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DIREITO CONTITUCIONAL II PODER EXECUTIVO

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PODER EXECUTIVO 
FORMAS DE EXERCICIO DO PODER EXECUTIVO 
Mas, além de sua função típica, que é administrar, o Poder Executivo também legisla, 
por meio de medidas provisórias (CF, art. 62), e julga, no contencioso administrativo, 
exercendo, assim, tarefas atípicas. 
Suas atribuições, portanto, são amplas, assemelhando-se, nesse aspecto, aos demais 
Poderes da República (CF, art. 22). No panorama dos Estados constitucionais, diversas 
são as formas de que se reveste o Poder Executivo: 
• Poder Executivo monocrático - exercido por reis, imperadores, ditadores, presidentes; 
• Poder Executivo colegiado - exercido por dois detentores de igual poder, como os 
cônsules romanos; 
• Poder Executivo diretorial - exercido por grupos de homens, que formam comitês, a 
exemplo do que ocorre na Suíça e do que se deu na ex-URSS; e 
• Poder Executivo dual - ínsíto ao sistema parlamentar de governo, é exercido por um 
chefe de Estado e um Conselho de Ministros, que atuam separadamente. 
 
REQUISITOS PARA O CARGO 
Para concorrer ao cargo, o candidato ou candidata deve cumprir alguns requisitos: 
 Ser brasileiro nato 
 Ter a idade mínima de 35 anos, completos antes do pleito 
 Ter o pleno exercício de seus direitos políticos 
 Ser eleitor e ter domicílio eleitoral no Brasil 
 Ser filiado a uma agremiação ou partido político 
 Não ter substituído o atual presidente nos seis meses antes da data marcada 
para a eleição. 
 
ELEIÇÃO – POSSE – SISTEMA ELEITORAL 
Satisfeitas essas condições de elegibilidade, hão de se observar as regras para a eleição 
e posse do Chefe do Poder Executivo da União. Vejamo-las. 
Em primeiro lugar, a "eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-
se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no 
último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do 
término do mandato presidencial vigente" (CF, art. 77, caput - redação dada pela EC n. 
1 6/97). Aí está a consagração do sistema majoritário para a eleição do Presidente e 
Vice- Presidente da República, que pode ser de dois tipos: 
• sistema majoritário puro (ou simples) - o candidato que obtiver maior número de 
votos é eleito Presidente da República, juntamente com o Vice-Presidente; esse sistema 
também é usado na eleição de senador (CF, art. 46) e prefeito, em Município com menos 
de 200 mil eleitores (CF, art. 29, II); e 
• sistema majoritário de dois turnos (ou composto) - os candidatos eleitos a Presidente 
e a Vice-Presidente são os que obtiverem, no segundo turno da eleição, a maioria 
absoluta dos votos válidos. Esse sistema também é adotado na eleição de governadores 
e de prefeitos de Municípios com mais de 200 mil eleitores (CF, art. 29, II). 
Eleito o Presidente, mediante sufrágio universal e voto direto e secreto, elege-se, 
automaticamente, o Vice-Presidente com ele registrado (CF, art. 77, § 1º). É que, no 
Brasil, o mesmo critério para a eleição e duração do mandato de Presidente, aplica-se 
ao Vice. 
MANDATO 
De quatro anos, sendo possível a reeleição. (Art. 84 – CF) 
PERDA DE MANDATO 
O Presidente e o Vice-Presidente da República não podem, sem licença do Congresso 
Nacional, ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob pena de perda do 
cargo (CF, art. 83). 
Falecer (caso de Getúlio Vargas, em 24.08.1954), renunciar por escrito ao mandato (caso 
de Jânio Quadros, em 24.08.1961), perder ou tiver suspensos seus direitos políticos, for 
condenado por crime funcional ou eleitoral (art. 15 da CF/1988 (LGL\1988\3)); deixar de 
tomar posse, sem motivo justo aceito pelo Congresso Nacional, dentro do prazo de dez 
dias. 
AUSÊNCIA DO PRESIDENTE 
Substituição temporária: O substituto e sucessor natural do Presidente da República é 
o Vice-Presidente (CF, art. 79, caput). A substituição dar-se-á em caso de impedimento, 
isto é, doença, licença, férias etc. Já a sucessão ocorrerá em caso de vacância definitiva 
do cargo, quando caberá ao vice assumir o mandato no restante do tempo para o seu 
término. 
a) Substitutos do Presidente da República 
Na falta do Vice-Presidente, serão sucessivamente chamados para ocupar, 
temporariamente, 
o exercício da Presidência da República: 
• o Presidente da Câmara dos Deputados; 
• o Presidente do Senado Federal; e 
• o Presidente do Supremo Tribunal Federal. 
Esses substitutos eventuais e temporários do Presidente da República exercem, por 
período determinado, os poderes normais do cargo, como editar medidas provisórias, 
nomear e demitir Ministros de Estado, sancionar, vetar, propor leis etc. 
Sucessão definitiva: Sucessão presidencial na hipótese de vacância definitiva. 
Interessante é a hipótese de vacância definitiva quando o Presidente da República e seu 
vice não podem dar continuidade ao mandato. Como os Presidentes da Câmara dos 
Deputados, do Senado Federal ou do Supremo Tribunal Federal só podem ocupar a 
chefia do Executivo temporariamente, surge o problema de saber quem assumirá o mais 
elevado posto da República. Para solucionar o problema, a Constituição de 1988 previu 
duas regras: 
• vacância nos dois primeiros anos de mandato - faz-se nova eleição direta noventa dias 
após a abertura da última vaga, mediante sufrágio universal e voto secreto, direto e 
igualitário (CF, art. 81, caput); e 
• vacância nos dois últimos anos de mandato - faz-se eleição indireta trinta dias após a 
abertura da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei (CF, art. 81, § 12). 
Caso inexista essa lei, aplica-se, por analogia, o Regimento Interno d o Congresso 
Nacional, pois a Constituição assim permite. Prevê-se, assim, a excepcional possibilidade 
de eleição indireta para a Presidência da República, o que foge à regra do art. 14, caput, 
da Lei Suprema. Em qualquer dos casos, os eleitos devem completar o período de seus 
antecessores. É o chamado mandato tampão (CF, art. 81, § 22). 
Com efeito, as atribuições presidenciais, cujo catálogo já transcrevemos acima, 
espraiam-se em cinco setores distintos, que podem ser classificados da seguinte forma: 
• atribuições de chefe de Estado - CF, art. 84, VII, VIII, XIV, XV, XVI, primeira parte, 
XVIII, segunda parte, XIX, XX, XXI e XXII; 
• atribuições de chefe de governo - CF, art. 84, I, III, IV, V, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, 
XVIII, primeira parte, XXII, XXIV e XXVII; 
• atribuições de chefe da Administração Federal - CF, art. 84, II, VI, XVI , segunda parte, 
XXlV e XXV; 
• atribuições constitucionais outras - CF art. 84, XVII; e 
• delegação de atribuições constitucionais - CF, art. 84, parágrafo único. 
Princípio da delegação de competência presidencial 
O princípio da delegação de competência presidencial encontra-se disciplinado no art. 
84, parágrafo único, da Carta de 1988. Por seu intermédio, o Presidente da República 
poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, do 
art. 84 da Constituição aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao 
Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas 
delegações. Esse princípio é significativo. Sua fonte próxima está na Carta de 1 967 (art. 
83, parágrafo único), com a Emenda Constitucional n. 1 /69, que lhe aumentou o 
alcance. Pelo princípio da delegação de competência presidencial, pouco verificado na 
prática, ocorre uma descentralização de poder, em que o Chefe do Executivo autoriza o 
exercício de atribuições privativas a Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da 
República ou ao Advogado-Geral da União, mas sem abrir mão de sua respectiva 
titularidade. Note-se que o princípio da delegação de competência presidencial é uma 
faculdade, jamais um dever, estando j ungido aovetor da legalidade. De outro lado, 
segue limites impostos constitucionalmente, porque a transferência de tarefas segue 
critério discricionário, em que o único juiz da conveniência e da oportunidade é o 
Presidente da República. A matéria a ser alvo de delegação restringe-se aos incisos VI, 
XII e XXV do art. 84, não abarcando o enunciado do inciso XXVII do mesmo preceito. 
 
RESPONSABILIDADES 
A responsabilidade é o prius da República. Tanto que o Presidente, embora amparado 
pela cláusula da irresponsabilidade relativa, poderá ser afastado do cargo, processado e 
julgado por delitos funcionais (CF, art. 52, I), sem prejuízo de ser punido pela prática de 
crimes comuns (CF, art. 102, I, b). Quando estiver exercendo o munus que lhe foi 
confiado, óbvio que não pode ser processado por atos estranhos à sua função, embora 
nada obste sofrer reprimendas por ações levianas e impensadas, que causem prejuízo 
ao erário público. Enquanto no Parlamentarismo a responsabilidade do Conselho de 
Ministros é apurada pelo Parlamento, pelo voto de confiança ou da moção de censura, 
no sistema presidencial o próprio Chefe do Executivo é o responsável, sujeitando-se às 
sanções previstas na Constituição. 
Crimes de responsabilidade do Presidente da República 
As constituições consagram dispositivos dotados de excepcionalidade fabulosa, 
porquanto permitem a deflagração de um processo especial de apuração, processo e 
julgamento do mandatário maior do Estado e de seus auxiliares, criando, não raro, 
denominações sui generis e anfíbias. É o caso dos crimes de responsabilidade (CF, art. 
85). Situam-se em terreno insólito, dada a dificuldade d e discernir o conteúdo político 
e o cunho técnico-penal dessas transgressões, que põem em xeque os poderes 
formidáveis que o Presidente e os Ministros podem exercer em nome do interesse 
público. 
Crimes de responsabilidade: infrações constitucionais ou político-administrativas 
Crime de responsabilidade é terminologia equivocada, pois o crime comum também é 
de responsabilidade. Registre-se, contudo, que da ótica científica, com lastro na 
linguagem descritiva do jurista, os crimes de responsabilidade podem ser vislumbrados 
em contraposição aos delitos comuns. Os comuns, por exemplo, seriam aqueles em que 
o agente do fato pode ser qualquer pessoa, não uma classe específica de autores, como 
sói acontecer nos delitos de responsabilidade. 
 
Crimes comuns do Presidente da República 
Admitida a acusação contra o Presidente da República, por 2/3 da Câmara dos 
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas 
infrações penais comuns (CF, are. 86, caput). De qualquer sorte, a locução crime de 
responsabilidade parece renegar a existência de outras castas de delitos, porque dilui 
seu objeto na ideia genérica de responsabilidade. A Câmara dos Deputados, portanto, 
exerce o juízo político de admissibilidade, sendo importante recordar que inexiste foro 
privilegiado para ações populares, ações civis públicas e ações por atos de improbidade 
administrativa ajuizadas contra Presidentes da República. Crimes comuns, segundo o 
Supremo Tribunal Federal, são os que englobam todas as modalidades de infrações 
criminais, inclusive os delitos contra a vida, os eleitorais e, até, as contravenções penais. 
lmpeachment do Presidente da República 
Impeachment é a prerrogativa institucional do Poder Legislativo que consiste numa 
sanção de índole político-administrativa, encarregada de destituir, de modo legítimo e 
constitucional, o Presidente da República. Por seu intermédio, o Chefe do Executivo 
Federal fica inabilitado de exercer qualquer função pública, eletiva ou de nomeação, 
durante oito anos. Envolve um procedimento jurídico- político, previsto na Constituição 
e nas leis, possibilitando o afastamento de Presidentes da República que cometeram 
crimes funcionais ou comuns, impedindo-os de continuar a exercer o munus público em 
detrimento do bem geral. Etimologicamente, impeachment é um anglicismo 
incorporado à nossa língua. Significa "proibir que se ponha o pé": im (do latim in = não) 
peachment (do latim pedimentum, pes, pedis = pé). Como seu verbo cognato é to 
impeach, ou seja, "incriminar ou acusar para o fim de impedir a pessoa criminosa", 
muitos se valem do signo " impedimento" para referi-lo. 
Desenvolvimento do processo de impeachment 
No Brasil, o desenvolvimento do processo de impeachment dá-se mediante os seguintes 
elementos: 
• Legitimidade ativa - rodo cidadão, qualquer parlamentar ou autoridade pública poderá 
dar início ao processo de impeachment, desde que goze das prerrogativas da cidadania 
brasileira, exercendo, plenamente, seus direitos políticos. Note-se que a legitimidade 
ativa é conferida, apenas, às pessoas físicas investidas no status civitatis. Aqueles que 
não forem alistados na repartição eleitoral, que tiveram suspensos ou perdidos seus 
direitos políticos, que forem pessoas jurídicas, estrangeiros ou apátridas, jamais 
poderão ser parte legítima para oferecer a denúncia na Câmara dos Deputados. 
• Exame da denúncia pela Câmara dos Deputados - esse exame segue o juízo, 
meramente político, dos parlamentares. 
• Parecer da Câmara dos Deputados - dentro do prazo de quarenta e oiro horas, o 
Presidente da Câmara solicitará a elaboração de um parecer por uma comissão especial 
eleita para esse fim, com representantes de rodos os partidos, observado o critério da 
proporcionalidade. 
• Discussão e votação do parecer para rejeição ou aprovação - devem ser únicas, 
nominais e abertas, sendo necessários 2/3 dos membros da Câmara para a 
admissibilidade da acusação. Aceita a denúncia, os representantes do povo dão 
autorização para que seja instaurado processo; se a rejeitarem, ela é arquivada. A 
denúncia oferecida e aceita à Câmara dos Deputados coloca o Chefe do Executivo na 
posição de acusado, sendo-lhe garantidos os direitos de ampla defesa e contraditório, 
tanto na fase de deliberação sobre a admissibilidade da acusação, perante a Câmara dos 
Deputados, como na etapa de processo e julgamento, no âmbito do Senado Federal. E 
o acusado poderá produzir provas, por meio de documentos, perícias ou testemunhas. 
A rejeição da denúncia gera o arquivamento do processo de impeachment. 
Recebimento formal da denúncia pela Câmara dos Deputados - a Constituição de 1988 
determinou que o impeachment do Presidente da República por crimes de 
responsabilidade se desenrola no Senado, desde sua instauração até o julgamento final, 
mas com a devida autorização de 2/3 da Câmara dos Deputados. Uma vez autorizado, 
sua instauração passará a ser dever de ofício. E, se comprovados os faros, o Presidente 
é suspenso do cargo, que passará a ser exercido por seu substituto legal. A sanção 
política advinda do Senado não exime outras punições aplicáveis pelo Poder Judiciário, 
nos termos da lei. Se antes cabia ao Senado julgar o Presidente da República nos crimes 
de responsabilidade, agora compete-lhe, demais disso, processá-lo. Significa que a 
Câmara dos Deputados perdeu uma atribuição que era historicamente sua. Seu poder 
passou a assemelhar-se ao das Assembleias em tema de imunidades parlamentares. 
Deslocamento da peça para o Senado - admitida a acusação, a peça se desloca para o 
Senado, que se transforma num tribunal político, momento em que o Presidente da 
República é suspenso de suas funções, só retomando a elas se for absolvido, ou se, 
decorrido o prazo de 180 dias, o julgamento não for concluso, cessando o afastamento, 
sem prejuízo do regular prosseguimento do processo (CF, art. 86, §§ 1 º e 2º) . No caso 
Collor, Supremo Tribunal Federal seguiu esse pensamento. Concedeu liminar em 
mandado de segurança, assegurando aoPresidente da República o prazo de dez sessões 
para oferecimento da defesa. O Pretório Excelso aplicou, por analogia, o art. 2 1 7 do 
Regimento Interno da Câmara dos Deputados. 
Prolação da decisão e suas consequências - no Brasil, duas são as consequências 
jurídicas do processo de impeachment. (I) perda do cargo; e (II) inabilitação por oito 
anos para o exercício de função pública eletiva ou de nomeação (CF, art. 52, parágrafo 
único). Evidente que a decisão proferida pelo Senado, em sede de impeachment, é 
inalterável pelo Poder Judiciário. O Supremo Tribunal Federal não poderá mudar o 
veredito senatorial, interferindo no mérito de seu julgamento, para reformar sua 
decisão. Isso nada tem que ver com a natureza política do instituto, e sim com o perfil 
que a Carta de 1 98 8 lhe irrogou, do contrário a jurisdição, nessa matéria, não seria 
conferida à Câmara Alta, como o foi, porém, ao Pretório Excelso. Enfim, a decisão do 
Senado é de sua exclusiva competência e no exercício de sua jurisdição política e de 
matriz constitucional. Quando os constituintes lhe outorgaram, no processo de 
impeachment do Presidente da República, o posto de órgão jurisdicional, evidente que 
inadmitiu recurso para qualquer juízo ou Tribunal. Por isso, o Supremo não é curador 
do Senado, órgão que processa e julga Ministros da Corte nos delitos de 
responsabilidade.

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