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Direito Penal 3 - Parte Geral

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Causas extintivas da punibilidade
Prescrição 
É o poder-dever que o estado tem de, dentro de um determinado período, punir o agente que tenha praticado uma infração penal e executar a punição imposta.
A prescrição se divide em duas espécies: 
Prescrição da pretensão punitiva (PPP)
Prescrição da pretensão executória (PPE)
Momento a partir do qual a prescrição começa a ser contada: 
Nos crimes consumados, a partir da consumação 
Nos crimes tentados, a partir da prática do último ato executório
Nos crimes permanentes, a partir da cessação da permanência 
Nos crimes continuados, incide de forma isolada sobre cada um dos crimes que compõem a cadeia delitiva 
Nos crimes de falsificação de registro civil, a partir do momento em que o fato se torna de conhecimento público
Obs: se o acusado for maior de 18 anos e menor de 21 na data do fato ou maior de 70 anos na data da condenação, o prazo prescricional será reduzido à metade.
Prescrição da pretensão punitiva: ocorre quando o Estado, em razão da sua inércia, perde o direito de punir.
Espécies de PPP: 
Propriamente dita o prazo começa a ser contado, via de regra, a partir da consumação da infração penal; vai até a publicação da sentença penal condenatória; leva-se em consideração a maior pena cominada “in abstrato”.
Superveniente/ posterior/ intercorrente inicia-se com a publicação da sentença penal condenatória; leva-se em consideração, em regra, a pena “in concreto”; caso o MP recorra pedindo aumento de pena, deverá ser levada em consideração a maior pena “in abstrato”, uma vez que o tribunal pode acatar o recurso da acusação e aplicar a pena máxima; caso o MP recorra, mas não peça aumento de pena, será levada em consideração a pena “in concreto”; caso a defesa recorra pedindo diminuição de pena, e o MP recorra pedindo o aumento da pena, será levada em consideração a maior pena “in abstrato”; se apenas a defesa recorrer, leva-se em consideração a pena “in concreto”.
Obs: a PPP superveniente deve ser observada pelo Tribunal.
Retroativa leva-se em consideração a pena “in concreto” aplicada pelo juiz ou pelo tribunal; deve ser verificada entre as causas interruptivas, de trás pra frente; o limite do cálculo retroativo é o recebimento da denúncia ou da queixa; em razão desse limite, não há que se falar em PPP retroativa na fase do inquérito policial; na fase do inquérito policial poderá ser reconhecida somente a PPP propriamente dita, ou seja, apenas no caminho da ida; há quem admita, na fase da instrução criminal, o reconhecimento da PPP antecipada ou virtual.
Antecipada/ virtual (não existe previsão legal) é a requerida pelo MP, na fase de inquérito policial, com base na provável pena a ser aplicada pelo juiz. O fundamento é a economia processual. Nesse caso, o MP irá requerer o arquivamento do inquérito policial com base na extinção da punibilidade do agente em razão da prescrição antecipada. Caso o juiz não concorde com o pedido do arquivamento do MP, deverá se valer do art. 28, CPP, segundo o qual o juiz deverá encaminhar os autos de inquérito policial ao procurador geral de justiça. O PGJ poderá:
Concordar com o promotor e arquivar o inquérito policial; ou
Oferecer denúncia ou designar um outro promotor para que a ofereça. 
Nesse caso não haverá quebra da independência funcional desse promotor, porque estará agindo em nome do PGJ. 
Causas suspensivas da prescrição
Carta rogatória;
Suspensão condicional do processo;
Questões prejudiciais: a prescrição ficará suspensa enquanto não resolvida em outro processo questão de que dependa a existência do crime;
Enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro;
Citação por edital;
PPE- Pretensão da prescrição executória 
Na prescrição da pretensão executória o Estado perde o direito de executar a sanção imposta na condenatória. 
A PPE ocorre após o trânsito em julgado da sentença condenatória, seja em primeira instancia ou em grau de recurso.
A PPE regula-se pela pena imposta, e verifica-se nos prazos fixados no art. 109, os quais aumentados de 1/3 se o condenado for reincidente.
A reincidência produz dois efeitos: 
Aumenta em 1/3 a PPE futura;
Interrompe a PPE que está em andamento.
O prazo da PPE será reduzido da metade nos casos de menor de 21 anos na data do fato e do maior de 70 à época da sentença. 
A PPE é sempre calculada com base na pena fixada (in concreto). 
O reconhecimento da PPE impede a execução da pena mas não impede o reconhecimento dos efeitos secundários penais e extrapenais. 
Quando começa a correr o prazo da PPE:
Da data do transito em julgado para a acusação;
Da data da decisão que revoga o livramento condicional e o sursi;
A partir do momento em que a execução da pena é interrompida.
Obs. No caso de fuga do condenado e de revogação do livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena. 
Fundamento: pena cumprida é pena extinta. 
Causas interruptivas da PPE
Início do cumprimento da execução da pena; 
Continuação da execução do cumprimento da pena;
Reincidência. 
Causas suspensivas do curso da PPE
A prisão por qualquer outro motivo que não a condenação que se pretende executar.
Nessa hipótese, a prescrição da pretensão de executar uma condenação não corre enquanto o condenado estiver preso por motivo diverso da condenação que se quer efetivar. Ex. o procurado condenado em uma comarca cumpre pena por outro crime em comarca diversa; enquanto estiver preso, cumprindo tal pena, não correrá a prescrição no que se refere à outra condenação. 
A contagem da prescrição se faz de acordo com o prazo previsto na legislação penal (sempre que se refere a prazo relativo ao direito de punir), ou seja, conta-se o primeiro dia e exclui-se o último. 
Prescrição da multa 
PPP da multa se a pena de multa for a única prevista ou a única aplicada, o prazo será de 02 anos; se a multa é prevista cumulativa ou alternativamente no tipo penal com uma ppl, o seu prazo prescricional será o mesmo da ppl; se a pena de multa for aplicada cumulativamente com a ppl, o prazo de prescrição é o mesmo da ppl.
PPE da multa a prescrição da pretensão executória da multa ocorrerá sempre no prazo de 5 anos e a execução será feita separadamente da ppl, perante a Vara da Fazenda Pública, uma vez que, para fins de execução, a multa será considerada dívida de valor. Dessa forma, o prazo prescricional, as causas suspensivas e interruptivas da prescrição, a competência e o procedimento para a cobrança passam a ser da legislação tributária. 
Morte do agente 
Trata-se de causa personalíssima da extinção da punibilidade, não se comunica a coautores e partícipes. A morte é provada por meio da certidão de óbito. No caso de sentença extintiva da punibilidade transitada em julgada com base em certidão de óbito falsa, só restará ao MP processar o autor da falsificação, uma vez que não existe revisão criminal “pro societate”.
Anistia 
Lei federal de efeito retroativo, que apaga o fato. 
Trata-se de uma clemência soberana, de um perdão em sentido amplo.
Pode ser concedida antes do trânsito em julgado (anistia própria), ou depois do trânsito em julgado (anistia imprópria).
Se a anistia ocorrer antes do trânsito em julgado nenhum efeito da condenação subsistirá. Se a anistia for concedida após o trânsito em julgado, desaparecerá o efeito principal da sentença; também faz desaparecer os efeitos secundários penais; subsistem, no entanto, os efeitos secundários extrapenais, a exemplo, a obrigação de reparar o dano. 
Uma vez concedida, não pode ser revogada, já que sua revogação implicaria em retroatividade dos efeitos anteriores, prejudicando o agente. 
A atribuição para conceder a anistia é do Congresso Nacional (art. 48, VIII, CF).
Obs. Enquanto a anistia apaga o fato, a abolitio criminis revoga a norma.
Graça e indulto
Semelhanças: 
Só podem ser concedidas após o transito em julgado;
São concedidas por decreto do Presidente da República, que pode delegar essa atribuição ao Procurador Geral da República, ao Advogado Geral da União, ao Ministro da Justiça;Apagam apenas o efeito principal da sentença penal condenatória.
Diferenças: 
O indulto é coletivo, e é concedido de oficio. Já a graça é individual, e depende da solicitação do condenado. 
Abolitio criminis 
É a lei penal posterior, de efeito retroativo, que deixa de considerar o fato criminoso.
Apaga os efeitos principais e os efeitos penais secundários, subsistindo os efeitos secundários extrapenais, como a anistia. 
Decadência 
Trata-se de causa extintiva da punibilidade que afeta indiretamente o direito de punir do Estado. A decadência está ligada à ação penal pública condicionada (direito de ofertar representação), e também às ações penais privadas (direito de ofertar queixa-crime).
Tanto a representação quanto a queixa-crime são condições de procedibilidade da ação penal.
Via de regra, o prazo decadencial é de 06 meses, contados a partir do conhecimento da autoria. A contagem do prazo ocorre nos termos do art. 10 do CP (computa-se o dia do começo e exclui-se o do fim).
Perdão judicial
É o instituto por meio do qual o juiz, embora comprovada a prática da infração penal pelo sujeito, deixa de aplicar a pena em razão de determinadas circunstâncias. Só é possível nos casos expressamente previstos em lei.
Pelo fato do art. 120 do CP ser expresso ao dizer que a sentença que concede o perdão judicial não será considerada para fins de reincidência, parte da doutrina se inclinou no sentido de que a natureza da sentença que concede o perdão judicial é condenatória. 
A súmula 18 do STJ, por sua vez, diz que a sentença que concede o perdão judicial tem natureza declaratória, não subsistindo qualquer efeito penal ou extrapenal. 
Renúncia e perdão do ofendido
A renúncia ao direito de queixa e o perdão do ofendido são causas extintivas da punibilidade aplicáveis à ação penal exclusivamente privada.
A renúncia ao direito de queixa pode ser expressa ou tácita. 
Será expressa quando a vítima, de forma expressa, abrir mão do direito de oferecer queixa-crime contra o autor do fato; será tácita quando a vítima deixar escoar o prazo decadencial sem que ofereça a queixa-crime. O prazo decadencial será, em regra, de 6 meses, a contar do conhecimento da autoria. 
O perdão do ofendido também pode ser expresso ou tácito. 
O perdão será expresso quando a vítima, por meio de declaração, afirmar que não deseja mais o prosseguimento da ação penal; será tácito quando a vítima praticar ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação.
O perdão, para gerar efeito, tem que ser aceito pelo ofensor.
Na ação penal privada o ofendido recebe o nome de querelante, ao passo que o ofensor recebe o nome de querelado.
O perdão deve ser aceito pelo querelado, pois este pode ter o interesse maior em provar a sua inocência.
A aceitação do perdão será expressa quando ofensor, de forma inequívoca, aceitá-la, e será tácita quando o ofensor, notificado para se manifestar se o aceita, nada disser no prazo dos 3 dias subsequentes.

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