa referente ao pré-exercício. **p≤0,01 – diferença significativa referente ao pré-exercício. ** a p≤0,01 – diferença significativa referente ao pré-exercício. # p≤0,05 – Diferença significativa em relação ao pós-exercício. ## p≤0,01 – Diferença significativa em relação ao pós-exercício. 46 No sistema piramidal, também não foram observadas diferenças significativas entre os momentos pré-treino, pós-treino, 24, 48 e 72 horas após o treino nos hormônios insulina e testosterona, nem na concentração de glicose na corrente sanguínea (figuras 1, 2 e 3). No hormônio cortisol, foi encontrada diferença entre os momentos pós-treino em relação ao pré-treino, em 24 hs em relação ao pós-treino, em 48 hs em relação ao pós- treino, e em 72 hs em relação ao pós-treino (figura 4). Na relação testosterona/cortisol (RTC) encontrou-se diferença no pós-treino em relação ao pré-treino, em 24 hs em relação ao pós-treino, em 48 hs em relação ao pós- treino (figura 6). No hormônio GH foi encontrada diferença nos momentos pós-treino em relação ao pré-treino, em 24 hs em relação ao pós-treino, em 48 hs em relação ao pós-treino, e em 72 hs em relação ao pós-treino (figura 7). O ácido lático apresentou diferença ente os momentos pré e pós-treino (figura 8). E ainda na creatina quinase encontrou-se diferença significativa entre o pré- treino com os momentos 48 hs e 72 hs após o treino (figura 5). 47 PRE PÓS 24hs 48hs 72hs 0 2 4 6 8 10 12 14 16 IN SU LI N A (uU I/m l) TRADICIONAL PIRÂMIDAL Figura 5 - representa as variações de insulina na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão.PRE PÓS 24hs 48hs 72hs 60 70 80 90 100 110 G LI CO SE (m g/ dL ) TRADICIONAL PIRÂMIDAL Figura 6 - representa as variações de glicose na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão. 48 PRE PÓS 24hs 48hs 72hs 200 300 400 500 600 700 TE ST O ST ER O N A (ng /d L) TRADICIONAL PIRÂMIDAL Figura 7 - representa as variações de testosterona na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão. PRE PÓS 24hs 48hs 72hs -100 0 100 200 300 400 500 600 CO R TI SO L (nm o l/L ) TRADICIONAL PIRÂMIDAL Figura 8 - que representa as variações de cortisol na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão. 49 PRE PÓS 24hs 48hs 72hs -500 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 CR EA TI N A QU IN A SE (U /L ) TRADICIONAL PIRÂMIDAL Figura 9 - representa as variações de creatina quinase na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão. PRE PÓS 24hs 48hs 72hs -5 0 5 10 15 R TC TRADICIONAL PIRÂMIDAL Figura 10 - representa as variações na relação testosterona / cortisol antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão. 50 PRE PÓS 24hs 48hs 72hs -5 0 5 10 G H (ng /m L) TRADICIONAL PIRÂMIDAL Figura 11 - representa as variações de GH na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão. PRE PÓS 24hs 48hs 72hs 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 ÁC ID O LÁ TI CO (m g/ dL ) TRADICIONAL PIRÂMIDAL Figura 12 - representa as variações de ácido lático na corrente sanguínea antes, imediatamente após os protocolos de treinamento, e também 24, 48 e 72 horas após o término de cada sessão. 51 Tabela 5 - Valores de média aritmética (X) e desvio padrão (S) segundo as comparações das variáveis bioquímicas pré- exercício pelos sistemas convencional e piramidal de treinamento. PRÉ-EXERCÍCIO Indicadores Bioquímicos Convencional Piramidal X±S X±S p-value Insulina (µUI/ml) 6,5±4,5 4,9±3,4 0,054 Testosterona (ng/dL) 506,2±120,5 457,3±82,5 0,386 Cortisol (nmol/L) 226,1±172,3 162,2±79,8 0,959 RTC 3,80±2,79 3,55±2,14 0,646 GH (ng/mL) 2,1±1,9 2,0±2,1 0,889 Glicose (mg/dL) 85,2±8,1 79,6±6,4 0,092 Àcido lático (mg/dL) 12,1±4,8 11,8±3,4 0,798 Creatina quinase (U/L) 220,9±99,8 336,3±206,7 0,114 Comparação sem diferença significativa. 52 Tabela 6 - Valores de média aritmética (X) e desvio padrão (S) segundo as comparações das variáveis bioquímicas pós- exercício pelos sistemas convencional e piramidal de treinamento. PÓS-EXERCÍCIO Indicadores Bioquímicos Convencional Piramidal X±S X±S p-value Insulina (µUI/ml) 7,4±4,6 6,1±2,8 0,241 Testosterona (ng/dL) 497,6±137,3 478,5±89,9 0,799 Cortisol (nmol/L) 378,7±150,2 312,6±130,7 0,386 RTC 2,29±1,94 1,59±1,08 0,139 GH (ng/mL) 5,12±4,61 5,06±4,72 0,760 Glicose (mg/dL) 79,4±6,7 80,5±5,2 0,507 Àcido lático (mg/dL) 71,2±10,9 73,4±16,6 0,959 Creatina quinase (U/L) 236,2±93,5 601,2±522,7 0,005** **p≤0,01 – diferença significativa entre os sistemas para o mesmo período pós-exercício. 53 Tabela 7 - Valores de média aritmética (X) e desvio padrão (S) segundo as comparações das variáveis bioquímicas pós- exercício pelos sistemas convencional e piramidal de treinamento. 24 horas PÓS-EXERCÍCIO Indicadores Bioquímicos Convencional Piramidal X±S X±S p-value Insulina (µUI/ml) 4,9±2,8 5,0±3,0 0,721 Testosterona (ng/dL) 516,4±134,7 450,8±83,3 0,139 Cortisol (nmol/L) 229,0±176,8 150,6±82,5 0,333 RTC 4,83±3,59 3,75±1,67 0,508 GH (ng/mL) 0,66±0,77 0,39±0,71 0,340 Glicose (mg/dL) 85,8±4,5 80,9±4,6 0,037* Creatina quinase (U/L) 480,1±402,4 1178,2±1109,2 0,072 * p≤0,05 – diferença significativa entre os sistemas para o mesmo período pós-exercício. 54 Tabela 8 - Valores de média aritmética (X) e desvio padrão (S) segundo as comparações das variáveis bioquímicas pós- exercício pelos sistemas convencional e piramidal de treinamento. 48 horas PÓS-EXERCÍCIO Indicadores Bioquímicos Convencional Piramidal X±S X±S p-value Insulina (µUI/ml) 5,4±4,1 7,6±5,9 0,386 Testosterona (ng/dL) 414,2±126,4 481,9±139,1 0,214 Cortisol (nmol/L) 181,4±83,5 122,6±45,7 0,037* RTC 2,87±1,65 4,31±1,69 0,013* GH (ng/mL) 1,4±1,9 0,59±0,77 0,362 Glicose (mg/dL) 82,1±4,9 84,1±5,2 0,168 Creatina quinase (U/L) 1236,6±1686,4 1811,0±2050,1 0,445 * p≤0,05 – diferença significativa entre os sistemas para o mesmo período pós-exercício. 55 Tabela 9 - Valores de média aritmética (X) e desvio padrão (S) segundo as comparações das variáveis bioquímicas pós- exercício pelos sistemas convencional e piramidal de treinamento. 72 horas PÓS-EXERCÍCIO Indicadores Bioquímicos Convencional Piramidal X±S X±S p-value Insulina (µUI/ml) 3,9±1,9 5,8±3,5 0,037* Testosterona (ng/dL) 430,5±84,1 381,4±148,1 0,575 Cortisol (nmol/L) 113,8±157,6 169,5±123,7 0,139 RTC 4,51±2,24 5,28±6,88 0,445 GH (ng/mL) 0,4±0,6 0,62±0,72 0,497 Glicose (mg/dL) 81,4±5,4 81,3±5,1 0,798 Creatina quinase (U/L) 2708,9±1936,5 2199,4±1747,0 0,799 * p≤0,05 – diferença significativa entre os métodos para o mesmo período pós-exercício. 56 Na comparação entre os sistemas, observamos que não houve diferença em relação ao momento pré-treino. No pós-treino encontramos diferença apenas no marcador de dano muscular (creatina quinase). Em 24 horas após o treino, a diferença ocorreu apenas para a glicose. No momento 48 horas, houve diferença em cortisol e RTC. E em 72 horas a diferença ocorreu apenas para insulina. 57 Tabela 10 – Valores de média aritmética (X), desvio padrão (S) e significância (p) para a comparação das variáveis imunológicas de acordo com o sistema de treinamento de força. CONVENCIONAL PIRAMIDAL Significância (p) Pré Pós Pré Pós Variáveis Série Branca X±S X±S X±S X±S 1 2 3 4 Leucócitos mm/3 8060,0±1419,1 7795,0±1810,8 7620,0±1905,1 6995,0±1753,9 0,285 0,168 0,415 0,059 Bastonete mm/3 45,1±49,3 47,6±69,1 37,3±42,5 20,9±51,0 0,499 0,225 0,053 0,180 Segmentados mm/3 3927,7±1412,1 3982,8±1889,7 3022,2±1213,6 3408,4±1509,2 0,799 0,241 0,005 0,005 Eosinófilos mm/3 339,5±239,3 294,4±448,4 279,9±323,7 245,2±168,4 0,114 0,959 0,005 0,005 Linfócito mm/3 3199,4±1218,0 2917,3±1294,3 3809,1±789,4 2843,8±408,9 0,575 0,013 0,058 0,114 Monócitos mm/3 537,0±293,3 553,5±181,9 472,1±221,9 476,5±349,2 0,386 0,721 0,005 0,330 * 1-4 o valor de significância (p) foi calculado através do teste não-paramétrico de Wilcoxon (p<0,05) 1 – sistema convencional (pré vs. pós); 2 – sistema piramidal (pré vs. pós); 3 – pré-intervenção (tradicional vs. piramidal); 4 – pós-intervenção (tradicional vs. piramidal). 58 Leucócitos e bastonetes não apresentaram diferença em nenhuma das comparaçõesrealizadas, segmentados, eosinófilos e monócitos não apresentaram diferença do pré para o pós-treino no sistema convencional nem no piramidal, apenas linfócitos apresentaram diferença do pré para o pós-treino no sistema piramidal. 59 6 DISCUSSÃO Os resultados do presente estudo demonstram que os dois protocolos mais utilizados de treinamento de força promovem alterações plasmáticas nas concentrações de determinados metabólitos e hormônios. Esse, contudo não foi o caso da insulina. Uma vez que esse hormônio está envolvido em funções tão diversas quanto o controle central da ingestão alimentar (NISWENDER et al., 2003), síntese protéica e hipertrofia muscular (HO et al., 2005), todas fundamentais para o sucesso no treinamento de força, ele é potencialmente um excelente indicador das alterações provocadas por esse tipo de exercício. Assim, embora sua mensuração seja justificada no presente estudo, em nenhum dos protocolos ou intervalos de tempo analisados a concentração plasmática de insulina alterou-se em função do treinamento de força. Uma vez que as concentrações basais de insulina não são reguladas pelas concentrações normais de glicose sérica (ex. 80-100 mg•dl-1) (NATHAN E CAGLIERO, 2001) e os sujeitos do presente estudo estavam em jejum em todas as condições estudadas, uma das formas da concentração plasmática de insulina aumentar seria em função do aumento da glicemia induzido pelo treinamento. Kjaer et al. (1986) demonstraram, por exemplo, que exercícios com intensidade superior a 100% do consumo máximo de oxigênio (VO2máx) promovem hiperglicemia. Embora os protocolos de treinamento de força utilizados no presente estudo apresentem metabolismo predominantemente anaeróbio vale ressaltar que exercícios que solicitam 100% do VO2máx correspondem a um esforço de aproximadamente 30-60% da CVM (SALE, 1987). 60 Em concordância com os dados de insulinemia, não foram observadas alterações na concentração plasmática de glicose. Isso poderia ser explicado pela redução dos estoques hepáticos de glicogênio em função do jejum. Assim, ainda que o exercício intenso promova intensa liberação de glicose a partir do fígado, isso só pode ocorrer quando os estoques de carboidratos estão preservados. A testosterona é um hormônio fundamental para que as adaptações induzidas pelo treinamento de força possam ser implementadas. Isso por causa da sua reconhecida atividade anabólica (KOCHAKIAN, 1935) e seu efeito anti-catabólico (MAYER E ROSEN, 1977). Essas atividades são tão significativas que por anos atletas vem fazendo uso, por vezes excessivo, desse hormônio e seus derivados com o intuito de aumentar o desempenho esportivo (YESALIS, 2000). Estes estudos têm indicado que a testosterona (em concentração aumentada) compensa a fadiga das fibras tipo II (contração rápida), e estas representam o tipo mais utilizado em sessões de treinamento de força muscular. Isto garante uma maior eficiência neuromuscular, permitindo assim, aumento na capacidade de trabalho e maior resistência à fadiga. (BOSCO et al., 2000; TAMAKI et al., 2001). Contudo, os dados do presente estudo demonstram que nenhum dos sistemas de treinamento de força promoveu alteração nas concentrações plasmáticas de testosterona. Alguns autores (GALBO et al., 1977; WILKERSON et al., 1982 ; KRAEMER et al., 1992) sugeriram que esses aumentos na concentração de testosterona observados durante o exercício podem ser consequência de mudanças no volume plasmático. Portanto, a presença aumentada de testosterona no sangue não corresponderia à sua maior secreção. O principal causador de redução da volemia durante a prática de exercícios é a transpiração (MAUGHAN, 2000). Neste trabalho, os voluntários 61 executaram os exercícios de ambos os protocolos em locais cuja temperatura ambiente não favorecia perdas significativas de água por meio da transpiração. O cortisol desempenha vários papéis no organismo tais como controle do balanço de sódio e água, regulação da pressão arterial, manutenção da homeostase da glicose, inibição da função de osteoblastos e ações inflamatórias incluindo supressão da resposta imunológica (STEWART, 2003). Entretanto, com relação ao treinamento de força esse hormônio tem sido investigado devido à sua capacidade de degradar proteínas (HICKSON E MARRONE, 1993). Os dados do presente estudo demonstram que os protocolos de força avaliados promoveram aumento significativo na concentração de cortisol. Como os voluntários do estudo não eram indivíduos adaptados ao treinamento de força, a literatura sugere que as alterações verificadas refletem o estresse metabólico (FLORINI, 1987). Kraemer e Fleck (2004) destacam que os mecanismos específicos do catabolismo promovido pelo cortisol não são completamente compreendidos, mas que em seu conjunto as ações do cortisol sobre o metabolismo protéico representam uma tentativa de reestabelecer a homeostase celular. Com isso, poderiasse prevenir quaisquer efeitos deletérios que tenham sido causados pelo estresse agudo no organismo. Esses autores enfatizam ainda que por essa perspectiva os exercícios de força podem ser entenditos como um microtrauma adaptativo que pode levar à inflamação (local ou sistêmcia) e em última análise ao rápido aumento das concentrações de cortisol na circulação para reparo e remodelação teciduais. Os dados relativos ao indicador de lesão (creatina quinase). Em ambos os protocolos de força avaliados foram observados aumentos nas concentrações plasmáticas dessa substância. Está amplamente estabelecido que em função dos 62 microtraumas produzidos pelas contrações musculares, prioritariamente as excêntricas, ocorre a dor muscular de início tardio. Fenômeno que recebe esse nome por apresentar sua intensidade máxima 24-48 horas após o exercício (VIRU & VIRU, 2001). Os pesquisadores têm procurado por marcadores bioquímicos da microlesão, Evans e cols (1986) foram os primeiros a demonstram o aumento de creatina quinase em função da realização de exercício excêntrico. Nossos dados demonstram que a creatina quinase aumentou principalmente 48 e 72 horas após a realização dos sistemas de treinamento de força. Infelizmente, a concentração de creatina quinase não é um bom indicador da magnitude da microlesão muscular (LIEBER et al., 1994; FRIDÉN E LIEBER, 2001). Entretanto, em conjunto com as alterações de cortisol, a creatina quinase sugere que os protocolos de treinamento foram capazes de induzir microtraumas nos participantes do estudo. Na realidade, as elevações agudas no cortisol sérico tem sido altamente correlacionadas (r = 0,84) com marcadores de dano muscular (ex. creatina quinase) (KRAEMER et al., 1993). O fato desses indivíduos não serem adaptados ao treinamento reforça essa hipótese (LIEBER, 2002). As concentrações plasmáticas de cortisol podem ainda ser avaliadas em conjunto com as concentrações do hormônio testosterona. ADLERCREUTZ et al. (1986) recomendaram a utilização da razão entre a testosterona livre e o cortisol (T/C) como um indicador de estresse excessivo. Teoricamente, a redução maior que 30% dessa taxa representaria uma situação negativa em termos de adaptação ao treinamento, uma vez que estaria havendo um predomínio da ação catabólica (cortisol) em relação à anabólica (testosterona). Em casos de diminuição extrema dessa taxa poderia ocorrer o estabelecimento do supertreinamento no organismo (KUIPERS & KEIZER, 1988; URHAUSEN et al., 1995). Os dados do presente estudo demonstram 63 que houve uma queda da RTC logo após o término do exercício em ambos os protocolos. Essa queda ocorreu em função do
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