Buscar

Apostila 2012 - 2º Semestre

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

PROGRAMA DE ENSINO
	DADOS SOBRE A DISCIPLINA
	DISCIPLINA: Ética nas Organizações
	CÓDIGO: 
	SEMESTRE: 2º 
	ANO: 2012
	CARGA HORÁRIA: 42 H/AULA
	 
	
	
	EMENTA
	
 Fundamentos de filosofia. O conceito de ética, moral e lei. Ética profissional. Ética empresarial. Desafios éticos da atualidade no mundo empresarial.
	OBJETIVOS
	Auxiliar o aluno a analisar de forma crítica a problematização do conceito de ética e moral a partir de uma fundamentação filosófica do mundo corporacional hipermodederno.
	CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
	Fundamentos de filosofia ( mundo clássico até filosofia contemporânea ). O conceito de ética, moral e lei ( a partir de uma análise de seus pensadores citados na fundamentação filosófica ). Ética profissional. Ética empresarial. Desafios éticos do hipermodernismo e sua relação com uma liderança ética
	METODOLOGIA DE ENSINO
	
Aula expositiva, trabalhos em sala e exercícios de apresentação.
	TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO
	
Provas bimestrais (7,0 pontos ) trabalhos e apresentações, assim como participação que contabilizem 3,0 pontos.
	
	
	
	
INTRODUÇÃO
Estimado (a) colega;
Bem-vindo (a) ao curso de ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES.
Nosso material ficará disposto da seguinte forma (no site da Instituição):
- Apostila com reflexões que serão aprofundadas durante as aulas.
-Vídeos que serão disponibilizados em http://www.facebook.com/pages/Professor-Daniel-Medeiros/141296122638397 ( caso você não tenha FACEBOOK poderá retirar os vídeos comigo – em circunstância alguma será cobrado/passado algo em redes sociais que depois possa cair em prova – as avaliações serão exclusivamente sobre pontos discutidos em aulas e presentes nos slides e nesta apostila ).
-SLIDES das aulas disponíveis no site da instituição ( os slides disponibilizados para os alunos são diferentes quanto a fotos e vídeos – por questão do tamanho – mas os tópicos e definições estão todos presentes como trabalhado em sala).
	Podemos também manter contato pela minha página:
http://www.facebook.com/profile.php?id=100003131883955
A ementa do curso contempla os seguintes tópicos:
 Fundamentos de filosofia;
 O conceito de ética, moral e lei;
 Ética profissional;
 Ética empresarial; 
 Desafios éticos da atualidade no mundo empresarial.
Será um prazer poder passar este semestre com você, creio que teremos muitas dúvidas, discussões, incertezas e crescimento – te desafio a continuar até o fim – persevere, haja, pois como disse John Kanary:
"Se a dúvida está te desafiando e você não agir, as dúvidas crescerão. Desafie as dúvidas com ação e você crescerá. Dúvida e ação são incompatíveis."
Fraternalmente
Daniel Medeiros
Agosto de 2012
PARTE I – EPISTEMOLOGIA
Olhe a figura e responda a pergunta a seguir:
Isto é um ___________________________________________. 
( isso mesmo, é para você responder no traçado ).
	Para Picasso, a arte é uma mentira que conta uma verdade, para o pintor deste quadro acima a ideia é justamente esta – desmascarar o óbvio. A frase em francês quer dizer “isto não é um cachimbo” ( creio que vocês respondeu no traçado exatamente isto – cachimbo) e deve estar se perguntando agora: “Como assim? Eu sei que é um cachimbo – estou vendo logo ali!!!!”[1: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Magritte]
	Cuidado, o que você está vendo não dá para colocar fumo dentro, é bidimensional, não tem cheiro e está impresso nesta folha que você lê – o que você está vendo é a imagem pintada de um cachimbo, uma representação, um quadro...
[Digite uma citação do documento ou o resumo de uma questão interessante. Você pode posicionar a caixa de texto em qualquer lugar do documento. Use a guia Ferramentas de Caixa de Texto para alterar a formatação da caixa de texto da citação.]	Basicamente é disto que trata a epistemologia ( palavra do grego que quer dizer estudo do conhecimento, ciência do conhecimento ) que nos questiona o como conhecemos as coisas e, se as conhecemos, como é que se deu este conhecimento – eu conheço porque vejo ou a coisa se faz ser vista e então conhecida??[2: http://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologia]
	Em outras palavras, você viu o quadro ou o quadro se fez ser visto por você? (Imagino que você está começando a ficar confuso agora, sugiro que pare de ler a apostila por um minutinho e assista o vídeo neste link: http://www.youtube.com/watch?v=_Qr3J_k-gT8 - creio que ao exercitar o “fair play” este juiz deve ter ficado confuso também).
	Voltamos – como posso saber que conheço algo? Aliás, o que é conhecimento?
	Podemos definir conhecimento como um processo de apreensão intelectual de um objeto. Vamos por partes:
"Isto é o que é aprender: você repentinamente compreende algo que você soube durante toda a sua vida, mas de um modo novo." ( Doris Lessing )	Apreender – na origem da palavra – queria dizer “agarrar, tomar posse de” – apreender é tornar seu, fazer com que aquilo que lhe causava estranhamento se torne compreensível (esta palavra, como o verbo “aprender” derivam de apreender).
Definição: Conhecimento é a apreensão intelectual de um objeto	Mas é um tomar posse subjetivo, abstrato, não é concreto, é a partir do intelecto, da reflexão, do meditar. O objeto continua fazendo parte da realidade – mas em você ele toma significado – em outras palavras, você sabia do que se tratava o quadro acima – mas agora você não iria conseguir responder apenas “cachimbo’ – você aprofundaria de forma reflexiva que iria escrever – você apreendeu.
	Tendo esta definição de conhecimento, podemos então nos perguntar: Como eu conheço as coisas? 
	
CAPÍTULO II – FORMAS DE CONHECIMENTO
Agora que conceituamos o que é conhecimento podemos formular um conceito quanto a pergunta do final do capítulo anterior – Como eu conheço as coisas?
	Ao responder que era um cachimbo, você demonstrou conhecimento – em algum lugar você viu um cachimbo, alguém já falou dele para você – ficou comum a ponto de não ser um objeto que mereça tua atenção no dia a dia – cachimbo é cachimbo e pronto, não se discute!
	Boa parte de nosso cotidiano é formado por conhecimento deste nível. Ao fazer tua refeição hoje, muito provavelmente ( ser você não estiver passando por tratamento médico ou fazendo uma dieta acompanhada por um nutricionista ) você foi até a panela e pegou o que tinha em uma quantidade que, mais ou menos, seja proporcional à tua fome. Ninguém para pensar em qual é o valor protéico do alimento, quantas calorias cada garfada tem, a origem e certificação junto aos órgãos competentes do bife no prato, quem plantou os elementos que constituem o tempero desta iguaria, quão saudável era a galinha que botou o ovo que agora está frito em teu prato! ( se você quiser fazer uma pausa para almoçar, vou entender – se você está olhando estranho para o prato agora e se questionando quanto a origem dele, cuidado, você pode estar se transformando em um filósofo...) 
	Este tipo de conhecimento, que guia boa parte de nossa alimentação, relacionamentos, moda, escolhas em geral – chamamos de SENSO COMUM.
Senso comum é uma visão de mundo composta por opiniões que se tornaram comuns a um grupo social, é uma visão de mundo vulgar, fragmentária, lacunar e baseada em aparências. Quando uma informação torna-se senso comum, todos a repetem, esquece-se sua origem e, portanto, ela aparece como verdade. 
Há um seriado que toda a sua parte cômica reside no fato do personagem principal ser incapaz de enxergar as coisas pelo senso comum. O nome do seriado é “the big bang theory” e o nome do personagem é Sheldon. Dê uma pausa e assista a ele tentando confortar Penny enquanto ela espera ser atendida em um pronto-socorro - http://www.youtube.com/watch?v=Wx-5BSzPO1M&feature=related
Note que, sendo a ciência uma forma de conhecimento, ela não cabe a todas as situações que compõem o cotidiano.
Definição:Senso comum é 
uma visão de mundo composta por opiniões que se tornaramcomuns
 a um grupo social, é
 uma visão de mundo vulgar, fragmentária, lacunar e baseada em aparências
.O senso comum, assim como a ciência, também é incapaz de responder a todos os anseios do existir humano. 
Outra forma de conhecimento é o MITO. O Mito é uma forma de conhecimento intuitiva do mundo, que fornece uma explicação abrangente e não analítica da realidade.
Ainda poderíamos trabalhar outras formas de conhecimento – ciências, religião, antropologia, política, sociologia, mas por uma questão de estrutura do curso vamos enfatizar uma outra forma de conhecimento – filosofia.
Definição: Mito é uma forma de conhecimento intuitiva do mundo, que fornece uma explicação abrangente e não analítica da realidade.
CAPÍTULO III – O QUE É FILOSOFIA?
Filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre problemas que a realidade nos apresenta. (Dermeval Saviani)	O termo filosofia, em sua etimologia, quer dizer “amor pelo saber”, diz a lenda que, ao chamarem Pitágoras de sábio ele teria respondido que não era sábio, mas amava a sabedoria – e é este o que leva alguém a levantar questionamentos sobre o porquê de tudo – amar saber. Um amor envolto por amizade radical pelos problemas que a realidade faz surgir a todo o momento. [3: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pitágoras]
	A origem da filosofia acontece em cada um de nós todas as vezes que ficamos surpresos com a perplexidade do real. A primeira vez que vimos estas montanhas que margeiam a faculdade por exemplo, ficamos calados observando – neste momento o real nos surpreende – neste momento nos espantamos.
	O espanto é esta perplexidade perante o real, é o que impulsiona o sábio, o poeta, o homem da ciência perante o eterno e absoluto mistério da vida cotidiana.
“A filosofia nasce do nosso espanto em relação ao mundo e à nossa existência, que se impõe ao nosso intelecto como enigma”. (Schopenhauer);	O princípio que rege a filosofia não é de oferecer respostas, mas instrumentalizar o filósofo a fazer as perguntas certas, para chegar a conceitos que apontem a verdade. A verdadeira filosofia está em conceituar de tal forma que consigamos reaprender a ver a realidade e a encarar o mistério do real.
“A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”
 Merleau-Ponty
Portanto, podemos concluir que a filosofia é uma atitude, um ato de reflexão e apreensão de algo que está além das aparências e do nível aparente, metodicamente controlado. Consistindo em:
Um esforço intelectual do pensamento para a obtenção de um conceito;
Uma análise metódica;
Uma interpretação teórica;
Uma reflexão sobre as possibilidades de certeza ou não dessa interpretação.
CAPÍTULO IV - FILOSOFIA ANTIGA
Quando pensamos em filosofia ( pelo menos ocidental ) pensamos na Grécia,por motivos de tempo creio que não seja interessante levantar os motivos socio-histórico-cultural que levou aquela região a ser o berço do pensamento filosófico. A título de curiosidade, o mapa da Grécia abaixo mostra as cidades e os devidos pensadores:
Os considerados pensadores clássicos são Sócrates, Platão e Aristóteles. Porém para entender o pensamento de cada um deles se faz necessário conhecermos alguns pensadores conhecidos como naturalistas ou pré-socráticos.[4: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9-socr%C3%A1ticos]
Por que eles eram chamados de naturalistas? Antes pensemos no quadrinho apresentado:
Tais filósofos, considerados pioneiros da filosofia ocidental, buscavam um princípio, a 
arché
, que deveria ser um princípio presente em todos os momentos da existência de tudo. Essa arché deveria estar no início, no desenvolvimento e no fim de tudo O universo, o infinito, sempre causaram perplexidade ao homem, sempre lhe causaram espanto, na Grécia Antiga, em torno de VII a VI A.C, também se questionavam sobre a natureza única e constante no início, meio e fim de tudo – qual seria a substância constante em todas as coisas da natureza. A esta substância eles chamavam de “arché” - estes pensadores ficaram conhecidos como pré-socráticos.[5: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9][6: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9-socr%C3%A1ticos]
“Nada existe de permanente a não ser a mudança” Heráclito de Éfeso 	Para o desenvolvimento do nosso curso gostaria de enfatizar o pensamento de dois pré-socráticos: Parmênides de Eléia e Heráclito de Éfeso. 
“
O ser é e não pode não ser
  
e o não-ser não é e não pode ser de modo
 
algum.” Parmênides de Eléia	Para Parmênides de Eléia a imutabilidade, a constância da natureza é a sua arché – ou seja – nada muda, tudo é a mesma coisa sempre, a mudança, o cíclico é ilusório. [7: http://pt.wikipedia.org/wiki/Parm%C3%AAnides_de_Eleia]
	Já para Heráclito, a mutabilidade, a inconstância da natureza é a sua arché – ou seja – tudo nunca é a mesma coisa, a constância que é ilusória.
 
CAPÍTULO V – SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES
	Os três pensadores que vamos estudar agora são de extrema importância para a formação da filosofia no ocidente, são eles: Sócrates, Platão e Aristóteles. Vejamos como a visão socrática ainda está presente nos dias de hoje na cultura pop:[8: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3crates][9: http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o][10: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles]
	
O homem deve conhecer-se a si mesmo para depois desvendar o mundo.(Socrates)“Conhece-te a ti mesmo” era a máxima encontrada no oráculo de Delfos e que serviu de pedra angular para Sócrates. Para este pensador conhecer a si mesmo era a base da moralidade. E esta moralidade só teria sentido com a descoberta de um princípio: Nossa ignorância sobre as coisas. Não é à toa que a frase mais conhecida dele seja “só sei que nada sei”.
Para Sócrates, só era digna a vida ser vivida se esta fosse antes de tudo pensada, meditada – refletida.
É neste ponto que encontramos algo de interessante em Sócrates – é a ideia de que se é mal por se ignorar o conhecimento – bom é quem reflete sobre a vida e suas ações. Mal é quem ignora ignorar. Para Sócrates ética ( apesar que nunca ter usado tal termo ) era ser racional.
Eis enumerado abaixo a posição ética defendida por Sócrates:
"A virtude é um conhecimento";
"Ninguém faz o mal voluntariamente";
"As virtudes constituem uma unidade";
"É preferível sofrer injustiça do que cometê-la" (Górgias 469 b-c) ou "jamais se deve responder à injustiça pela injustiça, nem fazer mal a outrem, nem mesmo àquele que nos fez mal" (Críton 49 c-d).
Sócrates afirmava que “Ninguém faz o mal voluntariamente, mas por ignorância, pois a sabedoria e a virtude são inseparáveis.”
Definição - Sócrates:
Pai da filosofia:
- Filosofia por meio do diálogo;
Ironia – como se nada soubesse, levava o interlocutor a manifestar sua opinião.
Demonstrava sua ignorância. 
Maiêutica: fazer nascer as idéias, depois de elaborá-las.	E como poderíamos perceber que somos ignorantes? O ateniense desenvolveu um método muito interessante de filosofia – a maiêutica – que consistia em, querendo chegar a um ponto ( ajudar o interlocutor a perceber que não conhece o que discute ) questioná-lo até fazê-lo chegar a esta conclusão.
	Apesar de nunca ter fundado uma escola, Sócrates teve vários discípulos, um deles foi Platão.
	Platão é um dos pensadores mais influentes do Ocidente. Seu pensamento não só norteou toda a filosofia, mas como serviu de base para várias vertentes teológicas.
	Depois da morte do mestre, Platão se dedicou a tentar conciliar duas linhas de pensamento de dois pré-socráticos aparentemente contraditórios: Heráclito e Parmênides.
	Platão acaba por então desenvolver o conceito de mundo ideal e mundo real.
	No mundo real seria este pelo qual conhecemos a realidade – ele é mutável, voltado à destruição e morte – nele tudo flui, tudo muda, tudo acaba ( assim como no pensamento Heraclitiano ).
	O mundo ideal seria o mundo das ideias – neste tudo é constante, nada muda, é o campoda perfeição ( assim como no pensamento de Parmênides ).
	Nesta linha de pensamento, para Platão, a moralidade estaria justamente no perfeito subjugando o imperfeito, o ideal controlando o real – a mente dominando o corpo.
	Vejamos a tira abaixo e ilustremos o pensamento Platônico:
"Eu sou rápido, eu sou forte, nada consegue me deter. Meu corpo não acredita em palavra alguma que meu cérebro está dizendo..." (Calvin and Hobbes)
Definição - Platão
Influências principais: Sócrates e Parmênides;
Instrumento para apreensão do ser: razão;
Mundo sensível: instável, imperfeito, perecível; coisas são cópias imperfeitas das realidades inteligíveis;
Mundo inteligível: idéias (essências existentes) perfeitas, imutáveis, imperecíveis; Para Platão esta tirinha diria muito. Para ele a harmonia entre mente ( mundo ideal ) e corpo ( mundo real ) é que denotaria moralidade. Um corpo que acredita ser uma coisa mas a mente pede outra coisa seria, para Platão, fraqueza.
	Podemos contemplar este pensamento em um dos textos mais famosos de Platão – o Mito da caverna. Que se encontra na leitura complementar.
	Aristóteles foi aluno de Platão – e foi ele quem usou pela primeira vez o termo ética. Apesar de nutrir carinho pelo mestre, ele tinha fortes críticas quanto à ideia de um mundo ideal. Toda a filosofia aristotélica gira em torno do conceito do mundo real e sua administração voltada ao bem mais que todo ser humano aspira –a felicidade.
	Para Aristóteles, a verdadeira ética ( a primeira obra que trata do assunto chama-se “Ética para Nicômaco”) seria aquela que aproximaria o homem da felicidade – porém para o estagirita felicidade é o viver bem, ter paz de espírito, dentro da polis – ou seja, entre seus pares.
	O que me aproximaria da felicidade? O exercício das virtudes, inclusive Aristóteles desenvolveu uma tabela de vícios e virtudes. Como se vê abaixo:
	Virtude
	Vício por excesso
	Vício por falta
	Coragem
	temeridade
	covardia
	Temperança
	libertinagem
	insensibilidade
	Liberalidade
	prodigalidade
	avareza
	Respeito próprio
	vulgaridade
	vileza
	Magnificência
	vaidade
	modéstia
	Gentileza
	irascibilidade
	indiferença
	Veracidade
	orgulho
	Descrédito próprio
	Agudeza de espírito
	zombaria
	grosseria
	Amizade
	condescência
	tédio
	Justa indignação
	inveja
	malevolência
	É interessante notarmos algo muito forte na Ética aristotélica: para cada virtude há dois vícios ( pois para ele vício é o excesso ou falta de uma virtude ), ou seja, é muito maior a chance de se errar eticamente do que acertar.
Viver bem é viver racionalmente, em equilíbrio e com prudência, sendo esta última a virtude que melhor designa a maneira como a vontade pode ser guiada pela razão.	Portanto, para Aristóteles, ética seria agir virtuosamente, na sociedade, em busca da felicidade. 
LEITURA COMPLEMENTAR
O Mito da Caverna 
Platão
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. 
Libertado e conhecedor do mundo, o priosioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo.
Extraído do livro "Convite à Filosofia" de Marilena Chaui.
CAPÍTULO VI – ÉTICA E MORAL
	Depois deste passeio pela filosofia, podemos nos questionar – o que é ética? Qual é a diferença entre ética e moral?
	As duas palavras, se formos tomar pela tradução da língua original, nos informarão pouco – ética em grego como moral em latim querem dizer “costume”.
	Porém a sua apropriação pela filosofia as distinguem da seguinte forma:
Definição: 
Ética: Constitui a parte da Filosofia que se ocupa com a reflexão sobre as noções e os princípios que fundamentam a vida moral.	A ética, enquanto ramo da filosofia, versa sobre a teoria da conduta baseada em padrões de Bem em Mal. Quando falamos do que é certo ou errado, bom ou ruim, bem e mal, quando discutimos, quando meditamos, quando colocamos no campo do debate, estamos na verdade no campo da Ética.
	O propósito da ética é refletir, teoricamente sobre o que é agir em vistas do bem, quais são os melhores princípios e como conceituá-los – fundamentando a vida moral.
	A moral, é a prática oriunda desta teoria, ou seja, quando agimos estamos no campo da moral. A ação moral advém de um conjunto de regras, teorias, perspectivas de mundo ( que estão no campo da ética ) e que são tomadas de forma livre e consciente pelo indivíduo, tendo por objetivo organizar as relações sociais baseado em valores de bem e mal.
Definição:
 
Moral: Conjunto de regras de conduta assumida livre e conscientemente pelos indivíduos, com a finalidade de organizar as relações interpessoais segundo os valores do bem e do mal.	Portanto perceba que é um exercício dialético: ao pensar eticamente ajo moralmente, e minhas ações morais me dão subsídios para pensar eticamente.
	Existem algumas exigências para ser um agente moral ( alguém capaz de refletir sobre o bem e o mal – ética – e agir de acordo com esta reflexão – moral ), que são:
Ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a si.
Ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis.
Ser responsável, isto é, reconhecer-secomo autor da ação, avaliar os efeitos e as conseqüências dela sobre si e sobre os outros. 
Ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa.
	O exercício destas condições visa a formação de um ser humano capaz de controlar seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, que discute valores e fins estabelecidos, que seja capaz de responder pelo que faz, julga as suas próprias intenções e recusa a violência contra si e contra os outros, alguém virtuoso – a isto chamamos de autonomia, que é a exigência essencial da ética.
	Portanto é importante notar que, uma pessoa pode ser ética ( ou seja, se conduzir à partir dar regras e convenções sociais – objetivando o bem-estar conjunto ) antiética ( negar as regras e convenções sociais – desqualificando o bem-estar conjunto ) mas não aética ( neste caso seria a situação excepcional daqueles que, por motivos intelectuais ou situacionais seriam incapazes de ter liberdade, vontade, responsabilidade sobre seus atos).
Definição: Ética Profissional
É a ética aplicada aos problemas específicos de cada uma das profissões.
Muitas vezes é apresentada sob a forma de um Código de Ética, contendo os direcionamentos adequados aos casos mais freqüentes.
 	O mesmo podemos dizer sobre uma pessoa poder agir de forma moral, imoral mas não de forma amoral.
LEITURA COMPLEMENTAR
A ÉTICA E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HOJE
Mario Sergio Cortella
Professor-Titular do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP
Ressaltemos desde o início: a ética é uma questão absolutamente humana! Só se pode falar em ética quando se fala em humano, porque a ética tem um pressuposto: a possibilidade de escolha. A ética pressupõe a possibilidade de decisão, ética pressupõe a possibilidade de opção.
É impossível falar em ética sem falar em liberdade. Quem não é livre não pode, evidentemente, ser julgado do ponto de vista da ética. Outros animais, ao menos nos parâmetros que utilizamos, agem de forma instintiva, não deliberada, sem uma consciência intencional. Cuidado. Há quem diga: “Eu queria ser livre como um pássaro”; lamento profundamente, pois pássaros não são livres, pássaros não podem não voar, pássaros não podem escolher para onde voam, pássaros são pássaros. Se você quiser ser livre, você tem de ser livre como um humano. Pensemos em algo que pode parecer extremamente horroroso: como disse Jean-Paul Sartre, nós somos condenados a ser livres.
Da liberdade, vêm as três grandes questões éticas que orientam (mas também atormentam, instigam, provocam e desafi am) as nossa escolhas: Quero? Devo? Posso? Retomemos o cerne: o exercício da ética pressupõe a noção de liberdade. Existe alguém sobre quem eu possa dizer que não tem ética? É possível falar que tal pessoa “não tem ética”? Não, é impossível. Você pode dizer que ele não tem uma ética como a tua, você pode dizer que ele tem uma ética com a qual você não concorda, mas é impossível dizer que alguém não tem ética, porque ética é exatamente o modo como ele compreende aquelas três grandes questões da vida: devo, posso, quero?
Tem coisa que eu devo mas não quero, tem coisa que eu quero mas não posso, tem coisa que eu posso mas não devo. Nessas questões, vivem os chamados dilemas éticos; todas e todos, sem exceção, temos dilemas éticos, sempre, o tempo todo: devo, posso, quero? Tem a ver com fidelidade na sua relação de casamento, tem a ver com a sua postura como motorista no trânsito; quando você pensa duas vezes se atravessa um sinal vermelho ou não, se você ocupa uma vaga quando vê à distância que alguém está dando sinal de que ele vai querer entrar; quando você vai fazer a sua declaração de Imposto de Renda; quando você vai corrigir provas de um aluno ou de um orientando seu; quando você vai cochilar depois do almoço, imaginando que tem uma pia de louça que talvez seja lavada por outra pessoa, e como você sabe que ela lava mesmo, e que se você não fizer o outro faz, você tem a grande questão ética que é: devo, posso, quero? Por exemplo, quando se fala em bioética: podemos lidar com clonagem? Podemos, sim. Devemos? Não sei. Queremos? Sim. Clonagem terapêutica, reprodutiva? É uma escolha. Posso eu fazer um transplante intervivos? Posso. Devo, quero? Tem coisa que eu devo, mas não quero; aliás, a área de Saúde, de Ciência e Medicina, é recheada desses dilemas éticos. Tem muita coisa que você quer, mas não pode, muita coisa que você deve, mas não quer.
Na pesquisa, já imaginou? Por que montamos comitês de pesquisa, por que a gente faz um curso sobre ética na pesquisa? Porque isso é complicado, e se fosse uma coisa simples, a gente não precisava fazer curso, não precisava estudar, não precisava se juntar. É complicadíssimo, porque estamos mexendo com coisas que têm a ver com a nossa capacidade de existir. Quando se pensa especialmente no campo da ética, a relação com a liberdade traz sempre o tema da decisão, da escolha. Por que estou dizendo isso? Porque não dá para admitir uma mera repetição do que disseram muitos dos generais responsáveis pelo holocausto e demais atrocidades emanadas do nazismo dos anos de 1940. Exceto um que assumiu a responsabilidade, todos usaram o mesmo argumento em relação à razão de terem feito o que fi zeram. Qual foi? “Eu estava apenas cumprindo ordens”. “Estava apenas cumprindo ordens”, isso me exime da responsabilidade? Estava apenas obedecendo... Essa é uma questão séria, sabe por quê? Porque “estava apenas cumprindo ordens” implica a necessidade de pensarmos se a liberdade tem lugar ou não.
Ética tem a ver com liberdade, conhecimento tem a ver com liberdade, porque conhecimento tem a ver com ética. Por isso, se há algo que também é fundamental quando se fala em ciência, ética na pesquisa e produção do conhecimento, é a noção de integridade. A integridade é o cuidado para se manter inteiro, completo, transparente, verdadeiro, sem máscaras cínicas ou fissuras. Nessa hora, um perigo se avizinha: assumir- se individual ou coletivamente uma certa “esquizofrenia ética”. Ela desponta quando as pessoas se colocam não como inteiras, mas repartidas em funções que pareceriam externas a elas. Exemplos? “Eu por mim não faria isso, mas, como eu sou o responsável, tenho de fazê-lo”. Ora, eu não sou eu e uma função, eu sou uma inteireza, eu não sou eu e um professor, eu e um pesquisador, eu e um diretor, eu e um Secretário, eu sou um inteiro. “Eu por mim não faria”, então eu não faço!
Cautela! Coloca-se um estilhaçamento da integridade: “Eu, por mim, não lhe reprovaria, mas como eu sou seu professor, eu tenho que reprovar”; “Eu, por mim, não lhe mandaria embora, mas como eu sou seu chefe...”; “Eu, por mim, não lhe suspenderia, mas como eu sou seu superior...”; “Eu, por mim, não faria isso, mas como eu sou o contador...”; “Eu, por mim, não faria isso, mas como eu sou o responsável pelo laboratório...”.: “Eu por mim não faria”, então eu não faço; “Eu por mim não lhe reprovaria”, então não reprovo. De novo: eu não sou eu e uma função, eu não sou eu e um pesquisador, eu e um chefe do laboratório, eu e um diretor de instituto, eu e um Secretário... O esboroamento da integridade pessoal e coletiva é a incapacidade de garantir que a “casa” fique inteira, e para compreender melhor a idéia de “casa íntegra”, vale fazer um breve passeio pelas palavras. Talvez as pessoas que estudaram um pouco de etimologia se lembrem que a palavra ética vem pra nós do grego ethos, mas ethos, em grego, até o século VI a. C., significava morada do humano, no sentido de caráter ou modo de vida habitual, ou seja, o nosso lugar. Ethos é aquilo que nos abriga, aquilo que nos dá identidade, aquilo que nos torna o que somos, porque a sua casa é o modo como você é, onde está a sua marca. Mais tarde, esse termo para designar também o espaço físico foi substituído por oikos. Aliás, o conhecimento mais valorizado na sociedade grega era o que cuidava das regrasda casa, para a gente poder viver bem e para deixar a casa em ordem. Como o vocábulo nomos significa “regra” ou “norma”, passou-se a ter a oikos nomos (a economia) como a principal ciência. No entanto, a noção original de ethos não se perdeu, pois os latinos a traduziram pela expressão more, ou mor, que acabou gerando pra nós também uma dupla concepção; uma delas é “morada”, e a outra, que vai ser usada em latim, é o lugar onde você morava, o seu habitus. Olha só, a expressão “o hábito faz o monge” não tem a ver com a roupa dele, habitus; habitus é exatamente onde nós vivemos, o nosso lugar, a nossa habitação.
Quando se pensa em ética e produção do conhecimento hoje, a grande questão é: como está a nossa possibilidade de sustentar a nossa integridade; essa integridade, como se coloca? A integridade da vida individual e coletiva, a integridade daquilo que é mais importante, porque uma casa, ethos, tal como colocamos, é aquela que precisa fi car inteira, é aquela que precisa ser preservada. Como está a morada do humano? Essa morada do humano desabriga alguém? Alguém está fora da casa, alguém está sem comer dentro dessa casa? Alguém está sem proteção à sua saúde, alguém está sem lazer dentro dessa casa? Essa morada do humano é inclusiva ou é exclusiva? Essa morada do humano lida com a noção de qualidade em ciência, ou lida com a noção de privilégio? Cuidado. Duas coisas que se confundem muito em ciência são qualidade e privilégio; qualidade tem a ver com quantidade total, qualidade é uma noção social, qualidade social só é representada por quantidade total. Qualidade sem quantidade não é qualidade, é privilégio. São Paulo é uma cidade em que se come muito bem, é verdade; quem come, quem come o quê? Qualidade sem quantidade total não é qualidade, é privilégio. Todas as vezes em que se discute essa temática, aparece a noção de uma qualidade restrita, e qualidade restrita, reforcemos, é privilégio. Nesse sentido, a grande questão volta: será que, na morada do humano, alguém está desabrigado? Será que essa casa está inteira, ela está em ordem nessa condição? Nessa nossa casa, quando a gente fala em cuidado, é o mesmo que falar em saúde; aliás, quando digo: “eu te saúdo”, ou, “queria fazer aqui uma saudação”, etimologicamente é a mesma coisa. Saudar é procurar espalhar a possibilidade de cuidado, de atenção, de proteção. Nossa casa, que casa é essa? Há nela saúde? A ética é a morada do humano; como essa casa é protegida? Qual é o lugar da ciência dentro dela? Qual é o papel que ela desempenha? Qual é a nossa tarefa nisso, para pensar exatamente aquelas três questões: posso, devo, quero?
É claro que essas questões e suas respostas não são absolutas, elas não são fechadas, elas são históricas, sociais e culturais. A mesma pergunta não seria feita do mesmo modo há vinte anos; a grande questão no nosso país há cento e cinqüenta anos, a grande questão ética há cento e cinqüenta anos era se eu podia açoitar um escravo e depois cuidar dele, ou só açoitá-lo e deixá-lo pra ser cuidado pelos outros; se eu poderia extrair o dente de alguém, se é mais recomendável para o dentista que ele faça a extração ou que ele tente o tratamento. Há alguns anos, algumas décadas, uma discussão de natureza ética era algo que nem passaria pela cabeça de um dentista. A pessoa chegava ao seu consultório e dizia: “Eu quero que o senhor arranque todos os meus dentes”. Ele respondia: “Tá bom”; hoje, você tem outra questão. O mesmo vale em relação ao uso de contraceptivos ou à legalização do aborto consentido, ou ainda sobre a separação entre princípios religiosos e conduta científica. Quando se pensa na manutenção da integridade, do devo, posso e quero, a grande questão, junto com essa tríade, é se estamos dirigindo, como critério último, a proteção da morada do humano, da morada coletiva do humano. Afinal de contas, não somos humanos e humanas individualmente, pois só o somos coletivamente. Fala-se muito em vivência, quando referimos a vida humana; no entanto, o mais correto seria sempre dizer convivência, pois ser humano é ser junto. Desse modo, a noção de ethos, a noção de morada do humano, oferece um critério para responder ao posso, devo e quero, que é: protejo eu a morada ou desprotejo? Incluo ou excluo? Vitimo ou cuido?
Em um livro delicioso e de complexa leitura, Ética da Libertação, Enrique Dussel escreve sobre um percurso da história da ética dentro do mundo. Começa exatamente mostrando o lugar que a reflexão ética ocupa na história humana, mas conclui com algo que alguns até achariam curioso, hoje: ele não aceita a noção do termo exclusão, ou falar em excluídos, porque acha que a noção de excluído é muito pequena e insuficiente. Dussel, ao pensar a Ética e os processos sociais, econômicos e culturais, trabalha com a noção de vítimas: as vítimas do sistema, as vítimas da estrutura. Pensa ele que, quando se fala em excluído, dá-se a impressão de que é uma coisa um pouco marginal, lateral, enquanto vitimação é uma idéia mais robusta e incisiva. A principal virtude ética nos nossos tempos, para poder manter a integridade e cuidar da casa, da morada do humano, é a incapacidade de desistir, é evitar o apodrecimento da esperança, é evitar aquilo que padre Antonio Vieira apontou, no começou de um de seus Sermões, da seguinte maneira: “O peixe apodrece pela cabeça”. Já viu um peixe apodrecer? Tal como algumas pessoas, ele apodrece da cabeça para o resto do corpo... Um olhar sobre a ética em ciência e na pesquisa tem uma finalidade: manter a nossa vitalidade, manter a nossa vitalidade ética, mostrar que nós estamos preocupadas e preocupados, que a gente não se conforma com a objetividade tacanha das coisas, que a gente não acha que as coisas são como são e não podem ser de outro modo, que a gente não se rende ao que parece ser imbatível.
Ser humano é ser capaz de dizer não, ser humano é ser capaz de recusar o que parece não ter alternativa, ser humano é ser capaz de afastar o que parece sem saída. Ser humano é ser capaz de dizer não, e só quem é capaz de dizer não pode dizer sim; aí está a nossa liberdade. Tem gente que diz assim: “Ah, a minha liberdade acaba quando começa a do outro”; cuidado, a minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Liberdade, como saúde, tem de ser um conceito coletivo, a minha liberdade não acaba quando começa a do outro, a minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Se algum humano não for livre, ninguém é livre, se algum homem ou mulher não for livre da falta de trabalho, ninguém é livre; se algum homem ou mulher não for livre da falta de socorro, de saúde, ninguém é livre; se alguma criança não for livre da falta de escola, ninguém é livre; a minha liberdade não acaba quando começa a do outro, minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Ser humano é ser junto, e é em relação a isso que vale pensarmos nossa capacidade de dizer não a tudo que vitima e sermos capazes de proteger o que eleva a Vida. O vínculo da Ética com a Produção do Conhecimento está relacionado à capacidade deste de cuidar daquela, isto é, manter a integridade digna da vida coletiva. Ética é a possibilidade de recusar a falência da liberdade, a ética é a nossa capacidade de recusar a idéia de que alguns cabem na nossa casa, outros não cabem; alguns comem, outros não comem; alguns têm graça, outros têm desgraça.
A ética é o exercício do nosso modo de perceber como é que nós existimos coletivamente, e então pensar com seriedade naquilo que François Rabelais vaticinou: “Conheço muitos que não puderam, quando deviam, porque não quiseram, quando podiam”.
Quero? Devo? Posso?
http://www.apropucsp.org.br/revista/r27_r15.htm
CAPÍTULO VII – ÉTICA E HIPERMODERNIDADE
	Enquanto o mundo grego baseava o conceito de ética na razão, o mundo medieval na fé e o mundo romântico no egocentrismo (no sentido de colocar a emoção à frente da razão e da fé ) notamos uma mudança de valores quanto ao mundo moderno.
	Na modernidade vemos o surgimento de algo que podemos considerar como um “tecnocentrismo” – a tecnologia e a técnicacomo o centro moral e social. Este tecnocentrismo levaria o homem à busca do prático, técnico, a busca de uma moral de manual, efeito e causa – uma moralidade baseada no utilitarismo.
	Este utilitarismo e pragmatismo seriam justamente os pontos negados na transição para a pós-modernidade – aliás, o sinal principal desta é justamente a ruptura com o mundo das normas.
	E como seria este homem “hipermoderno”? Nas próximas páginas o prólogo do livro “el hombre light” de Enrique Rojas:
O HOMEM MODERNO: a luta contra o vazio – Enrique Rojas
Este é um livro de denúncia. Já há alguns anos me preocupam os rumos seguidos pela opulenta sociedade do bem-estar no Ocidente, inclusive porque sua influência no resto do mundo abre caminhos, forma opinião e propõe argumentos. É nessa sociedade, em certa medida, doente que emerge o homem moderno ou light, um sujeito cuja bandeira é uma tetralogia niilista: hedonismo-consumismo-permissividade-relatividade. Tudo isso costurado pelo materialismo. Um indivíduo assim se parece muito com os chamados produtos light de nossos dias: alimento sem calorias e sem gorduras, cerveja sem álcool, açúcar sem glicose, cigarro sem nicotina, Coca-Cola sem cafeína e sem açúcar, manteiga sem gordura – um homem sem substância, sem conteúdo, entregue ao dinheiro, ao poder, ao sucesso e ao gozo ilimitado, sem restrições.
O homem moderno não tem referenciais, vive num grande vazio moral, não é feliz, embora tenha materialmente quase tudo, e isto é o mais grave. Este é o meu diagnóstico, e ao longo destas páginas descrevo suas principais características, ao mesmo tempo em que faço sugestões de como escapar e sair desse caminho errado que tem um final triste e pessimista.
Frente à cultura do efêmero está a solidez de um pensamento humanista; frente à ausência de vínculos, o compromisso com os ideais. É preciso superar o pensamento débil com argumentos e ilusões suficientemente atrativas para que o homem eleve sua dignidade e suas pretensões. Assim atravessaremos o itinerário que vai da inutilidade da existência à busca de um sentido por meio da coerência e do compromisso com os outros, escapando desse modo da grave sentença de Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”.
É preciso conseguir um ser humano que quer saber o que é bom e o que é ruim; que se apóie no progresso humano e científico, mas não se entregue à cultura da vida fácil, na qual qualquer motivação tem como propósito o bem-estar, um determinado nível de vida ou prazer gratuito – sabendo que não existe verdadeiro progresso humano se este não se desenvolve com um fundo moral.
O HOMEM LIGHT
Assistimos hoje ao fim de uma civilização, e podemos dizer que ela se encerra com a queda em bloco dos sistemas totalitários nos países do Leste Europeu, embora ainda existam redutos a serem desmantelados nesse mesma linha política e ideológica e se anunciem novas prisões para o homem, com outra roupagem e faces bem diversas.
Assim como nos últimos anos entraram em moda certos produtos light – o cigarro, algumas bebidas ou certos alimentos –, também foi sendo gerado um tipo de homem que poderia se qualificado de homem light.
Qual é seu perfil psicológico? Como poderia ser definido? Trata-se de um homem relativamente bem-informado, mas de escassa educação humanista, muito voltado ao pragmatismo, por um lado, e a vários assuntos, por outro. Tudo lhe interessa, mas de forma superficial; não é capaz de fazer uma síntese daquilo que percebe e, como conseqüência, se converte numa pessoa trivial, superficial, frívola, que aceita tudo, mas que carece de critérios sólidos em sua conduta. Tudo nele se torna etéreo, leve, volátil, banal, permissivo.
Viu tantas mudanças, tão rápidas e em tempo tão curto, que começa a não saber a que se agarrar ou, o que dá o mesmo, a fazer afirmações do tipo “vale tudo”, “não me interessa” ou “as coisas mudaram”. E assim encontramos um bom profissional em seu campo específico de trabalho, que conhece bem a tarefa que tem nas mãos, mas que fora desse contexto fica à deriva, sem idéias claras, preso – como está – num mundo cheio de informação, que o distrai, mas que pouco a pouco o converte num homem superficial, indiferente, permissivo, que vive um enorme vazio moral.
As conquistas técnicas e científicas – impensáveis há poucos anos – nos propiciaram avanços evidentes: a revolução da informática, os progressos da ciência em seus diversos aspectos, uma ordem social mais justa e perfeita, uma preocupação mais firme com os direitos humanos, a democratização de tantos países e, agora, a ruína em bloco do comunismo. Mas, diante de tudo isso, devemos colocar em discussão aspectos da realidade que funcionam mal e que mostram a outra face da moeda:
materialismo: faz com que um indivíduo obtenha certo reconhecimento social pelo simples fato de ganhar muito dinheiro;
hedonismo: viver bem a qualquer custo é o novo código de comportamento, o que significa a morte dos ideais, a ausência de sentido e a busca de uma série de sensações cada vez mais novas e excitantes;
permissividade: arrasa os melhores propósitos e ideais;
revolução sem finalidade nem projeto: a ética permissiva substitui a moral, o que engendra um desconcerto generalizado;
relativismo: tudo é relativo, o que leva a cair na absolutização do relativo; brotam; assim, algumas regras presididas pela subjetividade;
consumismo: representa a fórmula pós-moderna da liberdade.
Assim, as grandes transformações sofridas pela sociedade nos últimos anos são, a princípio, contempladas com surpresa, depois com progressiva indiferença ou, em outros casos, como a necessidade de aceitar o inevitável. A nova epidemia de crises e rupturas conjugais, o drama das drogas, a marginalização de tantos jovens, as greves dos trabalhadores e outros fatos da vida cotidiana, tudo isso prontamente se admite como algo que está aqui e contra o qual não se pode fazer nada.
Dos meandros dessa realidade sociocultural vai surgindo um novo homem moderno, produto de seu tempo. Se observarmos melhor, veremos que esse homem tem os seguintes componentes: pensamento fraco, convicções sem firmeza, assepsia em seus compromissos, indiferença sui generis feita de curiosidade e relativismo ao mesmo tempo... sua ideologia é o pragmatismo, sua norma de conduta, a vigência social – que vantagens leva, o que está na moda; sua ética se fundamenta na estatística, substituta da consciência; sua moral, repleta de neutralidade, carente de compromisso e subjetividade, fica relegada à intimidade, sem se atrever a sair em público.
O IDEAL ASSÉPTICO
Não há no homem moderno entusiasmos desmedidos nem heroísmos. A cultura light é uma síntese insossa que transita pela faixa média da sociedade: alimentos sem calorias, sem gordura, sem excitantes – tudo suave, ligeiro, sem riscos, com segurança garantida. Um homem assim não deixará marcas. Em sua vida já não há rebeliões, pois sua moral se converteu numa ética de regras de urbanidade ou numa mera atitude estética. O ideal asséptico é a nova utopia, porque, como diz Lipovetsky,estamos na era do vazio. Dessas fendas surge o novo homem cool, representado pelo telespectador que, com o controle remoto, passa de um canal ao outro procurando não se sabe bem o quê ou pelo sujeito que dedica o fim de semana à leitura dos jornais e revistas, quase sem tempo- ou sem capacidade – para outras preocupações mais interessantes.
O homem moderno é frio, não acredita em quase nada, suas opiniões mudam rapidamente e deixou para trás os valores transcendentes. Por isso foi ficando cada vez mais indefeso; por isso foi caindo numa certa vulnerabilidade. Desse modo, é mais fácil manipulá-lo, levá-lo daqui para ali, mas tudo sem muita paixão. Muitas concessões foram feitas sobre questões essenciais, e os desafios e esforços já não indicam a formação de um indivíduo mais humano, culto e espiritual, mas sim voltado para a busca do prazer e do bem-estar a qualquer custo, além do dinheiro.
Podemosdizer que estamos na era do plástico, o novo signo dos tempos. Dele deriva um certo pragmatismo do descartável, o que faz com que a cada dia impere com mais força um novo modelo de herói: o triunfador, que aspira – como muitos homens modernos deste final do século XX – ao poder, à fama, a um bom nível de vida, passando por cima de tudo, doa a quem doer. É o herói das séries de televisão americanas, com suas motivações primordiais: o sucesso, o triunfo, a relevância social e, especialmente, esse poderoso senhor que é o dinheiro.
É um homem que cedo ou tarde vai ficar órfão da humanidade. Do maio de 1968 francês não restou nenhum sinal, os protestos acabaram, nem a solidariedade nem a colaboração prosperam facilmente; prevalece, isso sim, a rivalidade tingida de hostilidade. Trata-se de um homem sem vínculos, descomprometido, no qual a indiferença estética une-se à desvinculação de quase tudo que o cerca. Um ser humano rebaixado à categoria de objeto, repleto de consumo e bem-estar, cujo fim é despertar admiração ou inveja.
O homem moderno não tem referenciais, perdeu seu objetivo e está cada vez mais desorientado diante das grandes interrogações da existência. Isto se traduz em coisas concretas, que vão desde não poder ter uma vida conjugal estável a não poder assumir, com dignidade, qualquer tipo de compromisso sério. Quando se perde a bússola, logo se navega à deriva, não se sabe a que se agarrar nos temas-chave da vida, o que leva a uma aceitação e canonização de tudo. É uma nova imaturidade, que tem crescido lentamente, mas que hoje tem uma nítida fisionomia.
Alguns intelectuais europeus já trataram desse tema. Alain Finkielkraut fala disso em seu livro A derrota do pensamento. Jean François Revel ressalta, em O conhecimento inútil, que nunca foi tão abundante e prolixa a informação e nunca, contudo, houve tanta ignorância. O homem é cada vez menos sábio, no sentido clássico do termo.
Na cultura niilista, o homem não tem vínculos, faz o que quer em todos os âmbitos da existência e vive unicamente para si próprio e para o prazer, sem restrições. Que fazer diante desse espetáculo? Não é fácil dar uma resposta concreta quando tantos aspectos importantes se converteram em um jogo trivial e divertido, em uma apoteótica e entusiasta superficialidade. Infelizmente, muitos desses homens vão precisar passar por um sofrimento de certa transcendência para iniciar a mudança, mas não esqueçamos que o sofrimento é a forma suprema de aprendizagem; outros, que não estarão em condições tão ruins, terão que fazer um balanço pessoal e começar um novo caminho mais digno, de conteúdo mais humano.
Finalmente, é preciso resumir essa ingente informação, a náusea diante do excesso de dados e a conseqüente perplexidade, e para tanto o melhor é tirar dois tipos de conclusão:
geral: ajuda a interpretar melhor a realidade atual, em sua enorme complexidade;
pessoal: fará com que surja um ser humano mais consistente, voltado para os valores e com eles comprometido.
2
HEDONISMO E PERMISSIVIDADE
O FIM DA CIVILIZAÇÃO
Estamos diante do fim de uma civilização. Relendo o livro de Indro Mantanelli, História de Roma, penso que nos encontramos em uma situação parecida: pós-modernismo para uns, era psicológica ou pós-industrial para outros. A década de 60 nos apresentou a polêmica do positivismo com o confronto entre Karl Popper e Theodor Adorno. A década de 70, o debate sobre a hermenêutica da história entre Jürgen Habermas e Hans Gadamer. A de 80, o significado do pós-modernismo, e a de 90 está presidida pela queda dos regimes totalitários. Demonstrou-se que uma das grandes promessas de liberdade não passava de uma rede sufocante na qual o ser humano ficava preso sem saída possível.
O panorama é hoje muito interessante: na política há uma volta a posições moderadas e a uma economia conservadora; na ciência tem lugar um desenvolvimento monumental, pois os avanços em vários campos têm dado um giro copernicano brilhante, de resultados muito práticos; a arte também se desenvolve de forma experimental, mas já é possível estabelecer algumas normas estéticas: atingimos um ecletismo evidente no qual qualquer rumo é válido, todos os caminhos contêm uma certa dose artística; igualmente, no mundo das idéias e seu reflexo no comportamento, houve uma mudança sensível, o que tenciono analisar em seguida.
Os dois aspectos mais peculiares são, na minha opinião, o hedonismo e a permissividade, ambos costurados pelo materialismo. Isto faz com que as aspirações mais profundas do homem transformem-se gradualmente em aspirações materiais e deslizem em direção a uma decadência moral com precedentes muito remotos: o Império Romano ou o período compreendido entre os séculos XVII e XVIII.
Como já notamos antes, hedonismo significa que a lei máxima de comportamento é o prazer acima de tudo, a qualquer preço, assim como a busca progressiva de cotas mais altas de bem-estar. Além disso, seu código é a permissividade, a busca ávida do prazer e do refinamento, sem nenhum outro questionamento. Assim, hedonismo e permissividade são os dois novos pilares sobre os quais se apóiam as vidas daqueles homens que querem fugir de si próprios e submergir num caleidoscópio de sensações cada vez mais sofisticadas e narcisistas, ou seja, contemplar a vida como um gozo ilimitado.
Uma coisa é desfrutar a vida e saboreá-la em todas as suas vertentes e outra, muito diferente, é esse maximalismo cujo objetivo é o afã e o frenesi de diversão sem restrições. O primeiro é psicologicamente saudável e sacia uma das dimensões de nossa natureza; o segundo, ao contrário, indica a morte dos ideais.
Do hedonismo surge um vetor que pede passagem com força: o consumismo. Podemos escolher tudo a nosso bel-prazer; comprar, gastar e possuir é uma nova experiência de liberdade. O ideal de consumo da sociedade capitalista não tem outro horizonte além da multiplicação ou da contínua substituição de objetos por outros cada vez melhores. Um exemplo que me parece revelador é o da pessoa que percorre o supermercado enchendo seu carrinho até em cima, tentada por todos os estímulos e sugestões comerciais, incapaz de dizer não.
REVOLUÇÃO SEM FINALIDADE NEM PROJETO
O consumismo tem uma forte raiz na propaganda de massa e na oferta ruidosa que cria para nós falsas necessidades. Objetos cada vez mais refinados provocam o desejo impulsivo de comprar. O homem que entrou por essa porta vai ficando cada vez mais fraco.
O outro aspecto central dessa pseudo-ideologia atual é, como já dissemos, a permissividade, que prega a chegada a uma etapa decisiva da história, sem proibições nem territórios vedados, sem limitações. É preciso arriscar tudo, a cada dia ir mais longe. Impõe-se, assim, uma revolução sem finalidade nem projetos, sem vencedores nem vencidos.
Afinal, se tudo vai se envolvendo em um paulatino ceticismo e, ao mesmo tempo, em um individualismo fatal, o que ainda pode surpreender ou escandalizar? Esse desmoronamento axiológico produz vidas vazias, mas sem grandes dramas, nem vertigens angustiantes ou tragédias. “Aqui não acontece nada”, parecem dizer os que navegam por essas águas. É a metafísica do nada, pela morte dos ideais e superabundância do resto. Estas existências sem aspirações nem denúncias conduzem à idéia de que tudo é relativo.
O relativismo é filho natural da permissividade, um dos mecanismos de defesa que Freud estudou e esquadrinhou de forma quase geométrica. Assim, os juízos ficam suspensos e flutuam sem consistência; o relativismo é outro novo código ético. Tudo depende, qualquer análise pode ser positiva e negativa; não há nada absoluto, nada totalmente bom nem mau. Desta tolerância interminável nasce a indiferença pura.
Estamos diante da ética dos fins ou da situação, mas também do consenso: se há consenso, a questão é válida. O mundo e suas realidades mais profundas se submetem a um plebiscito para decidir se constituem algo positivo ou negativo para a sociedade, porque o importante é o que opina a maioria.
Falamos de liberdade, de direitos humanos,de conseguir pouco a pouco uma sociedade mais justa, aberta e ordeira. Por um lado, defendemos isso; por outro, nos colocamos em posições ambíguas que não tornam o homem mais humano, nem o conduzem a grandes metas. É a apoteose da incoerência. Então, onde o homem pode fincar o pé? Onde irá buscar pontos de apoio firmes e sólidos?
Um ser humano hedonista, permissivo, consumista e centrado no relativismo tem pela frente um prognóstico ruim. Padece de uma espécie de “melancolia” new look: instrumento de experiências apáticas. Vive na condição de objeto, manipulado, dirigido e tiranizado por estímulos deslumbrantes, mas que não o gratificam, não o fazem mais feliz. Sua paisagem interior está coberta por uma mistura de frieza impassível, de neutralidade sem compromisso e, ao mesmo tempo, de curiosidade e tolerância ilimitada. Este é o chamado homem cool, que não se preocupa com justiça nem com os velhos temas dos existencialistas (Sören Kierkegaard, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Albert Camus...), nem com os problemas sociais ou com os grandes temas do pensamento (a liberdade, a verdade, o sofrimento). Já não lê o Ulisses de James Joyce, nem Em busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, nem os romances de Hermann Hesse.
Um homem assim é cada vez mais vulnerável, não tem firmeza, afunda-se; por isso é necessário retificar o rumo, saber que o progresso material sozinho não preenche as aspirações mais profundas daquele que hoje está faminto de verdade e de amor autêntico. Este vazio moral pode ser superado com humanismo e transcendência (de tras, atravessar, e scando, subir); quer dizer, “atravessar subindo”, cruzar a vida elevando a dignidade do homem e sem perder de vista que não existe autêntico progresso se este não se desenvolve com base na moral. 
 
LEITURA COMPLEMENTAR
Beleza
para todos
Filósofo francês diz que ninguém precisa
ser feio e que lutar para melhorar a
aparência é ser dono do próprio corpo
Silvia Rogar
O francês Gilles Lipovetsky, 58 anos, é um dos nomes mais criativos e polêmicos do pensamento filosófico contemporâneo. Foi ativista dos movimentos que culminaram no maio de 1968, teve participação importante na reformulação do ensino de filosofia na França e, atualmente, trabalha para o programa europeu de unificação escolar. Reconhecido como um intelectual "sério", causou polêmica quando lançou O Império do Efêmero, em 1987. O livro aborda a moda ocidental, de sua criação, no século XIV, até o século XX. Para Lipovetsky, o assunto não se encerra no vestir, mas está interligado ao bem-estar, ao consumo e à mídia. "Não é possível compreender a evolução da sociedade sem dar importância à moda, à sedução, ao luxo", diz. Seu próximo livro, sobre o luxo, será lançado no ano que vem, na Europa. No início de outubro, ele estará no Rio de Janeiro, para o seminário "O luxo de cada dia". Na semana passada, Lipovetsky falou por telefone a VEJA, de sua casa, em Grenoble, na França.
Veja – Seu trabalho foi muito criticado quando o senhor começou a se dedicar a temas considerados fúteis, como a moda e o luxo. Isso foi em 1987. Hoje, esses assuntos conseguiram lugar no meio acadêmico?
Lipovetsky – A academia, em particular sociólogos e historiadores, está mais aberta a essas reflexões. Ainda existe, no entanto, uma resistência muito forte. Está quase no "código genético" da filosofia a crítica às aparências. Mas a moda virou uma questão central na sociedade pós-moderna. Não foi pelo lado frívolo que me dediquei ao assunto, e sim porque a moda hoje não se restringe ao vestuário. Ela rege outras esferas da vida, como o culto ao corpo, o consumo e o bem-estar. Não dar lugar a ela é não querer olhar de frente para o que é hoje a nossa sociedade.
Veja – Quinze anos depois, que conceitos de O Império do Efêmero o senhor reviu?
Lipovetsky – Naquela época, eu queria manifestar minha revolta contra a demonização do consumo e da mídia. Mantenho a opinião de que eles não são os demônios de nossos tempos. Mas hoje estou mais sensível aos aspectos negativos do império do efêmero. O principal é que ele cria um paradoxo: quanto mais a sociedade se volta para o espetáculo, para a frivolidade, mais aumentam sua ansiedade, angústia e depressão. Estou mais sensível também à pobreza e às desigualdades sociais, questões que não abordei em 1987. São problemas criados por regras econômicas do mundo moderno e agravados pela omissão do Estado. Mas a sociedade regida pelo efêmero contribui para mantê-los.
Veja – Quais seriam os demônios de hoje?
Lipovetsky – Não acho que devemos apontar um só culpado pelos problemas atuais. Hoje, quando falamos nesse assunto, surge imediatamente a palavra globalização como a síntese de todos os males. Mas devemos discutir seus diferentes efeitos. Estamos numa época em que todos os modelos radicais perderam credibilidade. Não precisamos de mudanças drásticas nas grandes questões do mundo atual. O importante é fixar regras dentro de um mundo aberto.
Veja – Nesse mundo aberto, a moda deixou de ser algo que define marcadamente classes sociais, como acontecia no passado. Houve uma democratização do supérfluo?
Lipovetsky – Incontestavelmente sim, se tivermos como referência o nascimento da moda no Ocidente, na segunda metade do século XIV. No início, a moda só dizia respeito a um mundo muito pequeno, à corte. Depois ganhou a alta burguesia e, desde o século XVIII, outras camadas burguesas. Ao longo do século XX, sobretudo em sua segunda metade, a percepção do supérfluo como um ideal de consumo estendeu-se por toda a sociedade ocidental.
Veja – Isso não é contraditório com a constatação de que a desigualdade mantém-se e acentua-se no mundo de hoje?
Lipovetsky – Não digo, evidentemente, que houve uma democratização do acesso ao consumo, mas sim a massificação de um ideal de consumo. Nos bairros mais pobres, por exemplo, os jovens querem e fazem sua própria moda. A grande mudança é que, na organização social anterior, as camadas populares se conformavam com a sua posição, existia pouca vontade de mudar. A sociedade de consumo legitimou o ideal de viver melhor. O poder de compra continua dividido, mas o desejo de melhorar de vida é hoje praticamente universal.
Veja – Quando a burguesia passou a imitar o vestuário da nobreza, as cortes tentaram criar leis para impedir as cópias. Hoje, boa parte das grifes de luxo têm marcas secundárias, com preços mais baixos. Qual é o fenômeno por trás disso?
Lipovetsky – A nobreza tinha interesses nacionais, como, por exemplo, impedir o uso de ouro nas roupas para não diminuir suas reservas do metal – além, é claro, de deixar explícita sua superioridade em relação aos plebeus. Hoje, a estratégia é diferente. Criou-se um luxo intermediário. São produtos lançados por grifes caras porém acessíveis a uma parcela maior da população. Não deixa de existir a diferença de status. Mas é inegável que houve uma democratização da oferta do luxo.
Veja – Quais são os principais objetos de desejo nesse novo padrão de consumo?
Lipovetsky – Em primeiro lugar, a comunicação, através de seus novos objetos, como computador, acesso à internet, telefones celulares. Hoje, o bem-estar está associado à mobilidade, ao acesso à informação e à rapidez. O que seduz na comunicação passa, cada vez mais, por tudo que acelera as coisas, pela possibilidade de estar conectado com o externo, com os outros. No outro grupo, estão os objetos de sedução ligados ao corpo e à saúde. Existe uma verdadeira obsessão pela saúde e tudo que contribui para nos tornar mais jovem e em forma. Uma alimentação mais saudável exerce uma sedução muito forte nos consumidores. É um novo padrão, em que a saúde e a segurança ocupam lugar de destaque. Um forte argumento de venda de carros de luxo, por exemplo, são os sistemas de proteção ao corpo, como o air bag e os mecanismos contra roubo.
Veja – Com a globalização da indústria da moda, o que deve mudar no vestuário? Há como preservar identidades ou vamos assistir a uma pasteurização total?
Lipovetsky– No século XIX e até a primeira metade do século XX, a moda era mais artística. Na época de globalização, é necessário ter um bom faturamento, sem riscos. Hoje, escuta-se mais o que as pessoas querem usar. A maior parte da indústria da moda em todo o mundo observa o que o consumidor quer e produz dentro dessa demanda. Isso não significa pasteurização. As pessoas se vestem de forma muito parecida, mas não podemos dizer que não há individualidade. Hoje, o individualismo é escolher, dentro da oferta, o que mais agrada. É mais psicológico que estético. O mais provável é que teremos uma moda de qualidade, mas com pouca audácia de estilos.
Veja – É isso que explica o declínio da alta-costura?
Lipovetsky – Exatamente. A alta-costura foi o pólo maior da moda moderna. Nos anos 20, chegou a representar 15% das exportações da França. Agora, não é mais o vetor principal de criação. Isso acabou. O mercado de luxo é dominado por marcas como Calvin Klein, Armani. Fazem roupas caras, que no entanto não são um luxo impensável.
Veja – O senhor disse recentemente que fica difícil, hoje em dia, distinguir o que está na moda ou fora dela. Não existe mais uma imposição no vestir?
Lipovetsky – A oposição entre o que "está na moda" e "fora de moda" continua muito forte no mundo adolescente, e quase exclusivamente nele. Quase não existe fora dessa faixa etária. Acabou a tirania na forma de vestir. Antes, se a nova moda fosse a minissaia, quem usasse um modelo longo estaria fora dos padrões. Hoje podemos ter uma tendência da saia mais curta, mas quem vestir um longo não se sentirá forçosamente fora da moda. Existe uma multiplicação de estilos, um vestuário mais flexível.
Veja – Mas as mulheres continuam submetidas à ditadura da aparência.
Lipovetsky – Sim. O vestuário foi substituído pela ditadura da magreza e da juventude. A ansiedade que domina as mulheres quando estão gordas ou com celulite mostra essa tirania. Antes, as filhas sonhavam em se parecer com suas mães, queriam usar roupas parecidas. Hoje, acontece exatamente o contrário, as mães é que desejam ter a aparência mais jovem. Estar em forma e não envelhecer é a obsessão número 1 de hoje.
Veja – A que o senhor atribui essa mudança?
Lipovetsky – O corpo passou a ter outro valor na sociedade democrática e tecnológica, que recusa a submissão ao destino. Na sociedade tradicional, a beleza era considerada um dom. Se você não nascia belo, restava-lhe a resignação. Agora, num universo individualista, o que dá grandeza ao homem é não se acomodar. Quem é gordo ou narigudo pode fazer dieta, plástica e ficar bonito. Você pode lutar ou pagar para ser belo. Não deixa de ser um paradoxo. A imposição da magreza, ao mesmo tempo que atinge indiscriminadamente todas as pessoas, é também uma forma de o indivíduo tomar posse do próprio corpo. A tirania da beleza pode oprimir, mas permite que a mulher se mantenha jovem e sensual por mais tempo.
Veja – Até agora, falamos do sexo feminino. No entanto, nos últimos anos, a preocupação masculina com a aparência só fez crescer. Como se comporta esse homem vaidoso?
Lipovetsky – A partir da década de 60, o homem passou a olhar mais para a moda e para seu corpo. Isso é uma das manifestações do aumento do individualismo: a preocupação consigo mesmo. A vaidade masculina cresceu junto com a valorização do lazer, do esporte, de uma vida saudável. É diferente da vaidade feminina. O homem quer estar bem de uma forma global, seu cuidado é mais em ter um corpo saudável. Ele só tem preocupações estéticas específicas quando os cabelos começam a cair ou a barriga está grande demais. Enquanto isso, a mulher se apega ao detalhe. Ela pode ser linda mas ficar insatisfeita com a pálpebra ou com seu ombro. Quando está 2 quilos acima do peso, já corre para fazer dieta. Ela se observa permanentemente.
Veja – Por que essa obsessão?
Lipovetsky – Porque o belo continua sendo um atributo mais feminino que masculino. É algo que vem da Renascença, quando a beleza era sagrada e, para preservá-la, a mulher ficava condenada a um papel limitado, doméstico. A sociedade de consumo e o movimento feminista mudaram esse quadro, mas a mulher não deixou de ter uma identidade visceralmente ligada à estética. Ela pode ocupar cargos importantes, ganhar dinheiro, mas continua investindo na aparência. A diferença fundamental é que, agora, a beleza não restringe mais sua ação.
Veja – Num de seus estudos mais recentes, o senhor escreveu que esta nova mulher não se deixa mais encantar pela conquista no estilo Don Juan. A grande arma de sedução masculina, em sua opinião, estaria em ser divertido, ter senso de humor. Não parece pouco?
Lipovetsky – Parece pouco, sim, mas é o que mais aparece nas pesquisas feitas com as mulheres hoje. O senso de humor está ligado à inteligência e tem boa receptividade numa sociedade que valoriza o lazer e o bem-estar. É uma característica que faz a mulher sentir-se tratada como um ser igual, e não como um objeto sexual. A palavra que o homem dirige a ela tornou-se muito importante. Há outra mudança notável: não se começa mais uma relação falando de amor, como no estilo Don Juan. Primeiro, os dois se conhecem com um espírito apenas de comunicação, de contato, não de sentimento amoroso.
Veja – E na política? Que papel tem a moda na sedução do eleitor?
Lipovetsky – A moda é usada na comunicação política de maneira mais ampla que a simples forma de vestir. Faz parte de um processo que tornou o discurso mais acessível, passou a mostrar os candidatos em situações mais cotidianas, para atingir mais as pessoas durante a campanha. Isso nasceu para tornar a propaganda eleitoral mais interessante. Mas a tendência da sociedade contemporânea continua a ser de desconfiança, de distância da política. Ou seja, a lógica da moda, da sedução e do consumo não atrofiou o senso crítico dos cidadãos.
Veja – Mas a imagem continua sendo importante, não? No Brasil, o candidato que lidera as pesquisas, Luís Inácio Lula da Silva, mudou o discurso, mas também aparou a barba, cortou o cabelo, passou a usar ternos bem cortados...
Lipovetsky – Com certeza, a preocupação com a aparência contribuiu para sua imagem, mas o mais importante foi a mudança de suas posições, agora mais moderadas. Ele atenuou o discurso em relação ao FMI e à globalização, por exemplo. As razões que levam um candidato à Presidência de um país passam longe da simples aparência. A maioria dos políticos, aliás, não é particularmente sedutora. Veja José María Aznar (primeiro-ministro espanhol) ou George W. Bush. Não são pessoas propriamente preocupadas com moda.
Veja – O senhor se considera uma pessoa preocupada com moda? Gosta de grifes?
Lipovetsky – Os filósofos hoje não têm mais aquela imagem de que vivem fora do mundo, que não se preocupam com coisas materiais. Mas não me preocupo com marcas, que são apenas instrumentos para dar segurança ao consumidor de que está adquirindo um produto de boa qualidade. Sou um consumidor absolutamente banal.  http://veja.abril.com.br/250902/entrevista.html
CAPÍTULO VIII – ANTINOMISMO E HIERARQUISMO ÉTICO
	Neste capítulo iremos discutir em especial duas formas de se entender a ética – o antinomismo e o hierarquismo.
	Como o nome demonstra ( no original quer dizer “sem normas” ) o antinomismo e, segundo o prof. Norman Geisler, ele poderia ser definido como sendo uma leitura de ética que:
“... os homens usam, ou são destituídas de valor objetivo ou destituídas de relevância empírica. São, ou puramente subjetivas, ou completamente emotivas. Duas posições que têm pontos de vista, antinomistas são o existencialismo e o emotivismo.”
	Seu principais pilares forma os pensadores Sören Kierkegaard, Friedrich Nietzsche e Jean Paul Sartre.
	Já no hierarquismo, afirma-se que há muitas normas éticas universais, mas que não são iguais na sua importância intrínseca, de modo que quando duas entram em conflito, a pessoa é obrigada a obedecer o mais alto dos dois mandamentos.
 Quando duas normas absolutas entram em conflito,a norma inferior deve ser deixada de lado (os filósofos usam a palavra "transcendida").
	Para tal no hierarquismo tem-se valores elencados e sempre levando em consideração de, estando entre uma ou outra alternativa, tem-se que se escolher aquela que cause menos dano na seguinte ordem:
As pessoas são mais valiosas do que as coisas
As pessoas devem ser amadas e as coisas devem ser usadas. O padrão ético que muitas vezes nos é imposto pelo mundo é o contrário: amar as coisas e usar as pessoas. Não podemos abrir mãos de pessoas em troca de coisas.
Uma pessoa completa é mais valiosa do que uma incompleta
Uma pessoa incompleta é a que tem capacidades limitadas de receber ou expressar o amor, de se relacionar com as demais pessoas. O estado incompleto é freqüentemente ligado com alguma deficiência física ou mental, mas os deficientes não são, de modo algum, necessariamente incompletos em sua personalidade.
As situações em que há um conflito insolúvel entre os completos e os incompletos são um pouco raras. Normalmente, tanto a pessoa completa quanto a incompleta podem ser ajudadas ou salvas. Há, no entanto, algumas situações, especialmente na medicina e na guerra, em que é impossível ajudar as duas de modo eficaz. Em tais casos, deve-se escolher o valor superior do completo em preferência ao valor inferior do incompleto. Mas é importante frisar que tal escolha só deve ser feita nas situações em que houver um conflito insolúvel.
Uma pessoa real tem mais valor do que uma pessoa em potencial
Mais uma vez, trata-se de um princípio que só pode ser aplicado em situações extremas, quando não houver nenhuma outra solução. Uma pessoa real é uma que existe; uma pessoa em potencial é uma que pode vir a existir. Exemplo: uma mãe é uma pessoa real. Um embrião fecundado dentro de seu útero é uma pessoa em potencial.
Não é demais dizer que o fato de uma pessoa real ter mais valor que uma pessoa em potencial, não significa que as pessoas em potencial não tenham nenhum valor. É o que mostra o próximo princípio.
As pessoas em potencial são mais valiosas do que as coisas reais
A personalidade é tão valiosa que até mesmo a personalidade em potencial é melhor do que a mera qualidade de coisa. É por isso que se deve dar grande respeito à vida humana, até mesmo no estado embrionário. Uma pessoal em potencial não deve ser sacrificada por nenhuma coisa no mundo.
Muitas pessoas são mais valiosas do que poucas pessoas
Isto significa que se alguém fosse confrontado com uma decisão que envolvesse a possibilidade de salvar uma vida ou salvar cinco vidas, deveria salvar as cinco.
Atos pessoais que promovem as pessoas são melhores do que os que não promovem
Há muitos atos realizados por pessoas com respeito a outras pessoas, mas nem todos são de igual valor. Existem atos que são impessoais, tais como a indiferência para com as pessoas na sua necessidade. Outros atos são antipessoais, tais como o ódio para com pessoas de outras raças. E entre os demais atos, alguns promovem os relacionamentos melhor do que outros. Em cada caso, os superiores devem ser preferidos aos inferiores.
CONCLUSÃO
	Durante este semestre pensamos sobre como podemos conhecer as coisas, desde o senso comum até o pensamento rigoroso, crítico e metódico da filosofia, conhecemos dentro da filosofia uma área que se preocupa com a ordenação ( hierárquica ) ou sua crítica emotiva ( antinomismo ) dos ideais de certo e errado, bem ou mal – a esta área chamamos de ética.
	A prática da ética chamamos de moral, enquanto ajo moralmente, penso eticamente – a este exercício e as provocações que acompanharam este semestre em meu curso sempre objetivei na verdade a formação de líderes que façam a diferença – para o bem – no meio em que convivem.
	Lembrem-se que liderança é a habilidade de influenciar o teu próximo de forma entusiasmada e em serviço – ético é servir ao próximo por amor.
	Não um amor tolo ou falaz, mas um amor intencional que traga sempre as qualidades: paciência, gentileza, humildade, respeito, perdão, compromisso.
	Para mim, quando penso em líder que serve e ama, quando penso em ética e tratar o próximo com dignidade impar, só me vem à cabeça uma pessoa – Jesus Cristo.
	E à ele eu rogo pela tua vida, que Ele o abençoe e guarde não só durante este curso, mas em todas as tuas práticas. E concluo esta pobre apostila com a oração que os hebreus faziam e que ficou conhecida como “oração sacerdotal”:
"O Senhor te abençoe e te guarde; 
Faça o Senhor resplandecer seu rosto sobre ti, e te agracie; 
Tenha o Senhor misericórdia de ti e ponha em ti a paz.” 
Amém.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
AGUILAR, Francis. A ética nas Empresas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Ética. 18. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1998
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ARANHA, Maria L. A.; MARTINS, Maria H. P. Filosofando: Introdução à filosofia. 
COMPARATO, Fábio Konder. Ética: Direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 2006
	
	
	
	
ANEXO – QUESTIONÁRIO SOBRE O CURSO
Explique o que é conhecimento.
Explique as três formas principais de conhecimento.
Qual é a origem da filosofia?
Qual é a verdadeira filosofia segundo Merleau-Ponty?
Explique, com suas palavras, as principais características dos pré-socráticos.
Explique o que é “arché”.
Quais são as principais diferenças entre os pensamentos de Parmênides e Heráclito.
Qual é a visão ética grega ( Sócrates, Platão e Aristóteles )
Quais são as principais características da filosofia socrática?
Quais são as principais características da filosofia platônica?
Quais são as principais características da filosofia aristotélica?
O que é vício segundo Aristóteles?
O que é virtude segundo Aristóteles?
O que é sofismo? Quais eram as suas principais vertentes de pensamento?
Defina ética.
Defina moral.
Quais são as condições gerais do agente moral?
Qual é a exigência essencial da ética?
Quais são as três dimensões da ética?
O que marca a transição da modernidade para a pós-modernidade?
Qual é a lógica da moda?
Defina narcisismo hipermoderno.
Descreva as principais características do antinomismo.
Descreva as principais características do hierarquismo.
Defina liderança.
Quais são os princípios da liderança ética?

Outros materiais