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Modos de habitabilidade de grupos ceramistas: dispersão e dinâmica dunar na praia de Flecheiras, em Trairi, no Ceará

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE 
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA 
 
 
 
 
 
MODOS DE HABITABILIDADE DOS GRUPOS CERAMISTAS: DISPERSÃO E DINÂMICA DUNAR NA 
PRAIA DE FLECHEIRAS, EM TRAIRI, NO CEARÁ 
 
 
 
 
 
 
EVERALDO GOMES DOURADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Laranjeiras (Se) 
2015 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE 
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA 
 
 
 
 
MODOS DE HABITABILIDADE DOS GRUPOS CERAMISTAS: DISPERSÃO E DINÂMICA DUNAR NA 
PRAIA DE FLECHEIRAS, EM TRAIRI, NO CEARÁ 
 
 
 
EVERALDO GOMES DOURADO 
 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em ARQUEOLOGIA 
como requisito parcial à obtenção do título 
de Mestre em Arqueologia. 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Jenilton Ferreira Santos 
Co-orientadora: Profa. Dra. Suely Gleyde Amancio Martinelli 
Agência financiadora: FAPITEC; CNPQ; CAPES 
 
 
 
 
 
 
 
 
Laranjeiras (Se) 
2015 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico essa pesquisa a minha avó Ana Gomes da Costa (in memoriam) 
que além dos primeiros passos me ensinou o gosto pela história. 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Muitas pessoas colaboraram com essa pesquisa, direta ou indiretamente e foi graças a 
cada um delas que essa pesquisa amadureceu, ganhou formas e atingiu os objetivos. 
Ligia Holanda, o teu apoio tem sido fundamental dentro e fora dessa pesquisa. Do 
“empurrão” para inscrição na seleção do mestrado, passando pelas idas ao campo para 
prospecção e desenho de croquis, do carinho nos momentos mais difíceis frente à pesquisa ... 
Muito obrigado pela paciência, pois teu companheirismo e amor foram fundamentais para a 
pesquisa e para o pesquisador. 
Aos meus pais, D. Maria e ao S. Geraldo, que desde o princípio acreditaram nessa 
empreitada e sempre me apoiaram em todos os momentos, fossem bons ou ruins. 
Pela orientação do Prof. Dr. Jenilton Ferreira e a sua paciência frente as minhas 
limitações e angústias com essa pesquisa. 
Ao acolhimento da Profa. Dra. Suely Amancio Martineli durante esse trabalho, com as 
suas sugestões e entusiasmo. 
A Profa. Dra. Marcélia Marques pelo apoio desde o início da pesquisa, pelas sugestões 
e a vibração durante todo esse processo. 
Obrigado a todo o PROARQ – UFS pelo meu amadurecimento como arqueólogo, com 
as discussões acadêmicas em sala com o Prof. Dr. Paulo Jobim, Profa. Dra. Márcia Barbosa, 
Dra. Profa. Olívia Carvalho e ao auxílio e paciência da ‘Leli’ no dia a dia do campus. 
Aos amigos de turma: Carlos Eduardo (Kadu), Janaina Coutinho, Bruno Barreto, 
Daiane Pereira, Luiz Rocha, Luiz Pacheco, Vani Piaia e Fernanda Libório, assim como as 
demais amizades que fizeram a minha estadia em Sergipe ter mais brilho, petiscos e muitas 
risadas. Aos amigos Railson Cotias, Jeanne Dias, Michel Platini e Luiz Angélico (Luizinho), 
fica um muito obrigado por tudo que vocês fizeram e que representam em minha vida. 
Não poderia deixar de agradecer aos amigos de longa data e que também me 
apoiaram: Dudé e Nenzinha, sem os meus padrinhos de casamento até a logística de campo 
dessa pesquisa não teria tido êxito, obrigado pela força e pelas boas risadas; ao Rafael Ricarte 
pelo companheirismo desde a faculdade de História e pela ajuda com a rara documentação 
 
 
enviada da Europa; ao João Correia pelos textos, a ida a campo e as dicas em Geomorfologia 
litorânea; Rafael Agostinho grato pela ajuda com a Biologia Marinha e o entusiasmo; ao Dr. 
Jefferson Lima, pelos mapas, as dicas em Geologia e pela amizade sincera; ao amigo Pedro 
Manoel Lima pela ajuda com a tradução e o companheirismo; à Uiara Garcia pela ajuda com 
as correções e a formatação; aos camaradas Agnelo Queiroz, Vitor Rafael Sousa e o Dr. Paulo 
Tadeu Albuquerque pelas sugestões bibliográficas e a identificação do material arqueológico. 
Agradeço ainda à Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado 
de Sergipe – FAPITEC, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
– CNPq, e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela 
Bolsa concedida durante grande parte dessa pesquisa e em momentos distintos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
Na praia de Flecheiras, Ceará, foram identificados quatro assentamentos, resultantes das 
atividades de Arqueologia Preventiva na região. Esses assentamentos possuem características 
bastante similares quanto à implantação na paisagem e sua cultura material. Nos sítios 
arqueológicos Trairi I, II, III e IV, ocorre a predominância de cerâmicas filiadas à Tradição 
Tupiguarani e outra denominada de Cabocla, restos de lascamento, núcleos pouco utilizados e 
percutores na maioria em quartzo, além de malacológicos. Nesse contexto, todas as 
concentrações arqueológicas estão inseridas em meio a dunas móveis de origem holocênica. 
Nosso objetivo é realizar uma abordagem sobre o padrão de assentamento nesses sítios, com 
estudos em uma macroescala, abrangendo a relação dessas comunidades com o bioma em que 
estão inseridas, e em uma escala semi-micro, compreendendo os aspectos tecnológicos e os 
fatores pós-deposicionais ocorridos nos sítios, de modo a perceber como podem influenciar na 
análise arqueológica. As variáveis ambientais que compõem a área de estudo, tais como os 
corais, as lagoas interdunares, nascentes e foz de rios, a Formação Barreiras e as dunas 
permitem, a priori, inferir que haja uma possível exploração sistemática desses biomas para a 
manutenção desses grupos. Dessa forma, essa pesquisa visa contribuir para a compreensão 
dos processos de ocupação que ocorreram no litoral cearense em épocas pretéritas. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Padrão de assentamento, Arqueologia Espacial, dunas holocênicas, 
praia de Flecheiras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
In Flecheiras Beach, Ceará, four settlements were identified, which they had resulted from the 
activities of Preventive Archaeology in that region. Those settlements have very similar 
characteristics as the implementation in the landscape and its material culture. Ceramic 
affiliated Tradition TupiGuarani and another called Cabocla, chipping remains, underutilized 
cores and strikers, mostly of quartz and malacologicals, are prevalent in archaeological sites 
Trairi I, II, III and IV. In this context, all archaeological concentrations are inserted among 
mobile dunes of Holocene origin. Our objective is to make an approach to the settlement 
pattern in these sites, with macro scale studies, that covers the relationship between these 
communities and the biome where they are inserted, and in a semi micro scale, including 
technological aspects and post-depositional factors which occurred at the sites in order to 
understand how they can influence the archaeological analysis. The environmental variables 
that compose the study area, like corals, interdune ponds, springs and river mouths, the 
“Formação Barreiras” and the dunes, they allow, in principle, to infer that there is a possible 
systematic exploration of these biomes to maintain these groups. Therefore, this research aims 
to contribute to understand the occupation processes that had occurred in Ceará in past times. 
 
 
KEYWORDS: settlement pattern, spacial archaeology, holocenedunes, Flecheiras beach. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 17 
CAPÍTULO 1 – UM HORIZONTE SOBRE O HISTÓRICO DAS PESQUISAS 
ARQUEOLÓGICAS EM ASSENTAMENTOS DE GRUPOS CERAMISTAS 
NA COSTA NORDESTINA.................................................................................... 22 
CAPÍTULO 2 – O APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO................................ 30 
2.1 UMA ARQUEOLOGIA DE ASSENTAMENTOS................................... 30 
2.2. SOBRE OS PADRÕES DE ASSENTAMENTO E A IMPORTÂNCIA DA 
PAISAGEM EM SUA ANÁLISE................................................................. 33 
2.3 SISTEMATIZANDO A PESQUISA: OS MÉTODOS DE ANÁLISE 
PARA OS SÍTIOS NA PRAIA DE FLECHEIRAS............................................ 36 
CAPÍTULO 3 – PRAIA DE FLECHEIRAS: A CONSTRUÇÃO DE UMA 
PAISAGEM.................................................................................................................... 43 
3.1 UM AMBIENTE EM CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO...................... 44 
3.1.1 Da evolução paleoambiental do litoral noroeste do Ceará até a 
atualidade........................................................................................... 44 
3.2 O PANORAMA ARQUEOLÓGICO NO LITORAL DE TRAIRI.............. 57 
3.2.1 Bloco Boa Esperança............................................................................. 58 
3.2.2 Bloco Mundaú......................................................................................... 60 
3.2.3 Sítio Guajiru II....................................................................................... 65 
3.3 A CONTRIBUIÇÃO DA ETNOHISTÓRIA................................................ 68 
CAPÍTULO 4 – REFLEXÕES ARQUEOLÓGICAS SOBRE A 
HABITABILIDADE E OS EFEITOS DA DINÂMICA DUNAR NA PRAIA DE 
FLECHEIRAS............................................................................................................... 77 
4.1. SÍTIO TRAIRI I......................................................................................... 79 
4.2. SÍTIO TRAIRI II........................................................................................ 86 
4.3. SÍTIO TRAIRI III....................................................................................... 95 
4.4. SÍTIO TRAIRI IV...................................................................................... 99 
CAPÍTULO 5 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES 
FINAIS........................................................................................................................... 103 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 111 
A 
 
 
ANEXOS......................................................................................................................... 120 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figuras 1 e 2 - Fotografias da elaboração de croquis para análise da distribuição 
espacial dos sítios.......................................................................................................... 
40 
Figuras 3 e 4 - Fotografias da prospecção da superfície dos sítios .............................. 41 
Figuras 5 e 6 - Fotografias da área de escavação para retirada de sedimento em 
Flecheiras – Ce. A. Vista ampla da Formação barreiras; B. Detalhe para o perfil 
estratigráfico.................................................................................................................. 48 
Figuras 7 e 8 - Fotografias dos eolianitos registrados em Flecheiras – Ce. A. Vista 
ampla da estrutura; B. Imagem com detalhe para abrasão eólica................................. 51 
Figuras 9 e 10 - Fotografias dos detalhes das dunas. A. Dunas barcana e depressão 
interdunar na porção frontal (sotavento) onde afloram sedimentos da Formação 
Barreiras; B. Dunas barcanas compostas formando crista barcanóide transversal à 
direção dominante dos ventos....................................................................................... 
 
53 
Figuras 11 e 12 – Fotografias: A. Detalhe de estratificação observada em duna 
longitudinal, sobreposta por ondulações atuais transversais a direção do vento 
dominante. B. Dunas barcanas compostas sobrepondo uma longitudinal.................... 53 
Figura 13 - Fotografias da lagoa interdunar e ao fundo, na vegetação, encontra-se o 
sítio Trairi III................................................................................................................. 53 
Figura 14 - Fotografias do pastoreio de bovinos dentro do perímetro do sítio Trairi 
III.................................................................................................................................. 54 
Figuras 15 e 16 – Fotografias: A. Detalhe do córrego, em Emboaca, onde moradores 
costumavam retirar argila. B. Vista da implantação do abrigo em meio à duna em 
processo de edafização.................................................................................................. 56 
Figura 17- Fotografias dos Corais da praia de Flecheiras............................................. 57 
Figuras 18 e 19 – Fotografias: A. Bordas de um recipiente globular, engobo branco 
e resquício de pintura vermelha (MD-III). B. Borda de vaso reforçado e com alça 
em botão (MD-IV)........................................................................................................ 63 
Figuras 20 e 21 – Fotografias: A. Borda com entalhes (MD-III). B. Bojo alisado e 
engobo vermelho (MD-IV)........................................................................................... 63 
Figuras 22 e 23 – Fotografias: A. Bojo com queima reduzida. B. Bojo com queima 
oxidada.......................................................................................................................... 63 
Figuras 24 e 25 – Fotografias: A. Lascas em quartzo (MD-V). B. Lascas unipolares 64 
 
 
em silexito (MD-III)..................................................................................................... 
Figuras 26 e 27 – Fotografia: A. Núcleos esgotados em silexito (MD- II). B. Seixo 
“Chopper” em quartzo (MD-IV).................................................................................. 65 
Figura 28 – Fotografia de raspador nucleiforme em silexito (MD-
IV)................................................................................................................................ 65 
Figuras 29 e 30 – Fotografias: A. Ação pluvial na Formação Barreiras em GJ-II. B. 
Barranco com líticos no perfil indicando a origem deposicional de GJ-
II................................................................................................................................... 66 
Figura 31 – Fotografia da cultura material lixiviada dentro de ravina em GJ-II.......... 66 
Figuras 32 e 33 – Fotografias: A. Lascas com superfície natural e cortical em GJ-II 
B. Núcleos esgotados em GJ-II.................................................................................... 67 
Figura 34 - Fotografia de Percutor-batedor em GJ-II................................................... 68 
Figura 35 – Fotografia da vista do sítio TR- I, detalhe para o córrego e duna 
estabilizada.................................................................................................................... 80 
Figuras 36 a 39 – Fotografias da cultura material verificada no sítio Trairi I. A. 
Lasca em silexito; B. Lasca em quartzo; C. cerâmica arqueológica; D. 
Malacológico................................................................................................................. 81 
Figuras 40 e 41 – Fotografias de algunsfatores de inteperismo em TR-I. A. Trânsito 
de pessoas nas proximidades do sítio; B. Ação pluviométrica escoando um 
fragmento cerâmico para dentro do córrego................................................................. 82 
Figura 42 – Fotografia da pesca artesanal realizada em lagoa nas proximidades de 
TR-I............................................................................................................................... 82 
Figuras 43 e 44 - Fotografias do mesmo cenário em TR-I, em épocas diferentes. A. 
Ano de 2012. B. Ano de 2015....................................................................................... 83 
Figuras 45 e 46 – Fotografias: A. Cerâmica arqueológica. B. Lasca em 
quartzo........................................................................................................................... 84 
Figuras 47 e 48 – Fotografias: A. Percutor em quartzo de grande porte. B. Percutor 
com fraturas................................................................................................................... 84 
Figuras 49 e 50 – Fotografias: A. Fragmento de coral. B. “Agulha” de pesca......... 84 
Figura 51 - Fotografia de Vidro e telhas............................................................... 85 
Figuras 52 e 53 – Fotografias: A. Zona de proveniência para os artefatos líticos da 
região. B. Bloco de quartzo........................................................................................... 85 
Figura 54 - Fotografia: “Montículo testemunho” na concentração I, no sítio Trairi 
II.................................................................................................................................... 86 
Figuras 55 e 56 - Fotografias da Concentração I, no sítio Trairi II, avanço da duna 87 
 
 
barcana sobre o sítio, seta indica vegetação de referência. A. Espaço no de 2012. B. 
Espaço no de 2015........................................................................................................ 
Figura 57 - Fotografia da Sedimentação eólica com até 5 cm de profundidade, no 
sítio Trairi II ................................................................................................................. 87 
Figuras 58 a 61 - Fotografias de Líticos no sítio Trairi II, concentração I. A. 
Percutor em quartzo; B. Bigorna em quartzo; C. Núcleo; D. Dispersão de micro-
lascas na quadra 14........................................................................................................ 88 
Figuras 62 a 65- Fotografias: A. Dispersão cerâmica na quadra 10; B. 
Malacológico; C. Alça cerâmica na quadra 9; D. Fragmento com engobo vermelho 
na quadra 15.................................................................................................................. 
89 
Figura 66 - Fotografia da vista geral da concentração II, no sítio Trairi II................... 90 
Figuras 67 e 68 - Fotografia do intemperismo provocado por ação animal em TR-
II.................................................................................................................................... 90 
Figuras 69 e 70 - Fotografias das cerâmicas do grupo I, na concentração II. A. 
Borda reforçada externamente, na quadra 23; B. Decoração interna com motivos 
pontilhados interligados por linhas curvas, na quadra 21............................................. 92 
Figuras 71 e 72 - Fotografias das cerâmicas do grupo II, na concentração II. A. 
Tempero com quartzo moído e areia fina, na quadra 60; B. Decoração com engobo 
vermelho em superfície alisada externa, na quadra 237............................................... 92 
Figuras 73 a 76 - Fotografias de líticos na concentração II. A. detritos de matéria-
prima silicosa, na quadra 48; B. Fragmento de machadinha, na quadra 53; C. Núcleo 
com córtex não esgotado; D. Fogueira com cerâmica do grupo II e micro-lascas no 
seu interior..................................................................................................................... 93 
Figuras 77 e 78 - Fotografias de resina encontrada na concentração II. A. Fragmento 
com retirada, na quadra 254; B. Fragmento associado à bigorna, na quadra 
229................................................................................................................................. 94 
Figuras 79 a 81 - Fotografias de valva de molusco na concentração II. A. Artefato 
na quadra; B. Fragmento com possível marca de perfuração por atrito, na quadra 
157; C. Amostra de coral deteriorado........................................................................... 95 
Figura 82 - Fotografias da vista geral do sítio Trairi III. A. Planície de deflação na 
concentração 1, destaque amarelo; B. Blowout na concentração 2, destaque em 
azul................................................................................................................................ 96 
Figura 83 - Fotografia da ação de erosão eólica na concentração II, quadra 75, sítio 
TR-III............................................................................................................................ 96 
Figuras 84 a 87 - Fotografias de cerâmicas verificadas em TR- III. A. Acentuado 
grau de inteperismo expõe o tempero composto por quartzo moído e areia fina na 
quadra 7; B. “Apêndice” na quadra 8; C. Engobo vermelho na quadra 75; D. Borda 
extrovertida com lábio arredondado na quadra 84........................................................ 
 
 
 97 
 
 
Figuras 88 a 91 – Fotografias da tralha doméstica em TR- III. A. Fragmento de 
malga com motivos florais na quadra 54; B. Fragmento de prato com motivos 
florais na quadra 84; C. Fundo de garrafa de vidro; D. Fundo de garrafa de grés na 
quadra 74....................................................................................................................... 
 
 
98 
Figura 92 - Fotografia de resquício de resina solidificada na quadra 85...................... 99 
Figura 93 – Fotografia da vista geral do sítio TR-IV, seta laranja identifica 
concentração 1 e seta amarela a concentração 2.......................................................... 100 
Figuras 94 e 95 - Fotografias de líticos encontrados no sítio TR-IV. A. Núcleo em 
quartzo. B. micro-lascas e detritos de matérias variadas.............................................. 100 
Figuras 96 e 97 – Fotografias de cerâmica encontrada no sítio TR-IV. A. Fragmento 
com marcas de alisamento em superfície externa. B. Fragmento com inteperismo 
expondo o antiplástico................................................................................................. 101 
Figura 98 - Fotografia de sondagem no cordão de duna que separa as concentrações 
1 e 2, no sítio TR-IV..................................................................................................... 102 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE MAPAS 
Mapa 1 - Localização do município de Trairi, no Ceará.................................... 
45 
Mapa 2 - Geologia do município de Trairi em relação ao contexto geológico 
cearense................................................................................................................. 
47 
Mapa 3 - Distribuição dos Sítios Arqueológicos no Município de Trairi......... 
120 
Mapa 4 - Detalhe para a distribuição espacial nível macro no bloco 
arqueológico Mundaú........................................................................................... 
61 
Mapa 5 - Evolução das dunas na praia de Flecheiras entre 2004 e 2011........... 
78 
Mapa 6 - Distribuição dos sítios na área de estudo............................................. 
121 
Mapa7 – Sítio Trairi I.......................................................................................... 
122 
Mapa 8- Sítio Trairi II concentração I.................................................................. 123 
Mapa 9 - Sítio Trairi II concentração II............................................................... 
124 
Mapa 10 - Sítio Trairi III concentração I............................................................ 125 
Mapa 11- Sítio Trairi III concentração II.......................................................... 126 
Mapa 12 - Sítio Trairi IV..................................................................................... 127 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 - Morfologia comparativa entre os recipientes de BE e ATr............................ 59 
Quadro 2 - Decoração comparada entre os recipientes de BE e Atr................................ 60 
Quadro 3 - Decoração comparada entre os recipientes do bloco Boa Esperança, 
Mundaú e Trairi................................................................................................................ 108 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 - Artefatos no sítio Arqueológico Trairi I................................................. 128 
Tabela 2 - Artefatos no sítio Arqueológico Trairi II – Concentração I................... 129 
Tabela 3 - Artefatos no sítio Arqueológico Trairi II – Concentração II............ 130 
Tabela 4 - Artefatos no sítio Arqueológico Trairi III – Concentração I............. 131 
Tabela 5 - Artefatos no sítio Arqueológico Trairi III – Concentração II........... 132 
Tabela 6 - Artefatos no sítio Arqueológico Trairi IV ........................................... 133 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS 
 
A.P. Antes do Presente 
CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais 
EIA Estudo de Impacto Ambiental 
E-W Leste – Oeste 
NEEA Núcleo de Estudos de Etnologia e Arqueologia 
NRM Nível Relativo do Mar 
NW Noroeste 
PRONAPA Programa Nacional de Pesquisa em Arqueologia 
RIMA Relatório de Impacto Ambiental 
SE Sudeste 
UTM Universal Transverse Mercator 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
INTRODUÇÃO 
 
Na primeira vez em que estivemos nos sítios Trairi I, II, III e IV, na praia de 
Flecheiras – CE, em agosto de 2011, atravessamos um enorme campo de dunas em busca das 
coordenadas UTM de sítios previamente identificados pela Arqueologia Preventiva naquela 
região. A principio nos causou espanto a possibilidade de qualquer humano ter habitado ali. 
Nossa impressão se desfez ao avistarmos vários fragmentos cerâmicos e líticos. 
Apesar de nossa experiência, a ideia de habitar um ambiente como as dunas nos 
parecia improvável, em virtude da ação eólica, dos sedimentos, da inexistência de abrigos 
naturais, etc. Imaginamos que viver em meio a esse ambiente parecia demasiadamente difícil, 
pensamento esse contrariado frente à tamanha quantidade de vestígios encontrados. Foram 
essas indagações que nos motivaram a compreender como se deu a ocupação dessa região. 
Por que ocupar as dunas? Sempre nos pareceu a grande questão. 
Pensamos inicialmente numa abordagem direcionada para a cerâmica arqueológica e 
de como essa poderia fornecer informações sobre a cultura do(s) grupo(s) que ocuparam a 
praia de Flecheiras, tendo em vista que a decoração identificada pode apresentar 
características das quais é possível inferir sobre o papel simbólico dessa comunidade (LUNA, 
2003). Porém ocorreram alguns problemas institucionais durante o desenvolvimento da 
pesquisa, o que impossibilitou escavar e remontar os utensílios, diminuindo as possibilidades 
de compreensão de sua funcionalidade. Frente a essas dificuldades resolvemos então nos deter 
a compreensão das estratégias utilizadas pelo(s) grupo(s) no aproveitamento do espaço e as 
suas formas de sobrevivência, compreendendo a relação do homem com o meio ambiente. 
Essa mudança de perspectiva, também oriunda do amadurecimento teórico que nos fez 
entender que a cultura material, por si só, não atenderia a todas as nossas expectativas. 
Há que se considerar, no estudo sobre a cultura material, que esta só existe pela ação 
das pessoas no passado que as utilizavam de diversas formas, além da importância do 
ambiente nas escolhas humanas. Apenas após essa conclusão tivemos maior clareza sobre a 
importância do papel que o ambiente teve para o equilíbrio do sistema e, para propiciar 
condições para que o(s) grupo(s) ocupassem aquela faixa do litoral cearense. 
A literatura arqueológica brasileira tem dedicado atenção aos povos que habitaram o 
litoral brasileiro, neste sentido, Tenório (2000), afirma que os caçadores-coletores-pescadores 
holocênicos surgiram em meados da última grande mudança climática que ao tornar o planeta 
quente e úmido favoreceu a formação de novos ambientes. Diante de uma maior diversidade 
de recursos esses grupos assentaram-se próximo a lagoas e rios, onde promoviam a caça e a 
18 
 
pesca de pequenos animais, coleta de frutos e também de moluscos que habitavam esses 
corpos d’água. 
Os estudos sobre grupos Pré-coloniais no litoral brasileiro iniciaram há muitos anos e 
destacam-se nessa linha as pesquisa sobre os sambaquis, estruturas formadas a partir de 
montes de conchas, moluscos e restos faunísticos, verifica-se a ocorrência de sepultamentos, 
marcas de estacas, líticos, cerâmicas e fogueiras (GASPAR, 1994, 1996, 2004; DE BLASIS; 
KNEIP, 2007). Esses são também os tipos de sítios que primeiro motivaram ações de 
preservação, já na década de 60, tendo em vista sua depredação por ação do fabrico de cal e 
para rações animais. A destruição dos sambaquis e de outros sítios litorâneos já remonta ao 
processo de colonização portuguesa, cujas facilidades de acesso e defesa contra os ataques 
indígenas motivaram esses núcleos urbanos a permanecerem no litoral. 
Os sambaquis foram alvo de pesquisas no Brasil ainda no séc. XIX (BARBOSA-
GUIMARÃES, 2003), onde eram consideradas formações naturais de amontoados de 
conchas, e foram tratados pela Geologia como marcadores naturais do Nível Relativo do Mar 
(NRM), mesmo sendo verificados sepultamentos humanos esses eram atribuídos a naufrágios. 
Essa concepção tinha por finalidade negar o direito do índio a terra, desacreditando qualquer 
possibilidade dele produzir algo tão monumental. A partir do início do séc. XX essas 
estruturas passam a ser consideradas construções antropogênicas, mais ainda na perspectiva 
de que poderiam ser relacionadas a oscilações marinhas, pois a partir disso os grupos se 
deslocariam constantemente. Soma-se a essa perspectiva o fato de que os amontoados de 
moluscos seriam provenientes do lixo daquela cultura, o que mais uma vez se caracterizava 
como racismo contra os silvícolas, pois seriam sujos, não havendo assepsia em seus locais de 
morada, comprovando sua selvageria. 
É com Bigarella (1962 apud BARBOSA-GUIMARÃES, 2003) que se inicia a 
desconstrução da ideia de sambaqui como marco geológico, pois a perspectiva de que os 
sambaquieiros buscavam ambientes mais propícios para sua sobrevivência, como as 
paleolagoas, começa a ganhar força. Para além do pensamento de intencionalidade na escolha 
do assentamento, Hurt & Blasi (1960 apud BARBOSA-GUIMARÃES, 2003) defenderam o 
pensamento deque os grupos pré-coloniais buscavam erguer uma edificação planejada. É com 
Gaspar (1996) que se inova a abordagem a esses sítios tratando de territorialidade, onde cada 
estrutura edificada com moluscos e seus ocupantes teriam acesso a áreas de captação de 
recursos específicos para a manutenção da comunidade. Ela também levanta a possibilidade 
dos sambaquis centrais e maiores serem espaços ritualísticos pela presença de sepultamentos, 
19 
 
enquanto que os menores e periféricos teriam função de sociabilidade, oficinas e cozinha 
(1999 apud BARBOSA-GUIMARÃES, 2011). 
Atualmente pesquisas sobre os povos sambaquieiros, apontam para a realização de 
festins funerários (KLOKLER, 2012), pois é evidenciado o fato da vasta presença de vestígios 
faunísticos de peixe junto a covas, buracos de estaca e fogueiras em detrimento da ausência de 
habitações e outras atividades cotidianas. A própria prática desse tipo de festividade apontaria 
para produção de excedente na agricultura que seria usado no festim, logo é possível a 
existência de elites privilegiadas e que também usariam o evento para legitimar seu poder na 
hierarquia. 
Tradicionalmente considera-se que no Nordeste existem três pontos de destaque em 
assentamentos Pré-Coloniais costeiros, são os sambaquis no Maranhão e no Recôncavo 
Baiano, além das ocupações em dunas no Rio Grande do Norte (MARTÍN, 2008, p. 137), 
todos estudados inicialmente pelo PRONAPA, nas décadas de 60 e 70. 
Os sambaquis nordestinos se caracterizam principalmente pela pouca estatura e farta 
presença de cerâmica em suas camadas arqueológicas. A partir de novos dados obtidos em 
pesquisas recentes vem se confirmando essa informação, destaque para o estudo de Bandeira 
(2008) no Maranhão, Amancio (2006, 2007) na Bahia e Silva (2009) em Alagoas. 
No caso dos sítios sobre dunas, como mencionado anteriormente, é no Rio Grande do 
Norte que se realizaram as primeiras pesquisas, sendo seguidas tardiamente por outros estados 
como Piauí, Ceará, Sergipe e Bahia. 
Na costa do Ceará são identificados inúmeros sítios arqueológicos pré-coloniais e 
históricos, resultantes da densa ocupação ocorrida na região em tempos pretéritos, por grupos 
ligados a pesca, coleta e agricultura, perpassando pelos colonizadores europeus até a 
atualidade. 
Ainda há poucas produções acadêmicas, no que diz respeito aos estudos arqueológicos 
sobre as ocupações no litoral cearense (VIANA et al, 2007; SOUSA, 2011; NOBRE, 2013; 
MORALES, 2012), apesar da vasta quantidade de sítios já registrados por conta de achados 
fortuitos e em decorrência do uso da costa para a construção de empreendimentos diversos. É 
por meio das intervenções arqueológicas, relacionadas a essas obras, que se tem buscado o 
entendimento sobre esses grupos e a sua presença nessa região. 
 Os assentamentos litorâneos se configuram como marca incontestável da presença e 
valorização que essas áreas possuíam para alguns povos. Nos sítios arqueológicos Trairi I, 
Trairi II, Trairi III e Trairi IV, localizados na praia de Flecheiras, em Trairi, são identificados 
inúmeros fragmentos cerâmicos da Tradição arqueológica Tupiguarani e da Fase Papeba, 
20 
 
além de lascas, micro-lascas, amoladores, percutores e bigornas, bem como um vasto material 
malacológico como conchas de espécies e tamanhos diversos (LEITE, 2010; MARQUES, 
2012a). 
Os atuais geoelementos caracterizadores da área tais como o mar, as lagoas e lagunas 
interdunares, os eolianitos e as dunas permitiram inferir uma possível exploração de recursos 
hídricos e alimentares possibilitando as ocupações pretéritas nessa região. Tais elementos 
naturais foram evidenciados nessa pesquisa, devido a sua importância quanto ao entendimento 
sobre a escolha e utilização da paisagem como ferramenta essencial na compreensão sobre os 
modos de habitabilidade desse(s) grupo(s). Dessa forma, os estudos arqueológicos contribuem 
para o conhecimento das peculiaridades dos grupos que ocuparam a área, podendo agregar 
dados aos estudos já existentes sobre ocupações pretéritas em outros ambientes dunares. 
Como objetivo geral dessa pesquisa propõe estabelecer um padrão de assentamento 
arqueológico na praia de Flecheiras, através de uma análise espacial em uma macroescala, 
abrangendo um estudo sobre os sítios e o bioma em que estão inseridos, com dados 
ambientais, espaciais, arqueológicos e etnológicos a fim de compreender as razões para a 
implantação desses sítios em dunas. 
Entre os objetivos específicos propomos compreender a distribuição espacial dos 
sítios e buscar possíveis correlações entre eles e os elementos naturais da paisagem que estão 
disponíveis para a exploração do ecossistema marinho e fluviomarinho em Flecheiras; e com 
base na análise da cultura material dos sítios Trairi I, Trairi II, Trairi III e Trairi IV, essa 
pesquisa teve a possibilidade de abordar as variabilidades e estudar as especificidades locais, 
buscando entender as relações com processos regionais (tecnologia e implantação na 
paisagem) e os fatores globais no que tange a evolução do ambiente. Dessa forma o trabalho 
foi dividido em cinco capítulos abordando questões diversificadas, porém inter-relacionadas 
de modo a facilitar a compreensão sobre o sistema. 
O capítulo um traça um panorama sobre as pesquisas desenvolvidas no Nordeste 
brasileiro em estudos direcionados a ocupação do litoral. Após uma extensa consulta 
bibliográfica, privilegiamos trabalhos relacionados não apenas aos assentamentos sob dunas, 
mas também sobre grupos sambaquieiros, pois através desse levantamento bibliográfico nos 
foi possível compreender a gama de enfoques teóricos e metodológicos utilizados para as 
interpretações de dados relacionados à tecnologia e ao ambiente de inserção dessas culturas. 
O capítulo dois trata dos aspectos teórico-metodológicos aplicados em nosso estudo, 
tendo por referência o enfoque processual. Entendemos que para se inferir sobre as formas de 
habitabilidade dos grupos que ocuparam a praia de Flecheiras é necessário compreender a 
21 
 
relação do homem com o litoral, onde traços culturais se manifestam em respostas adaptativas 
ao meio. A abordagem da Arqueologia da Paisagem foi utilizada em alguns momentos, pois 
forneceu o aporte necessário para a compreensão das estratégias de sobrevivência do(s) 
grupo(s), com suas práticas de uso do espaço e de dados sobre processos formativos e pós-
deposicionais. Através da Arqueologia Espacial buscamos no nível semi-micro as estruturas 
internas nos sítios de onde pudermos inferir os fatores funcionais, assim como também 
averiguamos possíveis relações entre os assentamentos da região e com o ambiente, numa 
perspectiva macro. Boa parte dos dados referentes à natureza contexto arqueológico e 
etnohistórico foram através de levantamentos bibliográficos e em análises em campo. 
O capítulo três aborda o contexto ambiental, arqueológico e etnohistórico da região 
noroeste do estado do Ceará, onde o município de Trairi se encontra. Não tendo sido possível 
uma análise da tecnologia dos sítios, utilizamos dados de outros sítios do litoral trairiense 
como referência para nossa comparação e para traçar possíveis perfis para Trairi I, II, III e IV. 
Através de levantamento bibliográfico foi possível compreender a evolução da paisagem 
costeira da região, desde a transição do Pleistocêno para o Holocêno e assim estimar o 
potencial ambiental que havia na região para a sobrevivência do(s) grupo(s) e o impacto nos 
sítios que possam ter havido frente à dinâmica costeira. Também utilizamos referências 
etnológicas sobre comunidades indígenas que habitam a costa noroeste cearense, e foram 
registradas desde o séc. XVI por missionários, exploradores e viajantes, descrevendocomportamentos sociais, seus territórios e relações com o meio ambiente. 
O capítulo quatro trata das análises semi-micro e macro entre os sítios Trairi I, II, III 
e IV. Com base em analogias com a cultura material apresentada no capítulo 3 e dos dados 
referentes à distribuição espacial dos sítios, processos pós-deposicionais e áreas de captação 
de recursos, traçamos um perfil sobre aspectos relacionados à função dos sítios estudados. 
O capítulo cinco aborda as considerações finais sobre a pesquisa, que após a 
apresentação dos dados referenciais (ambiente, distribuição espacial, contexto arqueológico e 
etnológico) visou explanar as relações entre esses subsistemas de modo a explicar como se 
deu o processo de habitabilidade do(s) grupo(s) na praia de Flecheiras e compreender os 
efeitos da dinâmica dunar nesse processo. 
Compreendemos que esse trabalho teve como foco discutir uma das inúmeras 
possibilidades sobre a ocupação do litoral brasileiro, já que a nossa escolha foi por seguir em 
uma análise processual, porém outros enfoques poderiam ter nos levado a outros resultados 
frente à parcialidade da coleta de dados e a sua interpretação, logo acreditamos ser aqui 
apenas a construção de um dos discursos possíveis. 
22 
 
CAPÍTULO 1 – UM HORIZONTE SOBRE O HISTÓRICO DAS PESQUISAS 
ARQUEOLÓGICAS EM ASSENTAMENTOS DE GRUPOS CERAMISTAS NA 
COSTA NORDESTINA 
 
Segundo Martín (2008) existe no Nordeste três pontos de destaque em assentamentos 
Pré-Coloniais costeiros, são os sambaquis no Maranhão e Recôncavo Baiano e as ocupações 
em dunas no Rio Grande do Norte. Porém novas pesquisas apontam para uma enorme 
diversidade nesse tipo de ocupação e estados que antes não dispunham de dados concretos 
sobre os grupos que habitaram o seu litoral passaram a investir nesse tipo de estudo, em 
alguns casos, mesmo havendo resultados ainda incipientes em várias áreas, foi possível traçar 
um panorama superficial sobre a Arqueologia no litoral nordestino. 
Destacamos aqui alguns trabalhos dos quais consideramos importantes para uma 
compreensão sobre a ocupação humana no litoral nordestino, são os sambaquis e os 
assentamentos sob dunas. O primeiro modelo, apesar de não se enquadrar nos sítios 
identificados em Trairi, nos oferece a oportunidade de comparar dados ambientais e sobre a 
cultura material, revelando as diferenças e similaridades entre esses modelos de ocupação. Em 
ambos os casos verifica-se a presença da cerâmica como fator aglutinador sobre as pesquisas, 
fato compreendido, pois nesse vestígio é possível entender comportamentos sociais, dieta, 
ritos, economia, contatos interculturais, além da tecnologia (LUNA, 2003, 2006). Porém a 
maioria dos pesquisadores tem-se detido a realizarem apenas perfis técnicos, sem buscar 
respostas para a presença desses vestígios em campo. 
No Nordeste verificamos a presença de inúmeras filiações ceramistas, muito estudadas 
na porção do semi-árido, tendo em vista que as ocupações mais antigas no país são oriundas 
desse bioma, porém novos estudos apontam para datações cada vez mais recuadas quanto aos 
vestígios cerâmicos, sobretudo no litoral. 
No Maranhão as pesquisas iniciaram com Mario Simões, pelo Projeto São Luiz, sendo 
identificados oito sambaquis, dos quais cinco já foram destruídos por ação da exploração de 
cal. Anos depois pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi puderam perceber que 
esses apresentam características semelhantes aos sítios paraenses, pelos mesmos vestígios 
malacológicos e da cerâmica pertencente à fase Mina (MARTÍN, 2008) comum da região 
Amazônica. Essa se caracteriza por uma manufatura acordelada, temperada com conchas e 
areia, pequenas, base aplainada e de formas arredondadas. Nesse estado as mais antigas 
datações são provenientes de carvão no sítio Maiobinha, ficando em torno de 2.090 e 1245 AP 
(BANDEIRA, 2008), e apesar de em boa parte do Nordeste os sambaquis apresentarem 
23 
 
poucas amostras de restos ictiológicos, nessa região eles se caracterizam pela farta presença 
da espécie e também de moluscos (GASPAR; IMAZIO, 2000, p. 248). 
As primeiras publicações sobre a região costeira do Piauí tem início com Joina Borges 
que se utilizando de uma abordagem historiográfica sobre o sítio Seu Bode, aborda a 
paisagem em Arqueologia não apenas pelos objetos e o espaço do sítio, mais também pelos 
discursos que se constroem a partir das narrativas dos moradores do entorno e também dos 
descendentes indígenas que ali habitaram há tempos atrás aquela região. A autora, com base 
na documentação de cronistas dos séculos XVI a XVIII, e da correlação com as narrativas de 
grupos indígenas ainda viventes, defende a proveniência da ocupação litorânea piauiense 
como sendo da etnia Tremembé e entre os resultados de sua pesquisa foi concluído que a 
estratégia de ocupação nas dunas se deu como forma de resistência, já que nesse ambiente os 
indígenas teriam mais chances de resistir à perseguição promovida pelos invasores europeus. 
Esses assentamentos teriam em seu favor o acesso a vários recursos alimentares e para a 
produção de utensílios, além do fator de ocultação de suas aldeias entre as depressões 
dunares. Nesse estudo também foram adquiridas datações cerâmicas que revelaram ter o sítio 
do Seu Bode entre 2700 e 710 A.P (2006). 
Quaresma (2012) fala do sítio conhecido como Sambaqui da Baía ou Ponta do Socó, 
em Cajueiro da Praia, esse assentamento está implantado em uma duna fixa sobre tabuleiro 
litorâneo e se localiza próximo aos afloramentos rochosos na desembocadura do rio Timonha 
(divisa entre Piauí e Ceará), ali é possível verificar a presença de material cerâmico, ósseo e 
de restos faunísticos nos arrecifes. Porém nenhum trabalho arqueológico foi realizado no local 
para a confirmação da presença sambaquieira, além do fato da área receber forte impacto da 
ação das marés. 
 Ainda no Piauí percebemos que os estudos mais recentes se direcionam para análises 
técnicas dos artefatos (SANTOS, 2013) e para os processos deposicionais que ocorrem em 
ambiente dunar (QUARESMA, 2012), relacionando esses dados aos assentamentos numa 
perspectiva da Arqueologia da Paisagem. Dessa forma os sítios Dunas I, Dunas II, Lagoa do 
Portinho e Seu Bode apresentam similaridades quanto a sua implantação em corredores 
eólicos ou planícies de deflação, e entre os seus vestígios a cerâmica da Tradição Tupiguarani 
e a da Fase arqueológica Papeba se encontram em vasta quantidade. Um detalhe chama 
atenção para a cerâmica, da qual o sítio Dunas II apresentou em seu antiplástico Cariapé, 
restos de uma espécie vegetal nativa da Amazônia onde também foi encontrado em sítios no 
Pará e Maranhão e que também estão associados à Tradição Mina, apontando para uma 
possível relação com os grupos dessa região (SANTOS, 2013). 
24 
 
No Ceará as investigações sobre o ambiente costeiro foram principiadas pelo NEEA 
da Universidade Estadual do Ceará, com o Projeto Litoral que iniciou em 1995 e se deu até 
1997. Tinha como objetivo localizar, identificar e estudar os vestígios de ocupações pretéritas 
ao longo da costa cearense (CAZZETTA, 1996), porém com o seu término estagnaram as 
pesquisas, sendo retomada há alguns anos, já relacionadas à arqueologia preventiva. Outro 
projeto arqueológico que ganhou bastante visibilidade devido a sua aproximação com etnias 
indígenas ainda existentes foi o Projeto Arqueológico Tremembé (NASCIMENTO et al, 
2000), sendo uma ramificação do primeiro. Foram identificados em Itarema, na costa 
noroeste, seis sítios arqueológicos, onde um deles é o antigo aldeamento do grupo e os outros 
se caracterizam por ocupações Pré-coloniais, neles foi possível verificar a presença de 
cerâmicas Papeba e Tupiguarani, malacológicose ossos de pequenos animais, além de 
carvões provenientes de fogueiras. Infelizmente os estudos sobre esses sítios nunca 
avançaram. 
Ainda no Ceará, precisamente em Jericoacoara, litoral noroeste do estado, foram 
identificados dois sítios pré-históricos, Malhada e Serrote, esses possuem vasta indústria lítica 
de pequenos instrumentos lascados e algumas ferramentas polidas maiores, sítios cerâmicos 
com fragmentos de paredes finas e de possível filiação a Fase Papeba e de paredes grossas, 
ligadas à tradição Tupiguarani, além de estarem junto à concheiros (VIANA et al, 2007). Em 
ambos os sítios foram encontradas várias estruturas de fogueira, com predominância para o 
sítio Serrote, onde estavam diretamente associadas àcerâmica e lítico. Correlacionando 
elementos etnohistóricos, ambientais e arqueológicos na região, estima-se que a ocupação foi 
de longa duração, por apresentar solo arqueológico de até 20 cm de profundidade, e por ser 
um grupo bem familiarizado com a captação de recursos naquela área. 
Na praia de Sabiaguaba, em Fortaleza-CE, foram identificados três sítios sob o mesmo 
contexto geomorfológico, corredores eólicos e planícies de deflação. A cultura material 
encontrada possui inúmeras microlascas e estilhas, além de batedores, cerâmicas e 
malacológicos (MARTÍN, 2003). Na continuação dos estudos dessa área por Sousa (2011) foi 
possível traçar um perfil técnico dos artefatos e os correlacionar a fatores ambientais, onde os 
resultados apontam para uma farta presença de lagoas inter-dunares e um expressivo mangue 
que abasteceriam o grupo quanto à alimentação e a presença do rio Cocó que entre outras 
coisas forneceria matéria-prima para a fabricação de utensílios lito-cerâmicos. Optou-se por 
não haver análises inter-sítio já que a dinâmica eólica poderia ter mobilizado os artefatos, 
dessa forma os resultados da pesquisa apontaram para um assentamento ligado a Fase 
25 
 
ceramista Papeba. No sítio Sabiaguaba II houve datação de conchas associadas à cerâmica e 
que aponta para uma ocupação de 4.600 +- 30 A.P, até então a mais antiga para o estado. 
Morales et al (2012), após anos de pesquisa ao longo do litoral cearense e atrelada a 
Arqueologia Preventiva, realizou uma análise sobre o padrão de assentamento em sítios 
localizados sob dunas. Com base em dados peleoambientais sobre alterações do nível relativo 
do mar, formação de dunas e extinção de espécies da flora típica de mangue, além do perfil 
técnico da cultura material verificada foi possível inferir que havia uma alta mobilidade de 
grupos entre o sertão e o litoral através dos grandes rios, também havendo grande 
deslocamento ao longo da costa e que era na foz desses corpos d’água que era realizado a 
captação de recursos alimentares e de matéria-prima. Datações realizadas para o litoral leste
1
 
assim como o perfil tecnológico encontrado nos sítios confirmam as hipóteses de ocupação 
por algumas culturas, tais como a Papeba e Tupiguarani, além da presença do colonizador 
europeu. Porém em vários desses sítios, estando os vestígios configurados como um 
palimpsesto diacrônico, por ação da dinâmica eólica, compreende-se que podem ter sido 
ocupados em momentos diferentes. 
O estado do Rio Grande do Norte tem destaque na região Nordeste, por ter sido um 
dos primeiros no país a receber pesquisas arqueológicas já na década de 60, durante o 
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). Nássaro Násser pesquisou na 
região vários sítios cerâmicos e definiu a Fase Papeba, sendo essa classificável como da 
Tradição Aratu, e também definiu outro tipo cerâmico como sendo da Fase Curimataú, da 
subtradição Pintada, pertencente à tradição Tupiguarani. A primeira fase foi mais bem 
definida durante as atividades realizadas no município de Senador Georgino Avelino, em um 
sítio localizado as margens da lagoa denominada Papeba, sua antiguidade em relação à outra 
fase é inferida pela sua posição estratigráfica ser mais profunda (NÁSSER, 1974). 
A cerâmica da fase Papeba está dividida em várias categorias, dos quais o mais 
recorrente, até mesmo fora desse estado, é o Vermelho, possuindo decoração com banho que 
pode estar em ambas as superfícies alisadas, a espessura tem no máximo 1,2 cm e seu tempero 
é constituído de areia grossa variando de 1 a 0,5 mm bem distribuídos na pasta. Sua forma 
possui boca circular, lábio apontado, borda com inclinação externa e bojo em meia-calota, 
base arredondada, constituindo principalmente tigelas. Porém sua principal característica se 
dá pela presença de dois possíveis apêndices vazados ou dois furos circulares nas paredes 
 
1 Sítio de ocupação Tupiguarani Cumbe 10, possui datação de carvão entre 500-420 A.P; sítio de ocupação 
Papeba Cumbe 11, possui datação de conchas de 1240 +- 30 A.P; sítio de ocupação Papeba Cumbe 12, possui 
datação de carvão de 970 +- 30 A.P. Todos os artefatos aqui datados estavam associadas a filiação ceramista 
indicada e estão localizados no município de Aracati – CE. 
26 
 
opostas do vasilhame indicando a passagem de um cordel para sustentação (IBIDEM). 
Associado a essa cerâmica ainda encontra-se amplo uso do sílex para lascas com ou sem 
retoque e também para furadores, machados polidos de forma trapezoidal ou apresentando 
depressões semi-esféricas nas faces em quartzo verde e xisto, além de seixos em quartzo com 
marcas de uso como batedores e alisadores. Alguns malacológicos de médio porte (Strombus 
goliath) podem apresentar indícios de uso como raspadores e furadores. Posteriormente, 
Miller (2009) ligou o material Papeba ao povo Tarairiu de Janduí, fato pouco esclarecido. 
A cerâmica da fase Curimataú viria como posterior a Papeba e é caracterizada por 
apresentar tempero de cacos triturados, grânulos de argila e grãos de quartzo angulosos e 
subangulosos; o método de manufatura mais comum é o acordelado, também apresenta o 
modelado; o tratamento de superfície, tanto externa como internamente é irregular; a técnica 
decorativa diagnosticada é a pintura em vermelho e preto sobre o engobo branco, o vermelho 
sobre o branco, o banho vermelho e preto. A decoração mais frequente é a borda entalhada, 
acanalada, escovada, corrugada, escovada-acanalada e a escovada-corrugada. Entre as formas 
da vasilha estão à meia-calota, elipesóide e carenada. As bordas apresentam-se diretas, 
extrovertidas, verticais e inclinadas interna e externamente. Esses dados permitiram 
identificar a Fase Curimataú como integrante da subtradição Pintada, sendo essa parte da 
Tradição Tupiguarani (SIMÕES, 1969; NÁSSER, 1974). Brochado considera que essa fase 
teria seu início simultaneamente à Fase Itapicuru, essa é definida na Bahia e datada de 1270 
+- 130 A.D. por Brochado (1969 apud LUNA, 2006). Para o final da Fase Curimataú 
considera-se dados etnohistóricos, datando que esta coincidiria com a época da fixação do 
elemento europeu no Rio Grande do Norte. 
Também no Rio Grande do Norte se deu o “Projeto Homem das Dunas”, que 
identificou e resgatou inúmeros sítios por toda a costa potiguar. As principais características 
dos vestígios encontrados eram de inúmeras lascas, microlascas, estilhas em sílex, calcedônia 
e quartzo, além de alguns poucos almofarizes, mãos-de-pilão, machados, e duas unidades 
cerâmicas distintas, das quais uma delas seria Tupiguarani (MARTÍN, 2008; 
ALBUQUERQUE; SPENCER, 1994). 
Outros pesquisadores da região se detiveram sobre os processos de formação dos sítios 
nesse ambiente, Silva (2003) sistematizou uma série de métodos e aportes que podem ajudar 
na interpretação arqueológica dos vestígios, como o deslocamento de microlascas por ação 
eólica, atividades de pisoteio e aragem na atualidaderealocando o posicionamento de peças, 
sem mencionar o fato de que os próprios grupos indígenas poderiam “limpar” os 
assentamentos empurrando para fora das áreas de atividade os vestígios maiores. Nessa 
27 
 
mesma linha Medeiros (2005) traça outras possibilidades para os processos formativos de 
sítios do litoral setentrional do estado, incluindo o desgaste das faces no material cerâmico e o 
ocultamento das estígmatas de lascamento em líticos devido à ação eólica; do intemperismo 
antrópico sobre esses sítios ser maior sob o ponto de vista horizontal (estratigrafia) e não 
vertical, indicando que a dispersão espacial de vestígios sobre dunas deve ser por agentes 
culturais; a presença de vestígios ósseos pode indicar baixo índice de modificação pós-
deposicional, já que esses são muito sensíveis ao inteperismo natural; sobre elevações 
sedimentares contendo material arqueológico em superfície indicando uma preservação da 
deposição cultural dos objetos, etc. 
Em Alagoas, os primeiros indícios sobre sítios litorâneos foram rumores sobre 
sambaquis, ao norte, por Brandão (1937 apud MARTÌNS, 2008) e não foram confirmados, 
porém o registro de sítios costeiros ligados a Tradição cerâmica Aratu já fora relatado durante 
ações do PRONAPA (SIMÕES, 1969; NÁSSER, 1974). As pesquisas sistemáticas sobre 
assentamentos litorâneos iniciaram há poucos anos, com Silva (2009) de onde temos os 
primeiros resultados sobre o modo de vida dos habitantes da costa alagoana. Essa pesquisa 
propõe a identificação da área de captação de recursos do sambaqui Saco da Pedra, em 
Marechal Deodoro, no sul do estado, tendo como base as análises espaciais do sítio e dos 
vestígios malacológicos, assim foi possível identificar o território de exploração da 
comunidade sambaquieira, o perfil tecnológico dos vestígios lito-cerâmicos e a identificação 
de zonas de proveniência para a argila. O sítio Saco da Pedra está implantado nas margens de 
uma laguna, cuja autora conclui ser um ambiente propício para a habitação já que oferecia 
todos os recursos necessários para o sustento do grupo em termos de alimentação e da oferta 
de matéria-prima argilosa, utilizada para a fabricação de utensílios cerâmicos. 
Em Sergipe, pesquisas direcionadas a identificação de áreas potenciais para a presença 
de sítios do tipo sambaqui tiveram resultados negativos para a ocupação desse grupo, tendo 
em vista que a costa desse estado não possuía condições geológicas favoráveis à formação de 
grandes ambientes lagunares nos últimos 5.000 anos A.P. (AMANCIO, 2001; 2002). 
Em outra perspectiva a proposta de Simões (2014) foi a de compreender a ocupação da 
costa sergipana após a Última Transgressão, em 5.200 A.P, a partir da análise no sítio 
Cardoso. Tendo como aporte teórico a Arqueologia da Paisagem, sua reflexão foi construída 
com base na união de dados geomorfológicos atuais e paleoambientais, perfil técnico da 
cultura material, análises espaciais intra e inter-sítios e a aplicação de conceitos ligados à 
visibilidade. Com base nos resultados aferidos a autora conclui que o grupo responsável pela 
ocupação do sítio possuía um bom domínio de seu território onde possivelmente escolhiam as 
28 
 
áreas de assentamento com base em estratégias de ocultação contra inimigos, percebe-se 
também uma alta mobilidade do grupo, pois alguns traços encontrados nos vestígios apontam 
para matéria-prima fora da área dunar e a própria cultura material aponta para utensílios de 
pequeno porte. 
Na Bahia, Valentin Calderon introduz a pesquisa arqueológica pelo PRONAPA a 
partir de estudos realizados nos sambaquis do Recôncavo Baiano, principalmente no sítio 
Pedra Oca, em Salvador. Esse possuía farto material lítico como moedores e quebra-cocos; 
pontas de osso e conchas perfuradas; sepultamentos, buracos de estaca e uma baixa densidade 
cerâmica identificada como a Tradição Periperi, dos quais se caracteriza pelo tempero com 
areia, coloração marrom-escura e uma decoração simples cuja borda não tinha os roletes 
obliterados (SIMÕES, 1969). Estudos posteriores nesse sambaqui concluíram que a ocupação 
inicial é datada em 5.200 AP e no seu processo de formação antropogênico identificam-se 
moluscos e ossos de peixes pequenos e de médio porte, porém havendo uma maior 
concentração de sedimentos nesse processo levando a crer que houve pouca mão de obra na 
construção do sambaqui e havendo uma ocupação sazonal (AMANCIO, 2006, 2007). 
Foi também no litoral onde se identificou os primeiros e mais antigos registros da 
Tradição ceramista Aratu, cuja às datações apontam para o séc. IX, suas feições são em forma 
de jambo invertido, alisamento externo e apresentando tampa para vedação da estrutura, tendo 
em vista que todas as urnas contêm sepultamentos (ETCHERVARNE, 1999/2000), ressalta-se 
que Luna (2006) contesta o uso do termo Tradição, já que os dados obtidos são duvidosos e 
imprecisos pelo método pronapiano, o mesmo realizado por Calderón, esse também 
identificou na ilha de Itaparica a tradição lítica que carrega o nome da localidade, usada por 
caçadores-coletores que fabricavam pontas com pendúculo. 
Os principais sítios da Tradição ceramista Tupiguarani, de forma geral para a região 
Nordeste, estão no litoral e com datações que remontam a época colonial (LUNA, 2006), 
porém ela também é encontrada em outros pontos do interior e divide com a tradição Aratu o 
título de mais abrangente em termos espaciais para o Brasil. 
Esses dados relativos ao registro arqueológico corroboram para validar a discussão 
sobre a presença de grupos que dominavam a técnica da agricultura, os quais muitos foram 
filiados à tradição Tupiguarani. A cultura material dessa tradição assemelha-se aos dados 
etnohistóricos dos grupos Tupi-Guaranis, os quais dominavam boa parte da costa durante o 
período de colonização. Esses teriam ocupado a costa em período recente, por volta de 2.000 
AP e seu domínio inicia provavelmente após as culturas que eram essencialmente adaptadas à 
exploração de recursos marinhos, pois o ambiente litorâneo favorecia uma sedentarização 
29 
 
devido à alta disponibilidade de recursos (SCATAMACCHIA, 1991, 1993-1995 apud 
SOUSA, 2011). 
Com base na contextualização aqui traçada procedemos com a incorporação de 
algumas informações, tais como perfis técnicos, dados paleoambientais e etnohistóricos, 
processos formativos em sítio e datações que puderam elucidar nossas análises realizadas 
junto aos sítios Trairi I, Trairi II, Trairi III e Trairi IV, na praia de Flecheiras, no Ceará. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
CAPÍTULO 2 – O APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO 
 
2.1 UMA ARQUEOLOGIA DE ASSENTAMENTOS 
 
Sendo essa pesquisa direcionada para a compreensão de grupos que desenvolveram 
assentamentos que hoje estão localizados sob dunas holocênicas, consideramos a análise na 
perspectiva dos padrões de assentamento como a melhor abordagem para atingirmos o nosso 
objetivo, já que a dinâmica cultural e natural nesse ambiente é um fator de difícil acesso para 
a identificação e análise do material arqueológico, devido à ação eólica e antrópica na 
atualidade que são consideradas como destruidoras para os vestígios arqueológicos (SILVA, 
2003). 
Estudos direcionados para a compreensão de assentamentos humanos são 
desenvolvidos há bastante tempo e seguiram ao longo do histórico das pesquisas os mais 
diversos pressupostos teóricos. 
O determinismo ecológico foi o primeiro deles, e se utilizava de uma análise 
fragmentada da história, onde o objeto de estudo se dava apenas pela cultura material, 
descontextualizando-o do espaço onde não era possívelatingir os fatores culturais (SENA, 
2007). Dispostos a superar essas limitações alguns arqueólogos perceberam que ao se tratar 
do estudo de populações das quais não há dados concretos sobre sua estrutura social, 
econômica e do seu contato com outros grupos, é necessário, inicialmente, uma compreensão 
de como se dava a relação dessas comunidades com o meio ambiente. 
Barbosa-Guimarães (2011) apontou duas tradições arqueológicas para os estudos em 
Arqueologia de assentamentos, a britânica e a norte-americana. Na primeira escola as 
pesquisas iniciaram na década de vinte, porém pouco avançou até meados de cinquenta, pois 
David Clarck passou a incorporar nas análises um aspecto mais econômico, onde os seus 
seguidores direcionaram o foco para as áreas de captação de recursos (site catchments 
analysis). Nos EUA, apenas em fins da década de trinta tiveram inicio os estudos voltados ao 
padrão de assentamento, despontando o trabalho desenvolvido no vale do rio Virú, no Perú, 
por Willey, em 1953. 
Foi dessa forma que os fenômenos não culturais se tornam um aspecto importante para 
entender as mudanças na sociedade, e um novo modelo de interpretação se dedicou a esse 
entendimento, o Ecológico-Cultural, que para Steward, (1974 apud FRANCH, 1989) se 
definiu como o estudo dos processos pelos quais uma sociedade se adapta ao seu ambiente. 
Essa definição pouco se diferencia da proposta de Hole e Heizer (1973 apud FRANCH, 1989) 
31 
 
que a entendiam como um subcampo da Antropologia que buscava compreender o 
funcionamento da cultura no meio ecológico. Nesse enfoque, intrinsecamente relacionado a 
questões oriundas das Geociências a Ecologia passou a ser entendida como uma ciência que 
busca sintetizar os conhecimentos oriundos das ciências naturais e as condições das ciências 
sociais sobre o caráter das inter-relações entre a Natureza e a Sociedade (RODRIGUEZ et al, 
2007). 
A partir disso vários pesquisadores passaram a considerar a temática sobre a relação 
homem-ambiente como fundamental para o desenvolvimento humano no passado 
(BINFORD, 2007; BUTZER, 1989), mesmo que em alguns casos o aspecto não cultural ainda 
fosse entendido como o mais importante para essa análise como defendido por Flannery (1967 
apud RENFREW & BAHN, 1998). Em resumo, a Ecologia Cultural defendia uma evolução 
multilinear das culturas frente a uma pressão do meio (adaptação), ocasionando assim 
diferentes estruturas culturais e essas mudanças poderiam ocorrer nos sistemas de produção 
ou na tecnologia das comunidades. 
No enfoque Ecológico a cultura foi vista como um sistema, onde ocorrem trocas de 
energia, informações e matéria entre todos os seus componentes. Assim foi possível entender 
como fatores externos à cultura puderam influenciar em seus processos (JOHNSON, 2000). 
Dessa forma, os sistemas competem entre si pelo tempo e energia do indivíduo, no 
qual o sustento de seu modo de vida depende deles. A mudança cultural surge justamente nas 
pequenas alterações que podem ocorrer em um ou mais desses sistemas que assim buscam o 
equilíbrio. Dentro de cada um existem subsistemas que se retroalimentam e dessa forma 
mantém o equilíbrio do sistema, esse ao longo do tempo passa por uma série de estados 
diferenciados (RENFREW & BAHN, 1998). 
A Teoria Geral dos Sistemas (TGS) considerou importantes duas esferas: a ambiental 
e a sociocultural. Na primeira, se destacam os subsistemas geomorfológicos, da fauna, flora e 
o clima; enquanto que no meio social encontramos a cultura material, a economia, a religião, 
a psicologia e a sociedade (FRANCH, 1989; RENFREW & BAHN, 1998). Nessa teoria os 
sistemas culturais humanos estão inter-relacionados com o seu entorno e passam por 
mudanças contínuas, pois estão em processo evolutivo (SANJUÁN, 2005, p.189). 
Johnson (2000) destaca na Teoria dos Sistemas, que o seu funcionamento ocorre em 
função dos grupos humanos estarem minimamente adaptados ao ambiente externo. Nesse tipo 
de abordagem pode-se apenas observar os sistemas socioculturais, sem realmente 
compreendê-los, já que as normativas regenciais dos sistemas culturais são inalcançáveis. 
32 
 
Tomamos como referência para a Arqueologia observar as semelhanças e diferenças 
culturais nos grupos e identificar quais as relações existentes entre a sociedade e o ambiente. 
Essas características são triviais para a análise processual e estão no aspecto generalizante, já 
que traços comuns e recorrentes em sociedades podem ser descritos como semelhantes 
mesmo independentes de seu contexto ambiental, assim como ambientes semelhantes também 
podem gerar diferentes culturas, nota-se que o meio é o fator crucial para o entendimento das 
mudanças, ou seja, o homem e sua cultura são adaptáveis ao meio (BINFORD, 2007; 
BUTZER, 1989). 
Os sistemas são passíveis de uma modelagem voluntária, o que pode lhes render 
generalizações. Comparando os sistemas culturais com o meio ambiente é possível pensar que 
mudanças positivas ocorridas num dado subsistema o afetam como um todo, e para o retorno 
da homeostase é necessário uma adaptação à mudança ocorrida, caso essa seja negativa, isso 
pode significar o declínio do sistema. Os subsistemas estão relacionados, reconhecendo a 
funcionalidade uns dos outros e, a análise da relação entre os subsistemas deve ser feita por 
correlação, excluindo-se causas simples. 
Sobre as generalizações no enfoque processual, fica clara a sua postura 
homogeneizante, onde busca superar as explicações particularistas sobre cada fenômeno 
quando se demonstra a articulação entre as variáveis do sistema, dessa forma podendo-se criar 
leis generalizantes (MARTINÉZ, 1990). No entendimento da Nova Arqueologia, a partir do 
momento em que as sociedades precisam se moldar às alterações do ambiente, logo uma série 
de leis generalizantes podem ser aplicadas a qualquer população (BINFORD, 2007). 
O funcionalismo se relaciona com a ideia de que as culturas são parecidas a 
organismos, de modo que as partes se explicam segundo a função que realizam com relação 
ao conjunto. Logo a Arqueologia de assentamentos está inserida numa perspectiva funcional, 
onde as culturas são compreendidas como sistemas sociais (BARBOSA-GUIMARÃES, 
2011). 
Lewis Binford (1962, 1964 apud MILLER, 2012) considerou que a pesquisa 
arqueológica devia ser o panorama sobre grupos que tenham desempenhado atividades 
organizadas de captação de energias e matérias do ambiente, ou que tenha transformado tais 
matérias para produzir instrumentos ou energias utilizáveis. 
Franch (1989) descreve que um dos aspectos dos quais se deve considerar nas relações 
entre sociedade e meio-ambiente é, em parte o potencial natural e a outra, a capacidade 
tecnológica da cultura para explorar esse potencial. Sobre a tecnologia, Miller (2012) a 
33 
 
considera de forma que os artefatos usados para lidar com o ambiente são fontes de energias 
para sistemas socioculturais humanos. 
A adaptação funciona como reposta ao desequilíbrio no sistema, influenciando a 
tecnologia, a sociologia e a ideologia nos grupos. Para White (1959 apud BINFORD, 2007) a 
cultura é um meio extrassomático pelo qual o corpo humano se adapta. A New Archeology 
costuma explicitar esse tipo de desequilíbrio por meio de teorias cataclísmicas, como por 
exemplo, o aumento exacerbado da densidade demográfica, secas climáticas, terremotos, etc. 
Martinéz (1990) descreve que essas transformações, no caso dos artefatos, podem ser 
constituídas dentro da sociedade, podendo ser oriundas de pressões demográficas ou de 
relações intergrupais, porém, é a mudança ecológica a chave da causalidade, a tecnologia 
atinge a organização social e esta a sua ideologia. 
As estratégias adaptativas são respostasde um sistema às alterações internas e/ou 
externas que influem no padrão de assentamento dos grupos que habitaram uma determinada 
área que pode ser analisada a partir da percepção das alterações dos componentes 
fisiogênicos, biogênicos e antropogênicos (BUTZER, 1989). 
Porém, mesmo havendo semelhanças e diferenças nos registros arqueológicos, as 
explicações para tal devem ser feitas com base nos conhecimentos atuais sobre as 
características estruturais e funcionais dos sistemas culturais (BINFORD, 2007). 
A variabilidade é um aspecto importante para a análise, já que não se busca apenas por 
grandes e monumentais sítios, mas também por locais onde a amostra registrada seja capaz de 
representar as mudanças na cultura (JOHNSON, 2000). 
 
2.2. SOBRE OS PADRÕES DE ASSENTAMENTO E A IMPORTÂNCIA DA PAISAGEM 
EM SUA ANÁLISE 
 
Após nossa contextualização sobre a formação do pensamento a respeito dos estudos 
arqueológicos em assentamentos, destacamos o modelo inaugurado por Gordon Willey, em 
1953, com a sua pesquisa no Vale do Virú. Partindo de uma perspectiva funcional, ele 
analisou vários fatores ambientais, estruturas sociais e as manifestações culturais de um grupo 
e percebeu que para compreendê-los é preciso analisar todos os dados dando-lhes a mesma 
relevância e que essas variáveis funcionam como redes conectadas, onde cada sítio possui 
atribuições distintas e complementares, com níveis hierárquicos de importância em sua 
composição (TRIGGER, 2004). 
34 
 
Trigger (1968 apud FRANCH, 1989) destaca as possibilidades de abordagens nesse 
tipo de estudo, pelo aspecto ecológico, buscando a distribuição de assentamentos e as inter-
relações existentes, estratégias de sobrevivência, a tecnologia e o geoambiente; no fator 
espacial, se entende por todas as evidências no sítio como parte da organização social do 
grupo residente. 
Beber (2004 apud LIMA, 2006) percebe o padrão de assentamento como uma 
sucessão de ocupações em um determinado espaço, resultantes da ocupação por diversos 
grupos que apresentavam distintas culturas ou por uma mesma sociedade que passou por 
transformações culturais ao longo do tempo de ocupação. Dessa forma quanto maior a 
permanência em um dado local, mais expressivo e complexo de compreender seriam essas 
ocupações. Dentro desse período de estabelecimento da comunidade é possível acontecer 
algumas mudanças de cunho social e ambiental que podem resultar em transformações na 
tecnologia dos grupos. 
Dois enfoques se destacaram nos estudos sobre Padrão de Assentamento em meados 
da década de sessenta: o determinista ecológico que percebe esse estudo como o resultado da 
interação entre ambiente e tecnologia numa análise inter-sítios ou macro-estrutural; enquanto 
que o outro enfoque se detém aos aspectos ideológicos e sociais que são percebidos na forma 
de ocupação e cuja análise é a intra-sítio (DIAS, 2003). O desenvolvimento das pesquisas 
nesse último resultou na criação de uma abordagem mais ampla: o sistema de assentamento. 
Trigger (1967 apud BARBOSA-GUIMARÃES, 2011) o compreendia numa relação entre 
vários níveis de análise, tais como a estrutura individual, o assentamento local e a distribuição 
dos assentamentos numa região. 
Nesse quadro é possível que grupos semelhantes tenham desenvolvimentos diversos, 
já que estão submetidas a ambientes diferenciados e apenas com as condições naturais e 
socioculturais bem determinadas é possível entender as relações entre ambas (FRANCH, 
1989). 
Corteletti (2009) observa que na abordagem para o padrão e do sistema de 
assentamento regional é necessário um complexo exercício teórico de inter-relações entre 
muitas variáveis de cunho ecológico, espacial, etnográfico e arqueológico. Com o 
conhecimento desses fatores será possível identificar padrões de organização, distribuição e 
implantação dos sítios na paisagem. 
Tendo a paisagem arqueológica papel importante para a análise dos padrões, é nesse 
tipo de Arqueologia, que para Lima 
35 
 
os sítios contextualizados no ambiente passam a ser elementos de uma rede 
onde o ambiente e sua mobilidade é representativa e pode reconstruir os 
diversos momentos da paisagem. O estabelecimento do padrão de 
assentamento de um conjunto de sítios além de contribuir para a 
identificação de um ou mais traços culturais, numa espacialidade e 
temporalidade determinada, favorece na montagem de um modelo de 
ocupação e exploração deste espaço em momentos de estabilidade ou de 
alteração climática (2006: 57). 
 
Concebendo a paisagem como um sistema é necessário perceber a sua existência como 
um todo, compreendendo as inter-relações entre as várias partes que existem dentro do 
sistema. Na concepção da Geografia a paisagem natural se apresenta dinâmica, o que não 
implica afirmar que seus elementos estão caoticamente mesclados, mais sim como conexões 
em harmonia entre a estrutura e a função, logo esse é um espaço físico e um sistema de 
recursos naturais aos quais se integram as sociedades em um binômio inseparável 
Sociedade/Natureza (RODRIGUEZ et al, 2007). 
No contexto de nossa pesquisa a Arqueologia da Paisagem colabora no sentido de que 
impulsiona estudos direcionados para a compreensão das estruturas internas de um sítio, 
sendo esses o resultado da ação de fatores naturais e antrópicos que indicam as 
transformações ocorridas ao longo do tempo e fazendo parte da evolução da paisagem (DIAS, 
2003). 
Para a análise da paisagem em Arqueologia, Anschuetz et al. (2001 apud SANTOS, 
2013, p.21), ressalta alguns pontos dos quais devem ser considerados para esse procedimento: 
a) A paisagem não pode ser entendida apenas como meio ambiente e sim como as 
interações entre o homem e o meio que o envolve. 
b) A paisagem é uma produção cultural, uma vez que os espaços físicos são 
construídos a partir de atividades diárias, crenças e valores, sendo assim uma 
composição do mundo. 
c) A paisagem é o palco das atividades comunitárias, sendo a construção das 
populações que a habitaram e o meio no qual vivem e tiram sua subsistência. 
d) A paisagem é uma construção dinâmica e as comunidades introduzem seu mapa 
cognitivo de mundo. 
Para Fagundes (2009 apud QUARESMA, 2012) pensar a paisagem sob o ponto de 
vista da sobrevivência humana não é uma visão errônea, já que é por meio da captação dos 
recursos presentes num dado ambiente que qualquer grupo busca a sua sobrevivência, logo 
essa questão deve ocupar uma importante posição de destaque nas estruturas intergrupais. 
Vale ressaltar que é a partir desses recursos naturais, compreendidos aqui como os corpos e 
36 
 
forças da Natureza, que em um dado nível de desenvolvimento das forças produtivas pode-se 
utilizar para satisfazer as necessidades da sociedade humana, através de sua participação 
direta nas atividades materiais (RODRIGUEZ et al, 2007) que o homem possui meios para a 
fabricação de artefatos e para a sua dieta. 
Entre os processos que também possibilitam um melhor entendimento sobre a relação 
do homem e o meio ambiente é a perspectiva que trata dos processos de formação do registro 
arqueológico que muito podem colaborar para o entendimento da paisagem. 
Shiffer (1976 apud SILVA, 2003) apontou duas variáveis importantes para a 
compreensão dos processos formativos, o aspecto cultural (C-Transforms) e o natural (N-
Transforms), no primeiro estão inseridos características de deposição de itens materiais como 
operações cotidianas de um sistema cultural, incluem-se aqui as ações humanas pós-
deposicionais. No segundo contexto é possível determinar as interações entre os vestígios e os 
aspectos do meio ambiente, onde foram recuperados. 
Indubitavelmente o registro arqueológico passa

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